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A ciência do iluminismo

ATIVIDADES

Comente como o Iluminismo influenciou a Independência dos EUA


7
aula
e a Revolução Francesa?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Devemos compreender que no Estado absolutista o poder


apresentava o rei como representante de Deus na Terra,
defensor da Igreja e da pátria, protetor das artes, legislador e
representante do Estado, cujos interesses estavam acima dos
interesses particulares. Na França, por exemplo, o rei era sagrado
e seus súditos lhe deviam obediência como a Deus. Ele era a
lei viva e a fonte da justiça.
Mas os filósofos naturais começavam a deixar de lado os
dogmas religiosos, e passavam a buscar respostas baseadas na
ciência. Para eles até a crença devia ser racionalizada. Os
Iluministas rejeitavam as tradições, procuravam uma explicação
racional para tudo e novos meios para dar felicidade aos homens.
Atacavam a injustiça, a intolerância religiosa e os privilégios.
Para eles as desigualdades seriam provocadas pelos próprios
homens, isto é, pela sociedade. Para corrigi-las, achavam
necessário mudar a sociedade, dando a todos liberdade de
expressão e culto, e proteção contra a escravidão, a injustiça, a
opressão e as guerras. O Iluminismo abriu caminho para a
Independência dos EUA e para a Revolução Francesa, pois
denunciou erros e vícios do Antigo Regime.

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Introdução à Física

PRÓXIMA AULA

Discutiremos o surgimento da teoria eletromagnética e a in-


fluência desses estudos em várias áreas: desde a Óptica até
a Medicina, chegando até a descoberta da radioatividade.

REFERÊNCIAS

FRANCO, H. Curso de evolução dos conceitos da Física do


IFUSP. Disponível em <http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d>.
Acesso em 01/02/2008.
GREGORY, F. The history of Science 1700 - 1900. Course
Guidebook. The Teaching Company, 2003
MACEDO, C. A. Apostila do Curso de Introdução à Física da
UFS. São Cristóvão, 2006.
MARTINS R. A. A Física no final do século XIX: modelos em
crise. Disponível em <http://www.comciencia.br/reportagens/
fisica/fisica05.htm>. Acesso em 18/02/2008.
Portal de ensino de Física da USP. Disponível em <http://
efisica.if.usp.br>.
VALERIO, M. E. G. Notas de aula do Curso de Introdução à
Física da UFS. São Cristóvão, 2006.
http://hpdemat.vilabol.uol.com.br/Biografias.htm.

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1
livro

AS GRANDES SÍNTESES DOS


FENÔMENOS NATURAIS
8
aula
META
Mostrar como os resultados
obtidos pelos físicos do século XIX
sintetizaram o conhecimento sobre
fenômenos naturais
aparentemente divergentes e
geraram um enorme
desenvolvimento tecnológico do
qual usufruímos até hoje.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
definir evolução histórica e
contextualizar as grandes
contribuições científicas da física
ocorridas nos séculos XIX;
descrever resultados teóricos do
século XIX que realizaram grandes Furacão (Fonte: http://www.library.com.br).
sínteses dos fenômenos naturais;
identificar alguns temas científicos
que fortemente influenciaram os
leigos, gerando inclusive histórias
fantásticas; e
definir por que os alguns
cientistas concluíram que já não
havia mais perguntas sobre a
natureza para serem respondidas
pela física.

PRÉ-REQUISITOS
O aluno deverá ter em mãos um
pente ou uma régua e uma
flanela. Também precisará
lembrar-se de algumas histórias, Frankenstein (Fonte: http://
como a de Frankenstein. nalts.files.wordpress.com).
Introdução à Física

O século XVIII se caracterizou pelo grande desenvolvi-


mento de todos os ramos da ciência, que passou a ter
um aspecto mais público, conforme as conferências e livros cientí-
ficos foram se tornando mais populares, mostrando às pessoas a
importância da ciência na vida diária. Na se-
qüência, no século XIX, o ritmo do desenvol-
INTRODUÇÃO
vimento científico e tecnológico cresceu imen-
samente. O clima era de confiança em relação
à ciência, na medida em que ela explicava e solucionava cada vez
mais problemas. Em conseqüência disso, a vida das pessoas sofreu
alterações substanciais. A ciência, em especial a física, gerava no-
vas invenções, as quais impulsionavam uma série de transforma-
ções na sociedade. Com efeito, estabeleceu-se uma relação entre os
Homens e a Ciência, de tal maneira que esta passou a fazer parte
das suas próprias vidas.
A área da Física que chamamos “Física Clássica” e que compreen-
de a mecânica, a óptica, a termodinâmica e o eletromagnetismo já
havia alcançado um grande aperfeiçoamento nesse tempo. Quase
tudo aquilo que se ensina sobre Física no segundo grau já havia

Motor a vapor, desenvolvido pelo francês Etienne Lenor, no Século XIX. (Fonte:
http://www.museudantu.org.br).

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A grandes sínteses dos fenômenos naturais

sido descoberto naquela época (claro que o nível de conhecimento


dos físicos era mais elevado do que se ensina).
Os produtos gerados pelo desenvolvimento tecnológico, per-
8
aula
cebidos na época como conseqüência direta dos avanços da ciên-
cia, fizeram com que grande parte da humanidade acreditasse que
estava vivendo o início de um tempo de progresso sem fim. A física
era o exemplo de uma ciência que apresentava imensos resultados
e que nos ajudava a compreender o mundo como nunca antes tinha
sido possível.
A religião ia, assim, perdendo terreno no domínio do conheci-
mento. O corpo humano passa a ser explorado cientificamente, sem
a culpa. São descobertas curas para as doenças e a longevidade
humana deixa de ser desejo para se tornar um fato. A influência da
física na medicina também progredia a olhos vistos.
Por isso, veremos hoje que as descobertas científicas acabaram
acarretando muitas mudanças em diversos setores da vida, das ar-
tes e até na forma das pessoas se comportarem. Diante de tantos
grandes sucessos científicos, por volta de 1900, alguns físicos pen-
savam que a Física estava praticamente completa. Será mesmo?

L embra-se das perguntas de Lavoisier na aula anterior: por


que exatamente nada se perde e tudo se transforma? O que
poderia existir no interior da matéria, capaz de resistir até mes-
mo ao fogo?
No início do século XIX, o mistério da com-
posição da matéria começou a ser desvendado.
A MATÉRIA
Na Inglaterra, John Dalton, um sujeito esquisi-
to, que não gostava de gente, e jamais se casou, enxergava muito mal
e não conseguia reconhecer a maioria das cores (a doença que ele
tinha nos olhos veio a ser batizada de daltonismo em sua homena-
gem) foi capaz de mirar longe, e buscar lá na Grécia Antiga a resposta
para o mistério da composição da matéria. Lembra-se dos atomistas

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Introdução à Física

Leucipo e Demócrito? Eles disseram: “tudo o que existe no mundo é feito


de átomos”, não foi? Adivinhe qual foi a resposta de Dalton? “Tudo é
feito de átomos!”, inspirada na sabedoria grega. Em 1803, Dalton pu-
blicou seu trabalho Absorção de gases pela água e outros líquidos, no qual
delineou os princípios de seu modelo atômico. Em 1808, baseado
nestes princípios, propôs sua teoria do modelo atômico, em que o
átomo é uma minúscula esfera maciça, impenetrável, indestrutível e
indivisível.
Faz sentido: se toda a matéria do mundo é composta de pequenos
pedacinhos - os átomos, isso explicaria por que nada se perde quando
um pedaço de madeira se queima. As coisas apenas se transformam.
Os átomos mudam de lugar e de arrumação. Uma idéia revolucionária!
Seguindo essa mesma idéia, em 1811, o italiano Amedeo Avogadro
(1776-1856) sugeriu que, se dois gases têm o mesmo volume, a mesma
pressão e a mesma temperatura, então eles são formados pelo mesmo
número de partículas que são pequenas demais para serem vistas, ou
seja, novamente os átomos.
Na metade do século 19, a ciência já sabia que elementos eram
materiais puros, que não eram resultado de misturas. Ao todo, 63
deles já eram conhecidos. A Europa estava em plena Revolução In-
dustrial. Foi quando as máquinas começaram a substituir a mão do
homem no campo, na indústria e nas cidades que cresciam cada vez
mais. Agora, mais do que nunca na história da humanidade, era fun-
damental entender exatamente do que as coisas eram feitas.
Em 1859, o alemão Gustav Robert Kirchhoff ao estudar o
brilho de substâncias incandescentes percebe que cada elemento
químico emite luz a sua maneira. Cada um tem suas próprias co-
res, que aparecem se a luz é decomposta por um prisma; esse con-
junto de cores de um elemento é chamado de linhas espectrais.
Hoje, sabemos que cada elemento da natureza possui suas própri-
as linhas espectrais.
Mas foi o russo Dimitri Mendeleev quem conseguiu pôr ordem
no misterioso mundo da matéria. Ele observou que alguns elemen-
tos têm características muito parecidas. Como as pessoas, alguns

186
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

elementos têm personalidade forte, e não se misturam com os ou-


tros. Mas também existem aqueles elementos que se combinam bem.
Faltava só encontrar uma maneira de classificar esses elementos.
8
aula
Em 1869, Mendeleev recortou cartões com os nomes dos elemen-
tos conhecidos e foi tentando arrumá-los para descobrir uma ordem.
Ele viu que os elementos que compõem tudo o que existe no mundo
podem ser divididos em ordem crescente e em grupos ou famílias. Cada
uma com características que se repetem periodicamente. Ele organi-
zou então os 63 elementos conhecidos na época numa tabela, agru-
pando em colunas os elementos que tinham características parecidas.
A cada nova linha as características se repetiam, e assim ela foi deno-
minada tabela periódica. Essa aí você já conhece bem, né?

(Fonte: http://professoradeir.blogspot.com).

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Introdução à Física

A VELOCIDADE DA LUZ

Nos séculos 17 e 18, independente da natureza corpuscular ou


ondulatória, a velocidade de propagação da luz era um dado que
ainda intrigava os pesquisadores. Muitos acredita-
vam que ela se propagava instantaneamente, com
velocidade infinita. Em 1676, Dane Ole
Christensen Römer, enquanto observava Júpiter e
seu satélite Io, notou que havia um atraso, o que o
levou a comentar num congresso de astronomia
que a velocidade da luz poderia ser muito alta. Suas
medições, combinadas com outras de Huygens,
chegaram a um valor abaixo do real, porém muito
mais alto do que o de qualquer fenômeno conhe-
cido então: 2.3x108 m/s. No entanto, observações
de James Bradley, em 1728, corrigiram os dados
de Römer e culminaram num valor para a veloci-
dade da luz apenas um pouco menor que o aceito
atualmente. Em 1850, Jean Bernard Leon
Foucault determinou experimentalmente, com
(Fonte: http//www.europarl.eu). uma aproximação melhor a velocidade da luz na
água e no ar, usando a roda de medir a velocidade
da luz inventada por Fizeu em 1849. Mas o valor preciso seria ob-
tido finalmente só em 1926, por Albert Michelson.

APLICANDO A ELETRICIDADE

No final dos anos de 1770, Luigi Galvani, um professor de ana-


tomia e obstetrícia na Itália, começou a fazer experimentos sobre o
relacionamento entre eletricidade e fisiologia. Em 1786, sua assis-

Após as explicações de Franklin sobre a eletricidade, uma


pergunta ainda devia ser respondia: O corpo humano
possui eletricidade?

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A grandes sínteses dos fenômenos naturais

tente, Lucia Galeazzi ficou impressionada ao observar que um sapo


teve uma convulsão violenta ao ser tocado em um nervo pela ponta
de um bisturi. Imediatamente questionou-se de onde teria surgido
8
aula
esse efeito. Foi confirmado, que a carga elétrica de uma faísca prove-
niente da máquina que estava sendo testada na
mesma sala tinha sido responsável pelo efeito.
Galvani, em outro experimento, notou que uma
rã pendurada por ganchos de cobre às grades em
torno de uma varanda de seu laboratório se con-
traía, não somente durante as tempestades, mas
também às vezes em tempo bom. Ele descobriu
que ele poderia causar as contrações pressionando
gancho de cobre contra o ferro da treliça, e assim
concluiu ter encontrado um terceiro tipo de eletri- (Fonte: http://br.geocities.com).
cidade, diferente de ambas as origens conhecidas:
aquela produzida artificialmente nas novas máquinas e a de ocorrên-
cia natural na atmosfera. Ele a chamou de eletricidade animal.
Em termos do fluido de Franklin, a parte interna dos músculos
conteriam um excesso de fluido elétrico, enquanto externamente
haveria correspondente deficiência. Esse desbalanço era controla-
do pelo cérebro para realizar as contrações enquanto o ser estivesse
vivo. Sem o cérebro, como no caso da rã, era necessário um meio
artificial de produzir a contração.
O anúncio dos trabalhos de Galvani em 1791, em toda Europa,
provocou muita discussão. Seu conterrâneo Alessandro Volta, professor
de física, levou a linha de experimentos de Galvani em outra direção.
Volta sabia que podia provocar um gosto amargo ao juntar dois metais
diferentes em contato com a língua. Ele então começou a pensar que o
contato entre metais é que gerava a eletricidade e produzia as contrações
musculares nos experimento de Galvani. Logo começou uma controvér-
sia entre Volta e Giovanni Aldini, sobrinho e defensor de Galvani.
Seguindo seus trabalhos, em 1800, Volta divulgou seu mais novo
invento: a pilha! Nela ele havia imitado o arranjo de metais em
contato com a boca. Volta colocou discos de zinco e prata, ambos

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Introdução à Física

em contato com um tecido encharcado de salmoura. Para aumentar


o efeito, ele empilhou discos de prata e zinco separados
por papel ensopado com a solução salina e mostrou que
Descoberta a pilha.
dois metais em contato, sob certas condições, poderiam
Agora podemos ligar
produzir corrente elétrica.
nossos aparelhos elétricos!
Com isso, a descoberta de Volta foi tomada como uma
correção da teoria de Galvani sobre a eletricidade animal,
pois sua invenção da pilha confirmou seu ponto de vista sobre a pro-
dução de corrente elétrica com o contato entre metais. Assim, assu-
miu-se que o contato entre os metais era a única fonte de descarga
elétrica nos experimentos de Galvani. Mas lembre-se que sempre pode
haver surpresas na ciência! Na verdade a situação não era tão simples
assim como julgava Volta. De fato, os dois investigadores estavam
trabalhando com duas fontes diferentes de eletricidade: uma devida ao
contato entre dois diferentes metais e a outra era uma fonte armazena-
da nos músculos. Portanto, no final das contas, ambos estavam certos!
A eletricidade também propiciou uma revolução nas comunicações.
Em 1832, durante uma viagem de navio, o americano Samuel Finley
Breese Morse participou de uma conversa sobre o eletroímã. Seu interes-
se pelo assunto o levou a desenvolver, em 1835, o primeiro protótipo
funcional de um telégrafo, dispositivo que utiliza correntes elétricas para
controlar eletroímãs que funcionam para emissão ou recepção de sinais.
Em meados de 1838, finalmente estava com um código de
Primeira linha de telégrafo sinais realmente funcional, chamado Código Morse. Em 1844,
foi terminada a primeira linha telegráfica ligando Baltimore a
Washington – DC nos EUA, quando se deu a primeira transmissão ofici-
al. O telégrafo tornou-se um importante meio de comunicação a distân-
cia, pois permitia a troca de mensagens até de um continente para outro.
Depois dele veio o telefone. Antes de 1900 já era possível fazer ligações
interurbanas entre muitas cidades na Europa e nos Estados Unidos.
Ainda se tratando de comunicações, o físico sérvio
Nikola Tesla realizou, em 1893, a primeira transmissão de
Obá, olha o rádio aí, gente!
rádio, porém sua invenção seria creditada, com controvérsi-
as, a Guglielmo Marconi, em 1904.

190
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

Por volta de 1876, não se sabia como transmitir a energia elétrica


gerada. A evolução dos conceitos sobre os sistemas de potência foi
marcante dentro de um período de 15 anos, praticamente definindo as
8
aula
características dos sistemas como hoje se apresentam.
Em 1880, Thomas Alva Edson apresenta sua lâmpada incandescente
(em corrente contínua), a primeira lâmpada elétrica comercialmente viá-
vel. Nesse mesmo ano, ele patenteia um sistema de distribuição elétrica
baseado na transmissão de corrente contínua. Em 1882, Edson coloca
em funcionamento seu sistema de corrente contínua em Nova York e
funda a empresa Edison Electric Company.
Mas o uso prático dessas correntes elétricas se restringia a pou-
cos, pois era impossível transmití-las a longas distâncias. Para Nikola
Tesla era claro que a corren-
te contínua era ineficiente e
incapaz de transmitir energia
a longas distâncias, e certa-
mente deveria haver um ou-
tro método. A idéia dele da
corrente alternada (AC) era
tida pela comunidade cien-
tífica com desdém. Houve
então uma forte disputa en-
tre Tesla e Edson na Telégrafo (Fonte: http://www.seara.ufc.br).
implementação dos sistemas
de distribuição elétrica. Mas Tesla venceu finalmente, com a cor-
rente alternada, essencialmente pelas suas características de dimi-
nuição de perdas na transmissão de energia. Em 1895, um sistema
de energia AC foi financiado e inaugurado sem uma única falha,
transmitindo energia até cerca de 30 km de distância. E assim, a
energia elétrica começava a deixar de ser um privilégio de poucos.
Essa área de estudo, conhecida como eletricidade, recebeu seu
nome somente após a descoberta de J. J. Thomson, em 1897 (que ire-
mos relatar no final da aula), da partícula responsável por todas esses
fenômenos: o elétron.

