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A Cry for Freedom

Book · April 2022

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1 author:

José Brites-Neto
Secretariat of Health, Americana, São Paulo, Brazil
56 PUBLICATIONS   384 CITATIONS   

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José Brites-Neto
José Brites-Neto

UM GRITO DE LIBERDADE

Abril de 2022

Campinas, São Paulo - Brasil


2

Este livro é de distribuição livre e gratuita


aos amigos e leitores de poesia.
Não há qualquer conflito de interesses
por parte de seu autor.
O objetivo é gerar reflexões e estimular
a liberdade de expressão e de pensamentos.
Boa leitura!
3

Tempos difíceis criam homens fortes, homens fortes criam tempos fáceis.
Tempos fáceis criam homens fracos, homens fracos criam tempos difíceis.
Sheikh Rashid, Provérbio Oriental.
4

POESIAS
ESTROFES ANUNCIADAS
Amazônia, Tu és o travesseiro deste gigante adormecido,
Que de tanto dormir, já não houve mais zumbir,
5
A ameaça dissonante ao seu próprio ouvido.

O que fazem com tanta riqueza, os teus pares,


Estes pérfidos mensageiros do rei, em seus altares.

Pululam travestidos de uma vil nobreza,


Com barganhas traduzidas pela muita esperteza.

Zombando dos velhos, famintos e doentes da pobreza,


Enriquecem ambições como deuses em sua realeza.

Se eu pudesse alcançar com minha voz o altar sagrado,


Não haveria neste mundo qualquer magistrado,
Que pudesse encobrir este nosso verdadeiro algoz.

Em marcha solene, urja povão brasileiro,


E liberta da escravidão, a mansidão que há em cada um de nós.
CORES DA PÁTRIA
Vermelho não é o sangue que jorra em tuas artérias,
Pois o teu coração não é alma, é só matéria.
6

Venoso, estás, pelo entojo da pobreza,


Roxo como hematomas de uma estúpida prepotência.

Que nutre cartuchos mortíferos nas favelas,


Entremeados pelo choro de um povo que vai às capelas,
Ou que assiste passivo, o teatro da vida nas novelas.

Embevecido pelos males residentes na ignorância,


De ver o inútil morrer pelas ruas, de tuas crianças,
Sem escola, sem brincadeiras, sem infância.

Verde era o enredo do teu patrimônio,


Que entregas em silêncio sem parcimônia.

Azul era o céu da tua esperança,


Era o mar da tua abundância,
Hoje não passa de uma cinzenta lembrança.

Amarelo era o brilho dourado de um largo sorriso,


Que com o tempo ficou cariado por tanto vício.
Vício de uma maldade que corrompe a luz da inocência,
E mancha o teu branco de paz com a cor da violência.

7
Vermelho será o destino desta pátria,
Que não quer abrir o seu próprio claviculário,
Para entregar as chaves ao real mandatário,
Ao Povo Brasileiro em seu complacente calvário!
REVOLUÇÃO
Acorda Mãe Gentil em tua vil tempestade,
Levanta de teu silêncio de majestade,
8
Como pode ver teus filhos sem dignidade,
Dominados por máscaras de pérfida igualdade?

Teus filhos jazem nos campos sem batalha,


Celeiros urbanos de desonra em sua mortalha,
Liquidados na pobreza por uma cruel cizânia,
Violentados por um poder de coação canalha.

Levanta tua foice e derrama teu sangue,


Se és patriota, o sal da tua terra lambe,
Expulsa para o exílio, o idílio que te explora,
Escrutina a vontade do povo que te adora.

Dos teus alagados e mangues, já é chegada a hora,


Pois que a tua carta magna, só dá direito à escória,
Arregaça o brio de tuas mangas, e objetiva a glória,
De fazer teu povo vencer e marcar nossa história.

