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um percurso

Adriana More i ra
Si lve i ra Fre itas
ADRIANA MOREIRA SILVEIRA FREITAS

INSIGHT, RESISTÊNCIA E ELABORAÇÃO: UM


PERCURSO.

Niterói - 2021
Arte
Limão Laranja Agência Criativa

Arte da Capa
Limão Laranja Agência Criativa

Revisão
André Luiz de Oliveira Almeida

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Freitas, Adriana Moreira Silveira


Insight, resistência e elaboração [livro
eletrônico] : um percurso / Adriana Moreira Silveira
Freitas. -- Três Lagoas, MS : Ed. da Autora, 2021.
ePub

ISBN 978-65-00-35279-5

1. Autoconhecimento 2. Elaboração psíquica


3. Freud, Sigmund, 1856 -1939 4. Psicologia
5. Psicanálise 6. Neurociências 7. Resistência
I. Título.

21-90897 CDD-150.1952

Índices para catálogo sistemático:


1. Psicanálise freudiana : Psicologia 150.1952

Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964


ADRIANA MOREIRA SILVEIRA FREITAS

INSIGHT, RESISTÊNCIA E ELABORAÇÃO: UM


PERCURSO.

Trabalho de aproveitamento do
Curso Livre de Psicanálise da
Sociedade Psicanalítica Ortodoxa
do Brasil – SPOB

Orientadora: Mestre Clerian


Pereira

Niterói – 2021
ADRIANA MOREIRA SILVEIRA FREITAS

INSIGHT, RESISTÊNCIA E ELABORAÇÃO: UM


PERCURSO.

Trabalho de aproveitamento do Curso Livre de


Psicanálise da Sociedade Psicanalítica
Ortodoxa do Brasil – SPOB

_______________________________
Mestre Clerian Pereira

Ozeas da Rocha Machado

Niterói – 2021
Dedico este trabalho ao meu
marido André Luís e à minha filha
Anna Júlia, pois o amor que nos
une é fonte de vida e motivação.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao médico e psicanalista Dr.


Antônio João Campos de Carvalho pelo incentivo
ao estudo e à busca do conhecimento; por acreditar
em minha capacidade e pela imensa atenção e
disponibilidade durante os trabalhos de supervisão
e pela recomendação de leituras que muito
contribuíram para a construção da minha da
sensibilidade psicanalítica.
Agradeço à mestre em pedagogia e
psicanalista Clerian Pereira pelo apoio e
direcionamento nos últimos meses dedicados aos
estudos psicanalíticos, o modo de ensinar simples
e claro foi um facilitador sem igual para a realização
do trabalho monográfico.
A versão deste texto contou com os
conhecimentos do advogado e doutor em
linguística André Luiz de Oliveira Almeida, a
quem muito agradeço, pois o olhar do
especialista no vernáculo engradeceu minha
redação.
PREFÁCIO

Prefaciar um trabalho é uma


honra que pensei que não atingiria. É uma
responsabilidade imensa quando se fala de
alguém e/ou do trabalho produzido. Por outro
lado, falar do trabalho da doutora Adriana é
fácil por estarmos frente a uma produção de
inigualável qualidade.
Falar e viver Psicanálise foi algo que a
Adriana, se me permite economizar o doutora,
incorporou com excelência. Em sua obstinação
de fazer sempre o melhor, o que lhe é peculiar,
ela atingiu o máximo de sua criatividade e
saber.
Partindo-se da necessidade que o ser
humano tem em alcançar seu bem estar e, aqui
estamos falando da esfera emocional,
enquanto está a existir em si a dor causada por
conflitos dessa ordem, enumeramos três
situações que chamamos de “certas” e que
quando reunidas os benefícios aparecem com
certeza. A primeira situação é quando o
indivíduo em sua dor detecta necessidade e diz
“preciso de ajuda”. Abertura para a provável
existência de soluções pela ruptura da primeira
resistência. Podemos chamar então de “a coisa
certa”. Ato contínuo, a busca do profissional
que ao propor o tratamento psicoterápico
revela a segunda situação “o jeito certo”. A
psicoterapia e, aqui falamos na psicanalítica,
vai levar o indivíduo ao seu autoconhecimento
desvendando as causas internalizadas de seus
conflitos/dores. E, por consequência, este
mergulho dentro de si revela a terceira situação
“o tempo certo”. Este indefinível, embora
exista, é variável para cada indivíduo de per si.
Coisa certa, jeito certo e tempo certo
acolhidos pela psicanálise provê ao indivíduo o
bem estar emocional procurado. Isto não é
eufemismo, é realidade.
Adriana em seu trabalho demonstra na
análise do insight, das resistências e da
elaboração que atuação do analisando e do
analista, em par terapêutico, tal qual proposto
por Freud, que o resultado positivo alcançado
pelo analisando não é um eufemismo, é uma
realidade.
Na interface com a neurociência e com
a neuropsicanálise reforça-se os conceitos
freudianos refutados por muitos pela “ausência
de comprovação científica”. O futuro ainda está
por vir, mas já acena com forte perspectiva
essa comprovação que na prática já existe.
Prefaciar o trabalho da Adriana, a mim,
de forma pessoal, traz a lembrança de minha
formação psicanalítica que nesta data
completa 19 anos. Por isso, também fica aqui o
meu obrigado.
Parabéns à Adriana, com a certeza de
que à comunidade psicanalítica se incorpora
uma profissional de grandeza.

Antonio João Campos de Carvalho


Médico e Psicanalista
RESUMO

Tendo em vista que muitas pessoas não sabem o


que esperar do tratamento psicanalítico, ou têm
uma visão equivocada do resultado da psicanálise,
acreditamos ser pertinente informar sobre o(s)
resultado(s) possível(is) advindo(s) desse
processo, por meio desta pesquisa sobre a
abordagem freudiana consistente no trabalho que
envolve o insight, a elaboração e as resistências,
bem como as interpretações contidas no trabalho
do par analítico, apontando sua relação com a
neurociência. Para tal, partiu-se de uma pesquisa
bibliográfica tanto de algumas obras freudianas,
quanto de renomados psicanalistas, incluindo-se a
análise de artigos e matérias sobre o modo como
tais conceitos se relacionam entre si, e como as
duas tópicas de Freud se relacionam com a
neurociência. Diante disso verificou-se que o
caminho do trabalho analítico não é linear nem
datado, impõe gasto de tempo e energia, exige o
esforço conjunto do analisando e do analista para
se desvendar o contido no inconsciente do primeiro,
e que a terapia psicanalítica pode proporcionar
autoconhecimento a partir do qual o analisando
poderá melhor compreender suas questões e
seguir a própria vida de modo mais equilibrado,
lidando com os novos desafios que surgirem ao
longo do tempo.

PALAVRAS-CHAVE: Psicanálise. Freud. Insight.


Resistência. Elaboração psíquica. Neurociências.
ABSTRACT

Since many people don’t know what to expect from


psychoanalytic treatment or have misperceptions
about its results, we believe it’s relevant to inform
about possible results arising from this method, by
this research about Freudian approach involving
insight, preparation and resistances as well as
interpretations presented in the work of the analytic
pair, pointing out its relation to neuroscience. For
this purpose, a bibliographical research of some
Freudian and renowned psychoanalysts, including
analysis of articles and materials on how these
concepts relate to each other, and how Freud's two
topics relate to neuroscience. Therefore, it was
verified that the path of analytic work is neither linear
nor dated, it implies the expense of time and energy,
requires the joint effort of the analysand and the
analyst to uncover what’s contained in the
unconscious of the first one, and that
psychoanalytic therapy can provide self-knowledge
from which the analysand will be able to better
understand their issues and follow their own life in a
balanced manner, dealing with the new challenges
that arise over time.

KEYWORDS: Psychoanalysis. Freud. Insight.


Resistance. Psychic elaboration.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................ 12
2 BREVE HISTÓRICO ................................... 16
3. Neurociência, neuropsicanálise e
neuropsicologia uma estreita relação. ...... 23
4. O insight. ......................................................... 33
4.1 Algumas ponderações pertinentes. .......................... 36
4.2 Os insights são todos iguais?.................................... 38
5. Resistência. ..................................................... 45
5.1 A evolução do estudo da resistência. ...................... 49
5.2 Uma breve explicação necessária. .......................... 50
5.3 Os cinco tipos de resistência segundo o texto de
1926. .................................................................................... 55
6. Elaboração Psíquica. ..................................... 60
6.1 A Elaboração como conclusão de um processo
analítico. .............................................................................. 64
6.2 Interpretação ou construção do analista? ............... 68
6.3 Os modelos de trabalho analítico. ............................ 70
7. Interseção de conceitos. ............................... 81
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................... 88
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............. 92
12

1 INTRODUÇÃO

A sociedade é composta por pessoas que


são únicas em suas questões; sujeitos que têm
seus desejos e frustrações. E, com um pouco de
atenção, se pode notar que cada sujeito lida com o
sucesso e o fracasso, individual e coletivo, de modo
singular.
O modo de lidar com as questões da vida e
a formação da personalidade de cada indivíduo
também é único, sendo fato que há pessoas que
seguem a vida toda carregando pesos e culpas sem
jamais procurar apoio psíquico. E há indivíduos que
buscam o apoio nas mais diversas psicoterapias
existentes.
No imaginário popular, talvez o nome
Sigmund Freud e a figura do divã sejam os
primeiros referenciais de psicoterapia; vez que ele
trouxe ao mundo a Psicanálise – uma modalidade
de psicoterapia que busca o nascedouro de muitas
questões.
13

