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1º parágrafo: Mas, ao mesmo tempo, não sei lidar com este nome pomposo: “oração de

sapiência”.
2º parágrafo: O único segredo, a única sabedoria é sermos verdadeiros, não termos
medo de partilhar publicamente as nossas fragilidades.

3º parágrafo:

Resumo

Os sete Sapatos Sujos

É um prazer e uma honra ter recebido este convite e estar aqui convosco. Mas,
ao mesmo tempo, não sei lidar com este nome pomposo: “oração de sapiência”.

Todos os dias somos confrontados com o apelo exaltante de combater a pobreza.


E todos nós, de modo generoso e patriótico, queremos participar nessa batalha. E todos
nós, de modo generoso e patriótico, queremos participar nessa batalha. Falo da
dificuldade de nos pensarmos como sujeitos históricos, como lugar de partida e como
destino de um sonho. Neste domínio ninguém tem licenciatura, nem pode ter a ousadia
de proferir orações de “sapiência”. O único segredo, a única sabedoria é sermos
verdadeiros, não termos medo de partilhar publicamente as nossas fragilidades.

Começo por um fait-divers. Há agora um anúncio nas nossas estações de rádio


em que alguém pergunta à vizinha: diga-me minha senhora, o que é que se passa em sua
casa, o seu filho é chefe de turma, as suas filhas casaram muito bem, o seu marido foi
nomeado diretor, diga-me, querida vizinha, qual é o segredo? E a senhora responde: é
que lá em casa nós comemos arroz marca… (não digo a marca porque não me pagaram
este momento publicitário).

No dia em que eu fiz 11 anos de idade, a 5 de Julho de 1966, o Presidente


Kenneth Kaunda veio aos microfones da Rádio de Lusaka para anunciar que um dos
grandes pilares da felicidade do seu povo tinha sido construído. Não falava de nenhuma
marca de arroz.
Kaunda tinha lançado um apelo para que cada zambiano contribuísse para
construir a Universidade. A resposta foi comovente: dezenas de milhares de pessoas
corresponderam ao apelo. A mensagem dos camponeses na inauguração da
Universidade dizia: nós demos porque acreditamos que, fazendo isto, os nossos netos
deixarão de passar fome

Na década de 60, a Zâmbia beneficiava de um Produto Nacional Bruto


comparável aos de Singapura e da Malásia. Hoje, nem de perto nem de longe, se pode
comparar o nosso vizinho com aqueles dois países da Ásia.

Felizmente, estamos vivendo em Moçambique uma situação particular, com


diferenças bem sensíveis. Temos que reconhecer e ter orgulho que o nosso percurso foi
bem distinto. Acabamos recentemente de presenciar uma dessas diferenças.

O primeiro sapato: a ideia que os culpados são sempre os outros e nós somos
sempre vítimas

A culpa já foi da guerra, do colonialismo, do imperialismo, da apartheid, enfim,


de tudo e de todos, menos nossa. Estamos sendo vítimas de um longo processo de
desresponsabilização. Esta lavagem de mãos tem sido estimulada por algumas elites
africanas que querem permanecer na impunidade.

Quarenta anos depois da Independência continuamos a culpar os patrões


coloniais por tudo o que acontece na África dos nossos dias. Os nossos dirigentes nem
sempre são suficientemente honestos para aceitar a sua responsabilidade na pobreza dos
nossos povos.

Queremos que outros nos olhem com dignidade e sem paternalismo. Mas ao
mesmo tempo continuamos olhando para nós mesmos com benevolência complacente:
Somos peritos na criação do discurso desculpabilizante. E dizemos:

 Que alguém rouba porque, coitado, é pobre (esquecendo que há milhares


de outros pobres que não roubam);
 Que o funcionário ou o polícia são corruptos porque, coitados, tem um
salário insuficiente (esquecendo que ninguém, neste mundo, tem salário
suficiente);
 Que o político abusou do poder porque, coitado, na tal África profunda,
essas práticas são antropologicamente legitimas.
Segundo sapato: a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho

Ainda hoje despertei com a notícia que refere que um presidente africano vai
mandar exorcizar o seu palácio de 300 quartos porque ele escuta ruídos “estranhos”
durante a noite. O palácio é tão desproporcionado para a riqueza do país que demorou
20 anos a ser terminado. As insônias do presidente poderão nascer não de maus espíritos
mas de uma certa má consciência.