Chega de domínio fascista, desta suástica implícita,


De homens que se dizem humanos, em seu discurso golpista,
Enriquecem seus bolsos com planos e benesses egoístas,
Esquecendo seus irmãos no lodo da miséria capitalista.
Acorda Nação Brasileira, explode teu coração,
Vamos calar nosso algoz e marchar contra a ilusão,
Com punhos e dentes cerrados, vamos defender nosso pão,
9
Em nome da Família Pátria, levantar nossa Revolução.
UM GRITO DE LIBERDADE
Como entender que um dia a doce esperança,
Perca sentido diante de uma insalubre injustiça,
10
Como um veleiro manejado por uma inocente criança,
Nas tormentas impiedosas de revoltoso mar de cobiça.

Como temperar ambições de um poder absoluto,


Que ostenta um cetro de imperiosas verdades,
Nem sempre verdadeiras em seu significado resoluto,
Mas continuamente reticentes no satisfazer vaidades.

Como demonstrar indignação sem rotular subversivos,


Onde a crítica ao poder é ameaça constante de cisão,
Comodamente o dever de aceitar o círculo de amigos,
Com uma hipocrisia hostil a um povo de amargo coração.

Como acreditar no potencial deste grande país,


Envergonhado pelas crianças que ainda morrem de fome,
E que incipiente ainda rabisca seu quadro negro de giz,
Mal sabendo soletrar dignamente seu nome.

Um dia certamente ainda se poderá ouvir com firmeza,


Em um Ipiranga de margens plácidas na realidade,
Um grito de liberdade onde não haverá mais pobreza,
Iluminado ao sol de um novo mundo de verdade.
METAMORFOSE
Acordei nesta noite e me pus a pensar,
Como seria esta vida sem a cruel discordância,
11
Onde a fragrância sentida como perfume no ar,
Denunciaria a presença do amor em abundância.

Sem a lascívia dos vetos que massacram a pobreza,


Na vastidão do poder das redomas centrais,
Que sustentam o luxo de uma eterna realeza,
Com antônimos subjetivos de favelas e catedrais.

Na ausência do dinheiro como raiz mestra do sistema,


Corrompendo vidas e almas nas sutilezas do inferno,
Gerando uma fria dependência de um constante dilema,
De crianças abandonadas em pleno rigor do inverno.

Onde famílias desgraçadas pela rival concorrência,


Não seriam jamais entorpecidas pela desavença,
Açoitadas pela cólera e brutal estilo de violência,
Evidências constantes de putrefação e doença.

Crianças trazidas ao mundo sem a sua vontade,


Mortas ao primeiro segundo de vida sem piedade,
Isto já não seria mais uma triste realidade,
Neste meu desejoso sonho elas teriam felicidade.
Guerras de contextos sombrios e perfis tão desumanos,
Gerando heróis vaidosos e mártires de vanglória fúnebre,
Atendendo apelos de governos traídos pelos próprios planos,
12
De eternizar ambições e pretextos de um projeto lúgubre.

Porque não o contrário e marcharmos no avesso da história,


E cumprir o ritual de uma metamorfose verdadeira,
Onde o amor em harmonia seria o sentido de nossa memória,
E o sonho do homem se eternizaria pela noite inteira.
BRANCA DITADURA
Às vezes penso o que acontece ao homem-governo,
No início promessas de bem estar coletivo,
13
Que escondem manifestos do seu perfil soberbo,
Na ambição concreta de realizar seu objetivo.

Qual seja senão satisfazer próprios interesses,


Enriquecer com ganância qual não seria seu alvo,
Acumulando riquezas nunca lhe faltam benesses,
Sumo cruel da pobreza de um povo com um fel amargo.

Discursos ortografados na regência de dura hipocrisia,


Pontuando questões com suas medidas provisórias,
Confabulando em sua corja com uma dita maestria,
Na ilusão permanente de medievais oratórias.

Como um senhor feudal nos ditames de sua estória,


A ilustração do vermelho obscuro em confronto ao verde oliva,
Falsidade ideológica de quem busca a própria glória,
Como um surto de poder que sua sede objetiva.

Que democracia hedionda propõem tais senhores,


Como uma fênix perniciosa de intervencionismo lúbrico,
Assim caminha a humanidade em sua inversão de valores,
Com diplomatas saboreando sobremesas de tesouro público.
Se a memória de meu povo não sofresse de amnésia,
Falsos líderes de casaca mascarados por uma imagem pura,
Não ficariam para sempre como biônicos fazendo média,
14
Para uma sociedade entorpecida por uma branca ditadura.
IMPÁVIDO COLOSSO
Desbravando as agruras de um tempo,
Na polidez de um simples sentimento,
15
Onde o canto de amor é um lamento,
De uma aurora que jaz em sofrimento.

