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Clínica
Módulo I
Sumário
Introdução .......................................................................................................................... 3
Unidade 1 – Conhecendo a Psicanálise .......................................................................... 12
1.1 – Freud e a criação da psicanálise......................................................................... 12
1.2 – Escolas psicanalísticas ....................................................................................... 22
1.3 – Jung e a psicologia analítica .............................................................................. 23
1.4 – Wilhelm Reich e a psicologia do corpo ............................................................. 33
1.5 – J. Lacan e sua contribuição à psicanálise .......................................................... 43
1.6 – A psicanálise no Brasil ....................................................................................... 54
Unidade 2 – Fundamentos da Psicanálise ...................................................................... 56
2.1 – Primeira tópica: consciente, pré-consciente e inconsciente .............................. 57
2.2 – Narcisismo .......................................................................................................... 60
2.3 – Segunda tópica: id, ego e superego ................................................................... 64
2.4 – Resistências ........................................................................................................ 69
2.5 – A psicanálise e os sonhos ................................................................................... 78
2.6 – O setting analítico .............................................................................................. 81
2.7 – A alta em psicanálise .......................................................................................... 83
Conclusão do Módulo I ................................................................................................... 85
ETEPA – ESCOLA TEOLÓGICA PALAVRA E AVIVAMENTO
Introdução
Sabemos que a psicanálise ultrapassa os seus pouco mais de 100 anos de criação.
Ainda assim, é inegável o valor daquilo que foi construído durante os anos no decorrer
da vida de Freud. Tamanha a sua dedicação e cuidado em tornar claros seus
pensamentos, em dividir suas angústias e as suas releituras, que podemos nos deleitar
com aquilo que foi estudado pelo criador.
não se esperava ou era sabido. Foi o não conseguir entender que o fez seguir em frente e
estudar cada vez mais a fundo a mente humana. Cabe apostar que é isso que ele
esperaria de todos nós, ao falarmos e passarmos adiante a teoria criada para que a
humanidade pudesse se sentir um pouco protegida dentro da sua desproteção inerente.
Ainda assim, vale dizer que a verdade não está nas respostas elaboradas pela
psicanálise. A completa, o êxito, a evitação do sofrimento e das doenças, é algo buscado
por todos nós e por diferentes leituras da mente humana.
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ETEPA – ESCOLA TEOLÓGICA PALAVRA E AVIVAMENTO
O que é a psicanálise?
Via de regra, o que todas as linhas concordam, ainda que haja até mesmo certa
competição entre elas, em relação à importância e aceitação, é que o comportamento
humano é resultado da interação entre as variáveis biológicas, aquelas que são herdadas
e as variáveis, que são adquiridas através da aprendizagem e da experiência pessoal.
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Vale lembrar que a psicanálise não inviabiliza, assim como não substitui, a
necessidade de acompanhamento médico ou medicamentoso. Ao analista cabe
interpretar a fala do seu paciente, o significado inconsciente das palavras, das ações e do
conteúdo imaginativo expressado através dos sonhos ou fantasias. Seu objetivo é a
reeducação emocional ao promover o autoconhecimento e o autocontrole, uma melhoria na
qualidade de vida com a redução dos sintomas apresentados, além das mudanças emsi
mesmo, características essas que não competem com o tratamento feito através da
medicação.
Propomos outra tradução ao afirmar que a psicanálise é ainda mais do que isso.
É aquela ideia que nos envolve de uma tentativa sincera dos entendimentos de nossas
limitações e angústias. Apesar disso, ainda que as teorias ou suas racionalizações
expliquem de forma tão completa o nosso sofrimento, por vezes, precisamos ir além
delas para que seja possível a diminuição das aflições daqueles que nos procuram.
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Precisamos, claro, nos apoiar na teoria, mas não podemos correr o risco de nos
perdermos nela e esquecermos de quem está à nossa frente.
A contribuição de Freud
É verdade que, passados mais de 150 anos do seu nascimento, Freud continua
polêmico. Hoje, sua teoria recebe questionamentos que vão desde a psicologia
cognitivo-comportamental à neurociência, responsável pelo estudo das bases biológicas
da mente. Apesar disso, a importância de Freud para a ciência é um assunto
inquestionável. O descobrimento da sexualidade infantil, por exemplo, possibilitou o
estudo de uma área que, até então, era reinada pela ignorância tanto na ciência quanto
na filosofia, contribuindo para a formação de um novo campo conceitual bem mais
abrangente e diversificado.
Além disso, outros
conceitos foram de suma
utilidade em diversos ramos da
psicologia, permitindo, assim, o
avanço de tal ciência para além
de um complemento da
psiquiatria. Desde então, a
psicologia pode explicar os
processos psíquicos do ser
humano, não se limitando
somente no tratamento dos
distúrbios emocionais.
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Porém, o modo de examinar a pessoa que nos pede por auxílio varia de acordo
com as concepções teóricas elegidas. Inúmeras correntes tentam explicar a gênese dos
distúrbios emocionais que afligem milhões de pessoas no mundo todo. De acordo com
seus esquemas explicativos, as abordagens teóricas assinalam orientações terapêuticas
que consideram mais aplicáveis e eficientes.
Embora suas conclusões ainda sejam discutidas, é certo que seus instrumentos
abriram o caminho para diversos outros sistemas e que podem ser das mais duradouras
contribuições para o estudo da personalidade.
Muitos pedidos são feitos aos terapeutas. Muitas vezes procurados por último,
após anos de angústia e sofrimento, depois da ansiedade fazer parte da vida desses
indivíduos tão intimamente que chegam a se confundirem com ela, nos perguntam e nos
perguntamos até que ponto podemos ajudá-los?
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isto é, no sustento do lugar do vazio para que seja possível deslocar a fala do paciente a
esse lugar e, assim, se dê a possibilidade de tratamento.
