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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

DIREITO PENAL
MILITAR

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

AUTORIDADES

Governador do Estado do Rio de Janeiro


Exmº Sr Cláudio Bonfim de Castro e Silva

Secretário de Estado de Polícia Militar


Exmº Sr Coronel PM Luiz Henrique Pires

Subsecretário de Estado de Polícia Militar


Ilmº Sr Coronel Carlos Eduardo Sarmento da Costa

Diretor-Geral de Ensino e Instrução


Ilmº Sr Coronel PM Ary Jorge dos Santos

Comandante do CFAP 31 de Voluntários


Ilmº Sr Coronel PM Marcelo André Teixeira da Silva

Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar


Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandre Moreira Soares

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APRESENTAÇÃO

Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais
latente e veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo, aperfeiçoar os 2º
Sargentos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Paratal, o Curso ocorrerá na
modalidade à distância, disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem, por
intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância da Polícia Militar
(CEADPM).
É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá autonomia de estudos e
de horários, mas também é necessário disciplina e dedicação para o êxito dessa
jornada, pois depende do esforço coletivo e também individual para que tenhamos
policiais cada vez mais qualificados, bem treinadose aperfeiçoados para cumprirmos
nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações.
O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação
e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa
consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o
cumprimento de suas funções com dignidade e excelência.
Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através
deste curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade, seus
companheiros de profissão. Que seja um momento de repensaras práticas e fortalecer
seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com
as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro.

Desejamos a todos bons estudos!

Ary Jorge dos Santos - Coronel PM

Diretor-Geral de Ensino e Instrução


Marcelo André Teixeira da Silva - Coronel PM
Comandante do CFAP

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Desenvolvedores
CFAP
Supervisão Geral e Coordenação Pedagógica
CAP PM Ped Patrícia Kalife Paiva

Equipe Técnica
CB PM Juliana Pereira de Carvalho

Conteudista
CAP PM Leandro da Silva Neves

Coautor
MAJ PM RR Luiz Alexandre Souza da Costa

CEADPM

Supervisão Geral EAD


CAP PM Ped Vania Pereira Matos da Silva
Equipe Técnica
SUBTEN PM Willian Jardim de Souza
2º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos
SD PM Lucas Almeida de Oliveira
SD PM Diogo Ramalho Pereira
SD PM Jorge Pereira Victorino
SD PM Daniel Moreira de Azevedo Júnior
SD PM Alexandre Mendes da Silva

Diagramação
2º SGT PM Alan dos Santos Oliveira
3º SGT PM Michele Pereira da Silva de Oliveira
Design Instrucional
3º SGT PM Michele Pereira da Silva de Oliveira
Filmagem e Edição de Vídeo
CB PM Renan Campos Barbosa
SD PM Alexandre dos Reis Bispo
Designer Gráfico / Diagramação Interativa
CB PM Leonardo da Silva Ramos
Suporte ao Aluno
1º SGT PM Anderson Inácio de Oliveira
CB PM Tainá Pereira de Pereira

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 6
1 - RESUMO HISTÓRICO ......................................................................................................................... 7
2 – OS MILITARES E A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DO BRASIL........................................................... 8
2.1 AS INSTITUIÇÕES MILITARES E SEUS MEMBROS .............................................................................................. 8
2.2 A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO .................................................................................................................. 9
2.3 A JUSTIÇA MILITAR DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL.............................................................................. 9
3 - PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR .................................................................................. 10
3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: ..................................................................................................................... 10
3.2 PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA: ...................................................................................................... 11
3.3 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: ............................................................................................................... 11
3.4 PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE: ................................................................................................................ 11
3.5 PRINCÍPIO DA HUMANIDADE: .................................................................................................................. 12
4 - CONCEITO DE CRIME MILITAR (ART. 9º DO CPM) ............................................................................ 12
4.1 DOS CRIMES MILITARES EM TEMPOS DE PAZ................................................................................................ 13
4.2 AS MUDANÇAS DA LEI 13.491/2017 AOS CRIMES MILITARES EM TEMPOS DE PAZ ............................................. 17
5 - CRIMES MILITARES PRÓPRIOS, IMPRÓPRIOS E EXTRAVAGANTES (OU POR EXTENSÃO) .................. 22
5.1 CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES ........................................................................................................... 22
5.2 CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES ....................................................................................................... 23
5.3 CRIMES MILITARES EXTRAVAGANTES (OU POR EXTENSÃO) ............................................................................. 24
6 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR ................................................................................................. 25
6.1 LEI PENAL MILITAR NO TEMPO (MOMENTO DO CRIME)................................................................................. 25
6.2 LEI PENAL MILITAR NO ESPAÇO (LUGAR DO CRIME) ...................................................................................... 26
7 - PESSOA CONSIDERADA MILITAR ..................................................................................................... 30
8- CONCEITO DE SUPERIOR .................................................................................................................. 31
9 – DO CRIME ....................................................................................................................................... 32
9.1 CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS .............................................................................................................. 32
9.2 DO CRIME CONSUMADO E DA TENTATIVA ................................................................................................... 34
9.3 DO CRIME DOLOSO E CULPOSO ................................................................................................................ 36
9.4 EXCLUDENTES DE CRIMINALIDADE (ILICITUDE) ............................................................................................. 37
9.4.1 ESTADO DE NECESSIDADE..................................................................................................................... 38
9.4.2 LEGITIMA DEFESA ............................................................................................................................... 38
9.4.3 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL ............................................................................................... 39
9.4.4 EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO ........................................................................................................... 39
9.4.5 EMPREGO DE VIOLÊNCIA CONTRA SUBORDINADOS NA IMINÊNCIA DE PERIGO OU CALAMIDADE........................... 39
10 - PENAS PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS ................................................................................................. 40
10.1 PENAS PRINCIPAIS ............................................................................................................................... 40
10.2 PENAS ACESSÓRIAS .............................................................................................................................. 41
11 - INFRAÇÕES DISCIPLINARES ........................................................................................................... 43
CONCLUSÃO......................................................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 45

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INTRODUÇÃO

O Direito Militar sempre figurou como item das constituições republicanas brasileiras,
assinalando seus princípios e normas, bem como norteando a administração militar seu objetivo
é disciplinar as relações orgânicas dentro da caserna, através da proteção maximizada dos bens
jurídicos castrenses.
O ordenamento militar é composto por leis, regulamentos e princípios que prescrevem
os deveres e os direitos dos militares, conjugando aspectos de uma cultura própria da
administração pública.
Logo, torna-se imprescindível que os militares conheçam sua própria legislação, a qual
lhes atribui sua esfera de responsabilidade e direitos dentro das corporações. Por conseguinte,
o conhecimento do ramo do direito penal militar, tanto na posição de tutelado quanto na posição
de operador, é essencial para a vida na caserna, devendo ser adquirido nos cursos de formação
e relembrado nos cursos de aprimoramento.
Como nos ensinou o físico Stephen Hawking: "O maior inimigo do conhecimento não é
ignorância, mas a ilusão do conhecimento”.

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1 - RESUMO HISTÓRICO

Não podemos demarcar o exato momento na


história da humanidade que surgiu o Direito Penal Militar.
Contudo, pode-se afirmar que ele se originou na
Antiguidade, junto com os primeiros exércitos.1
Simultaneamente, surgiram os primeiros órgãos
julgadores cuja finalidade seria analisar os crimes
praticados por militares durante as guerras.
Indo por vias diversas do Direito Penal Comum,
que teria a função de tutelar “os bens mais importantes e
necessários para a sobrevivência da própria sociedade” 2
(vida, liberdade, integridade física, patrimônio, e etc.), o Direito Penal militar tem como
fundamento a proteção das próprias instituições militares, e, por conseguinte, da manutenção da
“hierarquia e disciplina” 3, fatores de preponderância para a coesão e o regular funcionamento
dessas organizações.
Neste sentido, segundo a visão do professor Univaldo Correa, o Direito Castrense nasce
da “necessidade de contar, a qualquer hora e em qualquer situação, com um corpo de soldados
disciplinados”4, por meio de uma legislação peculiar e específica.
No Brasil, o Direito Militar tem suas raízes na legislação portuguesa. As Ordenações
Filipinas (1595) e os Artigos de Guerra do Conde de Lippe (1763) positivavam previsões legais
próximas à legislação castrense. Em 1808, foi criado no Brasil, pelo Príncipe Regente D. João
VI, o Conselho Supremo Militar e de Justiça, com funções administrativas (promoções, soldos,
etc.) e judiciárias (julgamentos de processos criminais cujos réus fossem militares).
A Constituição brasileira imperial, outorgada por Dom Pedro I, em 1824, já
constitucionalizava as forças militares, prevendo a existência da “Força Armada de Mar e Terra”,
as quais tinham como missão a segurança e a defesa do Império. Com a Proclamação da
República, a própria justiça militar é, pela primeira vez, constitucionalizada, ou seja, passa a
existir no ordenamento constitucional, bem como é criado o Código Penal da Armada/Marinha
(1891).

1
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 50.
2
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal/Rogério Greco -12. Ed. Rio de Janeiro: Impetus,2010- Pág. 2
3
Cruz, Ione de Souza e Miguel, Cláudio Amin/Elementos de direito Penal Militar Parte Geral / Ione de
Souza Cruz e Cláudio Amin Miguel, 1ª ed. – Rio de Janeiro: Lumen Juris – Pág. 02.
4
Corrêa, Univaldo. A evolução da Justiça Militar no Brasil – alguns dados históricos. In: Direito militar:
história e doutrina – artigos inéditos.Florianópolis: Amajme, 2002, p. 9.

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Em 24 de janeiro de 1944, através do Decreto-Lei nº 6.227, foi instituído o Código Penal


Militar voltado às Forças Armadas e que vigorou até dezembro de 1969. Em 1º de janeiro de
1970, através do Decreto-Lei nº 1.001, o atual Código Penal Militar entrou em vigor,
permanecendo, com poucas alterações, até os dias atuais.