Onde está a presença do humano?


Esvaiu-se como um vento soprano,
Na disputa marginal de um engano,
Cujo escopo cruel é deveras insano.

Olheiros de paisagens cotidianas,


Tentando suplantar almas mundanas,
No passatempo de espera epifania,
Ludibriados pela soberba infâmia.

Neste cenário que retrata o esboço,


De tudo que é lançado ao poço,
Da miséria, onde está servido o almoço,
Desperta deste sono, ó impávido colosso!
AGUILHÕES DA TERRA MÃE
Aguilhão da Terra Mãe onde paira teu coração,
Caminhando solitário e perdido na escuridão?
16
Traze justiça a teu povo, que traído pela corrupção,
Não procura mais buscar o seu precioso quinhão.

Povo guerreiro dos emboabas, onde está teu irmão?


Derramado como sangue na terra, pela sórdida ambição!
Que saudade dos heróis sem farda, que continham aflição,
E sonhavam construir independente, este cobiçado rincão.

Ressuscita o ideal nascido no coração do alferes,


Que sucumbiu imponente a uma hipócrita e vil traição,
Não esqueça seus planos, se liberdade queres,
Pois os retalhos do seu corpo ainda pululam no chão.

Acorda irmão brasileiro, se queres ser cidadão,


Renova a tua esperança com uma brava intenção,
Com tua força e coragem desperta, liberta tua razão,
E transforma a pátria amada, numa grande e feliz nação.
BRASILEIRO
Eu não sou paulista,
Da resistência pujante,
17
De uma força altruísta,
Que nasceu bandeirante.

Eu não sou carioca,


Da beleza solsticial,
Cuja alma invoca,
Um alegre carnaval.

Eu não sou mineiro,


Da preciosa pedra,
Do perfil matreiro,
Que nunca se entrega.

Eu não sou gaúcho,


Dos pampas celeiros,
Que sacrificou seu tudo,
Por um ideal guerreiro.

Eu não sou nordestino,


Do trabalho sofrido,
Suor de homem e sorriso menino,
Sobrevivendo na seca com seu tino.
Eu não sou do Planalto Central,
Da riqueza perdida no pasto,
Da terra do Pantanal,
Cuja beleza é seu lastro.
18

Eu não sou da terra roxa,


Do infinito cafezal,
Minha alma não é coxa,
Minha beleza sem igual.

Eu não sou nortista,


Dos verdes bosques de vida,
Como uma raça alquimista,
No silêncio da Amazônia perdida.

Eu não sou imigrante,


Nas raízes profundas do Sul,
Do mundo trazido distante,
Miscigenado na terra com sangue azul.