Mas quem nos busca por ajuda, quer alcançar muitas vezes uma plena felicidade
e acredita que o analista tem o caminho que ele procura. Cabe ao analista saber que tal
felicidade imaginária, por muitas vezes, entra em choque com a realidade, não cabendo
ser alcançada. Estamos pré-destinados a nunca nos satisfazermos em um mundo
calculado, ainda que a sociedade do espetáculo nos tente provar o contrário, imprimindo
uma ideia de fornecimento de prazeres ilimitados, seja pelo consumo ou seja pelo
espetáculo.
Público alvo
Vale dizer que tal trabalho, voltado para o público leigo, não pretende
popularizar a psicanálise, até porque, como veremos, o inconsciente só poderia ser
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Objetivos gerais
Objetivos específicos
Definições importantes
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Quando ainda no século XIX Freud inventou a psicanálise, a carreira de psicologia ainda não existia. Assim,
inicialmente quase todos os psicanalistas eram psiquiatras.
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Com mais sete irmãos, ele era o único a ter, em seu quarto, lamparina e óleo que,
naquela época, eram verdadeiras regalias. Além disso, para que pudesse estudar melhor,
era proibido que seus irmãos fizessem barulho pela casa.
Pelo fato de ser judeu, todas as carreiras fora medicina e direito eram proibidas
na época. Interessado pelos trabalhos de Charles Darwin e Johann Goethe optou por
estudar medicina na Universidade de Viena. Ao ingressar na universidade, Freud sofreu
grande preconceito por ser judeu. Tal fato deve ter servido para que ele se acostumasse
a ser uma figura na oposição.
Apesar da sua vontade, como sua condição financeira não permitia que seguisse
estudando no laboratório acadêmico, começou a atender pacientes, clinicando como
neurologista e tratando essencialmente de mulheres burguesas que sofriam de distúrbios
histéricos. Além do mais, ele tinha se apaixonado e percebeu que, casando-se, precisaria
de um cargo mais bem remunerado.
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braço. Porém, visto que os nervos têm um percurso ininterrupto do ombro até a mão,
não pode haver nenhuma causa física para este sintoma. Assim, tal doença carecia de
uma explicação psicológica.
Por pouco tempo foi um defensor, mas depois tornou-se apreensivo em relação
às suas propriedades viciantes e interrompeu sua pesquisa. Porém, tal estudo abriu
portas para que esta substância fosse disseminada na Europa e nos Estados Unidos.
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Nesta época, a histeria era a mais misteriosa de todas as doenças nervosas, e, não
só os pacientes histéricos, como, também, os médicos que demonstravam interesse por
tratá-la, eram desacreditados. Charcot contribuiu decisivamente para a mudança de tal
quadro, recuperando não só a dignidade dos pacientes, como abrindo um espaço para
que eles fossem ouvidos.
Para ele, a histeria não poderia ser considerada como uma enfermidade
imaginária. Era uma neurose que não estava restrita ao universo feminino,
contradizendo a própria origem do nome (hystera= útero). Tanto um quanto o outro se
mostraram interessados na autenticidade e na normalidade dos fenômenos histéricos e
em sua aparição na população masculina.
Apesar disso, Freud não havia concordado com a ideia de Charcot, que dizia que
a causa fundamental de tal distúrbio era a hereditariedade. Ainda assim, ficou encantado
quando percebeu que a hipnose era um caminho para a explicação. Desta forma,
podemos dizer que a maneira como Charcot tratava seus pacientes histéricos foi o ponto
decisivo para que Freud começasse a olhar em direção à criação de sua metapsicologia.
Porém, seguindo em seus estudos, Freud passou a achar os ensinamentos de Charcot
discutíveis.
Ainda antes de voltar à Viena, Freud foi a Berlim estudar sobre as enfermidades
infantis, onde publicou alguns trabalhos sobre paralisia cerebral das crianças. E, em
1886, já de volta, além de ter se casado com Martha Bernays, com quem teria seis filhos,
estabeleceu sua clínica particular e passou por um período de grande resistênciapor parte
das autoridades médicas em relação às suas inovações científicas. Assim, foi questão de
tempo a sua retirada da vida acadêmica e da relação profissional com a sociedade de
médicos.
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gênese dos sintomas e sobre o qual era inviável o acesso em estado normal de
consciência.
Este fato foi descoberto ao perceber que a hipnose era uma condição que
atenuava a vigilância da censura, possibilitando evocar fatos perdidos que estavam
relacionados com o sintoma. Assim, em hipnose, uma situação era recordada e possível
de realizar o ato psíquico, antes reprimido, permitindo, de tal forma, um livre curso do
afeto correspondente e o consequente desaparecimento do sintoma. Estas reconstruções
da situação traumática inicial eram seguidas de explosões emocionais, chamadas de
catarse, e acompanhadas pelo desaparecimento sintomático. Nas palavras de Freud
(1914): “Os sintomas de pacientes histéricos baseiam-se em cenas do seu passado que
lhes causaram grande impressão, mas foram esquecidas (traumas); a terapêutica, nisto
apoiada, consistia em fazê-los lembrar e reproduzir essas experiências num estado de
hipnose (catarse).” (Ed. Bras, livro 6, p. 17)
2 Sua paciente mais conhecida foi Bertha Pappenheim, sob o pseudônimo de Anna O., que será a primeira paciente
histérica de Freud. Na época, responsável pelos cuidados de seu pai gravemente doente, Anna O. sofria de um
variado quadro sintomático que incluía paralisia, contrações musculares, inibições e estados de perturbação psíquica.
Em estado de vigília, a paciente era tão incapaz como os outros de entender a origem de seus sintomas ou as
conexões com a sua vida. Porém, hipnotizada, achava-se o que faltava. Com seu pai, a paciente se viu forçada a
reprimir um pensamento-impulso, cuja representação havia revelado o sintoma. Seu tratamento e sua hipnose
permitiram revelar os pensamentos e afetos reprimidos como o desejo de que o seu pai morresse.