2 – OS MILITARES E A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DO


BRASIL

No tópico anterior vimos que na primeira Constituição brasileira, em


1824, já era prevista a “Força Militar”, constituída pela “Força Armada
de Mar e de Terra”. E na atual Constituição Federal de 1988, onde estão
as previsões as forças militares e quais são elas?

2.1 As instituições militares e seus membros

A Constituição Federal de 1988 prevê, atualmente, duas


espécies de militares:
1) Militares da União – membros das Forças Armadas
2) Militares dos estados – membros das Polícias e Bombeiros
militares.
Em relação à primeira espécie de militares, o Art. 142 da
Carta Constitucional de 1988 prevê que as Forças Armadas são
compostas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, sendo elas
instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, destinando-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes Poderes, da lei e da
ordem. Importante destacar que a Constituição, em momento algum, prevê que as Forças
Armadas sejam alguma espécie de Poder Moderador ou tenham atribuição interventora,
tampouco possam ser intérpretes da Constituição. As Forças Armadas são órgão do Poder
Executivo que atendem, quando necessário, à solicitação dos outros Poderes da
República.
A segunda espécie de militares está prevista no art. 42 da Constituição da
República, onde especifica que os membros das Polícias Militares e dos Corpos de
Bombeiros Militares, instituições igualmente organizadas com base na hierarquia e
disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Tais forças pertencem
ao Poder Executivo Estadual e são subordinadas aos respectivos governadores.

Mas e as Justiças Militares? Em qual ponto da Constituição elas estão previstas e a qual
Poder da República pertencem?

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2.2 A Justiça Militar Da União


A Justiça Militar da União (JMU) pertence ao Poder Judiciário, tendo sua previsão e
competência prescritas nos artigos 122 ao 124 da Constituição Federal. Seus órgãos são os
Tribunais e juízes militares e o Superior Tribunal Militar, os quais discutiremos na disciplina de
Processo Penal Militar. Em relação a sua competência, a Carta Magna define que:
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes
militares definidos em lei.
Assim, ao definir no artigo 124 tão somente quais o crime a Justiça Militar da União
processa e julga-os crimes militares definidos em lei -, o legislador constituinte não restringiu sua
competência aos militares das Forças Armadas. Pelo contrário, a ampliou para todo e qualquer
indivíduo que cometa um crime militar.
Dessa forma, tanto militares quanto civis poderão ser processados e julgados na Justiça
Militar da União desde que cometam um crime militar, cujo bem jurídico atingido seja o das
Forças Armadas.

2.3 A Justiça Militar dos Estados e do Distrito Federal

Em relação à Justiça Militar Estadual (JME), também pertencente ao Poder Judiciário, a


Constituição da República previu, em seu artigo 125, §4º, que:
Art. 125. [...]
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares
dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais
contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri
quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre
a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
Dessa forma, o legislador, diferentemente do definido para a Justiça Militar da União,
delimitou a competência da JME tanto quanto ao tipo de crime quanto ao agente. Ou seja,
somente militares estaduais (policiais e bombeiros militares) poderão, quando cometerem crimes
militares definidos em lei, ser processados e julgados pela Justiça Militar Estadual.
Como o art. 125, §4º, restringe os agentes que serão julgadas pela JME (policiais e
bombeiros militares), civis nunca poderão responder perante ela. É essa a principal diferença
entre a Justiça Militar da União e a Justiça Militar Estadual, pois enquanto a primeira tem
competência para processar e julgar militares e civis, a segunda somente tem competência para
processar e julgar militares estaduais.
Cabe ressaltar que desde 1996, com o advento da Lei nº 9.299, foi retirada a
competência da Justiça Militar Estadual para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida
praticados por militares contra civis. Nesse sentido, se um policial ou bombeiro militar vier a
atingir fatalmente um civil, restando comprovado o dolo por parte do agente, a competência para
o julgamento será sempre da justiça comum (Tribunal do Júri).

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Isso foi posteriormente reforçado no ano de 2004, com a Emenda Constitucional 45, que
positivou no artigo 125, §4º da CRFB/88 - acima descrito - que os crimes dolosos contra a vida
de civis, cometido por policiais e bombeiros militares, em quaisquer circunstâncias, fossem
processados e julgados pelo Tribunal do Júri.

3 - PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR

O Direito Penal Militar é regido por diversos princípios. Segundo o ensinamento de


Cícero Robson Coimbra Neves e Marcello
Streifinger5, os princípios norteadores e limitadores
do jus puniendi (direito que corresponde ao Estado
criar e aplicar o direito penal) do Direito Penal Militar
são: o Princípio da Legalidade, o Princípio da
Intervenção Mínima, o Princípio da Insignificância,
o Princípio da Culpabilidade e o Princípio da
Humanidade. A seguir, estudaremos cada um desses princípios.

3.1 Princípio da Legalidade:

De acordo com o Princípio da Legalidade Penal, não há crime sem lei anterior que o
defina, não há pena sem prévia cominação legal. Tal princípio vem esculpido no Art. 5º, XXXIX,
da Constituição Federal de 1988 e no artigo 1º do Código Penal Militar.

Você sabia que o Princípio da Legalidade é um dos princípios


mais celebrados do direito moderno, não sendo por coincidência que
surge logo no primeiro artigo do CPM e é previsto no rol dos direitos e
garantias fundamentais na Constituição Federal?

Este princípio delimita o poder estatal, instituindo a chamada reserva legal. Ou seja, o
estado somente pode aplicar as penas de acordo com uma tipificação penal já existente
anteriormente à prática do fato delituoso.

5
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 97.

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3.2 Princípio da Intervenção Mínima:

Esse princípio aponta que o Direito Penal Militar deva se preocupar com a proteção dos
bens jurídicos mais importantes. Como nos mostra Greco6, “o legislador, por meio de um critério
político que varia de acordo com o momento em que vive a sociedade, sempre que entender que
os outros ramos do direito se revelem incapazes de proteger devidamente aqueles bens mais
importantes para a sociedade, seleciona, escolhe as condutas, positivas ou negativas, que
deverão merecer a atenção do Direito Penal”.

3.3 Princípio da Insignificância:

Seguindo o ensinamento de Claus Roxin7, de acordo com este princípio “chega-se à


conclusão de que nem toda conduta é dotada da lesividade necessária para merecer reprimenda
penal. Nullum crimen sine iniuria, ou seja, não há crime sem que haja o dano, digno de
reprovação ao bem jurídico”.
Em outras palavras, o princípio da insignificância - ou da “bagatela” - sustenta que o
direito de punir do Estado não deve ser clamado a interceder quando a lesão produzida ao bem
jurídico for de pequeníssima monta.

3.4 Princípio da Culpabilidade:

Este princípio encontra lastro na Constituição Federal de 1988. Remonta do brocardo


nullum crimen sine culpa. Nesse entendimento, a pena só pode ser imposta ao indivíduo com
dolo ou culpa (imprudência, imperícia ou negligência).

EXEMPLO: A corporação militar adquiri e distribui um veículo zero quilômetro ao


Batalhão X, o qual o designa para determinado serviço de policiamento. Após a
regulamentar manutenção para a assunção de serviço, dois policiais militares
saem às ruas. Em dado momento, o culpa de qualquer agente em relação ao
acidente ocorrido. Esse assunto será melhor policial condutor acessa uma
rodovia e se mantém dentro da velocidade regulamentar quando, minutos
depois, ouve um forte barulho oriundo de uma das peças do mecanismo de direção do veículo.
Uma das peças se solta e a viatura fica desgovernada, atingindo um muro e ferindo o policial que
se encontrava no banco do carona. No caso em tela, apesar de haver alguém lesionado, não se
pode imputar a ninguém uma responsabilidade criminal, já que não houve dolo ou desenvolvido
mais à frente, ao tratarmos de crimes dolosos e culposos.

6
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal/Rogério Greco -12 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010
7
ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Tradução para o espanhol e notas de Diego-Manuel Luzón
Pena, Miguel Díaz García Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 1997, t. 1, p. 217.

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3.5 Princípio da Humanidade:


Um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito é a dignidade da pessoa
humana, presente no inciso III, do artigo 1º, da Constituição Federal de 1988. O Art. 5º, inciso
XLVII, da Carta Magna, não tolera penas de morte (exceto em caso de guerra declarada), de
caráter perpétuo, de trabalhos forçados, banimentos ou cruéis, declarando, ainda, que nenhuma
pena poderá ser ofensiva a dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, impossível se pensar
no Direito Penal Militar sem que ele se adeque aos preceitos constitucionais. Essa hegemonia
dos princípios carreia ao entendimento de que estes devem ser reverenciados a todo momento,
pelo fato de corporificar a matriz do Direito.

4 - CONCEITO DE CRIME MILITAR (ART. 9º DO CPM)

De acordo com Assis (2010, p. 44): “O conceito


de Crime Militar não é tão fácil de entender, pelo
contrário, é difícil, uma vez que os tipos penais militares
tutelam bens de interesses das instituições militares e
por cuidar a legislação castrense, não só dos crimes
praticados pelo militar no exercício da função.”
Dessa feita, o Código Penal Militar não define o
que seja crime militar. Tampouco é pacífica, entre os doutrinadores, uma conceituação, fazendo
com que os estudiosos da ciência criminal adotem vários critérios para suplantar essa
dificuldade.
Mirabete (2004) já afirmava que “árdua por vezes é a tarefa de distinguir se o fato é crime
comum ou militar, principalmente nos casos de ilícitos praticados por policiais militares. ”.
Para Jorge Alberto Romeiro (1994) “crime militar é o que a lei define como tal”. Esta
conceituação se baseia no critério ratione legis, adotado pela Constituição Federal, quando
prescreve que “à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei”.
Em verdade, crime militar é todo aquele cometido em determinadas situações previstas
pela lei. Assim, as circunstâncias para que ocorram crimes militares estão especificadas nos
artigos 9º e 10 do Código Penal Militar.
Tendo em vista o art. 10 do CPM ser exclusivo para situações em “Tempos de Guerra”,
ou seja, quando o Brasil estiver em um Estado de Guerra contra outra nação, e isso não ocorrer
desde 1945, além das circunstâncias serem muito específicas para as Forças Armadas, não
interessa aqui analisarmos essa conjuntura. Portanto, no presente curso, nos debruçaremos
exclusivamente no artigo 9º, que identifica as hipóteses para ocorrer os crimes militares em
“Tempos de Paz”.