O episódio apenas ilustra o modo como, de uma forma dominante, ainda


explicamos os fenômenos positivos e negativos. O que explica a desgraça mora junto do
que justifica a bem-aventurança.

O sucesso deve-se à boa sorte. E a palavra “boa sorte” quer dizer duas coisas: a
proteção dos antepassados mortos e proteção dos padrinhos vivos. Nunca ou quase
nunca se vê o êxito como resultado do esforço, do trabalho como um investimento em
longo prazo. As causas do que nos sucede (de bom ou mau) são atribuídas a forças
invisíveis que comandam o destino.

O ditado diz. “o cabrito come onde está amarrado”. Todos conhecemos o


lamentável uso deste aforismo e como ele fundamenta a ação de gente que tira partido
das situações e dos lugares.

Terceiro sapato: O preconceito de quem critica, é um inimigo

Muitas acreditam que, com o fim do monopartidarismo, terminaria a intolerância


para com os que pensavam diferente. Mas a intolerância não é apenas fruto de regimes.
É fruto de culturas, é o resultado da História. Herdamos da sociedade rural uma noção
de lealdade que é demasiado paroquial. Esse desencorajar do espírito crítico é ainda
mais grave quando se trata da juventude.

Existe uma variedade de demônios à disposição: uma cor política, uma cor de
alma, uma cor de pele, uma origem social ou religiosa diversa.

Há neste domínio um componente histórico recente que devemos considerar:


Moçambique nasceu da luta de guerrilha. Essa herança deu-nos um sentido épico da
história e um profundo orgulho no modo como a independência foi conquistada. Mas a
luta armada de libertação nacional também cedeu, por inércia, a idéia de que o povo era
uma espécie de exército e podia ser comandado por via de disciplina militar.

Faço-vos agora uma confidência. No início da década de 80 fiz parte de um


grupo de escritores e músicos a quem foi dada a incumbência de produzir um novo Hino
Nacional e um novo Hino para o Partido Frelimo. A forma como recebemos a tarefa era
indicadora dessa disciplina: recebemos a missão, fomos requisitados aos nossos
serviços, e a mando do Presidente Samora Machel fomos fechados numa residência na
Matola, tendo-nos sido dito: só saem daí quando tiverem feito os hinos.

Na letra de um dos hinos lá estava refletida essa tendência militarizada, essa


aproximação metafórica a que já fiz referência:

Somos soldados do povo

Marchando em frente

Tudo isto tem que ser olhado no seu contexto sem ressentimento. Afinal, foi
assim, que nasceu a Pátria Amada, este hino que nos canta como um só povo, unido por
um sonho comum.

Quarto sapato: a ideia que mudar as palavras muda a realidade

Uma vez em Nova Iorque um compatriota nosso fazia uma exposição sobre a
situação da nossa economia e, a certo momento, falou de mercado negro. Foi o fim do
mundo. Vozes indignadas de protesto se ergueram e o meu pobre amigo teve que
interromper sem entender bem o que se estava a passar. No dia seguinte recebíamos
uma espécie de pequeno dicionário dos termos politicamente incorretos. Estavam da
língua termos como cego, surdo, gordo, magro, etc.

