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Históricas
Objetivos da Unidade:
ʪ Contextualização
ʪ Material Teórico
ʪ Material Complementar
ʪ Referências
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ʪ Contextualização
O filósofo Aristóteles afirma que “Nada melhor para compreendermos um tema em sua
extensão do que historicizá-lo”. Compartilhando esse pensamento, vamos iniciar nosso estudo
sobre Psicologia, analisando a evolução histórica dessa ciência.
ʪ Material Teórico
O que é Psicologia?
Longe de esgotarmos essa pergunta com uma ou algumas repostas definitivas, nesse primeiro
momento, apresentaremos uma reflexão importante do teórico George Canguilhem a respeito
do assunto.
Etimologicamente a palavra “psicologia” quer dizer ciência da alma, e isso já nos coloca diante
de uma questão importante que será fruto de muitos debates: é possível produzir ciência a partir
da alma, ou sobre a alma? Segundo Canguilhem (1958), na Antiguidade grega, a alma era
entendida como um ser natural. Nesse sentido, os sistemas filosóficos compreendiam a alma
em instâncias biológicas e físicas.
Para Aristóteles, por exemplo, em seu tratado “Da alma”, a organização da alma não está
dissociada da matéria; sendo assim, é tratada como física, como forma do corpo vivo. Essa
categorização organiza a alma como um objeto de estudo da teoria da natureza, em que suas
formas e manifestações não se distinguem das formas biológicas e físicas, como, por exemplo,
o desempenho dos sentidos humanos ou mesmo de elementos internos de nossa constituição,
como memória e fantasia.
De acordo com Canguilhem (1958), essa concepção aristotélica, embora não considerasse a
Psicologia como área de saber independente, ganha ressonância em experiências modernas do
conhecimento psicológico, como a Psicofisiologia e a Psicopatologia, ambas compreendidas
como disciplinas médicas.
Ainda segundo Canguilhem (1958), no final do século XVII, a Psicologia entendida como parte
das ciências naturais pede força e emerge uma Psicologia como ciência da subjetividade.
Esse tipo de Psicologia tem estreita relação com os físicos mecanicistas do século XVIII. Para
esses pensadores, a razão matemática e a mecânica são os instrumentos da verdade, são esses
os paradigmas que balizam o conhecimento e suas consequentes epistemologias.
Nesse esquema de pensamento, a Psicologia aparece como a ciência que tenta explicar aquilo
que desvia o espírito do caminho da verdade, aquilo que falsifica o real, ou seja, a Psicologia
aparece como uma ciência de validação da razão matemática e mecânica. Os paradigmas dela
partem do princípio de que o espírito, por natureza, atrapalha os sentidos e sua compreensão do
real para aceder ao conhecimento racional. Nesse sentido, a Psicologia é uma espécie de ciência
da explicação do engano, na qual seus parâmetros estão atrelados aos parâmetros físicos para a
explicação da realidade. Desse modo, sua validação epistemológica se dá na medida interna da
validação da própria Física e na sua capacidade científica de validar suas proposições de verdade.
Para Canguilhem (1958), essa Psicologia é uma Psicofísica por dois motivos: primeiro porque ela
não se desvincula da Física para ser aceita como ciência; e segundo porque os seus critérios de
validação científica estão na natureza; nesse caso, no corpo humano, que é a sede de resíduos
que devem ser detectados para o acesso ao conhecimento da realidade.
Pode parecer que essa concepção psicológica se oriente pelos princípios aristotélicos, pelo fato
de ainda se vincular à Física, contudo essa Psicologia subjetiva tende a proceder como a Nova
Física, na qual os padrões de conhecimento são balizados por cálculos.
É no século XVIII que essa perspectiva ganha força e que o próprio termo Psicologia passa a
aparecer, como sendo a ciência do eu. Essa ciência tinha como influência, em tensão e oposição,
o trabalho “As meditações”, de René Descartes.
A meditação tem um sentido fundamental para Descartes, porque é por meio dela que o sujeito
consegue se concentrar para acessar o interior. E é nesse processo de interiorização que se pode
conectar com a alma, porque o interior cartesiano é a condição para o pensamento e o
conhecimento que alma tem dela mesma.
Esse conhecimento da alma é importante, e ele se dá por reflexão. A epistemologia cartesiana faz
alusão ao olho e ao espelho para explicar seus paradigmas: a alma, assim como olho, pode ver
tudo; contudo, só pode ver a si mesma através do espelho. Desse modo, a alma, para Descartes,
só consegue se conhecer por meio de seu reflexo e pelo reconhecimento de seus efeitos.
Os preceitos cartesianos ajudaram a construir, quer seja pelo seu desenvolvimento, quer seja por
sua refutação, as bases da Epistemologia Moderna, sendo fundamentais para a afirmação da
Ciência Moderna e também da Psicologia como campo de saber.
