jaz em miséria pelos cantos da sociedade
Americana ─ e encontra-se no exílio dentro da
ESCOLA DE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DO NAMIBE
PROFESSOR MIGUEL GULLANDER
FASCÍCULO DE APOIO
LINGUA PORTUGUESA
2010
I TEXTOS DE APOIO
 MARTIN LUTHER KING, Eu Tenho
um Sonho
(Discurso proferido para 200 mil pessoas, a
partir dos degraus do Lincoln Memorial em
Washington, D.C., 28 Agosto, 1963. Tradução
do original Inglês por Miguel Gullander.)
Faz cem anos que um grande Americano, sob a
sombra do qual simbolicamente nos
encontramos agora, assinou a Proclamação da
Emancipação. Essa lei da maior importância
surgiu como um enorme farol de luz e
esperança para os milhões de escravos negros
que ardiam nas chamas duma injustiça
implacável. Essa lei surgiu como uma aurora
de alegria depois duma longa noite de
cativeiro.
No entanto, cem anos mais tarde, temos de
fazer face ao trágico facto de que o Negro
ainda não é livre. Cem anos mais tarde a vida
do Negro ainda é tristemente incapacitada
pelas algemas da segregação e pelas cadeias da
discriminação. Cem anos mais tarde o Negro
ainda vive numa solitária ilha de pobreza no
meio dum vasto oceano de prosperidade
material. Cem anos passaram e o Negro ainda
sua própria terra. Por essa razão viemos aqui
hoje para dramatizar essa mesma terrível
condição.
E, de certa maneira, viemos até à capital da
nossa nação para levantar um cheque. Quando
os arquitectos da nossa república escreveram
as magníficas palavras da Constituição e a
declaração da Independência, eles estavam a
assinar uma nota promissória, da qual todos os
americanos se deveriam tornar herdeiros. Esta
nota era a promessa de que a todos os homens
seriam garantidos direitos inalienáveis de vida,
de liberdade e de busca da felicidade.
Hoje, no que concerne aos seus cidadãos de
cor, é óbvio que a América falhou nessa nota
promissória. Em vez de honrar a sua sagrada
obrigação, a América deu aos Negros uma
cheque mau e em branco, o qual foi enviado
para trás com as seguintes palavras lá
marcadas: “Fundos Insuficientes”. Mas nós
recusamo-nos a acreditar que o banco da
justiça esteja falido. Nós recusamo-nos a
acreditar que não hajam fundos suficientes nos
enormes Cofres da Oportunidade desta nação.
Por isso, nós viemos aqui para levantar o nosso
cheque ── um cheque que nos dará direito a
reclamar a riqueza da liberdade e a segurança
da justiça. Nós viemos também até este lugar
para relembrar à América a feroz urgência do
agora, do momento presente. Esta não é altura
para nos darmos ao luxo de relaxar ou de
tomar a droga do “gradualismo”. Agora é a
altura de nos levantarmos e sairmos do escuro
e desolado vale da segregação, e entrarmos no
caminho luminoso da justiça social. Agora é
tempo de abrir as portas da oportunidade a
todos os filhos de Deus. Agora é tempo de
arrancar a nossa nação às areias movediças da
injustiça social, e assentá-la na rocha firme da
fraternidade.
Seria fatal para a nossa nação ignorar a
urgência deste momento e subestimar a
determinação do Negro. Neste verão de calor
sufocante o descontentamento do negro não
passará enquanto não chegar um refrescante
Outono de liberdade e igualdade. Mil
novecentos e sessenta e três não está no fim,
mas sim no princípio. Aqueles que têm
esperança que o Negro, após ter largado vapor,
vá agora ficar contente, terão uma dura
surpresa se a nação voltar aos hábitos do
costume. Não vai haver nem descanso nem
tranquilidade na América enquanto o Negro
não tiver a garantia dos seus direitos como
cidadão. Os ventos tempestuosos da revolta
continuarão a sacudir a nossa nação até aos
seus alicerces até que o luminoso dia da justiça
chegue.
1
Mas há algo que eu devo dizer ao meu povo
que aqui agora se encontra, à entrada do
palácio da justiça. Neste processo de
ganharmos os nossos direitos não nos
devemos tornar culpados de nenhuns actos
destrutivos. Não tentemos satisfazer a nossa
sede de liberdade bebendo do copo da
amargura e do ódio. Teremos ─ sempre ─
de conduzir o nosso esforço no mais alto
nível de dignidade e disciplina. Não
podemos deixar que o nosso protesto
criativo degenere em violência física. De
novo e de novo temos de nos elevar às
nobres alturas de quem responde à força
física com força de alma. A maravilhosa
união que atravessa a comunidade Negra não
nos pode levar à desconfiança em relação a
todos os brancos, porque muitos dos nossos
irmãos brancos ─ e a prova está no facto de
eles aqui estarem presentes hoje ─
compreenderam que o seu destino está
totalmente ligado ao nosso destino, e que a sua
liberdade está inextrincavelmente unida à
nossa liberdade. Não podemos caminhar
sozinhos.
E conforme caminhamos, temos de jurar que
continuaremos a caminhar em diante. Não
podemos voltar atrás. Há aqueles que
perguntam aos que são devotos dos direitos
civis: “Quando é que vocês se vão dar por
satisfeitos?” Nós nunca nos daremos por
satisfeitos enquanto os nossos corpos, pesados
pela fadiga, não conseguirem encontrar lugar
nos motéis ao longo das estradas, nem nos
hotéis das nossas cidades. Nós não nos
daremos por satisfeitos enquanto a mobilidade
do Negro significa ir de um gueto mais
pequeno para um gueto maior. Nós nunca nos
daremos por satisfeitos enquanto o Negro no
Mississipi não puder votar, e o Negro em Nova
Iorque sentir que não tem nada pelo qual valha
a pena votar. Não, não, nós não estamos
satisfeitos, nem nunca estaremos satisfeitos
enquanto a justiça não correr como água, e a
rectidão não correr como a poderosa torrente
dum rio.
Eu não me estou a esquecer que alguns de
vocês somente conseguiram chegar aqui após
árduo sacrifício e tribulações. Alguns de vocês
acabaram de sair de entre as apertadas paredes
da prisão. Alguns de vocês acabaram de chegar
vindos de áreas onde a demanda pela liberdade
vos deixou marcados devido às tempestades
das perseguições, e cambaleantes devido aos
ventos da brutalidade policial. Vocês têm sido
veteranos do sofrimento criativo. Continuem
a trabalhar tendo fé de que o sofrimento não
merecido é redentor.
Voltem para o Mississipi, voltem para
Alabama, voltem para Louisiana, voltem para
os vossos bairros de lata e guetos nas nossas
cidades do norte, sabendo que de alguma
maneira esta situação pode e vai ser mudada.
Não nos deixemos cair no vale do desespero. E
ainda vos digo isto hoje, meus amigos, que
apesar das dificuldades e frustrações do
momento ─ eu tenho um sonho. É um sonho
com raízes profundas no sonho Americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se
erguerá e viverá o verdadeiro significado do
seu credo: “Nós consideramos estas verdades
como sendo verdades evidentes em si mesmas
de que todos os homens são criados como
iguais”.
Eu tenho um sonho que um dia nos montes
encarnados de Georgia os filhos dos antigos
escravos e os filhos dos antigos donos de
escravos serão capazes de se sentar juntos à
mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho que
até o estado do Mississipi, um estado deserto,
sufocante devido ao calor da injustiça e
opressão, será transformado num oásis de
liberdade e justiça. Eu tenho um sonho que os
meus quatro filhos poderão um dia viver numa
nação onde eles não serão julgados devido à
cor da sua pele, mas devido ao conteúdo do seu
carácter.
Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia o estado do
Alabama, cujo governador tem os lábios a
pingar com palavras de discórdia e anulação,
será transformado num sítio onde os meninos
negros e as meninas negras poderão andar de
mãos dadas com os meninos brancos e
meninas brancas, como irmãos e irmãs.
Eu tenho um sonho hoje.
Eu tenho um sonho que um dia todos os vales
serão exaltados, todos os montes e montanhas
serão aplanados, que os lugares duros serão
feitos suaves, e que os lugares tortuosos serão
feitos direitos, e que a glória do Senhor será
revelada, e que isso será visto por todos.
Esta é a nossa esperança. Esta é a fé com que
eu regresso ao Sul. Com esta fé nós seremos
capazes de cinzelar da montanha do desespero
a pedra da esperança. Com esta fé nós seremos
capazes de transformar ruidosas discórdias da
nossa nação numa bela sinfonia de
fraternidade. Com esta fé nós seremos capazes
de trabalhar em conjunto, de rezar em
conjunto, de lutar em conjunto, de ir para a
prisão em conjunto, de defender a liberdade em
conjunto ─ sabendo que um dia seremos
livres. E este será o dia em que todos os filhos
de Deus poderão cantar: “A ti meu país, terra
de liberdade, eu te canto. Terra onde os meus
pais morreram, terra de orgulho dos
peregrinos, das encostas de todas as montanhas
deixem tocar o sino da liberdade”.
2
E se a América quiser ser uma grande nação,
este sonho tem de se tornar real. Por isso
deixem o sino da liberdade tocar a partir dos
prodigiosos topos de New Hampshire. Deixem
o sino da liberdade tocar a partir das poderosas
montanhas de Nova Iorque. Deixem o sino
tocar a partir dos Alleghenies da Pensilvânia!
Deixem o sino da liberdade tocar nos cumes
cobertos de neve do Rockies no Colorado!
Deixem o sino da liberdade tocar nos picos
curvos da Califórnia!
Mas, não só: Deixem o sino da liberdade tocar
a partir da montanha Stone na Georgia!
Deixem o sino da liberdade tocar a partir da
montanha Lookout no Tennessee!
Deixem o sino da liberdade tocar a partir de
todos os montes e colinas do Mississipi.
Deixem o sino da liberdade tocar a partir de
todas as encostas de todas as montanhas.
Quando deixarmos o sino da liberdade tocar,
quando o deixarmos tocar em todas as vilas e
aldeolas, em todos os estados e todas as
cidades, nós seremos capazes de acelerar a
chegada daquele dia em que todos os filhos de
Deus, homens negros e homens brancos,
Judeus e Gentios, Protestantes e Católicos,
serão capazes de dar as mãos e cantar, segundo
as palavras do antigo espiritual Negro:
“Finalmente livres! Graças a Deus Todo-
poderoso, somos finalmente livres!”.
 Durante a batalha em Bodh Gaya,
Khyentse Norbu
Mara (o símbolo da ilusão e da negatividade)
manifestou múltiplas armas contra Siddhartha.
Tinha, em particular, uma colecção de flechas
especiais. Cada flecha possuía poderes
ruinosos: a flecha que causa desejo, a flecha
que causa obtusidade mental, a flecha que
causa orgulho, a flecha que causa conflito, a
flecha que causa arrogância, a flecha que causa
obsessão cega e a flecha que causa a ausência
de consciência, para nomear algumas. Nos
sutras budistas lemos que Mara permanece
sem ser derrotado em cada um de nós: ele
envia-nos constantemente as suas flechas
envenenadas. Quando somos atingidos pelas
flechas de Mara, tornamo-nos inicialmente
entorpecidos, mas o veneno espalha-se então
por todo o nosso ser, destruindo-nos
lentamente. Quando perdemos a consciência e
nos apegamos ao eu, é o veneno entorpecedor
de Mara. Lenta, seguramente, seguem-se as
emoções destruidoras, vertendo-se no nosso
ser.
Quando atingidos pela flecha do desejo, todo o
nosso senso comum, sobriedade e sanidade
saem pela janela, enquanto a falsa dignidade, a
decadência e a imoralidade escorrem para
dentro. Envenenados, nada nos detém para
obter o que queremos. Alguém ferido pela
paixão pode até achar sexy uma prostituta-
hipopótamo, enquanto uma bela rapariga o
espera em casa. Tal como mariposas atraídas
pela chama e peixes por iscas em anzóis,
muitos nesta terra foram apanhados numa
armadilha pelo seu desejo de comida, fama,
louvor, dinheiro, beleza e veneração.
A paixão pode também manifestar-se como
concupiscência pelo poder. Tomados por uma
tal paixão, os líderes são completamente
indiferentes a como a sua ânsia de poder
destrói o planeta. Se não fosse a cobiça de
riqueza de algumas pessoas, as auto-estradas
estariam cheias de carros movidos pelo sol e
ninguém morreria de fome. Tais progressos
são tecnológica e fisicamente possíveis, mas
aparentemente não são emocionalmente
possíveis. E entretanto murmuramos acerca da
injustiça e censuramos pessoas como George
W. Bush. Atingidos nós próprios pelas flechas
da ganância, não vemos que é o nosso próprio
desejo – ter comodidades como aparelhos
electrónicos de importação barata e luxos
como Humvees – que na realidade sustenta as
guerras que estão a devastar o mundo. Todos
os dias, durante a hora de ponta em Los
Angeles, a via reservada aos veículos com duas
ou mais pessoas está vazia enquanto milhares
de carros atravancam o resto da estrada, cada
um com apenas um ocupante. Mesmo aqueles
que desfilam nos protestos "Não ao Sangue por
Petróleo" contam com o petróleo para importar
os kiwis para os seus batidos.
As flechas de Mara criam um conflito
infindável. Ao longo da história, figuras
religiosas, aquelas que supostamente estão
acima do desejo, os nossos modelos de
integridade e correcção, mostraram estar
igualmente esfomeadas de poder. Manipulam
os seus seguidores com ameaças de inferno e
promessas de céu. Vemos hoje políticos a
manipular eleições e campanhas ao ponto de
não terem escrúpulos de bombardear um país
inocente com mísseis Tomahawk se isso
inclinar a opinião pública a seu favor. Quem se
importa que ganhemos a guerra desde que
ganhemos a eleição? Outros políticos ostentam
hipocritamente religiosidade, fazem-se alvejar
a si mesmos, manufacturam heróis e encenam
catástrofes, tudo para satisfazer o seu desejo de
poder.
Quando o eu está inchado de orgulho,
manifesta-se de modos incontáveis: estreiteza
de espírito, racismo, fragilidade, medo de
rejeição, medo de ser ferido, insensibilidade,
para nomear uns poucos.
Por orgulho masculino, os homens sufocaram a
energia e as contribuições de cerca de metade
da raça humana: as mulheres. Durante o
3
namoro, cada um dos lados deixa o orgulho
atravessar-se no caminho, avaliando
constantemente se a outra pessoa é suficiente
boa para eles ou se eles são suficientemente
bons para a outra pessoa. Famílias orgulhosas
gastam fortunas numa cerimónia de casamento
de um dia para um matrimónio que pode ou
não durar, enquanto no mesmo dia, na mesma
povoação, as pessoas morrem de fome. Um
turista faz alarde de dar uma gorjeta de dez
dólares ao porteiro por empurrar uma porta
giratória e no minuto seguinte regateia uma T-
shirt de cinco dólares a uma vendedora que
tenta sustentar o seu bebé e família.
O orgulho e a piedade estão intimamente
relacionados. Crer que a nossa vida é mais
dura e triste do que a de todos é pura e
simplesmente uma manifestação de apego ao
eu. Quando o eu desenvolve auto-piedade,
elimina qualquer espaço que os outros possam
ter para se sentir compassivo em relação a eles.
Neste mundo imperfeito tantas pessoas
sofreram e sofrem ainda, mas o sofrimento de
algumas pessoas foi categorizado como um
sofrimento mais "especial". Se bem que não
estejam disponíveis estatísticas reais, parece
seguro dizer que o número de nativos
americanos chacinados quando os europeus
colonizaram a América do Norte é pelo menos
igual ao de outros genocídios reconhecidos. E
todavia não existe nenhum termo largamente
usado – tal como anti-semitismo ou o
Holocausto – para esta chacina inconcebível.
Os assassínios em massa levados a cabo por
Estaline e Mao Tse-tung também não possuem
etiquetas reconhecidas, nem são objecto de
museus prestigiados, acções judiciais por
retaliação e infindáveis documentários e filmes
de longa-metragem. Os muçulmanos clamam
serem perseguidos, esquecendo a destruição a
que deram curso os seus antepassados mogols,
quando conquistaram vastas partes da Ásia
como missionários. É ainda visível a evidência
da sua devastação: as escalavradas ruínas de
monumentos e templos outrora criados por
amor a um diferente deus.
Existe também o orgulho de pertencer a uma
certa escola de pensamento ou religião.
Cristãos, judeus e muçulmanos crêem todos no
mesmo Deus e num sentido são irmãos.
Contudo, por causa do orgulho de cada uma
destas religiões e por pensarem que estão
"certas", a religião causou mais mortes do que
as duas guerras mundiais reunidas.
O racismo pinga da flecha envenenada do
orgulho. Muitos asiáticos e africanos acusam
os brancos ocidentais de serem racistas, mas o
racismo é também uma instituição na Ásia.
Pelo menos no Ocidente existem leis contra o
racismo e ele é publicamente condenado. Uma
rapariga de Singapura não pode trazer o seu
marido belga para casa para conhecer a
família. As etnias chinesas e indianas na
Malásia não podem ter o estatuto de
bhumiputra [filho da terra], mesmo após
muitas gerações. Muitos coreanos de segunda
geração no Japão não estão ainda
naturalizados. Se bem que muitas pessoas
brancas adoptem crianças de cor, é improvável
que uma abastada família asiática adopte uma
criança branca. Muitos asiáticos acham
detestável tal mistura cultural e racial.
Perguntamo-nos como se sentiriam os asiáticos
se as posições estivessem invertidas: se as
pessoas brancas tivessem de emigrar aos
milhões para a China, Coreia, Japão, Malásia,
Arábia Saudita e Índia.
O que aconteceria se estabelecessem as suas
próprias comunidades, ficassem com empregos
locais, importassem noivas, falassem durante
gerações a sua própria língua, recusando-se a
falar a língua da nação anfitriã e, além disso,
sustentassem o extremismo religioso no seu
país de origem ?
A inveja é outra das setas de Mara. É uma das
emoções do grande perdedor. Manifesta-se
irracionalmente e engendra histórias fantásticas
para nos distrair. Pode ferir subitamente nos
momentos mais inesperados, porventura
mesmo enquanto nos deleitamos com uma
sinfonia. Mesmo que não tenhamos a intenção
de nos tornarmos um violoncelista, e que não
tenhamos jamais tocado sequer um violoncelo,
podemos tornar-nos ciumentos de uma
inocente tocadora de violoncelo que nunca
encontrámos sequer. O simples facto de ela ser
talentosa é suficiente para envenenar a nossa
mente.
Grande parte do mundo tem ciúmes dos
Estados Unidos. Muitos dos fanáticos políticos
e religiosos que ridicularizam e criticam os
Estados Unidos, chamando aos americanos
"satânicos" e "imperialistas", colocar-se-iam de
pernas para o ar para obter o cartão verde do
título de estadia, se já não o têm. Por pura
inveja, a sociedade – frequentemente
conduzida pelos media – quase sempre faz
tombar alguém ou algo que experimente o
sucesso, seja financeiro, físico ou intelectual.
Alguns jornalistas pretendem defender os
fracos e os oprimidos, mas frequentemente
receiam mostrar que alguns "oprimidos" são
realmente fanáticos. Estes jornalistas recusam-
se a expor qualquer dos seus delitos e os
poucos que falam com franqueza correm o
risco de ser estigmatizados como extremistas.
Devido ao desejo egoísta de Mara ter mais
discípulos, ele prega com esperteza a
liberdade, mas, se alguém exerce realmente a
liberdade, Mara não gosta necessariamente
4
disso. Fundamentalmente gostamos de ter
liberdade apenas para nós mesmos, mas não
para os outros. Não é de admirar que, se nós ou
alguém exercemos realmente todas as nossas
liberdades, não sejamos convidados para todas
as festas. Esta assim chamada liberdade e
democracia é apenas outro instrumento de
controle
de Mara.
 CARL SAGAN, A Biblioteca de
Alexandria (Universidade de Cornell
www.criticanarede.com)
“A superstição é uma cobardia face ao divino”,
escreveu Teofrasto, que viveu no tempo da
Biblioteca de Alexandria. Habitamos num
universo no qual os átomos são produzidos no
centro das estrelas; no qual em cada segundo
nascem um milhar de sóis, no qual a luz do sol
e os relâmpagos fazem surgir a faísca da vida
no ar e na água dos planetas mais novos; no
qual o material de base da evolução biológica
resulta por vezes da explosão de uma estrela
no meio da Via Láctea; no qual uma coisa tão
bela como uma galáxia se formou cem mil
milhões de vezes — um cosmos de quasares e
quarks, de flocos de neve e pirilampos, onde
talvez existam buracos negros e outros
universos e civilizações extraterrestres cujas
mensagens de rádio chegam neste momento à
Terra. Em comparação com isto, quão pobre
são as pretensões da superstição e da
pseudociência; quão importante é para nós
continuar esse esforço que caracteriza o
homem: a prossecução e a compreensão da
natureza.
Cada aspecto da natureza revela um profundo
mistério e acorda em nós um sentimento de
respeito e deslumbramento. Teofrasto tinha
razão. Quem receia o universo tal como é,
quem se recusa a acreditar no conhecimento e
idealiza um cosmos centrado nos seres
humanos preferem o conforto efémero das
superstições. Preferem evitar o mundo a
enfrentá-lo. Mas quem tem a coragem de
explorar a estrutura e textura do cosmos,
mesmo quando este difere acentuadamente dos
seus desejos e preconceitos, irão penetrar
profundamente nos seus mistérios.
Não há na Terra outras espécies que tenham
alcançado a ciência, que continua a ser uma
invenção humana, produzida por uma espécie
de selecção natural ao nível do córtice
cerebral, e isto por uma razão muito simples:
produz bons resultados. Sem dúvida que a
ciência não é perfeita e pode ser mal utilizada,
mas é de longe o melhor instrumento que
temos, que se corrige a si próprio, que progride
sem cessar, que se aplica a tudo. Obedece a
duas regras fundamentais: primeiro, não
existem verdades sagradas, todas as asserções
devem ser cuidadosamente examinadas com
espírito crítico, os argumentos de autoridade
não têm valor; segundo, tudo o que estiver em
contradição com os factos tem de ser afastado
ou revisto. Temos de entender o cosmos como
ele é e não confundir aquilo que é com aquilo
que gostaríamos que fosse. Por vezes, o óbvio
está errado e o insólito é verdadeiro. Num
contexto alargado, todos os seres humanos
partilham as mesmas aspirações. E o estudo do
cosmos fornece o contexto mais alargado
possível. A actual cultura mundial é uma
espécie de arrogante novidade; chegou à cena
planetária depois de 4 mil e 500 milhões de
anos e, depois de ter passado os olhos em redor
durante uns milhares de anos, declarou-se
detentora de verdades eternas. Mas num
mundo em tão rápida mudança como o nosso,
tal atitude é o caminho certo para o desastre.
Nenhuma nação, nenhuma religião, nenhum
sistema económico, nenhum corpo de
conhecimento pode oferecer todas as respostas
quando está em jogo a nossa sobrevivência.
Devem certamente existir sistemas que
funcionem muito melhor do que qualquer um
dos que temos. Conforme a boa tradição
científica, a nossa tarefa é descobri-los.
Uma vez já, na nossa história, houve a
promessa de uma brilhante civilização
científica. Resultante do grande acordar jónico,
a Biblioteca de Alexandria era, há dois mil
anos, uma cidadela onde os melhores intelectos
da antiguidade estabeleceram os fundamentos
para o estudo sistemático da matemática, da
física, da biologia, da astronomia, da literatura,
da geografia e da medicina. Ainda hoje
edificamos sobre essas bases. A biblioteca foi
construída e financiada pelos Ptolomeus, os
reis gregos que herdaram a parte egípcia do
império de Alexandre o Grande. Desde a época
da sua fundação, no terceiro século antes de
Cristo, até à sua destruição sete séculos depois,
foi o cérebro e o coração do mundo antigo.
Alexandria era a capital editorial do planeta. É
claro que na altura não existia a imprensa. Os
livros eram caros; cada exemplar tinha de ser
copiado à mão. A biblioteca era o repositório
das melhores cópias do mundo. Foi ali
inventada a arte da edição crítica. O Antigo
Testamento chegou-nos directamente das
traduções gregas feitas na Biblioteca de
Alexandria. Os Ptolomeus usaram muita da sua
enorme riqueza na aquisição de todos os livros
gregos, assim como dos trabalhos originários
de África, da Pérsia, da Índia, de Israel e de
outras regiões do mundo. Ptolomeu III
Evergeto tentou pedir em empréstimo a Atenas
os manuscritos originais ou as cópias oficiais
5
das grandes tragédias de Sófocles, Esquilo e
Eurípedes. Para os atenienses, esses textos
eram uma espécie de património cultural —
um pouco como, para a Inglaterra, os
manuscritos ou as primeiras edições das obras
de Shakespeare; por isso, mostraram-se
reticentes em deixar os manuscritos sair das
suas mãos por um instante que fosse. Só
aceitaram ceder as peças depois de Ptolomeu
ter assegurado a devolução através de um
enorme depósito em dinheiro. Mas Ptolomeu
dava mais valor a esses manuscritos do que ao
ouro ou à prata. Preferiu por conseguinte
perder a caução e conservar, o melhor possível,
os originais na sua biblioteca. Os atenienses,
ultrajados, tiveram de se contentar com as
cópias que Ptolomeu, pouco envergonhado,
lhes deu. Raramente se viu um estado
encorajar a busca da ciência com tal avidez.
Os Ptolomeus não se limitaram a acumular
conhecimentos adquiridos; encorajaram e
financiaram a investigação científica e deste
modo geraram novos conhecimentos. Os
resultados foram espantosos: Eratóstenes
calculou com precisão o tamanho da Terra,
traçou o seu mapa, e defendeu que se podia
atingir a Índia viajando para oeste a partir de
Espanha; Hiparco adivinhou que as estrelas
nascem, deslocam-se lentamente ao longo de
séculos e acabam por morrer; foi o primeiro a
elaborar um catálogo indicando a posição e
magnitude das estrelas de modo a poder
detectar essas mudanças. Euclides redigiu um
tratado de geometria com base no qual os seres
humanos aprenderam durante vinte e três
séculos, trabalho que iria contribuir para
despertar o interesse científico de Kepler,
Newton e Einstein; os escritos de Galeno
acerca da medicina e da anatomia dominaram
as ciências médicas até ao renascimento. E
muitos outros exemplos, já apontados neste
livro.
Alexandria era a maior cidade que o mundo
ocidental já conhecera. Pessoas de todas as
nações iam até lá para viver, fazer comércio,
estudar; todos os dias chegavam aos seus
portos mercadores, professores e alunos,
turistas. Era uma cidade em que os gregos,
egípcios, árabes, sírios, hebreus, persas,
núbios, fenícios, italianos, gauleses e iberos
trocavam mercadorias e ideias. Foi
provavelmente aí que a palavra "cosmopolita"
atingiu o seu mais verdadeiro sentido —
cidadão, não apenas de uma nação, mas do
cosmos. (A palavra "cosmopolita" foi
inventada por Diógenes, o filósofo racionalista
crítico de Platão.)
Estavam certamente aqui as raízes do mundo
moderno. Que foi que os impediu de crescer e
florescer? Por que razão o ocidente adormeceu
para só acordar um milhar de anos depois,
quando Colombo, Copérnico e os seus
contemporâneos redescobriram o mundo
criado em Alexandria? Não me é possível dar
uma resposta simples, mas sei pelo menos o
seguinte: não há registo, em toda a história da