A minha pele não tem cor,


O meu sangue é companheiro,
Guardo no meu esplendor,
O orgulho de ser brasileiro.
A MÃE DAS ARTES
A virtude é uma essência,
Na fragrância da vida,
19
Não é filosófica, não é doutrinária,
A existência não é dogmática,
Um espírito livre não segue,
Ele continua,
A liberdade é eterna,
Não é cativa dos homens,
Não está aprisionada numa cátedra qualquer,
Ela ressoa do alfa e ecoa no ômega,
O passado, o presente e o futuro,
Estarão sempre juntos,
Miscigenados na fé do estar e partir,
A eternidade é um mérito do desconhecido,
A esperança é um ato nobre,
Da paciência e da sobriedade,
Encantamos a alma, quando em silêncio,
Fechamos os olhos e abrimos o coração,
Esse pulsar intangível,
Hormonal e precedente,
Nos confere uma unicidade,
Nos contempla total imunidade,
Em nosso ato de sobrevivência,
Com uma espontaneidade natural,
Entre todas as artes possíveis,
Pensáveis e imagináveis,
A arte de ser feliz é inigualável,
Pois nela reside uma maternidade essencial,
20
Do acalento universal da humanidade,
Salve a Felicidade!
A verdadeira mãe de todas as artes.
A ÚLTIMA HORA
Chegamos a um limite.
Aquilo que ninguém deseja.
21
Aquilo que ninguém quer.
Mas, porque aqui chegamos?
Qual a resposta para tudo isso?
O que fizemos de errado?
Sim, porque existem os que se julgam certos.
Mas, se certos, porque estamos perdendo?
Quem está ganhando?
Porque tantos adversários?
Não deveríamos juntar as mãos?
Mas que mãos?
Mãos humanas?
Mas quem são os humanos nessa hora?
A saída tem sido sempre rotular culpados.
Quem é o culpado?
Existe culpa em algum lugar?
Qual a causa?
Só enxergamos consequências?
Mas que ritual é esse?
Do assim caminha a humanidade?
Quem busca a eternidade?
Não somos sempre,
Os donos da verdade?
Insensíveis e dissonantes?
Discursivos e arrogantes?
Pragmáticos e irrelevantes?
Displicentes e levianos?
22
Mas que raio de mundo humano!
Muitas perguntas, não?
São tantos sobrenomes,
Gritando em megafones de redes sociais.
Malditas inteligências banais!
Buscando brilho em holofotes.
Não passam de um bando decrépito,
De seres respirando mortes.
Não quero crer que nessa maldita corte.
Mesmo estando distante a nossa sorte.
O livre arbítrio seja nosso real consorte.
Numa hora em que não existem nomes.
E só se usam desleais pronomes.
Que Deus ouça com misericórdia!
Nesse universo de miseráveis discórdias.
Nossas preces em oratória.
E que haja paz,
Nessa última hora!
AQUELA NOITE
Aquela noite você era minha.
De mais ninguém.
23
Você era quem?
Minha?
De ninguém?
Quem é ninguém?
Quem era minha?
O dia todo pensei.
Era uma noite.
Como sempre pura.
Na sua alva negrura.
Negritude alvissareira.
Minha.
Sua.
E de ninguém.
BAOBÁ
Guardador de esperanças,
Supridor de energias,
24
Salvador de um povo,
Que espera em sua realeza,
Como prestador de certezas,
E renovador da existência,
Em seu interior,
Consola súplica e dor,
Abastece com sua arte,
E devolve a sua parte,
Como amigo da mãe natureza,
Espera na chuva com uma certeza,
Para dessedentar quem te espera,
Como um gigante na seca,
Que nunca desespera,
Em Deus a sua espera,
Elegante em formosura,
Transforma em seu oásis,
A fome em fartura,
Com sua água pura,
Fornecida por teu ventre,
Como mãe que amamenta,
Seus filhos para sempre.
BAOBAB
Keeper of hopes,
Energy supplier,
25
Savior of a people,
Awaits in your royalty,
As a provider of certainties,
Renovator of existences,
Consoler of supplication and pain,
Giving back your share,
As a friend of Mother Nature,
Waiting in the rain a certainty,
For those who are waiting for you,
Like a giant in drought,
You never despair,
In God you await,
Elegant in beauty,
Turning in your oasis,
The hunger in abundance,
With its pure water,