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Introdução à Física

O SURGIMENTO DO ELETROMAGNETISMO

Faça você também um experimento: Pegue um pente de


plástico e passe em seu cabelo. Depois coloque o pente próxi-
mo a pedacinhos (bem pequenos) de papel. O que ocorre en-
tão? Agora passe a mão sobre o pente e aproxime novamente do
papel. Você poderia explicar o que ocorreu?
Se seu cabelo não estiver cheio de creme, você verá que o
pente irá atrair o papel na primeira parte do experimento. Você
também pode tentar o mesmo experimento esfregando uma fla-
nela no pente ou em uma régua plástica. Através do atrito, dois
materiais diferentes podem ficar eletrizados. O mesmo aconte-
ce quando se penteia o cabelo. O atrito faz com que o pente
fique eletrizado. Então surge o fenômeno de separação das car-
gas pela simples aproximação do objeto eletrizado.
O pente tem poder de atração sobre os pedacinhos de pa-
pel, pois quando ele se aproxima do papel, as cargas deste se
separam: as do mesmo sinal do pente são atraídas, as do sinal
contrário serão repelidas, isso fará com que o pente puxe o pa-
pel. Depois de passar a mão no pente você verá que ao aproxi-
mar do papel ele não será mais atraído, pois as cargas criadas
foram transferidas para seu corpo através da sua mão e daí para
a terra. Imagine só se você não tivesse nenhuma informação
sobre eletricidade e magnetismo que tem agora, como seria difí-
cil explicar este fenômeno que agora parece tão simples, né?
Pois é, os físicos no século 19 queriam explicar esses fenô-
menos sem instrumentos para observar o que estava realmente
acontecendo. Puxa, eles tinham muita imaginação!!

Inicialmente, a atração magnética era exibida apenas pelo fer-


ro. Mas em 1774, o médico Mesmer estava convencido que a me-
lhor analogia para o que ele chamou de gravidade animal era a ação
do magnetismo. Ele utilizou suas teorias para tratar uma mulher
que sofria de vários problemas, usando imãs para restaurar o fluxo

192
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

do que ele chamava agora de magnetismo animal, acabando com as


convulsões que ela sofria. Apesar de uma fama inicial com seus
bons resultados, o trabalho de Mesmer também obteve muitas rea-
8
aula
ções hostis das instituições sociais da época.
A atração e repulsão eletrostática já havia sido observada por
Augustin Coulomb (1736-1806) que concluiu
que fluidos elétricos iguais se repelem e os opos-
tos se atraem. Em 1820, Hans Christian Örsted
aproximou uma bússola de um fio eletrificado,
mostrando que a corrente elétrica podia mover
o ponteiro da bússola. Com isso, deu a primeira
demonstração prática de que as forças elétricas
e magnéticas são parecidas. Menos de um ano
depois a explicação desse fenômeno foi dada por
André-Marie Ampère. O francês fez aparecer
uma atração magnética entre dois fios eletrifica-
dos. No mesmo ano, Laplace calculou a força
eletromagnética e os franceses Jean-Baptiste Biot
e Félix Savart mediram a indução criada por uma
Augustin Coulomb (Fonte: http://www.swehs.co.uk).
corrente elétrica.
Em 1821, o inglês Michael Faraday (1791-
1867) completou as experiências de Oersted e Ampère sobre for-
ças elétricas e magnéticas. Ele verificou que um fio circular, ao ser
eletrificado, faz girar um ímã próximo. Depois demonstrou que um
ímã em movimento pode criar corrente elétrica num fio desligado.
Os experimentos realizados por Faraday revelaram algo fantás-
tico: um campo magnético variando com o tempo gera corrente
elétrica em um condutor. Então surgiu a pergunta: será que a Natu-
reza não faz uso do inverso do processo descoberto por Faraday, de
tal forma que um campo elétrico variando com o tempo gera um
campo magnético?
O físico e matemático escocês James Clerk Maxwell descobriu
que, na verdade, essa simetria é obrigatória. Caso contrário, um
conjunto de equações, ou seja, a física não seria consistente. A par-

193
Introdução à Física

tir de 1864, Maxwell se dedicou a formular matematicamente as


teorias de Faraday sobre o magnetismo, conseguindo obter equa-
ções simples que permitiam descrever tanto os fenômenos elétri-
cos quanto os magnéticos. Com isso, unificou em 1865 ambas as
teorias, da eletricidade e do magnetismo, em uma só: a teoria ele-
tromagnética.

Maxwell demonstrou que a eletricidade e o magnetismo


são, em essência, uma mesma coisa. São efeitos diferentes
de uma única força, chamada então de força eletromagné-
tica.

Maxwell foi mais além: previu, com suas formulações, que a


oscilação de uma carga elétrica produz um campo magnético. Ao
tentar calcular a velocidade de propagação desse campo, supreendeu-
se ao obter o valor aproximado de 3x108 m/s,
ou seja, a própria velocidade da luz, que já ha-
via sido obtida experimentalmente por Foucault!
Achou, então, que isso não podia ser mera coin-
cidência. Ao contrário, afirmou que a luz nada
mais era do que uma radiação eletromagnética,
e que haveriam radiações de todos os compri-
mentos de onda, sendo a luz apenas uma varie-
dade específica dessas radiações. Essa foi a cha-
ve que permitiu explicar toda a gama de fenô-
menos ópticos em termos das leis gerais do
eletromagnetismo. Ou seja, Maxwell unificou em
seus trabalhos: a eletricidade, o magnetismo e a
óptica.
James Clerk Maxwell (Fonte: http://
Maxwell, porém, acreditava que as ondas ele-
www.clerkmaxwellfoundation.org). tromagnéticas não se propagavam no vácuo, mas
utilizavam a intermediação do éter, fluido que
estaria presente em todo o universo, em meio à matéria e nos espa-
ços desprovidos dela. Essa concepção seria rejeitada pelos pesqui-
sadores que o sucederam.

194
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

Note que todas as conclusões inéditas de Maxwell foram obti-


das exclusivamente a partir de cálculos e considerações teóricas,
sem que fosse ainda possível desenvolver experimentos que os con-
8
aula
firmassem. Até então somente eram conhecidos, além da luz visí-
vel, as radiações infravermelhas e ultravioletas.
A primeira verificação experimental só foi feita em 1888, pelo
alemão Heinrich Rudolf Hertz. Ele demonstrou a existência da ra-
diação eletromagnética, criando um aparelho que emitia ondas de
rádio, e, assim, confirmou a existência das ondas eletromagnéticas
imaginadas por Maxwell. Hertz produziu ondas eletromagnéticas
por meio de circuitos oscilantes e, depois, detectou-se por meio de
outros circuitos sintonizados na mesma freqüência. Seu trabalho
foi homenageado posteriormente colocando-se o nome “hertz” para
unidade de freqüência.

A LUZ E O ÉTER

Como já vimos, já no ano de 1678, Huygens defendia a idéia de


que a luz se propaga como onda, o que polemizava com as idéias de
Isaac Newton, que defendia que os raios luminosos são feitos de partí-
culas ou átomos de luz. Porém, ambos não apresentaram nenhuma
prova conclusiva de suas teorias. Essa polêmica durou muito tempo.
Em 1800, o astrônomo inglês William Herschel descobriu que
o Sol, além de luz visível, emite também um outro tipo de raio, o
infravermelho. No ano seguinte, em 1801, o alemão Carl Ritter des-
cobriu os raios ultravioleta. Atualmente se sabe que, apesar de in-
visíveis, esses raios são também um tipo de luz, porém de uma cor
que os olhos não podem enxergar. Usamos, por exemplo, os raios
infravermelhos no controle remoto das TVs.
O francês Augustin Fresnel desenvolveu, entre 1815 e 1819, uma
monografia sobre a difração dos raios luminosos. Ele efetuou as pri-
meiras medições de comprimento de onda elétrica e desenvolveu, ma-
tematicamente, sua teoria ondulatória em 1821, de forma a explicar
fenômenos de interferência luminosa. Mas em seu tempo, suas teorias

195
Introdução à Física

foram energicamente combatidas e seus trabalhos tiveram pouca di-


vulgação. Somente com os trabalhos de Foucault, em 1850, é que a
teoria ondulatória foi definitivamente aceita.
A teoria física no fim do século XIX postulava que, tal como as
ondas de água têm de ter um meio por onde propagar-se (a água) e
as ondas sonoras audíveis também requerem o seu meio (o ar), as
ondas luminosas também iriam necessitar de um meio próprio, o
“éter”. Assim, durante séculos, negar a existência do éter seria a
maior asneira possível.
Mas um experimento iniciou uma gran-
de mudança nessa idéia. Inspirado por uma
idéia de Maxwell, que também acreditava
na existência do éter, o físico norte-ameri-
cano Albert Abraham Michelson, na épo-
ca no laboratório do físico alemão
Hermann Helmholtz, inventou um instru-
mento capaz de medir a velocidade da luz,
conhecido como interferômetro de
Albert Abraham Michelson (Fonte: www.lefo.ro).
Michelson. Com ele, Michelson planejou
um experimento que serviria para detectar, e assim provar a exis-
tência do “éter”. O experimento foi executado em 1881 e repeti-
do em 1887, junto de seu conterrâneo Edward Williams Morley.
No aparato era possível comparar o intervalo de tempo gasto
por dois feixes de luz emitidos de uma mesma fonte em duas
direções perpendiculares. Segundo a Mecânica Clássica, se uma
dessas direções fosse a do movimento da Terra em sua órbita ao
redor do Sol e a outra perpendicular, deveria ser detectada uma
diferença no intervalo de tempo percorrido pela luz nas duas dire-
ções diferentes.
O éter seria arrastado pelo movimento da Terra e, portanto, teria
um fluxo como no exemplo do rio. Mas, inacreditavelmente para a
época, o que se constatou foi que não houve mudança no tempo
percorrido! O éter mostrou não ter qualquer efeito sobre a velocida-
de da luz, quer o feixe se deslocasse na mesma direção ou perpendi-

196
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

cular ao movimento terrestre. Então, Michelson começou a questio-


nar a existência real do éter, visto que se ele existisse, a Terra deveria
estar em repouso! Esse é o exemplo mais famoso de um experimento
8
aula
que deu resultado negativo. Eles queriam provar a existência do éter,
mas provaram exatamente o contrário! Apesar disso, por este traba-
lho, Michelson ganhou o Premio Nobel de Física em 1907.

A idéia básica do experimento Michelson e Morley pode


ser ilustrada utilizando a seguinte analogia:
Suponha que temos um rio e dois nadadores que nadam
na mesma velocidade. A água do rio flui em uma taxa
estável. Ambos saem simultaneamente de pontos dife-
rentes do rio, um deles parte do ponto da A em direção
transversalmente ao ponto B do outro lado da margem, ,
enquanto o outro parte do ponto C em direção ao ponto
B, ambos na mesma margem do rio, ou seja na direção
do fluxo de água. Quem chega primeiro em B? É claro
que fluxo de água irá influenciar nessa prova, sendo que
um fatalmente chega primeiro que o outro. Pois então, o
efeito do fluxo de água sobre os nadadores seria como o
efeito do fluxo do éter sobre a luz.

Esse experimento também mostrou que a velocidade da luz


não é a relativa, ou seja, não muda, independentemente do
referencial. A velocidade da luz é sempre absoluta! Foi o aparato
real do experimento de Michelson-Morley que deu significante im-
pulso ao desenvolvimento da Teoria da Relatividade, que será dis-
cutida na próxima aula.

197
Introdução à Física

TERMODINÂMICA E MECÂNICA
ESTATÍSTICA

Como obter o equivalente mecânico do calor? Quanto equiva-


leria 1oC em energia mecânica?
Em 1843, o físico britânico James Prescott Joule teve uma idéia
brilhante para responder essa pergunta: ele fez uma hélice metálica
girar dentro de um tanque com água e verificou que a temperatura da
água subia. Ou seja, a rotação da hélice, que é energia em forma
mecânica, virava calor. Hoje, a unidade de energia no sistema inter-
nacional é chamada joule em sua homenagem. A experiência de Joule
mostrando que a energia mecânica vira energia na forma de calor
leva à definição de uma das leis mais importantes da física: a energia
não pode ser criada nem destruída. É a chamada Lei de Conservação da
Energia, ou Primeira Lei da Termodinâmica. Ela foi definida pelo
alemão Hermann Ludwig Ferdinand von Helmholtz, em 1847.
No ano seguinte verificou-se
que a temperatura dos corpos não
pode diminuir indefinidamente.
Existe um limite a partir do qual ela
não cai mais! E foi o inglês William
Thomson, mais conhecido como
Lord Kelvin, quem determinou esse
ponto, denominado zero absoluto,
cujo valor atual é de - 273,15ºC. Em
homenagem a Thomson, a unidade
de temperatura mais usada atual-
mente pela ciência é o Kelvin.
Lembra-se também que na aula
Representação esquemática do experimento mecânico de Joule. (Fon-
te: http://www.fisica.ufs.br).
passada falamos dos estudos de
Carnot sobre o rendimento das má-
quinas? Pois o alemão Rudolf
Julius Emanuel Clausius concluiu, em 1850, que sempre que a ener-
gia muda de forma, uma parte vira calor e não pode ser aproveita-

198
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

da. Nas hidrelétricas, por exemplo, uma queda-d’água faz girar um


conjunto de ímãs, o que gera eletricidade. A energia mecânica de
rotação vira energia elétrica. Mas não totalmente, porque, ao girar
8
aula
os ímãs o atrito entre a água e os ímãs faz com que esquentem,
desperdiçando energia na forma de calor. Isso o levou a enunciar o
que chamamos de Segunda Lei da Termodinâmica.
Em 1910, Johannes van der Waals foi agraciado com o Prêmio
Nobel de Física, pois em 1873, ele havia concluído que, embora as
moléculas de gás sejam extremamente pequenas, cada uma delas
tem um tamanho diferente. Sendo assim, o tamanho da molécula e
a força que atuam entre elas afetam seu comportamento.
A teoria cinética dos gases que começou com a derivação da lei
de Boyle em 1738, por Daniel Bernoulli, através da aplicação das leis
do movimento de Newton às moléculas, seguiu com estudos teóri-
cos de Maxwell, foi realmente aprofundada pelo alemão Ludwig
Eduard Boltzmann, em 1884. Suas novas pesquisas fortaleceram duas
idéias que foram decisivas para o progresso da física do século XX. A
primeira é que todas as substâncias são feitas de
átomos; portanto, ao estudar o comportamento dos
“Todas as substâncias
átomos, é possível entender as propriedades gerais são feitas de átomos”.
das substâncias, como a temperatura de um gás ou Boltzmann
a quantidade de luz que ele emite ao ser aquecido.
A segunda é que esse estudo deve ser feito de ma-
neira estatística, por meio do cálculo de probabilidades. Boltzmann
com suas idéias acabava de criar a Mecânica Estatística!
Já, Willard Gibbs conseguiu generalizar as idéias introduzidas
por Maxwell e Boltzmann de uma forma que é independente do
tipo de sistema tratado. Em 1902, ele apresentou o seu livro
Elementary Principles in Statistical Mechanics, tendo sido a primeira
pessoa a realmente utilizar o termo mecânica estatística.

199
Introdução à Física

RAIOS X E RADIOATIVIDADE

Em torno de 1879, o inglês William Crookes estava interessa-


do na condutividade elétrica em gases sob baixa pressão. Então, em
uma ampola (um tubo de vidro fechado à vácuo contendo um gás
rarefeito) colocou dois eletrodos com pólos positivo e negativo, e
estabeleceu entre eles um diferencial
de potencial elétrico. Ao aplicar uma
descarga elétrica, ele percebeu um fei-
xe de luz ligando um pólo ao outro.
Esses raios causavam fosforescência
em alguns objetos sobre os quais eram
aplicados e produziam grande quanti-
dade de calor no impacto.
O físico Eugen Goldstein obser-
vou que essa luminosidade era
provocada por raios invisíveis à olho
Tubo de Crookes (Fonte: http://www.ca.ufsc.br).
nu. Que uma vez acelerados a partir
do catodo atravessavam o tubo em linha reta em direção perpen-
dicular à sua superfície. Então, atribuíu essa luminosidade aos
raios provenientes do pólo negativo, chamado cátodo, e, portan-
to, os raios observados foram denominados raios catódicos.
Muitos cientistas na Europa começaram a estudar os raios
catódicos. Havia porém uma grande dificuldade na época, pois nin-
guém podia mostrar de fato que tais radiações existiam. Inclusive,
não se tinha certeza naquela época se aqueles raios eram partículas
ou ondas eletromagnéticas.
Em 1895, Wilhelm Conrad Röntgen observou um estranho fe-
nômeno: raios que escapavam do tubo de Crookes faziam
luminescer, a uma certa distância do tubo, uma superfície que tinha
recebido uma camada de material fosforecente. Próximo ao tubo
de Crookes havia um pedaço de papel para chapa fotográfica.
Röntgen percebeu que, quando fornecia corrente elétrica ao tubo, a
chapa fotográfica velava, ou seja, ficava escura, como quando ex-

200
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

posta à luz. Intrigado, resolveu intercalar entre o dispositivo e o


papel fotográfico, corpos opacos à luz visível, como por exemplo,
envolvendo o tubo em uma caixa de papelão negro. Desta forma
8
aula
obteve provas de que vários materiais opacos à luz diminuíam, mas
não eliminavam a emissão desta estranha irradiação induzida pelo
raio de luz invisível. Com isso, Röntgen revelou a existência de
novos raios, que mais tarde se comprovaria serem mais uma forma
de ondas eletromagnéticas.
Röntgen batizou esses raios de X, para salientar que a ciência
nada sabia sobre eles até então e fez a primeira radiografia da histó-
ria, da mão de sua esposa. Por ser capaz de atravessar o corpo hu-
mano, deixando ver os ossos, os raios X viraram manchetes dos
jornais no mundo inteiro. Essa descoberta revolucionou os campos
da Física e da Medicina. Por sua descoberta,
Röntgen recebeu o primeiro Prêmio Nobel em
Física, em 1901.
Posteriormente, a mesma descoberta de
Röntgen levou muitos outros cientistas a re-
ceberem o prêmio Nobel de física com pes-
quisas sobre o assunto. Em 1896, semanas
depois dessa descoberta, Henri Poincaré fez
um relatório sobre os Raios X para a aca-
demia Francesa de Ciências. Além de sua
explicação sobre os raios X, estavam algu-
mas obser vações referentes a
fosforescências estranhas que ele mesmo
observou. Este fenômeno interessou Henri
Becquerel que pensou em investigar se to-
dos os corpos fosforescentes poderiam emi-
tir raios similares.
Becquerel iniciou suas investigações uti-
lizando um composto à base de urânio. Ele
colocou o composto sobre uma chapa foto- Radiografia da mão da esposa de Röntgen (Fonte: http:/
/img242.imageshack.us).
gráfica por um período e, então, revelou a

201
Introdução à Física

chapa. Com isso, constatou que este material afe-


tava a chapa de for ma similar aos raios X.
Becquerel havia então descoberto a Radioativi-
dade, ou seja, a espontânea emissão de radiação vinda
de um material.
Depois, Becquerel demonstrou que a radia-
ção emitida pelo urânio compartilhava certas ca-
racterísticas como os raios X, porém não exata-
mente igual, pois podia ser desviada por um cam-
po magnético (os raios X não) e, por essa razão,
deveria ser composto por partículas com carga elé-
Joseph Thomson (Fonte: universocdz.sites.uol.com.br).
trica. Vejam como um achado pode levar a outro
diferente! Por sua descoberta, Becquerel foi lau-
reado, em 1903, com um Prêmio Nobel em Física.
O estudo dos raios catódicos levou a mais uma outra descober-
ta importante. Joseph John Thomsom observou que esse fenômeno
é independente do gás e do metal utilizado no cátodo. Ele demons-
trou que os raios catódicos podiam ser interpretados como um fei-
xe de partículas carregadas negativamente e que possuíam massa.
Mas que relação essas partículas tinham com os átomos da
matéria? Até essa época, ninguém havia suspeitado que pudes-
sem existir coisas menores do que os átomos que os químicos
estudavam.
Em 1897, Thomson sintetizou seus estudos na idéia segundo a
qual a matéria, quaisquer que sejam suas propriedades, continha
partículas de mesmo tipo cuja massa é muito menor que a dos
átomos dos quais elas são parte. Essa linha de pensamento le-
vou à descoberta de um corpo menor do que o átomo do hidro-
gênio, e disso resultou a identificação das partículas que deno-
minou corpúsculos. Essas partículas elementares de carga ne-
gativa contribuíram de modo significativo para a revolução cientí-
fica do século XX, mediante o conhecimento da estrutura do áto-
mo. Elas ficaram conhecidas como elétrons e deram nome a sua
área de aplicação: a eletricidade.