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4.1 Dos crimes militares em tempos de paz

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


I os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo
diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja
o agente, salvo disposição especial;
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam
com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
II os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação
penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra
militar na mesma situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar
sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado,
ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço, em comissão de natureza militar, ou em
formatura, ainda que fora do lugar sujeito a administração militar contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar
sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado,
ou civil; (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996).
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra
militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o
patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa
militar;
f) por militar em situação de atividade ou assemelhado que, embora
não estando em serviço, use armamento de propriedade militar ou
qualquer material bélico, sob guarda, fiscalização ou administração
militar, para a prática de ato ilegal;
f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)

III os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por


civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só
os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes
casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a
ordem administrativa militar;

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b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em


situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de
Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente
ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão,
vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento,
acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra
militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de
vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou
judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em
obediência a determinação legal superior.

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando


dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência
da justiça comum. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.299, de
8.8.1996)
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando
dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da
justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar
realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de
1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica. (Redação dada pela
Lei nº 12.432, de 2011)

§ 1o Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida


e cometidos por militares contra civil, serão da competência do Tribunal
do Júri. (Redação dada pela Lei nº 13.491, de 2017)
o
§ 2 Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida
e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da
competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto:
(Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
I do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas
pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;
(Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
II de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de
missão militar, mesmo que não beligerante; ou (Incluído pela Lei nº
13.491, de 2017).
III de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia
da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em
conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na

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forma dos seguintes diplomas legais: (Incluído pela Lei nº 13.491,


de 2017)
a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999; (Incluída pela
Lei nº 13.491, de 2017)
c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de
Processo Penal Militar; e (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código
Eleitoral. (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)

O artigo 9º do CPM possui três incisos


delineadores da existência de crimes militares:
a) O inciso I refere-se aos delitos praticados por
militares da ativa, em relação aos crimes que
constem exclusivamente no Código Penal Militar ou
que tenham redação diferente da lei penal comum.

Exemplos de crimes que constam exclusivamente no Código Penal Militar:


Violência contra superior
Art. 157. Praticar violência contra superior:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Chantagem
Art. 245. Obter ou tentar obter de alguém, para si ou para outrem, indevida vantagem
econômica, mediante a ameaça de revelar fato, cuja divulgação pode lesar a sua reputação
ou de pessoa que lhe seja particularmente cara:
Pena - reclusão, de três a dez anos.

Exemplos de crimes que existem na legislação penal comum, porém tem


redação/sentido diferente no Código Penal Militar:
CÓDIGO PENAL COMUM CÓDIGO PENAL MILITAR

Falsidade ideológica Falsidade ideológica


Art. 299 - Omitir, em documento público Art. 312. Omitir, em documento
ou particular, declaração que dele devia público ou particular, declaração que
constar, ou nele inserir ou fazer inserir dele devia constar, ou nele inserir ou
declaração falsa ou diversa da que devia fazer inserir declaração falsa ou diversa
ser escrita, com o fim de prejudicar da que devia ser escrita, com o fim de
direito, criar obrigação ou alterar a prejudicar direito, criar obrigação ou
verdade sobre fato juridicamente alterar a verdade sobre fato
relevante. juridicamente relevante, desde que o
fato atente contra a administração ou
o serviço militar.

15
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

b) inciso II refere-se aos crimes previstos no Código Penal Militar e àqueles existentes na
legislação penal comum (Lei 13.491/2017), todos quando praticados por militares da ativa. Caso
o crime conste igual tanto no Código Penal Militar quanto na legislação penal comum, de acordo
com o princípio da especialidade deve-se utilizar a lei castrense.

Exemplo de crime que consta, com o mesmo sentido, tanto na legislação penal
comum quanto no Código Penal Militar:
CÓDIGO PENAL COMUM CÓDIGO PENAL MILITAR

Roubo Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, Art. 242. Subtrair coisa alheia
para si ou para outrem, mediante grave móvel, para si ou para outrem, mediante
ameaça ou violência a pessoa, ou depois emprego ou ameaça de emprego de
de havê-la, por qualquer meio, reduzido violência contra pessoa, ou depois de
à impossibilidade de resistência havê-la, por qualquer modo, reduzido à
impossibilidade de resistência

Exemplo de crime que consta somente na legislação penal comum, porém, após a
Lei 13.491/2017, é considerado crime militar:
Crime de Tortura
Lei 9.455/1997
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

c) O inciso III condensa as hipóteses em que um civil ou militar inativo (reformado ou


da reserva remunerada) figurem como sujeito ativo do crime militar. É fato que os
incisos I e II não mencionam, em seu caput, o fato de aplicarem-se somente a
militares da ativa. Contudo, sabendo que o inciso III refere-se aos inativos e aos civis,
o que faz expressamente, por contraposição os dois primeiros incisos só podem se
referir aos militares da ativa.
Na diferenciação entre os incisos I e II, deve-se notar que a lei penal
militar usa o critério de semelhança, ou não, do delito militar a um delito
previsto na legislação penal comum. Assim, quando um militar da ativa
praticar um crime militar que somente esteja capitulado no Código Penal
Militar, ou que esteja neste capitulado de forma diversa da legislação penal
comum, aplicaremos o inciso I, o qual não possui alíneas complementadoras
da tipicidade. Por outro lado, se o crime praticado pelo militar da ativa
possuir capitulação igual tanto no Código Penal Militar quanto na legislação
penal comum, aplicaremos o inciso II com suas alíneas complementadoras. Visando aprofundar

16
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

o tema, segue o texto do Juiz Federal e professor Marcio André Lopes Cavalcante sobre o Art.
9º do CPM: Competência da Justiça Militar, podendo ser encontrado em
http://www.dizerodireito.com.br/2017/10/comentarios-lei-134912017-competencia.html.
Resumindo, compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares definidos em lei (art.
124 da CF/88).

 No art. 9º do CPM são conceituados os crimes militares em tempo de paz.


 No art. 10 do CPM são definidos os crimes militares em tempo de guerra.
Assim, para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de
competência da Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos
artigos 9º ou 10 do Código Penal Militar.

4.2 As mudanças da lei 13.491/2017 aos crimes militares em tempos


de paz

A Lei nº 13.491/17 trouxe grande mudança em relação à abrangência dos crimes


militares, aumentando, substancialmente, a competência das Justiças Militares.
Como podemos perceber, o Inciso II, do art. 9º do Código Penal Militar foi alterado por
essa lei, a qual acrescentou as palavras “e os previstos na legislação penal comum”. Portanto,
essa mudança fez com que, a partir da promulgação da Lei 13.491/17, não somente os crimes
existentes no Código Penal Militar, mas também os previstos em toda a legislação penal comum,
nas circunstâncias do art. 9º, passassem a ser considerados crimes de natureza militar. Dessa
feita, os crimes constantes do Código Penal Militar, bem como aqueles das legislações penais
comuns (Lei de Tortura, Lei de Abuso de Autoridade, Código de Trânsito etc), passaram a ser,
também, considerados crimes militares. Senão, vejamos abaixo:

ALTERAÇÃO 1: CRIMES MILITARES


PODERÃO SER PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO
PENAL COMUM.
Alteração no inciso II do art. 9º.

A primeira mudança ocorrida foi no inciso II do art. 9º. Veja:

CÓDIGO PENAL MILITAR

REDAÇÃO ORIGINAL REDAÇÃO DADA PELA LEI


Nº 13.491/2017

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

Art. 9º Consideram-se crimes Art. 9º Consideram-se crimes


militares, em tempo de paz: militares, em tempo de paz:
II - os crimes previstos neste II - os crimes previstos neste
Código, embora também o sejam com Código e os previstos na legislação
igual definição na lei penal comum, penal, quando praticados:
quando praticados:

Sargento, o que significa essa mudança?


 Antes da Lei: para se enquadrar como crime militar com base no inciso
II do art. 9º, a conduta praticada pelo agente deveria ser obrigatoriamente
prevista como crime no Código Penal Militar.

 Agora: a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do
art. 9º, pode estar prevista tanto no Código Penal Militar ou na legislação penal “comum”.

Vejamos com um exemplo concreto a relevância dessa alteração:

João, coronel da PM, contratou, sem licitação, empresa ligada à sua mulher para prestar
manutenção na ambulância utilizada no HCPM.

Qual foi o crime praticado, em tese, por João?


O delito do art. 89 da Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações):
Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em
lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à
inexigibilidade:
Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.

De quem é a competência para julgar esta conduta?


 Antes da Lei nº 13.491/2017: Justiça comum.
 Agora (depois da Lei nº 13.491/2017): Justiça Militar Estadual.

Por quê?

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

João, militar da ativa, praticou uma conduta que não é prevista como crime no Código
Penal Militar. A conduta de dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei,
tipificada no art. 89 da Lei nº 8.666/93, não encontra figura correlata no Código Penal Militar.
Assim, antes da Lei nº 13.491/2017, apesar de o crime ter sido praticado por militar
(coronel PM) contra a administração militar, o caso não se enquadrava em nenhuma das
hipóteses previstas no art. 9º do CPM. Isso porque o art. 9º exigia que o crime estivesse
expressamente previsto no Código Penal Militar.