biblioteca, de que qualquer um dos seus
ilustres cientistas e estudiosos tivesse alguma
vez desafiado a sério os princípios políticos,
económicos e religiosos da sua sociedade… A
permanência das estrelas era posta em dúvida,
mas não a da escravatura. A ciência e a
sabedoria em geral eram domínio de alguns
privilegiados, a vasta população da cidade não
tinha a mais leve noção do que se passava
dentro da biblioteca, ninguém lhe explicava
nem divulgava as novas descobertas, para ela a
investigação tinha utilidade quase nula. As
descobertas nos campos da mecânica e da
tecnologia do vapor eram sobretudo aplicadas
no aperfeiçoamento de armas, no encorajar das
superstições e no entretenimento dos reis. Os
cientistas nunca se deram conta do potencial de
libertação dos homens que as máquinas
continham. (À única excepção de Arquimedes,
que enquanto esteve na Biblioteca de
Alexandria inventou o parafuso de água, ainda
hoje utilizado no Egipto para a irrigação dos
campos. Mas mesmo assim considerava que
esses mecanismos engenhosos tinham pouco a
ver com a dignidade da ciência.)
As grandes realizações intelectuais da
antiguidade tiveram poucas aplicações
imediatas: a ciência nunca cativou a
imaginação das massas. Não havia contrapeso
para a estagnação, o pessimismo, e a mais vil
submissão ao misticismo. E quando por fim a
populaça veio incendiar a biblioteca, não
houve ninguém que a impedisse de o fazer.
O último cientista a trabalhar na biblioteca
foi… uma mulher. Distinguiu-se na
matemática, na astronomia, na física e foi
ainda responsável pela escola de filosofia
neoplatónica — uma extraordinária
diversificação de actividades para qualquer
pessoa da época. O seu nome, Hipácia. Nasceu
em Alexandria em 370. Numa época em que as
mulheres tinham poucas oportunidades e eram
tratadas como objectos, Hipácia movia-se
livremente e sem problemas nos domínios que
pertenciam tradicionalmente aos homens.
Segundo todos os testemunhos, era de grande
beleza. Tinha muitos pretendentes mas rejeitou
todas as propostas de casamento. A Alexandria
do tempo de Hipácia — então desde há muito
sob o domínio romano — era uma cidade em
que se vivia sob grande pressão. A escravatura
tinha retirado à civilização clássica a sua
vitalidade, a igreja cristã consolidava-se e
tentava eliminar a influencia e a cultura pagãs.
6
Hipácia encontrava-se no meio dessas
poderosas forças sociais. Cirilo, o arcebispo de
Alexandria, desprezava-a por causa da sua
relação estreita com o governador romano, e
porque ela era um símbolo da sabedoria e da
ciência, que a igreja nascente identificava com
o paganismo. Apesar do grande perigo que
corria, continuou a ensinar e a publicar até que
no ano de 415, a caminho do seu trabalho, foi
atacada por um grupo de fanáticos partidários
do arcebispo Cirilo. Arrastaram-na para fora
do carro, arrancaram-lhe as roupas e, com
conchas de abalone, separaram-lhe a carne dos
ossos. Os seus restos foram queimados, os seus
trabalhos destruídos, o seu nome esquecido.
Cirilo foi santificado.
A glória da Biblioteca de Alexandria é agora
apenas uma vaga recordação. Tudo aquilo que
dela restava foi destruído logo a seguir à morte
de Hipácia. Foi como se a civilização inteira
tivesse efectuado uma lobotomia a si mesma, e
grande parte dos seus laços com o passado, das
suas descobertas, das suas ideias e das suas
paixões extinguiram-se para sempre. A perda
foi incalculável. Em alguns casos, apenas
conhecemos os aliciantes títulos das obras
então destruídas, mas, na sua maioria, não
conhecemos nem os títulos nem os autores.
Sabemos que das 123 peças de teatro de
Sófocles existentes na biblioteca, só sete
sobreviveram. Uma delas é o Édipo Rei. Os
mesmos números aplicam-se às obras de
Ésquilo e Eurípedes. É um pouco como se os
únicos trabalhos sobreviventes de um homem
chamado William Shakespeare fossem
Coriolano e O Conto de Inverno, mas sabendo
nós que ele escrevera outras peças, hoje
desconhecidas embora aparentemente
apreciadas na época, obras chamadas Hamlet,
Macbeth, Júlio César, Rei Lear, Romeu e
Julieta…
Do conteúdo científico desta gloriosa
biblioteca não resta um único manuscrito.
(SAGAN, C: Cosmos, tradução de Maria Auta
de Barros et al., Gradiva, 2001, pp. 332-6.)
 MAHATMA GANDHI, A demanda
pela simplicidade, A minha ideia de
Swaraj.
A Terra dá o suficiente para satisfazer as
necessidades de todos os homens, mas não
para satisfazer a ganância de todos os homens.
Eu não acredito que a multiplicação das
necessidades e das máquinas inventadas para
satisfazer essas necessidades esteja a levar o
mundo, um passo que seja, mais adiante no seu
objectivo... Eu detesto, com todo o meu
coração, este desejo louco do se destruir a
distância e o tempo, de aumentar os apetites
animais e de se ir até aos confins da terra na
busca da sua satisfação. Se a civilização
moderna significa todas estas coisas, como eu
penso ter compreendido que sim, então eu
considero-a uma civilização Satânica.
Eu considero roubo tirar o fruto que não
necessito, ou tirar uma quantidade maior do
que a necessária. Nós, muitas vezes, não
estamos conscientes das nossas reais
necessidades, e a maior parte de nós, de modo
impróprio, multiplica os seus desejos. E, desta
maneira, inconscientemente, fazemos de nós
mesmos ladrões.
A verdadeira economia é a economia da
justiça. As pessoas serão felizes desde que elas
aprendam a fazer justiça e a ser correctas.
Tudo o resto não é mais do que vaidade, e
leva-nos directamente à destruição. Ensinar as
pessoas a quererem tornar-se ricas por teimosia
ou por malandragem é fazer-lhes uma enorme
injustiça.
A minha ideia duma vila swaraj é a de que é
uma república perfeita, independente dos seus
vizinhos nas suas necessidades vitais e, no
entanto, inter-dependente em muitas outras
coisas em que a dependência é necessária....
Numa estrutura composta de inúmeras vilas... a
vida não será uma pirâmide, com o topo sendo
suportado pela base, mas ela será um ciclo
oceânico cujo centro se encontra em cada
indivíduo... O círculo exterior não utilizará do
poder para esmagar o círculo interior, mas dará
força a todos dentro desse círculo, e buscará
também a sua força dentro dele.
Vocês não pensem que estou a descrever uma
vila como as que existem hoje-em-dia. Esta
vila dos meus sonhos ainda está na minha
mente. E, ao fim e ao cabo, todos os homens
vivem no mundo dos seus sonhos. A minha
vila ideal será habitada por pessoas
inteligentes. Eles não viverão no meio da
sujidade e porcaria, como animais. Tanto os
homens como as mulheres serão livres e terão
a capacidade de afirmar a sua vontade contra
outra a de outra pessoa qualquer do mundo.
Não haverá nem praga, nem cólera, nem
sarampo. Ninguém será preguiçoso, ninguém
irá chafurdar na luxúria. Toda a gente terá de
contribuir com a sua quota-parte de trabalho
manual. Será possível concebermos caminhos-
de-ferro, correio e telégrafo... e talvez outras
coisas parecidas...
O que eu sou contra é a loucura pelas
máquinas. Não sou contra a máquina em si.
Sou contra esse fanatismo pelas máquinas que
poupam mão-de-obra. O Homem continua a
"poupar" mão-de-obra até que milhares de
pessoas são atiradas para as ruas, sem
emprego, para morrerem de fome. Eu quero
7
poupar tempo e trabalho, não a um grupo da
humanidade, mas a todos. Eu quero a
concentração da riqueza não nas mãos de uns
poucos, mas nas mãos de todos. Hoje em dia,
as máquinas somente ajudam uns poucos a
andarem montados nas costas de milhões. O
ímpeto por detrás disto tudo não é a filantropia
de querer poupar trabalho, mas sim a ganância.
E contra este tipo de coisas que eu luto com
toda a minha energia.
O objectivo a ser procurado é a felicidade
humana combinada com um desenvolvimento
total, a nível mental e moral. Eu uso o
adjectivo moral como sinónimo de espiritual.
Este fim pode ser atingido pela
descentralização do poder. Centralização,
como sistema, é inconsistente com uma
estrutura de sociedade não-violenta.
(Tradução do original Inglês por Miguel
Gullander. Em The Post-Development Reader,
compilação e introdução de Majid Rahnema e
Victoria Bawtree, David Phililp, 2001)
 NELSON MANDELA (Discurso
Inaugural da Presidência, tradução do
Inglês por Miguel Gullander).
O nosso maior medo não é o medo de sermos
inadequados. O nosso maior medo é o de
sermos poderosos para lá de todas as
medidas. O que mais nos assusta não é o facto
de sermos escuros — mas sim o facto de
sermos luminosos.
Nós perguntamo-nos a nós mesmos: Quem sou
eu para ser brilhante, lindo, talentoso,
fabuloso? Mas na verdade quem somos nós
para não o sermos? Tu és um filho de Deus. E
diminuíres-te, fazeres-te pequeno, não serve ao
mundo. Não há nada de inteligente, nem de
iluminado em diminuíres-te de modo a que as
outras pessoas à tua volta não se sintam
inseguras.
Todos nós somos destinados, somos feitos para
irradiar luz, para resplandecer e brilhar — tal
como as crianças o fazem. Nós nascemos para
manifestar a glória de Deus que está dentro de
nós. E essa luz e glória não está dentro de
apenas de alguns de nós — está em todos nós,
está em toda a gente.
E assim, quando deixamos a nossa luz brilhar,
inconscientemente estamos a dar às outras
pessoas permissão delas fazerem o mesmo.
Assim que nos libertarmos do nosso próprio
medo, a nossa presença automaticamente
liberta os outros.
 A SABEDORIA DE ANTHONY DE
MELLO
PALAVRAS
Os monges estavam absortos numa discussão
acerca da famosa frase de Lao-Tzu que diz:
“Aqueles que sabem não dizem nada. Aqueles
que dizem é porque não sabem”. Quando o
Mestre entrou, perguntaram-lhe qual era o
significado exacto daquelas palavras. Disse o
Mestre: “Qual de vocês sabe como é o cheiro
de uma rosa?”. Todos sabiam. “Agora ponham
isso em palavras”. Todos ficaram em silêncio.
SABER
Havia regras no mosteiro Zen, mas o Mestre
alertou relativamente ao perigo da tirania da
lei. “A obediência mantém as leis”, costumava
ele dizer. “O amor sabe quando quebrá-las”.
ACORDA!!!
A maior parte das pessoas, se bem que não
esteja disso consciente, anda a dormir. Elas
nascem a dormir, vivem a dormir, casam-se a
dormir, têm filhos a dormir, e morrem a dormir
sem nunca terem acordado. Elas nunca
descobrem, nem compreendem a beleza desta
coisa a que chamamos existência humana.
Vocês sabem, todos os sábios, não interessa
qual a sua religião, estão de acordo numa
coisa: que tudo está bem, tudo está bem.
Apesar de tudo estar uma confusão e um caos,
tudo está bem. É um estranho paradoxo. Mas
tragicamente a maior parte das pessoas nunca
chega a descobrir que tudo está bem, porque
elas estão a dormir. Elas estão a ter um
pesadelo.
No ano passado vi na televisão espanhola uma
história dum homem que bate à porta do seu
filho que está a dormir. “Jaime” chama ele.
“Acorda!” O Jaime responde, “Eu não quero
levantar-me da cama pai”. O pai grita,
“Levanta-te, porque tens de ir para a escola!”.
O Jaime responde, “Eu não quero ir para a
escola”. “Porque não?” pergunta o pai. “Por
três razões” diz o Jaime. “Primeiro, porque é
uma chatice; segundo, porque os miúdos
gozam comigo; e terceiro porque odeio a
escola”. E o pai responde, “Bem, eu vou dar-te
três razões porque tu TENS que ir para a
escola. A primeira, porque é o teu dever; a
segunda porque tens 45 anos de idade; e a
terceira, porque és o director da escola”.
Acorda! Acorda! Já és um adulto. És grande
demais para querer ficar a dormir. Acorda!
Pára de brincar com os teus brinquedos.
A maior parte das pessoas dir-vos-á que
querem sair do infantário, mas vocês não
acreditem nelas. Não acreditem nelas!!! Tudo
o que elas querem é que vocês lhes consertem
os seus brinquedos que estão partidos. “Dá-me
de volta a minha mulher. Dá-me de volta o
8
meu emprego. Dá-me de volta o meu dinheiro.
Dá-me de volta a minha reputação, o meu
sucesso”. Isto é tudo o que elas querem. Elas
querem que substituam os seus brinquedos.
Apenas isto. Até o melhor dos psicólogos vos
dirá isto: que, de facto, as pessoas não querem
ser curadas. O que elas querem é alívio; a cura
é dolorosa. Acordar é desagradável, como
sabem. Vocês estão numa bela e confortável
cama. É irritante ser acordado. Esta é a razão
porque nenhum professor que seja sábio
tentará fazer as pessoas acordar. E eu espero
estar a ser sábio aqui e não fazer nenhuma
tentativa para vos acordar caso vocês estejam a
dormir. Na verdade eu não tenho nada que o
fazer, mesmo que de vez em quando eu diga
“Acordem!”. A única coisa de devo fazer é
levar a minha vida, dançar a minha dança. E se
vocês tirarem alguma vantagem disso,
fantástico. Se não, pior para vocês! Tal como
os Árabes dizem “A natureza da chuva é a
mesma, mas faz espinhos nascerem nos
pântanos, e flores nascerem nos jardins”.
Não há nada tão extraordinário e delicioso
como o estar atento. Não me digam que
preferiam viver na escuridão? Preferiam agir e
não estar conscientes das vossas acções, falar e
não estar conscientes das vossas palavras?
Preferiam ouvir as pessoas e não estar
conscientes do que estão a ouvir, ou olhar para
coisas e não estarem conscientes daquilo para
que estão a olhar? O grande Sócrates disse,
“Uma vida desatenta nem vale a pena viver.”
Isto é uma verdade evidente em si mesma.
A maior parte das pessoas não vive vidas
atentas. A maior parte das pessoas não está
consciente da sua própria vida. Elas vivem
vidas mecânicas, com pensamentos mecânicos
— pensamentos que geralmente pertencem a
outra pessoa qualquer. Elas têm emoções
mecânicas, acções mecânicas, reacções
mecânicas.
Vocês querem ver até que ponto são também
mecânicos?
“Oh, que bela camisa que tu tens!” dizem-vos
e vocês sentem-se orgulhosos por ouvirem
isso. Por causa duma camisa, por amor de
Deus! As pessoas vêm até à minha casa na
Índia e dizem, “Que sítio espectacular, que
árvores maravilhosas!” (árvores pelas quais eu
não sou, mesmo nada, responsável). E dizem,
“Que clima maravilhoso.” E eu começo a
sentir-me bem e feliz por ouvir estas coisas, até
que me apanho a mim mesmo a sentir-me bem,
e digo, “Eh lá! Podes imaginar alguma coisa
mais estúpida que isto?”. Eu não sou
responsável por aquelas árvores; eu não sou
responsável por escolher esta localização. Eu
não controlo o clima; simplesmente aconteceu.
Mas agora o “eu” mete-se pelo meio, por isso
eu sinto-me bem. Sinto-me bem porque causa
da “minha” cultura, por causa da “minha”
nação. Será possível que sejamos assim tão
estúpidos? Estou a falar a sério.
As pessoas dizem-me que a “minha” grande
cultura indiana produziu todos estes místicos e
filósofos fantásticos. No entanto, eu não os
produzi. Eu não sou responsável pela sua
existência. Ou então as pessoas dizem-me,
“Este teu país e a sua pobreza... é nojento”. E
aí eu sinto-me envergonhado. Mas eu não criei
este país. O que é que passa com a nossas
cabeças? Vocês já alguma vez pararam por um
segundo para pensar? As pessoas dizem-vos
“Você é o melhor, você é espectacular!” e por
causa disso uma pessoa sente-se
maravilhosamente bem. Nós sentimos assim
como que uma carícia no ego, um impulso
positivo. Mas um dia eu vou escrever um livro
e o título vai ser “Eu sou uma besta. Tu és
uma besta”. E isso é a coisa mais libertadora,
a coisa mais maravilhosa do mundo quando
admitimos, abertamente, que somos uma
grande besta. É absolutamente fantástico.
Quando as pessoas me criticam e dizem, “Estás
errado!”. Eu respondo, “Claro, o que é que
estavas à espera da parte duma besta?”.
Desarmados, todos precisam de ser
desarmados. Esta é a libertação final, eu sou
uma grande besta, tu és uma grande besta. No
dia-a-dia o que acontece é que alguém carrega
num botão e vocês ficam felizes. Depois
alguém carrega noutro botão vocês ficam
completamente em baixo outra vez. E vocês
gostam disso. Quantas pessoas é que vocês
conhecem que não são afectadas nem tocadas,
seja por elogios ou por críticas? “Ah, mas não
ser tocado, nem afectado pelos elogios ou
críticas não é humano”, dizemos nós.
Então isso quer dizer que nós, humanos, temos
de ser como um macaquinho a quem toda a
gente pode torcer a cauda, e cada vez que vos
torcem a cauda então vocês fazem logo aquilo
que é “o vosso dever”. Isso é humano? Se
vocês me acham espectacular é simplesmente
porque vocês estão bem dispostos e de bom
humor. Nada mais.
Isto também quer dizer que eu tenho de fazer
parte da vossa lista-de-compras. Todos nós
andamos de um lado para outro com uma lista-
de-compras. E as outras pessoas têm de
corresponder àquilo que temos na nossa lista-
de-compras... “Alto, hum, moreno, hum,
bonito, hum, de acordo com os meus gostos...
sim, e também gosto da sua voz”. E depois
vocês dizem, “Estou apaixonado, estou
apaixonada”. Vocês não estão nada
apaixonados, minhas bestas. Cada vez que
vocês dizem que estão apaixonados — e eu
quase que hesito em dizer isto — vocês estão a
9
ser especialmente bestiais. Sentem-se e
observem o que se está a passar convosco.
Vocês estão a fugir de vocês mesmos. Vocês
querem escapar. Houve alguém que um dia
disse, “Obrigado meu Deus pela realidade, e
pelos meios para podermos fugir dela”. E isto é
o que está o tempo todo a acontecer. Somos
tão mecânicos, tão controlados. Escrevemos
livros acerca de se ser controlado, e de como é
maravilhoso ser-se controlado, e de como é
necessário as pessoas dizerem-vos que vocês
são bons, espectaculares. E então vocês
começam a sentir-se bem acerca de vocês
mesmos. Como é maravilhoso estar na prisão!
Ou, como alguém ontem me disse, estar na
nossa gaiola. Vocês gostam de estar na prisão?
Vocês gostam de ser controlados? Deixem-me
dizer-vos uma coisa: a partir do momento que
vocês começarem a sentir-se bem porque as
pessoas vos dizem que vocês são
espectaculares, então comecem a preparar-se
para se sentirem mal quando as pessoas vos
disserem que vocês não são espectaculares.
Enquanto vocês viverem para corresponder às
expectativas das outras pessoas, então vocês
têm que ter cuidado com o que vestem, com a
maneira como penteiam o vosso cabelo, se os
vossos sapatos estão bem — resumindo, vocês
tem que viver para corresponder, para estar ao
nível de todas as malditas expectativas que as
outras pessoas têm em relação a vocês. Vocês
tem de viver para conseguir ser tudo aquilo
que os outros acham que é o importante.
Vocês acham que isto é humano?
(Tradução de Miguel Gullander. Ver original e
mais textos em www.spiritwalk.com. Ver
também The DeMello Spirituality Center
@Fordham University, www.demello.org)
 SHAKESPEARE, JÚLIO CÉSAR
CENA II
Roma-Fórum
Entram Bruto e Cássio e uma chusma de
cidadãos.
CIDADÃO
Queremos que nos dêem explicações.
Queremos explicações!
BRUTO
Então, segui-me e concedei-me audiência,
amigos. - Cássio, ide por outra rua,
repartiremos o povo entre nós. - Aqueles
que me quiserem ouvir falar, fiquem aqui;
os que quiserem ouvir falar Cássio, sigam-
no. Públicas satisfações da morte de César
hão-de ser-vos dadas.
1º CIDADÃO
Eu quero ouvir falar Bruto.
2º CIDADÃO
Eu ouvirei Cássio. Compararemos os seus
argumentos quando os tivermos ouvido aos
dois. (Cássio sai, seguido do alguns
cidadãos. Bruto sobe aos Rostros.)
3º CIDADÃO
O nobre Bruto vai falar. Silêncio!
BRUTO
Tende paciência até ao fim. Romanos,
compatriotas, amigos, atendei a minha
causa e conservai-vos em silêncio a fim de
melhor me ouvirdes. Crede na minha honra
e respeitai-a, se quiserdes crer-me. Julgai-
me segundo a vossa sapiência, despertai os
vossos sentidos a fim de, que vos seja
possível julgar-me conscienciosamente. Se
há alguém nesta assembleia amigo de
César, dir-lhe-ei que por mais amigo que
dele fosse, não era capaz de ter por César o
amor que Bruto lhe dedicava. Se esse
amigo perguntar porque foi então que
Bruto se revoltou contra César, eis qual
será a minha resposta: eu era amigo do
César, mas era muito mais amigo de Roma.
Preferiríeis que César vivesse e
morrêssemos nós todos escravos, ou que
César morresse para nós vivermos como
homens livres? César era meu amigo: eu
choro-o. Ele foi feliz, folgo com isso. Foi
valoroso, presto-lhe as minhas honras.
Mas, como era ambicioso, eu matei-o. Eis
lágrimas para o chorar, porque o amava;
alegria pela sua fortuna, veneração pelo
seu valor, e a morte pela sua ambição!
Qual é aqui o homem assaz vil que queira
ser escravo? Se houver um, que fale, pois
eu ofendi-o! Qual é aqui o homem assaz
bárbaro para não querer ser romano? Se
houver um, que fale, pois eu ofendi-o!
Qual é aqui o homem assaz desprezível
para não amar a pátria? Se houver um, que
fale, pois eu ofendi-o! Espero que me
respondam.
CIDADÃOS (falando todos ao mesmo
tempo)
Tal homem não existe, Bruto, não existe!
BRUTO
Então, não ofendi ninguém. Não fiz a
César senão o que vós teríeis feito a Bruto.
As razões da sua morte estão inscritas no
10
Capitólio. Elas não lhe atenuam a glória no
que merecia louvores, nem lhe exageram
as culpas pelas quais sofreu a morte
(Entram António e outros com o cadáver
de César.) Aqui vem o corpo de César,
pranteado por Marco António. Sem ter
tomado parte nenhuma na conjura, dela
beneficiará, terá um lugar na República.
Qual de vós não lucrará assim com esta
morte? Retiro-me, afirmando o seguinte:
«Matei o meu melhor amigo por amor de
Roma; conservo o punhal que o matou para
mim próprio, no caso do meu país querer
dispor da minha vida.»
CIDADÃOS
Viva Bruto! Viva Bruto!
1° CIDADÃO
Levemo-lo em triunfo até sua casa!
2º CIDADÃO
Erijamos-lhe uma estátua no meio de todos
os seus antepassados!
3° CIDADÃO
Que seja César!
4° CIDADÃO
As melhores virtudes de César vão ser
coroadas em Bruto.
1° CIDADÃO
Conduzamo-lo a casa com aplausos e
aclamações.
BRUTO
Compatriotas...
2º CIDADÃO
Silêncio! Silêncio! Bruto vai falar.
1º CIDADÃO
Silêncio!
BRUTO
Meus bons compatriotas, deixai que eu
parta só, e por consideração para
comigo, ficai aqui com António. Prestai
homenagem ao cadáver de César e honrai
o discurso que António vai pronunciar,
celebrando a glória de César, como por
nós foi autorizado a fazer. Suplico-vos
que ninguém daqui saia, excepto eu, até
que António acabe de falar. (Sai)
1º CIDADÃO
Silêncio! Ouçamos Marco António!
3º CIDADÃO
Que suba à tribuna. Ouvi-lo-emos. —
Nobre António subi.
ANTÓNIO
Fico-vos muito obrigado por me
ouvirdes, em consideração a Bruto.
(Sobe)
4º CIDADÃO
Que diz ele de Bruto?
3º CIDADÃO
Diz que nos está muito reconhecido por o
ouvirmos, em consideração a Bruto.
4º CIDADÃO
Será bom que não diga uma única
palavra má relativamente a Bruto...
1º CIDADÃO
César era um tirano.
3º CIDADÃO
Não há dúvida, e foi uma felicidade para
nós que Roma se visse livre dele.
2º CIDADÃO
Silêncio! Ouçamos o que António poderá
dizer.
ANTÓNIO
Nobres romanos...
CIDADÃOS
Silêncio! Escutem!...
ANTÓNIO
Amigos, romanos, compatriotas, prestai-me
atenção. Vim para, sepultar César, não para
o louvar. O mal que os homens fazem vive
depois deles. O bem que puderam fazer
permanece quase sempre enterrado com os
seus ossos. Que seja assim para César. O
nobre Bruto disse-vos que César era um
ambicioso. A ser isso verdade, a culpa era
grave, e César dolorosamente, a expiou.
Com a autorização de Bruto e dos outros
(porque Bruto é um homem honrado, assim
como todos os outros são honrados) venho
falar nos funerais de César. Ele era, para
mim, um amigo fiel e justo. Mas Bruto diz
que ele era ambicioso, e Bruto é um homem
honrado. Ele trouxe a Roma numerosos
cativos, cujos resgates encheram os cofres
públicos. Era César ambicioso por isso?
Quando o pobre gemeu, César chorou. A
ambição deveria ser dum estofo mais rude.
Mas Bruto diz que ele era um ambicioso, e
Bruto é um homem de bem. Todos vós
vistes, nas Lupercais, que três vezes uma
11
coroa real lhe foi apresentada, e que três
vezes ele a recusou. Era isso ambição?
Contudo, Bruto diz que ele era um
ambicioso, e não há dúvida que Bruto é
honesto. Eu não falo para reprovar o que
Bruto disse; mas estou aqui para dizer o que
sei. Todos vós o amáveis antigamente e não
era sem motivo. Porque, pois, não o
pranteais hoje? O que é que vos impede
disso? Ó razão, onde estás tu, razão?
Refugiaste-te nas brutas feras, e os homens
ficaram sem ti! Sede indulgentes para
comigo. O meu coração está ali no esquife
de César, vejo-me obrigado a calar-me até
recuperar o ânimo.
1º CIDADÃO
Parece-me que tem muita razão no que diz.
2º CIDADÃO
Se bem considerares a coisa, verás que
César foi vítima de uma grande injustiça.
3º CIDADÃO
Pensais como eu, senhores! Tenho medo
de que venha outro pior do que ele.
4º CIDADÃO
Tomaste bem sentido nas palavras de
António? César não quis aceitar a coroa,
portanto é certo que ele não era
ambicioso.
1º CIDADÃO
Se isso se provasse, alguém o havia de
pagar caro!
2º CIDADÃO
Pobre alma! Tem os olhos vermelhos
como fogo por tanto chorar!
3º CIDADÃO
Em Roma não há outro homem mais nobre do
que António.
4º CIDADÃO
Atenção! Ele vai começar outra vez a falar.
ANTONIO
Ontem, ainda a palavra do César fazia tremer o
mundo e agora ei-lo por terra e ninguém, por
mais humilde que seja, lhe paga o seu tributo
de respeito. Ó meus amigos! Se cu estivesse
disposto a excitar os vossos corações e os
vossos espíritos à rebelião e à cólera, teria de
ser injusto com Bruto e para com Cássio, que,
todos o sabeis, são homens honrados. Não
quero; prefiro antes ser injusto para com o
morto, injusto para comigo mesmo, injusto
para com todos vós, do que sê-lo para com
homens tão honrados. Mas eis aqui um
pergaminho, com o selo do César, que
encontrai no seu quarto. É o testamento dele.
Se o povo conhecesse este testamento, que
n ã o faço tenção de ler, iria beijar as feridas
do corpo de César, molhar o lenço no seu
sangue sagrado, mendigaria um dos seus
cabelos, para guardá-lo como a essas relíquias
que à hora da morte se mencionam entre as
últimas vontades, e que são transmitidas
como um legado precioso à posteridade!
1º CIDADÃO
Queremos ouvir o testamento! Lede-o, Marco
António!
CIDADÃOS
O testamento! O testamento! Queremos ouvir o
testamento de César!
ANTÓNIO
Tende paciência, nobres amigos, não devo lê-
lo. Não convém que fiqueis sabendo quanto ele
vos amava. Vós não sois de pau, vós não sois
de pedra, vós sois homens, e , sendo homens,
se ouvísseis ler o testamento de César, isso
inflamar-vos-ia e tornar-vos-íeis furiosos. Não
convém que fiqueis sabendo que sois seus
herdeiros, porque, se o soubésseis, o que viria
a suceder?
4º CIDADÃO
Lede o testamento! Queremos ouvi-lo,
António! Deveis ler-nos o testamento, o
testamento de César!
ANTÓNIO
Sossegai! Quereis esperar mais um momento?
