Você está na página 1de 35

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Instituto de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica

Narcisismo : do ressentimento à certeza de si

Alexandre Abranches Jordão

Prof./Orientador: Maria Teresa da Silveira Pinheiro

Março 2002
2

Narcisismo : do ressentimento à certeza de si

Alexandre Abranches Jordão

Universidade Federal do Rio de Janeiro


Doutorado em Teoria Psicanalítica

Orientadora: Maria Teresa da Silveira Pinheiro


Doutor

Rio de Janeiro
Março – 2002
3

Narcisismo : do ressentimento à certeza de si

Alexandre Abranches Jordão

Tese submetida ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica do


Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor.

Aprovada por:

Prof. _____________________________ – Orientador


Maria Teresa da Silveira Pinheiro
Doutor

Prof. _____________________________
Marie-Claude Lambotte
Docteur d’Etat

Prof. _____________________________
Oswaldo Giacóia Júnior
Doutor

Prof. _____________________________
Jurandir Freire Costa
Doutor

Prof. _____________________________
Regina Herzog
Doutor

Rio de Janeiro
Março – 2002
4

Ficha Catalográfica

Jordão, Alexandre Abranches.

Narcisismo : do ressentimento à certeza de si / Alexandre


Abranches Jordão. – Rio de Janeiro, 2002.

xi, 211 fls.

Tese (Doutorado em Teoria Psicanalítica) – Instituto de


Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, 2002.

Orientador: Maria Teresa da Silveira Pinheiro

1. Narcisismo. 2. Metapsicologia. 3. Teoria da clínica. 4.


Psicanálise – Teses. I. Pinheiro, Maria Teresa da Silveira
(Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Instituto de Psicologia. III. Título.
5

A meus pais, dedico essa tese.


6

O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do


mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre
mudando. Afinam e desafinam. [...] Mas a gente quer
um Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois
dele a gente tudo vendo.
Riobaldo (Guimarães Rosa)
7

Agradecimentos

A Teresa Pinheiro, que soube acreditar no projeto estimulando-o e tomar nossas eventuais
diferenças como oportunidades para crescimento; pela beleza e seriedade da psicanálise que
pratica e da qual nos convida a partilhar. Pela disponibilidade, pelo crédito e pela tarimba; além
do meu agradecimento, minha admiração e amizade.

A Marie-Claude Lambotte, pela acolhida receptiva e estimulante durante o período de doutorado-


sanduíche em Paris. Pelo rigor e admirável profundidade de seu trabalho e das críticas e
conselhos ao meu, fontes vivas de inspiração e motivação. Pela simpatia que permeou cada um
dos nossos encontros.

A CAPES, pela bolsa no Brasil.

Ao CNPq, pela bolsa-sanduíche.

A Vanessa, pelo amor e por nossa vida a dois.

A meus pais, tão presentes.

Aos amigos, que direta ou indiretamente tornaram essa tese possível, e que são numerosos. Três
merecem menção especial: a Karla P. H. Martins, que desde o início compartilhou comigo os
caminhos do doutorado. A Márcio Acselrad, pelos debates eletrônicos acalorados e bate-papos
descontraídos. A Philip Bessiere, pelo préstimo que encheu de facilidades uma possivelmente
complicada experiência no exterior; pelos momentos agradáveis. Toda minha gratidão.
8

Resumo

A formulação do conceito de narcisismo por Freud em 1914 abre novas perspectivas


metapsicológicas na psicanálise que enfatizam a abordagem dinâmica do psíquico bem como o
papel dos adultos, pais ou pessoas que se ocupem da criança, no processo de criação de uma
subjetividade no recém-nascido. Considerando-se os elementos presentes no narcisismo, que
participam da invenção narcísica do sujeito, o papel central da onipotência é realçado nas suas
várias manifestações possíveis. A partir dessas considerações, propõe-se o conceito de narcisismo
defensivo referindo-se àquela organização psíquica que gira em torno da confirmação da sua
onipotência e da produção de ganhos narcísicos. Em contraponto, encontramos o narcisismo
suficientemente bom, que representa a abolição do reinado absoluto do defensivo e a abertura de
novas possibilidades subjetivas para o indivíduo, constituindo-se assim num dos objetivos da
prática psicanalítica torná-lo possível. Nesse sentido, considera-se e desenvolve-se a proposta
ferencziana do perdão como final de análise.
9

Abstract

The formulation of the concept of narcissism by Freud in 1914 opens up new metapsychological
perspectives in psychoanalysis which emphasize the dynamic approach of the psychic as well as
the role of the adults, parents or caretakers, in the process of creating a subjectivity in the
newborn. Considering the elements present in narcissism, which take part in this narcissistic
invention of the subject, the central role of omnipotence is pointed out in its various possible
manifestations. From this standpoint, the concept of defensive narcissism is proposed referring to
that psychic organization which revolves around the confirmation of its omnipotence and the
production of narcissistic gains. Counterbalancing it, we find the good enough narcissism that
represents the abolition of the absolute kingdom of the defensive one, and the opening up for new
subjective possibilities for the individual, thus becoming one of the goals of the psychoanalytical
practice to make this possible. In this sense, Ferenczi’s proposal of the pardon as an end to
analysis is considered and further developed.
10

Lista de siglas, abreviaturas, etc.

Nas obras de Nietzsche citadas ao longo da tese, utilizaremos um conjunto de siglas para designar
seus livros, como é de uso corrente. Além da praticidade evidente, acreditamos que seja a melhor
forma de fornecermos as referências bibliográficas desse autor devido, principalmente, ao seu
estilo literário, que toma o aforismo como forma expositiva na maioria dos textos utilizados aqui.
Assim sendo, e respeitando o costume, ao lado da sigla do livro indicaremos o número do
aforismo. Nas referências ao Zaratustra, no entanto, forneceremos o número da página da edição
brasileira utilizada. Nas citações dos Fragmentos Póstumos seguimos a numeração estabelecida
por G. Colli e M. Montinari na sua edição das obras filosóficas completas de Nietzsche. Abaixo a
lista das siglas:

A: O anticristo
BM: Além do bem e do mal
CI: Crepúsculo dos ídolos
GC: A gaia ciência
GM: Genealogia da moral
HDH: Humano, demasiado humano
Z: Assim falou Zaratustra
FP: Fragmentos póstumos
11

Sumário
Para introduzir a discussão ................................................................................................. p.1
Considerações iniciais ....................................................................................................... p. 5

Capítulo 1
Construção do conceito de narcisismo
Prolegômenos .................................................................................................................. p. 15
Aparência e engano ......................................................................................................... p. 16
Freud: a ordem humana ainda é natural .......................................................................... p. 20
Do remorso à culpa ......................................................................................................... p. 24
Subversão das técnicas: sujeito ....................................................................................... p. 27
As origens do Narcisismo ............................................................................................... p. 30
Histeria ou paranóia? ....................................................................................................... p. 31
A pré-história do conceito de narcisismo ........................................................................ p. 34
“Introdução ao narcisismo” ............................................................................................. p. 36
O Manuscrito de 1907 ..................................................................................................... p. 37
Religião e desamparo ...................................................................................................... p. 43

Capítulo 2
Narcisismo e subjetividade
p. 48
O eu na teoria freudiana .................................................................................................. p. 53
Identificação, identificação narcísica e introjeção .......................................................... p. 60
Introjeção segundo Ferenczi ............................................................................................ p. 66
Onipotência narcísica: estádios da apreensão da realidade para Ferenczi ...................... p. 69
Efeitos da pulsão de morte sobre o conceito de narcisismo ............................................ p. 72
Eu e narcisismo ............................................................................................................... p. 74
Narcisismo e imaginário ................................................................................................. p. 77
Narcisismo e demandas narcísicas .................................................................................. p. 79
Fantasia e ilusão .............................................................................................................. p. 81
Circuito narcísico do prazer ............................................................................................ p. 86
12

A percepção e as representações do eu ........................................................................... p. 88