E agora?
Atualmente, com a mudança da Lei nº 13.491/2017, a conduta de
João passou a ser crime militar e se enquadra no art. 9º, II, “e”, do CPM:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
II - os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando
praticados:
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a
administração militar, ou a ordem administrativa militar;

ALTERAÇÃO 2: A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO PARA


PROCESSAR E JULGAR MILITARES DAS FORÇAS ARMADAS NOS CRIMES DOLOSOS
CONTRA A VIDA DE CIVIS EM DETERMINADAS CIRCUNSTÂNCIAS.
Outra grande modificação que a Lei. 13.491/17 trouxe foi o deslocamento da
competência dos crimes dolosos contra a vida de civis, cometidos por membros das Forças
Armadas, em determinadas situações.
Inicialmente, é preciso retroceder ao histórico relativo à questão da competência
jurisdicional para julgar os crimes dolosos contra a vida de civis praticados por militares, e a
definição dos crimes militares, para entendermos melhor a efetiva mudança.
Na redação originária da CRFB/88 havia a previsão expressa de que os crimes
militares definidos em lei (sem excepcionar os crimes dolosos contra a vida de civil) seriam da
competência da Justiça Militar da União ou da Justiça Militar dos Estados, conforme vínculo
do sujeito ativo do delito às Forças Armadas ou às Polícias e Bombeiros Militares.
Sucede que, por meio da Lei nº 9.299/96, o Congresso Nacional, atendendo aos apelos
de setores da sociedade e do clamor público, diante de confrontos com resultado morte, alterou
a competência da Justiça Castrense nos crimes dolosos contra a vida de civis, atribuindo-a ao
Tribunal do Júri.
Com a promulgação da Emenda Constitucional n.º 45 (Reforma do Judiciário),
conforme narrado alhures, foi incluída expressamente a competência do Tribunal do Júri para
processar e julgar os crimes dolosos contra a vida de civis praticados por militares
estaduais.

19
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

Ressalte-se que, inobstante essa previsão constitucional ampliasse a competência do


Tribunal do Júri apenas em relação aos militares estaduais, adotou-se a interpretação
sistemática de que tal norma era aplicável, também, aos militares das Forças Armadas. Ou
seja, os membros das Forças Armadas estariam, igualmente, sujeitos ao Tribunal do Júri
quando cometessem crimes dolosos contra a vida de civis.
Porém, como a previsão para os militares das Forças Armadas serem julgados pelo
Tribunal do Júri se baseava apenas na legislação ordinária (art. 9º do CPM), e não na
Constituição da República, bastava uma modificação no Código Penal Militar para alterar essa
norma.
Foi o que se sucedeu em duas ocasiões. A primeira, com a aprovação da Lei nº
12.432/11, que retirou do âmbito do Tribunal Júri a competência para julgar crimes dolosos
contra a vida de civis praticados por militares das Forças Armadas, nas circunstâncias
previstas no art. 303, do Código Brasileiro de Aeronáutica. Essa lei se relacionava ao abate de
aeronaves hostis em sobrevoo no espaço aéreo brasileiro, as quais não obedecessem às
ordens para pouso. Portanto, caso uma aeronave das Forças Armadas abatesse outra
aeronave hostil, ocasionando a morte dos tripulantes, o militar que efetuou o disparo não seria,
nesse caso, processado e julgado pelo Tribunal do Júri, mas sim pela Justiça Militar da União.
A segunda mudança ocorreu em 2017, através da Lei nº 13.491/17, que ampliou as
hipóteses em que a competência para julgamento de crimes dolosos contra a vida de civil não
fosse mais do Tribunal do Júri para os militares das Forças Armadas, dilatando o espectro de
atuação da jurisdição militar da União.
É imprescindível frisar que, em regra, o julgamento dos crimes dolosos contra a vida
de civis continua da competência do Tribunal do Júri; e somente nas circunstâncias
excepcionais incluídas no art. 9º, §2º do CPM, pela Lei nº 13.491/17, é que será atribuído à
Justiça Castrense.

Sargento, se um militar federal ou estadual, no exercício de sua


função, realiza uma lesão corporal contra vítima civil, qual será o juízo
competente?

JUSTIÇA MILITAR, considerando se tratar de crime militar (art. 9º, II, “c”, do CPM):
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

II os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação


penal, quando praticados:
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em
comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do
lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou civil;
Isso não sofreu nenhuma mudança. Já era assim antes da Lei nº
13.491/2017 e continuou da mesma forma.

E no caso de crime doloso contra a vida de um civil? Se um


militar federal ou estadual, no exercício de sua função, pratica
tentativa de homicídio (ou qualquer outro crime doloso contra a
vida) contra vítima civil, qual será o juízo competente?

Em se tratando de militares estaduais (policiais militares e bombeiros militares), estes,


nos crimes dolosos contra a vida de civis, sempre serão processados e julgados pelo Tribunal
do Júri.
Em relação aos militares das Forças Armadas, temos agora que analisar antes e depois
da Lei nº 13.491/2017.
Antes da Lei nº 13.491/2017:
 REGRA: os crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil eram julgados
pela Justiça comum (Tribunal do Júri). Isso com base na antiga redação do parágrafo
único do art. 9º do CPM.
 EXCEÇÃO: se o militar, no exercício de sua função, praticasse tentativa de homicídio ou
homicídio contra vítima civil ao abater aeronave hostil (“Lei do Abate”), a competência
seria da Justiça Militar. Tratava-se de exceção à regra do parágrafo único do art. 9º do
CPM.
Depois da Lei nº 13.491/2017:
 REGRA: em regra, os crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil
continuam sendo julgados pela Justiça comum (Tribunal do Júri). Isso com base no novo
§ 1º do art. 9º do CPM:
Art. 9º (...)
§ 1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos por
militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri.
 EXCEÇÕES: Os crimes dolosos contra a vida praticados por militar das Forças Armadas
contra civil serão de competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto:
I do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da
República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;

21
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

II de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que
não beligerante; ou
III de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem (GLO)
ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da
CF/88 e na forma dos seguintes diplomas legais:

a) Código Brasileiro de Aeronáutica;


b) LC 97/99;
c) Código de Processo Penal Militar; e
d) Código Eleitoral.
Previsão existente no novo § 2º, do art. 9º do CPM.
Obs.: As previsões do §2º do art. 9º são tão grandes que, na prática, quase todas as
situações envolvendo os crimes dolosos contra a vida de civis, praticados por membros das
Forças Armadas, serão julgadas pela Justiça Militar da União, por se enquadrarem em alguma
das exceções existentes.

5 - CRIMES MILITARES PRÓPRIOS, IMPRÓPRIOS E


EXTRAVAGANTES (OU POR EXTENSÃO)

Como já sabemos, os crimes constantes no Código Penal Militar e nas leis penais
comuns - nas circunstâncias do art. 9º do códex castrense - são, hoje, crimes de natureza militar.
Porém, tanto a Constituição Federal quanto o Código Penal comum fazem menção a uma
espécie de crimes denominados “crimes propriamente militares”.
Não obstante, não existe positivado em nossa legislação pátria a definição de crimes
propriamente ou impropriamente militares, ficando tal distinção a cargo da doutrina e da
jurisprudência. Além disso, com o advento da Lei 13.491/17, foi criada pela doutrina mais uma
classificação, chamada de crimes militares por extensão ou extravagantes.
Contudo, independente de classificações, as três categorias (próprios, impróprios ou
extravagantes) são consideradas crimes militares, sendo processados e julgados pelas Justiças
Militares Estaduais ou da União.

Afinal, o que são os crimes militares próprios e impróprios?

5.1 Crimes propriamente militares

O crime propriamente militar, na lição de Célio Lobão, recebeu definição precisa no


direito romano e consistia naquele “que só o soldado pode cometer”, porque “dizia
particularmente respeito à vida militar, considerada no conjunto da qualidade funcional do
agente, da materialidade especial da infração e da natureza peculiar do objeto danificado, que

22
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

deveria ser o serviço, a disciplina, a administração ou a economia militar8”. Nesse prisma, são
as infrações previstas exclusivamente no Código Penal Militar e que somente poderão ser
praticadas por militar.
EXEMPLOS:
Abandono de Posto:
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço
que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de
terminá-lo.
Dormir em Serviço:
Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto
ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo oficial, em
serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda ou
em qualquer serviço de natureza semelhante.
Deserção:
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da Unidade em que serve,
ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias:

5.2 Crimes impropriamente militares

Já os crimes impropriamente
militares seriam aqueles previstos no
Código Penal Militar, dentro das
condicionantes do seu art. 9º, que podem
ser cometidos tanto por civis quanto por
militares. Nesse sentido, um civil que entra
em uma instalação militar (desde que
fosse das Forças Armadas) e efetua o roubo ou o furto de um armamento, ficaria sujeito a
processo na Justiça Militar da União. Se o mesmo cidadão efetuar o roubo ou furto em alguma
Unidade da Polícia Militar ou Corpo de Bombeiro Militar dos Estados, apesar desse fato
igualmente ser tipificado no Código Penal Militar, este civil será processado pela justiça comum,
uma vez que há restrição constitucional de competência da Justiça Militar Estadual, que só
poderá processar e julgar policiais e bombeiros militares (Art. 125, §4º).

8
LOBÃO, Célio. Direito penal militar. Brasília: Brasília Jurídica, 2006. p. 81;

23
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

EXEMPLOS:
Incêndio:
Art. 268. Causar incêndio em lugar sujeito à
administração militar, expondo à perigo a vida,
a integridade física ou o patrimônio de outrem.
Desacato a militar:
Art. 299. Desacatar militar no exercício de
função de natureza militar ou em razão dela.

