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DIREITO PENAL
MILITAR
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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022
AUTORIDADES
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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022
APRESENTAÇÃO
Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais
latente e veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo, aperfeiçoar os 2º
Sargentos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Paratal, o Curso ocorrerá na
modalidade à distância, disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem, por
intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância da Polícia Militar
(CEADPM).
É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá autonomia de estudos e
de horários, mas também é necessário disciplina e dedicação para o êxito dessa
jornada, pois depende do esforço coletivo e também individual para que tenhamos
policiais cada vez mais qualificados, bem treinadose aperfeiçoados para cumprirmos
nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações.
O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação
e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa
consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o
cumprimento de suas funções com dignidade e excelência.
Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através
deste curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade, seus
companheiros de profissão. Que seja um momento de repensaras práticas e fortalecer
seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com
as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro.
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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022
Desenvolvedores
CFAP
Supervisão Geral e Coordenação Pedagógica
CAP PM Ped Patrícia Kalife Paiva
Equipe Técnica
CB PM Juliana Pereira de Carvalho
Conteudista
CAP PM Leandro da Silva Neves
Coautor
MAJ PM RR Luiz Alexandre Souza da Costa
CEADPM
Diagramação
2º SGT PM Alan dos Santos Oliveira
3º SGT PM Michele Pereira da Silva de Oliveira
Design Instrucional
3º SGT PM Michele Pereira da Silva de Oliveira
Filmagem e Edição de Vídeo
CB PM Renan Campos Barbosa
SD PM Alexandre dos Reis Bispo
Designer Gráfico / Diagramação Interativa
CB PM Leonardo da Silva Ramos
Suporte ao Aluno
1º SGT PM Anderson Inácio de Oliveira
CB PM Tainá Pereira de Pereira
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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 6
1 - RESUMO HISTÓRICO ......................................................................................................................... 7
2 – OS MILITARES E A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DO BRASIL........................................................... 8
2.1 AS INSTITUIÇÕES MILITARES E SEUS MEMBROS .............................................................................................. 8
2.2 A JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO .................................................................................................................. 9
2.3 A JUSTIÇA MILITAR DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL.............................................................................. 9
3 - PRINCÍPIOS DA LEGISLAÇÃO PENAL MILITAR .................................................................................. 10
3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: ..................................................................................................................... 10
3.2 PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA: ...................................................................................................... 11
3.3 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: ............................................................................................................... 11
3.4 PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE: ................................................................................................................ 11
3.5 PRINCÍPIO DA HUMANIDADE: .................................................................................................................. 12
4 - CONCEITO DE CRIME MILITAR (ART. 9º DO CPM) ............................................................................ 12
4.1 DOS CRIMES MILITARES EM TEMPOS DE PAZ................................................................................................ 13
4.2 AS MUDANÇAS DA LEI 13.491/2017 AOS CRIMES MILITARES EM TEMPOS DE PAZ ............................................. 17
5 - CRIMES MILITARES PRÓPRIOS, IMPRÓPRIOS E EXTRAVAGANTES (OU POR EXTENSÃO) .................. 22
5.1 CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES ........................................................................................................... 22
5.2 CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES ....................................................................................................... 23
5.3 CRIMES MILITARES EXTRAVAGANTES (OU POR EXTENSÃO) ............................................................................. 24
6 - APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR ................................................................................................. 25
6.1 LEI PENAL MILITAR NO TEMPO (MOMENTO DO CRIME)................................................................................. 25
6.2 LEI PENAL MILITAR NO ESPAÇO (LUGAR DO CRIME) ...................................................................................... 26
7 - PESSOA CONSIDERADA MILITAR ..................................................................................................... 30