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Claro que esta descoberta, ainda que não tire o valor do método hipnótico, o
impõe limites. E, por isso, a hipnose deixou de ser o método ideal para os propósitos de
Freud, que mudou a sua abordagem, escolhendo trabalhar com os pacientes deitados,
enquanto ele se colocava por trás, de maneira que poderia ver, mas não ser visto.
Com esta postura, ele pretendia encorajar seus pacientes a falarem livremente,
sem reservas, sem omissão e julgamento, independente da aparente relação com seus
sintomas, isto é, sem preocupações de certo ou errado, reflexões ou conexões lógicas. A
ideia era buscar a origem dos sintomas através daquilo que era verbalizado, vencendo,
primeiramente, as resistências que impedem o acesso ao inconsciente. Visto que o
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analista, por sua vez, tem a função de reunir e significar o material descoberto 3, um
terapeuta psicanalista tradicional tem uma postura mais passiva e calada, ansiando do
seu paciente seus próprios insights.
Esta técnica foi chamada por ele de “Associação Livre”, onde o material
inconsciente viria à tona, com essas ajudas “espontâneas”, relatadas pelo próprio
paciente através dos sonhos, dos atos falhos e dos esquecimentos. Como aquilo que foi
esquecido tinha sido penoso, temível ou doloroso, para fazê-lo consciente era preciso
dominar o que se revelava contra o sujeito, impondo-se ao profissional tal esforço, tanto
maior quanto a gravidade do esquecido e a resistência do paciente. É neste momento
que surge a teoria da repressão4, ponto central psicanalítico, onde o conflito leva à luta
entre duas forças: instinto e resistência.
E é por volta desta época que surge, pela primeira vez, o termo psicanálise, mais
precisamente em 1986, para indicar um método particular da psicoterapia. Neste mesmo
3
Vale ressaltar, como símbolo de curiosidade, que como Freud anotava somente depois de algumas horas o discurso
de seus pacientes, acredita-se que pode ter havido certas omissões. Outra crítica é que ele pode ter reinterpretado e ter
sido guiado pelo desejo de encontrar material de apoio às palavras transcritas.
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A repressão é um mecanismo primário de defesa análoga à tentativa de fuga e antecessor da futura solução normal
por julgamento e condenação do impulso repulsivo. Como consequência, o ego precisa se proteger por meio de um
permanente esforço contra a pressão do impulso reprimido, sofrendo assim um empobrecimento. Além disso, o
reprimido, ao se transformar em inconsciente, pode alcançar uma descarga e satisfação substituída por caminhos
indiretos, fazendo fracassar o propósito da repressão.
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ano, no qual inclusive o seu pai morre, a correspondência entre Fliess 5 e Freud exibe a
expressão "aparelho psíquico" e os seus três componentes: consciente, pré-consciente e
inconsciente. É através de tais correspondências que Freud inicia o que ele chamaria de
sua autoanálise. Em paralelo, reconhece a sexualidade infantil e o complexo de Édipo.
Poucos anos depois, publica “A Interpretação dos Sonhos", com data de 1900, ainda que
tenha sido publicado no final de 1899. Datada, a pedido dele mesmo, de 1900, para
“abrir o século”, foi considerada por muitos como seu mais importante trabalho, apesar
de, na época, não ter recebido quase nenhuma atenção.
5
Wilhelm Fliess (1858-1928) foi um médico alemão importante na pré-história da psicanálise. Por sugestão de
Breuer, Fliess se encontrou com Freud, em 1887, formando um forte laço de amizade. Mais do que um ouvinte crítico
de Freud, fez algumas contribuições científicas como a da bissexualidade inerente a todos os seres humanos.
Suspeitando que suas ideias estivessem sendo plagiadas por Freud, a amizade se desfez em 1902. Sua
correspondência com Fliess encontra-se atualmente reunida sob o nome de “O Nascimento da Psicanálise”.
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Já na década de 20, Freud nos conta sobre sua segunda teoria do aparelho
psíquico: Isso (Id), Eu (Ego), Supereu (Superego) e sobre a segunda teoria das pulsões:
pulsão de vida e pulsão de morte.
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por Freud a partir de suas observações. Até então, a área da psicoterapia só contava com
o apoio da terapia, ou seja, com banhos, sangrias e outros métodos obsoletos. Dessa
forma, sua contribuição, não só para a psicologia ou medicina, como para outras áreas
do conhecimento (sociologia, literatura, antropologia, entre outras) é inquestionável.
Suas ideias permitiram uma revolução de pensamento e o início da revisão de vários
preconceitos.
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Ainda que saibamos que, após o olhar de Freud, vários foram aqueles que
contribuíram para a expansão e o desenvolvimento da psicanálise, seria impossível
abarcar todas as figuras importantes no presente trabalho. Tal fato, não desmerece
nenhum deles, só tem como objetivo permitir-nos um curso mais focado. Para um
estudo mais aprofundado sobre as escolas psicanalíticas, sugerimos ver algumas ideias
de livros expostos na referência bibliográfica, presente na apostila do módulo II.
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Um dos alunos mais conhecidos de Freud, Carl Gustav Jung, nasceu em uma
aldeia suíça, em 1875. Tanto seu pai como vários parentes próximos eram pastores
luteranos e, desta forma, já durante sua infância, percebe-se o quanto foi tocado
profundamente por questões tanto religiosas quanto espirituais. Filho único, formou-se
em medicina pela Universidade da Basiléia, em 1900, e apresentou, em 1902, sua tese
de psiquiatria sobre “Os chamados fenômenos ocultos”. Começou a trabalhar com
esquizofrênicos, no hospital psiquiátrico Burgholzi, em Zurique, tornando-se grande
admirador de Freud. Estava tão entusiasmado com as novas perspectivas abertas pela
psicanálise, que decidiu conhecê-lo pessoalmente, indo a Viena, em 1907.
concepção de que tal acontecimento se dava por um fator inconsciente, com forte carga
afetiva que exercia influência sobre a vida psíquica e sobre o comportamento dos
indivíduos. Dessa maneira, ambos percebiam que os fatos retidos no inconsciente
podiam permanecer ativos por muito tempo e desencadear perturbações da vida mental.