Fui mais longe do que queria, ao falar-vos. Fui
injusto — e disso tenho medo — para com
homens honrados que, com seus punhais,
assassinaram César. Sim, tenho medo disso.
4º CIDADÃO
Homens honrados! Traidores é o que eles são...
(Impresso pela primeira vez no in-folio de
1623, representado provavelmente entre 1600,
1603 ou 1607,Tradução do DR. DOMINGOS
RAMOS 1988, LELLO & IRMÃO-
EDITORES PORTO)
 SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS
PEIXES, PADRE ANTÓNIO VIEIRA
Vos estis sal terræ (S. Mateus, 5)
VÓS, diz Cristo Senhor nosso, falando com
os pregadores, sois o sal da terra: e chama-
12
lhes sal da terra, porque quer que façam na
terra o que faz o sal. O efeito do sal é
impedir a corrupção, mas quando a terra se
vê tão corrupta como está a nossa, havendo
tantos nela que têm ofício de sal, qual será,
ou qual pode ser a causa desta corrupção?
Ou é porque o sal não salga, ou porque a
terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal
não salga, e os pregadores não pregam a
verdadeira doutrina; ou porque a terra se
não deixa salgar, e os ouvintes, sendo
verdadeira a doutrina que lhe dão, a não
querem receber. Ou é porque o sal não
salga, e os pregadores dizem uma cousa e
fazem outra; ou porque a terra se não deixa
salgar, e os ouvintes querem antes imitar o
que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou
é porque o sal não salga, e os pregadores se
pregam a si e não a Cristo; ou porque a
terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em
vez de servir a Cristo, servem a seus
apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda
mal.
Suposto, pois, que, ou o sal não salgue
ou a terra se não deixe salgar; que se
há-de fazer a este sal, e que se há-de
fazer a esta terra? O que se há-de fazer
ao sal que não salga? Cristo o disse
logo: Quod si sal evanuerit, in quo
salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi
ut mittatur foras et conculcetur ab
hominibus (Mateus V – 13). Se o sal
perder a substância e a virtude, e o
pregador faltar à doutrina e ao
exemplo, o que se lhe há-de fazer, é
lançá-lo fora como inútil, para que
seja pisado de todos. Quem se atreverá
a dizer tal cousa, se o mesmo Cristo a
não pronunciara? Assim como não há
quem seja mais digno de reverência e
de ser posto sobre a cabeça, que o
pregador que ensina e faz o que deve;
assim é merecedor de todo o desprezo
e de ser metido debaixo dos pés o que
com a palavra ou com a vida prega o
contrário.
Isto é o que se deve fazer ao sal que
não salga. E à terra, que se não deixa
salgar, que se lhe há-de fazer? Este
ponto não resolveu Cristo Senhor
nosso no Evangelho; mas temos sobre
ele a resolução do nosso grande
português Santo António, que hoje
celebramos, e a mais galharda e
gloriosa resolução que nenhum santo
tomou. Pregava Santo António em
Itália na cidade de Arimino, contra os
hereges, que nela eram muitos; e como
erros de entendimento são dificultosos
de arrancar, não só não fazia fruto o
santo, mas chegou o povo a se levantar
contra ele, e faltou pouco para que lhe
não tirassem a vida. Que faria neste
caso o ânimo generoso do grande
António? Sacudiria o pó dos sapatos,
como Cristo aconselha em outro lugar?
Mas António com os pés descalços não
podia fazer esta protestação; e uns pés,
a que se não pegou nada da terra, não
tinham que sacudir. Que faria logo?
Retirar-se-ia? Calar-se-ia?
Dissimularia? Daria tempo ao tempo?
Isso ensinaria porventura a prudência,
ou a covardia humana; mas o zelo da
glória divina, que ardia naquele peito,
não se rendeu a semelhantes partidos.
Pois que fez? Mudou somente o
púlpito e o auditório, mas não desistiu
da doutrina. Deixa as praças, vai-se às
praias; deixa a terra, vai-se ao mar, e
começa a dizer a altas vozes: Já que
me não querem ouvir os homens,
ouçam-me os peixes. Oh, maravilhas
do Altíssimo! Oh, poderes do que
criou o mar e a terra! Começam a
ferver as ondas, começam a concorrer
os peixes, os grandes, os maiores, os
pequenos, e postos todos por sua
ordem com as cabeças de fora da água,
António pregava e eles ouviam.
Se a Igreja quer que preguemos de
Santo António sobre o Evangelho, dê-
nos outro. Vos estis sal terræ. É muito
bom o texto para os outros santos
doutores; mas para Santo António
vem-lhe muito curto. Os outros santos
doutores da Igreja foram sal da terra,
Santo António foi sal da terra e foi sal
do mar. Este é o assunto que eu tinha
para tomar hoje. Mas há muitos dias
que tenho metido no pensamento que
nas festas dos santos é melhor pregar
como eles, que pregar deles. Quanto
mais que o são da minha doutrina,
qualquer que ele seja, tem tido nesta
terra uma fortuna tão parecida à de
Santo António em Arimino, que é
força segui-la em tudo. Muitas vezes
vos tenho pregado nesta igreja, e
noutras, de manhã e de tarde, de dia e
de noite, sempre com doutrina muito
clara, muito sólida, muito verdadeira,
e a que mais necessária e importante é
a esta terra, para emenda e reforma
dos vícios que a corrompem. O fruto
que tenho colhido desta doutrina, e se
a terra tem tomado o sal, ou se tem
tomado dele, vós o sabeis e eu por vós
o sinto.
13
Isto suposto, quero hoje, à imitação de
Santo António, voltar-me da terra ao mar e,
já que os homens se não aproveitam,
pregar aos peixes. O mar está tão perto que
bem me ouvirão. Os demais podem deixar
o sermão, pois não é para eles. Maria, quer
dizer, Domina maris: «Senhora do mar»; e
posto que o assunto seja tão desusado,
espero que me não falte com a costumada
graça. Ave Maria.
(Sermão de Santo António aos Peixes. In
Diciopédia X [DVD-ROM]. Porto: Porto
Editora, 2006.)
 REINER MARIA RILKE. Cartas a um
jovem poeta.
Paris, 17 de Fevereiro de 1903
A sua carta só me chegou há alguns dias.
Quero agradecer-lhe a grande e amável
confiança dela. Pouco mais posso fazer. Não
posso pronunciar-me sobre os seus versos
porque estou muito longe de toda e qualquer
intenção crítica. Nada pode tocar menos uma
obra de arte do que as expressões críticas: isso
só dá lugar a equívocos mais ou menos felizes.
As coisas não são todas tão apreensíveis e
dizíveis como muitas vezes se gostaria de nos
fazer crer; a maior parte dos eventos são
indizíveis, perfazem-se num espaço que nunca
foi tocado por uma palavra, e mais indizíveis
do que tudo são as obras de arte, existências
secretas cuja vida perdura enquanto a nossa
passa.
Feita esta observação, só posso dizer-lhe que
nos seus versos não há uma voz pessoal,
embora haja indícios, tímidos e encobertos, de
uma personalidade própria. Sinto isso com a
maior clareza no último poema, “A minha
alma”. Aí há qualquer coisa de próprio que
quer chegar à palavra e à forma. E, na bela
poesia “A Leopardi”, desenha-se talvez uma
espécie de parentesco com esse grande
solitário. Apesar disso, os poemas ainda não
são nada em si, nada de autónomo, nem
mesmo o último, nem o que respeita a
Leopardi. A sua amável carta que os
acompanhou não deixa de me explicar muitas
falhas que eu senti na leitura dos seus versos,
sem todavia ser capaz de lhes dar nome.
Pergunta-me se os seus versos são bons. É a
mim que pergunta. Já antes perguntou a outros.
Envia-os às revistas. Compara-os com outros
poemas e fica inquieto se algumas redacções
recusam as suas as tentativas. Ora bem (já que
me autorizou a aconselha-lo), peço-lhe que se
deixe disso tudo. O senhor olha para fora e é
exactamente o que não deveria fazer agora.
Ninguém pode dar-lhe conselhos ou ajudá-lo,
ninguém. Há um único meio. Entre dentro de
si. Procure o motivo que o faz escrever;
examine se ele tem raízes até ao lugar mais
fundo do seu coração, confesse a si mesmo se
viria a morrer no caso de escrever lhe ser
vedado. Isto antes de mais nada: pergunte-se
na hora mais calada da noite: tenho de
escrever? Escave em si mesmo em busca de
uma resposta profunda. E se esta soar
afirmativamente, se o senhor tiver de enfrentar
esta questão séria com um forte e simples
“Sim, tenho”, então construa a sua vida em
função dessa necessidade; a sua vida terá de
ser um sinal e um testemunho desse impulso
até nas horas mais indiferentes e
insignificantes. Então aproxime-se da
Natureza. Então tente dizer, como se fosse o
primeiro homem, o que vê e vive e ama e
perde. Não escreva poemas de amor; comece
por evitar aquelas formas que são mais
correntes e comuns: são as mais difíceis, pois
requer uma grande força amadurecida exprimir
o que nos é próprio quando já existem
acumuladas tantas produções boas e até
esplendorosas. Por isso salve-se dos temas
gerais para os que lhe oferece a vida de todos
os dias; descreva as suas tristezas e desejos, os
pensamentos passageiros, a fé em qualquer
forma de beleza — descreva tudo isso com
sinceridade íntima, tranquila, humilde, e utilize
para se exprimir as coisas que o rodeiam, as
imagens dos seus sonhos e os objectos das suas
recordações. Se o seu dia-a-dia lhe parece
pobre, não o lamente; lamente-se a si, diga
para consigo que não é suficientemente poeta
para convocar as suas riquezas; pois para o
criador não existe escassez nem lugar pobre ou
indiferente. E mesmo que estivesse numa
prisão cujas paredes não deixassem chegar
nenhum dos ruídos do mundo aos seus sentidos
— então não teria ainda e sempre a sua
infância, essa riqueza preciosa e principesca,
essa câmara de tesouros da lembrança?
Concentre nela a sua atenção. Tente despertar
as sensações afundadas desse passado
longínquo; a sua personalidade ganhará
firmeza, a sua solidão há-de alargar-se e
tornar-se sua morada crepuscular e o ruído dos
outros passará ao longe. E se desse voltar-se
para dentro, desse mergulho no seu mundo
próprio, surgirem versos, então não lhe
ocorrerá perguntar a alguém se eles são bons.
Também não fará a tentativa de interessar as
revistas nesses trabalhos, pois verá neles a sua
dilecta e natural propriedade, um pedaço e uma
voz da sua vida. Uma obra de arte é boa
quando nasce da necessidade Nesta sua
maneira de irromper está o seu veredicto: não
há mais nenhum. Por isso, caro senhor, não
podia dar-lhe nenhum outro conselho além
14
deste: entrar em si mesmo e examinar as
profundezas de que brota a sua vida; nas
nascentes dela encontrará a resposta à pergunta
sobre se deve criar. Aceite-a como ela lhe soar,
sem se pôr com elaborações. Talvez tenha a
prova de que foi chamado a ser artista. Então
aceite o destino e assuma-o, no seu peso e na
sua grandeza, Com toda a dedicação e
simpatia, sem querer saber da recompensa que
poderia vir de fora. Na verdade o criador deve
ser um mundo parasi mesmo e tudo encontrar
em si e na Natureza a que se ligou. Mas talvez
tenha ainda, depois dessa descida em si e no
que em si é solidão, de desistir de ser um poeta
(basta sentir, como disse, que se pode viver
sem escrever, para que isso não nos seja lícito).
Mas mesmo então esse recolhimento que lhe
peço não terá sido em vão. A sua vida
encontrará de toda a maneira caminhos
próprios a partir daí e que eles sejam bons,
fecundos e amplos, é o que lhe desejo mais do
que posso dizer.
Que mais posso dizer-lhe? Parece-me que tudo
foi acentuado como devia; e enfim só desejaria
ainda aconselhá-lo a que cresça no silêncio e
na seriedade ao longo da sua evolução; não
poderia prejudicá-la mais fortemente do que
olhando para fora e esperando de fora a
resposta a perguntas a que só o seu sentir mais
íntimo, nas suas horas mais silenciosas, pode
talvez responder.
Foi uma alegria para mim encontrar na sua
carta o nome do senhor professor Horaceck;
tenho por esse amável sábio uma grande
veneração e uma gratidão que perdura pelos
anos. Peço-lhe o favor de lhe transmitir estes
meus sentimentos; desvanece-me que ele se
lembre ainda de mim e registo-o com apreço.
Devolvo-lhe com esta os versos que tão
amigavelmente me confiou. E mais uma vez
lhe agradeço a generosa cordialidade da sua
confiança de que eu tentei tornar-me um pouco
mais digno do que, como estranho, realmente
sou, respondendo sinceramente e o melhor que
sei.
 CURIOSO NÃO?
De aorcdo com uma pqsieusa de uma
uinrvesriddae ignlsea, nao ipomtra a odrem
plea qaul as lrteas de uma plravaa etaso, a
úncia csioa iprotmatne é que a piremria e
útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo.
O rseto pdoe ser uma ttaol csãofnuo que vcoe
pdoe anida ler sem gnderas pobrlmea. Itso é
poqrue nós nao lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a
plravaa cmoo um tdoo.
Cosiruo não?
 AS 7 VERDADES BÁSICAS
1. A imaginação cria a tua realidade.
2. Os pensamentos são coisas.
3. Aquilo em que tu pensas cresce.
4. Tu transformaste naquilo em que pensas.
5. As tuas conclusões e ideias formam o teu
mundo; por isso mantém a tua mente naquilo
que queres, e afasta a tua mente daquilo que
não queres.
6. Tu podes transformar o teu mundo ao
mudares as tuas conclusões e ideias.
7. Se tu não podes mudar uma situação, podes
mudar o seu efeito em ti mudando as tuas
conclusões e atitude em relação a ela, e
possivelmente até serás capaz de mudar a
situação. Se não podes mudar o destino,
muda a tua atitude.
 COMO NASCEM ALGUMAS DAS
NOSSAS ATITUDES
Um grupo de cientistas colocou 5 macacos
numa jaula, em cujo centro puseram uma
escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia a escada para
apanhar as bananas, os cientistas lançavam um
jacto de água fria nos macacos que estavam no
chão. Depois de certo tempo, quando um
macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no
de pancadas. Passado mais algum tempo,
nenhum macaco subia mais a escada, apesar da
tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco
macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir
a escada, dela sendo rapidamente retirado
pelos outros, que lhe deram uma sova. Depois
de algumas surras, o novo integrante do grupo
já não mais subia a escada. Um segundo
macaco foi substituído, e o mesmo aconteceu,
tendo o primeiro substituto participado, com
entusiasmo, da sova e surra do novato. Um
terceiro macaco foi trocado, e repetiu-se a
mesma coisa. Um quarto macaco e, finalmente,
o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de
cinco macacos que, mesmo nunca tendo
tomado banho frio, continuavam a bater
naquele que tentasse chegar às bananas. Se
fosse possível perguntar a algum deles porque
batiam em quem tentasse subir a escada, com
certeza a resposta seria: “Não sei, as coisas
sempre foram assim por aqui...”
Tu pergunta-te a ti mesmo acerca das tuas
atitudes, das tuas conclusões... e diz aos teus
amigos porque será que tantas vezes eles se
estão a bater...
Einstein disse: “É mais fácil desintegrar um
átomo do que um preconceito”.
15
 THICH NHAT HANH, Por favor
chama-me pelos meus verdadeiros
nomes. (Tradução do original Inglês por
Miguel Gullander)
Na aldeia das Ameixeiras, na França,
recebemos centenas de cartas por semana,
vindas dos campos de refugiados em
Singapura, Malásia, Tailândia, Indonésia e
Filipinas. É doloroso ler essas cartas, mas
temos que fazê-lo, para nos pormos em
contacto. Fazemos o que podemos para ajudar,
mas o sofrimento é tão grande que às, vezes,
ficamos desencorajados. Sabe-se que metade
dos boat-people morre no oceano, e só metade
chega às margens do sudoeste da Ásia.
No meio dos boat-people há muitas meninas
que são violadas pelos piratas do mar. Mesmo
com as Nações Unidas e outros países tentando
ajudar o governo da Tailândia para impedir
esse tipo de pirataria, os piratas continuam
causando muito sofrimento aos refugiados. Um
dia recebemos uma carta contando-nos sobre
uma menina que havia sido estuprada por um
pirata da Tailândia. Ela tinha apenas 12 anos e
após ser violada atirou-se ao oceano,
afogando-se.
Ao saberes uma coisa destas ficas logo com
raiva do pirata. Tu, naturalmente, ficas do lado
da menina. Mas à medida que começas a olhar
mais profundamente, passas a ver de modo
diferente. Tomar o partido da menina é fácil.
Tu apenas agarras numa arma e enfias um tiro
no pirata. Mas não podemos fazer isso! Na
minha meditação vi que se tivesse nascido na
aldeia do pirata e fosse criado nas mesmas
condições que ele, eu agora seria um pirata.
Haveria uma grande margem de probabilidade
de ter-me tornado pirata. Não o posso
condenar tão facilmente. Na minha meditação
vi que centenas de bebés nascem a cada dia ao
longo do golfo do Sião, e se nós educadores,
servidores sociais, políticos e outros não
fizermos nada pela situação, dentro de 25 anos
um bom número deles se tornará pirata. Isso é
certo. Se tu ou eu tivéssemos nascido hoje
nessas aldeias de pescadores, poderíamos nos
tornar piratas daqui a 25 anos. Se tu agarras
numa arma e dás um tiro no pirata estarás
disparando sobre todos nós, porque todos
somos, em certo sentido, responsáveis por este
estado de coisas.
Após uma longa meditação eu escrevi este
poema. Nele há três pessoas: a menina de 12
anos, o pirata e eu. Podemos olhar e nos
reconhecer a nós mesmos em cada uma dessas
pessoas. O título do poema é Por favor
chama-me pelos meus verdadeiros nomes,
porque eu tenho tantos nomes. Quando ouço
um desses nomes tenho de responder sim.
Não digas que amanhã partirei
porque ainda hoje estou sempre chegando.
Olha profundamente; eu chego a cada segundo
para ser o botão no ramo da primavera,
para ser o pequeno pássaro, de frágeis asas,
aprendendo a cantar no seu novo ninho,
para ser a lagarta no coração da flor,
para ser a jóia escondendo-se numa pedra.
Eu sempre chego para rir e chorar,
para ter medo e esperança,
o ritmo de meu coração é o nascimento e
morte de tudo o que está vivo.
Eu sou a mosca d’água metamorfoseando-se
na superfície do rio,
e sou o pássaro, que, chegada a primavera,
surge em tempo para engolir a mosca d’água.
Eu sou o sapo nadando alegremente na
água clara do poço,
e sou também a cobra cascavel que,
aproximando-se em silêncio,
engole o sapo.
Eu sou a criança do Uganda, toda pele e osso,
minhas pernas finas como palitos de bambu,
e sou o negociante, vendendo armas
mortíferas,
instrumentos de morte e fogo para o Uganda.
Eu sou a menina de 12 anos, refugiada
no pequeno barco,
que se atira ao oceano depois
de ser violada pelo pirata do mar,
e eu sou o pirata, meu coração ainda incapaz
de saber ver e amar.
Eu sou o membro do politburo com
muitos poderes nas mãos,
e sou o homem que tem de pagar a sua
“dívida de sangue” ao seu povo,
morrendo lentamente num campo de trabalho
forçado.
Minha alegria é como a primavera, que tão
calorosa faz
flores desabrocharem em todos os campos da
vida.
Minha dor é como um rio de lágrimas, tão
cheio que
Inunda até à borda os quatro oceanos.
Por favor, chama-me pelos meus verdadeiros
nomes,
de tal forma que eu possa ouvir todos os meus
prantos
e risos de uma só vez,
16
de tal forma que eu veja a minha alegria e a
minha dor
como sendo uma só.
Por favor, chama-me pelos meus verdadeiros
nomes,
de tal forma que eu possa acordar,
e assim a porta do meu coração seja aberta,
a porta da compaixão.
 AS PEGADAS NA AREIA (autor
anónimo, tradução do Inglês por Miguel
Gullander)
Uma noite tive um sonho. Sonhei que estava a
andar ao longo da praia com Deus do meu
lado, e ao caminhar relampejavam pelo céu
cenas da minha vida. Em cada cena da minha
vida notei que haviam dois pares de pegadas
na areia. Um dos pares de pegadas pertencia-
me e o outro pertencia a Deus. Quando a
última cena da minha vida passou diante de
nós olhei para trás para as pegadas na areia. E
notei que em alguns momentos da minha vida
só havia uma linha de pegadas na areia.
Também reparei que isso acontecia
exactamente nos piores e mais tristes
momentos da minha vida. Isto fez-me ficar
muito apreensivo e perguntei a Deus porque é
que exactamente nos piores momentos da
minha só havia um par de pegadas. “Deus,
disseste uma vez que, se eu decidisse seguir-
Te, haverias de caminhar comigo ao longo de
todo o caminho, mas agora notei que durante
os piores momentos da minha vida só há um
par de pegadas na areia. Não compreendo
porque é que nos piores momentos, em que
mais precisei de Ti, deixaste-me a caminhar
sozinho”.
Deus respondeu, “Minha querida e preciosa
criança, Eu amo-te e nunca te deixaria sozinho
durante os momentos de maior tribulação e
sofrimento. Quando tu vês apenas um par de
pegadas é porque exactamente nesses
momentos Eu te levava ao colo”.
 AS LEIS VIKING (Tradução do Sueco
por Miguel Gullander)
1) Sê corajoso e agressivo
Sê directo.
Agarra todas as oportunidades.
Usa variados métodos de ataque.
Sê versátil e ágil.
Ataca apenas um alvo de cada vez.
Não planeies tudo em detalhe.
Usa as armas da melhor qualidade.
2) Está sempre preparado
Mantém as armas em boas condições.
Mantém-te em boa forma física.
Junta-te a bons companheiros de combate.
Concordem sempre nos pontos importantes.
Escolhe apenas um só chefe.
3) Sê um bom mercador
Descobre aquilo que o mercado necessita.
Não prometas o que não podes cumprir.
Não exijas receber demasiado.
Prepara sempre as coisas de modo a que possas
regressar.
4) Mantém o acampamento em ordem
Mantém as coisas limpas e organizadas.
Organiza actividades agradáveis que
fortaleçam o espírito de grupo.
Certifica-te de que toda a gente faz trabalho
útil.
Consulta todos os membros do grupo para
receberes conselhos.
 CHEFE TECUMSEH, TRIBO
SHAWNEE (1768-1813)
Vive a tua vida de modo a que o medo da
morte nunca entre o teu coração.
Nunca incomodes ninguém acerca da sua
religião; mas respeita os outros nos seus pontos
de vista e exige que respeitem os teus.
Ama a tua vida, aperfeiçoa a tua vida, torna
belas todas as coisas na tua vida.
Procura fazer com que tua vida seja longa e
que o seu propósito esteja ao serviço do teu
povo.
Prepara uma nobre canção de morte para o dia
em que atravessares o Grande Abismo.
Dá sempre uma palavra ou faz um sinal de
saudação quando te encontrares ou passares
por um amigo, ou até mesmo um estranho,
quando em sítios solitários.
Mostra respeito por toda a gente, mas nunca te
submetas a ninguém.
Quando te levantas de manhã agradece pela
comida e pela alegria de viver. Se não
consegues ver nenhuma razão para agradecer,
o problema está só em ti mesmo. Não abuses
de nada nem de ninguém pois o abuso faz do
sábio um louco e rouba ao espírito a sua visão.
Quando chegar a tua altura de morreres, não
sejas como aqueles cujos corações estão cheios
do medo de morrer, e assim, quando a sua hora
chega choram e imploram por um pouco mais
de tempo para poderem viver as suas vidas de
novo de modo diferente.
Canta a tua canção de morte e morre como um
herói que regressa a casa.
 PURO SHAMANISMO (Ensinamentos
do índio Don Juan, recolhidos por Carlos
Castañeda, tradução Miguel Gullander)
Qualquer caminho é apenas um caminho, e não
há qualquer ofensa, seja à pessoa ela própria,
17
seja aos outros, em abandoná-lo caso isso seja
o que o teu coração te diz para fazeres....
Observa cuidadosa e atentamente cada
caminho. Observa-os a todos eles
deliberadamente. Tenta-os tantas vezes quanto
pensares ser necessário. E então, pergunta-te a
ti mesmo, e a ti mesmo apenas, uma questão...
Será que este caminho tem coração? Se tem,
então o caminho é bom. Se não tem coração,
então esse caminho não te serve.
 CONTO JAPONÊS
Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já
idoso, que se dedicava a ensinar o Zen aos
jovens. Apesar da sua idade, corria a lenda de
que ainda era capaz de derrotar qualquer
adversário.
Certa tarde, um guerreiro conhecido pela sua
total falta de escrúpulos apareceu por ali.
Queria derrotar o samurai e aumentar sua
fama. O velho aceitou o desafio e o jovem
começou a insultá-lo. Chutou algumas pedras
na direcção do samurai, cuspiu no seu rosto,
insultou-o, ofendeu os seus ancestrais.
Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o
velho permaneceu impassível. No final da
tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o
impetuoso guerreiro retirou-se. Desapontados,
os alunos perguntaram ao mestre como ele
pudera suportar tanta indignidade.
“Se alguém chega até vocês com um presente,
e vocês não o aceitam, a quem pertence o
presente?”
“A quem tentou entregá-lo!” respondeu um
dos discípulos.
“O mesmo vale para a inveja, a raiva e os
insultos. Quando não são aceites, continuam a
pertencer a quem os carregava consigo. A tua
paz interior depende exclusivamente de ti. As
pessoas não te podem tirar a calma. Só se tu
permitires...”
 CONTO INDIANO
Houve um homem que encontrou um ovo de
águia e colocou-o no ninho duma galinha, lá
no galinheiro. A águia foi chocada juntamente
com os pintainhos e cresceu vivendo como
eles. Toda a sua vida a águia fez o que os
pintos e as galinhas faziam, estando
completamente convencida de que era uma
galinha. A águia arranhava a terra à procura de
minhocas e insectos. Cacarejava e dava gritos
de galinha. Abanava as asas com toda força e,
às vezes, dava uns saltos e voava alguns
metros.
Os anos passaram e a águia ficou velha. Um
dia ela viu um magnifico pássaro, lá bem no
alto, a voar no céu sem nuvens. Este pássaro
deslizava com graciosidade e poder entre as
fortes correntes de ar e ventos, quase sem bater
as suas enormes asas douradas. Cá em baixo a
velha águia olhava para o céu completamente
fascinada e maravilhada. Sentia também um
enorme respeito. “O que é aquilo?”, perguntou
ela. “Aquilo é uma águia, o rei de todos os
pássaros.”, respondeu uma galinha que estava
ali ao lado. “As águias pertencem ao céu. Nós
pertencemos ao chão. Nós somos galinhas.”
E assim a águia viveu e morreu como uma
galinha, pois isso era o que ela pensava e
estava convencida ser.”
 CONTO EGIPCIO
Conta-se que no século passado, um turista
ocidental foi à cidade do Cairo, no Egipto, com
o objectivo de visitar um famoso sábio. O
turista ficou surpreso ao ver que o sábio
morava num quartinho muito simples com
alguns livros. Exceptuando os tais livros e uma
cama, tudo estava vazio.
“Onde estão os seus móveis? Onde estão as
suas coisas?” perguntou o turista.
E o sábio, bem depressa, perguntou também:
“E onde estão as suas...?”
“As minhas?!” surpreendeu-se o turista. “Mas
eu estou aqui só de passagem!!!!!”
“Eu também...” concluiu o sábio.
A vida é somente uma passagem...
No entanto, alguns vivem como se fossem ficar
aqui eternamente, e esquecem-se de ser felizes.
 EXPRIME A TUA ALMA!!! (Tradução
do Inglês por Miguel Gullander)
A coisa mais difícil de se fazer no mundo é
revelares-te, exprimires aquilo que tens para
exprimir. Como artista, eu sinto que nós temos
de tentar muitas coisas — mas acima de tudo,
nós temos que nos atrever a falhar. Tu tens que
ter a coragem de ser mesmo mau, de fazer