8- CONCEITO DE SUPERIOR .................................................................................................................. 31
9 – DO CRIME ....................................................................................................................................... 32
9.1 CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS .............................................................................................................. 32
9.2 DO CRIME CONSUMADO E DA TENTATIVA ................................................................................................... 34
9.3 DO CRIME DOLOSO E CULPOSO ................................................................................................................ 36
9.4 EXCLUDENTES DE CRIMINALIDADE (ILICITUDE) ............................................................................................. 37
9.4.1 ESTADO DE NECESSIDADE..................................................................................................................... 38
9.4.2 LEGITIMA DEFESA ............................................................................................................................... 38
9.4.3 ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL ............................................................................................... 39
9.4.4 EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO ........................................................................................................... 39
9.4.5 EMPREGO DE VIOLÊNCIA CONTRA SUBORDINADOS NA IMINÊNCIA DE PERIGO OU CALAMIDADE........................... 39
10 - PENAS PRINCIPAIS E ACESSÓRIAS ................................................................................................. 40
10.1 PENAS PRINCIPAIS ............................................................................................................................... 40
10.2 PENAS ACESSÓRIAS .............................................................................................................................. 41
11 - INFRAÇÕES DISCIPLINARES ........................................................................................................... 43
CONCLUSÃO......................................................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 45
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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022
INTRODUÇÃO
O Direito Militar sempre figurou como item das constituições republicanas brasileiras,
assinalando seus princípios e normas, bem como norteando a administração militar seu objetivo
é disciplinar as relações orgânicas dentro da caserna, através da proteção maximizada dos bens
jurídicos castrenses.
O ordenamento militar é composto por leis, regulamentos e princípios que prescrevem
os deveres e os direitos dos militares, conjugando aspectos de uma cultura própria da
administração pública.
Logo, torna-se imprescindível que os militares conheçam sua própria legislação, a qual
lhes atribui sua esfera de responsabilidade e direitos dentro das corporações. Por conseguinte,
o conhecimento do ramo do direito penal militar, tanto na posição de tutelado quanto na posição
de operador, é essencial para a vida na caserna, devendo ser adquirido nos cursos de formação
e relembrado nos cursos de aprimoramento.
Como nos ensinou o físico Stephen Hawking: "O maior inimigo do conhecimento não é
ignorância, mas a ilusão do conhecimento”.
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1 - RESUMO HISTÓRICO
1
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 50.
2
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal/Rogério Greco -12. Ed. Rio de Janeiro: Impetus,2010- Pág. 2
3
Cruz, Ione de Souza e Miguel, Cláudio Amin/Elementos de direito Penal Militar Parte Geral / Ione de
Souza Cruz e Cláudio Amin Miguel, 1ª ed. – Rio de Janeiro: Lumen Juris – Pág. 02.
4
Corrêa, Univaldo. A evolução da Justiça Militar no Brasil – alguns dados históricos. In: Direito militar:
história e doutrina – artigos inéditos.Florianópolis: Amajme, 2002, p. 9.
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Mas e as Justiças Militares? Em qual ponto da Constituição elas estão previstas e a qual
Poder da República pertencem?
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Isso foi posteriormente reforçado no ano de 2004, com a Emenda Constitucional 45, que
positivou no artigo 125, §4º da CRFB/88 - acima descrito - que os crimes dolosos contra a vida
de civis, cometido por policiais e bombeiros militares, em quaisquer circunstâncias, fossem
processados e julgados pelo Tribunal do Júri.
De acordo com o Princípio da Legalidade Penal, não há crime sem lei anterior que o
defina, não há pena sem prévia cominação legal. Tal princípio vem esculpido no Art. 5º, XXXIX,
da Constituição Federal de 1988 e no artigo 1º do Código Penal Militar.
Este princípio delimita o poder estatal, instituindo a chamada reserva legal. Ou seja, o
estado somente pode aplicar as penas de acordo com uma tipificação penal já existente
anteriormente à prática do fato delituoso.
5
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 97.
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Esse princípio aponta que o Direito Penal Militar deva se preocupar com a proteção dos
bens jurídicos mais importantes. Como nos mostra Greco6, “o legislador, por meio de um critério
político que varia de acordo com o momento em que vive a sociedade, sempre que entender que
os outros ramos do direito se revelem incapazes de proteger devidamente aqueles bens mais
importantes para a sociedade, seleciona, escolhe as condutas, positivas ou negativas, que
deverão merecer a atenção do Direito Penal”.