202
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

Com seus resultados, Thomsom propôs que o átomo não fosse


maciço, mas sim um fluido homogêneo e quase esférico com carga
positiva, no qual estavam dispersos, também de maneira homogê-
8
aula
nea os elétrons. Podemos fazer a analogia desse modelo atômico
com um pudim recheado de uvas passas, em que a massa seria po-
sitiva e as passas seriam as partículas negativas.
Diante de tantos grandes sucessos científicos que haviam ocor-
rido por volta de 1900, alguns físicos pensavam que a Física estava
praticamente completa. Será isso mesmo? Não havia mais ques-
tões a serem solucionadas? Acho que não foi bem essa história
que ocorreu, afinal não falamos de alguns personagens bem co-
nhecidos do público em geral, como Einstein, não é mesmo? O
que será que ele conseguiu de novidade nesse campo de conhe-
cimento que parecia esgotado?

Modelo de pudim de ameixas de Thomson


(Fonte: http://www.if.ufrgs.br).

203
Introdução à Física

N esta aula, foi possível verificar como novas descobertas


em ciência freqüentemente provocam desenvolvimen-
tos em áreas completamente diferentes, da Química à Medicina.
Por exemplo, as descoberta dos raios catódicos estimulou várias
pesquisas que conduziram à descoberta dos
raios X, da radioatividade e uma mudança no
CONCLUSÃO
modelo atômico até então proposto.
Novos fenômenos foram descobertos, no-
vas leis foram estabelecidas, além das propostas de resultados
teóricos bastante gerais. Foi um momento de grandes sínteses
em áreas aparentemente diversas da Física: Eletromagnetismo,
com união da Eletricidade, do Magnetismo e da óptica; a Mecâ-
nica Estatística, com a união da Mecânica e da Termologia. Por-
tanto, os maiores sucessos da Física do século XIX não foram as
descobertas de novos fenômenos, mas sim resultados teóricos
que reuniram os principais fenômenos físicos estudados e mu-
daram a forma de vê-los.
A convergência das idéias e a excelente explicação do mun-
do macroscópico obtida pelos físicos, nesse período, parecia ter
solucionado todas as dúvidas da física do mundo natural. Seria
o fim das pesquisas em Física? Será que as dúvidas haviam mes-
mo se esgotado?

(Fonte: www.fcf.usp.br).

204
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

RESUMO

Vimos que no início do século 19, a busca da composição


8
aula
da matéria conduziu ao ressurgimento da teoria atômica,
sugerida pelos gregos antigos Leucipo e Demócrito. Nessa
busca, vários elementos químicos foram identificados, mas não eram
agrupados de forma a mostrarem qualquer relação uns com os ou-
tros. Até que Mendeleev os agrupou na tabela periódica, organi-
zando as informações, inclusive prevendo com ela a existência de
elementos ainda não identificados.
Continuando as investigações sobre eletricidade estática pro-
duzida em diversos fenômenos e acrescentando busca por explica-
ções racionais para os fenômenos naturais em medicina, como a
eletricidade animal, chegou-se a invenção da pilha, que depois teve
uma infinidade aplicações. Na tentativa de explicar a eletricidade
animal, a discussão gerada entre as propostas do médico Galvani e
o físico Volta provou que às vezes duas teorias podem estar corre-
tas, mesmo quando parecem tão divergentes.
Apesar de tantas descobertas sobre a eletricidade, vimos que os
fenômenos eletromagnéticos, essenciais para a nossa vida e nosso
conforto, só foram compreendidos definitivamente no final do sécu-
lo 19, com os trabalhos de Faraday e Maxwell. O eletromagnetismo
conseguiu inicialmente unir duas áreas de estudo que eram totalmen-
te separadas antes - a eletricidade e o magnetismo.
Essa síntese foi apenas um primeiro passo, pois o estudo dos
fenômenos eletromagnéticos levou, na segunda metade do século
XIX, à previsão de ondas eletromagnéticas com a mesma velocida-
de da luz. Essas ondas foram depois criadas experimentalmente
por Hertz, e confirmou-se que elas tinham propriedades muito se-
melhantes a das ondas luminosas. Concluiu-se então que a luz era
um tipo especial de ondas eletromagnéticas, de alta freqüência, e
assim a óptica passou a ser uma parte do eletromagnetismo.
O desenvolvimento da termodinâmica também culminou em
uma outra síntese. Embora os fenômenos térmicos possam ser es-

205
Introdução à Física

tudados sob o ponto de vista puramente macroscópico (daquilo


que se observa e mede), os físicos começaram a imaginar modelos
microscópicos para explicar os fenômenos gasosos e assim se de-
senvolveu a termodinâmica. A temperatura passou a ser uma indi-
cação da energia cinética média das moléculas do gás e foi possível
relacionar o calor específico dos gases à sua composição molecular.
As leis probabilísticas aplicadas ao estudo dos movimentos das
partículas da matéria permitiram explicar a segunda lei da
termodinâmica a partir de um modelo mecânico. Com isso, conse-
guiu-se uma síntese entre a mecânica e a termologia: nasceu a Me-
cânica Estatística.
Vimos que foi nessa época que se determinou a velocidade da
luz. E apesar da crença geral da existência do éter como meio ne-
cessário para sua propagação, o experimento de Michelson e Morley
demonstrou que o éter não existia realmente, e que a velocidade da
luz é constante, isto é, não muda.
Nas últimas décadas do século XIX foram estudadas descargas
elétricas em gases rarefeitos, em que primeiro descobriu-se os raios
catódicos. Depois, a partir desses mesmos raios, descobriu-se os
raios X, que logo se mostraram muito úteis em várias áreas. A partir
dos estudos sobre os raios X, que hoje sabemos são associados com
movimentos de elétrons, chegou-se a descoberta da radioatividade,
que é uma propriedade dos núcleos atômicos. E ainda, com o uso
dos mesmos raios catódicos foi proposto um novo modelo atômi-
co, no qual o átomo deixava de ser indivisível para ser composto de
partículas com cargas elétricas negativas em uma massa de carga
positiva. Iniciava-se a conexão entre a teoria atômica e as proprie-
dades elétricas da matéria.
Com tantos bons resultados muitos estudiosos de Física acha-
vam que já conheciam os princípios e as leis fundamentais do fun-
cionamento do universo. Havia apenas algumas “pequenas dúvi-
das” a serem sanadas. Será?

206
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

ATIVIDADES

Quais foram os temas mais investigados pelos cientistas no período


8
aula
descrito nessa aula? Em que teorias e descobertas eles culminaram?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Foram diversos os temas. A busca de explicações racionais para


os fenômenos naturais em medicina, como as explicações de
Mesmer sobre fluidos corporais e a conexão entre a eletricidade
e a geração de movimentos musculares. Ainda na busca pelas
respostas sobre os fenômenos ligados a eletricidade estática,
juntou-se investigações sobre o magnetismo e a luz, que
culminaram com a teoria que os sintetizava no
eletromagnetismo. O estudo dos fenômenos gasosos, que levou
ao nascimento da teoria cinética dos gases e a Mecânica
Estatística. Investigações sobre descargas elétricas em gases
rarefeitos que conduziram a descoberta dos raios X, da
radioatividade e também da proposta de um novo modelo
atômico, cujo átomo não seria mais “indivisível”, mas seria
composto de cargas negativas e positivas.

207
Introdução à Física

ATIVIDADES

Você é capaz de conectar a famosa história fantástica de


Frankenstein da escritora britânica Mary Shelley com os experimen-
tos de Galvani? Comente suas idéias.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Frankenstein é um romance de terror, o qual relata a história


de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que
constrói um “monstro” em seu laboratório. Frankenstein
interessa-se pelas ciências naturais indo estudá-la na
Universidade. Victor procura seus futuros mestres, que lhe
apresentam as “modernas” ciências naturais do século XIX.
Empenhado em descobrir os mistérios da criação, Victor estuda
febrilmente e acaba encontrando o segredo da geração da vida:
o fluxo elétrico. Ele usa o fluxo proveniente dos raios para
criar um ser humano gigantesco, usando restos mortais de várias
pessoas.
Mary Shelley escreveu a história entre 1816 e 1817, e a obra
foi primeiramente publicada em 1818. Provavelmente ela
também estava impressionada com os resultados de Galvani
divulgados cerca de 25 anos atrás. Pode-se notar que o poder
exercido pelos cientistas sobre a Natureza é o tema principal
da obra, e encaixa-se no espírito da época.
Uma curiosidade, Shelley, de apenas 19 anos, havia sido
incumbida pelo Lord Byron de escrever uma história de horror.
Parece que ela teria “visto” um estudante “dando vida a uma
criatura”. Provavelmente um choque elétrico teria provocado
movimentos em um animal morto, como ocorreu na rã nos
experimentos de Galvani. Assim, Shelley teria ligado essa idéia,
a de dar vida a um ser humano já morto através de raios.

208
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

ATIVIDADES

Diga como a pesquisa em química, evolução genética, eletricidade,


8
aula
magnetismo e óptica, vistas aqui, influenciam sua vida hoje.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Você conseguiria imaginar nosso mundo sem energia elétrica?


E sem nossos equipamentos fantásticos como o computador,
através do qual você está fazendo esse curso a distância? Sem
falar em coisas muito mais simples, como o rádio em que todos
gostam tanto de ouvir música ou saber notícias. E a medicina?
Estaríamos ainda morrendo de simples gripes se não fossem as
investigações desses gênios. Então, penso que tanto você como
eu devemos muito a esses caras, não?

209
Introdução à Física

ATIVIDADES

Comente os fatos que levaram os cientistas a acreditarem que a


física já seria uma ciência completa no final do século 19. Comente
também por que eles não estavam corretos.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Uma série de fatos levou a essa conclusão: a mecânica do século


XIX tornou-se capaz de explicar movimentos complexos, era
capaz de estudar os movimentos de líquidos e gases; teoria
eletromagnética era capaz de explicar fenômenos elétricos,
magnéticos e até mesmo unificou a luz como uma onda
eletromagnética. Até mesmos técnicas matemáticas muito
sofisticadas já haviam sido desenvolvidas pelos físicos.
Diante dos grandes sucessos científicos que haviam ocorrido
em 1900, parecia que realmente não havia nada mais a ser
descoberto. Alguns físicos, como Lord Kelvin, pensavam que
a Física estava praticamente completa. Ele, por exemplo, chegou
a recomendar que os jovens não se dedicassem à Física, pois
faltavam apenas alguns detalhes pouco interessantes a serem
desenvolvidos, como o refinamento de medidas e a solução de
problemas secundários.
Mas as questões que se puseram aos Físicos até meados do
século XIX estavam relacionadas com partículas de dimensões
apreciáveis (o mundo macroscópico) e que se movem com
velocidades muito inferiores à da luz, visto que eles não tinham
instrumentos para fazer observações desse “outro mundo”.
Foram essas duas "pequenas coisas", no entanto, que
desencadearam o surgimento das duas teorias que
revolucionaram a Física no século XX: a teoria da relatividade
e a teoria quântica.

210
A grandes sínteses dos fenômenos naturais

PRÓXIMA AULA

As explicações dos fenômenos propostas no século XIX


8
aula
teriam levado ao fim das questões em física? Quais foram
os novos fatos e as idéias que levaram personagens como
Einstein novamente a revolucionar a física? Onde estão os
limites dessa ciência hoje. Isso é o que veremos na próxima aula.

REFERÊNCIAS

FRANCO, H. Curso de evolução dos conceitos da Física do IFUSP.


Disponível em <http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d>. Acesso em
01/02/2008.
GREGORY, F. The history of Science 1700 - 1900. Course
Guidebook. Chantilly: The Teaching Company, 2003.
MACEDO, C. A. Apostila do Curso de Introdução à Física da UFS.
São Cristóvão, 2006.
MARTINS, R. A. A Física no final do século XIX: modelos em crise.
Disponível em <http://www.comciencia.br/reportagens/fisica/
fisica05.htm>. Acesso em 18/02/2008.
Portal de ensino de Física da USP. Disponível em <http://
efisica.if.usp.br>.
VALERIO, M. E. G. Notas de aula do Curso de Introdução à Físi-
ca da UFS. São Cristóvão, 2006.
http://hpdemat.vilabol.uol.com.br/Biografias.htm.

211
1
livro

SÉCULO 20 E A “NOVA FÍSICA”


9
aula
META
Mostrar como as aparências em
ciência realmente enganam e que
a física no século XX fez com que
todos tivessem que reavaliar todos
os seus conceitos mais básicos
sobre o mundo.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
identificar evolução histórica e
contextualizar as grandes
contribuições científicas ocorridas
nos séculos XX;
comparar as grandes mudanças
conceituais da física ocorridas no
século XX;
reconhecer como os novos conceitos
influenciaram a humanidade; e
exemplificar coisas em nosso dia-dia
fundamentadas na ciência dos
séculos XX.

PRÉ-REQUISITOS
O aluno deverá observar o
Representação de um buraco negro (Fonte:
movimento dos carros. Primeiro http://imagine.gsfc.nasa.gov).
parado em algum lugar na rua.
Depois, de dentro de um deles.
Deverá refletir sobre o passar do
tempo: Uma hora sempre parece
durar o mesmo tempo pra você ou
às vezes parece mais longa e em
outras o tempo voa? Se for
possível, assistir os filmes:
“Contato”, e “O Santo”.
Introdução à Física

A prendemos na aula passada que a mecânica do século XIX


tornou-se capaz de explicar movimentos complexos, como
os dos piões; estudou os movimentos de líquidos e gases; e desen-
volveu técnicas matemáticas muito sofisticadas com a chamada “me-
cânica analítica”. Sob o ponto de vista da
tecnologia, esses conhecimentos foram aplica-
INTRODUÇÃO
dos no desenvolvimento de novos meios de
transporte - grandes navios, submarinos, ba-
lões dirigíveis e até os precursores da asa-delta.
Embora inicialmente fosse apenas um assunto para pesquisa
científica, a teoria eletromagnética, também desenvolvida nessa
época, logo levou a resultados práticos importantes. Foram
construídos dínamos que produziam eletricidade a partir do movi-
mento, e nas duas últimas décadas do século 19 foram construídas
grandes usinas termoelétricas para geração de eletricidade. Dessa
forma, o uso doméstico e industrial da eletricidade começou a se
tornar possível. As lâmpadas elétricas substituíram gradualmente
os lampiões e a iluminação a gás. Os motores elétricos começaram
a ser utilizados para várias finalidades. A eletricidade também re-
volucionou as comunicações.
Com todas essas inovações, o final do século 19 foi uma fase
de excessivo otimismo. Muitos estudiosos de Física achavam que
já conheciam os princípios e as leis fundamentais do funcionamen-
to do universo. Não haveria mais nada muito inovador para ser
feito em física!
Mas as questões que se puseram aos Físicos, até meados do
século 19, estavam relacionadas com partículas de dimensões apre-
ciáveis e que se moviam com velocidades muito inferiores a da luz.
Sem instrumentação que lhes permitisse observar o comportamen-
to de partículas de dimensões atômicas (cerca de 10-10 m), nem pos-
sibilidades de atingir velocidades da ordem da velocidade da luz (3
x 108 m/s), os cientistas apenas se preocupavam com o estudo do
mundo macroscópico.
Assim, a maior parte dos cientistas não percebia a existência

214
Século 20 e a “Nova Física”

do grande número de fenômenos inexplicados e de problemas teó-


ricos e conceituais pendentes. Apesar de Lord Kelvin estar dentre
eles e pensar que a Física estava praticamente completa, ele tam-
9
aula
bém mencionava que existiam “duas pequenas nuvens” no hori-
zonte da física: os resultados negativos do experimento de Michelson-
Morley e a dificuldade em explicar a distribuição de energia na radi-
ação de um corpo aquecido, a radiação de corpo negro.
Pois foram essas duas “pequenas nuvens”, no entanto, que de-
sencadearam o surgimento das duas teorias que revolucionaram a
Física no século XX: a teoria da relatividade e a teoria quântica.
Pois é, a física se mostrava uma área aberta, instigante e inte-
ressante novamente. Havia uma infinidade de questões a serem res-
pondidas!

Albert Einstein (Fonte: http://www.maniacworld.com).