O sujeito interessado na análise, depois


dessa primeira descoberta, tende a crer que a
psicanálise lhe trará a cura para todos os males que
lhe afligem a alma, mas, em verdade, a ciência
freudiana possibilitada o autoconhecimento.
Muitas pessoas, que buscam a psicanálise,
tendem a crer que a análise tem o condão de
acabar com o sofrimento e apagar marcas da
infância ou do passado recente.
Então, quais são o percurso e o resultado do
trabalho psicanalítico? E se não se trata da busca
de uma amnésia seletiva, na qual se apagam fatos
e eventos que trazem dissabores e dores, qual o
resultado útil da análise para o paciente?
As singelas considerações e abordagens
sobre o percurso da análise na vida do sujeito, a
partir do estudo desenvolvido por Sigmund Freud e
outros psicanalistas mais experientes, podem
trazer luz para esse caminho, vez que o analista e
o analisando não buscam o extirpar a dor, mas sim
viver e conviver com o passado, de modo a garantir
um trânsito mais fluído para o futuro.
O trabalho conjunto entre o analista e o
analisando, com foco nas lições de Freud, tem o
14

condão de permitir um percurso não linear e não


datado, com destino incerto a ser vencido.
O percurso da análise tende a trazer insights
ao analisando, sendo que em algumas situações
este é antecedido, em outras é sucedido, por
resistências a serem vencidas, de modo a trazer a
elaboração psíquica.
Certo é que rememorar e ressignificar os
acontecimentos pretéritos são etapas da análise; e
a elaboração é o fechamento de um ciclo para que
o sujeito possa seguir sua vida de modo melhor.
Não menos interessante é notar que há
outras ciências que validam as abordagens do
médico e pai da psicanálise.
Deste modo, é chegado o tempo de se
conhecer um percurso possível da análise, um dos
resultados possíveis de ser alcançado pelo
analisando, a partir da ciência inaugurada por
Sigmund Freud, e de se rechaçar a visão infantil de
se apagar o passado e as dores.
Assim, um passeio pela teoria psicanalítica
freudiana pode bem elucidar a abordagem do
terapeuta, para que este exerça com competência
15

a função de copiloto do analisando nessa jornada


em busca das memórias e ressignificações.
16

2 BREVE HISTÓRICO

Sigmund Freud, também conhecido como


“pai da Psicanálise”, foi um médico austríaco de
olhar curioso e perspicaz; demonstrou, ao longo de
toda sua vida, grande interesse pelos estudos da
medicina e de outras áreas do conhecimento, a
exemplo da filosofia.
Pode-se afirmar que o gosto pelo saber e
ensinar foi um traço marcante de sua
personalidade, haja vista a qualidade e a
quantidade de estudos e obras por ele deixadas.
Assim, não é exagero pontuar que trazer ao mundo
a Psicanálise e outros estudos foram fatores
decisivos para inscrever o nome “Sigmund Freud”
na História.
O pai da Psicanálise, ainda no final do
século XIX, no início de suas atividades médicas, e
antes de apresentar ao mundo os pilares
psicanalíticos, se interessou pelos trabalhos que
envolviam a hipnose.
O olhar científico de Freud o aproximou
daqueles que usavam essa técnica para fins
17

medicinais, dentre eles Josef Robert Breuer


(médico psiquiatra austríaco) e Jean Martin Charcot
(médico neurologista francês). Ao tempo de seus
primeiros passos, o jovem e já sábio Freud não
imaginava os caminhos que se abririam a partir de
sua capacidade de estudo e observação.
Passados poucos anos, entre 1892 e 1898,
uma outra forma de trabalho foi desenvolvida pelo
jovem médico austríaco: uma técnica que consistia
em permitir ao paciente falar indiscriminadamente
todos os seus pensamentos, seja por meio de um
elemento sugerido, seja espontaneamente
(LAPLANCHE, 2016, p. 38), vez que ele constatou
que tal forma de trabalho também lhe permitia
acesso ao inconsciente do analisando. Nasciam,
naquele momento, a “associação livre” e os
primeiros contornos da Psicanálise.
Pertinente se faz a transcrição das linhas de
autoria de Victor Orquiza de Carvalho e Hélio
Honda, contidas no texto “Fundamentos da
18

associação livre: uma valorização da técnica


psicanalítica.” 1 :

Para finalizar, gostaríamos de


apontar outra peculiaridade que em
relação à técnica da psicanálise que
somente pode ser apresentada após
a introdução do conceito de
associação livre. Trata-se da
proposta de que essa técnica tem um
modo singular de ser suspicaz. Isto é,
por entender que a etiologia das
patologias não se encontra na
consciência, o seu método
investigativo é o de duvidar. Para
Freud, uma analogia entre o analista
e o arqueólogo se faz possível
porque ambos estão à procura do
que está “soterrado”. Ambos
trabalham cautelosamente para não
danificar o que pode vir a encontrar e
também não sabem exatamente o
que lhes esperam. Sabem apenas
que diante deles está arquivada a
história de seus objetos de estudo,
em uma cronologia inversa e
estratificada (FREUD, 1896).

O acesso ao inconsciente permite que o


paciente se recorde do passado reprimido, contudo

1Disponível em
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/analytica/v6n10/05.pdf, acesso
em 12 de agosto de 2021, 10:19h.
19

o acesso por meio da psicoterapia baseada na


hipnose ou sugestão se dá sem resistência, sem
elaboração, o que interfere na qualidade da
convicção obtida (ROYSSILLON, 2007).
A psicanálise tem muito da busca pelo
autoconhecimento. E o conhecimento em si é um
processo similar à prática esportiva, vez que não se
atinge o desempenho olímpico antes das primeiras
fases de aprendizagem.
Para tanto, faz-se um paralelo entre a busca
do conhecimento e a modalidade olímpica
“maratona aquática”. Nesta, o atleta, em mar
aberto, faz o percurso de 10 (dez) quilômetros 2.
Entretanto, antes do tiro de largada olímpico, o
atleta aprende a nadar em águas rasas e mansas.
O conhecimento faz parte da vida. Todavia,
não se pode atrelar a palavra conhecimento apenas
ao meio acadêmico. Conhecimento, per si, é um
processo, uma busca.
O ato de conhecer envolve as questões da
vida, de si mesmo, das relações com o outro. A

2 Disponível em https://olympics.com/pt/noticias-
destacadas/key-information-olympic-marathon-swimming-
tokyo-2020, acesso em 11 de agosto de 2021, 09:54h.
20

busca pelo conhecimento é uma constante na vida


do sujeito.
É possível afirmar que a grande maioria dos
indivíduos busca uma melhor maneira de viver, e a
busca em questão envolve o autoconhecimento.
A busca pelo conhecimento de si mesmo
talvez seja o grande desafio do ser humano. Afinal,
a vida é composta de sabores e dissabores; não há
vida sem sorrir e sem chorar.
O conhecimento pessoal envolve as
questões e vivências gravadas no inconsciente,
pré-consciente e consciente; e o indivíduo não tem
acesso a todas as “informações” contidas nas três
instâncias mentais com tanta espontaneidade e
facilidade.
A partir dessa perspectiva, a psicanálise tem
o condão de auxiliar o sujeito na busca pelo
conhecimento de si mesmo, para que sejam
desvendados os entraves, mas sobretudo, para que
o sujeito possa seguir a vida de modo mais pleno,
apesar dos sofrimentos e traumas experimentados.
A psicanálise é um dos tipos de
psicoterapias que o indivíduo pode escolher para a
busca do autoconhecimento. A técnica psicanalítica
21

e um profissional responsável e qualificado para


tanto, podem ser um diferencial no desvendar e no
entender das questões do sujeito.
Convém ressaltar que a psicanálise
freudiana teve e tem seguidores e divergentes, há
quem afirme que o revelado por Freud carece do
caráter científico, o que não se pode afirmar
atualmente ante à Neurociência.
Fato é que até para se divergir desta técnica
é essencial conhecer os estudos do pai da
Psicanálise e fazer os apontamentos, que não
raramente partem de premissas apuradas pelo
médico austríaco.
Neste texto, não se tem a pretensão de
divergir de Freud. Tem-se a modesta pretensão de
demonstrar uma parte do percurso do paciente,
aquele compreendido entre o insight e a
elaboração, bem como a quebra da resistência
contida no percurso.
O sujeito que se dispõe ao processo
analítico tem a oportunidade de acessar memórias
rechaçadas (insight), vencer dificuldades
(resistência) e, ao final, de sua “maratona aquática
pessoal”, poderá melhor compreender o motivo de
22

certas atitudes e posturas frente aos fatos e


situações da vida (elaboração).
Além disso, a psicanálise é útil para melhor
compreender o porquê das relações pessoais se
desenvolverem de uma ou outra maneira, ainda
que termos técnicos, como “id”, “ego” e “superego”
ou mesmo “resistência” e “elaboração” sejam
desconhecidos pelo sujeito.
Este texto pretende trazer ao leitor uma
breve noção da estreita relação que une o insight,
a resistência e a elaboração, objetivando ajudar a
compreender que nem sempre o “tiro de largada” e
o “percurso inicial” da maratona aquática são
indicativos de um processo linear e bem delimitado,
com tempo certo para o início e o fim.
23

3. Neurociência, neuropsicanálise e
neuropsicologia uma estreita relação.

As abordagens trazidas pelo pai da


Psicanálise trouxeram também incontáveis
“terremotos sociais”, posto que a sociedade era
balizada por padrões e conceitos que muito diferem
dos atuais.
Falar de sexualidade, fases de
desenvolvimento e inconsciente entre o final do
século XIX e a primeira metade do século XX, pode-
se dizer que era uma postura de vanguarda, de
coragem.
Todavia, muito dos estudos de Freud
foram postos em xeque e depois foram
comprovados, especialmente pela neurociência.
Antes de conjecturar ganhos ou não, divergências
ou congruências, uma breve consideração sobre
Neurociência é pertinente.
A neurociência se dedica ao estudo do
sistema nervoso central, ou seja, se dedica ao
estudo das estruturas, funções e fisiologia do
encéfalo e da medula espinhal, bem como as
patologias e outros aspectos que os envolvem.
24

Os estudos desenvolvidos pela


Neurociência se destacam, a cada dia, em razão
das pesquisas sobre doenças neuropsíquicas, tais
como “Mal de Alzheimer”, “Mal de Parkinson”,
depressão, esquizofrenia, depressão, entre outras.
A Neurociência tem renomados
pesquisadores, entre eles os agraciados com o
Prêmio Nobel de Medicina 3 no ano 2000, quais
sejam, Eric Richard Kandel Paul Greengard e Arvid
Carlsson (três neurocientistas).
Eric Kandel, no documentário
“Em busca da memória”, afirmou ter razões para
crer que a memória é armazenada no
hipocampo por períodos curtos ou longos,
apontou as diferenças na formação da memória
de curto e longo prazo e concluiu que “sem
memória não há nada.”
Em que pesem os argumentos
em contrário, há de se notar que a psicanálise
e a psicologia não afrontam a neurociência,
por sua vez, esta também não refuta as
psicoterapias. E, novamente, observando as
falas de Kandel,
3Disponível em no
https://www.scielo.br/j/jbpml/a/4Kxfm8Z93T5NrLdqxGpLLVx/?l
ang=pt, acesso em 30 de setembro de 2021, 16:39h.
25

referido documentário, vê-se que há respeito e


espaço para diversas áreas de conhecimento, entre
as quais as psicoterapias e a neurociência:

No caso da psicoterapia, você cria


um novo ambiente onde o
comportamento das pessoas pode
ser alterado, você pode fazer isso
produzindo alterações anatômicas e
as pessoas já sabem disso.
Sabem que quando você está
praticando algo, quando você revive
uma experiência, alterações
anatômicas ocorrem em seu cérebro.
[...]
A ciência da mente e a ciência do
cérebro em uma nova e unificada
ciência da mente. A nova ciência da
mente.
[...]
E conforme eu planejei uma carreira
acadêmica, comecei a me interessar
pela História da Europa. Queria
entender como pessoas inteligentes
e educadas podiam ouvir Haydn,
Mozart e Beethovem em um dia e
matar judeus no outro. E Ernst Kris,
que foi um psicanalista maravilhoso
me disse quando nos conhecemos:
‘Você deveria fazer psicanálise. Você
quer entender a motivação, quer
entender o que motiva as pessoas:
Tem que entender a mente humana.’
Então entendi que teria uma
profissão em neurobiologia.
[...]
26

Havia uma pessoa muito boa


chamada Harry Grundfest na
Columbia; e eu disse que: ‘Gostaria
de encontrar a localização no cérebro
do ID, do Ego e do Superego.’; ele
olhou para mim como se eu estivesse
doido, seus olhos perderam o brilho e
ele disse: ‘Olhe menino, se quiser
entender como o cérebro funciona,
terá que estudar uma célula de cada
vez.’
E isso foi na verdade, o modelo, o
tema central da minha carreira.