coisas mesmo mal feitas — tens que estar
pronto e desejoso de arriscar tudo para
conseguires exprimir tudo.
John Cassavetes
Companheiros... o criador, o artista, procura
alguém — mas, não cadáveres, nem rebanhos
de carneiros, seguidores, devotos, crentes.
Companheiros artistas e criadores, o criador
procura aqueles que irão escrever novos
valores, sobre novas tábuas... Destruidores é o
nome que lhes darão. Destruidores é o que lhes
chamarão...
Fredric Nietzsche
 O ACORDO ENTRE DEUS E EVA
18
(Texto publicado na data da comemoração do
Dia Internacional da Mulher, tradução do
Inglês por Miguel Gullander)
Um dia no Jardim do Éden, Eva chamou Deus:
“Deus! Eu tenho um problema!”
“Qual é o problema, Eva?”
“Deus, eu sei que me criaste e me ofereceste
este lindo jardim e todos esses animais
fantásticos e aquela cobra cómica que é de
morrer a rir, mas mesmo assim eu não estou
feliz.”
“E qual a razão dessa tristeza, Eva?”
“Deus, eu estou sozinha e já não aguento
comer nem mais uma maçã!”
“Bem, Eva, nesse caso eu tenho uma solução.
Vou criar um homem para ti.”
“O que é um homem?” perguntou a Eva muito
espantada.
“Bem, o homem é para ser uma criatura
falhada e com muitas más características. Ele
vai mentir, enganar e ser muito vaidoso; de
tempos a tempos vai-te fazer passar um mau
bocado. Mas ele vai ser maior, mais rápido e
vai gostar de caçar e matar coisas. Ele vai
parecer parvo quando está apaixonado, mas
visto que te tens queixado, vou construi-lo de
maneira que ele satisfaça as tuas necessidades
físicas. Ele vai ser pouco inteligente e vai
adorar andar envolvido em coisas infantis, tais
como andar à luta, ou aos pontapés a uma bola
dum lado para o outro. Visto que ele não é
muito inteligente ele também irá necessitar do
teu conselho para que consiga pensar de modo
adequado.”
“Isto parece demasiado fantástico” disse a Eva,
com uma sobrancelha levantada de modo
irónico. “Mas... diz-me lá, qual é o preço a
pagar?...”
“Bem..., podes tê-lo sob uma condição.”
“E que condição é essa, Deus?”
“Como eu já disse, ele será orgulhoso,
arrogante e adora admirar-se a si mesmo.
Portanto, poderás ficar com este homem se o
deixares acreditar que eu o fiz primeiro. E
lembra-te... esse será o nosso pequeno
segredo.... já sabes, de mulher para mulher.”
 RAMTZU
A maior parte daquilo
A que vocês chamam de amor
É apenas negócio.
Vocês exigem
Suficiente retorno
Em relação ao vosso investimento
Ou então irão para outro lado.
Ninguém gosta de
Sofrer uma perda.
Porque, afinal,
Se vocês não tomarem conta
Do vosso currículo amoroso
Quem tomará?
Não é uma daquelas coisas
Que vocês gostariam
De deixar ao acaso.
O problema é
Que vocês estão sempre com medo
Vocês estão sempre à defesa.
Ram Tzu sabe isto...
É uma proposição perdedora
Tentares manter
Aquilo que não tens.
 DA WEASEL: No princípio era o verbo
No princípio era o verbo — a palavra e
depois a rima
que provocou reacçõescomo se fosse um
enzima
No princípio era a tesão, a fúria e a
sofreguidão,
depois veio a calma, a procura do saber e a
satisfação —
inspiração para uma vida melhor, um caminho
melhor
um mundo melhor para uma pessoa melhor
Bem vindo ao manual de iniciação a Uma Vida
Banal
ou o Diário de Bordo de uma nave especial
Puto Pac ‘tá confiante, entra de rompante
Virgul sempre constante — brilha como um
diamante
Vai começar : Desaperta o cinto e acende um
cigarro
Relaxa a tua mente como se fosse barro
Refrão:
Palavra de honra honrarei a Palavra todo o
santo dia
No Princípio era a Verbo a palavra e depois
Anos em preparativos, tratamentos narrativos,
tantos curativos — dou graças a Deus por
estarmos vivos
Em evolução permanente, seja ponto bem
assente:
quando o meu coração sente a minha boca não
mente
Escrevo desde o meu inicio, nasci com esse
vício
não importa tempo e espaço o ambiente é
propicio
Faço a apologia da lírica terapia
19
Palavra de Honra — honrarei a Palavra todo o
santo dia
A minha semente eu formato em fita, plástico
ou compacto,
traço rota de colisão, vem aí mais um impacto
Vai começar : Desaperta o cinto e acende um
cigarro
Relaxa a tua mente como se fosse barro
Refrão
Presunção e água benta cada um toma a que
quiser
o Puto pode não saber tudo mas ao menos sabe
aquilo que quer
Nada de muito especial, tão simples que devia
ser banal
paz de espírito, algum dinheiro, elevação
espiritual
O manual não tem soluções — apenas algumas
sugestões,
Outras tantas questões, envoltas em várias
canções
À procura do caminho certo, nunca estivemos
tão perto
o primeiro acto está no final — o livro fica
aberto
A lição foi bem estudada, a rota foi traçada
tripulação motivada — a Doninha ‘tá
preparada
Vai começar : Desaperta o cinto acende um
cigarro
Relaxa a tua mente como se fosse barro
 QUANDO PALAVRAS AJUDAM A
MUDAR A ATITUDE
1. Gosto de ti não por causa de quem és, mas
por causa de quem eu sou quando estou
contigo.
2. Nenhum homem e nenhuma mulher é
digno/a das tuas lágrimas, e aquele ou aquela
que o é, não te fará chorar.
3. Apenas porque alguém não te ama da
maneira que gostarias, isso não significa que
ele ou ela não te ame com tudo o que têm.
4. Um/a verdadeiro/a amigo/a é aquele/a que
procura segurar a tua mão quando cais e te toca
no coração.
5. A pior maneira de sentir a falta de alguém é
estar sentada exactamente a seu lado sabendo
que não a podemos ter.
6. Nunca franzas o sobrolho, mesmo quando
estiveres triste, porque nunca sabes quem se
pode estar a apaixonar pelo teu sorriso.
7. Para o mundo todo podes ser apenas uma
pessoa, mas para uma pessoa podes ser o
mundo todo.
8. Não gastes o teu tempo num homem ou
numa mulher que não esteja disposto a gastar o
seu tempo contigo.
9. Sempre haverá pessoas que te magoem, por
isso o que tens de fazer é continuar a confiar e
ser apenas mais cuidadoso acerca de quem
confias para a próxima.
10. Se o Destino te colocou alguém especial no
caminho, essa pessoa acabará por chegar no
momento certo. Aprende a esperar e a ouvir a
tua sensibilidade. Essa é a arte que torna tudo
sagrado. Tudo o que é esperado com paciência
se torna mais saboroso.
11. Faz de ti uma pessoa melhor e procura
conhecer-te antes de procurares conhecer outra
pessoa e esperares que ela saiba quem tu és.
12. Não tentes tanto, as melhores coisas
acontecem quando não estás à espera delas.
Lembra-te: tudo o que acontece, acontece
por uma razão. Mesmo que não
compreendas qual.
 DALAI-LAMA, Prémio Nobel da Paz
1. Tem sempre presente na tua mente que um
grande amor e a realização de grandes coisas
envolvem também um grande risco.
2. Quando perderes, não percas a lição.
3. Segue os três Rs:
Respeita-te a ti mesmo.
Respeita os outros.
Responsabiliza-te por todas as tuas acções
4. Lembra-te que não conseguires o que queres
é, por vezes, um maravilhoso golpe de sorte.
5. Aprende as regras de modo a que saibas
como as quebrar adequadamente.
6. Nunca deixes uma pequena disputa afectar
uma amizade.
7. Quando te apercebes que fizeste um erro
toma, de imediato, as medidas necessárias de
modo a corrigi-lo.
8. Passa sempre um pouco do teu dia em
solidão.
9. Abre os braços à mudança, mas nunca
abandones os teus valores.
10. Lembra-te de que o silêncio, por vezes, é a
melhor resposta.
11. Vive uma vida boa e com honra. Pois,
assim quando ficares com mais idade e olhares
para trás serás capaz de a apreciar uma
segunda vez.
12. Uma atmosfera de carinho dentro da tua
casa é a fundação de toda a tua vida.
13. Em discussões com aqueles que amas lida
apenas com a situação presente. Nunca tragas o
passado ao de cima.
14. Partilha o teu conhecimento. É uma
maneira de se atingir a imortalidade.
15. Sê gentil para com a Terra.
16. Uma vez por ano vai até um lugar onde
nunca antes tenhas estado.
17. Lembra-te que a melhor relação é aquela
em que o vosso amor um pelo outro ultrapassa
a vossa necessidade de um pelo outro.
18. Avalia sempre o teu sucesso em qualquer
20
coisa por aquilo que tiveste que abdicar de
modo a alcançar esse mesmo sucesso.
19. Lida com o amor e a culinária com a
ousadia de quem não espera resultados.
 PRECE RESPONDIDA
Pedi forças
E Deus deu-me dificuldades para me tornar
forte
Pedi sabedoria
E Deus deu-me problemas para aprender a
resolver
Pedi prosperidade
E Deus deu-me cérebro e músculo para
trabalhar
Pedi coragem
E Deus deu-me perigos para superar
Pedi amor
E Deus deu-me pessoas para ajudar
Pedi favores
E Deus deu-me oportunidades
Não recebi nada do que queria –
Recebi tudo o que o precisava
 SÓCRATES
Na Grécia Antiga, Sócrates detinha uma alta
reputação e era muito estimado pelo seu
elevado conhecimento. Um dia, um conhecido
do grande filósofo aproximou-se dele e disse:
“Sócrates, sabes o que eu acabei de ouvir
acerca de um amigo teu?”
“Espera um minuto” respondeu Sócrates.
“Antes que me digas alguma coisa, gostaria de
te fazer um teste. Chama-se o “Teste do Filtro
Triplo”.
“Filtro Triplo?”
“Sim” continuou Sócrates. “Antes que me fales
do meu amigo talvez fosse uma boa ideia parar
um momento e filtrar aquilo que vais dizer. Por
isso é que eu lhe chamei o Filtro Triplo.” E
continuou: “O primeiro filtro é VERDADE.
Tens a certeza absoluta de que aquilo que me
vais dizer é perfeitamente verdadeiro?”
“Não” disse o homem. “O que acontece é que
eu ouvi dizer que...”
“Então” diz Sócrates. “Não sabes se é verdade.
Passemos ao segundo filtro, que é BONDADE.
O que me vais dizer sobre o meu amigo é
bom?”
“Não, muito pelo contrário...”
“Então” continuou Sócrates. “Queres dizer-me
algo mau sobre ele e ainda por cima nem sabes
se é ou não verdadeiro. Mas, bem, pode ser
que ainda passes o terceiro filtro. O último
filtro é UTILIDADE. O que me vais dizer
sobre o meu amigo será útil para mim?”
“Não, acho que não...”
“Bem.” concluiu Sócrates. “Se o que me dirás
não é nem bom, nem útil e muito menos sabes
se é verdadeiro, para quê dizeres-mo?”
 OS GRANDES INICIADOS
Há entre os homens uma diversidade que
provém da essência primitiva dos indivíduos;
há outra, acabamos de dizer, que provém do
grau de evolução espiritual que eles atingiram.
Neste último ponto de vista, reconhecemos que
os homens podem se classificar em quatro
classes, que compreendem todas as subdivisões
e todas as nuances.
1º Na grande maioria dos homens, a vontade
age sobretudo no corpo. Podemos chama-los
instintivos. Eles são próprios não apenas aos
trabalhos corporais, mas também ao exercício
e desenvolvimento de sua inteligência no
mundo físico, por consequência ao comercio e
a industria.
2º No segundo grau do desenvolvimento
humano, a vontade e, por extensão, a
consciência, reside na alma, ou seja, na
sensibilidade accionada pela inteligência, que
constitui o entendimento. Esses são os
anímicos ou passionais. Segundo seu
temperamento, são próprios a fazer homens de
guerra, artistas ou poetas. A grande maioria
dos homens de letras e sábios é dessa espécie.
Pois eles vivem nas ideias relativas,
modificadas pelas paixões ou margeadas por
um horizonte limitado, sem se elevar até à
Ideia pura e a Universalidade.
3º Em uma terceira classe de homens muito
mais raros, a vontade tem o hábito de agir
principal e soberanamente no intelecto puro, de
separar a inteligência em sua função especial
da tirania das paixões e dos limites da matéria,
o que dá a todas as suas concepções um
carácter de universalidade. São os intelectuais.
Esses homens são os heróis mártires da pátria,
os poetas de primeira ordem, enfim e
sobretudo os verdadeiros filósofos e sábios,
aqueles que, segundo Pitágoras e Platão,
deveriam governar a humanidade. Nesses
homens, a paixão não está extinta, pois sem ela
nada se faz; ela constitui o fogo e a
electricidade no mundo moral. Mas entre eles,
as paixões se tomaram as servas da
inteligência. enquanto na categorias pre-
cedentes a inteligência é mais frequentemente
a serva das paixões.
4° O mais alto ideal humano é realizado por
uma quarta classe de homens, que à regência
da inteligência sobre a alma e sobre o instinto
acrescentam a da vontade sobre todo o ser.
Pelo domínio e a posse de todas as suas
faculdades, exercem grande liderança. Eles
realizaram a unidade na trindade humana.
21
Graças a essa concentração maravilhosa, que
une todas as potências da vida, sua vontade,
projectando-se nos outros, adquire uma força
quase ilimitada, uma magia radiante e criadora.
Esses homens trouxeram diversos nomes na
historia. São os homens primordiais, os
adeptos, os grandes iniciados, génios
sublimes que metamorfoseiam a humanidade.
Eles são tão raros que podemos contá-los ao
longo da historia a Providencia os semeia de
tempos em tempos a longos intervalos, como
astros no céu.
E evidente que esta última categoria escapa a
toda regra, a toda a classificação. Mas uma
constituição da sociedade humana, que não
levasse em conta as três primeiras categorias, que
não fornecesse a cada uma delas sue função
normal e os meios necessários de se desenvolver,
é apenas exterior e não orgânica.
SEMPRE A BOMBAR
http://
bardotodol.blogspot.com/
2004_08_01_archive.html
“EU SOU A MAHAKALA NEGRA! E A
MINHA BANDA CHAMA-SE A FÚRIA
NEGRA. FECHEM OS OLHOS, RESPIREM
FUNDO, E NÃO PENSEM EM NADA —
PORQUE EU VOU ESMAGAR-VOS A
CABEÇA ENTRE OS MEUS DENTES!!!”
Mahakala, uma mulher negra, de pele brilhante
como petróleo, é uma deusa irada, uma
vocalista punk-hardcore straightedge, que na
total força e pujança da sua fúria dá, assim,
inicio ao concerto da noite. A tempestade
chegou. O fim do mundo começou. Este é o
som da noite, duma noite rubra.
“Querem som da pesada? Eu dou-vos da
pesada!”
E é da pesada mesmo. A bateria começa a
metralhar sem misericórdia, é uma locomotiva
descontrolada, o som explode do palco e acerta
no público, uma massa louca, em êxtase. O
baixo, sempre a bombar faz disparar os
corações em taquicardia, comprime as
costelas; enquanto as guitarras, furam como
uma broca de diamante pelos tímpanos,
atravessam o osso, electrificam o crânio
mandando choques e faíscas pelas cabeças até
à medula. O microfone é esmagado entre os
dedos da Mahakala. Os movimentos dela são
ondulantes, os braços como chicotes, suados e
negros, e a voz rasgada, grossa, ecoa vinda do
mais profundo dos infernos.
“Eu sou a Mahakala negra! E a minha voz é
voodoo, a minha voz acorda mortos!
Acordem!”
E essa é, no fundo, a essência do punk-
hardcore straightedge e fusão: acordar os
mortos e os adormecidos da nossa sociedade. E
quem são estes necromantes do mundo
moderno, que estão a tentar acordar os mortos
— quem são os punk-hardcore straightedgers?
Eles são os sobreviventes duma raça de
amantes do metal duro e música rápida. Eles
são mutantes, querem mudar o mundo, são
loucos, e muitos são veganos. A sua adrenalina,
o seu desporto radical de vida e de morte, é
tocar música pesada. A sua música é rápida,
potente, cheia de energia e de letras filosóficas,
cheias de pensamento e reflexão. As suas
músicas e letras são contra a discriminação
racial, álcool, drogas, consumismo e
exploração dos animais. Explicando em poucas
palavras o movimento punk-hardcore
straightedge e fusão, estes são movimentos e
projectos musicais com algumas ligações aos
estilos de música punk, hardcore, metal, ragga,
rap, e tudo mais — desde que o resultado seja
pesado. No entanto, se bem que haja
semelhanças nos estilos e no som, há
diferenças fundamentais entre estes grupos,
muitos especialmente nas atitudes e posturas
em relação à vida. Vamos, então, ouvir o que
alguns punk-hardcore straightedgers dizem
acerca destes movimentos:
“A nossa postura na vida tenta ser diferente e
criativa. Nós não concordamos com a atitude
hedonista e auto-destructiva que contamina a
nossa sociedade, isto incluindo a juventude e
as banda de música. Nós estamos, de facto,
muito conscientes de alguns dos problemas
fundamentais que estão a causar sofrimento e a
destruir a nossa sociedade, por isso nós
fortemente desaconselhamos o álcool, drogas,
produtos resultantes da exploração de animais,
e as relações casuais.” (Emma “Fire-Dragon”,
guitarrista dos Merchant of Menace).
“Nós somos contra a violência e a guerra em
todas as suas formas. Por isso nós também
somos contra as drogas e o álcool, que são
produtos tóxicos que trazem guerra para dentro
do nosso corpo. Talvez nós não consigamos,
directamente, parar com as grandes guerras
que estão a acontecer por esse mundo fora.
Mas podemos, seguramente, evitar aquelas que
começam dentro de nós. O que significa que
devemos ser cuidadosos com as coisas que
trazemos para dentro de nós mesmos, isto se
quisermos evitar “guerras civis” nos nossos
corpos e mentes. Nós somos a favor de um
estilo de vida sem crueldade. E isso está
relacionado com o que consumimos, comemos
e até vemos na televisão!” (Josephine Linqvist,
baterista dos Nomad).
“Nós gostamos de tocar música muito forte e
potente. A rasgar mesmo. É uma maneira de
acordar as pessoas. Nós queremos mostrar-lhes
como é destrutiva a maneira como certas
22
coisas são feitas na nossa sociedade de hoje em
dia. E a música é uma muito boa maneira de
chamar as atenções. Demasiadas pessoas,
animais e seres vivos estão a sofrer —
AGORA! Ouçam: as florestas estão a ser
destruídas, os animais estão a ser dizimados, e
as pessoas estão a ser intoxicadas! Nós temos,
de novo e sempre, de ganhar responsabilidade
sobre as nossas próprias vidas. Temos de ser o
BOSS, o patrão das nossas vidas. Cada
membro desta sociedade tem de aprender a
respeitar O TODO! Os problemas no mundo só
irão diminuir quando nós pararmos de
contribuir para eles. Nós temos de dar o
primeiro passo.” (Afro-Spider, baixista de Don
´t Panic it´s Organic).
“Eu não pertenço a nenhum grupo, nem
religião, nem partido organizados. Não
pertenço a nada, nem a ninguém. Sou livre.
Apenas amo a música e para isso não preciso
de pertencer a nenhum partido, nem
nacionalidade, nem gang. A minha pacifica
tribo sou só eu, e a minha religião é o pôr-do-
sol, a lua que rasga as nuvens na noite, e o
vento quente que sopra para fora da minha
boca e do meu nariz. Sou um nómada dos
tempos modernos, mas no fundo nunca estou
sozinho, pois sou um irmão deste mundo, filho
de todo este universo. O meu coração e o
coração deste universo batem ao mesmo ritmo,
como um só. ONE HEART, ONE LOVE como
dizia o grande SHAMAN. Para mim o punk
hardcore e o straithedge são atitudes na vida
que nem precisavam de ter nome. O
importante é sentir o ENCARNADO do
sangue e da coragem a correr forte nas veias. O
importante é sentir o DOURADO da
inteligência a arder forte que nem um sol nas
nossas mentes. O importante é tocar o VERDE
da paz a unir-nos às nossas raízes, à natureza e
a todos os seres vivos que são nossos irmãos.
O importante é aceitarmos o nosso destino
como seres interdependentes desta vida, deste
cosmos. Somos todos um só. Não há fuga
possível”. (Coração-Preto, ex-vocalista dos
Fusão-Empática).
“Uma FORÇA quer-te neste mundo. Uma
FORÇA bombeia o teu coração e dá brilho aos
teus olhos. Uma FORÇA desenha o teu
destino, tal como risca a noite com cometas,
estrelas candentes e uma lua que é um espelho
da tua alma, do teu espírito. Tu isto sabes, tal
como sabes que existes. Sente: EU EXISTO!!!
E essa consciência, essa FORÇA, é um reflexo
desse algo maior, duma vida que brilha como
as supernovas que explodem pelos céus, na
noite eterna. Não te queixes, não te preocupes.
Sofrer faz parte. Porquê, não sei. Talvez para
nos fazer querer encontrar aquilo que já somos
— mas não sabemos.... A FORÇA. A vida
magoa-te, tortura-te? Então grita, grita da tua
cruz, do teu palco — grita até que os
amplificadores peguem fogo, as colunas
levantem voo e o microfone fique feito em
migalhas de luz. E se o mundo é estúpido cabe
A TI fazer a diferença, viver a diferença. O
direito à diferença. Esse é o direito que mais
me interessa — nem é o direito à igualdade,
mas sim O DIREITO À DIFERENÇA!!!!”
(Mahakala, vocalista dos Fúria Negra).
“Diz assim lá no I CHING: “Sê inocente, esse
é o supremo sucesso da tua vida. Se fores
paciente a vida levar-te-á onde deves chegar.
Se uma pessoa não for ela mesma, então
encontra o infortúnio, a tristeza...Se tiveres
confiança no espírito que está dentro de ti, e
que contigo nasceu, então atingirás a inocência
pura que te guiará os passos para o que é certo,
com uma certeza instintiva sem qualquer
pensamento de recompensa ou proveito
pessoal...” Estás a perceber? Há muitos anos
atrás escrevi uma música para a minha banda
que se chamava: À sombra do carrasco. E o
carrasco, o torturador, dizia a música, está
dentro de nós, somos nós mesmos.
Frequentemente, nós somos o nosso próprio
pior inimigo. Também, durante anos, a pessoa
que mais odiei neste mundo foi a mim mesmo.
E porquê? Porque nos sentimos errados,
inadequados, incompletos. Achamos que tudo
o que tocamos fica destruído, sem sentido -
nem que seja porque pousámos os nossos olhos
sobre uma flor, ela irá murchar. Mas um dia
algo aconteceu... E assim a vida muda. A
atitude muda. Um acontecimento, uma palavra,
alguém que aparece no nosso destino.... E a
vida muda-nos, algo novo aparece para nos
mostrar outro caminho. Queres ver outra vida?
Outro mundo? É preciso recuperar confiança,
não em nós mesmos porque isso não chega,
mas sim na VIDA. Confiarmos no instinto, no
nariz, saber dizer não às coisas destrutivas e às
mentiras que a maior parte do mundo nos quer
enfiar pelas orelhas. Quando é a vida a falar, e
não a nossa cabeça, então o nosso instinto sabe
o que devemos e não devemos fazer. O nosso
nariz e o nosso coração têm muito instinto, e
por isso podem ser puros, inocentes. Cheiram a
merda ao longe e afastam-se. O mal não está
em ti. Está no facto de que esta nossa
sociedade faz as pessoas morrerem à fome
dentro da sua alma. Aquilo que nos é oferecido
é pouco, muito pouco e muito poluído e
impuro. Por isso, mesmo quando se tem “tudo”
aquilo que a nossa sociedade acha de
importante, e que nos devia fazer feliz, mesmo
assim não nos faz felizes — mesmo assim tu,
eu e mais algumas pessoas deste mundo, não
nos sentimos felizes com o que nos dão.
Depois dizem-nos: nunca estás feliz com nada!
23
E não estou!!! Com as vossas drogas,
televisões, guerras, modas, carnavais, "estórias
de amor", tudo isso é uma treta. Vou viver para
quê? Para o dinheiro, o carrão, a discoteca, a
telenovela, o divorcio e o corno, a paródia e o
vazio ao ver o rosto no espelho? Isso não me
contenta. Não me chega, não me chega. Estás a
perceber?! Queres sentir a vida? Abre bem as
mãos da próxima vez que sentires o vento, e
deixa-o soprar-te por entre os dedos. Aí não
saberás se és tu que corres no vento, ou se é o
vento que corre em ti.... E lembra-te do que o
Buda disse: NÃO HÁ CAMINHO PARA A
FELICIDADE. A FELICIDADE É O
CAMINHO.” (Macraft D’Rassing, guru dos
Fúria Negra).
(Bandas de referência do straightedge e fusão:
Fúria Negra, Soulfly, MasMorra Podre, Youth
of Today, 108, No Use For A Name, Shelter,
Fugazi, Propagandhi, Asiandubfoudantion,
Clawfinger, etc.)
II TEORIA
 SISTEMATIZAÇÃO TEÓRICA POR
TÓPICOS.
O PODER DA PALAVRA.
CONCEITOS-FERRAMENTA:
INTELIGÊNCIA, DESCONSTRUÇÃO.
1 A linguagem como estrutura. A
inteligência como a capacidade de dominar
e ir para lá dessa mesma estrutura.
• O conceito de inteligência. Do Latim inter +
legere — “ler entre....” e/ou “eleger entre...”.
• Ler entre: Ler nas entrelinhas. Exemplo:
“A sorte nunca dá, só empresta”; “A palavra é
como a pedra, uma vez atirada já ninguém a
apanha”.
O provérbio é um bom exemplo duma forma
de expressão (oral e/ou escrita) em que o
importante está nas entrelinhas, está para lá das
próprias palavras. Está implícita uma
mensagem, uma dimensão que ultrapassa o
significado literal das palavras.
• De igual modo, a linguagem, tal como se
pode ver num provérbio, poesia, ou letras de
música, etc., tem outras implicações que são
descobertas, dadas por cada um dos
leitores/ouvintes, “a obra propõe e o leitor
dispõe”, como aponta Barthes. Ou seja, cada
um pode dar exemplos diferentes da sua
própria vida e experiência subjectiva, onde um
provérbio, frase poética ou letra de música,
etc., encaixe. Isso é entre-eleger significados.
De entre as múltiplas possibilidades e
experiências subjectivas elege-se, escolhe-se,
aquela que está implicada, que tem ligação
com o que se leu ou ouviu. Assim o que se leu
ou ouviu é assimilado, torna-se parte integrante
de nós mesmos, pois, nós mesmos,
contribuímos para a sua construção e criação.
• A riqueza da linguagem encontra-se a partir
do momento que se desenvolve a capacidade
de ler nas entrelinhas. De ler para lá das
próprias palavras. A) Descobrir o implícito.
B) Descobrir as implicações, conexões e
ligações com a experiência subjectiva, a vida,
de cada pessoa. Isso permite desenvolver-se a
capacidade de dar exemplos: “O sábio é aquele
que sabe dar exemplos”.
• Para se ir para lá do discurso (texto,
oralidade, etc.), para se ler nas entrelinhas é
preciso dominar totalmente os conteúdos dum
discurso — é preciso compreender a estrutura
fundamental, o "tutano" desse mesmo discurso.
Para isso é preciso "filtrar", fazer um raio-x ao
discurso. É preciso encontrar a informação e
estrutura lógica que estão na base e suportam
todo o edifício discursivo — é necessário
entre-eleger o principal. Desconstruir
significa, portanto a) eleger de entre o
múltiplo, filtrar, seleccionar o essencial de
entre toda a massa de informação e encadeados
lógicos (sejam eles verdadeiros ou falaciosos),
de modo a formar uma imagem clara, um
corpo consistente e coerente daquilo que está a
ser exposto; e b) ler nas entrelinhas - para
descobrir a mensagem implícita, a dimensão
que está para lá das próprias palavras.
2
A linguagem como expressão do pensamento.
O pensamento é linguagem, a linguagem é
pensamento.
A linguagem como criadora e destruidora de
mundos.
A linguagem como estrutura que aponta,
aconselha caminhos e direcções.
3
“No início era o Verbo, e o Verbo estava
voltado para Deus. Tudo foi feito por meio
dele; e sem ele nada se fez do que foi feito.”
(João: 1: 1-3). O Verbo = o Logos = a Palavra.
• A importância da linguagem: segundo o
relato bíblico o início deu-se por meio da
Palavra, da linguagem, do Verbo... O início da
história humana, do conhecimento (logos)
humano está intimamente ligado à utilização
da linguagem.
“Deus modelou do solo todo animal dos
campos e todo pássaro do céu, que levou ao
homem para ver como ele os designaria. (...) O
homem designou pelo seu nome todo gado,
todo pássaro do céu e todo animal dos campos
(...)” (Génesis: 2: 19-20)
24