Figura 1 – REDON, Odilon. Visão
Fonte: Wikimedia Commons
Filósofos Antigos
São considerados filósofos antigos os pensadores desde o período pré-socrático, mas
trataremos, nesse texto, a partir do período socrático, uma vez que, conforme elucidam Andery,
Micheleto e Sério:
E essa preocupação em entender o homem é que faz com que tais pensadores sejam importantes
para o desenvolvimento de uma Psicologia na Antiguidade.
“No homem, como em todo o ser vivo, corpo e alma compunham uma unidade. A
alma garantia a vida, a realização das funções vitais; a alma era a forma, enquanto
o corpo a matéria que precisava dessa forma para tornar-se em ato. Era a forma, a
alma, que dava vida, que emprestava finalidade aos corpos animados. E assim
como não se podia pensar em matéria destituída de forma, também o contrário era
sem sentido.”
No pensamento aristotélico, tudo o que vive possui alma ou psyché. Assim, ao considerar tudo o
que vive, considera-se que tanto os homens como os animais e as plantas possuem alma.
Fica claro, nessa breve análise acerca dos filósofos antigos, o início de um pensamento
psicológico. Sócrates, Platão e Aristóteles, ainda que evidentemente influenciados por questões
de sua época, apresentam, em seus pensamentos, a preocupação com o homem e com sua
psyché, quer estabelecendo a imortalidade da alma, quer postulando a mortalidade desta e sua
relação ativa com o corpo.
Seguindo a evolução do pensamento acerca do homem, passamos à análise do período
Patrístico, que se inicia com o Cristianismo e segue até o século VIII d.C.
Período Patrístico
O pensamento no período Patrístico, um pensamento tido como filosófico, é formado por
tratados de padres, teólogos, apologetas, exegetas, os quais procuravam compreender as
questões do universo com base em sua doutrina religiosa. Merecem destaque aqui Santo
Agostinho e São Tomás de Aquino.
Para Aquino:
“[…] a legislação do Estado é para o bem do povo e que o governo deve submeter-
Num período conturbado por questionamentos à Igreja Católica, Aquino busca a ordem pública,
com o objetivo de estabelecer a convivência pacífica entre os homens.
A partir da segunda metade do século XV e durante todo os séculos XVI e XVII, ocorrem
marcantes mudanças religiosas, políticas, econômicas, sociais e culturais, provocando outras
formas de concepção da ciência e do homem, dando início a um novo período do pensamento
filosófico, o período da chamada Ciência Moderna.
Os estudos acerca do homem também são influenciados por essas mudanças no sistema
socioeconômico-cultural. Eram necessários métodos mais rigorosos, medidas, instrumentos
de controle, todos buscando mais precisão no estudo do funcionamento da mente.
A Psicologia e a Ciência
As alterações na forma de compreensão do homem e do funcionamento do universo abrem
espaço para novas indagações e formas de estudo. Os avanços da Anatomia, da Fisiologia e da
Neurologia propiciaram a constituição de uma ciência distinta da Filosofia.
A Psicologia, que nasce estudando a alma, a partir dos estudos de grandes filósofos, passa a ser
uma ciência “sem alma” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2005, p. 43), no sentido de que seu
conhecimento passa a ser produzido em laboratórios por meio de experimentos de observação e
medição.
Wilhem Wundt viveu entre os anos de 1832 e 1920, atravessando, portanto, o século XIX e
adentrando o início do século XX, e é considerado um dos pioneiros da Nova Psicologia europeia.
Wundt se inspirou nos campos da Fisiologia e da Filosofia de seu tempo para desenvolver seus
métodos de investigação e tentar conceber seus objetos de estudo.
A consciência é o objeto de estudo central para Wundt. O estudioso acredita que ela seja formada
por elementos diferentes entre si, os quais precisam ser investigados por análise ou redução. Em
sua concepção, segundo Schultz e Schultz (1981), a consciência não se constitui de elementos
estáticos, passíveis de algum processo mecânico de associação, como acreditavam muitos
empiristas e associacionistas. Para Wundt, a consciência tinha uma capacidade de se auto-
organizar, que ele chamava de voluntarismo, em que a vontade poderia ter o poder de organizar
esses elementos distintos que estruturavam a mente. Desse modo, para compreender melhor o
funcionamento da mente, da consciência, era preciso estudar os elementos em ação conjunta, e
não separada, investigá-los no processo organizativo da consciência.
Figura 3 – KANAYAMA, Akira. Work
Fonte: Wikimedia Commons
Nesse processo de definição da consciência, Titchener avança num ponto importante, porque,
para ele, há uma diferença conceitual entre mente e consciência. Embora parecidas, para
Titchener, a mente seria o somatório de nossas experiências acumuladas ao longo da vida,
enquanto a consciência seria o somatório de nossas experiências num determinado momento.