Capítulo 3
Narcisismo, ressentimento e má-consciência
p. 91
Ressentimento e vingança ............................................................................................... p. 98
Sujeito, livre arbítrio e ambivalência ............................................................................ p. 105
Eterno retorno e ambivalência ....................................................................................... p. 109
Narcisismo, determinismo e verdade: criação do absoluto ........................................... p. 115
Memória, subjetividade e culpa: a má-consciência ....................................................... p. 118
A crítica do sujeito: desmontagem do conceito de eu ................................................... p. 125
Eu para quê? – Da necessidade do eu ............................................................................ p. 129
Eu para que? – Em que aspectos a necessidade de um eu defensivo é uma ficção ....... p. 134
O Egoísmo sadio: guerra ao eu do narcisismo defensivo – proposta de análise ........... p. 136

Capítulo 4
Do narcisismo defensivo ao suficientemente bom: a clínica psicanalítica p. 142
Cosmovisões, golpes no narcisismo da humanidade e recrudescência narcísica .......... p. 144
Estrutura x Processo ...................................................................................................... p. 153
Processo e integração .................................................................................................... p. 157
Integração, desintegração e não-integração .................................................................. p. 161
Formação de compromisso ............................................................................................ p. 163
Ferenczi: traumático é o desmentido ............................................................................. p. 166
Trauma e identificação híbrida: quebra da certeza de si ............................................... p. 168
Falso-self e verdadeiro self ........................................................................................... p. 173
Criatividade: confiança e certeza de si .......................................................................... p. 176
Perdão ou desobrigação.................................................................................................. p. 181

Conclusão ..................................................................................................................... p. 188

Referências Bibliográficas .......................................................................................... p. 202


13

Conclusão

O ser humano não é pré-determinado, nem mesmo geneticamente, como vimos. Do


recém-nascido humano, a única afirmação possível – se quisermos escapar da falácia de
atribuição de sentido e verdade a partir do nosso próprio referencial narcísico – é que ele tem um
potencial subjetivo, um potencial para se tornar um sujeito; esse potencial chama-se libido. Assim
sendo, entendemos a importância do auto-erotismo na teorização freudiana como indício de que
há um trabalho a ser feito sobre a libido infantil pelos adultos que se ocupam do bebê. Esse
trabalho é o da própria constituição de uma subjetividade, da invenção narcísica do sujeito feita
pelos adultos. Assim como na introjeção ferencziana o objeto é importante enquanto suporte de
sentido, é preciso que haja um trabalho dos pais para que aquele sujeito incipiente comece a
investir nesses objetos e possa apreender deles o sentido, onde os pais tem a função tanto de
fornecimento do sentido quanto da instauração de uma dinâmica narcísica que poderá produzir
tais investimentos. É porque os pais investem seus filhos que esses investem os objetos, e isso se
faz pela via do narcisismo. Investimentos objetal e narcísico não são antagônicos, como nos
acostumamos a pensar, são similares e um não se faz sem o outro. O infans investido
narcisicamente pode investir nos objetos porque a natureza desses dois investimentos é a mesma,
diremos que é a própria natureza objetal do investimento, com a captura imaginária do objeto que
torna possível a atribuição de sentido.
Por essa via de entendimento, podemos chegar a um exame das implicações sociológicas
do narcisismo e da construção das subjetividades. Enquanto elementos balizadores de qualquer
subjetividade, os ideais estão sempre em intercâmbio intenso com a sociedade e a cultura onde
são erigidos. Se os articularmos à própria invenção narcísica e à posição subjetiva, teremos um
elemento importante para a compreensão das patologias psíquicas dos dias atuais, em especial da
depressão, da drogadição e das ditas personalidades narcísicas. Pensamos aqui também em outros
tipos de adições que não necessariamente as químicas – como atividades físicas, o jogo,
videogames, relações sexuais e mesmo determinados hábitos – mas que se inserem no mesmo
universo psíquico e cumprem uma mesma função que as primeiras. Através de um estudo
abrangente, com propostas audaciosas e mesmo controvertidas, Alain Ehrenberg discorre sobre o
quanto a mudança cultural, política e ideológica nas sociedades democráticas atuais
14

“progressivamente fez de nós homens sem diretrizes”; para ele nós nos tornamos “indivíduos
puros, no sentido de que nenhuma lei moral nem qualquer tradição nos indica, de fora, quem
devemos ser e como devemos nos conduzir”, para concluir: “O indivíduo se encontra aí
amplamente transformado” (2000, p. 15). Essa transformação se deu porque o elemento
regulador do comportamento, que era externo – a ponto de Freud apontar a relação
indivíduo/cultura como fundamentalmente conflituosa – teve que ser internacionalizado. É claro
que em Freud temos também a internalização de qma instância reguladora no supereu, mas que se
faz numa interação do indivíduo com a cultura e que assume para si as interdições da própria
cultura num movimento identificatório com seus representantes mais imediatos naquele universo
infantil, ou seja, os pais – e posteriormente outras figuras sociais. Continuemos com Ehrenberg,
pois ele percebe ainda um novo ideal que domina as subjetividades nessas sociedades: o ideal da
performance. Evidentemente a relação que o sujeito estabelece consigo mesmo a partir desse
ideal é, não o da culpa, como entendera Freud, mas o da insuficiência, pois se está sempre aquém.
“O êxito da depressão tem início no momento em que o modelo disciplinar de gestão de
condutas, as regras de autoridade e de conformidade com os interditos que designavam um
destino às classes sociais, assim como aos sexos, cederam diante das normas que incitam
cada um à iniciativa individual ao ordená-lo a tornar-se ele mesmo. Como conseqüência
dessa nova normatividade, toda a responsabilidade de nossas vidas se aloja não somente em
cada um de nós, mas igualmente no entre-nós coletivo. [...] a depressão é o exato oposto
disso. Essa maneira de ser se apresenta como uma doença da responsabilidade na qual
domina o sentimento de insuficiência. O deprimido não está à altura, ele está cansado de ter
que tornar-se ele mesmo”(Ibid., p.10-11).

Do ponto de vista narcísico, um tal imperativo nos remete a duas constatações: a primeira
é que, com a derrocada do modelo disciplinar embasado na moral burguesa, o sujeito vê-se
obrigado a produzir ele mesmo os ditames de conduta que irão determinar sua vida – o que
corresponde, assustadoramente pela sua generalidade, ao falso-self de Winnicott. Uma tal
manobra partirá necessariamente daquilo que pode servir, na vida desse sujeito, de garantia de
ganhos narcísicos, pois é o narcisismo que terá que se haver com essa produção de uma moral
pessoal. A segunda constatação diz respeito à impossibilidade de aquisição da certeza de si numa
subjetividade assim organizada. Para que ela própria assuma a responsabilidade de regular sua
vida, uma tal subjetividade terá necessariamente que se ancorar nos pressupostos do narcisismo,
15

aos quais precisará se aferrar para tentar garantir o sucesso de sua empreitada. Com onipotência,
absoluto e desamparo como pano de fundo, surge uma personalidade que se quer independente e
auto-reguladora. A depressão e o sentimento de insuficiência seriam a constatação da própria
falácia a partir da qual esse indivíduo se constituiu subjetivamente.
A noção de insuficiência remete a Janet, um alinhamento que Ehrenberg assume
abertamente. Mas inserido numa dinâmica narcísica, vemos que essa insuficiência é
simplesmente o sintoma de um determinado tipo de arranjo subjetivo que toma a onipotência
como derradeiro referencial e vive sob a ameaça constante do desamparo, além de estar sempre
em defasagem em relação aos ideais tanto individuais quanto coletivos. A mudança dos ideais
sociais é importante porque ressalta ainda mais o papel dos pais e da cultura na constituição,
invenção, da subjetividade infantil: nos dias atuais, os ideais dizem respeito à performance, não
são mais ditames morais ou éticos. Tomar a performance como imperativo é o oposto da certeza
de si. Salta aos olhos o papel de confirmação narcísica desempenhado pela performance, e para
conquistá-la todos os meios passam a ser válidos. Ehrenberg enfatiza particularmente o uso, cada
vez mais generalizado, de anabolizantes e estimulantes nas práticas esportivas. A nível
doméstico, poderíamos juntar uma lista de compostos químicos – especialmente os ditos
“naturais” – que prometem, em última instância, a melhoria de performance, seja ela sexual, da
memória, do estômago, dos rins, do intestino, etc., e por isso são tão amplamente consumidos.
Mas não precisamos ficar no âmbito das substâncias, há também determinadas práticas que tem a
mesma função: o Brasil é campeão mundial em cirurgias estéticas que prometem tornar as
pessoas mais desejáveis, os executivos brasileiros recorrem ao relaxamento para ganharem mais
dinheiro, atores cariocas buscam a ioga para representarem melhor; está montada uma eficaz rede
de fornecimento de garantias de ganhos narcísicos.
Mas também fica claro que, na atualidade, houve uma mudança dos papéis materno e
paterno na nossa sociedade; e essas novas subjetividades com que nos deparamos são reflexo
disso. Mais do que buscar uma redefinição desses papéis – empreitada que evidentemente
compete também e até principalmente ao psicanalista – é preciso que saibamos lidar com esses
sujeitos quando eles se apresentam em nossos consultórios. É preciso que saibamos sair dos
referenciais costumeiros com que sempre concebemos o sujeito e interpretamos nossos pacientes
para passar à produção de novas estratégias clínicas. É esse o papel do narcisismo nesse estudo.
16