Kandel delineou seu caminho de estudo, e o


fruto deste revelou aspectos que não contradizem
Freud, apenas o complementam, posto que o Pai
da Psicanálise não possuía os mesmos recursos
tecnológicos da atualidade.
Todavia, Freud abriu horizontes
inimagináveis ao seu tempo, navegou por águas
jamais navegadas sem bússola; contou com
conhecimentos médicos disponíveis (parcos se
considerado os recursos dos dias atuais) e buscou
referenciais em diversas áreas de conhecimento,
até nas menos prováveis para a medicina, a
exemplo da filosofia e mitologia.
Certamente, os equipamentos de ponta são
um diferencial da ciência nas últimas cinco ou seis
27

décadas, pois, atualmente, os neurocientistas


contam com laboratórios altamente equipados,
capazes de atender as hipóteses traçadas pelos
cientistas.
Freud e seus primeiros discípulos,
certamente, seriam aliados dos neurocientistas nas
descobertas da memória, de curto ou longo prazo,
do hipocampo etc, se pudesse ter tido a
neurociência e a neuropsicanálise como parceiras
de estudos.
Neste instante, antes de prosseguir,
também é oportuna a definição de
neuropsicanálise:

A Neuro-Psicanálise é uma área


científica muito recente que se tem
focado nos alicerces neurobiológicos
da atividade cerebral dos
sentimentos, da ação e do
pensamento para os vincular a um
modelo psicanalítico da mente. Desta
forma, permite um conhecimento
dinâmico-analítico, clínico-teórico,
dos níveis superficiais e mais
profundos do consciente e do
inconsciente. 4

4 DAVID, Mário; CAEIRO, Lara. O nascimento e o


desenvolvimento da neuro-psicanálise. Vínculo, São Paulo , v.
17, n. 1, p. 01-24, jun. 2020. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S
28

A neuropsicanálise busca o
conhecimento no campo que envolve o consciente
e o inconsciente. Já a neurociência estuda as
conexões celulares, reações químicas /
bioquímicas que envolvem a memória de curto e
longo prazo.
A neurociência, apontou que a
psicoterapia proporciona condições de alteração de
comportamento por meio de alterações anatômicas
no cérebro (o que não poderia ser demonstrado por
Freud ao tempo de suas pesquisas e estudos).
E, conforme já anotamos, embora há
algumas décadas as teorias freudianas foram
refutadas por muitos, hoje o cenário investigativo é
outro. Neste sentido, Elaine Pinheiro e Regina
Herzog, escreveram, a quatro mãos, linhas
oportunas:

Em nossa revisão bibliográfica sobre


esse tema, verificamos que os
autores que defendem uma
articulação com o biológico foram
maioria, sustentando que as
neurociências promoveriam uma
validação objetiva da psicanálise.

1806-24902020000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 11
de fevereiro de 2021, 15:20h.
29

Afirmam ainda que se pode observar


no cérebro aquilo que Freud só
conseguira acessar por meio do
relato de pacientes na clínica. Alguns
exemplos são a amnésia infantil, o
mecanismo de recalque e os afetos. 5

Pinheiro e Herzog, em sua publicação,


ainda ressaltam a valiosa contribuição de diversos
estudiosos, dentre eles, o casal sul africano Mark
Solms e Karen Kaplan-Solms. Segundo esse casal,
a neuropsicanálise pode suprir lacunas existentes
entre a psicanálise e a neurobiologia. A dupla
estudiosa ainda bem ponderou que vários
pressupostos freudianos ressoaram nos atuais
experimentos da neurociência.
Em um resumo bem sintético, se pode
afirmar que a neurociência validou, por meio de
pesquisas de ponta, o que Freud apontara
empiricamente.

5 PINHEIRO, Elaine; HERZOG, Regina. Psicanálise e


neurociências: visões antagônicas ou compatíveis? Tempo
psicanalítico. Rio de Janeiro, v. 49, n. 1, p. 37-61, jun. 2017.
Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S
0101-48382017000100003&lng=pt&nrm=iso>. acessos
em 05 de outubro de, 14:33h.
30

Conclui-se, assim, que não se pode


estabelecer linhas divisórias no saber. O esforço de
Hércules não seria suficiente para separar o
conhecimento em capítulos solitários. O
conhecimento e as ciências podem até ser
segmentados com fito didático, mas é impossível
dissociar os conteúdos, tal como impossível
dissociar as marés das fases da Lua.
As áreas do conhecimento não
possuem uma divisão clara, todas as ciências (e
filosofias) em algum momento, e de algum modo,
se tocam, se inspiram, se complementam.
É possível afirmar que até mesmo as
divergências impulsionam o crescimento de
estudos e campos de atuação das mais diversas
áreas do saber, posto que os cientistas (em
especial) buscam provar suas teorias.
Aliás, algumas teorias são confirmadas
muito depois da morte de seus proponentes,
principalmente em virtude da limitação tecnológica
de cada tempo, tal como aconteceu com Sigmund
Freud, que muito estudou e teorizou, no entanto,
várias questões trazidas por ele somente foram
comprovadas por meio de estudos mais atuais.
31

Convém lembrar que Galileu Galilei não


recebeu o crédito merecido em vida, e ainda foi tido
como louco, herege etc.
Retomando o tema sobre a mente e o
cérebro humano, tem-se que a neupsicanálise, a
neuropsicologia e a neurociência são ciências com
infindáveis pontos de contato e, grosso modo, em
algum momento seus estudiosos almejam
proporcionar meios para o bom funcionamento da
mente e do cérebro. Além do mais, tais ciências
postulam, como apontado por Freud, que há Id, Ego
e Superego, e que existem aspectos realmente
conscientes e outros totalmente inconscientes.
Face a clareza ímpar, convém trazer novas
linhas do texto “Psicanálise e neurociências: visões
antagônicas ou compatíveis?”:

Além do mais, Freud (1923/1976), ao


definir o Eu como uma instância
corporal, que tem sua origem nas
sensações físicas (que são
constitutivas do sujeito), torna
inválidas as críticas daqueles que o
acusam de ter negligenciado a
questão do corpo.
O sintoma é forjado pela palavra,
expressão de um conflito
32

inconsciente, totalmente distinto do


sintoma da medicina...

Deste modo, resta hialino que o caminhar da


psicanálise, da neupsicanálise, da neuropsicologia
e a da neurociência pode até ter apresentado algum
descompasso ao longo da história, mas um objeto
tem sido sempre comum, qual seja, garantir a
mente o mais sã possível, sendo o paciente
neurológico ou não.
33

4. O insight.

O pai da Psicanálise, ao longo de sua obra,


não fez uso do vocábulo insight. Entretanto,
segundo o psicanalista argentino, Horácio R.
Etchegoyen (2004), o termo “vem recobrir com
exatidão um conceito de Freud” (p. 370).
Per si, a palavra insight não é sinônimo de
ideia, como muitos creem. Em verdade, a palavra
tem origem na língua inglesa. Conforme se pode
constatar nos mais diversos dicionários do
mencionado idioma, “sight” traduz-se como “visão”
e “in” é um prefixo que significa “dentro de”.
Daí se conclui que insight é uma “visão de
dentro”, um aclaramento interior dos pensamentos,
de algo que preexistia no âmago do sujeito, o que
difere muito de uma nova ideia.
Pertinente a lição de Marcos Chedid Abel,
contida no texto “O insight na Psicanálise” 6, no qual
o termo foi comumente traduzido para a língua

https://www.scielo.br/j/pcp/a/p9TLxBXvnmLYgs8N9LTbGSp/?l
ang=pt, acesso em 28 de agosto de 2021, 16:10h.
34

portuguesa como compreensão interna,


compreensão ou apreensão, ou ainda, visão súbita.
O estudioso em questão ainda pondera que o termo
tem origem provável nas línguas escandinavas e
alemã, e, segundo seus estudos, possui o sentido
de discernimento ou capacidade para discernir a
verdadeira natureza da situação.
Todavia, não é demais lembrar que não há
unanimidade sobre o conceito de insight, como
lembrado pela psicóloga Cláudia Filipa Pereira
Raposo de Brito, em sua revisão literária 7:

Na literatura continua assim a não


existir uma definição unanime de
insight. No entanto, das diferentes
definições encontradas na literatura,
todas partilham uma ideia central,
Insight é uma nova conexão
(Gibbons, Crits-Christoph, Barber &
Schamberger. 2007). Essa nova
conexão poderá ser entre
experiências do passado e do
presente, ou entre pensamentos,
sentimentos, desejos e
comportamentos. Apesar das
divergências entre as definições do
conceito, todas as abordagens
analíticas compartilham a convicção
de eventos de insight promovem

7https://core.ac.uk/download/pdf/70655604.pdf, acesso em 01
de outubro de 2021, 8:17h.
35

alívio e melhorias dos sintomas


através da implementação de novas
crenças e comportamentos mais
adaptativos. (2006)

Nesta ocasião, ousa-se afirmar, grosso


modo, que insight é o ato de (re)conhecer aquilo
que existe numa instância mental, algo não
conhecido conscientemente pelo sujeito. Vejamos
as linhas que seguem:

Em resumo, entendemos por insight


um tipo especial de conhecimento,
novo, claro e distinto, que ilumina de
imediato a consciência e se refere
sempre à própria pessoa que o
experimenta. É um termo teórico da
psicanálise que pertence à psicologia
processual, não à personalística,
uma vez que ressalta o processo
mental de tornar consciente o
inconsciente, que sempre foi para
Freud a chave operativa de seu
método. (ETCHEGOYEN, 2004, p.
373).

