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Mas é impossível que a Divindade seja ciumenta (na realidade, como diz provérbio, “os
poetas proferem muitas mentiras”), nem tampouco devemos supor que qualquer outra
forma de conhecimento seja mais preciosa do que essa, pois o que é o mais divino, é o
mais precioso. Ora, só existem duas maneiras nas quais a ciência pode ser divina. Uma
ciência é divina se for caracteristicamente posse da divindade, ou se disser respeito a
assuntos divinos. E somente essa ciência preenche essas duas condições, pois todos
creem que a Divindade seja uma das causas e um tipo de princípio e que a Divindade é
quem possui exclusiva ou principalmente esse tipo de conhecimento.
Consequentemente, ainda que todas as demais ciências sejam mais necessárias do que
essa ciência, nenhuma é melhor do que ela. (ARISTÓTELES, 2006, p.49)
A maioria dos primeiros filósofos concebeu apenas princípios materiais para todas as
coisas. Aquilo que todas as coisas consistem, de que procedem primordialmente, e para
o que, por ocasião de sua destruição, são dissolvidas em última instância,
permanecendo a essência, ainda que modificada por suas afecções – isso, dizem, é um
elemento em princípio das coisas existentes. (ARISTÓTELES, 2006, p.49).
Entretanto, Platão não acreditava que o conhecimento que nos chega através dos
sentidos pudesse fornecer um caminho seguro para atingir a causa primeira de
todas as coisas. Dessa forma, a essência de algo não estaria vinculada a um
elemento físico, como afirmavam os pré-socráticos.
Ora, eis que um dia ouvi a leitura de um livro que era, segundo se dizia, de
Anaxágoras, e onde se dizia o seguinte: “É o espírito que, de modo definitivo, tudo pôs
em ordem; é ele a causa de todas as coisas”. Tal causa constituiu uma alegria para
mim; parecia-me que, havia sentido em fazer do espírito uma causa universal.
(PLATÃO, 2007, p.77-78)
Desta forma, a metafísica irá surgir com Platão para superar as limitações dos
primeiros filósofos, que se mantiveram na busca de um princípio físico da
natureza. Esse princípio, conforme Sócrates, Platão e Aristóteles afirmaram,
seria transcendente e não estaria na realidade sensível ou no mundo físico,
ainda que Aristóteles efetue, posteriormente, uma crítica à metafísica de seu
mestre, a metafísica ainda mantem sua característica transcendental.
Pois agora, meu caro Glauco, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da
caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O
fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a
alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é este, pelo
menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto à mim, a
coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a ideia do
bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à
razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol no
mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual,
por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios
particulares e públicos. (PLATÃO, 1956, p.291)
Daí, ao definir a natureza de uma casa, os que a descrevem como pedras, tijolos e
madeira, descrevem a casa em potência, já que essas coisas são sua matéria; os que a
descrevem como “recipientes para conter utensílios e corpos”, ou alguma outra coisa,
com idêntico objetivo, descrevem a casa em ato, ou seja, sua realidade. Entretanto, os
que combinam essas duas definições, descrevem um terceiro tipo de substância, a que é
composta de matéria e forma. (ARISTÓTELES, 2006, p.218)
Para aprofundar essa questão, Aristóteles irá criar uma hierarquia das
substâncias, onde a forma ou ideia ocupa a posição mais elevada. No nível
intermediário está o sínolo, e no nível mais inferior da substância encontra-se a
matéria. Assim, a mais elevada das causas é uma substância imaterial.
Será somente com Immanuel Kant que a metafísica sofrerá uma crítica
contundente que irá influenciar os filósofos posteriores. Para Kant, nosso
conhecimento é recebido pelos sentidos, enquanto que os objetos da
metafísica estão além dos sentidos e, portanto, além de nossa capacidade de
compreendê-los. Não podemos, então, provar racionalmente a existência de
Deus ou falar sobre a imortalidade da alma.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Martin Claret, 2009.