5.3 Crimes militares extravagantes (ou por extensão)

Extravagantes - ou por extensão - foi a nomenclatura dada pela doutrina aos novos
crimes militares inseridos pela Lei 13.491/17. Ou seja, todos aqueles
crimes que não estão no Código Penal Militar, mas somente nas leis
penais comuns, não são classificados como crimes militares próprios ou
impróprios, recebendo a classificação de crimes militares extravagantes ou
por extensão.
EXEMPLOS:
Lei 13.869/2019
Abuso de autoridade:
Art. 13. Constranger o preso ou o detento,
mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de
resistência, a:
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não
autorizado em lei;
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da
pena cominada à violência.

Lei 8.069/90
Estatuto da Criança e do Adolescente:
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda
ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Por que devo saber o que são crimes impropriamente militares,


propriamente militares e por extensão?

Devido a existência de aplicações penais e processuais que só cabem a determinadas


espécies de crimes militares. Por exemplo, no caso dos crimes propriamente militares, podemos
identificar as previsões legais abaixo apontadas:

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

 A permissão para a prisão do militar, mesmo ausentes o estado de flagrância ou o


mandado de prisão expedido por autoridade judiciária, conforme dicção do art. 5º inc.
LXI: “Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”.
 A detenção do indiciado em um IPM, prevista no art. 18 do CPPM, por um prazo de até
30 dias prorrogáveis por mais 20. Essa é uma espécie de prisão processual cautelar que
é determinada meramente por autoridade de polícia, a qual será apenas comunicada à
autoridade judiciária. Para se coadunar com o artigo 5º, inciso LXI, da CRFB/88, a
detenção do indiciado poderá ser aplicada tão somente para os crimes propriamente
militares.
 O crime militar próprio não gera reincidência ao agente que responder a processo por
crime comum, nos termos do art. 64, II, do CP.
Dica: Crime propriamente militar é aquele que está previsto somente no CPM e só
pode ser praticado por militar. Exemplo: deserção (art. 187); abandono de posto (art. 195);
abandono de posto (art. 196); embriaguez em serviço (art. 202); dormir em serviço (art. 203).
 Todos os crimes propriamente militares enquadram-se no inc. I, do art. 9º, do CPM. Mas
cuidado, pois nem todos os crimes que se enquadram neste inciso são propriamente
militares, como, por exemplo, o ingresso clandestino (art. 302) e a chantagem (art. 245).
 Crime impropriamente militar (ou militar impróprio) é aquele previsto no Código Penal
Militar, conforme o inciso II, do art. 9º, do CPM, porém pode ser praticado tanto por um
militar quanto por um civil. Exemplo: lesão corporal (art. 129); homicídio (art. 205);
ameaça (art. 223); furto (art. 240); falsidade ideológica (art. 319).

6 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR

6.1 Lei Penal Militar no tempo (momento do crime)

O Código Penal Militar, em seu primeiro título,


conclama a “aplicação da lei penal militar”.
Logo em seu Art. 1º, o Código Penal Militar
também expressa como será aplicada a lei
penal no tempo quando afirma que: “não há
crime sem lei anterior que o defina, não há
pena sem prévia cominação legal”. Nesse
sentido, para que uma conduta possa ser considerada crime, necessariamente tem que haver a
tipificação penal anterior à ação do agente.
Assim, se um militar pratica uma conduta e posteriormente o legislador cria uma nova
tipificação penal, definindo essa conduta como crime, o militar não será alcançado por aquela.
Neste caso, sua conduta foi atípica, já que, na época em que realizou a ação, não havia lei
incriminadora.

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

Neste mesmo entendimento, se o militar pratica uma conduta que, naquele momento, é
considerada crime e, tempos depois, esta conduta passar a não mais ser considerada criminosa,
todos os efeitos penais irão cessar, até mesmo a condenação. Isso é o que vem previsto no Art.
2º do CPM, também conhecido como abolitio criminis:
Lei supressiva de incriminação
Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de
sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de
natureza civil.
Para definir o tempo do crime, o CPM acolheu a chamada teoria da atividade:
Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou
omissão, ainda que outro seja o do resultado.
Desse jeito, para que uma conduta possa ser considerada crime é preciso avaliar se, no
momento da ação ou omissão, ela era tipificada como tal, bem como se o agente tinha condições
de responder pelo delito, pouco importando quando ocorreu o resultado.
EXEMPLO: Mévio, com a idade 17 anos, 11 meses e 25 dias, desfere golpes de faca
em Tício, que somente após 10 dias vem a óbito. Mévio não praticou crime de homicídio, mas
ato infracional, por ser inimputável no momento da conduta.

COMENTÁRIOS:
O nosso Código Penal Militar adotou a teoria da ação ou da atividade, afastando, assim,
as teorias do resultado e mista, uma vez que o momento da conduta (ação ou omissão) será
considerado o da prática do crime.

6.2 Lei penal militar no espaço (lugar do Crime)

Para tratar sobre o lugar do crime no direito penal militar, vamos analisar primeiramente
o art. 6º do CPM:

Art. 6º Considera-se praticado o fato, no lugar


em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo
ou em parte, e ainda que sob forma de participação,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se
praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação
omitida.
Diante da previsão legal retro citada, houve a adoção da chamada teoria da ubiquidade,
a qual considera tanto o local no qual se deu a ação ou omissão como o local em que ocorreu o
resultado.

26
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

O Direito Penal Militar também adotou o princípio da territorialidade/ extraterritorialidade,


conforme art 7º do CPM:

Art. 7º Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções,


tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo
ou em parte no território nacional, ou fora dele, ainda que, neste caso,
o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça
estrangeira.

Ou seja, com exceção da existência de tratados e convenções internacionais que o Brasil


seja signatário, crimes militares cometidos tanto dentro quanto fora do território nacional serão
processados e julgados pela Justiça Militar brasileira. Nesse sentido, do ponto do magistério de
Silvio Martins Teixeira9, essa ampla extraterritorialidade “justifica-se com o fato de os crimes
militares, que se destinam à defesa do País (CF, art. 142), e poderem ser, por inteiro, cometidos
em outros países e, até mesmo em benefício destes que não teriam, assim, qualquer interesse
na punição de seus autores. Daí, não ser entregue à justiça estrangeira o processo e o
julgamento dos crimes militares”.

9
TEIXEIRA, Sílvio Martins. Código Penal Militar Explicado. 1996 –Pág 52

27
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

Lugar do Crime Territorialidade e extraterritorialidade

Conforme preconiza o Código Penal A Territorialidade é a aplicação da lei


Militar, o lugar do crime se relaciona a penal ao crime praticado no território
sistema misto de interpretação, nacional e a extraterritorialidade retrata a
conforme a norma abaixo transcrita: aplicação da lei ao crime praticado fora do
território brasileiro.
“Art. 6º - Considera-se praticado o fato, No CP, a territorialidade da aplicação
no lugar em que se desenvolveu a da lei encontra-se no art. 5º e a
atividade criminosa, no todo ou em extraterritorialidade (alguns casos) no art.
parte, e ainda que sob forma de 7º. A extraterritorialidade da aplicação da
participação, bem como onde se lei é exceção no CP, e uma regra no CPM.
produziu ou deveria produzir-se o A lei penal militar aplica-se ao crime
resultado. Nos crimes omissivos, o fato MILITAR praticado dentro e fora do
considera-se praticado no lugar em que território nacional, sem prejuízo de
deveria realizar-se a ação omitida. tratados e convenções internacionais (art.
7º).
EXEMPLO:
EXEMPLOS:
O Soldado Mesquita, do Exército
brasileiro, durante treinamento militar • Um Sgt do Exército no Haiti, em
nas matas de Foz do Iguaçu, faz um serviço, agride uma civil haitiana.
disparo a esmo que atravessa a fronteira • Um Cap PM, em missão de paz
da Argentina e atinge, mortalmente, em Angola, divulga informações
naquele país, um nacional argentino. privilegiadas a um estrangeiro, causando
Segundo o art. 6º do CPM, o local do prejuízo à administração militar (art. 326
crime será tanto aquele em que se deu violação de sigilo funcional).
a ação criminosa (houve o disparo) No intuito de se evitar o “bis in idem”,
quanto aquele que ocorreu o resultado ou dupla punição pelo mesmo ramo do
(atingiu a vítima, levando-a a óbito). direito público, o art. 8º determina que a
eventual pena aplicada no estrangeiro
atenua a pena no Brasil se diversa e, nela
é computada, se idêntica.
Fonte: apostila de direito penal militar
prof. Rogério disponível em:
www.fatimasoares.com.br

28
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

São três as teorias que gravitam em torno do assunto:

Teoria da Atividade: lugar do crime é aquele em que se iniciou a execução


da conduta típica;
Teoria do resultado: lugar do crime é aquele em que se produziu o
resultado da ação/omissão;
Teoria da Ubiquidade: lugar do crime é tanto aquele em que se iniciou sua
execução, como aquele em que ocorreu o resultado.

No que tange ao lugar do crime, o CPM adotou um sistema misto (Jorge César de Assis).

Crimes comissivos –Teoria da Ubiquidade.


Crimes omissivos (realizados por omissão) – Teoria da Atividade
Nos crimes omissivos, o CPM adota a teoria da atividade, já que
considera praticado o fato no lugar em que deveria realizar-se a ação que
foi omitida – art. 6º).

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 Programa Jurídico Saber Direito do STF 1

Vídeo Aula - Justiça Militar.

 Texto: O princípio da territorialidade e

extraterritorialidade no Código Penal Militar -

Territorialidade e Extraterritorialidade - Autor

Paulo Tadeu Rodrigues Rosa - Publicado em

04/2015.