Nos Estados Unidos, na virada do século XIX para o século XX, a Psicologia desenvolveu-se em
contraposição fundamental às teses de Wundt e do estruturalismo protagonizado por Titchener.
Esse novo modelo epistemológico ganhou o nome de funcionalismo, e teve a influência decisiva
de autores de outras áreas, especialmente de Darwin e Galton. Como o nome funcionalismo pode
sugerir, uma das principais reivindicações dessa corrente de pensamento era a de que a
Psicologia deveria ser útil aos problemas reais das pessoas.
É nesse sentido que os psicólogos funcionais focavam seus estudos nas atividades mentais para
o organismo vivo e em suas tentativas permanentes de adaptação aos meios a que eram
submetidas. O funcionalismo, portanto, enveredava-se cientificamente pelo interesse das
consequências da dinâmica da consciência, em como ela se manifestava na vida prática e quais
as implicações desse movimento.
Ao movimento gestaltista foi atribuído um caráter revolucionário pelo confronto com as bases
americanas pregressas, mas também pelo enfrentamento com a tradicional escola alemã de
Psicologia, e teve nos nomes de Max Wertheimer, Kurt Ko ia e Wolfgang Kõhler os intelectuais
importantes para o desenvolvimento da psicologia da Gestalt.
A psicanálise tem seu nascimento no final do século XIX, assim como outras escolas de
pensamento no ramo da Psicologia; contudo, suas semelhanças se dão mais em aspectos
temporais do que propriamente epistemológicos. A psicanálise, que se confunde, em seus
primeiros passos, com a história de Sigmund Freud, se difere da Psicologia acadêmica
contemporânea a ela e se consolida como uma reflexão e prática clínica.
Na prática clínica, Freud percebeu um aspecto importante sobre o método da livre associação:
quando algum assunto era por demais embaraçoso, vergonhoso, repulsivo para ser falado, o
paciente resistia. Desse modo, a resistência aparecia como um sintoma importante, porque
detectava alguma fonte problemática que deveria ser tratada. Sendo assim, a percepção da
resistência era fundamental para o analista, ela provava que o caminho do tratamento estava
sendo coerente.
Outro aspecto fundamental do método psicanalítico freudiano é a lida com os sonhos. Freud
acreditava que o mundo onírico era provido de desejos e anseios inconfessos, reprimidos pelos
indivíduos e que, portanto, esse material era fundamental para o processo analítico. Para Freud,
os sonhos têm natureza dupla, uma manifesta e outra latente. Os conteúdos manifestos são
aqueles que o paciente é capaz de narrar, já os conteúdos latentes são aqueles ocultos, aqueles
que residem nas entrelinhas do material narrado. O trabalho do analista é o de partir do material
manifesto pelo paciente e atingir o material latente, procedendo por meio de interpretações
desse material oculto.
Para Freud, o id é a parte mais primitiva e de mais difícil acesso da personalidade humana, nele
estão manifestados instintos sexuais e agressivos. O id busca a satisfação completa, sem se
preocupar com as normas e as regras que regulamentam as dinâmicas sociais, ou seja, o id está
sempre em conflito com as posições morais estruturadas pela sociedade. Sobre o id, Freud
escreveu: “Chamamo-lo de caos, um caldeirão repleto de fervilhantes excitações” e acrescentou
que o id “não conhece juízos de valor, nem o bem e o mal, nenhuma moralidade” (FREUD
apud SCHULTZ; SCHULTZ, 1991, p. 343).
ʪ Material Complementar
Vídeos
ACESSE
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ʪ Referências
PEREIRA, M. E. M.; GIOIA, S. C. Do feudalismo ao capitalismo: uma longa transição. In: ANDERY,
M. A. P. A. et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 4. ed. Rio de Janeiro:
Espaço e tempo, 1988.
RUBANO, D. R.; MOROZ, M. O conhecimento como ato da iluminação divina: Santo Agostinho. In:
ANDERY, M. A. P. A. et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 4. ed. Rio de
Janeiro: Espaço e tempo, 1988.
RUBANO, D. R.; MOROZ, M. Razão como apoio à verdade de fé: Santo Tomás de Aquino. In:
ANDERY, M. A. P. A. et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 4. ed. Rio de
Janeiro: Espaço e tempo, 1988.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. Tradução Adail Ubirajara Sobral
e Marta Stela Gonçalves. Revisão Técnica Maria silva Mourão. São Paulo: Editora Cultrix, 1981.
TOFFLER, A. A terceira onda. Tradução João Távora. Rio de Janeiro: Record, 1980.