Nietzsche nos incita a abandonar tais referenciais e a assumirmos uma postura criativa
diante do mundo e de nós mesmos: “aquilo a que chamais mundo, é preciso, primeiro, que seja
criado por vós” (Z, II, p.100). Mas o mais interessante é que ele enxerga certos ganhos na vida
criativa que estão para além daqueles narcísicos que foram descartados e que efetivamente
tornam sua proposta um convite bastante atraente: “Criar – essa é a grande redenção do
sofrimento, é o que torna a vida mais leve” (Ibid., p.101). Uma tal leveza só pode ser comparável
ao riso espontâneo da criança envolvida em atividades lúdicas, comparação que Nietzsche mesmo
aponta. O que nos leva a uma outra passagem, a princípio um tanto enigmática, do “Zaratustra”,
que é bastante adequada para a nossa discussão: “Mas o homem tem mais da criança do que o
jovem, e menos tristeza: entende melhor a vida e a morte”(Z, I, p.88). No nosso entender,
Nietzsche vê que a criança, devido à própria maior maleabilidade de uma subjetividade que está
se formando, ainda não está completamente enclausurada por uma cristalização narcísica
defensiva que define sua vida e suas ações. Há nela narcisismo, mas não necessariamente aquele
que busca somente as confirmações de sua onipotência. Na criança, geralmente, ainda habita
algum pouco de um narcisismo que se manifesta na sua própria atitude de se apropriar do mundo
e de seus objetos, e na sua risada. O riso da criança, ao qual Nietzsche dá tanta importância, é
uma aposta numa outra faceta do ser humano; que, livre das amarras do narcisismo defensivo, a
vida continua repleta de sofrimentos, que serão mesmo reivindicados, mas torna-se leve e lúdica.
Uma vida onde há o riso da criança é uma vida onde a diversão tem lugar central e
principalmente onde o sofrimento não impede a alegria.
Assistimos na adolescência a um recrudescimento exorbitante do narcisismo, mas que
agora já busca suas confirmações. A necessidade de comprovação da onipotência talvez nunca
seja tão grande quanto a que vivemos na adolescência. No adulto, esse chamado pode ser menos
intenso, ou estar simplesmente escamoteado. No primeiro caso, um abandono dos referenciais do
narcisismo defensivo já se faz ouvir e entendemos porque ele está mais próximo da criança que o
jovem. Há, no entanto e evidentemente, adultos que permanecem eternos adolescentes.
Mas o narcisismo tem ainda um outro papel nessa exposição, e um papel de suma
importância. A longa exposição de como está montada uma organização psíquica cristalizada
produtora de ganhos narcísicos tem por objetivo reafirmar a participação do sujeito na
determinação de sua própria vida e de si mesmo – especialmente na manutenção de uma posição
subjetiva que garanta a perenidade de tais ganhos, ou a renuncia à cristalização, e
17

conseqüentemente aos ganhos que dela advinham, com a abertura de possibilidades subjetivas
novas. De um lado, temos a invenção subjetiva que ocorreu na infância, de outro, uma invenção
cotidiana que um indivíduo pode realizar vida afora. O que a primeira fornece são as condições
de possibilidade da segunda, que para ser exercida exige uma certa desmontagem dos
estratagemas construídos na primeira.
Ao conceber o perdão mútuo, Ferenczi aponta para o fato de que a desobrigação se fará
em várias frentes. Desobrigar quer dizer, em última análise, que os elementos a que se dirige o
perdão deixarão de ocupar o lugar privilegiado de referencial narcísico por excelência, que esses
elementos não serão mais determinantes de uma dada subjetividade cristalizada e que outras
possibilidades existenciais podem ser inventadas e experimentadas a partir da descolagem
daquele referencial central. O perdão é mútuo porque desobriga-se a mãe, tomada
metaforicamente, e o próprio sujeito, mas é mútuo também porque essa desobrigação se faz
mutuamente em duas frentes em relação a cada um dos participantes. Na equação ferencziana
ambos são credores e devedores. A mãe do desmentido é perdoada por não ter dado crédito ao
relato do sujeito, é o primeiro aspecto da desobrigação. O que está implícito nessa desobrigação é
que anteriormente a mãe ocupava o posto da ineficiência, ela estava obrigada a permanecer no
lugar também cristalizado da mãe do desmentido. Fica bastante claro como a desobrigação
promove não somente novas possibilidades subjetivas, mas também torna viável novas relações
objetais – não somente pela queda da própria oposição sujeito/objeto, mas também pelo
desmoronamento daquelas características estáticas que definiam o objeto. A esse primeiro
aspecto do perdão junta-se um segundo, que diz respeito à própria invenção narcísica do sujeito
executada por essa mãe. Em outras palavras, ela é perdoada por haver inventado um sujeito
segundo suas próprias limitações subjetivas; ao desobrigá-la, ela deixa de carregar a
responsabilidade que lhe atribuía esse sujeito por ser quem é. Ao desmentir a agressão e remeter
o sujeito ao referencial defensivo da onipotência, há um projeto de subjetividade em jogo, que é o
projeto materno. O paciente que nos procura no consultório o faz porque, mesmo que contra sua
vontade e relutantemente, reconhece a falácia implícita no projeto – ainda que não tenha
consciência disso e não possa colocá-lo em palavras. O que traz o paciente ao consultório é a
falência do projeto narcísico defensivo, mesmo que isso jamais seja dito dessa forma. Nesse
segundo aspecto do perdão, desobriga-se a mãe da eterna responsabilidade de responder por uma
18

tal invenção subjetiva defensiva que, devido aos próprios elementos envolvidos e aos
estratagemas utilizados para sua manutenção, estava fadado mesmo ao fracasso.
Tais considerações remetem imediatamente ao terceiro aspecto da desobrigação: o sujeito
não precisa mais sentar no banco dos réus por haver acreditado no projeto materno e investido tão
ferrenhamente no posicionamento subjetivo que dali se produziu. É porque esse sujeito se
reconhece na invenção narcísica materna, porque pode se dar conta do quanto investiu numa
organização subjetiva que produzia ganhos narcísicos, que buscou com afinco aquilo que pudesse
garantir tais ganhos, que uma desobrigação acontece aqui também. O perdão se faz, nessa terceira
vertente, sobre o fato de ser dele mesmo o investimento que terminou por cristalizar numa
determinada posição subjetiva sua própria individualidade; ele se apropriou do projeto materno –
apropriação já interpretativa – mas não precisa mais responder por isso.
O quarto aspecto do perdão é, a partir das desobrigações anteriores, o que consuma a
retirada da onipotência da posição privilegiada de referencial por excelência do psiquismo desse
sujeito. Ele se faz quando, depois da compreensão dos aspectos narcísicos, pessoais e alheios,
envolvidos na sua constituição subjetiva, o indivíduo pode abrir mão dos esquemas de produção
dos ganhos narcísicos, o que implica em desatar os nós que o mantinham atrelado a uma
determinada posição subjetiva, cristalização necessária para a garantia imaginária da onipotência.
Uma tal desobrigação se faz sobre um paradoxo irredutível que habita o âmago de uma tal
dinâmica subjetiva: o ideal de autonomia e onipotência narcísicos não pode conviver com a
dependência seja lá do que for. Para que a mãe fosse responsabilizada pelo trauma e pela
infelicidade individual desse sujeito, era necessário reconhecer sua dependência dela, reconhecer-
se não onipotente e autônomo. O sujeito se desobriga da onipotência.
Desobrigar-se da onipotência é não levar-se tão a sério, descer do instável pedestal
imaginário em que nos colocamos. O aspecto lúdico que Nietzsche encontra numa tal empreitada
diz respeito ao próprio indivíduo, à abertura para a alegria espontânea que logicamente se achava
excluída de um projeto totalizante – podia até ser um elemento idealizado do projeto mas,
enquanto tal, seria uma alegria interessada, uma performance. Winnicott encontrava no brincar o
próprio movimento humano por excelência, para ele uma vida vivida na sua plenitude de
possibilidades seria caracterizada pelo brincar em todos os seus âmbitos: “Brincar é fazer. [...] é
a brincadeira que é universal e que é própria da saúde” (1971b, p.63). A construção da certeza
de si possibilita, portanto, o resgate da alegria desinteressada para a vida desse indivíduo; o que
19