Há toda uma geração que está aprendendo uma língua a língua dos workshops.
É uma língua simples uma espécie de crioulo a meio caminho entre o inglês e o
português. Na realidade, não é uma língua, mas um vocabulário de pacotilha. Basta
saber agitar umas tantas palavras da moda para falarmos como os outros isto é, para não
dizermos nada. Recomendo-vos fortemente uns tantos termos como, por exemplo:

 Desenvolvimento sustentável;
 Awarenesses ou accountability;
 Boa governação;
 Parcerias sejam elas inteligentes ou não;
 Comunidades locais

Quinto sapato: A vergonha de ser pobre e o culto das aparências

A pressa em mostrar que não se é pobre é, em si mesma, um atestado de


pobreza. A nossa pobreza não pode ser motivo de ocultação. Quem deve sentir
vergonha não é o pobre, mas quem cria pobreza.

Vivemos hoje uma atabalhoada preocupação em exibirmos falsos sinais de


riqueza. Criou-se a ideia que o estatuto do cidadão nasce dos sinais que o diferenciam
dos mais pobres.

Estamos vivendo num palco de teatro e de representações: uma viatura já é não


um objeto funcional. É um passaporte para um estatuto de importância, uma fonte de
vaidade. É urgente que as nossas escolas exaltem a humildade e a simplicidade como
valores positivos. A arrogância e o exibicionismo não são, como se pretende,
emanações de alguma essência da cultura africana do poder. São emanações de quem
toma a embalagem pelo conteúdo.

Sexto Sapato: A passividade perante a injustiça

Estarmos dispostos a denunciar injustiças quando são cometidas contra a nossa


pessoa, o nosso grupo, a nossa etnia, a nossa religião. Estamos menos dispostos quando
a injustiça é praticada contra os outros. Persistem em Moçambique zonas silenciosas de
injustiça, áreas onde o crime permanece invisível. Refiro-me em particular à:

 violência domestica (40 por cento dos crimes resultam de agressão


domestica contra mulheres, esse é um crime invisível);
 violência contra as viúva.

Sétimo sapato: A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros

Todos os dias recebemos estranhas visitas em nossa casa. Entram por uma caixa
mágica chamada televisão. Criam uma relação de virtual familiaridade. Aos poucos
passamos a ser nós quem acredita estar vivendo fora, dançando nos braços de Janet
Jackson.
O resultado é que a produção cultural nossa se está convertendo na reprodução
macaqueada da cultura dos outros. O futuro da nossa música poderá ser uma espécie de
hip-hop tropical, o destino da nossa culinária poderá ser o Mac Donald's.

Normas APAs e Citação

O que são normas APAs?

As normas APA dizem respeito a um conjunto de normas para trabalhos


acadêmicos, sobretudo, artigos e periódicos. Essas normas surgiram com o manual de
estilo da American Psychological Association (APA), em 1929.

Essa norma não apresenta padrões de formatação para a apresentação gráfica e


nem para a estrutura do trabalho acadêmico. A atenção da padronização da APA é nas
citações, nas referências e nos quadros e tabelas.

Citação

A citação permite identificar a publicação onde foram obtidos a ideia, o excerto,


etc. e indicar a sua localização exata na fonte. No final do trabalho, artigo, etc., uma
lista das referências bibliográficas fornece a informação completa sobre a publicação da
fonte. Essa lista é apresentada pela ordem alfabética do último nome dos autores (ou do
título das obras sem autores). Há uma ligação direta entre as citações e a lista das
referências.

O método de citação usado pela APA é autor, data que inclui o sobrenome do
autor, seguido da data de publicação do documento. Podem aparecer no texto em
formato de narrativa ou entre parênteses. Citação entre parênteses: Forneça o autor e a
data de publicação entre parênteses, separados por vírgula e ou “ &”.

Citação Direta

Citação com menos de 40 palavras, entre aspas. Inclua, autor, ano é número da
página precedido de “p.” para uma única página e “pp.” para várias páginas.

Exemplos:
Sintetizando a pesquisa sobre o perfil sociodemográfico e características gerais
da enfermagem, os autores afirmam que a partir dessa realidade, conjugada com os
demais dados (que serão apresentados nas próximas subseções) “espera-se contribuir
para a elaboração de políticas públicas adequadas para esse imenso contingente de [...]
profissionais, fundamentais para o Sistema de Saúde em nosso país” (Machado et al.,
2015a, p. 14).