215
Introdução à Física

E m 1905, um jovem cientista alemão, que havia sido rejei-


tado como professor universitário e por isso trabalhava
em um escritório de patentes, publicou 5 trabalhos que
mudariam radicalmente a física depois deles. Seu nome era Albert
Einstein. Num desses trabalhos, Einstein ex-
O MOVIMENTO plicou o que seria o movimento browniano,
BROWNIANO que nada mais é que o movimento aleatório
de partículas macroscópicas num fluido como
consequência do choque, entre elas e o fluido. Isso também pode
ser observado quando a luz incide em lugares muito secos, onde
macropartículas “flutuam” em movimentos aleatórios, e que vul-
garmente confunde-se com poeira, ou em grãos de pólem, como ha-
via sido observado pela primeira vez pelo botânico Robert Brown.
Brown havia achado que se tratava de uma nova forma de vida, pois
ainda não se tinha completa ciência da existência de moléculas, e as
partículas pareciam descrever movimentos por vontade própria.
O francês Jean-Baptiste Perrin resolveu, então, em1908, fazer
experimento para verificar a sugestão de Einstein. Moléculas de
água, praticamente do mesmo tamanho de um átomo, poderiam
empurrar as partículas bem pequenas, mas ainda visíveis ao mi-
croscópio, como de grãos de resina vegetal. De fato, ele registrou e
mediu os saltos que elas davam nas colisões.
Boing, boing, boing. Que movimento frenético!!
Por meio dessas medidas, Perrin deduziu o tamanho das molé-
culas que empurravam os grãos de resina. Eram exatamente o ta-
manho que se esperava, e a partir de então a existência dos átomos
passou realmente a ser aceita, colocando um fim na disputa de dois
mil anos sobre a existência dos átomos e moléculas.
Mas você pode me perguntar para que isso serve? Ficar estudando o
movimento alatório de grãos de pólen? Que coisa chata e sem utilidade!
Pois é, é aí que você se engana! Há um padrão escondido nesse
movimento aleatório. Hoje em dia, os físicos estudam tal movi-
mento que está diretamente ligado com muitas reações em nível
celular, como a difusão e a formação de proteínas. Por incrível que

216
Século 20 e a “Nova Física”

pareça, também serve para descrever flutuações de preços de mer-


cadorias, a condutividade elétrica em metais e a ocorrência de chei-
as nos rios. Uma observação de um movimento aparentemente ino-
9
aula
cente de Brown revelou-se muito mais importante do que parecia.
E agora, você está convencido de que foi importante estudá-lo?

A TEORIA ATÔMICA

OK, vamos voltar aos átomos. Já se sabia que eles devem con-
ter os elétrons, descobertos por Thomson em 1897, que co-
mentamos na aula passada. Também se sabia que os átomos
são neutros, portanto devem conter a carga positiva que com-
pensa a negativa. O que não se sabia era como essas cargas
estão distribuídas, isto é, não se sabia estrutura dos átomos.
O neozelandês Ernest Rutherford realizou, em 1911, experi-
mentos que lhe permitiram verificar que o átomo tem um
núcleo central minúsculo, no qual fica concentrada toda car- Modelo de Thomson

ga positiva e quase toda sua massa. Ele sugeriu que o resto


da massa atômica, menos de 1 milésimo do total, estava associada
aos elétrons que giram em torno do núcleo.
Então, isso mudou radicalmente a idéia daquele modelo pro-
posto do pudim de passas?
Isso mesmo! Esse modelo atômico (chamado o
modelo de Rutherford) era parecido com o sistema
solar, em que temos o Sol (o núcleo), com sua imensa
massa no centro, e os planetas (elétrons) orbitando em
torno dele. O problema desse modelo foi que os mo-
vimentos dos elétrons foram considerados com base
Modelo de Rutherford
na teoria eletromagnética existente. Por essa teoria,
qualquer carga que se move de maneira não uniforme deve emi-
tir ondas eletromagnéticas, perdendo ao mesmo tempo sua pró-
pria energia. Aplicado isso ao modelo de Rutherford, significa
que os elétrons perdiam gradualmente sua energia, e daí suas

217
Introdução à Física

órbitas deveriam ficar cada vez mais próximas do núcleo até


colidirem com ele. Como isso não acontece, o modelo atômico
de Rutherford foi abandonado.
Mas dois anos depois, o dinamarquês Niels Bohr resolveu o
problema! Ele introduziu algumas idéias que na época foram con-
sideradas ousadas, pois contrariavam todo conhecimento adqui-
rido pelos físicos. Bohr sugeriu que os elétrons poderiam girar só
em algumas órbitas determinadas, e que neste caso eles não irra-
diavam energia. Imagine o elétron como um
equilibrista sobre uma corda (órbita). É claro
que ele não pode sair dessa órbita para o espa-
ço vazio. Para passar para outra corda, ou órbi-
ta, ele tem que saltar exatamente de uma para
outra. Essa idéia de Bohr contribuiu bastante
para o desenvolvimento de uma nova teoria fí-
sica que descreve o mundo microscópico – a
teoria quântica.
Mas ainda não se sabia bem do que o nú-
cleo era composto, isto é, a sua estrutura. Só se
Modelo de Bohr.
sabia que ele continha a carga positiva, concen-
trada em partículas chamadas prótons. Então,
em 1932, o inglês James Chadwick detectou o nêutron, a outra par-
tícula sem carga componente dos núcleos atômicos junto do próton
e que resolvia um outro problema que era a distribuição de massa.
Pronto. Agora sabíamos tudo sobre os átomos, não é mes-
mo? Temos um núcleo, com prótons e nêutrons, com elétrons
girando em torno deles.
Engano!!! Como veremos, a história não se encerra aí!

NASCIMENTO DA MECÂNICA QUÂNTICA

Os físicos, no final do século 19, se deparavam com um outro


“pequeno” problema não solucionado: o estudo da distribuição de
energia da radiação emitida por sistemas conhecidos como corpos

218
Século 20 e a “Nova Física”

negros. Um corpo negro, em física, é um corpo que absorve toda a


radiação que nele incide: nenhuma luz o atravessa nem é refletida.
Apesar do nome, corpos negros produzem radiação eletromagnéti-
9
aula
ca, conhecida como radiação térmica.
Este fenômeno é explicável qualitativamente pela teoria clás-
sica, mas tornou-se insuficiente para fornecer uma descrição quan-
titativa. O problema finalmente foi resolvido em 1900, por Max
Planck que estudou uma cavidade capaz de aprisionar certa quanti-
dade de luz e tentou calcular a energia total con-
centrada lá dentro. Fazendo suposições e cálculos Idéia de Planck:
consitentes com a termodinâmica e o pacotes de luz
eletromagnetismo, ele achou uma fórmula matemá-
tica ajustando dados experimentais de maneira satisfatória. Mas ele
ficou espantado porque suas contas só davam certo quando supu-
nha que a cavidade possui uma infinidade de minúsculos “pacotes”
de luz.
Através de sua pesquisa, Max Planck mostrou
que qualquer objeto emite radiação eletromagnéti- Quanta e fótons
ca discretamente em “pacotes”. Planck chamou es-
ses pacotes de quanta, plural de quantum. Em 1926, o químico
Gilbert N. Lewis chamou pela primeira vez estes quanta de fótons,
denominação usada hoje.
Hertz já havia comprovado existência das ondas eletromagnéti-
cas. Mas ao mesmo tempo em que gerou ondas de rádio, Hertz obser-
vou outro fenômeno: a incidência de luz sobre um objeto metálico
provocava uma corrente elétrica (o efeito fotoelétrico). Na verdade, o
efeito fotoelétrico é a emissão de elétrons por um material quando
exposto a uma radiação eletromagnética de frequência suficientemen-
te alta. Einstein trabalhou em cima da idéia de Planck. Para ele os
quanta seriam uma nova espécie de partículas: os “átomos de luz”.
Então, mais um de seus trabalhos de 1905 foi a proposta da quantização
da radiação eletromagnética para explicar o efeito fotoelétrico.
Todos esses resultados estavam em contradição com a teoria
clássica da luz como uma mera onda contínua. A teoria de Einstein

219
Introdução à Física

do efeito fotoelétrico afirmava que a luz tinha em certo momento


um comportamento corpuscular (Ih, lembra-se da proposta de
Newton?), isso porque a luz demonstrava carregar corpos com quan-
tidades discretas de energia.
Então voltamos à polêmica? Seria a luz uma onda ou uma par-
tícula? Ninguém vai acabar com essa polêmica não?
Pior! Agora o mesmo espectro que rondava nossa compreensão
da natureza da luz era estendido aos elétrons. Em 1923, o francês
Luz = ondas?
Louis-Victor-Pierre-Raymond de Broglie propôs que as partículas
Luz = partículas?
também agem como ondas. Para ele, o elétron irá aparecer ora como
uma partícula, ou seja, um concentrado de matéria, ora como onda,
como se sua massa estivesse espalhada pelo espaço, oscilando.
O austríaco Wolfgang Pauli pôs mais pimenta nesse molho:
enunciou o princípio quântico da exclusão. Esse princípio implica,
por exemplo, na impossibilidade de termos dois elétrons com ca-
racterísticas idênticas em um átomo ou molécula. O princípio de
exclusão de Pauli é um dos mais importantes princípios da física,
basicamente porque os três tipos de partículas que formam a maté-
ria ordinária - elétrons, prótons e nêutrons - têm que satisfazê-lo.
Em 1927, os físicos norte-americanos Clinton Davisson, Lester
Germer e George Paget Thompson (filho do J.J., que descobriu o
elétron) produziram a difração de elétrons, demonstrando que os
elétrons também agem como ondas. Olha só que curioso, o pai J.J.
ganhou o Prêmio Nobel de Física de 1906, por provar a existência
do elétron como partícula e seu filho
ganhou o mesmo prêmio em 1937, por
provar que ele era uma onda! Fantásti-
co, não?
Finalmente, o passo decisivo para
o estabelecimento da mecânica quântica
foi dado em 1927, pelo alemão Werner
Carl Heisenberg, com o Princípio da In-
Heisenberg (Fonte: http:// certeza, sobre o qual se baseia quase
www.atomicarchive.com).
toda a física moderna. De acordo com

220
Século 20 e a “Nova Física”

ele, não é possível medir com absoluta precisão, ao mesmo tempo,


a velocidade e a posição dos átomos. Ao medir uma velocidade, o
cientista sempre perturba o átomo, tirando-o um pouco de sua po-
9
aula
sição. Esta, então, já não pode ser estimada com todo o rigor, e
vice-versa: quando se tenta descobrir a posição do átomo, modifi-
ca-se sua velocidade, e a medição fica prejudicada.
Juntando todas essas idéias o austríaco Erwin Schrödinger criou,
em 1927, uma nova imagem dos átomos, aplicando
a mecânica ondulatória à teoria atômica. Os elétrons, Nascimento da mecâ-
agora, não se parecem mais com partículas girando nica quântica
em torno do núcleo atômico. Em vez disso, tudo se
passa como se a massa dos elétrons estivesse espa-
lhada em volta do núcleo, ou seja, como se cada elé-
tron fosse uma onda vibrando ao redor do núcleo.
No entanto, os elétrons continuam também a serem
vistos como partículas em órbita. Eles mudam de as-
pectos conforme as circunstâncias, ora aparecendo
como partículas, ora como ondas.
Avanços teóricos resultaram, em 1940, na substi-
tuição do eletromagnetismo clássico pela
eletrodinâmica quântica. Também, esses resultados
Erwin Schrödinger (Fonte: http://
levaram ao desenvolvimento de versões quânticas para osulibrary.oregonstate.edu).
a mecânica estatística, chamada estatística de Fermi-
Dirac e estatística de Bose-Einstein, cada uma aplicá-
vel à classes diferentes de partícula.
Com isso acabou-se a polêmica. Os elétrons po-
Elétrons = particulas?
diam se comportar como ondas e as ondas também
Elétrons = ondas?
podiam se comportar como partículas, ou quanta.
Opa, então é daí que vem o nome mecânica quântica?
Isso mesmo! Portanto, na Teoria Quântica, tanto a radiação
quanto as partículas, ora se parecem com partículas, ora se pare-
cem com ondas!
Mas e daí? Pra que serve isso? Isso muda alguma coisa em
minha vida?

221
Introdução à Física

Um efeito quântico que pode ser observado macroscopicamente


é a supercondutividade. A descoberta de materiais supercondutores,
em 1987, pelo alemão Johannes Georg Bednorz e o suíço Karl Alex
Müller causou grande impacto. Os materiais supercondutores são
capazes de conduzir eletricidade sem resistência, ou seja, não há
perda de energia. Desde o início do século se sabe que a
supercondutividade ocorre em metais, como o níquel, mas apenas
a cerca de 270ºC negativos. Nas cerâmicas, mais práticas, a resis-
tência fica zero em condições mais amenas, de 96ºC negativos. Essa
descoberta possibilitou um grande desenvolvimento nas pesquisas
mundiais de supercondutores, no sentido de se conseguirem mate-
riais que funcionem a temperaturas cada vez mais elevadas. O de-
senvolvimento de bobinas com materiais supercondutores está sendo
aplicado, por exemplo, na construção de MagLevs, trens que levi-
tam, ou em aparelhos de ressonância magnética nuclear, que geram
imagens médicas de pacientes. E supercondutividade é só um exem-
plo das milhares de aplicações da mecânica quântica!

REAVALIANDO OUTROS CONCEITOS

Mas você pensa que as mudanças dos conceitos pararam por aí?
Engano total se sua resposta foi sim. Esse período de tantas
novas descobertas trouxe consigo mais uma alteração importante.
Tivemos também que reavaliar o velho conceito de que tanto o
espaço quanto o tempo são absolutos.
Não entendeu? Vamos explicar isso então!
Veja esse exemplo: o tempo parece passar muito rápido quan-
do você faz alguma coisa muito legal? E um minuto não iria parecer
uma eternidade se você estivesse sentado sobre uma chapa muito
quente? Afinal, o passar do tempo não lhe parece relativo?
Pois é! Então vamos ao início dessa história: foi Galileu quem
introduziu na ciência moderna o princípio da relatividade, pois afir-
mava que o movimento só tem algum significado quando compara-
do com algum outro ponto de referência.

222
Século 20 e a “Nova Física”

Por exemplo, o movimento de um ônibus é bem diferente se


você está dentro ou fora dele, ou seja, você o está observando de
pontos de referência diferentes. O ônibus está em movimento em
9
aula
relação a nós quando o esperamos no ponto, mas ele também pode
estar parado em relação a nós quando
estamos sentados em um de seus bancos
dentro dele. Nesse último caso, sabemos
que ele está se movendo, pois observa-
mos as coisas do lado de fora se move-
rem em relação ao ônibus, e claro, em re-
lação a nós.
Agora imagine que estamos em uma
nave espacial em uma região do espaço muito
afastada de qualquer outro corpo. Não há
nenhum meio de sabermos se estamos para-
dos ou em movimento. Certo?
Na mecânica de Newton não se ques-
tionava a validade de seus conceitos;
como por exemplo a questão sobre o
referencial no qual são feitas as medidas
ou a influência do método de medida so-
bre as grandezas em questão. O primeiro
a questionar alguns conceitos desse tipo
foi o físico alemão Ernst Mach. Em seu texto intitulado “The Science
of Mechanics” de 1883, Mach levantou a questão sobre a distinção
entre movimento absoluto e relativo, discutiu o problema da inér-
cia dos corpos e, acima de tudo, apontou
como ponto fraco a concepção de espaço e O tempo é medido pelo movimento
tempo absolutos. repetitivo de um corpo
Mach observou que se o tempo é me-
dido necessariamente pelo movimento repetitivo de um corpo ou
sistema físico (por exemplo, um pêndulo ou o movimento da Terra
– dia, noite, ano) é óbvio que suas propriedades devem, de alguma
forma, estar conectadas com o movimento. Da mesma forma, ele

223
Introdução à Física

afirmava que o conceito de espaço deve estar intimamente ligado


com as propriedades do sistema de medida, e não deve ser conside-
rado como algo absoluto.
Tais críticas não causaram muito efeito de imediato, mas
foram de profunda importância para o jovem físico Einstein.
Einstein foi fortemente atraído pelas idéias de que os conceitos
físicos devem ser definidos em termos de grandezas mensuráveis.
Portanto, a maneira de observação e realização de medidas físi-
cas deve influenciar esses conceitos. Este pensamento gerou uma
revolução na Física, culminando com o aparecimento da Teoria
da Relatividade.
Sabe quando ela foi publicada? Novamente: em 1905! É isso
aí. Por isso esse ano é chamado de miraculoso.

TEORIA DA RELATIVIDADE

Vamos voltar ao exemplo da nave espacial. Ainda estamos den-


tro da nave no espaço longe de tudo, mas agora observamos uma
outra nave se aproximando. É possível saber se somos nós ou a
outra nave que está em movimento?
A resposta é não! Não é possível saber! Não existe movimento
absoluto!
Segundo o princípio da relatividade de Galileu, não existe siste-
ma de referência absoluto pelo qual todos os outros movimentos pos-
sam ser medidos. A partir desse princípio, Galileu elaborou um con-
junto de transformações compostas de cinco leis para sintetizar as
leis do movimento. As leis de Newton, por exemplo, estão em total
acordo com o Princípio de Relatividade de
“Não existe sistema de referência
Galileu.
absoluto”.
Galileu Desde Galileu se sabia que medidas
laboratoriais de processos mecânicos nunca
podiam mostrar diferenças entre um equipamento em repouso e
um outro que estivesse em movimento com velocidade constante
em linha reta. Por exemplo, calcule a velocidade de um ônibus vin-

224
Século 20 e a “Nova Física”

do em sua direção no ponto. Se ele não estiver acelerando nem


freiando, você pode calcular a velocidade simplesmente dividindo
o espaço percorrido por ele (x) pelo tempo decorrido (t): v=x/t.
9
aula
Porém, se você estivesse dentro de um carro em movimento fazen-
do essa mesma medida durante o mesmo intervalo de tempo, a ve-
locidade do ônibus iria parecer diferente,
mas o tempo não, certo?
Entretanto, nem todas as leis da física
são consideradas universais e independen-
tes do observador. O físico holandês
Hendrik Antoon Lorentz e outros compro-
varam que as equações de Maxwell, que
governam o eletromagnetismo, não se com-
portam da mesma forma quando o siste-
ma de referência muda.
Você se lembra da aula passada do ex-
perimento de Michelson-Morley? Com ele
verificou uma exigência da teoria do
eletromagnetismo: a velocidade c da luz é
Galileu Galilei (Fonte: http://www.df.ufpe.br).
constante, não muda. No entanto, pelo
princípio da relatividade de Galileu, a ve-
locidade c deveria variar. Para eliminar esse impasse, foi necessário
fazer c=c’, ou seja, supor que o tempo t variava simultaneamente a
variação do comprimento x percorrido pela luz, de forma a manter
c sempre constante. Designando t’ como novo valor de t, podere-
mos escrever: c=x/t=x’/t’

225
Introdução à Física

ATIVIDADES

Vamos fazer um cálculo: se a luz percorre uma distância x, com a


velocidade c num tempo t, no referencial R, dividimos distância
percorrida pelo tempo e podemos encontrar a velocidade através
de: c=x/t. Em relação a outro referencial R’, a distância percorrida
será diferente, x’, mas como o tempo t deve permanecer absoluto e
imutável, como prevê a Mecânica Clássica, teremos: c’=x’/t.
Qual seria a conclusão na mecânica clássica?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Classicamente concluímos que a velocidade c deve se alterar


para o valor c’. Ou seja, em um novo referencial, a velocidade
da luz deveria mudar, já que x mudou, mas t não mudou. Certo?
Mas o experimento de Michelson-Morley mostrou que
velocidade da luz não mudava! Ué? Xiii, algo deu errado?!!