As últimas linhas transcritas evidenciam que


o insight é pessoal, sempre diz respeito ao próprio
sujeito, vez que o ato de tornar consciente o contido
no inconsciente é o núcleo do significado da palavra
insight para a psicanálise e, sob esse prisma, o
36

insight é um passo memorável dado pelo


analisando durante o processo psicanalítico.

4.1 Algumas ponderações pertinentes.

É interessante pontuar o entendimento de


Zimerman (1999). Segundo o renomado psiquiatra
e psicanalista, o insight decorre do trabalho do
analista, da atividade interpretativa deste e propicia
ao analisando mudanças de ordem psíquica
(objetivo maior da análise).
A mudança psíquica em questão é de
grande valia no processo de elaboração, etapa do
processo psicanalítico a ser apreciada
oportunamente.
Ainda que grandes nomes da psicanálise
usem com muita tranquilidade o termo insight,
Horacio R. Etchegoyen, o primeiro latino-americano
a presidir a IPA – Internacional Psychoanalytical
Association, tem uma abordagem que merece ser
transcrita:

O que quero dizer é que o insight é


um fenômeno da mesma categoria
da vivência delirante primária, só que
37

se situa no outro extremo da escala.


No insight, a nova conexão de
significado serve justamente para
aprender uma realidade que não se
podia ter acesso até dado momento.
...
Como a vivência delirante primária, o
insight é uma nova conexão de
significado que modifica a ideia que o
sujeito tinha de si mesmo e da
realidade. É difícil estabelecer em
que consiste a diferença entre os dois
fenômenos, mas diremos
provisoriamente que a vivência
delirante primária constrói uma teoria
e o insight a destrói... (2004. p. 374);

A cada linha se torna cada vez mais


evidente que o insight guarda estrita relação com a
elaboração das questões que o sujeito guarda em
seu âmago e que torna o tema cada vez mais
instigante.
Seria interessante traçar limites claros entre
o insight e a elaboração, bem como a transposição
da resistência encontrada 8:

8Imagem manipulada a partir de conteúdo da rede mundial de


computadores:
https://static.escolakids.uol.com.br/conteudo_legenda/6d22c2
1cc0802efa34e4851af9af58b9.jpg, acesso em 22 de setembro
de 2021, 16:59h.
38

Todavia, o percurso não se dá de modo tão


delimitado, como a imagem ilustra. Os contornos
que envolvem o insight, assim como aqueles que
envolvem a resistência e a elaboração não são
marcos exatamente bem delimitados, há uma zona
nebulosa a ser percorrida pelo analisando, vez que
os elementos se permeiam, se influenciam e, não
raramente, dependem um do outro.

4.2 Os insights são todos iguais?

Poderia se ter a tendência de afirmar que os


insights têm sempre o mesmo viés e a mesma
intensidade, o que proporcionaria aos sujeitos
39

consequências e aproveitamentos similares em


situações análogas, mas não é bem dessa forma.
Zimerman (2004) tem uma interessante
abordagem: a partir da atividade interpretativa do
psicanalista que conduz o analisando ao insight,
posto que a luz interna se acende de modo lento,
até que aconteça uma explosão de luz, um súbito
entendimento, tal qual o entendimento súbito de
uma piada depois de algum tempo (p. 211).
Assim, resta evidente que há aspectos
inerentes à pessoa do analisando, por isso não se
pode afirmar que os insights são iguais, ainda que
se tenha sujeitos com características semelhantes
e as vivências sejam análogas.
Quanto aos tipos de insight, se o foco for a
qualidade deste, como proposto por Zimeman
(2004) é possível elencar os seguintes tipos:
a. insight intelectivo ou neutro – inócuo para a
compreensão das questões do paciente e pode
reforçar as defesas deste. Todavia,
Etchegoyen (2004) pontua que na essência,
todo insight é intelectual, e a diferença
apontada por alguns autores diz respeito às
40

emoções (substanciais ou não) e suas formas


de entrada e saída;
b. insight cognitivo - não há de ser confundido
com o aspecto intelectual; e não se pode
confundir com cognição; melhor explicando, o
paciente toma conhecimento de
comportamentos e valores que já possui e
aceita como necessários para seu próprio ego
(egossintonia), aceitos pelo superego; ou traz
sua luz interior para comportamentos e valores
que conflitam com as necessidades de seu
próprio ego (egodistonia), ou seja, não aceitos
ou aprovados pelo superego;
c. insight afetivo - diz respeito à emoção, à
vivência afetiva advinda desse ato de fazer
iluminar o conhecido até então obscuro. Nesse
caso, há a possibilidade de estabelecimento de
novas correções entre as emoções;
d. insight reflexivo – o paciente inquieto, em razão
do insight afetivo, analisa, reflete, indaga, faz
correlações entre sentimentos, valores e
atitudes; a perspectiva do paciente e do
psicanalista são observadas simultaneamente,
41

ou mesmo, a partir de suas partes infantil e


adulta etc. (visão binocular);
e. insight pragmático – a elaboração advinda do
insight reflete na vida prática do paciente, o ego
consciente assume suas responsabilidades.
Etchegoyen (2004), além de ser uma das
referências de Zimerman, traz preciosas linhas não
contidas na obra do psiquiatra e psicanalista
brasileiro:

Preocupados como estão com o


papel do insight em psicoterapia,
Reid e Finesinger dizem que nenhum
desses dois tipos de insight, neutro
ou emocional, da conta do problema
principal: por que, em algumas
circunstâncias, o insight é operante,
e em outras não? Propõem então um
terceiro tipo, que chamam de insight
dinâmico e que tem a ver com a
teoria do recalcamento, o insight é
dinâmico, o único realmente eficaz.
...
Como indica nome, o insight
dinâmico constitui-se quando um
conhecimento penetra a barreira do
recalcamento no sentido
estritamente freudiano e faz com que
o ego se dê conta de um desejo até
então inconsciente (1952, p.731).” (p.
374);
42

No que diz respeito à classificação dos tipos


de insight há outras considerações que o
psicanalista argentino apresenta em sua obra:

Richfield parte da teoria das


definições de Bertrand Russel,
afirmando que elas são de dois tipos,
de palavra a palavra e de palavra a
coisa... Porém se só tivéssemos
definições de palavra a palavra,
estaríamos navegando em um mar
de abstrações. Também precisamos
de definições que haja correlação
entre a palavra e a coisa. Essas são
chamadas de ostensivas, porque são
feitas mostrando, assinalando com o
dedo. (ETCHEGOYEN, 2004, p. 375)

Em sendo o foco as expressões “palavra a


palavra” e “palavra a coisa”, tem-se,
respectivamente, os insights descritivos (ou
verbais) e os insights ostensivos, neste o sujeito
sente o impacto psicológico de modo direito (ibid.,
2004).
Interessante ressaltar que os tipos de insight
não se excluem, melhor explicando, é possível se
conhecer pelo modelo “palavra a palavra” e,
também, pelo modelo “palavra a coisa”.
43

Etchegoyen, na mesma obra 9, pontua que


há autores que ainda classificam os insights como
espontâneo ou analítico, ou seja, aqueles se dão a
partir do trabalho analítico e aqueles que não são
frutos desse tipo de labor; e curativos e não
curativos.
Quanto aos insights como espontâneo ou
analítico, pode-se afirmar que o trabalho analítico
proporciona ao sujeito melhores condições para
que o insight ocorra, vez que o analisando pode
interiorizar o conhecimento adquirido de modo mais
refinado.
Todavia, o insight espontâneo não perde
seu valor por se dar fora do setting, uma vez que há
sujeitos que possuem capacidade de alcançar o
insight sem jamais acomodar seus corpos em um
divã, pois a sabedoria da vida não é cativa da
terapia psicanalítica ou do conhecimento
acadêmico.
Por fim, no que tange à diferenciação
curativo e não curativo, tal não parece ser um bom

9 P. 385/386.
44

viés, dado que todo insight tem seu momento para


acontecer, ser elaborado e produzir mudanças.
45

5. Resistência.

Chama-se resistência a tudo o que


nos atos e palavras do analisando,
durante o tratamento psicanalítico,
opõe ao acesso deste ao
inconsciente. Por extensão, Freud
falou de resistência à psicanálise
para designar uma atitude de
oposição às suas descobertas na
medida que elas revelavam os
desejos inconscientes e infligiam ao
homem um “vexame psicológico” (α).
(LAPLANCHE E PONTALIS, 2016, p.
458).

Eis mais uma das palavras do vernáculo que


muito se ouve nos últimos tempos. O termo em si
tem vários significados, e sempre tem conotação de
“não entrega”, de “oposição” a uma situação ou
força.
Segundo consta no dicionário da Língua
Portuguesa 10, “resistir” também tem o significado de
defesa contra uma investida, recusa ao que é
considerado contrário ao interesse do sujeito, a

10https://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/resistencia/,
acesso em 04 de setembro de 2021 – 7:11h.
46

capacidade que se tem de suportar ou opor, de ser


firme etc.
Em se resgatando a palavra para a arte
freudiana, tem-se que o termo alemão widersand
não encontra muita variação nas traduções da obra
do pai da Psicanálise para as línguas neolatinas e
inglesa; também se pode afirmar que tal conceito é
um dos pilares da Psicanálise (MATOS, 2010).
Convém apenas se anotar que o jovem
judeu Sigmund (nascido em 06.05.1856), viveu e
suportou as consequências da Primeira Grande
Guerra, bem como viveu seus últimos anos na
Inglaterra face ao nazismo e ao início da Segunda
Grande Guerra (falecimento: 23 de setembro de
1939).
Em 2010, segundo consta na apresentação
da psicóloga Luciana Knijnik, então Consultora da
UNESCO (Conselheira do Conselho Regional de
Psicologia do Rio Grande do Sul), no Círculo
Psicanalítico do Rio Grande do Sul, Freud tem sua
obra entrelaçada às duas Grandes Guerras 11, o que

11 https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/299
4/2169, acesso em 07 de setembro 15:33h.
47

pode ser facilmente constatado, vez que viveu em


um dos períodos mais beligerantes da História.
Aqueles que viveram em períodos de guerra
guardam traços em seu âmago, sendo certo que
tais traços permeiam a vida do indivíduo como um
todo; com Freud não foi diferente.
Freud, ao conceber o conceito de
“resistência” (widersand) se apropriou de um termo
comum à arte da guerra, termo este que indica a
ocupação e a contra-ocupação de posições
determinadas, segundo o renomado professor
titular do Instituto de Psicologia da Universidade de
São Paulo, Christian Dunker 12.
Zimerman (2004), por sua vez, além de
mencionar a origem da palavra alemã widersand,
pondera que, nos primórdios, a resistência era tida
como um obstáculo à análise, elucida ainda que a
análise, sob tal enfoque, envolvia aspectos
beligerantes entre analisando e analista (p. 95).
Todavia, David Zimerman tem outras linhas
preciosas sobre a evolução dos estudos freudianos:

12https://youtu.be/A-YLT7k6vbM, acesso em 7 de
setembro de 2021 – 15h.
48

Assim, de modo genérico, a


resistência do analisando é
conceituada como a resultante de
forças, dentro dele, que se opõem ao
analista ou aos processos e
procedimentos da análise, isto é, que
obstaculizam as funções de recordar,
associar, elaborar, bem como ao
desejo de mudar. Nessa perspectiva,
continua vigente o postulado de Anna
Freud (1936) para quem a análise
das resistências não se distingue da
análise das defesas do ego, ou seja,
da “permanente blindagem do
caráter” (p. 36). (2004, p. 96-97).