Citação Indireta

A pará frase consiste em utilizar o pensamento de um autor escrito com palavras


nossas, só com o nome do autor e o ano da ediçã o da obra. Quando a obra tem um ou
dois autores, referem-se todos os nomes em qualquer pará frase. A citaçãõ de pode
também ser uma paráfrase.

Exemplos:

De acordo com Keller (1974), em todas as outras ciências, os fatos de


observação são objetivos, verificáveis, e podem ser reproduzidos por observadores
qualificados.

Em todas as outras ciências, os fatos de observação são objetivos, verificáveis, e


podem ser reproduzidos por observadores qualificados (Keller, 1974, p. 57).

Citação direta entre parênteses “Como a chama terna de uma vela, era assim que
eu via pessoas, animais, geografias várias”. (Mourão, 2001, p. 10).

Citação de Citação

É a informação retirada de um documento, da qual não se teve acesso ao


documento original, porém, devem ser usadas, quando a obra original está esgotada, ou
com acesso indisponível.

Inserir o autor da obra original, o ano e a expressão “citado por”. Em seguida


citar o autor, o ano e página do material consultado. Nas referências entra somente os
dados da obra consultada.

Exemplos:
Belcher (2004) citado por Emerson (2017), comenta sobre qual filme deveria ver
(p. 389).

Às vezes, é sobre qual filme eu deveria ver (Belcher, 2004 citado por Emerson,
2017, p. 389).

Referência Bibliográfica

As referências devem identificar de forma inequívoca os documentos, colocando


os detalhes das publicações. Cada referência deve conter as informações prevista pela
norma em uso.

As referências bibliográficas são uma listagem de todos os documentos que


consultou para a realização do seu trabalho.

As referências começam numa nova página e devem estar ordenadas


alfabeticamente consoante o apelido do autor. Quando há várias referências do mesmo
autor, indique por ordem de antiguidade (primeiro as mais antigas), começando pelas
publicações em que o autor aparece sozinho e depois em co-autoria.

Se a publicação não tem autor, entra pelo título da publicação, sendo a primeira
palavra do título a referência para colocarmos por ordem alfabética. Caso o título
comece por um artigo definido ou indefinido, não entra para a alfabetação. Exp. (O)
livro amarelo.

Se tiver duas referências dos mesmos autores e do mesmo ano, fazemos como
nas citações, colocamos uma letra a seguir ao ano. Tem relação direta com as citações.
A ordem nas referências é igual à ordem que criámos nas citações.

Exemplo com 1 autor:

 Azevedo, M. (2008). Teses, relatórios e trabalhos escolares (6ª. ed.).


Lisboa, Portugal: Universidade Católica Editora.
 Knoop, R. (1994a). Relieving stress through value-rich work. The
Journal of Social Psychology, 134(6), 829-836.

Exemplo com 2 Aurores


 Yunes, M. A. M., & Szymanski, H. (2001). Resiliência: Noção, conceitos
afins e considerações críticas. In J. Tavares (Org.), Resiliência e
educação (pp. 13-42). Cortez.
 Fonseca, A. D., & Fernandes, J. C. (2004). Deteção remota. Lisboa:
Lidel.

Exemplo com 3 autores

 Fagerberg, J., Mowery, D. C., & Nelson, R. R. (2011). The oxford


handbook of innovation. Oxford: Oxford University Press.

Exemplo com mais de 2 autores

 Barbosa, A. G., Haanstra, F., Ibraimo, M. N., Laita, M. V. &


Talaquichande, N. (2017). A sexta edição das Normas APA (3ª. ed.).
Nampula, Moçambique: FEC.
 Barbosa, A., Nazir, I., Laita, M., Haanstra, F. & Talaquichande, N.
(2016). Normas APA (2ª. ed.). Nampula, Moçambique: FEC.

Conclusão
Referência Bibliográfica

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