Foi Einstein quem primeiro propôs essas idéias fazendo uso de


relações formuladas por Lorentz. Essa análise acabou com o espaço
e tempo absolutos: o tempo e o espaço devem variar segundo o siste-
ma de referência, confirmando a invariância da velocidade da luz no
vácuo e eliminando a necessidade de qualquer
“Tempo e espaço variam”. meio (como o éter) para a luz se propagar.
Einstein
Então, em 1905, Einstein revolucionou a fí-
sica, apresentando essa sua nova teoria, denomi-
nada Relatividade Especial, que descreve a física do movimento na ausên-
cia de campos gravitacionais. Ela foi imediatamente reconhecida pelos
físicos como uma das maiores conquistas do intelecto humano. A Teoria
da Relatividade demonstrou, desde então, que passou por todos os testes
e experimentos construídos para desafiá-la. Todas aquelas certezas, ba-
seadas nas leis mecânicas de Newton, tiveram que ser revistas.
Einstein trocou os conceitos independentes de espaço e tem-

226
Século 20 e a “Nova Física”

po da Teoria de Newton pela idéia de espaço-tempo como uma


entidade geométrica. Não é possível um corpo se mover nas di-
mensões espaciais sem se deslocar no tempo. Mas mesmo quando
9
aula
não nos movemos espacialmente, estamos nos movendo na di-
mensão temporal (no tempo). Este movimento é tão válido na
geometria do espaço-tempo quanto os que estamos habituados a
ver em nosso dia-a-dia. Na presença de uma massa surge uma
distorção da geometria do espaço-tempo. Isto é o efeito que se
costuma chamar de gravidade.
A confirmação prática disso veio em 1919, através de observa-
ções astronômicas feita por duas equipes de cientistas britânicos
lideradas por Arthur Stanley Eddington, uma no Brasil (em Sobral, Arthur Schopenhauer
no estado do Ceará) e outra na ilha Príncipe, ao oeste da África. Filósofo prussiano
Através delas verificou-se que a luz de uma estrela distante sofre (1788/1870). Interessa-
va-se por política, mo-
um pequeno desvio ao passar, em seu caminho rumo à Terra, muito ral, literatura, filosofia,
perto do Sol. A física clássica, anterior a Einstein, não previa que a estilo e metafísica e es-
creveu O Mundo como
luz fosse afetada pela gravidade. O teste de Eddington foi decisivo Vontade e Representa-
para a aceitação da nova teoria. ção (1836).

Algumas conseqüências dessa teoria são consideradas bizarras


por muitas pessoas. Isso é perfeitamente compreensível, pois estas
conseqüências estão relacionadas a comparações entre observadores
movimentando-se a velocidades próximas a da luz.
Ao estudar física você provavelmente percebe- “A descoberta da verdade é
impedida mais efetivamente
rá que uma das lições da ciência é que a aparência é
não pela falsa aparência das
muito enganadora. Desconfie, pois, da obviedade! coisas presentes que nos leva
Por exemplo, a massa de um objeto nunca pare- ao erro, e não diretamente pela
ce mudar, não é mesmo? Um pião girando parece ter fraqueza dos poderes do racio-
cínio, mas sim pela opinião pré-
o mesmo peso de quando ele está parado. Assim uma
concebida, pelo preconceito”.
“lei” tinha sido criada: a massa é constante, inde-
pendentemente de sua velocidade. Einstein era bas-
tante desconfiado!, E juntando conhecimento prévio com idéias
geniais mostrou que essa “lei” sobre as massas estava incorreta. Na
sua Teoria da Relatividade a massa aumenta com a velocidade.
Mas então, por que não observamos essas mudanças?

227
Introdução à Física

Isso ocorre porque um aumento apreciável requer velocidade


próxima a da luz! Afinal Newton não estava completamente erra-
do. A verdade é que se um objeto se mover com uma velocidade
muito menor que a da luz a massa parecerá constante para nós.
Ah, então você pode pensar que na prática a nova lei não faz
nenhuma diferença significativa.
Carl Sagan Bem, sim e não. Para velocidades ordinárias podemos certamente
esquecê-la e usar a simples lei de massa constante como uma boa apro-
Biólogo e astrônomo
norte-americano (1934/ ximação. Mas para velocidades elevadas nós estaremos errados, e quanto
1996). Pesquisou so-
maior a velocidade, mais errados estaremos. Na prática essa teoria foi
bre vida extraterrestre,
colaborou com a empregada, por exemplo, nos conceitos para a produção de energia
NASA nos estudos
nuclear. Seja em reatores para produzir eletricidade, seja em armas
sobre Venus, Marte e
Saturno e publicou, nucleares, essa nova teoria fez uma diferença enorme, não acha?
entre outros livros, O
Na verdade, Einstein apresentou, em momentos diferentes, duas teo-
Mundo Assombrado
Pelos Demônios. rias: da Relatividade Restrita, em 1905, e da Relatividade Geral, em 1915;
que, porém formam uma só. Einstein ampliou sua Teoria da Relatividade
para englobar os efeitos da força da gravidade. Com ela,
“Existem muitas hipóteses pela primeira vez, os físicos passaram a ter fórmulas que
em ciência que estão erradas. podiam ser aplicadas ao Universo inteiro. É por meio des-
Isso é perfeitamente aceitá-
sas fórmulas que, mais tarde, se calculou a expansão das
vel, elas são a abertura para
achar as que estão certas”. galáxias após uma grande explosão inicial, o Big Bang.
A Teoria da Relatividade Geral tem implicações
profundas no nosso conhecimento. Mas não vamos
entrar em detalhes agora. Deixe a curiosidade lhe invadir e procure
as respostas em livros e nas disciplinas futuras desse curso!
E sabe do que mais, apesar do impacto gerado pela Teoria da
Relatividade, não foi por esse trabalho que Einstein ganhou o Prê-
mio Nobel da Física de 1921, mas sim pela correta explicação do
efeito fotoelétrico. Cara incrível esse tal de Einstein, hein?

DAS PARTÍCULAS PARA O UNIVERSO

Você já parou pra pensar por que um monte de prótons ficam lá


juntinhos no núcleo, que é tão pequeno? Afinal, eles todos têm

228
Século 20 e a “Nova Física”

Você sabia que já fizemos contato com seres em outros


planetas? Após uma grande batalha para conseguir fundos e
manter um projeto de procura por sinais de vida extraterres-
9
aula
tre, a doutora Ellie Arroway descobriu e decodificou uma
mensagem enviada à Terra por seres que habitam um siste-
ma planetário em Vega.
Claro que isso não passa de ficção científica. Mas é de ótima
qualidade e apresenta personagens que poderiam ser bem
reais no mundo científico. Contato é um filme dirigido por
Robert Zemeckis, adaptado em 1997 do romance homônimo
do cientista norte-americano Carl Sagan, tendo como atriz
principal Jodie Foster no papel da Drª Arroway. O filme conta
a história de Eleanor Arroway, uma radioastrônoma, e sua
incessante busca por contato com alguma civilização
extraterreste. O filme mostra em muitos momentos os confli-
tos e dificuldades encontrados por cientistas, além de de-
monstrar as divergências de pensamentos existentes entre a
religião e a ciência e como elas influem na vida de Ellie e no
processo de construção de uma máquina para viajar pelo
espaço, cujas instruções ela havia recebido dos próprios
alienígenas.

carga positiva, e cargas de mesmo si-


nal se repelem, como você já viu lá ´
no ensino médio. Se você não pen-
^
sou, outra pessoa já fez isso: o nome ´
dele era Hideki Yukawa. O japonês
Yukawa, em 1935, pensou numa for-
ça que devia ser muito mais forte que ^ ^
a repulsão eletromagnética e assim ´
“grudar” os prótons e os nêutrons uns
aos outros dentro dos núcleos atômi-
^ ´
cos: a força nuclear forte. Apesar de
Yukawa não chegar a formular uma
teoria completa, ela ainda hoje auxi-
lia os físicos de partículas a tentar en-
tender o Universo.

229
Introdução à Física

Por falar em partículas, o inglês Paul Adrien Maurice Dirac, em


1932, já havia previsto matematicamente a existência do anti-elétron,
chamado de pósitron, que é a antimatéria do elétron. Anti-quê???
Antimatéria: isso significa que o elétron e o pósitron são idên-
ticos em tudo, menos na carga elétrica, que é negativa no primeiro
e positiva no segundo. Como o pósitron é a anti-partícula do elé-
tron, quando se juntam, ambos desaparecem, e no lugar deles surge
apenas radiação eletromagnética. Pura energia!!
Isso está parecendo filme de fic-
ção científica!
Não! Isso é a mais pura realida-
de. O norte-americano Carl David
Anderson provou que o pósitron re-
almente existe. Hoje sabemos da exis-
tência de muitas outras partículas e
anti-partículas. E mais, há poucos
anos atrás, em 1995, uma equipe do
Centro Europeu de Pesquisas Nucle-
ares, o CERN, conseguiu montar o pri-
Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Fonte: http://
www.orbit.zkm.de). meiro antiátomo de hidrogênio.
Uau! Até então, todos haviam fracassado na tentativa de juntar
um pósitron e um antipróton para construir um átomo inteiro. Com
o sucesso do CERN, o próximo passo será fazer antiátomos maio-
res, com maior número de antiprótons e pósitrons.
Tudo aquilo o que nos cerca (casas, carros, ar, luz), tudo o que
existe no universo, é formado pela união de um número incontável
de partículas subatômicas. Bom, se as partículas formam os átomos
e os átomos formam todo o resto, então, pensando no número de
átomos necessários para formar uma gota d’água, você já pode ter
uma idéia do número aparentemente infinito de partículas contidas
apenas nessa gota. Agora pense no universo! Nossa!!
Vivemos em um mundo formado por partículas e experimen-
tamos os efeitos das interações entre elas em nosso cotidiano. É a
partir dessas experiências que formamos nosso conceito de realida-

230
Século 20 e a “Nova Física”

de e descrevemos o funcionamento da natureza que nos cerca. Co-


nhecemos 4 interações fundamentais: a gravitacional, a eletromag-
nética, a forte, que mantém o núcleo estável, e a fraca responsável,
9
aula
por exemplo, pelas desintegrações nucleares.
Os americanos Steven Weinberg e Sheldon Lee Glashow e o
paquistanês Abdus Salam estavam preocupados com essas interações
e como descrevê-las de uma forma melhor. Então, em 1968, cria-
ram uma fórmula única para calcular os efei-
tos de duas forças fundamentais do Universo: Unindo forças:
a eletromagnética e a nuclear fraca. A prova teoria eletrofraca
de que estavam certos veio em 1983, quando
o ítalo-americano Carlo Rubbia detectou um a partícula subatômica
chamada de Z0, que havia sido previsto na teoria da força eletrofraca,
confirmando que é uma mistura das forças eletromagnética e nu-
clear fraca. Os três teóricos conquistaram o Prêmio Nobel de Físi-
ca em 1979 e Rubbia ganhou o de 1984. Hoje a busca é pela união
de todas as outras forças numa só.
Ah, então o mundo é feito dessa partículas, como elétron,
prótons e nêutrons, que são as menores porções da matéria. Certo?
Errado! Ops, veja que surpresas ainda iriam nos assombrar. Em
1972, o teórico americano Murray Gellmann apareceu com a teoria
de que partículas como o próton e o nêutron eram feitos de coisas
ainda menores, chamadas quarks. Pois não é que sua teoria explica
muito bem vários fenômenos naturais! A cromodinâmica quântica,
baseada nesses quarks, explica não apenas a constituição de prótons
e nêutrons como a dos mésons e dos híperons, outras partículas
conhecidas. Hoje, assume-se que a matéria é constituída por 6
quarks, que são partículas elementares que formam os prótons,
nêutrons, e outras, e 6 léptons (um deles é o elétron). E essas for-
mam os átomos, que formam as moléculas, que formam as subs-
tâncias... O estudo dessas partículas influi diretamente na compre-
ensão do universo e gera explicações sobre sua origem, como a te-
oria do Big- bang, que diz que ele teria surgido de uma explosão de
um ponto com densidade infinita.

231
Introdução à Física

Nesse campo há ainda muito mais pra contar: viagens espaci-


ais, expansão do universo, buracos negros, super novas,... Ih, mas
acho que não vai dar pra contar tudo agora! Ficou curioso? Pois
então, vamos lá. Você escolheu o curso certo pra desvendar esses
mistérios: Física!!!

Se você gosta de leitura de ficção deve ler o livro “Anjos e


Demônios” de Dan Brown, o mesmo escritor do famoso “O
Código Da Vinci”. Nele há citações sobre a matéria e anti-
matéria, do CERN, e uma série de outras referências à ciência,
sob o olhar de um leigo. Vale como diversão, pois há enormes
falhas científicas nas descrições. Mas é uma forma de ilustrar
como a ciência fascina a mente das pessoas.

DA REVOLUÇÃO CONCEITUAL PARA A


REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA

Você viu no fim da aula passada, que no finalzinho do século


19 aconteceu a descoberta dos raios X por Röntgen e da radioativi-
dade por Becquerel. Pois é, após a divulgação dessas estranhas
emissões de radiação vinda de alguns materiais, houve um pequeno
período de grande interesse por este fenômeno e um intervalo de
cinco anos sem maiores descobertas. Até que, ao iniciar os estudos
para obter seu doutorado, Marie Sklodowska-Curie interessou-se
pelo fenômeno observado por Becquerel.
Opa, acho que é a primeira mulher a ser citada em todas essas
aulas de história da ciência, não? Finalmente, ufa!!
A relativa negligência de Becquerel com relação aos raios foi uma
das razões que fizeram Marie Curie decidir estudá-los, além de ser um
excelente assunto para ser apresentado como tese de doutorado.
Marie e seu marido, Pierre, souberam desta estranha emanação
e que ela ionizava o ar (separava cargas elétricas negativas e positi-
vas) à volta do material. Sendo Pierre um mecânico talentoso que
preferia fazer sua própria aparelhagem, eles desenvolveram um

232
Século 20 e a “Nova Física”

método com o qual podiam medir o quanto era radioativa uma


amostra de material com relação a outra. Então, em 1903, Marie e
Pierre divulgaram suas descobertas sobre a radioatividade de deter-
9
aula
minados materiais. A partir disso muitas pessoas se interessaram
pelas pesquisas neste campo. Dentre estas pessoas, estava
Rutherford, que já citamos lá nos modelos atômicos.
Em seu primeiro ensaio escrito, Rutherford observou que as
substâncias radioativas têm alto peso atômico e sua radioatividade
parece ser independente de seu estado químico. O que confundia
era o fato de não haver fonte para a emissão desta energia. Em
1899, ele publicou um ensaio, em que afirmava o fato de que as
emissões radioativas são compostas de, no mínimo, dois tipos dife-
rentes de “raios” (raios beta, que penetram através de grossas bar-
reiras; e os raios alfa, que levavam uma carga bem maior mas não
atravessavam nem mesmo uma fina barreira).
Para compreender a explicação de Rutherford sobre a radioati-
vidade, era preciso um salto de imaginação muito grande com rela-
ção a qualquer uma das duas explicações já existentes. Radioativi-
dade é uma manifestação da desintegração dos núcleos atômicos.
Quando o rádio, por exemplo,
emite radiação, e se transfor-
ma em outro elemento, está en-
viando partículas subatômicas:
minúsculos elétrons e partícu-
las maiores (embora extrema-
mente pequenas) com cargas
positivas, bem como raios gama, que são ondas eletromagnéticas mais
energéticas do que a luz visível. Todos os elementos mais pesados,
como se verifica, são inerentemente radioativos.
Tempos depois, Pierre, Marie e Becquerel fizeram ensaios nos
quais mostraram que os raios beta eram, de fato, idênticos às partí-
culas com cargas negativa que J. J. Thomson havia descoberto. Marie,
junto com seu marido Pierre Curie e Becquerel, foi laureada com o
Prêmio Nobel de Física de 1903. Ela ainda recebeu o Nobel de