6
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal/Rogério Greco -12 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2010
7
ROXIN, Claus. Derecho penal: parte general. Tradução para o espanhol e notas de Diego-Manuel Luzón
Pena, Miguel Díaz García Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 1997, t. 1, p. 217.
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b) inciso II refere-se aos crimes previstos no Código Penal Militar e àqueles existentes na
legislação penal comum (Lei 13.491/2017), todos quando praticados por militares da ativa. Caso
o crime conste igual tanto no Código Penal Militar quanto na legislação penal comum, de acordo
com o princípio da especialidade deve-se utilizar a lei castrense.
Exemplo de crime que consta, com o mesmo sentido, tanto na legislação penal
comum quanto no Código Penal Militar:
CÓDIGO PENAL COMUM CÓDIGO PENAL MILITAR
Roubo Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, Art. 242. Subtrair coisa alheia
para si ou para outrem, mediante grave móvel, para si ou para outrem, mediante
ameaça ou violência a pessoa, ou depois emprego ou ameaça de emprego de
de havê-la, por qualquer meio, reduzido violência contra pessoa, ou depois de
à impossibilidade de resistência havê-la, por qualquer modo, reduzido à
impossibilidade de resistência
Exemplo de crime que consta somente na legislação penal comum, porém, após a
Lei 13.491/2017, é considerado crime militar:
Crime de Tortura
Lei 9.455/1997
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
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o tema, segue o texto do Juiz Federal e professor Marcio André Lopes Cavalcante sobre o Art.
9º do CPM: Competência da Justiça Militar, podendo ser encontrado em
http://www.dizerodireito.com.br/2017/10/comentarios-lei-134912017-competencia.html.
Resumindo, compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes militares definidos em lei (art.
124 da CF/88).
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Agora: a conduta praticada pelo agente, para ser crime militar com base no inciso II do
art. 9º, pode estar prevista tanto no Código Penal Militar ou na legislação penal “comum”.
João, coronel da PM, contratou, sem licitação, empresa ligada à sua mulher para prestar
manutenção na ambulância utilizada no HCPM.
Por quê?
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João, militar da ativa, praticou uma conduta que não é prevista como crime no Código
Penal Militar. A conduta de dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei,
tipificada no art. 89 da Lei nº 8.666/93, não encontra figura correlata no Código Penal Militar.
Assim, antes da Lei nº 13.491/2017, apesar de o crime ter sido praticado por militar
(coronel PM) contra a administração militar, o caso não se enquadrava em nenhuma das
hipóteses previstas no art. 9º do CPM. Isso porque o art. 9º exigia que o crime estivesse
expressamente previsto no Código Penal Militar.
E agora?
Atualmente, com a mudança da Lei nº 13.491/2017, a conduta de
João passou a ser crime militar e se enquadra no art. 9º, II, “e”, do CPM:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
II - os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando
praticados:
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a
administração militar, ou a ordem administrativa militar;
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JUSTIÇA MILITAR, considerando se tratar de crime militar (art. 9º, II, “c”, do CPM):
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
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II de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que
não beligerante; ou
III de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem (GLO)
ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da
CF/88 e na forma dos seguintes diplomas legais:
Como já sabemos, os crimes constantes no Código Penal Militar e nas leis penais
comuns - nas circunstâncias do art. 9º do códex castrense - são, hoje, crimes de natureza militar.
Porém, tanto a Constituição Federal quanto o Código Penal comum fazem menção a uma
espécie de crimes denominados “crimes propriamente militares”.
Não obstante, não existe positivado em nossa legislação pátria a definição de crimes
propriamente ou impropriamente militares, ficando tal distinção a cargo da doutrina e da
jurisprudência. Além disso, com o advento da Lei 13.491/17, foi criada pela doutrina mais uma
classificação, chamada de crimes militares por extensão ou extravagantes.