Provided by your breast,
As a breastfeeding mother,
Our children forever.
CAMARILHA
Cortejam o que não é próprio ao comum,
Servem a um contumaz soberano,
26
Sempre tornam público e notório,
Seus interesses e opróbrios,
Já não há disfarce, só desfaçatez,
O enredo é uma pura liquidez,
O erário lhes pertence e compete,
Pois dançam o ritual como uma vedete,
Impudicos e sádicos nascituros,
Manipuladores de mentes,
Marionetes descendentes,
De um regime ancestral,
De um canalha delinquente,
Que continua mascando seu chiclete,
Sabor democracia com recheio de dinastia,
Tomara que lhes dê muita azia,
Não há hora, nem lugar, nem tempo,
Esse é seu predileto passatempo,
Endossar condescendências,
Estimular perversidades,
Subestimar consequências,
Aviltar atrocidades,
Engessar o bem comum,
Afinal, não faz mal nenhum,
Só é necessária uma boa composição,
Um discurso, uma redação,
Uma boa oração sem qualquer perdão,
Anistia é só para irmão,
Companheiro sem razão,
27
Com um cérebro samba canção,
E na chuteira um coração,
Vazio de prerrogativas sólidas,
Como uma moléstia contagiosa,
Que grassa como uma maldita discórdia,
Na voz ativa de tantos calhordas,
Um emaranhado de narrativas,
Na abjeção de palavras e fúteis pensamentos,
Daqueles que são levados ao vento,
Pelos inglórios repetidores,
De lavagens cerebrais,
Papagaios loucos em sua oratória,
Que representam a mais ordinária escória,
Rabiscando o infortúnio,
Enganando todo mundo,
Pois, o que é uma mentira,
Senão a minha verdade,
É só contar muitas vezes,
Sem contagem expressa,
Sem vontade impressa,
Em muitos bytes de sutilezas,
O que vale é a minha nobreza,
Não de espírito,
Não de caráter,
Não de moral.
Sou o pai das mentiras,
28
Sou o poder arbitral,
Um eterno marginal,
Eu sou a minha falsa moral,
Que não te convém,
Então encontre quem não diga amém,
Achará?
Será?
Quem?
Encontre um caminho,
Encontre uma trilha,
E veja se consegue escapar,
Dessa faminta camarilha!
COLÓQUIO IATROGÊNICO
Sou humano!
Sou?
29
Mas, porque não tenho?
Humanidade?
Dinheiro ou personalidade?
Não entendi!
Caridade?
Não, decência moral!
Digo!
Sou o que sou!
Conflituoso.
Repleto de interesse.
Ou seriam interesses?
Já não sei.
Mas que diálogo esdrúxulo!
Bela expressão!
Tirou do dicionário?
Médico!
Qual o CID?
Vergonha na cara!
Porque não tem atenção médica?
Ao que vai dizer?
Já estou dizendo!!!
Não entendi.
Histórico e anamnese.
Diz alguma coisa?
Sabe propedêutica?
A mãe da clínica.
30
Sacerdócio?
Vocação, mérito, honra!
Deontologia?
Princípios, valores!
Juramento, lealdade, atitude?
sine qua non
Então!
Pense nisso........
CRIANÇAS
Criança feliz, feliz a cantar,
Alegre embalar em sonho infantil,
31
Deixai vir a mim os pequeninos,
Meu Bom Jesus, olhai as crianças,
Porque deles é o Reino de Deus.
Criança que quer brincar,
Quer estudar e socializar.
Estão presas, penitenciadas,
Sem luz e sem liberdade,
Que maldade, que perversidade!
Mas é para o seu bem,
Estamos salvando suas vidas.
De quem mesmo?
De um vírus? Sério?
Mas, há quantos vírus por aí?
Vamos mantê-las presas para sempre?
Não, calma! As vacinas salvam!
Elas salvam? Que vacinas?
Salvam de quem e contra quem?
Ou contra o quê?
Deixa de ser negacionista, poeta!
As vacinas salvam!
Quem disse, quando e com que certeza?
Deixem as crianças em paz!
Não existem mais cantigas de roda,
Não se soltam mais pipas,
Não se rodam mais piões,
Não existem mais campinhos de bola,
32
Não se joga mais bola de gude,
As bonecas estão no álcool,
Só existem vídeo games!
Em quartos de clausura,
Em redomas de diversão,
As crianças encarceradas,
Gritando em depressão,
E seus pais, em quartos fechados,
Fazendo sexo em diversão!
Tudo certo, para quem abriu mão,
De sua liberdade em vão,
Mas as crianças, não!