233
Introdução à Física

Química de 1911 pela descoberta dos elementos químicos rádio e


polônio, e Rutherford recebeu esse mesmo prêmio, em 1908.
Mas a interação responsável pela desintegração atômica só se-
ria determinada em 1934, pelo italiano Enrico Fermi. Fermi não
tinha ainda exatamente uma teoria dessa força, chamada posterior-
mente de nuclear fraca, ele apenas elaborou uma fórmula aproxi-
mada para calcular sua intensidade.
Claro que tantas novas idéias levaram a uma infinidade de ino-
vações tecnológicas. No início do século XX, houve um grande
desenvolvimento no campo da eletrônica, basicamente com o de-
senvolvimento da válvula, seguido pelos transistores criados em
1948 pelos americanos John Bardeen, Walter
Olha a Física mudando Brattain e William Shokley. Daí foi um pulo para
o mundo os estudos de telecomunicações e a ciência da com-
putação. Muito se avançou na forma de transmis-
são da informação e no processamento dessas informações. Coisas
bastante positivas, afinal você não estaria aqui cursando física a
distância sem ajuda do computador!
Mas mesmo com pontos tão positivos, algumas tecnologias
desenvolvidas a partir dos novos conhecimentos tiveram um lado
“negro”: seu uso nas guerras!
Um exemplo do uso das novas descobertas na guerra foi o ra-
dar. Em 1917, Tesla concebeu uma estação emissora que emitiria
ondas exploratórias de energia, permitindo que seus operadores de-
terminassem com precisão a localização de veículos inimigos dis-
tantes. Ele apresentou seu trabalho ao departamento de guerra dos
EUA, mas foi ridicularizado. Porém, uma geração mais tarde, esta
mesma invenção, o radar, ajudou os aliados a vencer a segunda
guerra mundial.
No início do século XX, muitos grandes cientistas tiveram pro-
blemas por causa anti-semitismo na Alemanha. Por exemplo, o ale-
mão Einstein era odiado pelos nacionalistas por seu pacifismo e
por sua origem judaica.
Em 1933, os alemães Otto Hahn, Fritz Strasmann e junto da

234
Século 20 e a “Nova Física”

austríaca Lise Meitner estavam em busca da elucidação do fenôme-


no que ocorria com o bombardeamento do urânio com neutrons,
quando descobriram a fissão nuclear. Meitner, de origem judaica,
9
aula
foi quem provou que a divisão do átomo de urânio libera energia,
que por sua vez causa fissão em mais átomos liberando neutrons e
assim sucessivamente, dando origem a uma série de fissões nuclea-
res com liberação contínua de energia, num processo denominado
reação em cadeia. Meitner reconheceu o poten-
cial explosivo desse processo, mas ficou de fora A Física e a guerra
na entrega do prêmio Nóbel a Hahn pela desco-
berta, pois havia fugido da Alemanha durante as pesquisas e não
teve como provar na época sua participação.
Uma vez que a idéia da fissão foi aceita, Hahn continuou em Berlim
suas experiências demonstrando a enorme quantidade de energia que a
fissão nuclear com neutrons produz, que seria útil para a fabricação de
armas nucleares. Ele publicou seus resultados em janeiro de 1939, que
imediatamente foram confirmados no mundo inteiro. Tal descoberta
fez com que outros cientistas se juntassem para convencer Einstein,
que já gozava de uma excelente reputação, a escrever uma carta ao
Presidente americano, alertando-o sobre os perigos das armas nu-
cleares. Einstein era profundamente pacifista, mas a Alemanha
Nazista também estava investigando tais armas para si.
Então, em 1941 deu-se início ao Projeto Manhattan, que foi um
esforço para desenvolver as primeiras armas nucleares pelos EUA,
com o apoio do Reino Unido e do Canadá. A pesquisa foi dirigida
pelo fisico americano J. Robert Oppenheimer. Uma equipe liderada
por Enrico Fermi, que também havia fugido para os EUA, conse-
guiu estabelecer a primeira reação nuclear em cadeia auto-susten-
tada, necessária para a fabricação da bomba.
O projeto concluiu produção e detonação de três bombas nu-
cleares em 1945: a primeira, detonada em forma de teste no Novo
México, no dia 16 de julho; logo em seguida, em 06 de agosto, os
EUA lançaram a bomba atômica sobre Hiroshima e três dias depois
lançaram outra sobre Nagasáqui, ambas no Japão.

235
Introdução à Física

(Fonte: http://img57.imageshack.us).

Quem sabe qual destino teria a humanidade caso tivessem sido


os nazistas que fizessem primeiro a bomba? Parece que foi bom que
tantos gigantes da ciência fossem de origem judaica, e por isso não
estivessem na Alemanha. Mas quem realmente sabe com certeza?
OK, a bomba atômica também não é o único produto dessa
fissão nuclear. A energia gerada na fissão pode ser usada para um
fins bem mais nobres: gerar energia elétrica, em pesquisas de pro-
priedade da matéria, na produção de produtos usados na medicina,
etc. O primeiro reator nuclear, no qual se provoca a fissão contro-
lada do urânio, foi construído em 1942 nos EUA sob coordenação
do Italiano Enrico Fermi.
Bem, a fissão é a quebra do núcleo atômico, e gera essa enorme
quantidade de energia. Mas você sabia que a fusão, ou seja, a união de
dois núcleos pode gerar mais energia por unidade de massa obtida?
Uau? Mais energia? É!!
O primeiro a estudar isso foi o alemão Hans Bethe, em 1938.
Ele estava estudando a produção da energia solar e estelar, quando
explicou que essa energia é produzida por reações nucleares. Nes-
sas reações, quatro núcleos de hidrogênio se fundem para formar
dois núcleos de hélio. E Bethe foi um dos primeiros que haviam
perdido emprego na Alemanha Nazista.

236
Século 20 e a “Nova Física”

Até hoje não se conseguiu um reator de fusão que renda ener-


gia. Quer dizer, ainda se gasta mais energia pra produzir a fusão do
que se consegue com ela, pois não é nada fácil produzi-la. Afinal,
9
aula
são necessárias temperaturas
altíssimas que nenhum mate- Se você gosta de filmes de
rial agüentaria manter. Portan- Hollywood há um muito
to, para juntar os núcleos, pre- divertido sobre a tal fusão a
cisamos de campos eletro- frio. O filme se chama “O
Santo”, protagonizado pro
magnéticos. Em 1982, na Uni- Val Kilmer e Elisabeth Shue.
versidade de Princeton, EUA, A grande física, interpretada
foi realizada a primeira fusão por Shue, consegue obter a
nuclear controlada, por 5 se- tal fusão e resolve o proble-
ma de aquecimento que a
gundos, a 100.000ºC. Rússia está sofrendo com a
Imagine se você fosse ajuda do ladrão, interpreta-
capaz de conseguir a fusão do por Kilmer. Claro que
a frio: Ficaria rico e famoso, está muito longe da realida-
de, mas mesmo assim é
não é? divertido!
Pois o inglês Martin
Fleishmann e o americano
Stanley Pons afirmaram, em 1989, ter obtido fusão nuclear à tem-
peratura ambiente (a fusão “a frio”). Logo depois, Fleishmann ad-
mitiu ter se enganado.

NO BRASIL

Poxa, cadê os brasileiros? E no Brasil, não acontece nada de


interessante?
Claro que acontece, mas a proporção de fatos de impacto inter-
nacional é bem pequena, pois não temos tanto dinheiro e tanta infra-
estrutura para realizar tais descobertas. Mas nossos cientistas tam-
bém colaboram em muito para as renovações. Lembre-se que a his-
tória das ciências é construída todos os dias por todos aqueles que
se esforçam em investigar e compreender a estrutura e o funciona-
mento da natureza. As idéias, as técnicas e as práticas que imagi-

237
Introdução à Física

nam para investigarem a Natureza, as entidades,


os princípios e as leis que descobrem, as múltiplas
instituições que criam, as aplicações que planejam
- todas essas coisas modelam as ciências. E claro
que nós brasileiros estamos incluídos nisso.
Um exemplo famoso ocorreu na descober-
ta do méson, em 1947, pela equipe do inglês
Cecil Frank Powell. O brasileiro César Lattes
estava entre eles. Outro fato famoso que en-
volveu o Brasil foi a comprovação da teoria
da relatividade de Einstein. A observação foi
feita em Sobral, no nordeste brasileiro. Mas
isso é pouco pra falar da participação brasilei-
ra. Durante o curso de física você ficará sa-
bendo muito mais detalhes da participação bra-
César Lattes (Fonte: http://www.algosobre.com.br).
sileira no desenrolar da história e do que nós
estamos fazendo hoje.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A


HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Citamos alguns nomes e fatos importantes ligados à evolução do


conhecimento humano sobre o mundo físico. Centenas de outros po-
deriam ser acrescentados. É muito difícil concentrar tantos anos de
pensamentos filosóficos, pesquisas experimentais e teóricas sobre as
ciências naturais em apenas algumas aulas. Penso que você agora
tem um panorama geral do que aconteceu nesse período e pode pro-
curar mais informações sobre os detalhes que mais lhe interessaram.
Discutimos como a ciência interfere e é interferida pela socie-
dade. Vimos que são as condições históricas de uma determinada
sociedade que favorecem ou não a ampliação do saber. Mas, o mais
importante é entendermos que a evolução obtida não é resultado
da ação individual de alguns homens notáveis e, sim, obra coletiva,
da qual você também poderá participar um dia.

238
Século 20 e a “Nova Física”

ATIVIDADES

Cite os trabalhos publicados por Einsten em 1905 e comente o que


9
aula
mudou no mundo com eles.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Em 1905, o jovem rebelde e contestador Einstein estava


trabalhando como técnico de terceira classe em um escritório
de patentes em Berna (Suíça). Sem título de doutor e rejeitado
pela comunidade acadêmica, nesse ano ele publicou cinco
trabalhos, todos de excelente qualidade.

O primeiro artigo deste ano miraculoso foi publicado com o


título “Sobre um ponto de vista heurístico concernente à geração e
transformação da luz”. O artigo tratava da radiação e das proprie-
dades energéticas da luz. É nele que Einstein formula a lei do efei-
to fotoelétrico. Sob vários aspectos, esse trabalho ocupa um lugar
de destaque na história da física. Em primeiro lugar ele retoma a
interpretação corpuscular da luz, uma idéia defendida por Isaac
Newton e que fora abandonada com o triunfo da teoria ondulatória
da luz com o estabelecimento das equações de Maxwell. Nesse tra-
balho, Einstein propôs o que mais tarde ele mesmo classificaria
como a idéia mais revolucionária de sua vida: a luz, sob certos as-
pectos, apresenta uma natureza corpuscular. Portanto estava pro-
posta a dualidade onda-partícula.
O segundo artigo, “Sobre uma nova determinação das dimen-
sões moleculares”, foi aceito como sua tese de doutoramento na
Universidade de Zurique, em 1906. O artigo tratava de um novo
método para determinar as dimensões das moléculas e o número
de Avogadro. Como os átomos e as moléculas não podiam ser
observados diretamente através dos microscópios existentes na
época, Einstein precisou desenvolver uma outra maneira para obter

239
Introdução à Física

os seus resultados: utilizando a viscosidade de um líquido e o


coeficiente de difusão de uma substância imersa neste líquido.
O terceiro artigo, “Sobre o movimento de partículas suspensas
em fluidos em repouso, como postulado pela teoria molecular do
calor”, trata do movimento Browniano. Nele descreve que o movi-
mento desordenado observado é resultado do choque entre as mo-
léculas de água, que estão em movimento, com os grãos de pólen.
Em seu artigo, Einstein fez previsões à respeito das propriedades
dos átomos que podiam ser testadas experimentalmente, o que foi
comprovado por Perrin, eliminando as dúvidas em relação à exis-
tência de moléculas que se tinham na época.
O quarto artigo, “Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movi-
mento” era, segundo Einstein, “apenas um esboço grosseiro” sobre a
eletrodinâmica dos corpos em movimento, usando uma modificação
da teoria do espaço e tempo. Mas esse “esboço” continha o primeiro
trabalho sobre a teoria da relatividade restrita. No quinto artigo “A
inércia de um corpo depende da sua energia?” Einstein propõe sua
famosa equação E=mc2. Numa carta Einstein comenta: “Ocorreu-
me mais uma conseqüência do artigo sobre a eletrodinâmica (dos
corpos em movimento). O princípio da relatividade, em conjunção
com as equações de Maxwell, requer que a massa seja uma medida
direta da energia contida num corpo; luz transporta massa com ela.”
Esse dois o levou a criar a teoria da relatividade geral, que trata de
questões gravitacionais e cosmológicas, que destruiria o caráter ab-
soluto atribuído, durante séculos, ao tempo e ao espaço.
Seus trabalhos tiveram uma enorme repercussão, tanto no meio
científico, como no grande público e o respeito por ele adquirido
transformaram-no, em menos de cinco anos, de jovem marginali-
zado pelos cientistas, em disputado cientista para proferir confe-
rências em eventos de prestígio e para trabalhar em renomados
centros de pesquisa.

240
Século 20 e a “Nova Física”

ATIVIDADES

Você conhece a célebre relação de Einstein,


9
aula
E= mc2
que admite que uma partícula em repouso possui energia (E) (em
qualquer forma) em forma de massa (m) de um corpo, em que c é a
velocidade da luz? Ela foi proposta na teoria da relatividade de
Einstein. Faça as contas de quanto a massa de uma nota de um real
(cerca de 1 g) equivale em energia?

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Lembre-se 1 g = x 10-3 kg
Substituindo na equação de Einstein
E = (1 x 10-3 kg) × (3 x 108 m/s)2 = 9 x 1016 Joules)
Se formos comparar, essa energia equivale a cerca de = 21 kt
de TNT
(ou seja, 21 kilotons de dinamite!)
Por exemplo, as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki
tiveram uma explosão equivalente a 21 kt de TNT.

241
Introdução à Física

ATIVIDADES

Comente a mudança filosófica, sobre o mundo que nos cerca,


provocada pelos dos resultados da teoria da Relatividade de Einstein
que modificaram a teoria clássica.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Filosoficamente nós estamos completamente errados com a


lei aproximada. Nosso retrato inteiro do mundo tem que ser
alterado mesmo que a massa mude só um pouquinho. Esta é
uma coisa muito peculiar sobre a filosofia, ou as idéias, por
trás das leis. Mesmo um efeito muito pequeno às vezes requer
mudanças profundas em nossas idéias.

PRÓXIMA AULA

Com tantos ramos de estudo, como atualmente se dividi a física?


Quais são seus campos de atuação? O que se faz neles? Isso
é o que veremos na próxima aula.

242
Século 20 e a “Nova Física”

P ois é, depois dessa aula podemos dizer que a física moder-


na não representa a matéria como passiva e inerte, mas em
contínuo movimento de dança e vibração, cujos padrões rítmicos
são determinados pelas estruturas moleculares, atômicas e nuclea-
9
aula
res. A teoria da relatividade demonstrou que a
atividade da matéria é a essência de sua existên-
CONCLUSÃO
cia. A existência da matéria e sua atividade não
podem ser separadas, são aspectos diferentes de
uma mesma realidade espaço-temporal - exatamente a mesma forma
como os místicos orientais encaram o mundo material.
Mudamos de idéia? O místico e o religioso passaram a fazer par-
te da física? Difícil afirmar qualquer coisa. Em geral, os físicos ten-
tam afastar as idéias místicas da realidade científica. Mas na realida-
de, mesmo aquilo que é tido como certo e imutável pode muito bem
deixar de fazer o menor sentido de uma hora para outra – por exem-
plo, pela descoberta de uma nova teoria física em nosso mundo.
Esteja preparado para os novos passos da ciência. Quando
tudo parece já estudado, muito bem estabelecido, pode vir uma
avalanche de teorias e fatos que vão mudar tudo o que conhece-
mos. É assim que caminha a ciência, e é por isso que é tão diver-
tido trabalhar com ela!

Tomografia do crânio (Fonte: http://www.scielo.br).

243
Introdução à Física

RESUMO

Após meados do século XIX, a Mecânica Newtoniana não


conseguia explicar de um modo convincente, o comporta-
mento de sistemas de partículas que se moviam com veloci-
dades perto do valor da velocidade da luz ou de sistemas de partí-
culas com dimensões atômicas. Na busca de soluções dessas dúvi-
das ocorre uma revolução nos conceitos estabelecidos.
O princípio de relatividade proposto por Einstein destruiu o
caráter absoluto atribuído, durante séculos, ao tempo e ao espaço.
A descoberta de que as ondas eletromagnéticas poderiam ser
explicadas como uma emissão de pacotes de energia (chamados
quanta) conduziu ao ramo da física que lidava com sistemas atômi-
cos e subatômicos. A Teoria Quântica é incompatível com alguns
conceitos usuais da mecânica clássica, como por exemplo, prevê
que a energia do elétron deve ser quantizada.
O princípio de relatividade e da quantização levaram ao enten-
dimento de diversos fenômenos e a novas previsões, tais como a
existência de anti-matéria. Tornou-se possível liberar energia com a
fissão atômica, que levou a produção das bombas, mas também a
produção energética em usinas nucleares.
A radioatividade dos núcleos, observada no início do século
XX, é registrada por diversos cientistas, dentre eles destaca-se a
primeira mulher ganhadora do Prêmio Nobel, Marie Curie. Surgem
diversas propostas sobre a estrutura nuclear, e detectam-se seus
componentes. Mas a ciência continua sua investigação e chega a
conclusão de que existem mais partículas do que aquelas que exis-
tem nos átomos. E mais, conclui-se que toda matéria do universo é
constituída, na sua essência, por partículas fundamentais menores
ainda, e que compõe essas partículas: 6 quarks e 6 léptons.
Há o estabelecimento das 4 interações fundamentais que de-
terminam todas as propriedades da matéria: Gravitacional, Eletro-
magnética, Fraca e Forte. Com o desenvolvimento, mostra-se que a
força eletromagnética e força fraca são uma só, a força eletrofraca.

244
Século 20 e a “Nova Física”

Com os progressos da física do século XX, chegamos a triste apli-


cação na produção e detonação das bombas nucleares. Mas também se
tornaram possíveis a aquisição, transmissão e armazenamento de da-
9
aula
dos de forma espantosa, como a que vemos hoje com nossos compu-
tadores sem fio, celulares; vemos ainda trens que levitam; viagens es-
paciais; detecção e cura com formas incríveis para diversas doenças, e
um grande número de aplicações positivas dessa produção científica.

REFERÊNCIAS

FRANCO, H. Curso de evolução dos conceitos da Física do


IFUSP. Disponível em <http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d>.
Acesso em 20/02/2008.
GREGORY, F. The history of Science 1700 - 1900. Course
Guidebook. Chantilly: The Teaching Company, 2003.
MACEDO, C. A. Apostila do Curso de Introdução à Física da
UFS. São Cristóvão, 2006.
MARTINS. R. A. A Física no final do século XIX: modelos em
crise. Disponível em <http://www.comciencia.br/reportagens/
fisica/fisica05.htm>. Acesso em 20/02/2008.
Portal de ensino de Física da USP. Disponível em <http://
efisica.if.usp.br>.
Revista Ciência Hoje Online. Disponível em <http://
cienciahoje.uol.com.br>. Acesso em 20/02/2008.
VALERIO, M. E. G. Notas de aula do Curso de Introdução à
Física da UFS. São Cristóvão, 2006.
http://educar.sc.usp.br/licenciatura/trabalhos/relat.htm.
http://hpdemat.vilabol.uol.com.br/Biografias.htm consultado em 20/
02/2008.
http://satie.if.usp.br/relatividade.pdf.