Uma imagem pode ajudar o leitor a fixar o


conceito 13:

13

https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F
%2Fwww.facebook.com%2F266315987621%2Fposts%
49

5.1 A evolução do estudo da resistência.

Como anteriormente mencionado, a


trajetória para a concepção da psicanálise envolveu
atividades, estudos e observações.
Freud, ainda no período que fazia uso da
hipnose, constatou que havia pontos no tratamento
do paciente que não eram alcançados, havia
lembranças “esquecidas” pelas pacientes
histéricas, época em que a recomendação técnica
era a “insistência” do analista para vencer a
“resistência” da paciente (ZIMERMAN, 2004, p. 95).
O conceito de resistência, em um primeiro
momento, realmente, remetia a ideia de
beligerância entre analista e analisando, e tudo o
que interrompia o progresso do tratamento era
considerado resistência.

2Fla-resistencia-se-descubrio%25CC%2581-como-un-
obst%25C3%25A1culo-al-esclarecimiento-de-los-
si%25CC%2581ntom%2F10157681995552622%2F&ps
ig=AOvVaw08q0KxAYCQz3ZM1zOEb4sU&ust=163258
6171305000&source=images&cd=vfe&ved=0CAYQjRxq
FwoTCIje-NX_l_MCFQAAAAAdAAAAABAJ, acesso em
26 de setembro de 2021 – 5:53h.
50

Todavia, Freud, estudioso como era,


continuou a evoluir seus conceitos, e não se pode
afirmar que a obra freudiana manteve seus
primeiros contornos, vez que o próprio pai da
matéria, não se acomodava e buscava sempre
elementos pertinentes para seguir suas suspeitas,
de modo a confirmá-las ou rechaçá-las.
O médico austríaco concluiu, com o passar
dos anos, que seus primeiros estudos precisavam
ser revistos e atualizados, e ele mesmo o fez em
diversos momentos; sendo a resistência um dos
pontos efetivamente revisados e atualizados.

5.2 Uma breve explicação necessária.

Considerando que as conclusões contidas


no texto “Inibição, sintoma e angústia”, as
resistências, como apontado no tópico anterior
podem advir de três fontes diferentes, tais são: id,
ego e superego (Segunda Tópica).
Todavia, o pai da Psicanálise, antes de
apresentar os conceitos contidos na “Segunda
Tópica”, obviamente, concebeu a “Primeira Tópica”,
e nesta dividiu o aparelho psíquico em três
51

instâncias ou sistemas, cada uma delas com


funções específicas, porém interrelacionadas.
A ideia central da Teoria Topográfica ou
Primeira Tópica 14 é de que o aparelho psíquico
pode ser dividido em sistemas baseando-se na
relação entre os mesmos e a consciência:
inconsciente (Ics), pré-consciente (Pcs) e
consciente (Cs).
De modo bem sintético, um breve
apontamento sobre cada um dos três sistemas:
a. Consciente (Cs) - parte conhecida da mente
pelo sujeito, entende a relação tempo e
espaço, arquiva as lembranças, o sujeito se
identifica com contido no consciente;
b. Pré-consciente (Pcs) – instância
intermediária, filtra aquilo que vem do
inconsciente;
c. Inconsciente (Ics) – instância que arquiva o
não conhecido pelo sujeito, são os
conteúdos recaldados, as memórias da

14Compete rememorar o enlace entre a Primeira


Tópica de Sigmund Freud e a Neurociência.
52

infância, sentimentos e angústias


desconhecidos.
Evidente que cada uma das instâncias
mentais comporta uma série de explicações e
ponderações. Todavia, o propósito que aqui
assumimos é apenas mencionar a existência da
Primeira Tópica e demonstrar que a obra freudiana
tem uma cadência espetacular.
O médico austríaco, ao prosseguir em seus
estudos, entendeu que além das três instâncias, a
mente possuía estruturas inseparáveis com
funções específicas, que se influenciam e
interagem de modo constante e recíproco.
Foi apresentada a Segunda Tópica ou
Teoria Estrutural, composta das seguintes
estruturas:
a. Id – única das três estruturas presentes
desde o nascimento; age para satisfação de
necessidades e prazeres; reservatória da
energia psíquica (libido); armazena os
recalques; associado a imagem de cavalo
grande e forte, mas que depende do
cavaleiro para lhe guiar;
53

b. Ego – parte mental que mantem contato


direto com a realidade; faz a mediação entre
o Id e o mundo real; cavaleiro que conduz o
cavalo;
c. Superego – representa a censura, a lei;
indica a imagem que o sujeito gostaria de ter
si mesmo, um modelo ideal; o herdeiro do
Complexo de Édipo; são as rédeas na
imagem que se formou no imaginário do
leitor.

Na rede mundial de computadores é


possível encontrar a imagem que associa as três
estruturas mentais ao cavaleiro 15:

15

https://idatosfalhos.blogspot.com/2019/09/personalidade.html,
acesso em 10 de setembro de 2021 – 8:27h.
54

Dito tudo isso, em que ponto as duas tópicas


se entrelaçam? Freud explanou muito bem que
cada uma das estruturas da Segunda Tópica está
localizada nas instâncias que compõem a Primeira
Tópica, vejamos a imagem extraída da internet 16:

A imagem traz a figura de um iceberg, sendo


o consciente a ponta deste. E, melhor associação
não se tem, vez que ao se avistar um iceberg, o
navegador sabe que a maior porção está
submersa. Assim é a mente humana.

16https://pt.wikipedia.org/wiki/Ego, acesso em 10 de setembro


de 2021 – 7:40h.
55

Uma pequena porção da mente é


consciente, tal porção é composta por uma fração
do ego e do superego. A maior parte do contido na
mente é inconsciente, neste há grande fração do
ego, do superego e a integralidade do id, sendo que
o pré-consciente também contém frações das três
estruturas.
Eis o enlace das duas tópicas apresentadas
por Freud, necessárias para melhor se entender a
origem das resistências.

5.3 Os cinco tipos de resistência segundo o


texto de 1926.

As linhas de “Inibição, sintoma e angústia


(1926) são as melhores para se iniciar este tópico:

Não se deve supor que com esta


retificação tenhamos obtido um
panorama completo dos tipos de
resistência que encontramos na
análise. Um exame mais
aprofundado revela que temos que
combater cinco tipos de resistência,
que provêm de três lados: do Eu, do
Id e do Super-eu – sendo que o Eu é
a fonte de três formas, cada qual
diferente em sua dinâmica. A
56

primeira dessas três resistências do Eu


é a resistência da repressão, de que
tratamos acima, sobra a qual não muito
a acrescentar. Dela se distingue
a resistência da transferência,
que é mesma natureza, mas
que na análise se manifesta de
modos diferentes e bem mais nítidos,
pois consegue estabelecer uma
relação com a situação analítica ou
com a pessoa do analista, assim
revivescendo uma repressão que
deveria ser apenas lembrada. É
também resistência do eu, mas
completamente de outra natureza,
aquela que procede do benefício da
doença e que se baseia na assimilação
do sintoma do Eu. Ela corresponde à
revolta contra a renúncia a uma
satisfação ou alívio. O quarto tipo de
resistência – o do Id – é o que vimos
como responsável pela necessidade de
elaboração. A quinta resistência, a do
Super-eu, reconhecida por último, a
mais obscura, mas nem sempre
mais fraca, parece originar-se
da consciência de culpa ou
necessidade de castigo; ela desafia todo
o êxito, e, portanto, também a cura pela
análise.(FREUD, 1926, p. 107-108).

No texto “Inibição, sintoma e angústia” se


constata a existência de um enlace entre este e o
“Modelo Estrutural ou Dinâmico” 17 descrito na obra

17 Segunda Tópica.
57

“O ego e o id (1923)”, deste modo, vê-se o nítido


imbricamento nos estudos de Freud.
Em 1926, o médico e psicanalista austríaco
apresentou cinco tipos de resistências; três
oriundas do ego (de repressão, de transferência e
de ganho secundário da doença), uma do id (contra
a mudança) e a última do superego (envolve
sentimento de culpa e punição).
As resistências oriundas do ego:
o Resistência de repressão – ocorre a repressão
frente a percepção de algo que possa causar
sofrimento, funciona como uma espécie de
defesa do ego;
o Resistência de transferência – sendo a
transferência um substituto da recordação, tal
se relaciona ao analista;
o Resistência de ganho secundário –
egossintônica, vez que paciente usa a
patologia como forma de aferir ganhos.

A resistência contra mudanças é oriunda do


id e guarda íntima relação com a repetição. O
analisando resiste de modo inconsciente aos
58

impulsos instintivos que lhe possibilitem a mudança


em sua forma de viver e de se expressar.
O quinto tipo de resistência é oriundo do
super-eu, nesta modalidade está presente o
sentimento de culpa e a necessidade de punição
que o sujeito possui.
Todavia, os estudos de Freud seguiram
durante toda sua vida e não se poderia crer que um
tema tão intrigante como a resistência
repousaria em berço esplêndido. Por isso,
neste momento, novamente as lições de
Zimerman são oportunas:
No clássico Análise terminável e
interminável (1937), Freud introduz
alguns novos postulados teórico-
técnicos. Na minha opinião, aí ela
formula um sexto tipo de resistência:
aquela provinda do ego contra o
próprio ego: “[...] em certos casos, o
ego considera a própria cura como
um novo perigo” (p. 127). A meu
juízo, Freud está intuindo e
prenunciando aquilo que Rosenfeld
(1965) veia a chamar de “gangue
narcisista”, já Steiner (1981)
denominou “organização patológica”,
conceitos que me parecem
equivalentes ao que particularmente,
em muitos textos venho denominado
“contra-ego”... (p. 96).
59

Fato é que a obra de Freud, como dito


anteriormente, evoluiu por meio da sua mente, de
seus seguidores e de seus divergentes. Entretanto,
este trabalho, pontua-se que cada uma das formas
de resistência implica em um modo de trabalho
analítico.
60

6. Elaboração Psíquica.

Antes de se falar na elaboração psíquica em


si, conhecer o conceito de elaboração contido no
dicionário da língua portuguesa é primeiro contato
com “água” (para se manter o paralelo com a
modalidade olímpica mencionada outrora).
O dicionário on-line da língua pátria,
Michaelis Uol contém a definição18:

elaboração
e·la·bo·ra·ção
sf
1 Ato ou efeito de elaborar; feitura,
laboração, produção.
2 Preparo cuidadoso, bem-
apresentado: A elaboração de um
banquete.
3 Formação ou criação de ideia,
teoria, projeto etc.; composição,
preparação: A elaboração de uma
tese.
...
Expressões
Elaboração psíquica, Psic:
reorganização e ajustamento das

18

https://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=elab
ora%C3%A7%C3%A3o, acesso em 11 de agosto de 2021,
10:16h.
61

excitações que ocorrem na psique,


evitando, assim, o efeito deletério
produzido quando não se pode ou
não se quer descarregá-las
exteriormente.