Elas querem liberdade,
Querem ir para a escola,
Não querem pedir mais esmola,
Querem correr nos campos,
Querem gritar aos ventos,
Querem sorrir em natureza,
Querem viver e enfrentar,
Elas querem!
Deixem nossas crianças em paz!
EU
Eu não sou Orfeu,
Eu não sou plebeu,
33
Nada aconteceu,
Ninguém morreu,
Ele não nasceu,
Nada sucedeu,
A esperança amorteceu,
O dia anoiteceu,
O sol não despertou,
Humano já não sou,
A lua não brilhou,
Meu ego dissolveu,
A sorte sepultou,
O destino transcorreu,
O crepúsculo amarelou,
O sentido figurou,
A vastidão morreu,
Solitário estou,
Já não sou eu,
Quem foi,
Quem ficou,
Meu espírito migrou,
E a luz voltou.
HIDROFÓBICO
Não gostas de água?
Porque desperdiças!
34
Haverá um dia que não conseguirás a engolir.
Então estarás morto.
E ela te abandonará.
Sem piedade, mas de forma lenta.
Para que todos os vermes possam te devorar.
Como uma vingança evoluída.
Por ter sido tão poluída.
Logo ela irá te desidratar.
Então não mais a possuirá.
Serás pó e ela retornará ao pó da terra.
Juntamente contigo, mas sem você.
Para que outro também a desperdice.
Neste verdadeiro ritual hidrofóbico.
Até que tudo termine.
E só sobrem Rios de Águas Vivas.
HONRA E DIGNIDADE
Olhe ao seu redor!
Os pássaros não estão livres?
35
Planam em sua liberdade,
Na atmosfera do abstrato.
Posto que natos,
Reverenciam a vida.
Não há contrapartida,
Não há hegemonias.
A ordem é genotípica,
Mas no fenótipo da existência,
Não há complacência,
Não há covardia,
Não há liturgia,
Não há subserviência.
Há um voo de esperança,
Constante e permanente.
O destino é incerto,
Mas é certo que existe.
Em algum lugar,
Em algum momento,
Na hora certa,
O pássaro encerra sua missão.
Mas ele voa até o fim,
Em liberdade,
E com esperança.
Na firmeza do Eterno,
Paira sua dignidade.
Como sua principal honra,
O dever cumprido,
36
Viver e ser livre,
Até o fim!
HONRA E MÉRITO
Em um século de séquitos,
Onde o verbo é um esquecido pretérito,
37
Um universo sequiado,
Espúrio, fraticida e demagógico.
Vou ajustar meu relógio,
Vou agrupar meu exército,
Onde não existem mistérios,
Mas seres de boa vontade,
Que bebem no mesmo castiçal de esperança,
E não essa desagradável lambança,
Que se tornou um fatídico ritual,
Seres alienados em seus invólucros,
Em suas castas, em suas máscaras,
Em suas cortes, em suas câmaras,
E o povo vulnerável e entregue,
Jogado literalmente na lama,
Sem sua própria cama de dignidade,
Manchados em sua honra e subsistência,
Por magistrados sem consequências,
Emaranhados em jurisprudências,
Inúteis em qualificação,
A um povo de amargo fel,
Nunca sobra qualquer mel,
Só restaria a desobediência,
Para incautos e amedrontados,
Para dizer sempre, NÃO!
Mas estão enclausurados,
Na sua medíocre condição,
De um povo servil e escravo,
Sem direito preservado,
38
Onde cidadania é um palavrão,
E o pior é retratar a verdade,
Que estão gostando e aceitando,
A nova condição miserável de existência,
Execrados pela própria complacência,
Sem nenhum atributo de resiliência,
Desprezando a honra e o respeitoso mérito,
Não zelam pela própria integridade,
Incorporam argumentos fantasistas,
De tantos discursos essencialmente fascistas,
Aceitando sua imolação sacripanta e globalista.
MANDALA
Lua travestida em penumbra solar,
Sol escondido no manto lunar,
39
Estrelas que fingem cintilar,
Morrem sem mesmo apagar,
Escuridão vivida no escuro da mente,
Noite dormida no sonho de uma nebulosa,
Gases nutrientes de uma criação em poesia,
Harmonia de versos que dilatam e expandem,
Vidas que surgem do nada,
Do vazio de antes de tudo,
Do alfa eternizando ômega,
Do ômega a ensinar uma jornada,
A toda e qualquer alma criada,
Pobres narcisos, seres humanos,
Incógnita, indecifrável mandala.