Contudo, independente de classificações, as três categorias (próprios, impróprios ou
extravagantes) são consideradas crimes militares, sendo processados e julgados pelas Justiças
Militares Estaduais ou da União.
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deveria ser o serviço, a disciplina, a administração ou a economia militar8”. Nesse prisma, são
as infrações previstas exclusivamente no Código Penal Militar e que somente poderão ser
praticadas por militar.
EXEMPLOS:
Abandono de Posto:
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço
que lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de
terminá-lo.
Dormir em Serviço:
Art. 203. Dormir o militar, quando em serviço, como oficial de quarto
ou de ronda, ou em situação equivalente, ou, não sendo oficial, em
serviço de sentinela, vigia, plantão às máquinas, ao leme, de ronda ou
em qualquer serviço de natureza semelhante.
Deserção:
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da Unidade em que serve,
ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias:
Já os crimes impropriamente
militares seriam aqueles previstos no
Código Penal Militar, dentro das
condicionantes do seu art. 9º, que podem
ser cometidos tanto por civis quanto por
militares. Nesse sentido, um civil que entra
em uma instalação militar (desde que
fosse das Forças Armadas) e efetua o roubo ou o furto de um armamento, ficaria sujeito a
processo na Justiça Militar da União. Se o mesmo cidadão efetuar o roubo ou furto em alguma
Unidade da Polícia Militar ou Corpo de Bombeiro Militar dos Estados, apesar desse fato
igualmente ser tipificado no Código Penal Militar, este civil será processado pela justiça comum,
uma vez que há restrição constitucional de competência da Justiça Militar Estadual, que só
poderá processar e julgar policiais e bombeiros militares (Art. 125, §4º).
8
LOBÃO, Célio. Direito penal militar. Brasília: Brasília Jurídica, 2006. p. 81;
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EXEMPLOS:
Incêndio:
Art. 268. Causar incêndio em lugar sujeito à
administração militar, expondo à perigo a vida,
a integridade física ou o patrimônio de outrem.
Desacato a militar:
Art. 299. Desacatar militar no exercício de
função de natureza militar ou em razão dela.
Extravagantes - ou por extensão - foi a nomenclatura dada pela doutrina aos novos
crimes militares inseridos pela Lei 13.491/17. Ou seja, todos aqueles
crimes que não estão no Código Penal Militar, mas somente nas leis
penais comuns, não são classificados como crimes militares próprios ou
impróprios, recebendo a classificação de crimes militares extravagantes ou
por extensão.
EXEMPLOS:
Lei 13.869/2019
Abuso de autoridade:
Art. 13. Constranger o preso ou o detento,
mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de
resistência, a:
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não
autorizado em lei;
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da
pena cominada à violência.
Lei 8.069/90
Estatuto da Criança e do Adolescente:
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda
ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
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Neste mesmo entendimento, se o militar pratica uma conduta que, naquele momento, é
considerada crime e, tempos depois, esta conduta passar a não mais ser considerada criminosa,
todos os efeitos penais irão cessar, até mesmo a condenação. Isso é o que vem previsto no Art.
2º do CPM, também conhecido como abolitio criminis:
Lei supressiva de incriminação
Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de
sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de
natureza civil.
Para definir o tempo do crime, o CPM acolheu a chamada teoria da atividade:
Art. 5º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou
omissão, ainda que outro seja o do resultado.
Desse jeito, para que uma conduta possa ser considerada crime é preciso avaliar se, no
momento da ação ou omissão, ela era tipificada como tal, bem como se o agente tinha condições
de responder pelo delito, pouco importando quando ocorreu o resultado.
EXEMPLO: Mévio, com a idade 17 anos, 11 meses e 25 dias, desfere golpes de faca
em Tício, que somente após 10 dias vem a óbito. Mévio não praticou crime de homicídio, mas
ato infracional, por ser inimputável no momento da conduta.