É de muita valia conhecer o significado das


palavras, nota-se que o dicionário de língua
portuguesa ensina um primeiro aspecto, qual seja,
a palavra elaboração impõe a ideia de trabalho, de
produção; e, em se pensando no aspecto de
produção, a ideia de etapas a serem vencidas é
imediata.
Como se pode constatar, o dicionário da
língua pátria ainda contém a definição da
expressão “elaboração psíquica”. Entretanto,
convém trazer a definição contida no Vocabulário
da Psicanálise, de autoria de Laplanche e Pontalis:

ELABORAÇÃO PSÍQUICA
[...]
• A) Expressão utilizada por Freud
para designar, em diversos
contextos, o trabalho realizado pelo
aparelho psíquico com o fim de
dominar as excitações que chegam
até ele e cuja acumulação corre o
risco de ser patogênica. Este trabalho
consiste em integrar as excitações no
psiquismo e em estabelecer entre
elas conexões associativas.
62

• B) O termo francês élaboration [bem


como o português elaboração] é
frequentemente utilizado pelos
tradutores como equivalente do
alemão Durcharbeiten ou do inglês
working through. Nesse sentido,
preferimos perlaboration
[perlaboração*]. 19

Observa-se que Laplanche e Pontalis ainda


mencionam outro termo, qual seja “perlaboração”,
e trazem a respectiva definição:

PERLABORAÇÃO
[...]
Processo pelo qual a análise
integra uma interpretação e
supera as resistências que ela
suscita. Seria uma espécie de
trabalho psíquico que
permitiria ao sujeito aceitar
certos elementos recalcados e
libertar-se da influência dos
mecanismos repetitivos. A
perlaboração é constante no
tratamento, mas atua mais
particularmente em certas
fases em que o tratamento
parece estagnar em que
persiste uma resistência, ainda
que interpretada.

19LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da psicanálise / Laplanche


e Pontails ; sob a direção de Daniel Lagache ; tradução Pedro
Tanen – 4ª ed. – São Paulo : Martins Fontes, 2001. p. 143.
63

Correlativamente, do ponto de
vista técnico, a perlaboração é
favorecida por interpretações
do analista que consistem
principalmente em mostrar
como as significações em
causa se encontram em
contextos diferentes. 20

A diferenciação dos termos “elaboração


psíquica” e “perlaboração (ou per-elaboração ou
reelaboração)”, que advém da palavra alemã
durcharbeiten, possui outro alcance, segundo
alguns autores, a exemplo de Laplanche e Pontalis
(2001).
Ao sentir da análise dos termos e
argumentos contidos na obra de Etchegoyen (2004,
p.379), perlaboração guarda relação com a
superação das resistências que se operam como
contraponto ao princípio do prazer ou mesmo para
vencer as resistências oriundas do id, ou seja, tem
um alcance mais limitado.
Por seu turno, a elaboração psíquica
(psychische Verarbeitung) é um trabalho e como tal
exige conhecimento, empenho e gasto de energia,

20 Ibidem. p. 339.
64

tem arrigada em si o aparelho psíquico concebido


por Freud.
Elaboração psíquica é um termo mais
abrangente, que envolve o funcionamento do
aparelho psíquico como um todo, capaz de
transformar a energia pulsional.
Não menos interessante é notar que um
trabalho psicanalítico é composto por etapas a
serem vencidas, em busca do melhor resultado
possível para cada paciente, posto que cada sujeito
que habita o orbe terrestre é único.

6.1 A Elaboração como conclusão de um


processo analítico.

Freud apresentou um conjunto de textos


conhecidos como “Escritos sobre a técnica” ou
“Artigos sobre a técnica”, no qual está contido o
texto de 1914 intitulado “Recordar, repetir e
elaborar”, aonde há uma síntese do que se faz no
processo analítico.

Vejamos as últimas linhas do texto


“Recordar, repetir e elaborar”:
65

... É preciso dar tempo ao paciente


para que ele se enfronhe na
resistência agora conhecida, para
que a elabore, para que a supere,
prosseguindo o trabalho apesar dela,
conforme a regra fundamenta da
análise. Somente no auge da
resistência podemos, em trabalho
comum com o analisando, descobrir
os impulsos instintuais que a estão
nutrindo, de cuja existência e poder o
doente é convencido mediante essa
vivência. O médico nada tem a fazer
senão esperar e deixar as coisas
seguirem um curso que não pode ser
evitado, e tampouco ser sempre
acelerado. Atendo-se essa
compreensão, ele se poupará muitas
vezes a ilusão de haver fracassado,
quando na realidade segue a linha
correta no tratamento.
Na prática, essa elaboração das
resistências pode se tornar uma
tarefa penosa, para o analisando e
uma prova de paciência para o
médico. Mas é a parte do trabalho
que tem o maior efeito modificador
sobre o paciente, e que distingue o
tratamento psicanalítico de toda
influência por sugestão.
Teoricamente pode-se compará-la
com a ‘ab-reação’ dos pensamentos
de afeto retidos pela repressão, [ab-
reação] sem a qual o tratamento
hipnótico permaneceria ineficaz. 21

21 FREUD, Sigmund. “Observações psicanalíticas sore um


caso de paranoia relatado em autobiografia (“O caso
66

A elaboração, para acontecer, requer


dedicação do paciente e do analista, Freud já fez tal
advertência na primeira metade do século passado.
E é importante lembrar que a elaboração pode se
dar na prática da psicanálise nos padrões mais ou
menos ortodoxos (a exemplo da psicoterapia breve
de base psicanalítica).
A elaboração depende da busca regressiva
do paciente, ou seja, precisa recordar seu passado,
mas não um recordar curioso; mas sim um recordar
dos sintomas, dos desejos esquecidos, com o fito
de reinventar o futuro (elaborar), porque enquanto
não recordar, haverá repetição de padrão ou
comportamento.
Com o caminhar das sessões o paciente
poderá trabalhar suas questões, e havendo o
insight, a elaboração se dará na sequência, não
como mágica, mas como fruto do trabalho
subsequente, das interpretações advindas da
conscientização do material até então submerso no

Schreber”). Artigos sobre a técnica e outros textos (1911-


1913); tradução Paulo César de Souza – São Paulo:
Companhia das Letras, 2010. p. 207-209.
67

mar do inconsciente do indivíduo e da quebra das


resistências, de modo que o conhecimento
intelectual se revista do afeto que lhe pertence, e
pode-se afirmar que as interpretações
apresentadas ao analisando pelo analista, tecem
uma nova visão do fruto do tear mental 22:

A elaboração proporcionará que o paciente


compreenda os fatos passados e aja, ou sinta, de
outra forma nas situações que a vida lhe trará.

22 https://institutologos.com.br/curabitur-ornare-mattis-lorem/,
acesso em 26 de setembro de 2021, 6:06h.
68

6.2 Interpretação ou construção do analista?

A elaboração decorre de um trabalho, que


para acontecer, como mencionado, o par
analítico (analista e analisando) precisa atingir
certa fluidez no caminhar das sessões. O
analista buscará o material esquecido pelo
paciente.
Freud, em 1937, no texto “Construções em
análise” bem ponderou que o analista há de
“construir o que foi esquecido com base nos
indícios deixados”23, sendo certo que o modo como
a construção é transmitida ao analisando
estabelece a relação entre o par analítico.
Entretanto, paira o olhar curioso sobre a
expressão, construção ou interpretação? Freud
explica: Se, nas exposições sobre a técnica
analítica, escuta-se pouco a palavra
“construções”, a razão disso é que
em dela, fala-se “interpretações” e de
seus efeitos. Mas penso que
construção é a denominação mais
adequada. Interpretação diz respeito
àquilo que se faz com um elemento
do material, com uma associação,
um lapso et. Trata-se de uma

23 P. 330.
69

construção, porém, quando


apresentamos ao analisando um
pedaço de sua pré-história
esquecida... 24

Deste modo, resta evidente que Freud, a


partir de 1937, preferia o termo “construção”.
Todavia, fato é que o termo “interpretação” é muito
presente na literatura e que tal divergência de
termos não macula o conteúdo produzido por
grandes nomes da psicanálise.
Apesar de o tema preposto neste tópico ser
a distinção entre os termos mencionados, as lições
contidas no texto de 1937 ora citado, são de grande
importância para a elaboração, especialmente a
questão que envolve a aceitação das construções
são transmitidas ao analisando:

É correto que não aceitamos o “não”


de um paciente em seu pleno
sentido, mas tampouco damos inteiro
valor ao seu “sim”.
...Este “sim” tem valor apenas
quando é seguido de confirmações
indiretas, quando o paciente,

24 FREUD, Sigmund. Construções na análise (1937). In:

Moisés e o monoteísmo, Compêndio de psicanálise e outros


textos (1937-1939) / Sigmund Freud ; tradução Paulo César
de Souza. — 1a ed. — São Paulo: Companhia das Letras,
2018. p. 333.
70

imediatamente após o “sim”, produz


novas lembranças que
complementam e ampliam a
construção. Somente nesse caso
reconhecemos o “sim” como plena
resolução do tema em pauta.
O “não” do analisando também
possui mais de um sentido... Em
alguns raros casos ele se revela uma
expressão de legítima discordância;
com frequência muito maior, é a
manifestação de uma resistência
provocada pelo teor da construção
informada, mas pode igualmente
derivar de outro fator da complexa
situação analítica. (Ibid, p. 335)

Então, tem-se que se a construção for


correta, o analisando fluirá a partir dela. Se for
incorreta, a fluidez não ocorrerá e o analisando
ficará encalhado. Todavia, tem-se por bem
pontuar que se a construção (ou interpretação) for
incorreta não há efetivo prejuízo ao trabalho
analítico, tem-se, geralmente, tempo perdido.