Post-scriptum
Salve Júpiter, meu guardião,
E eu aqui ficando puto sem razão!
MEMÓRIA
Dias de passado,
Dias de história,
40
Dias queimados,
Relegados como escória,
De um tempo que se foi,
De um tempo de glória,
Dias deixados,
Tombados,
Esfumaçados,
Pulverizados,
Enevoados,
Dissipados,
No breu,
De uma escuridão,
Que o fogo lambeu,
E como doeu,
Mas quem sentiu,
Só fui eu?
Não é possível,
Minha vida ardeu,
Nossa vida morreu,
Nós, vós,
Você e eu!
O fogo então apagou,
E o que ficou?
Um nada retumbante,
De um povo ignorante,
Que nem percebeu,
Que a sua identidade,
41
Se perdeu,
Seu destino,
Suas marcas,
Suas raízes,
Sua nacionalidade,
Toda sua eternidade,
Adormeceu,
Evaporou,
Pois essa Nação,
Na verdade,
Nunca existiu,
A nossa triste memória,
Foi para a puta que o pariu!
PASSANDO
Cultive suas preponderâncias!
Afinal, como está o solo do seu quintal?
42
Já não existe, nem árvore, nem manancial?
Não faz mal, você só é mais um serviçal.
Daquilo que já não sabe entender,
Não sabe dizer, não sabe fazer.
Fazem por você!
E você, nem presta atenção.
Mas para quê? Tudo já existe, sem você.
Cultive suas existências!
Tem mais de uma? Não sabia?
Não sabe nem o que já foi um dia?
Nem o que nunca será?
Ou já foi?
Nessa noite, eu digo oi!
Amanhã, será Deus quem dirá.
Passa o tempo, passa o vento. Passa!
Passa o que nunca passará.
O que já passou. O que vai passar!
Pronto, Passei!
PEREGRINO
Caminhando pela vida,
Formulo,
43
Anseio,
Equaciono,
Dissimulo.
Decifrando um paradigma,
Interpreto,
Escuto,
Falo,
Fico mudo.
Com o enigma de uma emoção,
Conjugo,
Misturo,
Perturbo,
Silencio.
Em minha triste solidão,
Acho,
Sedimento,
Espreito,
Deixo.
Quando encontro uma solução,
Entendo,
Sustento,
Sentencio,
Culmino.
No argumento de uma questão,
Explico,
Discuto,
Palavreio,
44
Testifico.
E por fim, admito,
Deus é a minha única salvação!
POISON OF MY HEART
Venomous health
Human disaster
45
Where are our children?
Black, white, yellow
Never mind
Are children
Children
Are hungry
Are sad
Are unhappy
Are walking dead
Are dead hearts
Are children, man!
Disturbed spirit
Stupid man
Humanity decrepit
Without love
Life is not easy!
Abrupt creatures
Venomous hearts
Poison of our health
Venomous earth
Poison of planet earth.
SORTILÉGIO
Como defuntos do próprio pânico,
Mais ácidos que qualquer tânico,
46
Em um mundo de seres titânicos.

Mais do que deuses, simulam desastre,


Pois a onisciência não reside em sua arte,
Viraram astronautas em busca de marte.

Perdidos eternamente em berço néscio,


Fulguram as amarguras de um inepto,
Dúvidas reticentes sem qualquer nexo.

Com sua corte marcial, jubilam o pós-carnaval,


Mas se erguem da justiça, a clava torta,
Agora não adianta mais cultivar a horta,
Pois a sobriedade morreu, mas já estava morta.

Lúgubres sensações de salvadores da vida,


Abastecidos em êxtase, em seus cenários de morte,
Suas máscaras escondem sádicos sorrisos,
Mas o coração, meu amigo, até Deus duvida.

Desejo sorte!
PERTO DO FIM
Perto
Perto de chegar
47
Perto de chegar e alcançar
Perto de chegar e alcançar o fim
O fim de alcançar e chegar perto
O fim de alcançar e chegar
O fim de alcançar
O fim
48

FICHA CATALOGRÁFICA
Brites-Neto, José
Um Grito de Liberdade
Poesia
Campinas, São Paulo – Brasil
48 P.
COPYRIGHT © By José Brites-Neto, 2022.
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