• No princípio era o Verbo — e
simultaneamente surge a capacidade do ser
humano de designar, nomear, dar forma, às
coisas que via reflectidas por meio dos seus
sentidos na sua mente. Isso, supostamente,
distinguiu o ser humano dos outros seres no
jardim primordial. A linguagem era o
grande poder dado por Deus ao ser humano.
Por serem designadas, por serem nomeadas as
coisas ganham existência... (Exemplos:
baptismo, rituais iniciáticos, desenvolvimento
da ciência em geral com a nomeação em
categorias todo o universo conhecido...)
• Em termos de realidade histórica com o
desenvolvimento da linguagem (especialmente
a nível escrito) surgiu a civilização, a cultura.
Cultura associada também ao cultivar da terra,
ao cultivar agrícola. Pois, foi por meio da
linguagem escrita que se puderam estabelecer
as regras e técnicas de cultivo das culturas
sedentárias, urbanas (completamente diferente
do estilo de vida dos caçadores-recolectores).
O Código de Amurabi Sumério é o primeiro
grande exemplo desta relação directa entre
regras de cultura agrícola + regras de vida
urbana = ao início da civilização e da História
(registo escrito dos acontecimentos).
• A linguagem como forma de criação de Leis
Orientadoras da existência em geral.
Exemplo: I Ching para ajudar a encontrar o
TAO (China), Vedas (Índia), Popol Vuh
(índios da América do sul), 10 Mandamentos
(Cultura judaico - cristã), Livro dos Mortos
(Egipto), Bardo Todol (Tibete) etc.
• Mas, por outro lado a linguagem
infelizmente também serviu como forma de
poder e hegemonia — criação de castas. Tal
como o antropólogo Claude Lévi-Strauss
apontou, a invenção da escrita chegou a ter
como função “facilitar a escravatura de outros
seres humanos”. Os cultos (cultivados) e os
incultos. Diferença entre os que sabem ler e
dominar o código e o resto da massa. Os que
têm o poder da palavra têm o poder de criar
Lei (poder político), têm o poder de ler e
interpretar os escritos sagrados (poder moral).
•A linguagem é vista como um poder
misterioso, mágico, sagrado. (Exemplo: os
rituais mágicos, as palavras ditas em línguas
estranhas, a missa em Latim, etc.) Dominar a
linguagem é, claramente, dominar um enorme
poder:
• “Nós somos aquilo que pensamos. Tudo
aquilo que pensamos surge por meio dos
nossos pensamentos. Com os nossos
pensamentos nós fazemos o mundo. Fala ou
actua com uma mente impura e a desgraça
seguir-te-á tal como a roda segue o boi que
puxa o carro. Nós somos aquilo que pensamos.
Tudo aquilo que pensamos surge por meio dos
nossos pensamentos. Com os nossos
pensamentos nós fazemos o mundo. Fala ou
actua com uma mente pura e a felicidade
seguir-te-á como a tua sombra — inabalável.”
Buda, Dhammapada. Isto leva a compreender
que: a pessoa é aquilo que pensa, a pessoa é os
seus pensamentos.
• E o que é o pensamento? Linguagem
associada a imagens e sensações. (Exercício:
observar o funcionamento da mente, por
exemplo, durante momentos de silêncio e
solidão. Concentrar na expiração ajuda). O
pensamento é linguagem, e a linguagem é
pensamento. A mente exprime-se e tem forma
por meio da linguagem. Uma linguagem mal
utilizada é como uma mente mal estruturada —
que não se consegue exprimir. Quando algo
está mal expresso quer dizer que, também, foi
mal pensado. Como Ben Johnson (poeta
Inglês) defendia: “Mal escrito/dito, mal
pensado”.
• Por outro lado, uma linguagem bem utilizada
é um gigantesco poder — pode fazer milagres,
criar mundos... ou destruir mundos. Quando
uma pessoa consegue dominar a linguagem,
domina o maior poder que existe na sociedade
— quem consegue exprimir o que sente é
como uma bomba que atinge todos os que o
rodeiam.... “I have a dream” são palavras de
um discurso que mudou o mundo para sempre.
Exemplos de pessoas que mudaram o mundo,
que criaram um novo mundo, por meio duma
poderosa utilização da linguagem: Gandhi,
Mandela, Gautama, irmãs Brönte, Dalai-Lama,
Luther King, Bob Marley, Simone Weil, Lao-
Tzu, Rumi, David Bohm, etc.
• O poder da linguagem pode levar mundos ao
fim, ao apocalipse. O poder destrutivo da
linguagem escreve a fórmula da bomba
atómica, escreve as palavras do “Mein
Kampf”, obra que participou do pesadelo Nazi,
ou as frases do “Livrinho Vermelho” durante a
Revolução Cultural. Mao, Hitler, Stalin, a
propaganda em geral, a publicidade, as seitas
suicidas, são alguns dos poucos exemplos de
como a linguagem pode levar à grande
destruição.
• Dominar a linguagem é também, portanto, a
única defesa para não se ser enganado. É ter a
capacidade de ler nas entrelinhas, de
25
desconstruir as falácias e mentiras da
propaganda. Dominar a linguagem é ser o
“Boss”, o patrão do seu próprio pensamento.
Se nós nos expressamos exteriormente por
meio daquilo que pensamos, então, tendo
controle sobre o nosso pensamento temos
controle sobre nós mesmos — somos nós o
Boss de nós mesmos, e do nosso pensamento.
E não os outros. Se nós actuamos como
consequência daquilo que pensamos, e o
pensamento é linguagem, tendo um
pensamento, uma linguagem bem definida,
bem estruturada — temos, portanto, uma
personalidade e actuação forte e estruturada.
5 argumentação próprias. Não existe, portanto,
No entanto, deve ficar a seguinte ressalva
relativamente a toda esta teoria da linguagem:
a nossa Consciência é mais do que o
pensamento. Como um peixe fora de água, o
nosso pensamento saltita de memórias
(sensações, imagens e conversas) passadas
para uma projecção da sua própria telenovela
futura, raramente atingindo instantes de
silêncio, ou aquilo que na filosofia ocidental se
chama de pax profunda (ou estado de samadhi,
de concentração e absorção, na filosofia
oriental). Poucas vezes nos encontramos nessa
Paz Profunda e oceânica — a Presença
Autentica que está sempre como silenciosa
testemunha por detrás do nosso corpo físico,
das nossas emoções voláteis, e do nosso
pensamento tagarela. Pensamento tagarela, que
é como um filtro de ruído sobreposto a essa
Consciência — tal como imagens que,
passando sobre um espelho, nos fazem
esquecer o que está por detrás delas.
(Elaborado por Miguel Gullander segundo uma
concepção teórica fundamentalmente à
responsabilidade do mesmo.)
 PARA A ESCRITA DUM
COMENTÁRIO
A estrutura mais útil para alunos juvenis é a
estrutura típica da retórica clássica. Essa
estrutura é criada por meio de três parágrafos
correspondendo cada um aos seguintes
momentos:
a) Argumento. Neste primeiro parágrafo o
autor do texto apresenta a proposição que
sintetiza tudo o que irá escrever. É o ponto de
partida de todo o seu raciocínio e opinião.
b) Demonstração. Neste segundo parágrafo o
autor do texto desenvolve de forma articulada,
sequenciada e lógica aquilo que avançou como
proposição no seu primeiro parágrafo.
Demonstra, portanto, o que em síntese apontou
no primeiro parágrafo.
c) Defesa e confirmação. Neste último
parágrafo o autor do texto defende e remata a
sua ideia confirmando, por meio da utilização
da exemplificação. Para isso utiliza como
exemplo referências de autoridade, ou a sua
própria experiência pessoal.
Mas não há uma fórmula fixa de como se fazer
um comentário. Os elementos que constituem
um comentário de sucesso podem variar,
dependendo da natureza dos textos e da
aproximação pessoal que se lhes fizer. O
comentário é um voo pessoal, usando o texto
como prancha de salto, como estrutura de
apoio para a aventura de interpretação e
uma “resposta certa” para ser dada a um trecho
do texto, e que sirva como comentário. Um
comentário não é “responder certo”, mas
argumentar e problematizar um texto. Um bom
comentário pode mesmo, até, ser constituído
por uma série de questões, pertinentes, que
tenham surgido e que sejam relevadas a partir
do texto base.
No entanto, certas tendências devem ser
evitadas:
1. Um comentário não deve ser um resumo
dum texto. O sumário e descrição não são um
comentário. A paráfrase muito menos. É
portanto necessário ter o cuidado de não
avançar linha-a-linha no “ataque” ao texto. Em
vez de avançar na escrita do comentário
acompanhando o próprio texto, do princípio
para o fim, deve-se, antes, identificar a
mensagem implícita, os temas chave e de
importância e, então, argumentar
relativamente a cada um deles, à vez,
recorrendo à própria memória, inspiração e
exemplos que iluminem a argumentação
pessoal. Fazer um rascunho, com cerca de 3 a
7 tópicos, ajuda a não perder o norte (assim
não se esquece dos pontos pelos quais se tem
de passar, e evita-se a dispersão com ideias
secundárias que poderão ocupar demasiado
espaço-tempo).
2. Um comentário não se deve prender ao
contexto do texto, mas sim, visar as ligações
implícitas a algo de maior dimensão. Aqui a
inteligência intervém, na sua capacidade de
ler-nas-entrelinhas, e de entre-eleger
significados. Ou seja, deve-se tomar em
consideração a concepção de Biederman de
compreensão e inteligência como “a
capacidade de ver o diferente no semelhante, e
o semelhante no diferente”. Portanto, quando
se compara-e-contrasta ideias deve-se fazê-lo
com relevância entre si, e não apenas por terem
um contexto comum. Logo, também se deve,
em geral, evitar aventurar-se noutras partes do
trabalho de onde o excerto foi retirado — a
26
menos que sejam relevantes em termos de
apontarem a mesma dimensão maior. Também
se deve evitar incursões num campo
desconhecido da obra de um autor. Portanto,
isto quer dizer que é perfeitamente possível
escrever comentários de sucesso acerca de
textos ou excertos com os quais não estás
familiarizado, pois um comentário tem como
por objectivo ser um mergulho e reflexão sobre
O DADO TEXTO. Quaisquer comentários que
se relacionem com um contexto periférico do
tema devem permanecer secundários — não se
deve perder o norte. Estes comentários devem
emergir duma leitura nas entrelinhas do texto,
ou então, iluminar esse mesmo texto de algum
modo.
3. Não é necessário citar a partir do texto, a
menos que seja fundamental.
Os seguintes pontos devem ser tomados em
consideração:
1. Um comentário beneficia de uma
observação cuidada da linguagem (tanto a do
texto, como a própria durante a produção do
comentário) — sendo, portanto, necessário
domínio da metalinguagem. Dependendo do
texto esta observação poderá incluir (não
sendo exclusivamente limitada a estes
elementos): uso de rima e aliteração escolhas
lexicais que demonstram que certas palavras
têm proeminência, ou são portadoras de uma
carga especial sintaxe, especialmente quando
esta foi manipulada para relevar significado,
criar ambiguidade, ou para interagir com a
forma poética do verso estruturas gramaticais,
tais como sequências de tempos verbais, que
possam ser utilizados para criar uma estrutura
temporal específica. No entanto, deve ser
relembrado que não vale a pena estar a
descrever tais características de um texto se
não se consegue explicar o COMO e o
PORQUÊ delas serem importantes e terem
significado. Não se irá acrescentar
compreensão ao texto se meramente se
identificam os tempos verbais, as aliterações,
metáforas, ironias, etc., ou se contam o número
de sílabas em cada linha de um verso — e
depois isso ficar por aí. Acaba por se revelar
um conhecimento inútil da metalinguagem —
pois a gramática deve ser trabalhada de modo
implícito, ou seja, como espelho daquilo que
texto tem por intenção, ou não, transmitir. E
deve ser sublinhado que a linguagem não é
menos importante num texto de prosa, ou em
excertos discursivos. Como é óbvio, a atenção
a dar-se à linguagem não é campo exclusivo da
interpretação poética.
2. É importante, também, prestar atenção aos
modos de representação e atacar não só a
questão DO QUÊ, mas também do COMO é
dito. Questões tais como a voz, perspectiva, e
ponto de vista, podem ser tomadas em
consideração — tal como, por exemplo, as
relações entre a voz do texto e a do leitor-
receptor. Igualmente, um bom comentário
deverá considerar todas as implicações que
estão implicitamente (ou explicitamente) a ser
feitas pelo texto — ou que são atribuídas ao
próprio leitor — e de que modo certas
configurações imagéticas e desenvolvimentos
temáticos são apontados e manipulados.
3. Não é necessário atribuir ao texto um
significado definitivo ou fixo. Pelo contrário:
frequentemente o melhor é problematizar o
texto, por meio de uma sólida argumentação e
inquirição. Na verdade, em muitas
circunstâncias, isso é essencial.
Frequentemente, por meio da desconstrução,
os bons comentários apontam ambiguidades ou
inconsistências e sugerem outras leituras
possíveis. Os comentários não devem ser
exaustivos, mas podem dar ênfase a temas-
chave em particular, ou facetas específicas
dum texto. Idealmente num comentário, os
diferentes pontos relevados por um texto ou
excerto, devem ser sintetizados num só
argumento — portanto evitando que se façam
inventários de observações relativas a pontos
secundários e pouco pertinentes.
(Concepção teórica fundamentalmente à
responsabilidade de Miguel Gullander,
baseando-se em directrizes apontadas no site:
http://www.mml.cam.ac.uk/french/courses/
ugrad/commentary.html)
 DESENVOLVENDO UMA
ARGUMENTAÇÃO SÓLIDA
www.intelliwise.com.br/cargsol.asp
Bem-vindo ao "Desenvolvendo a
Argumentação Sólida", um curso projectado
especialmente para tornar suas argumentações
mais fortes e resistentes a ataques. Durante os
próximos capítulos vamos observar os
principais aspectos da boa e eficiente
argumentação. Vamos investigar como
construir argumentos sólidos e também como
detectar os maus argumentos.
Qual a utilidade de argumentar bem? Nos dias
de hoje, vivemos em um ambiente frenético e
competitivo. Se você está trabalhando em uma
empresa ou se actua academicamente em
Universidades, trocar ideias é algo que
necessariamente faz parte da sua rotina diária.
Argumentar bem é um importante factor para o
sucesso profissional e académico das pessoas.
Profissionalmente
Para suportar suas ideias e projectos com
bons argumentos
Para responder a ataques de terceiros
27
Para justificar com solidez as decisões
tomadas
Para negociar com clientes, chefes,
fornecedores, etc.
Academicamente
Para participar de debates científicos com
confiança
Para escrever papers, teses e artigos
convincentes
Para responder a críticas com contra-
argumentos eficazes
Para identificar falhas nas propostas de
colegas
Nos próximos capítulos vamos ver as diversas
técnicas com as quais podemos atingir esses
objectivos. Entretanto, mais do que apenas ver
técnicas, vamos procurar realçar a essência da
boa argumentação, para que você seja capaz de
criar as suas próprias estratégias.
Argumentação é muitas vezes algo que requer
treino, elaboração e pensamento, por isso será
necessário dedicar um certo esforço para
aprender os principais conceitos e técnicas.
Uma Nota Importante
Antes de começar é necessário comentar um
pouco sobre o uso que faço de citações. A
maior parte das frases e sentenças que iremos
analisar neste curso são reais, pois foram
extraídas de revistas e jornais publicados no
Brasil e nos EUA. O critério de escolha de
todas essas declarações foi puramente
didáctico.
Um outro aspecto importante é a análise que
faço de certas declarações: a crítica será,
muitas vezes, impiedosa e implacável. Gostaria
de deixar claro desde já que não tenho nada
contra os autores dessas declarações, pois a
finalidade desses ataques é também puramente
didáctica. Minha única intenção é apresentar
casos de argumentação que ilustrem bem os
tópicos que vamos tratar e de que forma
podemos pensar para encontrar os seus pontos
falhos. Aliás, essa é uma importante
mensagem que iremos repetir durante o curso
todo: criticar uma ideia de uma pessoa não é a
mesma coisa que criticar a própria pessoa. Em
nenhum momento iremos criticar as pessoas,
somente as suas ideias. Falaremos mais sobre
este aspecto quando virmos a falácia "Ad
Hominem".
Argumentar É Saber Falar Bem?
Algumas pessoas confundem argumentação
com oratória. Na verdade, essas são
habilidades diferentes. Uma pessoa pode ser
excelente oradora, mas mesmo assim
comunicar apenas ideias fracas e sem suporte.
Neste curso, não vamos estudar como falar em
público, nem vamos ver como se postar
perante uma plateia ou como projectar a voz
correctamente. Existem diversos cursos
excelentes que tratam desses aspectos. Nosso
enfoque aqui será estudar o que falar, de que
maneira podemos montar nossa comunicação
falada ou escrita para que se consiga convencer
as pessoas através do bom-senso. Convencer
pessoas através de argumentos é uma forma
mais honesta e perene de apresentar ideias e
conceitos do que usar apenas truques de
retórica.
Por Que Argumentar É Importante?
Já dissemos que argumentar é importante. Mas,
como veremos nos próximos capítulos,
somente afirmar alguma coisa não a torna
necessariamente verdadeira. Por isso, repito a
pergunta: Por que será que argumentar é tão
importante assim? Será que não daria para
viver bem sem se preocupar em "argumentar
de forma sólida"? Vamos ver algumas boas
razões para justificar isso.
O primeiro ponto é este: ninguém é o "dono da
verdade". Todo mundo pode estar errado, e
muitas vezes somos obrigados a rever nossa
própria posição sobre determinado assunto,
face ao que é exposto por outras pessoas. Mas
além disso, é preciso fazer uma observação de
ordem "semântica".
Algumas pessoas encaram a palavra
"argumentar" como sinónimo de "discutir" ou
"criar caso" ou até mesmo brigar. Se fosse esse
o sentido com que usamos essa palavra, este
não seria um curso de argumentação, seria de
jiu-jitsu. É óbvio que não é esse o sentido que
quero propor aqui. Para nós, argumentar deve
ser entendido como uma atitude de expressar
pontos de vista bem suportados. Do jeito que
esses dois aí ao lado estão, não dá mais para
falar em argumentação. Eles estão discutindo,
estão brigando. Durante uma argumentação
devemos, tanto quanto possível, evitar chegar a
esse ponto, onde já não importam mais as
ideias, mas sim o ataque à outra pessoa. É por
essa razão que várias vezes durante os
próximos capítulos vou falar - assim como já
falei mais acima - que argumentar não tem
nada a ver com ataques pessoais, e sim com
ataques às ideias das pessoas.
Volto a repetir a pergunta que está ocupando
nossa mente agora: por que fazer isso? Por que
devemos criticar as ideias de alguém? Afinal,
uma troca de argumentações entre pessoas
indica, muitas vezes, que elas estão
discordando sobre alguma coisa. Este é o tema
que gostaria de analisar: Será que discordar é
sempre ruim?
28
Discordar Nem Sempre É Ruim
É comum acharmos que discordância é uma
coisa indesejável. Nas empresas, em especial,
o que se quer é sempre o consenso total entre
os funcionários. Qualquer discordância é logo
vista como um ponto de atrito que precisa ser
rapidamente resolvido. Muitos dirigentes, se
pudessem, eliminariam todas as discordâncias.
Nas escolas e universidades isto também
parece ser uma fonte de preocupação, já que
certas discordâncias entre colegas podem
evoluir para condenáveis actos de agressão.
Por isso, quase faz parte do senso comum de
todos a ideia de que se o mundo não tivesse
discordâncias, tudo seria muito melhor. Será
que seria mesmo?
Vou mudar um pouquinho a questão. Será que
é bom não haver nenhuma discordância? É
quase a mesma questão. No entanto, uma
resposta a essa questão pode ser
surpreendentemente reveladora.
As pessoas tem pontos de vista diferentes e
isto ocorre naturalmente, pois as pessoas, além
de terem experiências e emoções peculiares,
também pensam de forma diferente. Ainda
bem, pois isto é fundamental para o
nascimento de uma diversidade de ideias, que
por sua vez é o combustível da criatividade.
Portanto, discordâncias ocasionais entre
pessoas é algo que parece ser inevitável,
simplesmente acontece. Só que a tese que eu
vou defender aqui é ainda mais estranha:
Eu vou alegar algo forte. Vou dizer que a
discordância não é só inevitável, mas em
certos casos, é até mesmo desejável.
Obviamente, como vimos com os brigões
acima, não estou falando de qualquer tipo de
discordância, falo de uma discordância
especial, aquela onde uma pessoa critique a
ideia de outra pessoa, e não a própria pessoa.
Eu vou chamar isso de "discordância
respeitosa". Agora refaço a minha tese:
Discordância Respeitosa é algo desejável.
Mas isso ainda não é o fim da questão.
Discordar Nem Sempre É Ruim Eu posso
repetir essa minha tese quantas vezes eu
quiser. Posso dizer isso usando um megafone,
falar na televisão ou escrever isso em um
artigo de jornal.
Nenhuma Forma de Manifestar Essa
Alegação Deveria Aumentar a Sua
Credibilidade
Afinal, alegar algo é uma coisa muito fácil,
difícil mesmo é suportar essa alegação com
justificativas plausíveis e convincentes - ainda
mais se é uma alegação surpreendente como
essa.
Isto é um dos pontos fundamentais da
Argumentação Sólida e do Pensamento
Crítico: as ideias não são sustentáveis por si só,
elas precisam de algum tipo de suporte. Então,
minha próxima tarefa precisa ser providenciar
suporte para essa alegação que fiz. Se eu não
conseguir fazer isso, então a força dessa minha
frase ficará muito reduzida. Essa, aliás, é parte
importante do pensamento científico, onde as
declarações não tem muito peso se não vierem
acompanhadas de alguma forma de suporte
(neste caso, teórico ou empírico). Vou começar
a justificar essa tese apresentando um estudo
muito interessante.
Discordância e Eficácia Colaborativa
O título já diz tudo: Discordância, não
harmonia, é a chave para o sucesso nos
negócios. Parece interessante. Vamos ver mais
de perto? estudo foi conduzido pela
Professora Brooke Harrington, da Brown
University. Nesse estudo, a Profa. Harrington
descobriu que grupos de pessoas muito
amigáveis entre si (membros de uma mesma
família, por exemplo) não têm desempenho
empresarial tão bom quanto grupos de pessoas
que se permitem respeitosamente discordar. É
claro, a chave aqui é aquela famosa
discordância respeitosa. Mas o que o estudo
revela, de forma empírica e replicável, é que a
discordância pode ser um factor de melhoria
no desempenho global de uma equipe,
principalmente quando os debates são
conduzidos com adequada racionalidade e
respeito. Os grupos de pessoas muito
próximas, que evitam discordar e trocar
argumentos entre si, obtiveram desempenho
inferior no experimento da Profa. Harrington.
Isto pode ser um duro golpe nas empresas cuja
administração é constituída essencialmente por
membros de uma mesma família.
“The findings illustrate why family
businesses frequently get into trouble;
people may be reluctant to contradict a
family member”Prof. Brooke Harrington
Este factor também serve para a comunicação
científica e académica. A ciência
frequentemente progride justamente quando há
o embate de ideias. Se sempre houvesse
consenso, provavelmente as fronteiras
científicas seriam menos desafiadas. Essas
fronteiras costumam ser atacadas justamente
quando cientistas (muitas vezes, jovens)
discordam de seus mestres, pois suspeitam que
as teorias antigas precisam ser reformadas.
Inicia-se uma "batalha de palavras" onde cada
lado procura arregimentar melhor suporte
(como já dito, teórico ou empírico) para
suportar seu caso. Do resultado desse batalha é
comum obter-se uma nova visão do problema,
29
quase sempre muito mais refinada do que a
anterior.
Como vimos, argumentar é um factor de
sucesso, tanto profissional quanto académico.
Equipes que sabem argumentar bem têm
desempenho profissional superior. Cientistas
que lidam bem com os argumentos de seus
colegas conseguem evoluir os seus próprios
pensamentos e o de colegas. Só isto já valeria
como motivo para aprender a argumentar. Mas
ainda não sabemos exactamente o que é um
argumento. Esse será o primeiro tópico que
esclareceremos no próximo capítulo. Mas só
para dar uma pequena amostra, veja a seguir
um exemplo de algo que não é um bom
argumento.
Um Argumento Ruim e Um Bom
O ex-secretário do tesouro americano, Paul
O'Neill, é conhecido por provocar polémicas
com suas declarações. Veja esta:
Farinha do mesmo saco, “É um erro acreditar
que Brasil e Argentina são duas coisas
separadas; o que acontece com um tem efeito
sobre o outro.”
(Paul O’Neil, secretário do Tesouro dos EUA,
ao se referir à crise económica que afecta os
vizinhos do Cone Sul, na Folha de S. Paulo 22
de Abril 2001.)
Este não é um bom argumento. Na realidade,
isto nem é um argumento. Não há nada nessa
declaração que nos faça acreditar naquilo que
está sendo proposto. É uma retórica que sugere
algo mas não mostra fundamentos. Parece
apoiar-se apenas no peso de quem está falando.
Conforme veremos em futuros capítulos, isto
não é suficiente. Além de tudo isso, essa
declaração já foi empiricamente contradita,
pois vimos há poucos anos uma gigantesca
crise abalar a Argentina sem que o Brasil
tivesse sofrido efeito similar. Mas se esse é um
exemplo de mau argumento, será possível
encontrar um exemplo de bom argumento? É
raro, mas bons argumentos aparecem de vez
em quando:
“As mulheres podem até não entender de
futebol, mas vou julgar os fatos. A nossa
questão é interpretar o Código Brasileiro
Disciplinar do Futebol. Não temos que saber
chutar bola.”
(Renata Cabo, promotora e uma das quatro
primeiras mulheres a integrar a Justiça
Desportiva nacional, no Folha de S. Paulo 11
de Fev. 2001
Renata Cabo foi uma das primeiras mulheres a
integrar a Justiça Desportiva. É claro que os
machistas de plantão não iriam perder essa
oportunidade de alfinetá-la. Afinal, para eles,
mulher não sabe jogar futebol, e portanto não
poderia julgar disputas desportivas
adequadamente. Mas a crítica dirigida a Renata
cai no vazio, já que ela se defendeu com esse
bem construído argumento.)
Você consegue perceber alguns detalhes nesses
dois exemplos, diferenciando o bom
argumento do ruim? Há algumas qualidades
especiais nos bons argumentos, e a partir do
próximo capítulo vamos vê-las de perto.
Introduzindo as "Falácias"
Falácia é um termo que veremos com muita
frequência neste curso. Por isso, vale a pena
apresentar um exemplo para ajudar a
compreender o conceito. Falácias são
argumentos que incorrem em algum tipo de
erro, em geral óbvio aos olhos dos entendidos
no assunto. Espero que, terminado este curso,
você possa fazer parte dessa categoria de
pessoas. Veja a seguir um exemplo típico de
falácia.
Suponha que você seja o feliz proprietário de
uma grande Indústria Química. Tudo vai bem
até que um dia você recebe a visita de um
fiscal do meio ambiente, que acusa a sua
indústria de estar poluindo o rio que corre
próximo a sua empresa.
Você sabe que isto não é verdade, pois toma
todas as precauções possíveis para evitar isso.
Então você pergunta ao fiscal quais são as
razões que ele têm para suspeitar que a
indústria esteja poluindo o rio. Quando se
pergunta quais as razões, está-se querendo uma
argumentação. O fiscal diz isto:
"Se a sua indústria estivesse poluindo o rio,
veríamos um aumento no número de peixes
mortos. Como estou vendo um aumento no
número de peixes mortos, devo concluir que
a sua indústria está poluindo o rio"
Será que este argumento é sólido o suficiente
para que o fiscal possa multá-lo? Que tipo de
problemas tem este argumento? Nós vamos
tratar deste e de muitos outros argumentos
incorrectos, mostrando porque estão errados e
como poderiam ser construídos de forma
correcta. A resposta ao problema deste
argumento será vista quando tratarmos da
falácia Afirmando o Consequente, que
veremos em detalhes no capítulo 4. Mas por
ora, vamos terminando o nosso capítulo 1.
Veremos neste curso que argumentação é um
dos principais requisitos para manter e
desenvolver uma independência intelectual,
principalmente no mundo de hoje, cheio de
alegações muitas vezes confusas e enganosas.
O sucesso profissional e acadêmico das
30
pessoas passa necessariamente por um Ângulo 2. A poluição sonora nas ruas
adequado entendimento dos conceitos e noções 
que exploraremos a partir do próximo capítulo. Ângulo 3. A instalação de parquímetros na
cidade 
 TÉCNICAS REDACCIONAIS
A Angulação do Tema b) Tema: NAZISMO
Para interessar o Leitor Ângulo 1. O silêncio como arma de
comunicação 
Objectivos: Ângulo 2. A ideologia da morte