implica que não somente ele encontrará mais alegria no mundo e nos seus objetos, mas que
também viverá em si mesmo uma tal alegria. O que as considerações de Nietzsche e de Winnicott
indicam é que o indivíduo do narcisismo suficientemente bom pode rir de si mesmo, com já
vimos, porque diverte-se consigo mesmo, ele torna-se divertido para si mesmo.
Uma clínica que se faz tomando o narcisismo nessas duas vertentes aqui apresentadas
deverá trabalhar de uma maneira individualizada com cada paciente, até mesmo a nível de
diagnóstico. Se por um lado isso corresponde exatamente à proposta freudiana, como a
entendemos, por outro requer um cuidado redobrado para que não voltemos a nos familiarizar
demais com determinados pacientes ou determinados aspectos de certas análises. Ferenczi,
antecipando a formulação lacaniana de resistência do analista, pergunta: “será que a causa do
fracasso é sempre a resistência do paciente, não seria antes nosso próprio conforto que se
recusa a adaptar-se às particularidades da pessoa, no plano do método?”(1931, p.335). Para ele
uma análise vai bem quando um certo desconforto dela participa. Isso quer dizer que nem
paciente nem analista conseguiram inserir completamente nem um nem outro, e nem a situação
em si, nos seus universos restritos particulares de dinâmicas e sentidos narcísicos. O desconforto
na análise é a própria particularidade que a constitui, um espaço que não pode ser dominado
narcisicamente e inserido num contexto de familiaridades. Se isso acontecer, não se tratará mais
de uma análise, pois eliminará exatamente aquilo que lhe faz particular; seria a hipocrisia do
analista. Vai no mesmo sentido uma observação de Winnicott sobre sua técnica. Ele afirma que
um dos dois motivos pelos quais ele interpreta numa análise é que, se não o fizer “o paciente fica
com a impressão que eu entendo tudo. Em outras palavras, eu mantenho uma qualidade exterior
qualquer por não chegar exatamente ao ponto – ou mesmo por estar enganado” (1962b, p.167).
Winnicott também percebeu, assim como Ferenczi, que certas análises se estendem por
um período excessivamente longo porque jamais chegam a tocar a questão subjetiva no seu
cerne: “No trabalho psicanalítico, é possível ver análises que continuam indefinidamente porque
são feitas sobre as bases do trabalho com o Falso-Self” (1960b, p.151). Uma última palavra deve
ser dita sobre a possibilidade efetiva e a adequação da análise às mais diferentes conformações
subjetivas.
Em termos ideais, a otimização do trabalho analítico seria atingida naqueles casos em que
é possível ao analisando libertar-se de sua dependência das confirmações narcísicas, flexibilizar
seu posicionamento subjetivo de modo que novas alternativas possam ser ativamente procurados
20

e produzidos. Uma tal desmontagem de organização subjetiva implica que a própria oposição
sujeito/objeto também desaparecerá, ou pelo menos não poderá mais ser tomada enquanto relação
autônoma de dois elementos independentes. Com o desmantelamento do narcisismo defensivo
desmoronam também todas as crenças ou noções a ele ligadas, e por ele sustentadas, como
onipotência, desamparo, unidade, verdade e seus correlatos. E a dualidade sujeito/objeto, pela
própria capacidade de experimentar a não-integração que a análise daria condições ao indivíduo
de desenvolver, cai por terra. Uma colocação de Giacoia atesta bastante bem a proximidade dessa
proposta com a de Nietzsche, pois ele entende que Nietzsche visava a “dissolução das essências
identitárias, multiplicação de sentidos, ebulição das diferenças”(Op. cit., p.98). Ora, esses
poderiam bem ser os termos usados para descrever a certeza de si e os efeitos da desobrigação
para o sujeito narcísico. E, mais uma vez, o principal de tudo isso é que a fantasia passa a assumir
um novo papel num tal psiquismo pioneiro.
No narcisismo suficientemente bom a fantasia é um operador sobre o mundo, não um
produtor de ganhos narcísicos ou um reparador para as frustrações da vida. A fantasia assume
aqui, devido à sua própria plasticidade e manipulação subjetivas, um papel de viabilizadora da
criatividade do indivíduo. Considerando-se que é ela também que permeia as relações a nível
narcísico, uma criatividade de tal forma expressiva diz respeito tanto aos objetos externos quanto
à própria subjetividade. A certeza de si é isso, é poder fazer o uso do objeto, no termos de
Winnicott, é também apropriar-se da própria subjetividade e poder inventá-la sempre e cada vez
mais. Para que isso aconteça é evidente que a desintegração não ameaça mais, que o eu não pode
mais funcionar prioritariamente segundo uma perspectiva defensiva a todo momento, mas
também não quer dizer que um tal funcionamento tenha que ser definitivamente abolido da vida
desse indivíduo. Na sua relação com a ambivalência, com seus desejos, com suas emoções,
consigo mesmo e com o mundo, o que é importante é que aquele lugar defensivamente narcísico
da verdade e da onipotência tenha sua soberania questionada e que eles possam coabitar com
outras formulações possíveis a partir de posicionamentos subjetivos diversos. É onde
encontramos um limite para a análise.
Winnicott, numa afirmação magistral presente num texto que discute exatamente os
objetivos da análise, constata: “a análise é para aqueles que a queiram, que precisem dela e que
tenham capacidade de realizá-la” (1962b, p.169). Independente de um indivíduo ser analisável,
ou seja, ter capacidade emocional e intelectual para empreender um processo analítico, há um
21

desejo individual implicado – e que não é um desejo consciente, evidentemente – e limites


impostos pela própria organização subjetiva de cada um. Chegamos assim a mais um ponto
crucial da análise, tratando-se de um elemento central do trabalho analítico pois, nos dizeres de
Winnicott, “todo tratamento é inútil a menos que transforme a organização de base” (1950-55,
p.162), que entendemos como sendo uma transformação da organização psíquica que promove
exclusivamente um posicionamento subjetivo narcisicamente defensivo. Compreendemos bem o
fundamento metapsicológico da piada do paciente que após vários anos de análise ainda faz xixi
na cama. Um amigo que não o encontrava há muito tempo, sabendo de sua análise, lhe pergunta:
“E aí, parou de fazer xixi na cama?”; ele responde, “Parar não parei, mas agora sei exatamente
porque é que faço xixi na cama”. A análise não produziu mudança nenhuma.
Das quatro formas de niilismo que encontramos em Nietzsche, há uma que é positiva pois
trata-se de um “não” dado ao ressentimento, na nossa formulação, à própria organização psíquica
que sustenta as outras formas de niilismo. Esse é um “não” afirmativo e ativo – ou re-ativo,
utilizando a designação de Deleuze – pois o indivíduo afirma sua insatisfação com sua realidade
pessoal (assim como fizeram as aves de rapina em relação à sua fome) e sua disposição de mudar
essa situação. Ferenczi nos apresenta o perdão com dois tempos: um primeiro da compreensão e
outro do perdão propriamente dito. A trabalho de análise se ocuparia, na sua quase totalidade, de
possibilitar o acesso à compreensão. Para Ferenczi, tal trabalho deve ser feito com “tato
psicológico ... o tato é a faculdade do ‘sentir com’ (Einfühlung)” (1928, p.303). O tato é o
oposto da hipocrisia do analista, ele vai fornecer – juntamente com o setting – o contraste com a
situação traumática. Winnicott enfatizará a importância de se fornecer ao paciente um ambiente
acolhedor e constante, o que não se fará sem sua adaptação ativa ao paciente. O que se passa
nessas análises é a busca da construção da certeza de si juntamente com o acesso à compreensão,
pois ela não é, em si, um elemento passível de promover sozinha uma reorganização dos
parâmetros subjetivos devido aos elementos narcísicos envolvidos. Antes de mais nada, uma tal
compreensão é sempre fruto das construções que ganharam proeminência na análise. O que as
construções podem fornecer, além de empréstimos de sentido onde eles não puderam ser
captados, é as ferramentas para que possamos fazer um esboço de como está organizado
dinamicamente o psiquismo do paciente. É, portanto, limitado, podendo ser mesmo pontual.
Considerando-se que numa análise assistimos à participação de diversas construções distintas,
produzidas em momentos diferentes dessa mesma análise, o próprio processo analítico levará
22