6.3 Os modelos de trabalho analítico.

O trabalho psicanalítico a ser desenvolvido


pelo par analítico, a partir das interpretações
propostas ao analisando, observa vários critérios.
Entretanto, como já se apontou na introdução,
71

nesta ocasião, será desenvolvido sob o enfoque da


origem da resistência do sujeito, com fundamento
nos textos de Freud e no texto “A elaboração e seus
modelos” 25.

6.3.a A partir da resistência que tem origem no


“eu”.

No texto “Recordar, repetir e Elaborar


(1914)”, Freud propôs, o modelo da tomada de
consciência do material recalcado, ou seja, contido
no inconsciente do sujeito. Nesse caso, a
elaboração envolve o caminho da consciência, o
conteúdo foi consciente no passado.
Na modalidade em questão, há o
desenrolar, o descarregar, o integrar-se,
envolvendo os predicados da convicção alcançada,
posto que esta tem íntima relação com os
processos secundários advindos do insight.

25 A elaboração e seus modelos. Tradução de Marcel Henrique

Bertonzzin e Thiago Abrantes. Disponível em


https://www.scielo.br/j/pusp/a/q4Xj8fXGpXGZvG37nSDKbsD/
?format=pdf&lang=pt, acesso em 10 de agosto de 2021,
13:37h.
72

Segundo o texto freudiano, nesse processo


de elaborar as lembranças recalcadas, o Eu do
sujeito é respeitado pela psicanálise. A técnica
psicanalítica auxilia no elaborar do trajeto para se
alcançar as lembranças reprimidas.
Ainda segundo consta no texto de 1914, a
repetição se opõe ao processo de retorno às
lembranças recalcadas, uma vez que o sujeito
enquanto não rememora, repete padrões em sua
existência, face a resistência presente:

Quanto maior a resistência, tanto


mais o recordar será substituído pelo
atuar (repetir)... Se a terapia começa
pelos auspícios de uma suave e
discretamente positiva transferência,
ela permite inicialmente, como na
hipnose, um aprofundar da
recordação, durante o qual os
sintomas patológicos silenciam; mas
se no decurso posterior a
transferência se torna hostil ou muito
intensa, por isso necessitando de
repressão, imediatamente o recordar
cede o lugar à atuação. A partir de
então as resistências determinam a
sequência do que será repetido. É do
arsenal do passado que o doente
retira as armas com que se defende
do prosseguimento da terapia, as
quais temos de lhe arrancar peça por
peça. (FREUD, 1914, p. 201-202)
73

Há uma construção, “peça por peça” (uma


prova de paciência, segundo Freud 26), em que é
elaborado um caminho a partir dos pensamentos
que estão em espera – espera em direção aos
conteúdos recalcados – sendo certo que tais
conteúdos têm o condão de atrair os pensamentos.
Esse caminho construído peça por peça
envolve aceitação, luto, percepções e outras
formas de agir, inclusive os benefícios secundários
advindos da doença. O elaborar nesse primeiro
modelo, atualiza o recalque e o torna palpável,
atingível e possibilita um modo de convicção
pautado na apropriação subjetiva do conteúdo
oriundo da análise.
Nesse modelo de trabalho, a partir das
associações, o analista propõe interpretações ao
analisando e após, a tomada de consciência, o
percurso envolve a exploração do conteúdo e
espera-se que haja a aceitação decorrente da
elaboração.

26 1914.
74

6.3.b A partir da resistência que tem origem no “id”.

O segundo modelo de trabalho tem como


suporte a Segunda Tópica de Freud, bem como
texto de 1926 (“Inibição, sintoma e angústia”).
No caso, o conteúdo envolvido nunca foi
consciente (recalcado em sua origem), o material
traumático foi contrainvestido antes da tomada de
consciência, ante o imenso desprazer, terror ou
agonia envolvido.
A situação envolve os mecanismos de
defesa que atuam de pronto e impedem a
metabolização do conteúdo em questão, de forma
que o material nunca foi consciente. Deste modo,
constata-se que as defesas primárias impediram
que o Eu admitisse algum sentido nessa
experiência tão difícil.
O material recalcado originariamente
suscita recalques secundários perceptíveis. A
matéria prima há de ser transformada pelo trabalho
analítico, no intuito de torná-la consciente e
integrada. E, em 1933, no texto “Novas
75

conferências introdutórias à psicanálise”, Freud


postulou: “Wo es war sol ich werden” 27.
A máxima freudiana transcrita é objeto de
estudos variados, por opção didática segue apenas
uma lição:

Anos depois, quando introduz o


ponto de vista estrutural, Freud
emprega outro modelo e então diz
que a base do tratamento
psicanalítico é que os processos
ideativos passem de um sistema não-
organizado para outro de alta
organização, do id para o ego: onde
estava o id o ego deve estar, e essa
passagem de sistema pressupõe,
com certeza, uma mudança do
processo primário para o processo
secundário. (ETCHEGOYEN, 2004,
p. 304)

Conclui-se que o material, a partir do


manejo da transferência, sofre transformações. O
material originário é desvendado aos poucos,
minúcia por minúcia, rompendo-se a resistência do
Id por meio da transferência.

27 Onde era Id há de ser Eu.


76

Conforme se extrai da leitura principal do


Congresso da IPA em Berlim (2007), Rene
Roussillion 28 lecionou:

Faz-se necessário agora retornar e


insistir sobre o fato de que esse tipo
de trabalho de elaboração se efetua
frequentemente a dois: o analista
sendo muito implicado e, portanto,
potencialmente mais comprometido
do que no primeiro modelo
mencionado. O trabalho se efetua a
dois e com o analista, o que pode
colocar a tônica nos aspectos
intersubjetivos da cura (Renik, 2004),
sobre o compensar (Widlöcher,
1995) e sobre a construção
(Roussilon, 1984), pois a
representação psíquica não é dada;
ela deve ser construída, ela é fruto do
trabalho da análise. Esse trabalho a
dois, no qual “duas áreas de jogo
sobrepõem-se” (Winnicott, 1971) é
então ocasião de um
compartilhamento da experiência e
de uma recarga libidinal que são
indispensáveis para a experiências
em sofrimento de simbolização do
paciente possam se ligar e se
integrar à trama do Eu pré-
consciente. É um trabalho que

28 A elaboração e seus modelos. Tradução de Marcel Henrique

Bertonzzin e Thiago Abrantes. Disponível em


https://www.scielo.br/j/pusp/a/q4Xj8fXGpXGZvG37nSDKbsD/
?format=pdf&lang=pt, acesso em 10 de agosto de 2021,
13:37h.
77

propus descrever como “lado a lado”,


mesmo se a situação permanece
assimétrica, na medida em que cada
um se apoia no outro e no trabalho do
outro de sua parte. (p. 370)

Roussillion ainda esclarece que a


elaboração, nesse caso, se dá a partir da
construção apontada, tendo como base duas cenas
(do analista e do analisando) que se articulam,
trata-se de uma simbolização a dois; é uma
segunda chance de simbolização para o material
até então recalcado em sua origem.

6.3.c. A partir da resistência que tem origem no


“super-eu”.

Convém lembrar que o super-eu é o censor


do sujeito, as regras a serem obedecidas. A análise
das resistências oriundas do super-eu traz em seu
bojo a figura dos pais do sujeito e os ideais
arrigados, conforme de depreende da Segunda
Tópica de Freud (1923).
O ano de 1923 foi deveras produtivo para
Freud e muito profícuo em lições para psicanalistas
como um todo, tanto que a questão da transmissão
78

inconsciente de pensamento, considerando que o


trabalho psicanalítico se faz a quatro mãos (ou duas
mentes, no caso), em copensamento,
especialmente em razão da transferência, também
foi abordada.
É preciso se identificar quem é o
responsável pela simbolização (analisando?), para
que a matéria psíquica seja simbolizada de modo
apropriado.
Ainda no ano de 1923, Freud faz referência
à reação terapêutica negativa (RTN). E o que é
“reação terapêutica negativa”?
Suscintamente, pode-se afirmar que a
reação terapêutica negativa é um fenômeno que
decorre da interpretação que é proposta do analista
para o analisando. Tal interpretação deveria
proporcionar melhora ao sujeito. Todavia, em
alguns casos há justamente o efeito contrário, traz
piora no estado do analisando. No ano seguinte,
Freud afirma que a reação terapêutica negativa
pode ser tão desagradável quanto o próprio
prognóstico.
79

O trabalho analítico pode trazer ao


analisando um sentimento de culpa e tal guarda
íntima relação com a RTN.
Realizado o breve esclarecimento, convém
retornar ao texto de Roussillon, neste há referência
à reformulação da máxima freudiana proposta por
Jean-Luc Donnet: “Wo es, und Uber-Ich, war sol Ich
werden”; em português: “Lá onde estavam o Id e o
Super-eu, é preciso que advenha o sujeito”.
O texto de Roussillon traz outra ideia,
atrelada a ideia de copensamento, muito pertinente:

Em minha experiência clínica, um


dos pontos centrais desse trabalho
de transicionalização do Super-eu,
ao lado do trabalho viabilizado pelo
desenvolvimento das capacidades
de jogo (que já abre a possibilidade
para que os processos de
simbolização se desenvolvam em
encontrado-criado), passa pela
capacidade dos analisandos de
“dizer não” ao analista. Um “não”
profundo que os permite evitar a
alienação das posições de
submissão ou de revolta (as quais, na
maior parte do tempo, testemunham
o fracasso do sujeito em dizer
um “verdadeiro” não que não é um
“não” de fachada, um não
paradoxal de complacência). (p.
372)
80

Quando se tem a capacidade de dizer “não


ao analista” a elaboração tem sua oportunidade,
posto que o analisando se diferencia do analista, se
descola; se tal descolamento não acontece o
analisando permanece preso nas formas e
sujeições infantis.
81

7. Interseção de conceitos.

Eis que se apresenta, novamente, que os


momentos estudados em separado, em verdade,
não são tão dissociados assim. É patente que a
união entre insight, resistência e elaboração, de
pronto percebe que tais elementos, embora
apresentados separadamente, acabam por se
entrelaçar.
A relação entre os momentos foi muito bem
explanada por Etchegoyen:

A relação do insight com a


elaboração fica de fato estabelecida
no momento em que Freud (1914g)
introduz o segundo desses
conceitos. Naquele trabalho, Freud
descrevia a elaboração como o
intervalo que vai desde quando o
paciente toma conhecimento de algo
que lhe diz o analista até quando
vencendo suas resistências, aceita-o
com convicção. Creio que nessa
descrição estão implícitos os
conceitos de insight descritivo (o que
o analista diz) e ostensivo (o que
resulta do trabalho sobre as
resistências), embora Freud,
obviamente, não diga nesses termos.
O que, em 1914, Freud chama de
elaboração não é outra senão a
ladeira que o analisando deve
82

percorrer desde o insight descritivo


até o insight ostensivo.
... A partir do momento crítico em que
surge o insight, tomamos o caminho
contrário, procurando dar significado
a nossos afetos, pondo nossas
emoções em palavras. Esta é uma
instância da elaboração que os fatos
são vertidos em palavras, em que
penso minhas emoções; dou-me
conta de seu alcance e de suas
consequências. Por algum motivo,
disse o poeta que “as melhores
emoções são os grandes
pensamentos”. (2004, p. 377).