245
1
livro

ESTRUTURA GERAL
DA FÍSICA
10 aula
META
Apresentar a estrutura dos
tópicos estudados nos
cursos de física.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno
deverá discernir e justificar
a estrutura dos tópicos
estudados nos cursos de
física.

PRÉ-REQUISITOS
O aluno deverá conhecer Cientista trabalhando em computador (Fonte:
todas as áreas da física que http://www.unicamp.br).
estudamos nas aulas
anteriores e tentar fazer
uma classificação com elas.

Cientista no laboratório (Fonte: http://


www.unicamp.br).
Introdução à Física

B em, vamos voltar ao conceito do que é a física. A física é o


campo da ciência cujo objetivo é a investigação dos com-
ponentes da matéria e das suas interações mútuas. Ela procura ex-
plicar as propriedades gerais da matéria, assim como os demais fe-
nômenos e estruturas fundamentais da natu-
reza. Então, dentro de campo tão vasto pare-
INTRODUÇÃO
ce caber uma infinidade de subdivisões de áreas
de estudo, não é mesmo?
Mas até o século XIX, em geral, os cientistas que se dedicavam
à física faziam modelos matemáticos que permitiam entender os
resultados das suas experiências, ou pequenas experiências que lhes
permitiam corrigir os seus modelos matemáticos sem que houvesse
realmente separação entre as físicas teórica e experimental. Mas
com a enorme sofisticação dos métodos matemáticos e laboratoriais
que despontam a partir do século XX, tornou-se necessário uma
maior especialização em uma ou outra destas áreas. Assim, há uma
primeira grande divisão entre física teórica e física experimental.
A física teórica fica com o objetivo de explicar de modo
racional e prever os fenômenos físicos através de modelos ma-
temáticos e conceitos, junto a técnicas de dedução. Ela também
tem por finalidade elaborar, aperfeiçoar e eventualmente corri-
gir uma determinada teoria e transportá-la a uma linguagem
matemática apropriada.
Já a física experimental tem por objetivo verificar as teorias
propostas através de métodos de observação experimental da natu-
reza. Essas observações podem confirmar uma teoria, como tam-
bém podem levar a novas propostas.
Apesar de distintas, estas duas não são partes independentes
da Física. Pelo contrário! Elas têm uma forte relação de
interdependência e simbiose, afinal um modelo físico não tem inte-
resse ou validade em física teórica se não explica e prevê resultados
obtidos pela física experimental, e também o resultado experimen-
tal necessita de um modelo teórico que o explique para ter o seu
lugar na Física.

248
Estrutura geral da Física

OK, então a física passou por essa primeira divisão. Mas além
dela, já nas aulas passadas, vimos que foram tantos os ramos da
física que surgiram, principalmente nos séculos 19 e 20, que houve
10
aula
a necessidade de subdividir a física em áreas mais especializadas
em um ou outro assunto, mesmo que muitos fenômenos os
interconectem. Pois é isso que veremos na aula de hoje: quais são
as áreas da física.

(Fonte: http://www.meionorte.com).

249
Introdução à Física

N o princípio, as únicas fontes de informação eram os nos-


sos sentidos, por isso os fenômenos observados foram
classificados de acordo com o modo como eram sentidos. O movi-
mento, o mais comum dos fenômenos observados diretamente, deu
origem a mecânica, o primeiro ramo da físi-
ca. A luz foi relacionada com a ação de ver, e
SUBDIVISÕES NA FÍSICA
assim se desenvolveu a óptica. Ao ato de ou-
vir associou-se o som e assim nasceu a acús-
tica. Da correspondência entre o calor e as sensações de quente e
frio, surgiu a termodinâmica. No século XIX surgiu o
eletromagnetismo, neste caso sem estar diretamente relacionado com
qualquer experiência sensorial. No século XX assistiu-se a uma revo-
lução conceitual que modificou os nossos pontos de vista e métodos
de abordagem dos problemas da física, assim como a nossa compre-
ensão dos fenômenos naturais, em particular a estrutura da matéria, e
deu origem às teorias da relatividade e da mecânica quântica.
Atualmente a física apresenta uma visão geral dos fenômenos
naturais e se constituir num todo, que devemos considerar de uma
maneira unificada, consistente e lógica. Mas ela pode ser dividida
em várias áreas, utilizando vários tipos de critérios. Um sistema de
divisão, por exemplo, pode ser feito levando-se em conta a magni-
tude dos objetos em análise.
Objetos? Sim, olhe a natureza ao seu redor. Sobre o que você
está interessado?
Coisas que vemos e podemos tocar? Planetas distantes? Partí-
culas minúsculas invisíveis a olho nu? Na aula passada, as novas
teorias mostraram que a física pode ter muito mais detalhes quando
aumentamos muito a velocidade e/ou diminuímos o tamanho do
objeto em estudo, lembra?
Pois então, essa divisão é muito importante. Temos:
- A física clássica que trata dos objetos que encontramos no nos-
so dia-a-dia.
- A física quântica que trata do universo muito pequeno - dos
átomos e das partículas que compõem os átomos.

250
Estrutura geral da Física

- A física relativística que trata de situações que envolvem gran-


des quantidades de matéria e energia.
Muitas vezes você verá a denominação Física Moderna, que nada
10
aula
mais é do que Física Quântica mais a Relatividade. Nesse caso tere-
mos então a divisão entre física clássica e física moderna.
Outra divisão pode ser feita
de acordo com as propriedades
mais estudadas nos fenômenos.
Daí temos, por exemplo:
- A Mecânica, quando se es-
tudam objetos a partir de seu mo-
vimento ou ausência de movi-
mento, e também as condições
que provocam esse movimento.
- A Termodinâmica, quando
se estudam o calor, o trabalho,
as propriedades das substânci- Acelerador de partículas do Cern (Fonte: http://www.montfort.org.br).
as, os processos que as envol-
vem e as transformações de uma forma de energia em outra.
- O Eletromagnetismo quando se analisam as propriedades elétricas,
aquelas que existem em função do fluxo de elétrons nos corpos.
- A Ondulatória, que estuda a propagação de energia pelo espaço.
- A Óptica, que estuda os objetos a partir de suas impressões
visuais.
- A Acústica, que estuda os objetos a partir das impressões
sonoras;
e mais algumas outras divisões menores.

AS BASES DA FÍSICA

Há um consenso em maior parte da comunidade dos físicos


que as teorias fundamentais da física são as cinco seguintes:
- Mecânica Clássica
- Eletromagnetismo (incluindo a óptica)

251
Introdução à Física

- Física relativística
- Termodinâmica e mecânica estatística
- Mecânica quântica
Os temas básicos da Física devem incluir também os métodos
matemáticos em física. Eles formam uma base para pesquisa de
tópicos mais especializados. Mas o que realmente se estuda através
delas? O que faz parte de cada uma é o que vamos descobrir!

FÍSICA MATEMÁTICA

Física matemática é aquilo que a maioria dos físicos diz que é


matemática e que a maioria dos matemáticos diz que é física!
Ops, brincadeirinha!!
Claro que não é bem assim. É uma área de sobreposição, que
utiliza a modelagem e as ferramentas matemáticas no contexto da
física teórica. Para um físico, é a área com o objetivo de utilizar o
melhor que a Matemática pode oferecer na tentativa de solução
dos inúmeros problemas físicos em aberto.

MECÂNICA CLÁSSICA

A mecânica clássica estuda forças que atuam entre os objetos


com objetivo de descrever, explicar e prever seus movimentos. É
frequentemente referida como mecânica Newtoniana, pois se ba-
seia nas leis de movimento descobertos por Isaac Newton. Mas a
mecânica clássica é frequentemente subdividida em três assuntos:
- Estática, que estuda objetos em repouso e condições de
equilíbrio.
- Cinemática, que estuda o movimento dos objetos sem preo-
cupar-se com as causas desses movimentos.
- Dinâmica, que investiga as causas de movimento, isto é, for-
ças, e suas conseqüências nos estados de movimento.
Há ainda mais subdivisões dentro da mecânica clássica. De-
pendendo do estado da matéria estudada ela também pode ser sub-

252
Estrutura geral da Física

dividida em mecânica de sólidos e mecânica de fluidos, esta última


é responsável pela investigação de líquidos e gases, abragendo áre-
as como hidrostática, hidrodinâmica, aerodinâmica e outras.
10
aula
Então, se você estiver interessado na maioria dos fenômenos
de nossa experiência do dia-dia, será a mecânica clássica que os
descreverá e explicará precisamente. A validade de suas leis ter-
mina quando as velocidades dos corpos são extremamente gran-
des, aproximando-se da velocidade de luz. Neste caso, como já
vimos na aula anterior, as leis da mecânica clássica devem ser
substituídas por leis da mecânica relativística. Outro limite de
validade da mecânica clássica é quando os objetos são extrema-
mente pequenos, aproximando-se ao tamanho das partículas mi-
croscópicas: moléculas, átomos, elétrons... Neste caso, as leis da
mecânica quântica é que devem ser aplicados.
A mecânica clássica é uma teoria muito útil porque o seu
formalismo matemático é bem mais simples e mais fácil de ser apli-
cado, comparando com as outras teorias. Mesmo limitada, sua vali-
dade se aplica em uma faixa grande de dimensões e velocidades.
Ela é usada para descrever o movimento dos corpos de “tamanho
humano”, como bolas, carros e aviões ou objetos astronômicos (pla-
netas e galáxias) e ainda pode ser aplicada a alguns estudos de obje-
tos microscópicos, como moléculas orgânicas.

ELETROMAGNETISMO

Eletromagnetismo é a parte da física que descreve as interações


das partículas carregadas eletricamente com os campos elétricos e
magnéticos. Compreende duas principais áreas:
- Eletrostática, que estuda as interações entre as cargas em re-
pouso, e
- Eletrodinâmica, que investiga a radiação eletromagnética e
as interações entre as cargas em movimento.
A Eletrostática é a responsável pelo estudo dos fenômenos as-
sociados com os objetos carregados que se encontram em repouso.

253
Introdução à Física

Esses objetos exercem as forças entre si, e a partir disso o compor-


tamento deles pode ser analisado.
Mas pra que serve isso?
A eletrostática tem muitas aplicações práticas em uma escala
grande que compreende a explicação de fenômeno de um raio, por
exemplo, até a descrição dos tubos eletrônicos em televisores.
Já os fenômenos associados com os objetos carregados em
movimento, quando existe uma variação dos campos elétricos e
magnéticos, são descritos pela Eletrodinâmica. Como a carga que
se move produz os dois campos: elétrico e magnético, a
eletrodinâmica investiga os efeitos como magnetismo, indução
eletromagnética e radiação eletromagnética. As aplicações prá-
ticas como gerador da energia elétrica e o motor elétrico são
resultados desta teoria.
Como já vimos, essa área de eletrodinâmica, conhecida como
eletrodinâmica clássica, foi fundada e sistematicamente explicada
por Maxwell, cujas quatro equações famosas descrevem os fe-
nômenos eletromagnéticos com alto grau de generalidade. Mas
também já falamos na aula anterior que no século XX foi desen-
volvida a eletrodinâmica quântica que incorpora as leis da me-
cânica quântica para explicar a interação da radiação eletromag-
nética com a matéria. Há ainda uma terceira área, a
eletrodinâmica relativística que introduz correções relativísticas
quando as velocidades das cargas se aproximam a velocidade de
luz. Essa última estuda, por exemplo, fenômenos que aconte-
cem em aceleradores de partículas (lembra do CERN?) ou tubos
eletrônicos com voltagem altíssima.
Os princípios do eletromagnetismo encontram aplicações
em diversas partes, tais como microondas, antenas, máquinas
elétricas, comunicações por satélite, bioeletromagnéticos, plas-
mas, investigação nuclear, fibras óticas, interferência e com-
patibilidade eletromagnética, conversão da energia
eletromecânica, radares meteorológicos e sensoriamento remo-
to. Dispositivos eletromagnéticos incluindo transformadores,

254
Estrutura geral da Física

rádios, televisores, telefones, motores elétricos, linhas trans-


missão, fibras ópticas, etc. Ufa!!
Sintetizando, o eletromagnetismo engloba diferentes áreas de
10
aula
estudo dos fenô-
menos eletromag-
néticos do mundo
real. Por exemplo,
a luz é um campo
eletromagnético
oscilante que é ir-
radiada por partí-
Forno de microondas (Fonte: http://pan.fotovista.com). culas carregadas
acelerada. Fora a
gravidade, a maior parte das forças que experimentamos quotidia-
namente é, em última instância, resultado do eletromagnetismo. Até
mesmo nós não existiríamos sem o eletromagnetismo para manter
os núcleos unidos aos elétrons, os átomos ligados a outros átomos,
as moléculas de nosso corpo...

FÍSICA RELATIVÍSTICA

Como já vimos na aula anterior, a relatividade é uma generali-


zação da mecânica clássica que descreve os movimentos rápidos,
ou sistemas muito massivos. Inclui as teorias da relatividade especial e
geral.
Na teoria da relatividade a gravidade dos corpos deforma o
espaço e o tempo ao seu redor e a mecânica de Newton não serve
para descrever fenômenos físicos relativos a dimensões muito mai-
ores que a do Sistema Solar. O espaço de três dimensões e de linhas
retas é substituído pelo espaço-tempo quadridimensional curvado
pela gravidade.
A relatividade especial destruiu as noções Newtonianas de es-
paço e tempo absolutos por afirmar que a distância e o tempo de-
pendem do observador, e que o tempo e o espaço são percebidos

255
Introdução à Física

de maneira diferente, dependendo do observador. A teoria leva à


afirmação de mudança de massa, dimensão, o tempo e com o au-
mento da velocidade. Também produz a equivalência de matéria e
energia, como expressa na fórmula de equi-
valência massa-energia E = mc², em que c é
Os buracos negros: estrelas podem a velocidade da luz no vácuo. A relatividade
entrar em colapso devido à sua própria
especial e a relatividade de Galileu da me-
gravidade, originando grandes concen-
trações de massa, com gigantesca cânica clássica concordam quando velocida-
atração gravitacional, capazes de engo- des são pequenas em comparação com a ve-
lir tudo ao seu redor, inclusive a luz. locidade da luz. A relatividade especial não
descreve a gravitação; no entanto, ela pode
manipular o movimento acelerado na ausên-
cia de gravidade.
Desde 1919, quando se confirmou a pre-
visão da relatividade geral de que objetos
massivos desviam a luz, muitas outras ob-
servações e experiências têm confirmado
muitas das previsões da relatividade geral.
Como conseqüência da relatividade ge-
ral o Universo deve estar em expansão. Atra-
vés da medida da distância entre as galáxias,
em 1929 foi confirmada essa expansão do
Via Láctea (Fonte: http://vialactea.zip.net).
Universo e proposta a teoria do Big Bang,
ou seja, a explosão que teria originado o Universo. Além disso, inú-
meras observações são interpretadas como uma confirmação de
uma das mais misteriosas e exóticas previsões da relatividade geral,
a existência de buracos negros. Portanto essa parece ser uma área
ainda com uma infinidade de assuntos a serem desvendados.

TERMODINÂMICA E MECÂNICA
ESTATÍSTICA

A termodinâmica estuda os efeitos das mudanças de tempera-


tura, pressão e volume em sistemas físicos na escala

256
Estrutura geral da Física

macroscópica, bem como a transferência de energia como calor.


Em termodinâmica, interações entre os grandes conjuntos de
objetos são estudadas e categorizadas. Nela, um sistema com-
10
aula
posto de partículas tem suas propriedades definidas pela média
do movimento dessas partículas, o que por sua vez estão relaci-
onados entre si através de equações de estado. As propriedades
podem ser combinadas para expressar a energia interna e poten-
ciais termodinâmicos, que são úteis para determinar as condi-
ções de equilíbrio e processos espontâneos.
Já a mecânica estatística analisa sistemas macroscópicos, aplican-
do princípios estatísticos aos seus constituintes microscópicos. Isso
produz um quadro que relaciona as propriedades microscópicas dos
átomos e moléculas individuais com as propriedades macroscópicas
(de um volume) que podem ser observados na vida quotidiana.

MECÂNICA QUÂNTICA

A mecânica quântica é o ramo da física que estuda o movimen-


to de partículas de acordo com suas propriedades ondulatórias
nos níveis atômico e subatômico. Ela trata dos sistemas atômi-
cos e subatômicos e sua interação com a radiação em termos de
quantidades observáveis. É ela que explica as situações em que
os efeitos de ordem microscópica não podem ser desprezados.
A mecânica quântica se baseia na observação de que todas as
formas de energia são liberadas em unidades discretas ou pacotes
chamados "quanta". Ela só permite cálculos prováveis ou estatísti-
cos das características observadas de partículas subatômicas, en-
tendidas em termos de funções de onda.
É ela que nos fornece os recursos teóricos para descrever o com-
portamento fundamental das moléculas, átomos e partículas
subatômicas, assim como da luz e outras formas de radiação. A mecâ-
nica quântica é fundamental para a maioria das áreas de pesquisa atual.
Cada uma dessas teorias fundamentais foi testada em inúmeras ex-
periências e provada ser modelo verdadeiro da natureza dentro dos seus

257
Introdução à Física

limites da validade. Mesmo que elas se en-


contrem em um nível de desenvolvimento
muito alto, continuam a ser áreas ativas
de pesquisa. Um exemplo de destaque é a
mecânica clássica. Você deve pensar que
já não há nada de novo para se pesquisar
nessa área. Mas você se lembra de como
os cientistas no final do século 19 esta-
vam errado pensando que tudo já havia
sido explicado?
Se você havia concordado com eles en-
ganou-se novamente!
(Fonte: http://quanta-development.wikispaces.com). Por exemplo, uma parte interessante
da mecânica clássica, conhecida como te-
oria do caos, só foi desenvolvida no século XX, três séculos depois
dos trabalhos pioneiros de Isaac Newton. A teoria do caos é a hipó-
tese que explica o funcionamento de sistemas complexos e dinâmi-
Neurociência cos. Como por exemplo, a formação de uma nuvem no céu. Pense
Ramo que estuda o sis- quais são os fatores que a desencadearam, muitos não? O calor, o
tema nervoso, especial-
frio, a evaporação da água, os ventos, o clima, os eventos sobre a
mente a anatomia e a fi-
siologia do cérebro in- superfície e inúmeros outros. Essa teoria tenta relacionar esses fe-
terrelacionando-as com
nômenos aparentemente caóticos, mostrando uma regularidade no
a teoria da informação,
semiótica e lingüística, e fenômeno. E ainda pode ser empregada em muitas pesquisas, como
demais disciplinas que
por exemplo, sua aplicação em neurociência.
explicam o comporta-
mento, o processo de
aprendizagem e cogni-
ção humana bem como
OUTRAS SUBDIVISÕES
os mecanismos de regu-
lação orgânica.
Além das áreas que acabamos de ver, frequentemente encon-
tramos outros termos como física nuclear, física aplicada, física
médica, que correspondem a novas subdivisões. O que essas áreas
estudam?
É claro que estas áreas estão englobadas nas áreas fundamen-
tais que já foram descritas. Mas para que você não saia dessa aula
sem saber do que se trata esses itens, vamos descrevê-los agora.