também à compreensão da característica multifacetada do sujeito/paciente – e conseqüentemente


da parcialidade do próprio processo.
Quando se fala de compreensão entende-se um exercício intelectual e as implicações
disso são imediatas: se há um trabalho intelectual a ser feito na análise ele existe como
confirmação de uma constatação corriqueira, a de que o intelecto é tão afetado pelo emocional
que certos conteúdos ideativos são inacessíveis a um determinado indivíduo se não houver um
trabalho analítico. O papel do analista é trabalhar para que essas idéias possam ser ao menos
cogitadas, ainda que seja como hipóteses de trabalho mutuamente escolhidas, e seus instrumentos
são o tato e as interpretações pontuais. O corolário de tais considerações é também corriqueiro:
cada paciente, devido aos seus próprios elementos subjetivos envolvidos no processo analítico,
dará a esse processo um caminho e um andamento particulares. Ao cotejarmos tais constatações
com o narcisismo, vemos que diferentes conformações psíquicas percorrerão caminhos diferentes
e o próprio trabalho analítico deverá ser diferente com cada um deles.
Em termos gerais diríamos que o neurótico, com seu agigantamento euóico e seu inchaço
imaginário, pode chegar à compreensão e ao “não” ativo com muito mais facilidade que o
melancólico, ou o paranóico, devido às características narcísicas de cada um. Isso não é
necessariamente verdade, apesar de ser uma constatação habitual, porque participa desse processo
o desejo do sujeito, um desejo inconsciente e ambivalente, que pode muito bem querer a análise
ao mesmo tempo em que quer a manutenção das artimanhas de produção de ganhos narcísicos.
De uma forma ou de outra, convivemos com esse desejo ambivalente em cada análise. Além
disso, é preciso atenção na construção do modelo de subjetividade que se produzirá no
consultório. O trabalho analítico se faz sobre a conformação narcísica do indivíduo, estuda seus
posicionamentos subjetivos como forma de ilustrar como seu psiquismo está organizado.
Provocar o abandono de determinado posicionamento subjetivo, ou não, é tarefa que não cabe ao
analista, pois estaríamos invadindo uma esfera de autonomia individual que eticamente devemos
reservar ao paciente. Essa é uma decisão que devemos reservar ao analisando, cabe à análise
possibilitar a oportunidade para a escolha, que antes, devido à cristalização, não se apresentava.
Para Ferenczi, a criança traumatizada pode buscar, na sua vida, uma série de
compensações para “o aviltamento e a redução da personalidade (mutilação) [causados] pelo
trauma”(1990, p.104). Uma tal redução do campo subjetivo não se dá somente no trauma sexual,
mas em qualquer indivíduo humano que tenha sido devidamente inventado narcisicamente, pela
23

própria característica dos elementos narcísicos que participam de uma tal invenção, ou seja, em
todos nós. Às conformações e à dinâmica particulares que esses elementos assumirão em cada
subjetividade deve, o analista, voltar sua escuta. As construções, enquanto possibilidade protética
de constituição de sentido onde esse não pode se fazer, são especialmente adequadas ao trabalho
analítico, ainda mais que as interpretações, porque fornecem ferramentas que poderão ser
manipuladas pelo paciente para a atribuição de sentido a partir de elementos subjetivos
individuais.
É importante, no entanto, que sejamos capazes de fazer certos esboços da conformação
narcísica de nossos pacientes para que possamos determinar estratégias de atendimento; é
evidente que a análise de um paranóico será diferente da de uma histérica. Vimos que, devido à
própria modalidade e aos elementos que participam da identificação que acontece no trauma
ferencziano, o apego ao referencial narcísico da onipotência pode ser desmedido e estar mesmo
petrificado. Com o tempo, o esboço inicial, caso seja confirmado, se amplia e agrega novos
fatores. Um tal procedimento é necessário para que possamos adequar o atendimento à
subjetividade que temos diante de nós – como vimos no capítulo 3, não é aconselhável questionar
abertamente os referenciais narcísicos de um melancólico, ao mesmo tempo em que numa
histérica isso corresponderia quase a um trabalho cotidiano. É tendo em mente as funções dos
vários elementos que participam da formação subjetiva de um indivíduo, em especial a sua
dinâmica, a necessidade e os motivos de certos movimentos defensivos e os fatores que estão
envolvidos na formação da certeza de si que teremos condições de traçar diretrizes
verdadeiramente pertinentes para uma dada análise.
A psicanálise pode não ser necessariamente o único caminho possível para levar um
sujeito a desvincular-se de seu posicionamento subjetivo que lhe proporciona ganhos narcísicos,
nem necessariamente a única via de acesso à certeza de si ou à criatividade como a entende
Winnicott. Definitivamente não é uma estrada para o super-homem. Para Nietzsche, numa de
suas mais belas alegorias, “o homem é uma corda entendida entre o animal e o super-homem –
uma corda sobre um abismo. [...] O que há de grande, no homem, é ser ponte, e não meta” (Z,
Prólogo, p.31). Mas a decisão de atravessá-la é individual. Compreensão e desobrigação são as
ferramentas que podem viabilizar a travessia que, como já vimos, não terá fim. O que a análise
pode proporcionar é o acesso até a ponte, ela leva até a cabeceira da ponte, até a beira do abismo.
Caberá ao indivíduo atravessá-la ou não. Mas ficam duas constatações: qualquer caminho que
24

leve até tal ponte terá que passar pela crítica das categorias do narcisismo defensivo, da
onipotência, da verdade, da unidade, do ressentimento e do posicionamento subjetivo. A segunda
constatação é que, mesmo que haja caminhos alternativos para se chegar aí, a psicanálise é uma
via expressa porque, por um lado, nela o arranjo narcísico e a posição subjetiva tornam-se
particularmente visíveis na transferência e, por outro, porque faz, no seu manejo da transferência,
o desvelamento dos esconderijos das artimanhas de ganhos imaginários montadas a partir de uma
dinâmica subjetiva defensivamente narcísica.
A proposição última de uma análise é a implicação do sujeito na sua vida como
determinante de seu destino. A redução do campo subjetivo operada pelo narcisismo defensivo
impede que um tal movimento se dê, mas aferrar-se às mesmas artimanhas imaginárias de
garantias narcísicas pode ser tão determinante para o fracasso de uma análise quanto a própria
conformação psíquica do paciente. No fim das contas, há um desejo implicado, e que pode muito
bem querer o contrário do que visa uma análise, pois, somos realmente plurais, multifacetados e
ambivalentes. Temos que respeitar e endossar, mesmo decepcionados depois de anos de trabalho,
decisões que apontem para a retomada dos velhos esquemas defensivos pois não cabe à análise
apontar caminhos, mas somente colocar o indivíduo em condições de abrir seus próprios
caminhos. Temos que lembrar ainda que os ganhos narcísicos estarão sempre presentes, e que
funcionam como cantos de sereias em sociedades que nos incitam a abraçá-los com toda nossa
força. Uma análise não trabalha cirurgicamente na remoção daquela parte da personalidade do
paciente que ele quis extirpar e, a rigor, não visa a eliminação de nada do seu psiquismo, mas
quer a abertura de possibilidades para o que não o habita.
Os ganhos narcísicos estão por toda parte, participam da nossa vida e também não podem
ser apontados como vilões – seria cairmos no mesmo maniqueísmo que o narcisismo defensivo
patrocina. Assim sendo, não é para sua eliminação que trabalha a análise, mas para seu
desmascaramento. O sucesso de uma análise é a retirada do funcionamento narcisicamente
defensivo do posto de determinante de toda e qualquer possibilidade subjetiva de um indivíduo.
Para que isso aconteça, é preciso que entendamos o fim de um processo analítico como aquele em
que torna-se possível, para o paciente, fazer a crítica dos interesses narcísicos que estão
escamoteados em cada movimento psíquico seu. Existe aí um compromisso final, o de esmiuçar e
denunciar os ganhos narcísicos que estão presentes em todos os fatores que participam de sua
vida; mas denunciar não quer dizer condenar. O que se quer evitar é que esses ganhos sejam,
25