29
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

7 - PESSOA CONSIDERADA MILITAR

O Código Penal Militar, para fins de aplicação


do Direito Penal Militar definiu, em 1969, o conceito de
Militar no Art. 22:
Art. 22. É considerado militar, para efeito da
aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em
tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças
armadas, para nelas servir em posto, graduação, ou
sujeição à disciplina militar.

E os militares das Policias Militares e Bombeiros Militares Estaduais?

Segundo ensinamento de Cícero Robson Coimbra Neves e Marcelo Streifinger10, no


artigo acima “a palavra “incorporada” dá o mote interpretativo adequado, impondo que sempre
que houver grafado o elemento típico “militar” deve-se entender pessoa incorporada às Forças
Armadas e, por extensão arrimada no art. 42 da Constituição Federal, às Polícias Militares e
Corpos de Bombeiros Militares, ou seja, militares da ativa das Forças Militares Federais e
Estaduais. Assim, hoje, não é somente o art. 22 do CPM, mas também a Constituição Federal
que identificam os militares nacionais, sendo eles tanto os integrantes das Forças Armadas
(militares) quanto os integrantes da Polícias e Bombeiros Militares (militares estaduais).
Vejamos, então, o Artigo 42 da CRFB/98:
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal
e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998).
Ainda alerta os autores que, realizando uma “interpretação teleológica com base
exatamente no art. 22, todos os tipos penais que possuam a palavra “militar” abarcam apenas
os militares da ativa, já que essa, inequivocamente, foi a intenção do legislador”.

10
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 153.

30
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

Neste sentido crimes que viriam expressamente a


palavra “militar” só poderiam ser cometidos por militares da ativa
(excluindo, assim, os militares da reserva e reformados):

EXEMPLOS:
Art. 137 - Provocar o militar, diretamente, país estrangeiro a declarar
guerra ou mover hostilidade contra o Brasil ou a intervir em questão
que respeite à soberania nacional.
Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país estrangeiro,
expondo o Brasil a perigo de guerra.
Art.140. Entrar ou tentar entrar o militar em entendimento com país
estrangeiro, para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra:
Todavia, existe uma exceção, podendo militares da reserva figurarem como sujeitos
ativos de crimes que possuam a palavra “militar” em seu tipo penal.
O Art. 12 do CPM equipara militares da reserva ou reformados, que se encontram
empregados em serviços na administração militar, a militares da ativa para fins de aplicação da
lei penal militar. Vejamos então o Art. 12 do CPM:
Art.12. O militar da reserva ou reformado, empregado na
administração militar, equipara-se ao militar em situação de atividade,
para o efeito da aplicação da lei penal militar.

8- CONCEITO DE SUPERIOR

O conceito de superior funcional vem elencado no Art. 22 do CPM:


Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto
ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da lei penal militar.
O Código Penal Militar aplica dois conceitos para superior que são: superior funcional e
superior hierárquico. A definição de superior funcional “em virtude da função” vem claramente
descrita no Art. 24 do CPM. A definição de superior hierárquico não se encontra no CPM, e cada
instituição militar define em regulamentação própria a definição hierárquica através de postos
(oficiais) e graduações (praças).

Sargento, você saberia definir hierarquia? Que tal aprender?

O Art. 12, § 1° do Estatuto dos Policiais Militares do Estado do Rio de Janeiro define
como se dará a ordenação hierárquica na PMERJ:

31
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

“A hierarquia policial-militar é a ordenação da autoridade em níveis diferentes, dentro da


estrutura da Polícia Militar. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo
posto ou de uma mesma graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O
respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade. ”
Segundo Cícero Robson Coimbra Neves e Marcelo Streifinger 11, o conceito de superior
funcional “somente entrará em voga, primeiro havendo igualdade hierárquica e, segundo, quando
um par exercer, em razão da função, autoridade sobre outro. ”
E completa o ensinamento12:
“Para sedimentar nossa explanação, tomemos os seguintes exemplos: se um soldado
agride a um primeiro-tenente teremos a possibilidade do crime capitulado no art. 157 do CPM
(violência contra superior), em função da superioridade hierárquica do ofendido em relação ao
sujeito ativo; contudo, também haverá o mesmo delito se um primeiro-tenente agredir outro militar
do mesmo posto, estando este na função de Comandante de Companhia daquele,
estabelecendo-se a superioridade funcional.
É bom esclarecer que a superioridade funcional sempre se sobrepõe à antiguidade.
Assim, imaginemos, por exemplo, que um coronel da Polícia Militar, promovido a esse posto no
ano de 2005, agrida outro coronel promovido em 2006. Apesar de o primeiro ser mais antigo do
que o segundo, em razão do maior tempo no posto, se o coronel mais moderno for o Comandante
Geral haverá o crime de violência contra superior (art. 157 do CPM).

9 – DO CRIME

9.1 Crimes omissivos impróprios


Como já comentamos anteriormente, existem alguns tipos penais que preveêm a
ocorrência de um crime quando o agente deixa de realizar determinação ação que o legislador
imputou diretamente a ele. São os chamados crimes por omissão.
Por exemplo:

Omissão de lealdade militar


Art. 151. Deixar o militar ou assemelhado de levar ao conhecimento
do superior o motim ou revolta de cuja preparação teve notícia, ou,
estando presente ao ato criminoso, não usar de todos os meios ao seu
alcance para impedi-lo:
Pena - reclusão, de três a cinco anos.
Condescendência criminosa

11
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 161
12
Idem, ibidem, Pág. 161 e .162.

32
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

Art. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que comete


infração no exercício do cargo, ou, quando lhe falte competência, não
levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - se o fato foi praticado por indulgência, detenção até seis
meses; se por negligência, detenção até três meses.

Nos crimes acima, foram especificados pelo legislador que quando um militar deixasse
de realizar determinadas ações, como levar ao conhecimento de seu superior um crime de motim
ou de responsabilizar um subordinado, estaria cometendo um delito.
Reparem que ambos os delitos não ocorrem por uma ação perpetrada pelo agente, mas
por uma omissão, ou seja, ele deixa de realizar algo que a lei especificou literalmente como sua
obrigação. Tais delitos são conhecidos por crimes omissivos próprios, ocorrendo quando há uma
previsão direta na lei responsabilizando a omissão desses sujeitos
Porém, existe uma outra modalidade de crimes omissivos, chamada de crimes omissivos
impróprios ou comissivos por omissão.
Nos crimes omissivos impróprios, determinadas pessoas, que a doutrina denominou
como “agentes garantidores”, deveriam, por obrigação legal (não necessariamente penal), tomar
providências para evitar um resultado danoso que possa ser consumado devido a sua omissão.
A previsão dos crimes omissivos impróprios consta no art. 29, §2º do Código Penal
Militar, que diz:

Art. 29. O resultado de que depende a existência do crime somente é


imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou
omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
[...]
§ 2º A omissão é relevante como causa quando o omitente devia
e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem
tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; a quem, de
outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; e a
quem, com seu comportamento anterior, criou o risco de sua
superveniência.

Podemos apresentar como exemplos de agentes garantidores, os quais a lei incumbiu


por obrigação (DEVER) de cuidado, proteção e vigilância: os policiais, os bombeiros, os pais, os
guarda-vidas etc.
Dessa forma, a lei especificou no texto acima que, caso uma determinada ocorrência
venha a suceder, onde os agentes garantidores possam realizar uma ação a fim de evitar o
resultado (PODER AGIR) mas não o façam, responderão pelo próprio resultado.
Em outras palavras, os agentes garantidores ao se omitirem responderão por um delito
que outrem tenha cometido, como se o tivessem realizado.

33
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

Então, vejamos abaixo a decisão jurisprudencial sobre o caso de um bombeiro militar de


serviço, na praia de Copacabana, que não teria, mesmo sendo possível fazê-lo, socorrido uma
vítima de afogamento:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 0033924-82.2009.8.19.0001


RECORRENTE: XXXXXX
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO
RELATOR: DES. JOSÉ AUGUSTO DE ARAUJO NETO
HOMICÍDIO SIMPLES. CRIME COMISSIVO POR OMISSÃO.
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO INTERPOSTO PELA DEFESA TÉCNICA,
POSTULANDO A IMPRONÚNCIA DO ACUSADO. PLEITO
INCONSISTENTE. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Havendo nos autos suficientes indícios de que o
recorrente – bombeiro militar atuante como guarda-vidas na praia de
Copacabana – deixou de prestar socorro a banhista que estava se
afogando, provocando, com sua omissão, a morte da vítima, é de se
manter a pronúncia, tal como posta pelo
juízo a quo., a fim de que o réu seja julgado pelo Júri, juiz natural da
causa.
2. Recurso desprovido.

Reparem que o crime o qual o bombeiro militar respondeu não foi o de prevaricação,
mas o de homicídio simples, julgado no Tribunal do Júri, como se ele tivesse tido a intenção de
matar a pessoa afogada. Isso decorre, tendo em vista a sua omissão ter sido considera como
um nexo causal direto da morte da vítima. De igual forma, uma mãe, que é agente garantidora
perante seu filho, sabendo que a criança é agredida costumeiramente pelo padrasto, não toma
providências, vindo o menor, em dado momento, devido às agressões, a óbito. Essa mãe
responderá juntamente com o padrasto pelo crime de homicídio doloso.
Finalmente, em relação ao serviço policial militar, responderia por roubo um policial que,
devendo e podendo, não atendesse a um assalto que soubesse estar em andamento. Assim,
como agente garantidor, a omissão desse policial seria considerada relevante como a própria
causa do crime.

9.2 Do crime consumado e da tentativa

A doutrina divide a ação criminosa em várias fases. Essas fases, ou caminho, são
percorridas pelo agente que busca efetivar o delito pretendido, recebendo o nome de iter criminis.
O iter criminis é divido em:
a) Cogitação – o indivíduo pensa em cometer o delito;

34
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

b) Atos preparatórios – o indivíduo começa a se preparar para cometer o delito;


c) Execução – o indivíduo parte para executar o delito; e
d) Consumação – o indivíduo consegue atingir integralmente seu objetivo criminoso.