COMENTÁRIOS:
O nosso Código Penal Militar adotou a teoria da ação ou da atividade, afastando, assim,
as teorias do resultado e mista, uma vez que o momento da conduta (ação ou omissão) será
considerado o da prática do crime.
Para tratar sobre o lugar do crime no direito penal militar, vamos analisar primeiramente
o art. 6º do CPM:
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TEIXEIRA, Sílvio Martins. Código Penal Militar Explicado. 1996 –Pág 52
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No que tange ao lugar do crime, o CPM adotou um sistema misto (Jorge César de Assis).
Saiba mais...
04/2015.
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Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 153.
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EXEMPLOS:
Art. 137 - Provocar o militar, diretamente, país estrangeiro a declarar
guerra ou mover hostilidade contra o Brasil ou a intervir em questão
que respeite à soberania nacional.
Art. 136. Praticar o militar ato de hostilidade contra país estrangeiro,
expondo o Brasil a perigo de guerra.
Art.140. Entrar ou tentar entrar o militar em entendimento com país
estrangeiro, para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra:
Todavia, existe uma exceção, podendo militares da reserva figurarem como sujeitos
ativos de crimes que possuam a palavra “militar” em seu tipo penal.
O Art. 12 do CPM equipara militares da reserva ou reformados, que se encontram
empregados em serviços na administração militar, a militares da ativa para fins de aplicação da
lei penal militar. Vejamos então o Art. 12 do CPM:
Art.12. O militar da reserva ou reformado, empregado na
administração militar, equipara-se ao militar em situação de atividade,
para o efeito da aplicação da lei penal militar.
8- CONCEITO DE SUPERIOR
O Art. 12, § 1° do Estatuto dos Policiais Militares do Estado do Rio de Janeiro define
como se dará a ordenação hierárquica na PMERJ:
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9 – DO CRIME
11
Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 161
12
Idem, ibidem, Pág. 161 e .162.
32
DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022
Nos crimes acima, foram especificados pelo legislador que quando um militar deixasse
de realizar determinadas ações, como levar ao conhecimento de seu superior um crime de motim
ou de responsabilizar um subordinado, estaria cometendo um delito.
Reparem que ambos os delitos não ocorrem por uma ação perpetrada pelo agente, mas
por uma omissão, ou seja, ele deixa de realizar algo que a lei especificou literalmente como sua
obrigação. Tais delitos são conhecidos por crimes omissivos próprios, ocorrendo quando há uma
previsão direta na lei responsabilizando a omissão desses sujeitos
Porém, existe uma outra modalidade de crimes omissivos, chamada de crimes omissivos
impróprios ou comissivos por omissão.
Nos crimes omissivos impróprios, determinadas pessoas, que a doutrina denominou
como “agentes garantidores”, deveriam, por obrigação legal (não necessariamente penal), tomar
providências para evitar um resultado danoso que possa ser consumado devido a sua omissão.
A previsão dos crimes omissivos impróprios consta no art. 29, §2º do Código Penal
Militar, que diz:
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Reparem que o crime o qual o bombeiro militar respondeu não foi o de prevaricação,
mas o de homicídio simples, julgado no Tribunal do Júri, como se ele tivesse tido a intenção de
matar a pessoa afogada. Isso decorre, tendo em vista a sua omissão ter sido considera como
um nexo causal direto da morte da vítima. De igual forma, uma mãe, que é agente garantidora
perante seu filho, sabendo que a criança é agredida costumeiramente pelo padrasto, não toma
providências, vindo o menor, em dado momento, devido às agressões, a óbito. Essa mãe
responderá juntamente com o padrasto pelo crime de homicídio doloso.
Finalmente, em relação ao serviço policial militar, responderia por roubo um policial que,
devendo e podendo, não atendesse a um assalto que soubesse estar em andamento. Assim,
como agente garantidor, a omissão desse policial seria considerada relevante como a própria
causa do crime.
A doutrina divide a ação criminosa em várias fases. Essas fases, ou caminho, são
percorridas pelo agente que busca efetivar o delito pretendido, recebendo o nome de iter criminis.