como sempre foram, os verdadeiros determinantes de suas ações e sentimentos à sua própria
revelia. A saída de um universo de ganhos imaginários que impede a ação criativa passa pelo
esmiuçamento de uma cadeia defensiva que faz desses ganhos um uso específico para se manter.
Não são os ganhos que estão em questão, a pergunta será sempre dirigida aos propósitos de tais
ganhos, ao que eles atendem, ao que se quer fazer com eles.
Um compromisso crítico dessa natureza significa que uma análise não tem fim, e que até
mesmo o que consideramos mais importante, do ponto de vista da vida do paciente, terá lugar
num momento posterior ao término do processo analítico. Esse processo termina com a
possibilidade de o sujeito deixar de lado as formações de compromisso e posições subjetivas que
decidiram sua vida à sua revelia e assumir novos compromissos e posições, agora provenientes de
escolhas pessoais. Assumir compromissos e fazer escolhas que não mais atendam
necessariamente às exigências de manutenção do narcisismo defensivo é o que dá ao indivíduo a
capacidade criativa de agir sobre o mundo, de constituir fantasias criativas e factíveis porque não
representam mais o resultado de um esforço de produção de ganhos imaginários. O que pode
fazer a diferença é o uso que se faz dos elementos capazes de produzir tais ganhos, pois eles estão
em qualquer lugar, povoam nosso cotidiano. Desde que queiramos, poderemos sempre buscar no
dia-a-dia confirmações de nossa onipotência narcísica, nas ocorrência mais corriqueiras; elas
podem estar no trânsito, no restaurante, na sala de aula, e porque não, até mesmo no ponto final
de uma tese de doutorado. Cabe a cada um de nós decidir qual o uso que vai fazer desses
elementos.
26

Referências Bibliográficas

ABRAHAM, N. Présentation. In: FERENCZI, S. Thalassa : Psychanalyse des origines de la


vie sexuelle. Paris: Payot, 1992, p. 7-19.
_________; TOROK, M. A casca e o núcleo. São Paulo: Escuta, 1995. 439 p.
ABRAM, J. A linguagem de Winnicott. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. 305 p.
ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro/São Paulo: Forense Universitária, 1999, 9a
ed. 352 p.
ASSOUN, P.-L. Freud & Nietzsche: semelhanças e dessemelhanças. São Paulo: Brasiliense,
1991, 2a ed. 316 p.
BAAS, B; ZALOSZYC, A. Descartes e os fundamentos da psicanálise. Rio de Janeiro:
Revinter, 1996. 83 p.
BRANDÃO, J.S. Mitologia Grega: vol. II. Petrópolis: Vozes, 2000 (11a ed.).
BUFFON (1753) Histoire naturelle. Paris: Gallimard, 1984. Apud KUPIEC, J.-J. Histoire
d’être. In: KUPIEC, J.-J.; SONIGO, P. Ni Dieu ni gène. Paris: Seuil, 2000, p. 15-84.
BULFINCH, T. O livro de ouro da mitologia: histórias de deuses e heróis. Rio de Janeiro/São
Paulo: Ediouro, 2000. 10a edição, 417.
CHÂTELET, F. Uma história da razão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, 2a. reimpres.,
159p.
COLLI, G. Après Nietzsche. Paris: Éditions de l’éclat, 2000, 2a. ed., 191 p.
COSTA, J.F. Violência e Psicanálise. Rio de Janeiro: Graal, 1984. 189 p.
________ Narcisismo em tempos sombrios. In: Percurso na história da psicanálise. (Org.
Joel Birman) Rio de Janeiro: Livraria Taurus Editora, 1988, p. 151-174.
________ Sem fraude nem favor: estudos sobre o amor romântico. Rio de Janeiro: Rocco,
1998. 221 p.
DELEUZE, G. Nietzsche. Paris: PUF, 1995, 10ª ed. 105 p.
________ Nietzsche e a filosofia. Porto: RÉS, s.d. 295 p.
DESCARTES, R. (1637) Discurso do método. São Paulo: Abril, 1973 (Coleção Os
Pensadores) p. 33-79.
DENNET, D.C. Tipos de mentes: rumo a uma compreensão da consciência. Rio de Janeiro:
Rocco, 1997. 166 p.
ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA Disponível em: http/www.britannica.com
27

EHRENBERG, A. La fatige d’être soi: dépression et societé. Paris: Poches Odile Jacob,
2000. 414 p.
FERENCZI, S. (1923) Thalassa : Psychanalyse des origines de la vie sexuelle. Paris: Payot,
1992. 168 p.
________ (1909) Transferência e introjeção. In: ________ Escritos Psicanalíticos 1909-
1933. Rio de Janeiro: Livraria Taurus Editora, s.d. p.29-60.
________ (1912) O conceito de introjeção. In: Ibid. p. 61-63.
________ (1912) Sugestão e psicanálise. In: Ibid. p. 64-73.
________ (1913a) O desenvolvimento do sentido de realidade e seus estádios. In: Ibid. p. 74-
88.
________ (1913b) Fé, incredulidade e convicção sob o ângulo da psicologia médica. In:
________ Psicanálise II. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 27-38.
________ (1922) “Psicologia de grupo e análise do ego” de Freud. In: ________ Psicanálise
III. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 117-181.
________ (1923) O sonho do neném sábio. In: Escritos Psicanalíticos. Op. cit., p. 214.
________ (1924) Os fantasmas provocados (atividade na técnica da associação). In: Ibid. p.
231-238.
________ (1926) O problema da afirmação do desprazer (Progresso no conhecimento do
sentido de realidade). In: Ibid., p. 281-291.
________ (1926) Fantasias gulliverianas. In: Psicanálise III. Op. cit., p. 415-432.
________ (1928) Elasticidade da técnica psicanalítica. In: Escritos... Op. cit., p. 301-312.
________ (1930) Princípio de relaxação e neo-catarse. In: Ibid. p. 318-332.
________ (1931) Análise de crianças com adultos. In: Ibid. p. 333-346.
________ (1933) Confusão de língua entre os adultos e as crianças. In: Ibid. p. 347-356.
________ Diário clínico. São Paulo: Martins Fontes, 1990. 274 p.
FINK, E. A filosofia de Nietzsche. Lisboa: Editorial Presença, 1988. 207 p.
FOUCAULT, M. Nietzsche, Freud & Marx: Theatrum philosoficum. São Paulo: Editora
Princípio, 1987, 4a ed. 81 p.
________ Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1998, 13a ed. 295 p.
________ História da sexualidade 1: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graas, 1993, 11a ed.
152 p.
28

________ A verdade e as formas jurídicas. Cadernos da PUC, PUC – Rio de Janeiro, série
Letras e Artes 06/74, 4a ed. 133 p.
FREUD, S. Obras completas. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1996. 2a. ed., 3a.
reimpressão. As obras de Freud que constam dessa edição serão doravante indicadas por AE,
seguidas do volume correspondente.
________ (1881) A interpretação das afasias. Lisboa: Edições 70, 1979. 93 p.
________ (1894) Las neuropsicosis de defensa (Ensayo de una teoría psicológica de la
histeria adquirida, de muchas fobias y representaciones obsesivas, y de ciertas psicosis
alucinatorias). AE: vol.III, p.41-61.
________ (1893-1895) Sobre la psicoterapia de la histeria. In: ________; BREUR, J.
Estudios sobre la histeria. AE: vol. II, p. 261-309.
________ (1896) Nuevas puntualizaciones sobre las neuropsicosis de defensa. AE: vol. III, p.
157-184.
________ (1900 [1899]) La interpretación de los sueños. AE: vol. IV e V. 608 p.
________ (1905 [1901]) Fragmento de análisis de un caso de histeria. AE: vol. VII, p. 1-
107.
________ (1905) Tres ensaios de teoria sexual. AE: vol. VII, p. 109-222.
________ (1908a) Las fantasias histéricas y su relación con la bisexualidad. AE: vol. IX,
p.137-147.
________ (1908b) Caráter y erotismo anal. AE: vol. IX, p. 149-158.
________ (1909 [1908]) La novela familiar de los neuróticos. AE: vol IX, p. 213-220.
________ (1909a) Análisis de la fobia de un niño de cinco años. AE: vol. X, p. 1-118.
________ (1909b) A propósito de un caso de neurosis obsesiva. AE: vol. X, p. 119-249.
________ (1910a) Un recuerdo infantil de Leonardo da Vinci. AE: vol. XI, p.53-127.
________ (1910b) Sobre um tipo particular de elección de objeto em el hombre:
Contribuiciones a la psicologia del amor I* AE: vol XI, p. 155-168.
________ (1910c) La perturbación psicógena de la visión según el psicoanálisis. AE: vol.
XI, p. 205-216.
________ (1910d) Sobre el psicoanálisis “silvestre”. AE: vol. XI, p. 217-227.
________ (1911 [1910]) Puntualizaciones psicoanalíticas sobre un caso de paranoia
(Dementia paranoides) descrito autobiográficamente. AE: vol. XII, p. 1-76.
29