Insight, resistência e elaboração são partes


do trabalho analítico, as linhas transcritas
evidenciam a relação entre os momentos
experimentados pelo analisando. Convém ressaltar
que o “todo” do trabalho analítico é maior que a
soma das partes, face os resultados atingidos.
É relevante entender que o insight tem seu
momento pontual, a tomada de consciente; a
elaboração, por seu turno, é um trabalho, um
processo de duração variável; e a resistência, pode
anteceder ou suceder o insight, ainda que haja
divergência nesse ponto, como apontaremos nas
linhas subsequentes.
83

Além dos aspectos mencionados, também é


possível afirmar que há uma “zona de contato
nebulosa” entre as fases do percurso (insight,
resistência e elaboração).
A modalidade de insight, considerada para
este feito é a que envolve as emoções, a que traz
nova vivência ao analisando, mas para que surta os
efeitos desejados é mister que seja internalizada,
incorporada ao ego e à vivência secundária das
emoções até então recalcadas.
Há entre os psicanalistas certa divergência
quanto ao início da marcha do trabalho
psicanalítico; alguns sustentam que a marcha tem
início com o insight e outros que percurso tem início
a partir da elaboração.
Em que pesem as divergências, ao que
parece, Freud, a partir de 1920, entende que o
trabalho tem início a partir da elaboração e se finda
com o insight:

Para Greenson, a análise tem dois


momentos, antes depois do insight, e
apenas a este último cabe chamar de
elaboração. Vejamos como se
expressou o analista de Los Angeles:
“Não consideramos como elaboração
o trabalho analítico antes que o
84

paciente tenha insight, só depois. A


meta da elaboração é tornar o insight
efetivo, isto é, promover mudanças
significativas e duradouras no
paciente. Ao fazer do insight o pivô,
podemos distinguir entre as
resistências que impedem o insight e
as que impedem o insight de
promover mudanças. O trabalho
analítico sobre o primeiro tipo de
resistências é o trabalho analítico
propriamente dito, não tem uma
designação especial”. (ibid., p. 377).

A proposta do renomado psicanalista norte


americano citado, Ralph Greenson, sintoniza com o
contido no texto “Inibição, sintoma e angústia
(FREUD, 1926)”, pois considera os tipos de
resistências a partir de sua origem (id, ego e super-
eu) e a batalha que as envolve.
Segundo o postulado por Freud, o ego
abandona às resistências de modo consciente, o id,
por seu turno, tem relação direta com o processo de
elaboração. Evidente está que a terapia
psicanalítica é uma ferramenta importante para se
alcançar o abandono das resistências e a
elaboração, pois o acesso ao inconsciente é o
diferencial da terapia freudiana.
85

O passeio pelo presente texto evidencia que


há muitos aspectos que envolvem o inconsciente
do sujeito, aspectos que o impulsionam e que o
travam. No entanto, o movimento de busca do
conhecimento, o se atirar na água 29, é, sem dúvida,
o primeiro contato consigo mesmo.
A visão de que a psicanálise tem o condão
de auxiliar o indivíduo em seus processos de busca
de sua melhor versão tem crescido, ainda que
muitos pacientes creiam, no primeiro encontro, que
no divã está a chave para se fechar portas de
conteúdos a serem esquecidos (amnésia seletiva).
A ideia de rechaçar conteúdos é justamente
oposta ao trabalho analítico. Em análise, o sujeito
vai retomar suas memórias, ainda que dolorosas,
vez que trazer à tona o conteúdo inconsciente é
essencial ao processo proposto.
Aliás, Freud tem uma bela frase que merece
destaque neste instante: "Ao cantar na escuridão, o
andarilho nega seu medo, mas nem por isso
enxerga mais claro. 30"

29 Retomando-se o paralelo da maratona aquática.


30 FREUD, Sigmund. Inibição, sintoma e angústia (1926). In:
Inibição, sintoma e angústia, O futuro de uma ilusão e outros
textos (1926-1929) / Sigmund Freud ; tradução Paulo César
86

Negar o contido no inconsciente não trará a


elaboração necessária para vida do sujeito em
análise. O método freudiano, proporciona ao
paciente um ambiente diverso da vivência primária,
as resistências hão de ser vencidas com o suporte
do analista, responsável pela condução do
trabalho.
Em psicanálise não se tem o costume de
usar o termo “cura”. Cura, para medicina, diz
respeito ao restabelecimento da saúde, um dos
desfechos possíveis de um tratamento médico.
Entretanto, esta palavra parece que destoa do
propósito da análise.
Em psicanálise, o paciente analisa suas
questões, faz um percurso que envolve o
autoconhecimento, a maturidade emocional e o
desatamento de seus nós. Pode-se afirmar que
muitas vezes o sujeito vive preso em padrões e não
os compreende até que, após uma construção
proposta pelo analista, há o insight e o abrir das
portas que antes se buscava fechar a todo preço.

de Souza. — 1a ed. — São Paulo: Companhia das Letras,


2014. p. 26.
87

O material inconsciente rompe as barreiras


e se torna consciente. A partir desse ponto, os
afetos e sentimentos que a ele dizem respeito são
revividos; se tornam passíveis de elaboração.
Deste modo, se tem o tiro de largada, o
lançar-se ao mar, o vencimento das forças da maré
e outras intempéries e o cumprimento do percurso.
Ao final, no podium, está um sujeito campeão.
Um sujeito campeão por enfrentar seus
obstáculos, por ganhar força e resistência
emocional. Esse sujeito não se torna melhor ou pior
que os demais praticantes de maratonas pessoais;
esse sujeito se torna melhor do ele era ao tempo de
suas primeiras braçadas.
Evidente está que o trabalho psicanalítico
tem muitos contornos e, aparentes, retornos, mas é
um processo, e como tal tem uma marcha, um
percurso a ser vencido pelo analisando com o apoio
de seu analista.
88

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este texto buscou trazer ao leitor uma visão,


ainda que superficial, do aparelho psíquico
concebido por Freud, bem como fazer um passeio
por alguns conceitos da técnica concebida pelo pai
da Psicanálise.
No decorrer das linhas, apresentou-se que
o autoconhecimento tem o condão de impulsionar o
sujeito, de fazê-lo seguir seu caminho de modo
mais sereno.
O trabalho psicanalítico, como se constata,
não proporciona a dita “amnésia seletiva”. O sujeito
que se acomoda no divã, tem a oportunidade de
vencer suas resistências e buscar conteúdos nas
diversas estruturas que compõe a mente humana.
A jornada que envolve o autoconhecimento
tem etapas não exatamente separadas, mas
imbricadas, sobrepostas. O trabalho analítico, além
do autoconhecimento, é permeado de resistências,
de insights e de elaborações.
89

O sujeito tem a oportunidade de reviver


experiências primárias em outro ambiente, desta
vez amparado pelo psicanalista, e de melhor
compreender o porquê de certas posturas e ações
que pratica ao longo da vida, as quais podem fazer
sentido apenas a partir do resgate do contido
no inconsciente.
É interessante notar que os estudos e
trabalhos de Freud foram continuados, de modo a
evoluir, confrontar ou apenas confirmar o proposto
pelo médico austríaco.
Todavia, resta evidenciado que o trabalho
analítico não se opera apenas no meio acadêmico,
se opera na prática, na construção do analista
proposta ao analisando, no modo como este
recebe a construção (com maior ou menor
resistência) e o que acontece a partir desse ponto.
Eis aí um momento importante, a resposta à
construção do analista pelo analisando indicará
uma nova fase da maratona aquática iniciada.
Acaso o analisando tenha acesso ao contido em
seu inconsciente o insight o tocará, o fará repensar,
o fará elaborar.
90

A elaboração é um trabalho que demandará


energia e tempo, mas que trará frutos ao
analisando.
A elaboração da questão em análise tem o
poder de trazer a mudança na vida prática do
analisando, de modo a garantir não uma forma de
viver sem sofrer, sem dor, mas uma forma de viver
madura e capaz de compreender o motivo pelo qual
se age de um ou de outro modo.
Nota-se que as fases do processo analítico
não são cronometradas, não têm o trajeto definido,
pois as questões do sujeito podem estar muito
submersas no inconsciente, muito protegidas. Não
bastasse isso, há as características do id, eu e
super-eu, que em uma tentativa de proteção,
desejo de satisfação e de razão, impõe o ritmo e o
trajeto da “maratona aquática”.
O percurso não tem realmente os traços e o
tempo determinados de modo exato. Todavia, se
conclui que o trabalho analítico é uma ferramenta
excelente disponibilizada ao analisando para que
este ressignifique suas memórias e elabore seus
conteúdos mais íntimos.
91

Por derradeiro, foi instigante mergulharmos


nos meandros do trabalho analítico, satisfazendo-
nos algumas das nossas curiosidades por meio do
encontro com a fonte do saber legada pelo mestre
vienense ao final de nossa maratona aquática.
92

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Freud apontou que ‘a natureza humana acha difícil
aceitar qualquer coisa menos que excelente’. E Adriana
Moreira Silveira de Freitas confirma o adágio. Os
percalços que foi encontrando ao longo de sua jornada
pessoal, familiar e profissional conduziram-na aos
estudos do autoconhecimento com a intenção de melhor
lidar com tantos desafios. Deu-se o encontro da
treslagoense com o universo do mestre vienense, o qual
lhe trouxe a possibilidade de se apropriar de
ferramentas que auxiliaram no encaminhamento de
suas próprias questões. A autora, que sempre almejou
ser uma excelente esposa, mãe e advogada, agora nos
entrega este trabalho, que nos mostra sua busca pela
excelência também no seu caminho profissional como
psicanalista clínica, colocando-se à disposição de todos
aqueles que procuram apoio para ajudar na superação
de seus conflitos.

- André Luiz de Oliveira Almeida


Advogado e Doutor em Linguística

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