O iter criminis é divido em:
a) Cogitação – o indivíduo pensa em cometer o delito;
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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022
Durante essas fases, pode-se ou não chegar à consumação do crime, que é o resultado
finalístico pretendido com a ação delituosa. Assim, se a intenção final do autor do delito é tirar a
vida de alguém, a consumação do crime ocorre quando a vítima, definitivamente, deixa de viver.
Já no roubo, a consumação se dá quando o agente tira para si, ou para outrem, coisa alheia
móvel, utilizando-se, para isso, da violência ou grave ameaça. Nesse sentido, aponta o CPM:
Art. 30. Diz-se o crime:
Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua
definição legal;
Todavia, o crime pode, por algum motivo alheio à vontade daquele que o está
cometendo, não se consumar. Ou seja, não reunir todos os elementos para sua definição. Por
exemplo, no crime de homicídio, após alguém disparar com uma arma de fogo três vezes em
direção da vítima e acertá-la, ela não morre graças ao atendimento médico. A vítima, nesse caso,
somente não morreu por um motivo alheio à vontade de seu agressor, qual seja, o atendimento
médico. Diz-se, desse modo, que o crime foi tentado. Nessa hipótese, o mesmo artigo 30 do
CPM prevê:
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Dessa feita, no caso de crimes tentados, como o mal causado à vítima é inferior ao
daquele que ocorreria no crime consumado, a pena, consequentemente, também é menor,
sendo diminuída de um a dois terços. Repare que o CPM prevê que, a depender do caso em
concreto, quando o juiz entender que há uma gravidade excepcional, mesmo nos crimes tentados
a pena pode ser a mesma aplicada a do crime consumado.
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Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 856.
14
Idem, p. 471.
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DIREITO PENAL MILITAR – CAS 2022
Em relação aos crimes culposos, estes se configuram quando o agente não quer ou
tampouco assume o risco de produzir o resultado. Porém, mesmo assim, esse resultado ocorre
por uma inobservância de um dever de cuidado que esse agente deveria ter tomado
anteriormente. As espécies de modalidade culposa são a imprudência, a negligência e a
imperícia.
A primeira modalidade, denominada imprudência, ocorre pela ação precipitada e sem
cuidado do agente em realizar algo com a devida cautela. Assim, um policial que ao revistar
alguém com o dedo no gatilho, realiza um disparo acidental e fere o indivíduo revistado, age com
imprudência.
Já a negligência ocorre por displicência, por omissão, pela preguiça ou pelo desinteresse
em tomar determinadas cautelas que lhe eram exigíveis. O motorista da viatura policial que tem
como dever realizar a manutenção de primeiro escalão, porém, por preguiça, não a faz, saindo
com o veículo com o pneu sem condições de transitar, e por causa disso ocasiona um acidente,
matando alguém, incorre no homicídio culposo devido a sua negligência.
E, por último, temos a imperícia, caracterizada pela falta de conhecimentos técnicos em
realizar determinado ato referente a sua profissão. Dessa maneira, um policial que retira da
reserva um armamento que não sabe utilizar e, devido a isso, fere um companheiro de serviço
por um disparo acidental, comete uma lesão corporal culposa na modalidade da imperícia.
Por fim, o parágrafo único do artigo 33, do CPM, dispõe que os crimes culposos são uma
exceção, somente existindo quando houver estrita previsão legal.
Exemplo:
Homicídio culposo
Art. 206. Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a quatro anos.
Portanto, caso a lei não preveja a modalidade culposa de algum crime, esse somente
poderá ser cometido de forma dolosa.
O Código Penal Militar enumera cinco excludentes de ilicitude em seu artigo 42, sendo
elas:
I - estado de necessidade;
II - legítima defesa;
III - estrito cumprimento do dever legal;
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Na legítima defesa, o agente deve estar sob risco de perigo atual e iminente, agindo de
forma moderada a repelir a injusta agressão que estejam realizando contra ele. Caso o perigo
não seja atual e iminente, não se configura a legítima defesa. Se o agente agir de forma
imoderada, responderá pelo excesso doloso ou culposo, de acordo com os artigos 45 e 46 do
CPM:
Excesso culposo
Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime,
excede culposamente os limites da necessidade, responde pelo fato,
se este é punível, a título de culpa.