Durante essas fases, pode-se ou não chegar à consumação do crime, que é o resultado
finalístico pretendido com a ação delituosa. Assim, se a intenção final do autor do delito é tirar a
vida de alguém, a consumação do crime ocorre quando a vítima, definitivamente, deixa de viver.
Já no roubo, a consumação se dá quando o agente tira para si, ou para outrem, coisa alheia
móvel, utilizando-se, para isso, da violência ou grave ameaça. Nesse sentido, aponta o CPM:
Art. 30. Diz-se o crime:
Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua
definição legal;

Todavia, o crime pode, por algum motivo alheio à vontade daquele que o está
cometendo, não se consumar. Ou seja, não reunir todos os elementos para sua definição. Por
exemplo, no crime de homicídio, após alguém disparar com uma arma de fogo três vezes em
direção da vítima e acertá-la, ela não morre graças ao atendimento médico. A vítima, nesse caso,
somente não morreu por um motivo alheio à vontade de seu agressor, qual seja, o atendimento
médico. Diz-se, desse modo, que o crime foi tentado. Nessa hipótese, o mesmo artigo 30 do
CPM prevê:
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.

E qual o tratamento dado pela legislação nos casos de crimes


tentados?

Em casos de tentativa, prevê o CPM:


Art. 30 [...]
Pena de tentativa
Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena correspondente
ao crime, diminuída de um a dois terços, podendo o juiz, no caso de
excepcional gravidade, aplicar a pena do crime consumado.

Dessa feita, no caso de crimes tentados, como o mal causado à vítima é inferior ao
daquele que ocorreria no crime consumado, a pena, consequentemente, também é menor,
sendo diminuída de um a dois terços. Repare que o CPM prevê que, a depender do caso em
concreto, quando o juiz entender que há uma gravidade excepcional, mesmo nos crimes tentados
a pena pode ser a mesma aplicada a do crime consumado.

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

9.3 Do crime doloso e culposo

Os crimes podem ser dolosos ou culposos. Essa diferenciação de culpabilidade é


importante para configurar, principalmente, as penas aplicadas. Segundo Cirino dos Santos13, “o
dolo, conforme conceito generalizado, é a vontade consciente de realizar um crime”. Já a culpa,
para Cícero Coimbra14, refere-se “a não observância do dever objetivo de cuidado, materializada
por conduta causadora de um resultado típico, relevante penalmente”.
Desse modo, prevê o Código Penal Militar sobre os institutos da culpabilidade:
Art. 33. Diz-se o crime:
Culpabilidade
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco
de produzi-lo;
II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela,
atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em
face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou,
prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia
evitá-lo.
Excepcionalidade do crime culposo
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode
ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.

Nesse contexto, a lei prevê dois tipos de dolo:


a) O dolo direto, que se traduz quando o agente quer realizar uma ação, visando um
determinado resultado, sendo este definido como crime.
Exemplo: “A” quer matar “B”. Para isso, “A” efetua um dispara no coração de “B”,
sabedor que aquela sua ação representará a sua morte. A ação de “A” está definida
na legislação penal como sendo uma conduta criminosa e que será sancionada com
uma pena.
b) O dolo indireto, quando o agente, mesmo sem ter a intenção de realizar a conduta
delituosa, pode prever seu resultado. Não obstante, mesmo tendo consciência que
o resultado poderá acontecer, o agente assume o risco, aceitando-o como possível
ou provável, não se eximindo de realizar aquela conduta.
Exemplo: Um policial, em uma operação realizada em uma favela, sabedor de que a
maioria das residências são feitas de madeira, ao ouvir um tiro ao longe, aponta seu
fuzil e, mesmo sem ter seu agressor na mira, realiza vários disparos naquela direção.

13
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 856.
14
Idem, p. 471.

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

Um dos disparos transfixa um casebre, acertando, em seu interior, uma pessoa


inocente, levando-a a óbito.
Nesse exemplo, apesar da intenção do policial não ser a de querer matar aquele
indivíduo, ao realizar os disparos naquelas circunstâncias poderia prever qual seria
seu resultado, mas, mesmo assim, assumiu integralmente o risco.

Em relação aos crimes culposos, estes se configuram quando o agente não quer ou
tampouco assume o risco de produzir o resultado. Porém, mesmo assim, esse resultado ocorre
por uma inobservância de um dever de cuidado que esse agente deveria ter tomado
anteriormente. As espécies de modalidade culposa são a imprudência, a negligência e a
imperícia.
A primeira modalidade, denominada imprudência, ocorre pela ação precipitada e sem
cuidado do agente em realizar algo com a devida cautela. Assim, um policial que ao revistar
alguém com o dedo no gatilho, realiza um disparo acidental e fere o indivíduo revistado, age com
imprudência.
Já a negligência ocorre por displicência, por omissão, pela preguiça ou pelo desinteresse
em tomar determinadas cautelas que lhe eram exigíveis. O motorista da viatura policial que tem
como dever realizar a manutenção de primeiro escalão, porém, por preguiça, não a faz, saindo
com o veículo com o pneu sem condições de transitar, e por causa disso ocasiona um acidente,
matando alguém, incorre no homicídio culposo devido a sua negligência.
E, por último, temos a imperícia, caracterizada pela falta de conhecimentos técnicos em
realizar determinado ato referente a sua profissão. Dessa maneira, um policial que retira da
reserva um armamento que não sabe utilizar e, devido a isso, fere um companheiro de serviço
por um disparo acidental, comete uma lesão corporal culposa na modalidade da imperícia.
Por fim, o parágrafo único do artigo 33, do CPM, dispõe que os crimes culposos são uma
exceção, somente existindo quando houver estrita previsão legal.
Exemplo:
Homicídio culposo
Art. 206. Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a quatro anos.

Portanto, caso a lei não preveja a modalidade culposa de algum crime, esse somente
poderá ser cometido de forma dolosa.

9.4 Excludentes de criminalidade (ilicitude)

O Código Penal Militar enumera cinco excludentes de ilicitude em seu artigo 42, sendo
elas:
I - estado de necessidade;
II - legítima defesa;
III - estrito cumprimento do dever legal;

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

IV - exercício regular de direito;


V – ação de comandante de navio, aeronave ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave
calamidade, que se utiliza de meios violentos para obrigar subordinados a executarem serviços
e manobras urgentes, salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a
rendição, a revolta ou o saque.
As excludentes de ilicitude representam uma ressalva jurídica para que os militares
possam executar sua função mesmo que, ocasional e comprovadamente, venham retirar direitos
de outros indivíduos realizando uma conduta tipificada como criminosa.

9.4.1 Estado de necessidade

A primeira excludente prevista na legislação é o estado de necessidade, que ocorre


quando o agente militar pratica o fato para preservar direito seu ou alheio, de perigo certo e atual,
que não provocou, nem podia de outro modo evitar, desde que o mal causado, por sua natureza
e importância, seja consideravelmente inferior ao mal evitado, e o agente não era legalmente
obrigado a enfrentar aquele perigo.
Por exemplo, um policial que se vê, em uma operação, cercado e encurralado por
marginais, arromba a porta de uma residência e nela permanece abrigado para se salvar, não
responderá pela invasão de domicílio ou pelos danos.

9.4.2 Legitima defesa

Na legítima defesa, o agente deve estar sob risco de perigo atual e iminente, agindo de
forma moderada a repelir a injusta agressão que estejam realizando contra ele. Caso o perigo
não seja atual e iminente, não se configura a legítima defesa. Se o agente agir de forma
imoderada, responderá pelo excesso doloso ou culposo, de acordo com os artigos 45 e 46 do
CPM:
Excesso culposo
Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime,
excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato,
se este é punível, a título de culpa.
Excesso escusável
Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável
surpresa ou perturbação de ânimo, em face da situação.
Excesso doloso
Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato por
excesso doloso.

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

9.4.3 Estrito cumprimento do dever legal

O estrito cumprimento do dever legal como excludente de ilicitude ocorre quando o


agente, por força de um dever imposto em lei, retira direitos de outras pessoas. Essa ação, assim
como na legítima defesa, deve ser moderada e exclusivamente conforme a lei determina.
Exemplo clássico é o caso do carrasco, que ao cumprir a pena capital realiza uma
conduta típica de matar alguém. Porém, tal conduta não é considerada ilícita, já que ele tem
como dever legal realizar aquela ação de executar a sentença judicial de morte. Da mesma
maneira, temos o policial que aborda alguém devido à existência de uma fundada suspeita,
restringindo, mesmo que temporariamente, o direito de ir e vir de uma pessoa, além de
constrangê-la publicamente. A fundada suspeita que ocasiona uma abordagem de forma técnica
(moderada), faz com que o policial não cometa qualquer crime, devido à excludente de ilicitude.

9.4.4 Exercício regular do direito

No caso do exercício regular do direito, a lei cria uma excludente para que determinados
agentes possam realizar algumas ações sem que respondam criminalmente por elas.
É o exemplo do médico que, ao operar uma pessoa, realiza cortes em seu corpo, o que,
em tese, configuraria o crime de lesão corporal. Ou um lutador de boxe, que mesmo aplicando
diversos socos contra seu adversário, lhe causando sérias lesões corporais, também estará
amparado pela essa excludente de criminalidade.
Finalmente, no âmbito castrense, podemos tomar como exemplo o treinamento em um
curso de operações especial, cujos instrutores submetem, de forma técnica, os alunos a
constrangimentos e sofrimentos físicos ou mentais, porém, óbvio, sem que ocorram abusos.