Somente acreditava que, para que o trauma exercesse a sua ação patogênica, era
preciso que houvesse uma “predisposição interior específica”. Além disso, por sua vez,
como era de se esperar, Freud não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos
mitológicos, espirituais e ocultos: “O positivismo científico materialista de Freud não
perdoou o discípulo que buscou o fundamento criativo da religião.” (BYNGTON,
2004, p.7). O rompimento definitivo se deu em 1912, e cada um seguiu caminhos
diferentes com ressentimento de ambos os lados.
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por Jung durante tais experimentos, foram denominados de complexos, definidos como
um agrupamento de conteúdo psíquico, carregado de afetividade, que estabelece
associações com outros elementos. De tal forma, os complexos são capazes de interferir
na vida consciente, nos envolvendo em situações contraditórias, perturbando a memória
e arquitetando sonhos, por exemplo.
Assim, podemos perceber que o bem-estar depende dos complexos que possuem
maior ou menor autonomia, dependendo da conexão com a totalidade da organização
psíquica. Apesar do mal-estar que podem causar, não são considerados elementos
patológicos, mas sinal de conteúdos conflitivos que não foram assimilados. Para que
isso ocorra, por sua vez, é preciso compreender os conflitos em termos intelectuais e
exteriorizar os afetos envolvidos.
De acordo com Alves (2005), Jung concluiu que o inconsciente era mais do que
um depósito de desejos reprimidos expressos em sonhos, como entendia Freud. Ainda
que não negasse a existência do inconsciente individual, ele acreditava em um
inconsciente mais profundo e não pessoal, comum a todos os homens e culturas,
expresso através de símbolos que vêm à tona em sonhos, mitos e expressões artísticas.
Todos os indivíduos compartilham os mesmos símbolos, ainda que, em cada cultura,
eles tenham roupagem própria.
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Seguindo em sua teoria, o processo de individuação é tido, por ele, como a nossa
grande tarefa existencial. Tal processo costuma ser deflagrado espontaneamente no
indivíduo já adulto, o que o fez ter tanto interesse no estudo desta fase da vida. Para
Jung, o que nos acontece na primeira metade da vida é uma espécie de preparação para
o nosso processo de individuação, a descoberta de nossa identidade profunda, que
ocorre somente através da realização de nossos potenciais.
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Vale lembrar, como já ressaltado por Ramos e Machado (2004), o conceito junguiano de inconsciente como fonte
de criatividade e potencialidade e não somente como depositário de conteúdos reprimidos, imagens ou vivências
dolorosas bloqueadas pelo mecanismo do ego. É de lá que surgem os impulsos que tomam forma na matéria, de
acordo com o espaço e o tempo de uma pessoa.
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Foi em 1921, em seu livro "Tipos Psicológicos", uma de suas obras mais
conhecidas, que Jung propôs que cada indivíduo possuía uma maneira singular de
apreender o mundo. Para caracterizar esta tipologia, dinâmica e desenvolvida, ao longo
da vida, Jung descreveu duas atitudes (extroversão e introversão) e quatro funções da
consciência (pensamento, sentimento, sensação e intuição).
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Vale ressaltar que essas atitudes, ainda que não sejam totalmente cristalizadas, se
excluem mutuamente, visto que seria impossível manter as duas ao mesmo tempo. O
ideal é que o ser humano tenha uma cota de flexibilidade, podendo adotar ambas,
quando apropriado for e, assim, sem responder de uma maneira fixa ao mundo,operando
em termos de um equilíbrio.
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Jung morreu aos 86 anos, em 1961, após ter levado uma vida que marcou a
antropologia, a sociologia e a psicologia, além de campos como a arte, a mitologia e a
literatura.
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Reich foi o fundador do que poderíamos chamar de psicoterapia orientada para o corpo,
visto que seu trabalho objetivava a libertação de emoções através deste. Enfatizou a
necessidade de lidar com os aspectos físicos do caráter, em especial os modelos de
tensão muscular crônica, tendo como principais contribuições os conceitos de caráter e
couraça, que se desenvolveriam a partir do conceito freudiano da necessidade do Ego
em se defender contra forças instintivas.
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Como título de curiosidade, vale ressaltar que tanto a religião quanto as observâncias judaicas não tiveram nenhum
papel significativo na educação de Reich.
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Tal conceito será explicado em breve. Por enquanto, nos basta a ideia levantada por Cavalcanti e Cavalcanti (2006),
que afirmam a couraça muscular como sendo um padrão geral de tensão muscular crônica do corpo que funciona
como um escudo, retendo energia que não pode ser descarregada.
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Foi Reich que nos trouxe este olhar para a relação da mente e do corpo. E, de tal
forma, interessado no papel da sociedade na criação de inibições, fundou uma
psicologia orientada para o corpo.
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Além disso, para ele, cada atitude de caráter tem uma atitude física
correspondente, ou seja, o caráter do indivíduo é anunciado no corpo, em termos de
rigidez muscular ou couraça muscular. Como não somente de recalque vive o
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Além disso, outra técnica utilizada dizia respeito à intensificação da tensão, que
fazia os pacientes mais conscientes dela, aumentando a possibilidade de aliviar o que
estava preso em determinada parte do corpo. Fadiman e Fragner (1986) acrescentaram
que, para que seus pacientes se conscientizassem de seus traços neuróticos de caráter,
Reich imitava com frequência suas características, gestos ou posturas, fazendo com que
repetissem ou exagerassem uma faceta habitual do comportamento.
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Além de analisar de forma detalhada a postura dos seus pacientes e seus hábitos
físicos para que pudessem ser conscientizados da forma como reprimiam os sentimentos
vitais em diferentes partes do corpo, Reich descobriu que as tensões muscularescrônicas
servem para bloquear uma das três excitações biológicas: a excitação sexual, aansiedade
ou a raiva.