Excesso escusável
Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável
surpresa ou perturbação de ânimo, em face da situação.
Excesso doloso
Art. 46. O juiz pode atenuar a pena ainda quando punível o fato por
excesso doloso.
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No caso do exercício regular do direito, a lei cria uma excludente para que determinados
agentes possam realizar algumas ações sem que respondam criminalmente por elas.
É o exemplo do médico que, ao operar uma pessoa, realiza cortes em seu corpo, o que,
em tese, configuraria o crime de lesão corporal. Ou um lutador de boxe, que mesmo aplicando
diversos socos contra seu adversário, lhe causando sérias lesões corporais, também estará
amparado pela essa excludente de criminalidade.
Finalmente, no âmbito castrense, podemos tomar como exemplo o treinamento em um
curso de operações especial, cujos instrutores submetem, de forma técnica, os alunos a
constrangimentos e sofrimentos físicos ou mentais, porém, óbvio, sem que ocorram abusos.
Por fim, o Código Penal Militar prevê uma excludente inexistente no Código Penal
comum, devido a sua própria natureza. É a possibilidade do comandante de um navio, aeronave
ou praça de guerra necessitar, devido à iminência de perigo ou calamidade, cometer violência
contra seus subordinados a fim de evitar um mal maior.
Em que pese não haver previsão de quais meios violentos possam ser executados contra
os subordinados, entende-se que até mesmo a violência que cause morte, caso seja necessária
e proporcional naquela situação, poderá ser realizada.
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O art. 55 do Código Penal Militar faz previsão das seguintes penas principais: morte,
reclusão, detenção, prisão, impedimento, suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou
função e reforma.
Penas principais
Art. 55. As penas principais são:
a) morte;
b) reclusão;
c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função;
g) reforma.
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comparecimento regular à sede do serviço. Não será contado como tempo de serviço, para
qualquer efeito, o do cumprimento da pena. ”
REFORMA – sujeita o militar à situação de inatividade, sendo prevista no art. 65 do CPM.
Dessa forma, o militar condenado a esta pena deverá receber vencimentos proporcionais ao
tempo de serviço não podendo mais retornar à ativa.
Agora vamos falar das penas acessórias, previstas no art. 98, do CPM:
Penas Acessórias
Art. 98. São penas acessórias:
Art. 142, VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato
ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de
paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
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Art. 142, VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de
liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao
julgamento previsto no inciso anterior.
Art. 42, § 1º - Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º;
e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142,
§ 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores.
EXCLUSÃO DAS FORÇAS ARMADAS – prevista no art. 102 do CPM. Esta pena
acessória deve constar expressamente da sentença que condena a praça à pena privativa de
liberdade superior a dois anos.
Por força também do parágrafo 4º, do art. 125, da Constituição Federal, na Justiça Militar
Estadual, a exclusão da praça das forças armadas ou auxiliares dependerão de decisão do
Tribunal, não funcionando como pena acessória.
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11 - INFRAÇÕES DISCIPLINARES
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Neves, Cícero Robson Coimbra / Manual de direito penal militar / Cícero Robson Coimbra Neves,
Marcello Streifinger. – 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012 – Pág. 54.
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar, comentários, doutrina,
jurisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores. 7ª edição. Curitiba: Juruá, 2013.
NEVES, Cícero Robson Coimbra. Manual de Direito Processual Penal Militar. São Paulo:
Editora Saraiva, 2014.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Militar Comentado. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2013.
Código Penal Militar Comentado. 2ª edição revista, atualizada e ampliada. Rio de Janeiro:
Forense, 2014.
RAMOS, Dircêo Torrecillas et ali. Direito Militar: Doutrina e Aplicações. 1ª edição. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2011.
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