258
Estrutura geral da Física

ASTRONOMIA
É a ciência que envolve diversas observações procurando res-
postas aos fenômenos físicos que ocorrem dentro e fora da Terra e
10
aula
também em sua atmosfera. Estuda as origens, a evolução e as pro-
priedades físicas e químicas de todos os objetos que podem ser
observados no céu, bem como todos os processos que os envol-
vem. Atualmente essa ciência se abriu num leque de categorias pa-
ralelo aos interesses da Física, da Matemática e da Biologia.
Dentro da astronomia temos a Cosmologia e a Astrofísica. A
cosmologia é o ramo da astronomia que estuda a origem, estrutura e
evolução do Universo a partir da aplicação de métodos científicos. Mui-
tas vezes se confunde cosmologia com a astrofísica, que é o ramo da
astronomia que estuda a estrutura e as propriedades dos objetos celestes
e o universo como um todo através da Física teórica. A confusão ocorre
porque ambas as ciências, sob alguns aspectos, seguem caminhos parale-
los e muitas vezes considerados redundantes, embora não o sejam.

FÍSICA NUCLEAR
A Física Nuclear estuda as propriedades e o comportamento
dos núcleos atômicos, suas propriedades e as reações nucleares,
tais como a fissão, fusão e decomposição nuclear.
Os núcleos possuem propriedades que podem ser classificadas
como estáticas (carga, tamanho, forma, massa, energia de ligação, etc.)
e dinâmicas (radioatividade, estados excitados, reações nucleares, etc.).
Estas propriedades são analisadas através de modelos nucleares que
são baseados na mecânica quântica, na relatividade e na teoria quântica
de campos. Atualmente os domínios da pesquisa da Física Nuclear e
da Física das Partículas Elementares se tornaram interligados.

FÍSICA DAS PARTÍCULAS ELEMENTARES


A Física de Partículas busca o fundamental, o nível mais bási-
co da matéria e da natureza. Todo o nosso mundo visível se funda-
menta neste nível invisível das partículas elementares.

259
Introdução à Física

Mas, o que são Partículas Elementares?


Podemos chamar de partículas ele-
mentares toda a porção indivisível da
matéria. Compare com a geometria: uma
área pode ser formada por um conjunto
de retas e uma reta pode ser formada por
um conjunto de pontos. Mas um ponto
não é formado por mais nada, certo? Isso
seria uma partícula elementar ou funda-
(Fonte: http://www2.curso-objetivo.br).
mental. Ela não é formada por mais nada!
Diferente de um átomo, que hoje
sabemos ser formado por prótons, nêutrons e elétrons. Também
já sabemos que nem mesmo os prótons e nêutrons são elemen-
tares, pois são constituídos de quarks. Na física atual, dentre
essas partículas mais conhecidas, somente o elétron parece ser
fundamental. Mas não temos certeza absoluta. Podemos estar
apenas limitados por nossos equipamentos de medidas.
A física das partículas elementares é um
Quer descobrir se o elétron é funda- ramo da Física que faz parte da Teoria Quântica
mental mesmo ou não? Então, junte- de Campos que estuda os constituintes elemen-
se a nós, estude bem física para poder tares da matéria e da radiação, e a interação
ajudar na solução de mais esse pro-
entre eles, além, é claro e suas aplicações.
blema!
Muitas vezes ela é também chamada de
física de altas energias, pois muitas partícu-
las elementares não surgem em circunstâncias corriqueiras, mas
podem ser criadas e detectadas durante colisões de alta energia
com outras partículas em um acelerador de partículas.

FÍSICA ATÔMICA E MOLECULAR

A Física Atômica é o ramo da física que estuda as camadas eletrô-


nicas dos átomos. Mas não confunda com física nuclear, pois enquanto
a física nuclear está interessada apenas no núcleo, a física atômica ocu-
pa-se do estudo do átomo como um conjunto elétron-núcleo.

260
Estrutura geral da Física

O começo da física atômica foi marcado pelo descobrimento


das linhas espectrais, que são emissões bem definidas no espectro
luminoso dos átomos livres. Quando usamos o termo "livre" signi-
10
aula
fica que eles são um gás ou vapor bem diluído e, portanto, não
estão próximos ou interagindo com outros átomos.
Já a Física Molecular é a parte que explica a estrutura
molecular, as ligações químicas e as propriedades físicas que as
moléculas apresentam.

FÍSICA DA MATÉRIA CONDENSADA

A Física da Matéria Condensada se ocupa com a fase


"condensada" da matéria que aparece sempre quando o número de
constituintes em um sistema é extremamente grande e as interações
entre os constituintes são fortes. Os exemplos mais familiares de
fases condensadas são os sólidos e líquidos que se originam da for-
ça elétrica entre os átomos. Portanto, a Física da Matéria Condensada
trata das propriedades físicas macroscópicas de sólidos e líquidos.
Dentro desse assunto, há vários tópicos de interesse para os
físicos:
- Fases da matéria.
– Fases dos materiais, como sólidos, líquidos e gases.
– Fases a baixas temperaturas, como o condensado de Bose-
Einstein (em que um gás de átomos de determinado tipo são resfri-
ados a temperaturas extremamente baixas e, assim, devem conver-
gir para o menor estado de energia), ou o gás de Fermi (que
corresponde a um gás, por exemplo, só de elétrons).
– Fenômenos de fase como a transição de fase.
- Sólidos cristalinos
– Tipos de sólidos, como isolantes, metais e semicondutores.
– Propriedades eletrônicas, como condução elétrica de diferen-
tes materiais.
– Fenômenos eletrônicos, como a supercondutividade e a
termoeletricidade.

261
Introdução à Física

FÍSICA DE PLASMA

Primeiro temos que saber o que é plasma. Então vamos lá: Plas-
ma é o quarto estado físico da matéria.
Quarto? Ué, mas eu aprendi que só havia três: sólido, líqui-
do e gasoso.
É, mas para os físicos existe mais um estado, o plasma, que
surge quando os átomos estão ionizados, ou seja, quando os elé-
trons são arrancados. Então, teremos as cargas positivas e negati-
vas separadas.
A palavra plasma é oriunda do grego, que designa um material
moldável. Mas em física sua definição é a seguinte: um gás que
contém uma mistura variada de átomos neutros, ionizados e elé-
trons livres em constante interação coulombiana.
O plasma é muito importante, pois constitui cerca de 99% da
matéria do Universo visível conhecido, sendo 1% referente aos
outros estados de agregação da matéria (sólido, líquido e gasoso).
Por exemplo, temos formados de plasma as galáxias e nebulo-
sas que contém gás e poeira cósmica interestrelar em estado “eletri-
ficado” ou ionizado; o vento solar, um fluido ionizado constante-
mente ejetado pelo nosso Sol; os plasmas gerados e confinados pe-
los Cinturões de Radiação de Van Allen, nas imediações do planeta
Terra. Já por aqui, na Terra, também te-
mos exemplo disso: a Ionosfera Terres-
tre (que possibilita as comunicações por
rádio) e as Auroras Austral e Boreal que
são plasmas naturais que ocorrem nas
altas latitudes do planeta Terra. Até o
Fogo e nossas lâmpadas fluorescentes
são constituídos por plasmas.
Nossa, eu achava que a matéria do
universo estava todas nos outros 3 esta-
dos! Já mudou minha visão de mundo!!
TV de plasma (Fonte: http://www.jmmlocacoes.com.br).
Pois é. Agora que você sabe do que

262
Estrutura geral da Física

se trata o plasma já pode prever que a Física de Plasma estuda todos


esses fenômenos, sejam naturais ou artificiais. O plasma é estudado,
por exemplo, na produção de energia por fusão, já que nas temperatu-
10
aula
ras em que essa ocorre todos os elétrons são arrancados dos átomos e,
portanto, temos um plasma.

FÍSICA APLICADA

Em Física Aplicada, os conhe-


cimentos estão envolvidos para se-
rem utilizados em aplicações práti-
cas, como a geração de energia, a
computação, a eletrônica, a aeronáu-
tica, etc. Aqui a física é usada como
suporte para uma tecnologia ou uso
prático particular, como por exem-
plo, em engenharia, ao contrário da
(Fonte: http://www.byh.com.br).
investigação básica.
A Física Aplicada tem suas raízes nos fundamentos e conceitos
básicos das ciências físicas, mas está relacionada com uso de prin-
cípios científicos em aparelhos e sistemas práticos, e na aplicação
da física em outras áreas da ciência.

ÁREAS INTERDISCIPLINARES

Em uma sociedade em rápida transformação, como a que


hoje vivemos, surgem continuamente novas funções sociais e
novos campos de atuação. Às vezes torna-se necessário se en-
veredar em áreas fora de seu ramo do conhecimento por os per-
fis profissionais estabelecidos não serem suficientes. Isso tam-
bém ocorre com a física, e em geral incluímos todas essas áreas
dentro da Física Aplicada.
Com a evolução, alguns físicos passaram a ter uma for-

263
Introdução à Física

mação mais interdisciplinar para enfocar melhor o assunto de


interesse. Assim, existem muitas áreas em que além da física,
deve-se entender de outros assuntos. Aqui vamos dar alguns
exemplos:
Biofísica: que aplica as teorias e os métodos da física para resol-
ver questões de biologia. A Biofísica buscar enxergar o ser vivo
com um corpo, que ocupando lugar no espaço, e transformando
energia, existe num meio ambiente que interage com este ser. As-
pectos elétricos, gravitacionais, magnéticos e mesmo nucleares es-
tão na fundamentação de vários fenômenos biológicos, e, portanto,
podem ser tratados pelos conhecimentos das ciências físicas.
Física Médica: é uma área da física em que se trabalha com
conceitos e técnicas básicas e específicas de física, biologia e
medicina. Também conhecida como física em medicina é o ramo
que compreende a aplicação dos conceitos, leis, modelos, agen-
tes e métodos da física para a prevenção, diagnóstico e trata-
mento de doenças, desempenhando uma importante função na
assistência médica, na pesquisa biomédica e na otimização da
proteção radiológica.
Físico-química: estuda as propriedades físicas e químicas da ma-
téria, através da combinação de duas ciências: a física (em que se
destacam áreas como a termodinâmica e a mecânica quântica) e a
química. Importantes áreas de estudo incluem termoquímica,
cinética química, química quântica, mecânica estatística e química
elétrica. A Físico-química também é fundamental para a ciência
dos materiais.
Econofísica: é o campo de estudo que explica os mecanismos
econômicos a partir de uma óptica empírica e lógica visando, desta
maneira, uma correlação com a física.
Oceanografia Física: ramo da oceanografia que estuda os proces-
sos físicos nos oceanos e suas relações não só com a atmosfera,
mas também com a litosfera. A Oceanografia Física ocupa-se das
características das massas de água oceânicas e pesquisa fenômenos
como: correntes marinhas, marés, ondas, vórtices, etc.

264
Estrutura geral da Física

Meteorologia: é a ciência que estuda, de forma interdisciplinar,


os fenômenos da atmosfera terrestre e de outros planetas, com foco
nos processos físicos e na previsão do tempo.
10
aula
Geofísica: ciência voltada à compreensão da estrutura, com-
posição e dinâmica do planeta Terra, sob a ótica da Física. Con-
siste basicamente na aplicação de conhecimentos e medidas da
Física ao estudo da Terra, especialmente pela reflexão sísmica,
refração, gravidade, magnetismo, eletricidade, eletromagnetismo
e métodos radioativos.
Nanotecnologia: ultimamente tem se falado muito em
Nanotecnologia. Ela tem como objetivo a construção de estrutu-
ras e novos materiais com um controle preciso dos átomos. A
Nanotecnologia está associada a diversas áreas além da física, como
a Medicina, Eletrônica, Ciência da Computação, Química, Biologia
e Engenharia dos Materiais.
Dentre essas, já existem algumas com cursos específicos devi-
do à sua especificação cada vez maior. Os cursos de Meteorologia e
Geofísica já são tradicionais, e nos últimos anos surgiram várias
universidades com cursos de Física Médica, como é o caso da UFS.

(Fonte: http://www.artigo.blogger.com.br).

265
Introdução à Física

O s físicos estudam uma vasta gama de fenômenos em di-


versas escalas de comprimento, desde as partículas
subatômicas, das quais toda a matéria é originada, até o compor-
tamento do universo material como um todo. Também com uma
variedade enorme de velocidades, aplica-
ções, conceitos. As subdivisões dessa área
CONCLUSÃO
do conhecimento facilitam o conhecimento
dos fenômenos ou mesmo apenas a busca
por informações. Apesar da
especialização em determi-
nada área, um físico deve ter
um conhecimento geral dos
fenômenos naturais e saber
relacioná-los num todo, pois
o mundo ao nosso redor
deve ser considerado de uma
maneira unificada, consis-
tente e lógica, de forma que
possamos ter sempre a me-
lhor resposta para nossas
dúvidas.

266
Estrutura geral da Física

RESUMO

Inicialmente os fenômenos observados foram classifica-


10
aula
dos de acordo com o modo que eram sentidos. E assim
surgiu a mecânica, a óptica, a acústica, a termodinâmica.
Em seguida, veio o eletromagnetismo que não estava ligado a
nenhuma experiência sensorial. Porém, com o advento da teoria
relativística e da mecânica quântica, novas divisões de áreas
foram surgindo na física.
Todas as áreas desenvolvidas antes do século XX são engloba-
das na Física Clássica, que compreende a mecânica, a
termodinâmica, o eletromagnetismo, a relatividade, a cosmologia,
etc. A Física Clássica é uma denominação que se contrapõe à Físi-
ca Quântica, que estuda a estrutura atômica e suas subestruturas.
O que chamamos de Física Moderna corresponde a Física Quântica
mais a Relatividade, isto é, a Física desenvolvida no Século XX.
Outra divisão pode ser feita de acordo com as propriedades
mais estudadas nos fenômenos e daí surgem: a Mecânica, a
Termodinâmica, o Eletromagnetismo, a Ondulatória, a Óptica e
a Acústica.
Porém, o consenso entre a comunidade dos físicos é que as
teorias fundamentais da física se dividem em cinco: Mecânica Clás-
sica, Eletromagnetismo (incluindo a óptica), Física relativística,
Termodinâmica e Mecânica Estatística.
Devemos incluir também os métodos matemáticos em física.
Outras subdivisões comuns criaram as áreas de: Física Nu-
clear, Física das Partículas Elementares, Física Atômica e
Molecular, Física da Matéria Condensada, Física de Plasma e
Física Aplicada.
Atualmente surgiram áreas interdisciplinares devido à neces-
sidade de uma formação mais interdisciplinar para alguma deter-
minada aplicação da física. Alguns exemplos são: Biofísica, Física
Médica, Físico-Química, Econofísica, Oceanografia Física,
Meteorologia, Astronomia, Geofísica e Nanotecnologia.

267
Introdução à Física

ATIVIDADES

Entre em seu quarto e classifique os objetos que estão nele. Defina as


regras que você irá usar para fazer isso. Descreva as dificuldades
encontradas. Conecte suas idéias com as subdivisões da física.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

O seu quarto é o seu pequeno universo. Você deve ter roupas,


CDs, livros, objetos de decoração, móveis ... É uma quantidade
até pequena de objetos, mas organizá-los às vezes torna-se
complicado, pois um mesmo objeto pode entrar em várias
categorias. Por exemplo, um CD pode fazer parte dos objetos
de decoração, mas também pode ser um CD utilizado em um
curso de inglês, já que ele tem letras bem legais de músicas
nesta língua. Se você fizer uma lista com os artigos para estudo,
você colocará os livros, os cadernos, as canetas e o CD lá
também. Mas ele ainda pode estar em uma lista dos artigos
para diversão. Claro, você adora ouvir as músicas quando relaxa.
É obvio que há as classificações mais gerais e importantes,
mas as subdivisões podem ajudar quando precisamos encontrar
algo para utilizar. Por exemplo, quando vamos estudar inglês,
talvez não nos lembremos do CD, porém se ele estiver na lista
de objetos de estudo isso facilite. Viu como é complicado
classificar até mesmo esses simples objetos. É a mesma coisa
com a física. Imagine quantas possibilidades de subdivisão a
ciência que estuda os fenômenos naturais pode ter. Mas elas
em geral facilitam nossa vida.

268
Estrutura geral da Física

PRÓXIMA AULA

Depois de vermos tantas áreas, agora devemos saber em


10
aula
quais locais trabalha um físico, quais são seus campos de
atuação e como é desenvolvida sua formação nas univer-
sidades do mundo e mais especificamente aqui na UFS.
Então, é isso que veremos na próxima aula. Até lá!

REFERÊNCIAS

http://satie.if.usp.br/relatividade.pdf.
MACEDO, C. A. Apostila do Curso de Introdução à Física da
UFS. São Cristóvão, 2006.
Portal de ensino de Física da USP. Disponível em <http://
efisica.if.usp.br>.
VALERIO, M. E. G. Notas de aula Curso de Introdução à Físi-
ca da UFS. São Cristóvão, 2006.

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