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Olhos: Expressada pela imobilidade da testa e por uma expressão vazia dos
olhos, tal couraça é dissolvida, abrindo fortemente os olhos, imitando uma
expressão de espanto para que mobilize as pálpebras e a testa e, de tal forma,
encorajar a expressão emocional. Os olhos também devem movimentar
livremente, tanto em círculos como olhando de lado a lado.
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Da mesma forma, dentro da visão de tal linha, o terapeuta reichiano precisa ter
atingido um apreciável progresso em seu crescimento pessoal, visto que, para trabalhar
psicológica e fisicamente com um indivíduo, ele precisa ter ultrapassado os medos das
produções ativas de seu corpo, permitindo um livre movimento de energia corpórea.
Vale ressaltar, ainda, que de acordo com o que foi levantado por Fadiman e
Fragner (1986), a extensa pesquisa feita por Reich sobre energia orgônica e tópicos
relacionados, foi ignorada ou repudiada pela maioria dos cientistas e críticos. Visto que
o seu programa de orientação sexual é controverso ainda hoje, sabemos que suas ideias
foram bastante contestáveis para a sua época. Para termos uma base, por volta de 1933 e
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1934, em um período de seis meses, Reich havia sido expulso de suas duas principais
filiações profissionais, políticas e sociais, além de três países diferentes.
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Agência governamental americana que lida com o controle das indústrias alimentícias e de medicamentos.
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Por conta desta tradição, Lacan estudou no Colégio Stanislas, uma célebre
instituição dirigida por jesuítas, onde adquiriu uma nobre formação que incluía estudos
de alemão, latim, grego, retórica, matemática e filosofia.
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Para se ter uma ideia, no mesmo ano da sua publicação, em 1932, Lacan enviou
para Freud sua tese, recebendo como resposta apenas um cartão postal. Eles nunca
chegaram a se encontrar.
Em 1934, Lacan casa-se com a sua primeira mulher, Marie-Louise Blondin, filha
de um homem de destaque na medicina, com quem teve três filhos: Caroline (1937),
Thibault (1939) e Sybille (1940). No mesmo ano, se afiliou a “Société Psychanalytique
de Paris” (SPP), fundada oito anos antes.
Lacan era tido como um intelectual brilhante fora dos meios psicanalíticos
franceses, porém o abalava o fato de não ser reconhecido pela SPP, onde os seus
trabalhos não só não eram levados em conta, como o seu anticonformismo produzia
profunda irritação.
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Porém, conforme foi levantado por Goldenberg (2004), as sessões curtas não
podem ser confundidas com o embasamento teórico do tempo lógico. O uso lógico do
tempo é a tentativa de reduzir a duração da sessão, curta ou longa, ao tempo do
acontecimento discursivo, cujas consequências serão elaboradas pelo paciente fora do
consultório enquanto cuida da vida.
Outra forma de ver Lacan nos foi proposta por Oliveira (2004), que o divide em
três tempos. Inicialmente, uma visão do futuro, da família ocidental, somada à visão
social mais geral do mundo é um primeiro Lacan. Em seguida, e a partir de 1945, ocorre
o movimento estruturalista de Lacan, descoberto através da leitura de Lévi-Strauss,
onde se faz possível a elaboração de uma nova concepção do inconsciente e da
linguagem. Já o 3º Lacan está voltado à pesquisa matemática, onde tentou, através de
modelos lógicos, encontrar uma solução que pudesse responder a questão da
formalização do inconsciente e da loucura.
Há quem afirme que Lacan sofria de inibições de escrita, visto que o ensino de
sua teoria e a transmissão de seus conceitos e pesquisas ocorreram de forma
primordialmente oral, por meio de seminários e conferências, que constituíram o núcleo
de seu trabalho teórico, ainda que a maioria deles transcrita e posteriormente publicada.
Tal fato parece curioso, se pensarmos que sua vertente foi estudar a linguística e
a lógica para reconfigurar a teoria do inconsciente, em um trabalho não só teórico como
clínico. A linguagem se fez o centro de suas preocupações, visto que é a condição
principal de existência do inconsciente, que só existe no sujeito falante. De acordo com
Forbes (2004), para Lacan, palavras não são só palavras. Não há nada a ser buscado
além delas e sim nelas.
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Segundo Battaglia (2004), Freud afirmou que o ser humano quando nasce é um
caos resultante de um corpo ainda fragmentado e descontínuo. Se, para Freud tal
unidade só pode ser apreendida a partir de um esquema mental, por sua vez, Lacan
afirma que esse esquema mental não é da ordem do natural, mas antecipado através de
um Outro antes mesmo da capacidade motora da criança de se expressar, permitindo
que haja a instalação das experiências subjetivas e cognitivas. Dizendo de outra forma,
o Outro traduz a sua leitura pessoal de mundo para a criança e, neste sentido, a
interpretação é obrigatória e repressiva, embora também imprescindível para que a
criança se estabeleça. Assim, passamos a entender quando Lacan afirma que o
conhecimento vem daquilo que é exterior ao conhecimento que o sujeito tem de si
mesmo.
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Além disso, se antes Freud falava de relações bem estruturadas pela hierarquia,
para Lacan tais relações se davam de modo mais horizontal e, assim, as figuras de
autoridade perdem o lugar simbólico de poder e excelência. Bom exemplo disso é o
complexo de Édipo, uma estrutura que privilegia o eixo vertical das identificações, basta
ver o papel fundamental do pai em tal modelo. Porém, ao fazermos parte de uma era
globalizada, quando a horizontalidade é mais importante do que a verticalidade anterior,
Lacan propõe uma análise além das significações consagradas no ideal paterno e de seus
representantes. É a análise de um sujeito de uma nova era.
Outra importante releitura se faz entre a proposta do id, ego e superego de Freud.
Na teoria lacaniana, o aparelho psíquico é uma organização única formada pelo Real e
pelos registros do Imaginário e do Simbólico (RSI), que se representam em torno do
furo inicial do objeto a. De acordo com o que foi levantado por Kehl (2004), o Real nos
diz sobre aquilo que é irrepresentável, que tentamos permanentemente simbolizar. Já, de
acordo com Cesarotto (2004), por sua vez, o Real é referido pela negativa, isto é, seria
aquilo que, carecendo de sentido, não pode ser simbolizado, nem integrado
imaginariamente.