9.4.5 Emprego de violência contra subordinados na iminência de


perigo ou calamidade

Por fim, o Código Penal Militar prevê uma excludente inexistente no Código Penal
comum, devido a sua própria natureza. É a possibilidade do comandante de um navio, aeronave
ou praça de guerra necessitar, devido à iminência de perigo ou calamidade, cometer violência
contra seus subordinados a fim de evitar um mal maior.
Em que pese não haver previsão de quais meios violentos possam ser executados contra
os subordinados, entende-se que até mesmo a violência que cause morte, caso seja necessária
e proporcional naquela situação, poderá ser realizada.

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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

10 - PENAS PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS

O Código Penal Militar em seu título “DAS PENAS”


classifica as sanções aplicadas em penas principais e
acessórias. Neste Tópico veremos cada uma delas.

10.1 Penas principais

O art. 55 do Código Penal Militar faz previsão das seguintes penas principais: morte,
reclusão, detenção, prisão, impedimento, suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou
função e reforma.
Penas principais
Art. 55. As penas principais são:

a) morte;
b) reclusão;
c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função;
g) reforma.

PENA DE MORTE – A pena capital de morte, prevista através de


fuzilamento (Art. 56 do CPM), não entra em conflito com a Constituição Federal, haja vista que
em seu Art.5º, inciso XLVII, é previsto que tal pena possa ser executada em casos de guerra.
São exemplos de crime punidos com pena de morte os crimes de traição, previsto no art. 355,
de favor ao inimigo, previsto no art. 356, entre outros do CPM.
RECLUSÃO E DETENÇÃO – São penas privativas de liberdade que, para o CPM, não
guarda muitas distinções umas das outras. Sua principal diferença é que, conforme o art. 58: “o
mínimo da pena de reclusão é de um ano, e o máximo de trinta anos; o mínimo da pena de
detenção é de trinta dias, e o máximo de dez anos.”.
PRISÃO – Diferencia-se da reclusão e detenção com relação ao cumprimento, conforme
o art. 58 do CPM.
IMPEDIMENTO – a pena de Impedimento, conforme o art. 63 do CPM: “sujeita o
condenado a permanecer no recinto da unidade, sem prejuízo da instrução militar” Esta pena
restritiva de liberdade somente é aplicada ao crime de Insubmissão, previsto no art. 183 do CPM.
SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DO POSTO, GRADUAÇÃO, CARGO OU FUNÇÃO -
Esta pena está prevista no art 64 do CPM, que diz: “A pena de suspensão do exercício do posto,
graduação, cargo ou função consiste na agregação, no afastamento, no licenciamento ou na
disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sentença, sem prejuízo do seu

40
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

comparecimento regular à sede do serviço. Não será contado como tempo de serviço, para
qualquer efeito, o do cumprimento da pena. ”
REFORMA – sujeita o militar à situação de inatividade, sendo prevista no art. 65 do CPM.
Dessa forma, o militar condenado a esta pena deverá receber vencimentos proporcionais ao
tempo de serviço não podendo mais retornar à ativa.

10.2 Penas acessórias

Agora vamos falar das penas acessórias, previstas no art. 98, do CPM:

Penas Acessórias
Art. 98. São penas acessórias:

I a perda de posto e patente;


II a indignidade para o oficialato;
III a incompatibilidade com o oficialato;
IV a exclusão das forças armadas;
V a perda da função pública, ainda que eletiva;
VI a inabilitação para o exercício de função pública;
VII a suspensão do pátrio poder, tutela ou curatela;
VIII a suspensão dos direitos políticos.

Como o nome sugere, as penas acessórias dependem da aplicação de uma pena


principal. Agora, falaremos um pouco de cada uma delas:

A PERDA DO POSTO E DA PATENTE; A INDIGNIDADE PARA O OFICIALATO; E A


INCOMPATIBILIDADE COM O OFICIALATO

Essas três penas acessórias são consideradas


inconstitucionais, uma vez que, conforme a Constituição Federal, os
oficiais militares, tanto das Forças Armadas quanto das Polícias e
Bombeiros Militares, possuem a vitaliciedade assegurada, de acordo
com os artigos 142, §3º, incisos VI e VII, concomitante com o art. 42,
§1º:

Art. 142, VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato
ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de
paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;

41
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022

Art. 142, VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de
liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao
julgamento previsto no inciso anterior.

Art. 42, § 1º - Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º;
e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142,
§ 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores.

EXCLUSÃO DAS FORÇAS ARMADAS – prevista no art. 102 do CPM. Esta pena
acessória deve constar expressamente da sentença que condena a praça à pena privativa de
liberdade superior a dois anos.
Por força também do parágrafo 4º, do art. 125, da Constituição Federal, na Justiça Militar
Estadual, a exclusão da praça das forças armadas ou auxiliares dependerão de decisão do
Tribunal, não funcionando como pena acessória.

PERDA DE FUNÇÃO PÚBLICA – Incorre na perda de função pública o civil, o militar da


reserva ou reformado nos casos de condenação por crime militar a qual se manifeste por
aplicação desta pena acessória, conforme Art. 103 do CPM.

INABILITAÇÃO DA FUNÇÃO PÚBLICA – Essa pena acessória impede que o civil, o


militar da reserva ou o reformado - quando condenados à pena principal de reclusão por mais de
quatro anos em virtude de crime praticado com abuso de poder ou violação do dever militar ou
inerente à função pública – assumam funções públicas pelo período de dois a vinte anos.

SUSPENSÃO DO PÁTRIO PODER, TUTELA OU CURATELA – Tal pena acessória


deriva-se da impossibilidade fática de que o sujeito que cumpre uma pena restritiva de liberdade,
ou uma medida de segurança, ambas superior a dois anos, teriam de exercitar seu poder familiar,
de tutela ou de curatela.

SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS – Prevê a proibição do exercício dos direitos


políticos, em votar e ser votado, durante a execução da pena privativa de liberdade ou da medida
de segurança. Tal pena hoje é irrelevante, tendo em vista a CRFB/88 prever, em seu art. 15,
inciso III, que os direitos políticos são suspensos com a condenação criminal transitada em
julgado, enquanto durarem seus efeitos.

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11 - INFRAÇÕES DISCIPLINARES

As infrações disciplinares são previstas nos mais diversos


regulamentos disciplinares das Forças Armadas e Auxiliares. O nosso
Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro
(RDPMERJ / R-9), Decreto nº. 6.579, DE 05 DE MARÇO DE 1983, define que:
Art. 13 - Transgressão disciplinar é qualquer violação dos princípios
da ética, dos deveres e das obrigações Policiais Militares, na sua manifestação elementar e
simples, e qualquer ação ou omissão contrárias aos preceitos estatuídos em leis, regulamentos,
normas ou disposições, desde que não constituam crime.
Art. 14 – São transgressões disciplinares:
I Todas as ações ou omissões contrárias à Disciplina Policial Militar especificadas no
Anexo I do presente Regulamento;
II Todas as ações, omissões ou atos, não especificados na relação de transgressões do
Anexo citado, que afetem a honra pessoal, o Pundonor Policial Militar, o decoro da classe
ou o sentimento do dever e outras prescrições contidas no Estatuto dos Policiais
Militares, leis e regulamentos, bem como os praticados contrarregras e ordens de serviço
estabelecidas por autoridades competentes.

Contudo, apesar de Transgressão da Disciplina não constituir crime, conforme o próprio


Art. 13 do RDPMRJ positiva, aduzem Cícero Robson Coimbra Neves e Marcelo Streifinger 15 que:
“o Direito Penal Militar e o Direito Administrativo (Militar) se relacionam de forma intensa,
justamente por ter a hierarquia e a disciplina como base de toda a estrutura jurídica construída,
de sorte que se pode afirmar que nem todo ilícito disciplinar configura delito, porém todo delito
reclama, residualmente, a existência de uma transgressão disciplinar.”
A própria Constituição Federal fixa um Direito Disciplinar Militar, quando em seu Art. 125,
§ 4º inclui nas competências da Justiça Militar Estadual julgar os crimes militares e as ações
judiciais contra crimes disciplinares.
Podendo, assim, concluir que tanto o poder de coação do Direito Penal Militar (com suas
penas) quanto o do Direito Administrativo Disciplinar possuem como finalidade a proteção da
“hierarquia e disciplina”, fatores estes, como já vimos, de extrema preponderância para a coesão
e o regular funcionamento das instituições militares.

15
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 54.

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CONCLUSÃO

O policial militar, é um operador do direito. Dessa forma, deve ter os conhecimentos


básicos tanto para agir em caso de delitos militares, que venha a presenciar, quanto para evitar
realizar uma conduta que possa ferir a legislação penal castrense.
Você é, também, um defensor da sociedade e um promotor dos direitos humanos, ora
patrulhando e prevenindo práticas delituosas, ora auxiliando pessoas que estejam necessitando
da sua ajuda. Ademais, como aprendido durante o curso, sua caracterização como agente
garantidor lhe impõe rígidos deveres perante a comunidade.
Sua profissão é de destaque, realizando tarefas essenciais para a sociedade. Lembre-
se que nós somos clientes do nosso próprio serviço. Portanto, tenha orgulho de ser policial
militar, pois você é um espelho para as outras pessoas e a referência de boas ações para sua
própria família.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar, comentários, doutrina,
jurisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores. 7ª edição. Curitiba: Juruá, 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Vade


Mecum Acadêmico de Direito Rideel / Anne Joyce Angher, organização. 20ª edição. São Paulo:
Rideel, 2015.

NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Processual Penal Militar. São Paulo:
Editora Saraiva, 2014.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Militar Comentado. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2013.

Código Penal Militar Comentado. 2ª edição revista, atualizada e ampliada. Rio de Janeiro:
Forense, 2014.

RAMOS, Dircêo Torrecillas et ali. Direito Militar: Doutrina e Aplicações. 1ª edição. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2011.

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