Determinar a angulação do tema em função da Ângulo 3. A queda do muro de Berlim
audiência 

Adequar a angulação ao objectivo do texto c) Tema: MÚSICA

Ângulo 1. Emancipação feminina
Determinar a Angulação do Tema 
Ângulo 2. Beatles – o mito musical do
O Tema sobre o qual vamos escrever pode ser século 
imposto de fora ou escolhido por nós próprios. Ângulo 3. Trânsito – o maior barulho da
Em qualquer dos casos, uma vez fixado o história 
Tema, a pergunta que surge é a de saber como
abordá-lo. A técnica de angulação dá-nos a 2º DETERMINAR ÂNGULOS
resposta. RELACIONADOS COM OS TEMAS
Esta técnica baseia-se no facto de que um DADOS
Tema pode ser visto sob vários ângulos, isto é,
de diversos pontos de vista. Por exemplo, se o Nas linhas em branco escreva, para cada
tema for “A Morte da Princesa Diana”, tema, um outro exemplo de ângulo
poderíamos distinguir o ponto de vista médico relacionado:
(a reanimação utilizou ou não processos
adequados?), o ponto de vista criminal (quem é a) Tema: LIBERDADE
responsável pelo acidente?) ou o ponto de vista Ângulo 1. Liberdade como
mediático (como explicar a emoção espontânea responsabilidade social
da opinião pública à escala mundial?). Ângulo2.
Entendemos por ANGULAÇÃO o ponto de __________________________________
vista ESPECÍFICO sobre o tema. Especificar __________________
um tema geral significa: FOCAR UM b) Tema: PROGRESSO
ASPECTO MAIS RESTRITO DO TEMA. Ângulo 1. Progresso: avanço ou recuo?
No exemplo de Diana citamos apenas o Ângulo2.
aspecto médico, jurídico e mediático. Na __________________________________
realidade cada pessoa tem o seu próprio ponto ____________________
de vista. Mas quando escrevemos para uma
audiência dada, é imperativo determinar a c) Tema: RELIGIÃO
angulação que melhor corresponde às Ângulo 1. Religião: ópio do povo?
características e aos interesses dessa mesma Ângulo2.
audiência. O presente exercício visa a __________________________________
aprendizagem da técnica de angulação para um ____________________
determinado tema e audiência:
3º IDENTIFICAR ÂNGULO MAIS
1º IDENTIFICAR ÂNGULOS ADEQUADO À AUDIÊNCIA:
RELACIONADOS COM UM TEMA
DADO: Marque no quadrado de cada “audiência”
o número que corresponde ao ângulo mais
Marque com um “X” os ângulos directamente adequado a ela:
relacionados com os temas a), b) e c)
seguintes: a) Tema: LITERATURA

a) Tema: POLUIÇÃO Audiência:

Adolescentes 
Ângulo 1. A necessidade de zonas verdes Editores e Livreiros 
nas cidades  Alunos de letras 