Voltamos a Kehl (2004), para buscar sua ideia sobre o Simbólico e acharmos
que ele é o registro em que o trabalho psíquico se faz através do significante. Podemos
dizer que o simbólico tem na linguagem a sua forma mais concreta, governando o
sujeito do inconsciente, assim, ele se faz como o responsável pelas transformações do
sujeito.
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Por último, o Imaginário é entendido, pela mesma autora, (2004), como o registro onde
as representações psíquicas se apoiam sobre as imagens, ganhando uma consistência
que parece ser a expressão da verdade.
Algum tempo se passou e Lacan mostrou que os três registros, essenciais da realidade
humana, não podem ser isolados por se apresentarem unidos de modo indissociável na
topologia do nó Borromeano, onde os elos estão dispostos de forma que, se cortarmos
um deles, todos se desligariam simultaneamente. Vale ressaltar que cada uma das três
categorias é autônoma e distinta das outras, ainda que todas estejam amarradas de
maneira interdependente.
Até o momento, Lacan acreditava que o desejo era a causa das formações do
inconsciente, porém ao colocar o gozo em tal lugar, opera-se uma mudança de vital
importância, visto que o gozo, ponto fundamental para Lacan, é entendido como uma
mistura de prazer e de insatisfação. Expressando a conjunção de Eros e Tanatos, é ele
que alimenta os sintomas, inibições ou as angústias, sem se completar visto que está
sempre extravasando.
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Para Forbes (2004), enquanto Freud fez uma Sociedade de analistas, Lacan fez
uma Escola de psicanálise. O fato de não haver psicanálise sem psicanalistas, faz da sua
formação um problema crucial. Por sua vez, a formação lacaniana é complexa e bem
mais exigente do que a universitária, visto que não é padronizada, o que impede o
cumprimento de fórmulas prontas ou de tarefas pré-estabelecidas.
Precisamos dizer que Lacan foi o único intérprete a dar à obra de Freud uma
estrutura filosófica e a tirá-la do seu ancoramento biológico, sem que isso o fizesse cair
no espiritualismo. Pelo contrário, ele criou um sistema de pensamento que reconstruiu
inteiramente a doutrina e a clínica de Freud, com conceitos e técnica originais, podendo
ser considerado o seguidor que mais contribuiu e deu continuidade à sua obra. Suas
ideias ampliaram os terrenos da psicanálise, questionando mentalidades e
potencializando a ciência do inconsciente.
De acordo com Oliveira (2004), Lacan renovou não somente a teoria de Freud
como o conjunto de práticas e clínica psicanalítica. Independente das críticas, nós
precisamos dizer que ele ocupou um lugar fundamental ao dar vida nova à obra de
Freud. Por isso, visto que sua obra está totalmente integrada à história da psicanálise,
suas concepções são essenciais para os militantes da área clínica da psicanálise.
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De acordo com Lacan, a psicanálise não é uma ciência, uma filosofia ou mesmo
uma visão particular de mundo. Ela é uma prática comandada pela elaboração da noção
do sujeito e esta noção, para Lacan, conduz o sujeito em sua dependência significante.
Nas palavras de Goldenberg (2004): “A sessão analítica é como uma encenação de
teatro, cujo diretor é o paciente, e na qual o psicanalista aceita o papel de ator
coadjuvante, com o intuito de apreender o roteiro que ambos seguem sem saber.” (p.
45)
Fazia parte do trabalho de Lacan seu especial cuidado para não interferir no
discurso do seu paciente. Assim, ele visava que o próprio, analisando, pudesse descobrir
as próprias questões, visto que o risco da interpretação engloba o analista passar os seus
significantes ao paciente.
Em 1981, Lacan morre, em Paris, atingido por distúrbios cerebrais e por uma
afasia parcial, após uma extração de um tumor maligno do cólon. Porém, ainda depois
de sua morte, sua obra surpreende pela novidade. Ela não tem como ser ignorada, pois
seu efeito está longe de ser reduzido meramente aos consultórios psicanalíticos.
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Lacan é um clássico que resiste ao tempo visto que não se encontra em nenhuma
interpretação classificatória: “Sempre há mais Lacan do que aquilo que se pode
apreender.” (FORBES, 2004, p. 12). E, como se não satisfizesse aquilo que já temos
publicado em seu nome, há também os Outros escritos, que possui 600 páginas
adicionadas às anteriores.
10
Por conta da complexidade de sua teoria, optamos por não aprofundá-la com o simples intuito de seguirmos o
nosso proposto inicial.
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Seminário X: L'angoisse
1963
(Le Séminaire X " L'angoisse")
Seminário XXIV: L'insu que sait de l'une bévue s'aile à mourre, não
1977
publicado.
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Alguns anos se passaram quando, em 1936, Adelheid Lucy Koch veio ao Brasil.
Ela foi a primeira psicanalista didática, responsável por iniciar Durval Marcondes e
outros na psicanálise. Koch contribuiu para que a “Sociedade Brasileira de Psicanálise”
fosse reconhecida pela IPA.
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Paralelo a isso, ele percebeu que algumas resistências funcionam como barreira
ao processo analítico. Assim, Freud nos falou sobre transferência e contratransferência,
conceitos centrais na psicanálise, visto que são formas típicas de projeção resultantes da
relação terapêutica. Podendo ser positiva (sentimentos de afeto e admiração) ou
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Também revelou-nos que os sonhos são muito mais do que aquilo que poderia
ser imaginado desde então. A interpretação deles é a via real capaz de levar ao
conhecimento das atividades inconscientes da mente.
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apreendeu a existência de uma instância psíquica que não era consciente, mas onde
estariam guardadas todas as experiências de um indivíduo. E assim, ao propor a teoria
topográfica, Freud tentou explicar como ocorria o conflito intrapsíquico entre os desejos
sexuais e suas forças inibidoras.