________ (1911) Formulaciones sobre los dos princípios del acaecer psíquico. AE: vol. XII,
p. 217-231.
________ (1913 [1912-13]) Totem y tabu. AE: vol. XIII, p. 1-162.
________ (1914a) Contribuición a la historia del movimiento psicoanalítico. AE: vol. XIV,
p. 1-64.
________ (1914b) Introducción del narcisismo. AE: vol. XIV, p. 65-98.
________ (1915a) Pulsiones y destinos de pulsión. AE: vol. XIV, p. 105-135.
________ (1915b) La represión. AE: XIV, p. 135-152.
________ (1916 [1915]) La transitoriedad. AE: vol. XIV, p. 305-311.
________ (1917 [1915]a) Complemento metapsicologico a la doctrina de los sueños. AE:
vol. XIV, p. 215-233.
________ (1917 [1915]b) Duelo y melancolía. AE: vol. XIV, p.235-255.
________. ________ In: Novos Estudos, CEBRAP, nº 32, p. 128-142. Março 1992. Tradução
de Marilene Carone.
________ (1917 [1916-17]a) Los caminos de la formación de síntoma In: ________
Conferencias de introducción al psicoanálisis. Conferência 23. AE: vol. XVI, p. 326-343.
________ (1917 [1916-17]b) El estado neurótico comum. In: ________ Ibid. Conferência 24.
p. 344-356.
________ (1917 [1916-17]c) La teoria de la libido y el narcisismo. In: ________ Ibid.
Conferência 26. p. 375-391.
________ (1917 [1916]) Una dificultad del psicoanálisis. AE: vol. XVII, p. 125-135.
________ (1918 [1914]) De la historia de una neurosis infantil. AE: vol. XVII, p. 1-112.
________ (1919a) “Pegan a un niño”: Contribuición al conocimiento de la génesis de las
perversiones sexuales. AE: vol. XVII, p. 173-200.
________ (1919b) Lo ominoso. AE: vol. XVII, p. 215-251.
________ (1920) Más alla del principio de placer. AE: vol. XVIII, p. 1-62.
________ (1921) Psicología de las masas y análisis del yo. AE: vol. XVIII, p. 63-136.
________ (1922 [1921]) Sobre algunos mecanismo neuróticos en los celos, la paranóia y la
homosexualidad. AE: vol. XVIII, p. 213-226.
________ (1923) El yo y el ello. AE: vol. XIX, p. 1-66.
________ (1924 [1923]) Neurosis y psicosis. AE: vol. XIX, p. 151-159.
30

________ (1924a) El problema económico del masoquismo. AE: vol. XIX, p. 165-176.
________ (1924b) La perdida de realidad en la neurosis y la psicosis. AE: vol. XIX, p. 189-
197.
________ (1925a) Algunas notas adicionales a la interpretación de los sue`nos en su
conjunto. AE: vol. XIX, p. 123-140.
________ (1925b) La negación. AE: vol. XIX, p.249-257.
________ (1926 [1925]) Inibición, síntoma y angustia. AE: vol. XX, p. 71-164.
________ (1927a) El porvenir de una ilusión. AE: vol. XXI, p. 1-55.
________ (1927b) Fetichismo. AE: vol. XXI, p.141-152.
________ (1930 [1929]) El mal-estar en la cultura. AE: vol. XXI, p. 57-140.
________ (1937a) Analisis terminable e interminable. AE: vol. XXIII, p. 211-254.
________ (1937b) Contrucciones em el análisis. AE: vol. XXIII, p. 255-270.
________ (1940 [1938]) Esquema del psicoanálisis. AE: vol. XXIII, p. 133-209.
________ (1940 [1938]b) La escisión del yo en el proceso defensivo. AE: vol. XXIII, p.271-
278.
________ (1950 [1885]) Proyeto de psicologia. AE: vol I, p. 323-446.
________ (1950 [1892-99]) Fragmentos de la correspondencia con Fliess. AE: vol. I, p. 211-
322.
________ (1987 [1915?]) Neuroses de transferência: uma síntese. Rio de Janeiro: Imago,
1987. 143 p.
________ A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 1887-1904.
(Ed. Jeffrey Moussaieff Masson) Rio de Janeiro: Imago, 1986. 538 p.
________; BREUER, J. (1893-1895) Estudios sobre la histeria. AE: vol. II, 342 p.
________; FERENCZI, S. Correspondência: 1908-1911. Rio de Janeiro: Imago, 1994. Vol.
I/Tomo 1, 378 p.
________ Correspondência: 1912-1914. Rio de Janeiro: Imago, 1995. Vol. I/ Tomo 2, 309 p.

________; JUNG, C.G. A correspondência completa de Sigmund Freud e Carl G. Jung. (Org.
William Macguire) Rio de Janeiro: Imago, 1993. 2a. ed. revisada. 650 p.
GARCIA-ROZA, L.A. Introdução à metapsicologia freudiana – volume I: Sobre as afasias
(1891), o Projeto de 1895. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991. 209 p.
31

________ Id. – Volume 2: A interpretação dos sonhos (1900). Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1993. 235 p.
________ Id. – Volume 3: Artigos de metapsicologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. 295
p.
GAY, P. Freud: a life for our time. Nova York: Norton & Co., 1988. 810 p.
GIACÓIA Jr., O. Genealogia da moral e arqueologia da cultura. In: Assim falou Nietzsche II –
Memória, tragédia e cultura (Org. Feitosa, C; Barrenechea, M.A.), Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 2000, p. 87-100.
GREEN, A. Narcisismo de vida narcisismo de morte. São Paulo: Escuta, 1988. 303p.
HAYMAN, R. Nietzsche – Nietzsche e suas vozes. São Paulo: UNESP, 2000. 54 p.
HEIDEGGER, M. Nietzsche – vol. I: The Will to Power as Art. e vol. II: The Eternal
recurrence of the Same (reunidos em um único tomo). São Francisco: HarperCollins, 1991.
597 p.
JORDÃO, A.; PINHEIRO, T. Antecedentes históricos da construção do conceito de
narcisismo. In: HERZOG, R. (Org.) A psicanálise e o pensamento moderno. Rio de Janeiro:
Contra Capa, 2000, p.11-27.
KERR, J. Um método muito perigoso – Jung, Freud e Sabina Spielrein: A história ignorada
dos primeiros anos da psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1997. 656 p.
KLOSSOWSKI, P. Nietzsche e o círculo vicioso. Rio de Janeiro: Pazulin, 2000. 304p.
KOYRÉ, A. Considerações sobre Descartes. Lisboa: Presença, 1980, 4a. ed., 67 p.
KUPIEC, J.-J. Histoire d’être. In: KUPIEC, J.-J.; SONIGO, P. Ni Dieu ni gène: pour une
autre théorie de l’hérédité. Paris: Seuil, 2000, p. 15-84.
KUPIEC, J.-J.; SONIGO, P.Ni Dieu ni gène: pour une autre théorie de l’hérédité. Paris: Seuil,
2000. 238 p.
________ Entrevista. Jornal Liberation, Paris, 8-9 set. 2001, Week-end rencontre, p. 38-39.
KURY, M.G. Dicionário de mitologia grega e romana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
LACAN, J. O estádio do espelho como formador da função do eu tal como nos é revelada na
experiência psicanalítica. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 96-103.
________ Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise. In: Ibid. p. 238-324.
________ Observação sobre o relatório Daniel Lagache: “Psicanálise e estrutura da
personalidade”. In: Ibid. p. 653-691.
________ O Seminário – livro 1: os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1993, 5a. reimpressão. 336 p.
32