31
 Audiência: Leitores da revista “Pais e
Ângulo 1. Quem decide o que é bom na Filhos”.
literatura: a obra em si, os leitores ou o Ângulo:___________________________
crítico literário? __________
Ângulo 2. Crise de papel – consequências
para o preço do livro. c) Tema: TOXICODEPENDÊNCIA
Ângulo 3. O efeito da poesia sobre a
sensibilidade dos jovens. Audiência: Adolescentes
Ângulo 4. Literatura: passatempo aos Ângulo:___________________________
sessenta? __________

b) Tema: CRIATIVIDADE 5º IDENTIFICAR ÂNGULOS ORIGINAIS

Audiência: Além de se adequarem à audiência, os

Psicólogos  ângulos de um tema devem ser originais,
Leitores de uma revista de moda  isto é, surpreendentes, quer no conteúdo,
Assistentes Sociais  quer na forma, para estimular o interesse
do leitor.
Ângulo 1. Moda: Criatividade ou
Extravagância? Por exemplo:
Ângulo 2. A criatividade do “malandro de
rua”. Tema: CRIMINALIDADE
Ângulo 3. Escrever com criatividade: dom Audiência: Leitores do “Folha 8”
inato ou habilidade aprendida? Ângulo 1. Os vários tipos de crime
Ângulo 4. Os prejuízos na criação de Ângulo 2. Do pilha galinhas ao gangster
material pedagógico para ensino de arte. de alta roda: uma questão de grau

c) Tema: MEDICINA O ângulo 2 tem uma forma mais

criativa. É mais original.
Audiência:
Estudantes de Medicina  a) Assinale com um “X” o ângulo mais
Psicólogos  original no tema seguinte:
Médicos Pediatras 
Tema: COMPUTADOR
Ângulo 1. A disputa entre psicólogos e
psiquiatras. Audiência: jornal do tipo “Jornal de
Ângulo 2. A prevenção de doenças Angola”
infantis através do aleitamento materno.
Ângulo 3. O actual mercado de trabalho Ângulo 1.
para médicos em Portugal. Computador: QI = 0 
Ângulo 4. Cirurgia plástica depois dos 70
anos de idade. Ângulo 2. O computador e a inteligência
humana 

4º DETERMINAR PARA OS TEMAS a), b) b) Dê exemplo de um ângulo original

e c), SEGUINTES, A ANGULAÇÃO para o tema seguinte:
ADEQUADA AO TIPO DE AUDIÊNCIA
INDICADO: Tema: MULHER
Audiência: suplemento feminino de
a) Tema: AMIZADE domingo
Ângulo original: Mulher? Apenas uma
Audiência: Leitores de uma revista de fim- “dona de casa”.
de-semana. Outro ângulo original: ____________
Ângulo:___________________________ _______________________________
_________
c) Escreva um ângulo original para o
b) Tema: ORIENTAÇÃO tema seguinte:
PROFISSIONAL
Tema: BRUXARIA
Audiência: “Folha 8”

32
 Ângulo original: _________________
_____________________________
5º SEQUÊNCIA DOS PASSOS A DAR
PARA DETERMINAR A MELHOR
ANGULAÇÃO DE UM TEMA DADO
PARA UMA DETERMINADA
AUDIÊNCIA
Tema: JORNALISMO
Audiência: Leitores do “Jornal da
EFP”
Para achar a melhor angulação deste
tema levando em conta essa audiência
responda às seguintes perguntas:
a) Quais são as características da
audiência?
Quem são?
__________________________________
____________________________
Quais as preocupações que têm quanto
ao emprego?
__________________________________
______________________________
Como vêem a profissão de jornalista?
__________________________________
______________________________
O que pensam sobre o curso de
licenciatura em Comunicação Social?
__________________________________
______________________________
b) De quantos pontos de vista o tema
“JORNALISMO” poderia ser
olhado por essa audiência?
Do ponto de vista _________
___________________________
Outro ponto de vista____________
_________________________
Mais um ponto de vista__________
__________________________
(Não pense em si. Pense na audiência. Por
empatia, isto é, no lugar dos leitores do
“Jornal da EFP”).
c) Qual é o ângulo mais adequado à
audiência?
__________________________________
_______________________________
Qual é aquele que mais chamaria a
atenção?
__________________________________
_______________________________
Qual é aquele que mais corresponde aos
seus anseios (seus, da audiência)?
__________________________________
________________________________
d) Qual desses ângulos é o mais
original quanto ao conteúdo e/ou
quanto à forma?
__________________________________
________________________________
Conclusão:
Na minha opinião, a melhor angulação do
tema “JORNALISMO”, para interessar os
leitores do “Jornal da EFP” seria:
Ângulo:
______________________________________
_________________________
Adequar a angulação ao objectivo do texto
(ou o inverso)
Nos exercícios anteriores aprendemos a
determinar a angulação de um tema em função
de uma audiência dada. O ângulo escolhido e o
público visado são duas balizas necessárias
mas insuficientes: dão-nos a saber para quem
escrevemos e sobre o que escrevemos, mas não
dizem porquê, nem para quê.
Ora quando escrevemos para irmos de
encontro ao leitor, temos que saber para que
serve o nosso texto e o que é que o leitor
poderá fazer com ele. Daí a necessidade de
definir: Onde queremos chegar? Qual o
objectivo a alcançar? Qual o efeito que
queremos obter?
As respostas a estas perguntas permitem
precisar e formular numa frase, a ideia central
(a mensagem essencial, a tese) que queremos
levar ao conhecimento do leitor.
Basta para isso saber definir o OBJECTIVO do
nosso texto em função do ÂNGULO escolhido
e da audiência visada, e depois, com a ajuda
desse objectivo, formular a nossa ideia numa
SENTENÇA – TESE apelativa, que interesse o
leitor.
Este exercício vai ajudar-nos a definir o
objectivo e a formular a sentença-tese que
explicita esse mesmo objectivo, isto é, o efeito
que é susceptível de produzir.
1. Identificar os objectivos decorrentes do
ângulo e adequados à audiência
33
 Marque com um “X” qual dos três
objectivos indicados está mais próximo do
ângulo do tema dado sendo ao mesmo
tempo, o mais relevante para a audiência
visada:
1º Tema: ALIMENTAÇÃO
Audiência: Mulheres operárias de uma
fábrica
Ângulo: É possível comer melhor
Objectivo 1. Comentar os últimos livros
de receitas 
Objectivo 2. Demonstrar que alguns
produtos podem ser substituídos com
economia e sem perda de qualidade
nutritiva  Objectivo:
Objectivo 3. Explicar a necessidade de
proteínas e calorias em dosagem
adequadas para o organismo 
2º Tema: DEFICIÊNCIA MENTAL
Audiência: Pais de pessoas com
deficiência mental
Ângulo: O deficiente e a sua família
Objectivo 1.
Comentar as relações dos atrasados
mentais com outras pessoas 
Objectivo 2. Comentar as formas de acção
dos pais para enfrentar os problemas
diários colocados pelos filhos com
deficiência mental  reforma
Objectivo 3. Analisar as etapas de
desenvolvimento de uma criança normal

2.Determinar objectivos relevantes para a
audiência e decorrentes da angulação
O objectivo deve explicitar o que o
emissor pretende com a mensagem:
informar, mostrar, demonstrar, comentar,
analisar, convencer, incitar, sugerir,
explicar, ironizar, documentar, comover,
etc.
Estabeleça um objectivo para os
temas seguintes dentro do ângulo indicado
e para a audiência visada, utilizando um
dos verbos operativos no infinitivo.
1º Tema: VELHICE
Audiência: Grupo em preparação para a
reforma
Ângulo: O perigo da ociosidade na 3ª
idade
Objectivo:
__________________________________
________________________
2º Tema: TELEVISÃO
Audiência: Mães e Educadores de Infância
Ângulo: A TV é uma concorrente às
brincadeiras infantis
Objectivo:
__________________________________
_______________________
3º Tema: PUBLICIDADE
Audiência: Alunos de comunicação social
Ângulo: Publicidade: manipulação ou
aproveitamento das motivações
__________________________________
________________
3.Formular Sentença-Tese a partir do
objectivo
A Sentença-Tese deve explicitar o que o
Emissor espera que o Receptor venha a fazer
com a mensagem.
Exemplo:
Tema: VELHICE
Audiência: Grupo em preparação para a
Ângulo: O perigo da ociosidade na 3ª idade
Objectivo: incitar a ocupar os tempos livres
Sentença-Tese: Parar é morrer: a ociosidade
diminui as capacidades dos idosos mas pode
ser evitada mediante actividades lúdicas,
físicas e intelectuais ao mesmo tempo úteis e
agradáveis que atrasam o envelhecimento.
Formule uma Sentença-Tese tomando em
consideração o objectivo, o interesse da
audiência e situando-se no ângulo definido:
Tema: UNIVERSIDADE
Audiência: Empresários
Ângulo: Divórcio entre ensino superior e
mundo laboral
Objectivo: promover cooperação entre
patronato e Universidade
Sentença-Tese:
______________________________________
__________________
4. Estabelecer o objectivo e Sentença-Tese:
Escreva para cada ângulo dado o objectivo que
seria relevante para a audiência em causa.
34
Depois redija a Sentença-Tese capaz de
explicitar o objectivo, isto é, a mensagem
essencial que quer dar a conhecer ao leitor.
1º Tema: FLORES
Audiência: Um clube de senhoras de idade
Ângulo: Aprendendo a cuidar de flores, elas
ensinar-nos-ão a sorrir…
Objectivo:_____________________________
_____________________________
Sentença-
Tese:_________________________________
_____________________
2º Tema: EMIGRAÇÃO
Audiência: Emigrantes Angolanos em Portugal
Ângulo: A construção da identidade no país de
imigração
Objectivo:
_____________________________________
________________________
Sentença-
Tese:_________________________________
________________________
Verificação:
O objectivo que fixou é o melhor para a sua
audiência?
O objectivo está relacionado com o ângulo?
O objectivo explicita o efeito que pretende
obter com a sua mensagem?
A sua Sentença-Tese explicita o objectivo de
forma adequada para a audiência? A reacção
do leitor irá ser aquela que você pretende?
5. Identificar Sentenças-Tese originais
Da mesma forma que o ângulo do tema deve
ser original, também a Sentença-Tese suscitará
mais interesse ao leitor se for redigida de uma
maneira expressiva e surpreendente que incite
o leitor a ler o texto.
Exemplo:
Tema: DIPLOMACIA
Audiência: Leitores do “Reader’s Digest”
Ângulo: O pragmatismo sorridente dos
diplomatas
Objectivo: Ironizar sobre a arte de seduzir na
diplomacia
Sentença-Tese: 1. A largura do sorriso de um
diplomata tem a medida certa para o que
deseja conseguir.
2. O diplomata tem que ser um
homem prático e sorrir sempre.
Neste exemplo a primeira Sentença-Tese tem
uma formulação expressiva (usa expressões
fora do contexto usual) que a torna original. A
Sentença-Tese 2 é correcta mas de estilo
normativo e banal.
Tente redigir Sentenças-Tese originais para
cada um dos objectivos dados nos temas
seguintes:
1º Tema: COMPUTADOR
Audiência: Leitores de um suplemento
informático
Ângulo: Computador: QI = 0
Objectivo: salientar a incapacidade do
computador sem o homem
Sentença-Tese: 1. O computador só funciona
graças ao cérebro do homem.
Sentença-Tese: 2.
______________________________________
____________
2º Tema: COMUNICAÇÃO
Audiência: Leitores do “Cruzeiro do Sul”
Ângulo: Media a mais comunicação a menos
Objectivo: demonstrar o paradoxo da falta de
comunicação entre as pessoas na era da
superabundância dos media.
Sentença-Tese: 1. Desde que os media
invadiram a nossa vida, perdemos o gosto
pelas conversas em família e das visitas a casa
de amigos.
Sentença-Tese
2:____________________________________
____________________
3º Tema: JORNALISMO
Audiência: Leitores do Jornal da UAN
Ângulo: Ingresso livre na profissão
Responda às seguintes questões:
a) Que objectivos poderia ter um texto
com o ângulo visando aquela
audiência?
O texto poderia servir
para______________________________
__________
Ou
para______________________________
___________________________
Ou para
__________________________________
_______________________
35

(Pense no uso que os seus leitores
poderiam fazer da sua mensagem)
b) Qual o objectivo que seria mais
relevante para a mesma audiência?
(Examine os objectivos anteriores e
escolha aquele que lhe parece trazer
mais proveito para a audiência)
O objectivo escolhido é 6.
__________________________________
__________________________________
__________________________________
______________________________
c) Que Sentença-Tese poderia traduzir o
objectivo escolhido? (Escreva uma
frase afirmativa ou interrogativa que
exprima onde você quer chegar)
__________________________________
__________________________________
__________________________________
________________________________
d) A Sentença -Tese é original? (Tem algo
de diferente? Novo? Surpreendente?
Insólito? Tem algo que possa aumentar o
interesse da sua audiência?). Caso
considere agora necessário reformule a
seguir a frase que redigiu em c)
__________________________________
_______________________________
__________________________________
_______________________________
III EXECUÇÃO E PRÁTICA
 AS 8 REGRAS DE OURO!!!
1. Apresentação. (Os trabalhos cuja
apresentação, tipo e tamanho de letra
não estiverem de acordo com a
proposta sofrerão desconto).
2. Calendarização. (Não serão
recebidos trabalhos além da data
limite, ou seja, ________________).
3. Utilização de dicionário. (É
fundamental que não sejam feitos
erros ortográficos em trabalhos
elaborados a computador. Utilizar
tecla F7 e corrector automático de
erros.)
4. Utilização de vocabulário seguro e
adequado. (Evitar frases
bombásticas e vocabulário gongórico
quando as propostas pedem
simplicidade e clareza.)
5. Articulação sequencial, lógica e
passo-a-passo das ideias. (Procurar
ser claro e bem estruturado, tanto nas
ideias, como na sintaxe. Fazer frases
curtas! Evitar divagar ou escrever
muito sem dizer nada de conclusivo.
Ser assertivo, ir directamente ao
assunto.)
Utilizar a pontuação, evitando
frases enormes. Lembrar: Sujeito –
Verbo – Complementos.
7. Não às: frases demasiado longas,
abreviaturas, má mancha gráfica,
rasura exagerada).
8. Ser criativo. Ter pensamento
próprio. (O plágio é crime. A
paráfrase é inútil no dado contexto).
 AS TRÊS MANOBRAS DE
EMERGÊNCIA DA RETÓRICA!!!
1. Apreender a mensagem implícita
em dado texto. Criar o argumento
próprio a partir dessa mesma
mensagem compreendida no texto.
2. Demonstrar passo-a-passo o
argumento, dando a opinião pessoal.
3. Defender e confirmar fazendo
recurso a uma exemplificação
pertinente e sintética.
 PROPOSTA EXEMPLIFICATIVA DE
COMENTÁRIOS (autoria de alunos)
“A palavra é como a pedra. Uma vez
atirada já ninguém a apanha.” Provérbio
russo.
Este provérbio russo aponta para um problema
de máxima importância para todos nós,
intelectuais e estudantes: o problema do valor
da palavra e o perigo da sua má utilização. E
este problema não é exclusivo daqueles que se
preocupam com a linguagem, a palavra, ou
símbolo. Na verdade, todas as culturas, ao
longo de toda a história, sempre demonstraram
um cuidado muito particular relativamente ao
mau uso da palavra.
A palavra tem o poder de nos apontar a
verdade, mas também de mentir, de nos
desviar da realidade, e de nos magoar. Uma
pequena palavra pode trazer muito sofrimento
à nossa vida, como é o caso dos insultos,
boatos, “fofocas” e críticas. Palavras que,
quando proferidas, já não são fáceis de apagar,
e cujo eco pode indelevelmente permanecer
nos nossos ouvidos e corações. Tal como se
diz que a maior mentira é aquela que apenas se
afasta ligeiramente da verdade, assim um
36
insulto, uma palavra dura, é o quanto basta
para destruir vidas. Uma pessoa pode matar ao
dizer “amo-te”, caso isso seja mentira e a outra
pessoa acredite e crie naturais expectativas.
Mas a ignorância é isso mesmo: não antever as
consequências das palavras. Uma palavra, uma
vez lançada, tem vida própria e não sabemos
como vai ser interpretada ou sentida por
outros.
Em certas culturas, como a da Polinésia,
existem palavras que são “tabu”, ou seja, não
devem ser proferidas levianamente, pois
“tabu” significa, literalmente, “sagrado”. Há
coisas sagradas na nossa vida, nomeadamente
a Palavra e o uso que lhe damos. Uma vez
saída da nossa boca ela voa e as suas
consequências devem ser acauteladas. Assim o
diz o sábio ditado, também aqui em Angola
utilizado: “a palavra é de prata, mas o silêncio
é de ouro.” Por vezes, quando não se tem a
certeza de como irá “voar” a nossa palavra, o
melhor é fazer silêncio.
“Hoje feio e fétido
- cismava o charco –
amanhã serei nuvem.”
(Hermógenes)
Este belo e sintético poema tem implícita uma
profunda mensagem de esperança. Este poema
chama-nos a atenção para o facto de que a
transformação, a redenção e a mudança são a
natureza da nossa própria existência. Nada
dura para sempre, e tudo se transforma,
sublima, de acordo com a sua própria natureza.
Estamos todos a caminho de casa e de
descobrir a nossa verdadeira identidade, ou
verdadeira natureza.
Portanto, o que este poema nos quer mostrar é
que todos nós teremos a oportunidade de nos
tornarmos melhores, de nos transcendermos,
de irmos para lá do nosso egoísmo, da nossa
pequenez e nos tornarmos algo muito maior e
lindo. Todos nós seremos sábios, todos nós
seremos anjos – se assim o quisermos. Pois é
isso que está patente no poema, essa profunda
fé e convicção de que qualquer um de nós, por
mais mesquinho e limitado que seja pode
tornar-se puro e vasto como a nuvem.
O grande cientista Einstein costumava dizer
que “no universo nada se perde, nem nada se
ganha, tudo se transforma” referindo-se às leis
básicas da física. Ou seja, não há morte, nem
fim, mas um processo de crescimento, de
evolução ética, cultural e espiritual. Sem nos
transformarmos em “nuvem” continuaremos
como poças de lama suja, encerrados na nossa
pequenez. Ser nuvem, ser algo celeste e
imaculado é possível, mas é preciso querê-lo
com todo a alma, tal como o pequeno charco
que tanto cismava acerca da sua condição, pois
queria ser mais. Muito mais.
“O melhor espelho é o olhar de um amigo.”
Provérbio gaélico.
Este interessante provérbio utiliza a metáfora
para nos demonstrar que, muitas vezes, é nas
reacções daqueles que nos rodeiam, ou nos
amam, que podemos descobrir quem somos.
Aqui, portanto, é utilizada uma metáfora em
que o espelho simboliza o reflexo dos nossos
actos e comportamentos.
O ser humano é um ser social, de relações, e as
relações com aqueles ao nosso redor são o que
constrói e define a nossa vida. Para muita
gente, infelizmente, a vida pode ser definida
como triste, pois grande parte das pessoas vive
vidas inteiras em conflito com aqueles que
estão em seu redor. E o conflito e dor são, na
maioria dos casos, resultado da cegueira e falta
de vontade de ver a verdade. Porque se
observássemos com atenção o olhar daqueles
que estão em nosso redor, frequentemente
haveríamos de captar a tristeza, a reprovação e
a dor no seu olhar. Nesse caso os olhos
daqueles que nos rodeiam, e o modo como eles
nos olham, são um bom espelho e reflexo
daquilo que nós somos e fazemos.
Por exemplo, todos nós já estivemos na
situação de perguntar a outros: “porque me
olhas desse modo?” justamente porque no
olhar da outra pessoa captamos algum indício
de algo de que nós mesmos não nos demos
conta. Ou então, acontecer o maravilhoso
oposto, como quando num olhar cheio de
ternura e afecto podemos confirmar que
estamos bem, actuamos bem e o mundo,
reflectido nas pupilas dos outros, assim no-lo
confirma.
“Se os teus projectos são para um ano,
planta arroz. Se os teus projectos são para
vinte anos, planta árvores de fruto. Mas, se
os teus projectos são para mais de mil anos,
então, educa as pessoas.” Provérbio chinês.
A mensagem que, claramente, nos é
transmitida por este provérbio é uma
mensagem acerca das nossas prioridades na
vida. E, neste caso, aquilo que nos é apontado
como fundamental prioridade é a cultura, a
educação das pessoas.
Para aqueles cujos objectivos de vida são
modestos, pequenos mesmo, o provérbio
aconselha a que se plante arroz. Neste caso o
arroz representará os objectivos mais
simplistas e imediatos da vida. Do mesmo
modo as árvores de fruto representarão
projectos de médio alcance, aqueles que a
37
maioria das pessoas prioriza na sua vida, tais
como casa, carro, e outros bens mais difíceis
de obter. No entanto, fica patente neste
provérbio que tanto o “arroz”, como as
“árvores de fruto” representam prioridades e
objectivos exclusivamente materialistas,
consequentemente, perecíveis e mortais. Em
contrapartida a Educação representa um
projecto que vai para lá do material, é algo
puro, pois leva à sabedoria e imortalidade.
O prémio Nobel da paz, o tibetano Dalai-
Lama, disse que transmitirmos o nosso
conhecimento é uma maneira de nos tornamos
imortais e eternos. Isto é verdade, pois a
transmissão e partilha do saber, da cultura e da
inteligência, são o mais alto objectivo e
prioridade que alguém pode ter na vida. É a
possibilidade real de contribuir para o mundo
dos nossos futuros netos – pois as nossas
palavras, descobertas e sabedorias farão parte
integrante deles e desse mundo melhor, onde a
nossa vida durará muito mais do que algumas
décadas, mas atingirá os tais mil anos que, no
fundo, são uma metáfora acerca da
imortalidade. A mais ambiciosa de todas as
prioridades.
 COMENTÁRIO CRÍTICO
INTERTEXTUAL (guia de
orientações).
1. Escolha, de acordo com a sua
sensibilidade, o excerto que
considerou mais relevante na obra
literária.
2. Procure nos “fascículos” um
excerto que contenha uma mesma
mensagem implícita que o excerto
escolhido da obra literária.
3. Transcreva ambos os excertos no
início do seu trabalho.
4. Elabore um comentário
intertextual de 350 a 500 palavras
baseando-se em ambos os excertos.
a) Torne clara a mensagem
implícita presente em ambos
os excertos e de que modo
estes se relacionam.
b) Apresente um argumento
criativo e relevante como
base para o seu trabalho.
c) Demonstre com
assertividade e articulação a
sua opinião acerca da obra e
dos excertos.
d) Defenda e confirme o seu
argumento recorrendo a uma
exemplificação pertinente.
e) Faça uso dos apontamentos
“Para a escrita de um
comentário” e
“Sistematização teórica por
tópicos”. Cumpra, também,
as 8 regras de ouro.
Para a elaboração do comentário pede-se que o
trabalho seja apresentado no tipo de letra
“Times New Roman”, tamanho 12, com os
parágrafos 1,5. Ou seja, a estrutura e tipo de
letra em que este mesmo guia de orientações
está a ser elaborado.
Poupe papel: faça o seu trabalho apenas em
uma folha de papel A4. Coloque no cabeçalho
o logótipo da Universidade Agostinho Neto,
seguido da Disciplina, Docente e nome do
Autor do Comentário.
Apresente no fim do trabalho o número de
palavras que utilizou no seu comentário. Na
barra “Ferramentas” poderá encontrar o
comando que lhe permite obter esse número.
IV EXERCÍCIOS DE GRAMÁTICA
TERMOS APROPRIADOS
Substitua a palavra sublinhada por um
termo mais apropriado.
1. A audiência do programa foi subindo
até que, às 23 horas somou 2 milhões
de espectadores.
2. Ele muda constantemente de opinião
– é muito volátil.
3. Os ecologistas da Greenpeace
conclamaram para o boicote aos
produtos franceses.
4. Nas reuniões mantidas ontem, terça-
feira, entre o industrial e os
representantes do sindicato, pouco se
avançou.
5. A Administração Municipal de
Luanda decidiu estabelecer
parquímetros nas Avenidas do centro
da cidade.
6. O atleta apresentou a intenção de
participar na corrida.
7. A vaga na direcção do clube só em
Janeiro será ocupada.
8. Com 50 anos, dificilmente arranjará
emprego. O seu futuro é enigmático.
38
 9. O Director Provincial ventilou uma
solução para o problema, que foi
chumbada pelo Governo Civil.
10. Mecânico de automóveis desde há dez
anos, ele juntou uma grande vivência
profissional. Actualmente, consegue
prever avarias através dos ruídos dos
motores.
PRECISÃO VOCABULAR
Substitua a palavra em questão (verbo
fazer) por um termo mais apropriado.
1. Fiz um erro de ortografia.
2. O presidente da mesa fez um breve
discurso.
3. A sala faz 12 metros quadrados.
4. Este automóvel faz mais de 170
Km/hora.
5. Os turistas fizeram a Madeira em dois
dias.
6. O carro fez a curva em derrapagem.
7. O jornalista fez a notícia do acidente.
8. Aquele técnico faz 100 contos por
mês em horas extraordinárias.
9. O casal fez um passeio de barco.
10. Aos domingos, ele faz desporto.
11. O arguido terá de fazer cinco anos de
prisão.
12. Tom Hanks faz o papel principal em
O Naufrago, filme feito por Steven
Spielberg.
13. O jornalista Joaquim Freitas, da TPA,
costuma fazer o telejornal da hora do
jantar.
14. O futebolista fez uma luxação no
joelho direito.
15. Operários estão a fazer uma vala para
o escoamento de água.
16. A companhia vai fazer uma peça de
Shakespeare no Teatro Municipal.
17. A associação decidiu fazer uma festa
de homenagem ao seu antigo
presidente.
18. O Governo fez alterações à Lei das
Pescas.
19. João Martins fez os 50 metros costas
em 1m35,08s.
20. Os dois países fizeram um acordo de
paz.
CAÇA AO PLEONASMO
Detecte e assinale entre parênteses quais os
termos desnecessários nas seguintes frases:
1. Na empresa, era o único perito
qualificado em software informático.
2. Mostraram-se ambos os dois
activamente empenhados em que a
selecção nacional angolana ganhasse
o jogo.
3. Naquele dia, caíra uma forte bátega
de água na cidade de Benguela.
4. A testemunha declarou que repetiria
de novo o relato dos factos
verdadeiros a que assistira.
5. A vítima sacrificada pelos
participantes na cerimónia ritual foi
uma galinha preta.
6. A história clínica passada do doente
registava a ocorrência de várias
hemorragias de sangue.
7. O primeiro de todos a ouvir a melodia
composta pelo maestro foi o seu
discípulo Mário G.
8. Foi no mês de Fevereiro que a recente
inovação – um computador por turma
– constituiu uma inesperada surpresa
para os alunos.
9. A inauguração, com pompa e
circunstância, do novo hospital
decorrera há três meses atrás.
10. O navio comandado pelo almirante da
Marinha, Augusto T., já tinha
navegado duas vezes no oceano, entre
Lisboa e Angola.
39
 11. A empresa detinha o monopólio
exclusivo da produção de moldes.
12. Os investigadores chegaram à
conclusão final de que o erário
público fora defraudado.
INFORMAÇÕES REDUNDANTES
Sublinhe nas frases as palavras ou
expressões que considere redundantes.
1. O deputado considerou “puras
especulações” as recentes notícias
com novidades sobre a equipa
governamental que o líder do seu
partido escolherá se for chamado a
formar Governo.
2. Trata-se de “um pedido de carácter
extraordinário”, disse o empresário.
Mas acrescentou que tentará dar-lhe
sequência, na medida das suas
possibilidades.
3. A solução impunha-se com muita
força. Era, por isso, imperioso adoptá-
la.
4. As selecções nacionais de futebol de
Angola e de Portugal defrontaram-se
ontem, domingo, no Estádio do
Dragão, num jogo que, no fim dos 90
minutos, terminou com um empate a
um golo.
5. As obras de construção da escola
estão adiantadas 30 dias, pelo que
terminarão um mês antes da data
inicialmente prevista.
6. O factor alcoolismo é responsável por
muitos acidentes de viação
verificados nas estradas e nas áreas
urbanas.
7. Mais uma “chicotada psicológica”: o
treinador do Chelsea, José Mourinho,
foi esta manhã demitido das suas
funções, pelo que deixará de orientar
a equipa.
8. A moda actual em Londres são os
mini livros da Pinguin, que em
Luanda, já se encontram disponíveis
no mercado, podendo ser adquiridos
nas principais livrarias.
9. Enquanto jantou, conjuntamente com
o seu chefe de gabinete, à mesa do
restaurante, o ministro manteve-se em
silêncio, sem dizer uma palavra, não
conseguindo esconder um mal
disfarçado ar de preocupação.
CONDENSAR
Sublinhe nas frases seguintes as palavras ou
expressões que considere redundantes e
substitua-as por expressões mais
económicas:
1. Na próxima quarta-feira, 6, o novo museu
abre as suas portas a todos quantos o quiserem
visitar.
2. Por ter sido considerada absurda, a ideia foi
deixada completamente para trás.
3. Naquele dia, caiu aguado céu, em escassas
gotas miudinhas.
4. Desde o sopé até ao ponto mais alto, o
monte mede 400 metros.
5. Radovan Karadzic declarou que os sérvios
da Bósnia não têm nada a opor ao plano de paz
proposto pelos EUA.
6. As negociações chegaram a um ponto em
que não andam nem para a frente nem para
trás.
7. A única preocupação do empresário era
aumentar os benefícios pecuniários em
proveito da empresa.
8. António T. é o bombeiro que costuma ir
sentado ao volante da ambulância.
9. O barco levava um número de passageiros
superior ao permitido pela sua lotação.
10. O professor de Biologia ficou também
encarregado de ministrar aos alunos
conhecimentos científicos da área da Zoologia.
SÓ O ESSENCIAL
Imagine que pertence aos quadros
redactoriais do Cruzeiro do Sul, com sede
em Benguela. O seu chefe de Redacção
entrega-lhe um texto redigido por um
colaborador do jornal, e pede-lhe: “Reduza
esta prosa, tanto quanto for capaz, sem
omitir nenhum dado que considere
importante para a compreensão das
informações nela contidas”.
NOVA MÉDICA
40