Para tanto, Freud dividiu o aparelho psíquico em três sistemas: inconsciente, pré-
consciente e consciente, cada um deles com seu tipo de processo, investimento e
funções demarcadas. Ao consciente, denominado também de sistema percepção-
consciência, na maioria das vezes, caberia somente uma pequena parte responsável por
receber informações provenientes das excitações do exterior e do interior, que ficam
registradas qualitativamente de acordo com o prazer e/ou desprazer que elas
proporcionam.
Freud também percebeu que, para que algo se torne consciente, era necessário
que antes disso, tal elemento passasse pelo pré-consciente, através da associação e
resíduos verbais correspondentes.
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representações que já foram conscientes, mas que foram expulsas por causarem grande
sofrimento, com a ajuda da repressão ou mesmo da censura. Apesar disso, dotado por
uma grandiosa fonte de energia, seus conteúdos funcionam como invasores,
perturbando a mente ao despejar seus derivados na consciência.
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Para Freud, a interpretação dos sonhos é uma maneira simples, porém, sólida, que se tem de conhecer o
inconsciente.
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2.2 – Narcisismo
12
Palavra derivada da Mitologia Grega refere-se ao mito de Narciso que ao ver a sua própria imagem na água, se
apaixona perdidamente por si próprio e acaba por morrer afogado.
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pulsão do Eu é o próprio eu. Neste estudo, Freud dividiu o narcisismo em duas fases: o
narcisismo primário e o narcisismo secundário.
Ainda que os mesmos autores (1996) nos avisem que “estes termos têm na
literatura psicanalítica e, mesmo apenas, na obra de Freud, acepções muito diversas,
que nos impedem de apresentar uma definição unívoca mais exata do que aquela que
propomos” (p.290), tentaremos resumi-los aqui de forma breve.
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deles, transformado em amor objetal. Por isso, aqui, podemos entender que a criança é
capaz de completar a falta da mãe e de ser o seu único objeto de amor.
Porém, chega o dia em que a criança descobre que não é tão perfeita como a
fizeram acreditar. Com isso, ela vai tentar buscar pelo o Ideal do Eu13, motivo este que a
acompanhará para o resto da vida e que permitirá que ela incorpore, através do
mecanismo da identificação, características dos objetos de amor perdido.
13
De acordo com Laplanche e Pontalis (1996), apesar de na obra “o ego e o id”, tal termo ter sido apresentado como
sinônimo do superego, em outros textos ele passou a ser atribuído a uma instância diferenciada. Os mesmos autores o
consideram como uma “instância da personalidade resultante da convergência do narcisismo (idealizações do ego) e
das identificações com os pais, com os seus substitutos e com os ideais coletivos. Enquanto instância diferenciada, o
ideal do ego constitui um modelo ao que o sujeito procura conformar-se.” (p. 222)
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Por sua vez, a parte que se relaciona com o meio ambiente, funcionando como
mediador das pulsões do id, as exigências do superego e as demandas do exterior, o ego
tenta negociar com as restrições do superego, se adaptando à realidade que o cerca.
Entretanto, ele é a instância responsável pelo despejo das excitações, pelo recalque e
pela censura onírica, além da motilidade motora.
Freud percebeu, a partir da escuta das suas pacientes histéricas, que a resistência,
que surge em suas associações, não são formações conscientes. Concluiu, então, que a
parte do ego responsável pela resistência seria uma parte inconsciente, responsável
pelos mecanismos de defesa, entre eles, o recalque e resistência.
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Assim, Freud precisou mudar a concepção de que o ego era totalmente situado
no consciente ou no pré-consciente e desconsiderar a visão de que o conflito psíquico
ocorreria entre o ego consciente, que não quer admitir certos tipos de pensamentos, e a
soma inconsciente desses pensamentos recalcados. Freud passou a ver o ego como uma
parte do id, que, por influência do mundo externo, sofreu uma diferenciação.
Explicando de outra forma: podemos perceber que, se existe algo que demonstre
que determinados pensamentos estão inconscientes, isto é, recalcados, é a dificuldade
que encontramos no paciente de se lembrar ou mesmo de falar sobre o assunto. Dessa
forma, tal fato significa que o ego bloqueia o acesso de tais representações mentais
recalcadas e se o paciente não tem consciência desta resistência, ela não pode ser
considerada um fenômeno consciente, ainda que seja uma função do ego. Por isso, o
conflito psíquico não pode estar fundamentado em uma oposição entre ego e
inconsciente, o que não quer dizer que o ego não seja um dos polos do conflito psíquico.
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2.4 – Resistências
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Transferência e contratransferência
Santos (1994) nos lembra que, ainda que o analista não saiba de início para onde
está sendo levado na série psíquica do seu paciente, ele sabe que é preciso ser incluído
em um determinado arranjo, para que seja possível colocar as exigências do paciente em
movimento e vinculá-las às reivindicações e às metas próprias ao tratamento analítico.
Apesar disso, o paciente, passa a se interessar por eventos relacionados à figura do
terapeuta, impondo a isso, por vezes, maior importância do que é a demonstrada em
próprias questões, neste momento, estamos diante de uma relação transferencial, onde o
paciente parece desviar sua atenção de suas próprias questões.
O mesmo autor (1994) ainda salienta que, via de regra, no início do tratamento,
temos um vínculo sustentado pela supervalorização das qualidades do terapeuta. É a
transferência positiva que facilita o processo analítico, tornando o paciente mais
suscetível à influência do analista ao alimentar por tal figura, sentimentos como
admiração e empatia, capazes de baixar as resistências que por ventura existam. Porém,
dificuldades no tratamento, tornam o paciente resistente e caso a situação não seja
esclarecida, o processo analítico pode entrar em risco.