________ Id. – livro 2: o eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar, 1992, 3a. ed., 415 p.
LALANDE, A. Vocaulaire technique et critique de la philosophie. Paris: Quadrige/PUF,
1992.
LAMBOTTE, M.-C. O discurso melancólico: da fenomenologia à metapsicologia. Rio de
Janeiro: Cia. de Freud, 1997. 552 p.
________ Narcisisme. In: KAUFMAN, P. (org.) L’apport freudien: élements pour une
encyclopedie de la psychanalyse. Paris: Bordas, 1993.
________ L’exil mélancolique. Revue de Psychologie Clinique. Paris: L’Harmattan, nova
série, nº 4, p. 25-35. Hiver 1997, 1998.
LAPLANCHE, J.Vida e morte em psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. 143 p.
MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. Rio de Janeiro/São Paulo: Livraria Atheneu,
1985. 294 p.
MACHADO, R. Zaratustra – tragédia nietzschiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 176
p.
NAFFAH NETO, A. O Inconsciente como potência subversiva. São Paulo: Escuta, 1992. 72
p.
NIETZSCHE, F. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral. São Paulo: Nova Cultural,
1987. 4a ed., p. 31-38.
________ Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. São Paulo: Cia. das
Letras, 2000. 349 p.
________ The gay science. Nova York: Vintage, 1974. 397 p.
________ Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. São Paulo: Bertrand
Brasil, 1989, 6a ed. 331 p.
________ Ainsi parlait Zarathoustra. Paris: Flammarion, 1996. 477 p.
________ Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. São Paulo: Cia. das
Letras, 1992. 270 p.
________ Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Cia. das Letras, 1999. 179 p.
________ Crepúsculo dos ídolos ou como se filosofa com o martelo. Lisboa: Edições 70,
1988. 128 p.
________ El Anticristo: maldición sobre el cristianismo. Madri: Alianza Editorial, 1983, 10ª
ed. de bolso. 160 p.
________ Fragments posthumes: Automne 1887 – mars 1888. Paris: Gallimard, 1976. 456 p.
33

________ Fragments posthumes: Début 1888 – début janvier 1889. Paris: Gallimard, 1977.
472p.
OVÍDIO (Públio Ovídio Naso) Trechos das metamorfoses. São Paulo: Livraria Salesiano
Editora, s.d., (edição bilíngüe latim/português). 214 p.
________ Les métamorphoses. Paris: Garnier-Flammarion, 1966. 504 p.
PHILLIPS, A. Winnicott. Londres: Fontana Press, 1988. 180 p.
PINHEIRO, T. Trauma e melancolia. Percurso, Instituto Sedes Sapientiae – São Paulo, nº 10,
p. 50-55, 1993.
________ Algumas considerações sobre o narcisismo, as instâncias ideiais e a melancolia. In:
Cadernos de Psicanálise, SPCRJ – Rio de Janeiro, v. 12, nº 15, p. 20-28, 1995.
________ Ferenczi: do grito à palavra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/UFRJ, 1995. 132 p.
________ O estatuto do objeto na melancolia. In: KISHIDA, C.A. et al. (orgs.) Cultura da
ilusão. Rio de Janeiro: Contra-Capa, 1998, p. 119-129.
PINHEIRO, T.; JORDÃO, A.; MARTINS, K.P.H. A certeza de si e o ato de perdoar.
Cadernos de Psicanálise, SPCRJ – Rio de Janeiro, v. 14, nº 17, p. 160-175, 1998.
ROAZEN, P. Como Freud trabalhava. São Paulo: Cia. das Letras, 1999. 291 p.
ROSE, H.J. A handbook of Greek and Roman Mythology. Londres: Mathuen & Co., 1928 (ed.
1978).
SAUGUET, H. Preface du Dr. Henri Sauguet. In: WINNICOTT, D.W., De la pédiatrie à la
psychanalyse. Paris: Payot, 2000. p. 11-17.
SOCIEDADE PSICANALÍTICA DE VIENA, Les premiers psychanalystes: Minutas da
Sociedade… Paris: Gallimard, Vol. I, 1976.
________. ________. Vol II, 1978.
SONIGO, P. Cellules em liberte. In: Ni Dieu ni gène. Op. cit. p. 129-180.
STRACHEY, J. Notas introdutórias aos textos de Freud. AE.
WINNICOTT, D.W. (1945) Le développement affectif primaire. In: De la pédiatrie à la
psychanalyse. Paris: Gallimard, 2000, p. 57-71.
________ (1947) La haine dans le contre-transfert. In: Ibid., p. 72-82.
________ (1948a) La réparation en fonction de la défense maternelle organisée contre la
dépression. In: Ibid., p. 83-89.
________ (1948b) Pédiatrie et Psychanalyse. In: Ibid., p. 90-110.
34

________ (1949a) Le souvenirs de la naissance, le traumatisme de la naissance et l’angoisse.


In: Ibid., p.111-134.
________ (1949b) L’esprit et ses rapports avec le psyché-somma. In: Ibid. p.135-149.
________ (1950) Growth and development in immaturity. In: The family and individual
development. Londre: Tavistock. Apud PHILLIPS, 1988.
________ (1951) Objetos transicionais e fenômenos transicionais. In: O brincar e a
realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975, p. 13-44.
________ (1952a) Psychose et soins maternels. In: De la pédiatrie… Op. cit., p. 186-197.
________ (1952b) L’angoisse associée à l’insecurité. In: Ibid., p. 198-202.
________ (1954)Les aspects métapsychologiques et cliniques de la régression au sein de la
situation analytique. In: Ibid., p. 250-267.
________ (1950-55) L’agressivité et ses rapports avec le développement affectif. In: Ibid., p.
150-168.
________ (1954-55) La position dépressive dans le développement affectif normal. In: Ibid.,
p. 231- 249.
________ (1956) La préoccupation maternelle primaire. In: Ibid., p. 285-291.
________ (1958) The capacity to be alone. In: The maturational processes and the
facilitating environment. Madison (EUA): International Universities Press, 1996, 14a ed. p.
29-36.
________ (1960a) The theory of the parent-infant relationship. In: Ibid., p. 37-55.
________ (1960b) Ego distortions in terms of true and false self. In: Ibid., p. 140-152.
________ (1962a) Ego integration in child development. In: Ibid. p. 56-63.
________ (1962b) The aims of Psycho-analytical treatment. In: Ibid. p. 166-170.
________ (1963) From dependence towards independence in the development of the
individual. In: Ibid. p. 83-92.
________ (1964) The concept of the False Self. In: Home is where we start from. Londres:
Penguin, 1986, p. 65-70.
________ (1967a) A localização da experiência cultural. In: O brincar e a realidade. Op. cit.,
p. 133-143.
________ (1967b) O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil. In:
Ibid. p. 153-162.
35

________ (1969a) O uso de um objeto e relacionamento através de identificações. In: Ibid.


p.121-131.
________ (1969b) The pill and the moon. In: Home is where… Op. cit., p. 195-209.
________ (1970) On the basis for Self in Body. In: Psycho-analytic explorations. Londres:
Karnac Books, 1989. Apud ABRAM, 2000.
________ (1971a) Sonhar, fantasiar e viver: uma história clínica que descreve uma
dissociação primária. In: O brincar e a realidade. Op. cit. p. 45-58
________ (1971b) O brincar: uma exposição teórica. In: Ibid. p. 59-77.
________ (1971c) O brincar: uma atividade criativa e a busca do eu (self). In: Ibid. p.79-93.
________ (1971d) A criatividade e suas origens. In: Ibid. p. 95-120.
________ (1971e) O lugar em que vivemos. In: Ibid. p. 145-152.
________ (1971f) La consultation thérapeutique et l’enfant. Paris: Gallimard, 1972. 414 p.
________ (1988) Human nature. Londres: Free Association Books, 1999. 189 p.

Você também pode gostar