Impulsionada por uma verdadeira vocação
médica e sentindo, desde muito cedo, vontade
de abraçar a profissão, a drª Eugénia M., de 25
anos, venceu, com dedicação invulgar, a longa
caminhada que teve de percorrer, até
conquistar o diploma que lhe dá o direito de
exercer o “sacerdócio” ao serviço da
humanidade sofredora.
Tendo terminado o estágio no Hospital de
Luanda, no final do ano passado, a nova
médica vai iniciar, no próximo dia 20 de
Novembro do corrente ano, a sua actividade
profissional no hospital da nossa cidade, onde
pediu para ser colocada. Com a experiência
acumulada durante o tempo em que frequentou
a Universidade Agostinho Neto, em Luanda,
escola na qual teve oportunidade de
demonstrar a sua sensibilidade em prol
daqueles que sofrem, a drª Eugénia M. já se
encontra em Benguela.
Natural do Cubal, a nova médica é filha da srª
D. Maria M. e do seu marido, nosso estimado
amigo sr. Manuel M., casal de poucos
recursos, sem dúvida, mas rico de sentimentos
humanos e familiares, como deu público
testemunho ao permitir que a filha seguisse
uma carreira profissional, o que lhe valeu
bastantes sacrifícios.
À drª Eugénia M., o nosso jornal deseja as
melhores venturas. Parabéns a seus pais e
irmãos.
GUIA PARA A CORRECÇÃO DO
EXERCÍCIO
O hospital de Benguela contará com mais uma
médica, a partir do próximo dia 20 de
Novembro. Trata-se da drª Eugénia M., 25
anos, natural do Cubal e filha de Maria M. e
Manuel M.. Licenciada pela Universidade
Agostinho Neto, terminou o estágio no final do
ano passado, no Hospital de Luanda.
DISTINCÕES ENTRE: há / à / ah
há – 3ª pessoa do singular do presente do
indicativo do verbo haver.
à – contracção da preposição “a” com o
determinante artigo definido feminino singular
“a”; no plural: às
ah – interjeição
Exemplos:
Há pessoas muito distraídas.
Ele há-de vir cá.
Ontem fui à praia.
Ah! finalmente chegaste!
Exercícios:
Completa com a palavra adequada:
I - ______ que pena! _____ tarde, está mais
calor. _____ cincoanos que estou na escola.
Desde ______ algum tempo que não tenho
visto o João. Vamos ______ praia este fim-de-
semana? ______ quem me dera!
II – Não ______ outra igual a ti. O pássaro
______-de ir buscá-los. ______ como tu és
linda! De onde vim eu – pergunta a criança
______ sua mãe. Que milagre permitiu
_____minha fraqueza o poder prender-te nos
meus braços? O garoto colheu flores por ali
______ vontade. Não te chegues ______
borda.
III – O garoto pediu resposta ______ suas
interrogações. O pai _____ vezes dizia-lhe
coisas! Via já o irmão tomar-lhe o lugar,
ficando ele _____ parte, esquecido de
meiguices. Levou o boné ______ boca com
ganas de o retraçar. Uma outra vez, isto já foi
______ vários meses… Terei eu agora tanto
interesse pela natureza por não poder ______
muito tempo sair deste buraco? ______ se eu
pudesse fugir…
lava-se / lavasse
lavasse – forma do pretérito imperfeito do
conjuntivo do verbo lavar, na 1ª ou 3ª pessoa
do singular
lava – forma do presente do indicativo do
verbo lavar, na 3ª pessoa do singular.
se – 1 – pronome pessoal reflexo
2 – partícula apassivante
3 – com valor de pronome indefinido
Exemplos:
1 - Ele lava-se todas as manhãs.
2 – Esta camisa branca lava-se
frequentemente.
3 – Hoje em dia, lava-se muito na máquina.
Exercícios:
Completa os espaços em branco com a forma
adequada:
lesse / lê-se
41

Este livro __________ muito bem, não achas?
Talvez a juventude __________ mais se não
fosse a televisão.
___________ pouco em Portugal hoje em dia.
Se ela __________ os jornais, já saberia o que
se passa.
Achas que se eu ___________ um livro de Eça
de Queirós o acharia difícil?
Pedi ao João que me __________ essa notícia.
__________ melhor uma revista do que um
jornal por causa das ilustrações.
Se eu ___________ sempre que me apetece,
não fazia mais nada!
___________ cada coisa que às vezes nem se
acredita!
Veio ele, e disse:
- O contrato? _________ e assina-se.
estudasse / estuda-se
_____________ com gosto quando se acha a
matéria interessante.
Se ela _____________ mais, obteria melhores
resultados.
Talvez o Manuel _______________ mais
Português se a irmã o ajudasse.
Muitas vezes ________________ só na
véspera dos testes e por isso os resultados nem
sempre são bons.
______________ pouco em Portugal; se se
______________ mais, teríamos melhores
profissionais.
vestimos / vestimo-nos
vestimos – forma de 1ª pessoa do plural do
presente ou do pretérito perfeito do indicativo
do verbo vestir.
vestimo-nos – forma de 1ª pessoa do plural do
presente ou do pretérito perfeito do indicativo
do verbo vertir-se (conjugação reflexa)
Obs.- O pronome pode indicar reciprocidade:
abraçamo-nos (um ao outro ou uns aos outros)
Exercícios:
Completa os espaços em branco com a forma
verbal adequada:
lavamos / lavamo-nos
Lá em casa _______________ à noite.
Lá em casa _______________ a loiça à noite.
sentamos / sentamo-nos
No futebol ______________ em bancadas.
Nós ________________ as crianças ao colo.
deitamos / deitamo-nos
_____________ todos os dias às dez horas.
_____________ a rede ao mar para ver se vem
peixe?
Lá em casa _____________ sempre a culpa ao
cão quando as bolachas desaparecem.
_____________ em cima da cama quando
estamos cansados.
levantamos / levantamo-nos
Amanhã ______________ antes de vocês!
_______________ a encomenda no correio
logo à tarde.
distraímos / distraímo-nos
________________ muito, sempre que vamos
ao Jardim Zoológica.
________________ a Ana, se lhe mostrarmos
as fotografias da nossa viagem.
atrás / atrás de / trás / traz / detrás
atrás – advérbio de lugar
atrás de – locução prepositiva
detrás – advérbio de lugar
trás – preposição
traz – 3ª pessoa do singular do presente do
indicativo do verbo trazer ou 2ª pessoa do
singular do imperativo
Exemplos:
Lá atrás há uma praceta.
Atrás de mim virá quem de mim bom fará.
Detrás desse móvel há pó.
Por trás dessa máscara o que estará?
Traz cá as tuas coisas.
Exercícios:
Completa com as palavras adequadas:
I – Por _______ desta escola há um
descampado. As tropas inimigas avançaram
por _______ deste morro. _______ deste carro,
vêm muitos outros pois o engarrafamento é
grande. Ele hoje _______ umas calças novas.
Vai na frente que eu vou _______. Este
jogador ficou em 3º, _______ do Lendl.
II - _______ de tempo, tempo vem. Não se
pode voltar _______. Para _______ ficaram
42
muitas recordações. Ela ficou de pé _______
comigo depois daquela partida. Não se deve
voltar _______ no tempo. Ele gosta de andar
com as mãos _______ das costas.
III – Deu sinal a trombeta castelhana (…) e o
Guadiana _______ tornou as ondas de
medroso. Mas Marte (…) em pé já se
levantava (…) o forte escudo, ao colo
pendurado, deitando para _______, medonho e
irado. (Camões)
Logo _______ do barco a vaga é monstruosa a
desabar sobre eles. (Raul Brandão)
Os irmãos de Medranhos encontraram, por
_______ de uma moita (…) um cofre de ferro.
Ambos se emboscaram por _______ de um
silvado. (Eça de Queirós)
vem / vêm / vêem
vem – 3ª pessoa do singular do presente do
indicativo do verbo vir
vêm – 3ª pessoa do plural do presente do
indicativo do verbo vir
vêem – 3ª pessoa do plural do presente do
indicativo do verbo ver
Exemplos:
Ele vem cá muitas vezes.
Eles vêm muito cá a casa.
Eles vêem televisão à noite.
Obs. – Nos derivados de vir e de ver esta
acentuação mantém-se.
Exercícios:
I – Completa com o presente do indicativo dos
verbos acima indicados:
Vocês não ________ que ele tem razão? Afinal
eles ________cá ou não? Quem ________ lá?
Eles nunca ________ os programas mais
interessantes porque são os mais tardios. Lá
porque ________ os outros fazer asneiras, não
quer dizer que vocês as façam. Quando é que
eles ________ cá a casa? Os gatos ________
melhor de noite que de dia. Eles ________
mais depressa quando o pai os traz. Quem é
que ________comigo hoje? O João e o
António ________ cá amanhã. Elas ________
os programas que lhes interessam.
II - Completa com o presente do indicativo dos
verbos rever, antever, intervir, sobrevir, prever:
Os meteorologistas nem sempre __________ o
tempo com exactidão.
Os mágicos __________ o nosso futuro,
segundo dizem.
Os alunos conscienciosos __________ as
lições com cuidado.
Alguns alunos não as __________ e depois
têm problemas.
Os políticos __________ muitas vezes em
debates na televisão.
Às grandes almoçaradas __________ por
vezes perturbações digestivas.
senão / se não
senão – advérbio de exclusão
se não – conjunção subordinativa condicional
+ advérbio de negação
Exemplos:
Não tenho senão um livro (= Tenho apenas um
livro).
Se não vieres, telefo-me (= No caso de não
vires, telefona-me).
Obs.- O advérbio senão emprega-se
frequentemente com o valor de um nome:
Este espectáculo tem apenas um senão (= um
inconveniente, um defeito): é muito longo.
Exercícios:
Completa os espaços em branco da forma
adequada:
_________ andas mais depressa, ainda
perdemos o comboio!
Não há bela sem _________.
Ele hoje não tinha acordado _________ o
tivessem chamado.
Este ano comprei _________ um livro na
Feira, porque estavam muito caros.
_________ estudares, arriscas-te a não passar.
Este teste tem apenas um _________: é
demasiado comprido!
_________ me tivessem contado, eu não
acreditava!
Não resolvemos isto _________ com ela.
_________ querem ir ao cinema, podemos ir
antes ao teatro.
_________ chover amanhã, vais à praia?
43
O único _________ dessa viagem é que deve
ser muito fatigante.
Telefonava à Maria _________ fosse já tarde.
porque / por que
porque – conjunção subordinativa causal; ou
advérbio interrogativo
por que – preposição e pronome relativo ou
determinante interrogativo
Exemplos:
Não saí, porque estava a chover. Porque vieste
tão tarde? Por que razão vieste tão tarde?
Perdi o comboio: foi esta a razão por que vim
tarde.
Exercícios:
Completa os espaços em branco da forma
adequada:
_________ rua vieste?
Não sei _________ estará ela tão zangada!
Não sei _________ razão estará ela tão
zangada!
Temos de ir ao banco _________ estamos a
ficar sem dinheiro.
Eu gosto de ler _________ aprendo sempre
coisas novas.
_________ não havia eu de ir ao Porto este
fim-de-semana?
Ela sabe bem _________ motivo nós não te
telefonámos ontem!
_________ filme te decidiste afinal?
Eles foram para o Algarve _________ gostam
de sol.
A causa _________ ele luta é muito justa, não
achas?
_________ não vens comigo?
há cerca de / acerca de / cerca de
há cerca de – verbo haver + locução
prepositiva
acerca de – locução prepositiva = sobre, a
respeito de
cerca de – locução prepositiva = mais ou
menos
Exemplos:
Há cerca de seis meses que não nos vemos.
A conferência foi acerca de Fernando Pessoa.
Havia cerca de meio milhar de pessoas no
espectáculo.
Exercícios:
Completa os espaços em branco da forma
adequada:
Preciso de falar contigo ___________ de um
problema do teu irmão.
___________ de metade da população não
goza férias.
Estamos em Angola ___________ de um ano.
Em Luanda ___________ de cinco milhões de
habitantes.
Ele está adoentado ___________ de um mês.
A família até está muito preocupada
___________ da sua saúde.
___________ de metade dos alunos do
primeiro ano estudam francês.
Vocês estão na escola ___________ de seis
anos.
Os vossos professores falam-vos ___________
da cultura portuguesa.
___________ de três meses estávamos em
férias.
Na Assembleia da República há muitas
discussões ___________ das leis que ali são
apresentadas.
Estão aqui ___________ de mil pessoas.
conquanto / com quanto
conquanto – conjunção subordinativa
concessiva = embora, apesar de
com quanto – preposição + determinante /
pronome interrogativo; concorda em género e
número com o nome que determina
Exemplos:
Conquanto não me apeteça, saio contigo
amanhã.
44
Com quanto te contentas?
Com quantas negativas se pode passar de ano?
Exercícios:
Completa os espaços em branco da forma
adequada:
_________ orgulho recebi os teus bons
resultados!
_________ me doa a cabeça acabarei o
trabalho que estou a fazer.
_________ problemas se debatem os jovens,
hoje em dia!
_________ preocupações os pais vêem os
filhos andar de moto!
_________ seja tarde, suponho que ainda
chegaremos a tempo.
Gostava de saber _________ amigos te
entendes bem!
Empresto-te a raquete _________ ela seja de
estimação.
Pergunto a mim próprio _________ kwanzas
ficarei, depois de uma despesa tão grande!
PALAVRAS HOMÓFONAS
São palavras que têm o mesmo som, mas
grafia e sentido diferentes.
Exemplos:
Eu sinto muito frio no Inverno.
O teu cinto está-te largo.
Exercícios:
Completa os espaços em branco da forma
adequada:
paço / passo
Apanho sempre o eléctrico no Terreiro do
______.
Moro a um ______ da estação.
No último fim-de-semana visitámos o ______
dos Duques, em Sintra.
era / hera
______ uma vez uma princesa que vivia num
palácio coberto de ______.
Com a reconciliação nacional, Angola entrou
numa nova ______ de prosperidade.
nós / noz
Não gostas deste bolo de ______?
O fruto da nogueira é a ______.
______ vamos ao cinema esta noite.
Esta linha está cheia de ______!
Os marinheiros sabem dar ______.
coser / cozer
Sabes ______ à máquina?
Já está o bacalhau a ______.
Não gosto de ______ meias.
sem / cem
Hoje vim para a escola ______ livros.
Se tivéssemos dinheiro, comprávamos aí uns
______ discos!
Não gosto de andar ______ dinheiro.
aço / asso
______ com este calor!
______a carne para o jantar?
Esta máquina é de ______ inoxidável.
acento / assento
Não te esqueças de pôr o ______ nessa letra.
Esse ______ está ocupado.
O ______ já está registado no livro respectivo.
Este ______ é grave ou agudo?
conselho / concelho
Eu moro no ______ de Coimbra.
Vou dar-te um bom ______.
O ______ de ministros vai reunir esta tarde.
cego / sego
Só não ______ se fizer uma operação urgente.
Aquele ______ pede sempre esmola naquela
esquina.
Hoje ______ esta seara.
vós / voz
Ela tem uma boa ______ para cantar ópera.
O tratamento por ______ já praticamente não
se usa.
censo / senso
Parece que perdeste completamente o ______!
45
De dez em dez anos, faz-se um novo ______.
concerto / conserto
Logo vou a um ______ de piano pela Maria
João Pires.
O ______ do piano foi muito caro?
consolar / consular
É preciso ______ os que sofrem.
É preciso um visto ______ para determinados
países.
PALAVRAS PARÓNIMAS
Às vezes os penteados artísticos só servem
para _____________ as mulheres.
Ajuda-me a _____________ esta meada.
elegível / ilegível
A tua letra está _____________!
Qualquer português maior de 35 anos é
_____________ para presidente da República.
emigrante / imigrante
De Portugal saem muitos _____________.
A França recebe muitos _____________.

São palavras muito parecidas na grafia e no acidente / incidente

som, mas com sentidos completamente
diferentes. Ele sofreu um grande _____________ na auto-
estrada.
Exemplos: O último _____________ fronteiriço perturbou
Os alunos aprendem na escola. as relações entre os dois países.
Os mais inteligentes apreendem tudo com mais
facilidade. mugir / mungir
Os polícias apreendem as cartas de condução.
Gosto de ouvir _____________ as vacas e de
Exercícios: as ver _____________.

I – Escolha a palavra certa, usando-a no perfeito / prefeito

singular ou no plural:
O _____________desta escola é muito
assassínio / assassino exigente.
Este trabalho está _____________!
Este _____________ foi para a cadeia por ter
cometido um terrível _____________. rebelar / revelar

comprimento / cumprimento Nem sempre é possível _____________ a

verdade.
Dá _____________ em casa. A adolescência tem tendência para se
Qual é o _____________ desta sala? _____________.

cavaleiro / cavalheiro II – Explique o sentido de cada palavra e

aplique-a numa frase:
Um _____________ nunca é incorrecto.
Aquele _____________ ganhou a prova de mural / moral
obstáculos. pear / piar
emergir / imergir
crer / querer delatar / dilatar
evasão / invasão
_____________ é poder! encubar / incubar
É bom que os filhos possam _____________ eminente / iminente
nos seus pais.
PALAVRAS HOMÓNIMAS
descrição / discrição
Palavras cujo som e cuja grafia são iguais, mas
A _____________ é uma virtude importante. que têm um sentido diferente.
O pretérito imperfeito é o tempo por
excelência da _____________. Exemplos:
Eu amo os meus pais.
desfear / desfiar O amo deste servo é cruel.

46
Exercícios:

I – Explica o sentido de cada palavra

aplicando-a numa frase elucidativa:

canto (nome) conto (nome)

cura (nome) dó (nome)
canto (verbo) conto (verbo)
cura (verbo) dó (nome)

quadra (nome) lente (nome)

vaga (nome) quebrado
(nome)
quadra (nome) lente (nome)
vaga (verbo) quebrado
(adj.verbal)

vaga (adj.)

II – Sublinha as palavras homónimas e explica

o sentido nos diferentes contextos:

Era um filme de aterrar.

O piloto deve aterrar com precaução.

Este rabino explica muito bem os textos.

Este garoto é mesmo rabino!

Bebeu tanto que está borracho.

Este borracho é bem tenrinho.

Que bela foca!

És mesmo foca!

Não gosto de leite com nata.

Esta aula tem a nata da escola!

O ofício de sapateiro tem que se lhe diga!

O Ministro mandou um ofício sobre os
exames.

47