Percebemos então que esta relação, que pode ser positiva ou negativa (embora
quase sempre com o predomínio de uma delas), constitui o verdadeiro motor do trabalho
analítico. É ainda Santos (1994) que voltando a Freud, nos lembra que, para ele, a
transferência negativa é a mais ameaçadora, pois, este tipo de vinculação reflete, de
forma direta, a resistência ao trabalho analítico. A diferença da transferência positivaà
negativa reflete o deslocamento de impulsos agressivos em vez de libidinais. Vale
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dizer que os sentimentos afetuosos se escondem atrás da hostilidade, visto que, tanto
quanto os sentimentos afetuosos, os hostis sugerem a presença de um vínculo afetivo,
ainda que com um sinal de menos. De qualquer forma, esses sentimentos, precisam ser
considerados como sendo transferenciais, uma vez que também não podem ser
creditados à situação analítica.
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Apesar de, não raras vezes, trazer dificuldades no seu manejo, trata-se de uma
manifestação que, se adequadamente percebida e trabalhada, pode se transformar em
uma ferramenta útil para o processo terapêutico. Assim, seu aproveitamento e manejo
constituem, de todos os modos, a parte mais importante da técnica analítica.
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maneira, a situação analítica pode ser estruturada como uma superfície projetiva, apenas
pela transferência do paciente.
Por sua vez, Freud, ainda que tenha declarado a sua existência e a necessidade
de ser controlada, não nos deixou nenhum estudo sobre a contratransferência. Apesar
disso, podemos dizer que ela é uma reação inevitável, causada no analista. Porém,
quanto mais analisado for o terapeuta, menos sucumbirá aos seus efeitos.
Mecanismos de defesa
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que surgem da realidade externa. Vale dizer que essa é uma tentativa inconsciente do
ego de se adaptar e amortecer o impacto dos desejos inaceitáveis, para que possam ser
expressos de forma melhor aceita.
Podemos destacar diversos deles, uns mais eficientes do que outros e cada um
com uma forma específica de funcionamento. Existem vários tipos conhecidos e
explicados, mas os principais mecanismos de defesa que serão descritos aqui são:
negação, projeção, fixação, racionalização, sublimação, deslocamento, repressão,
formação reativa, recalque e introjecão.
A negação é um mecanismo pouco eficiente, que pode ser traduzido pela recusa
consciente em compreender fatos perturbadores, isto é, uma tentativa de não aceitar
como real um fato que perturba o ego, ocorrendo, assim, o bloqueio do reconhecimento
de uma verdade incontestável. Acontece que, ao negar as sensações de desprazer, o
indivíduo perde, não só a percepção necessária, como a capacidade de sobrevivência
adequada. Para Laplanche e Pontalis (1996), a negação é o processo onde, ao formular
os desejos, pensamentos ou sentimentos até então recalcado, o sujeito defende-se dele,
negando que lhe pertença.
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condizerem aos nossos ideais, tais elementos tentam descarregar a energia vinculada a
eles através de esquecimentos, sonhos ou sintomas neuróticos.
Os mecanismos de defesa...
... mais eficazes tendem a ser utilizados com ... não são escolhidos pela consciência.
maior frequência.
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... são ações psicológicas que buscam reduzir ... ao controlar as tensões, permite que
as manifestações iminentemente perigosas ao nenhum sintoma se desenvolva, apesar
Ego. de limitar das potencialidades do ego.
Considerados na antiguidade
clássica como profecia, a ciência
moderna não sabia nada deles, sendo
abandonados à superstição. Até Freud,
era impossível admitir que um trabalho
científico pudesse usar o sonho como
ferramenta.
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Para Freud, o sonho é a nossa porta para o inconsciente, visto que, durante o
sono, ocorre esse afrouxamento da censura e, assim, o desejo recalcado tenta se
aproveitar desta ocasião para se manifestar. Apesar disso, o pré-consciente reconhece o
desejo e, em uma tentativa de proteger o sono, disfarça o seu conteúdo. A esta situação,
Freud deu o nome de deslocamento, isto é, a substituição de um representante psíquico
por outro, de menor valor, mas que reporta ao primeiro.
Estevan (s.d) nos garante que o deslocamento é o artifício pelo qual a carga
afetiva, que é desprendida durante o sonho, não recai, como seria natural, sobre o seu
verdadeiro objeto: a carga afetiva afasta sua direção e vai incidir sobre um objeto
secundário, aparentemente, insignificante.
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Por sua vez, um bom resumo de setting terapêutico foi proposto por Santos
(1994), como sendo a derivação da posição interna do analista que dá consistência ao
tratamento.
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Apesar desta visão, outros psicanalistas afirmam que tal fato se dá pela
insegurança do terapeuta de não conseguir estar em uma posição de confiança fora do
seu espaço seguro. Esse grupo, por sua vez, diz que o setting móvel é uma possibilidade
de atingir aqueles que não suportariam o setting fechado, permitindo que esses também
possam tirar proveito do mesmo benefício das intervenções psicanalíticas.
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Para o próprio Freud, liberar um paciente dos seus sintomas é uma tarefa que
consome tempo. Assim, para uma intervenção de curto prazo, que visa acabar com os
sintomas focais de determinada doença, é mais fácil falar de alta ou cura. Por outro lado,
para a psicanálise, basear os atendimentos psicoterapêuticos em um tempo cronológico
beira a irrealidade, pois esse tempo não tem como ser demarcado, caso contrário não
estaríamos considerando as particularidades de cada indivíduo.
O final da análise, por assim dizer, pode ser entendido como o momento em que
o paciente está apto a trabalhar em benefício próprio. Assim, é mais do que claro que,
na ocasião em que o paciente deixa de sofrer com os seus sintomas, superando as
ansiedades, é possível pensar na alta terapêutica. É certo que o sujeito sempre terá
alguma questão, mas essa não é a ideia da alta em psicanálise. O objeto da análise é
aprender a lidar melhor com suas demandas, não fazer com que o analisando saia do
processo sem questões.
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Conclusão do Módulo I
Olá, aluno(a)!
Para passar para o próximo módulo, você deverá realizar uma avaliação
referente a este módulo já estudado!
Até logo!
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