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Alcindo José de Sá
RESUMO
ABSTRACT
In spite of all technical and scientific advances in the field of food production, the
world still faces the problem of famine in quite severe perspectives. These are
endemic or epidemic famines, resulting from a cruel socio-economical model in which
an extravagant abundance prevails in some areas, opposed to an irresponsible lack
in many others. Such situations arise within the prevailing market oriented structures,
feeble policy making strategies, or military conflicts which result in thousands of
emaciated human beings. The following article, as part of a dissertation work, try to
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recover some historical processes involved in the spreading of famine in the world as
well as in Brazil, until the decade of 1940, aiming at understanding the contemporary
famine episodes.
Keywords: Josué de Castro, famine in Brazil and the World, decade of 1940.
1. Introdução
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torno de sua subsistência, de acordo com a região geográfica em que habita, do
espaço, do meio ambiente e tipo de vida.
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[...] é o Brasil mais abastado de mantimentos que quantas
terras há no mundo, porque nele se dão os mantimentos de
todas as outras. Dá-se trigo em São Vicente em muita
quantidade, e dar-se-á na maior parte cansando primeiro as
terras, porque o viço lhe faz mal. Dá-se também em todo o
Brasil muito arroz, que é o mantimento da Índia Oriental, e
muito milho zaburro que é o das Antilhas e Índia Ocidental. Dão-
se muitos inhames grandes, que é o mantimento de São Thomé
e Cabo Verde, e outros mais pequenos, e muitas batatas [...].
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obtiveram sucesso, fazendo com que passassem a exigir que se plantasse mandioca
no lugar da cana. Orientados exclusivamente para obter os rendimentos
provenientes do açúcar, os senhores de engenho e lavradores não estimulavam seus
escravos a plantar roças de mandioca, nutrimento básico da população, situação que
contribuía para as crises de abastecimento. No edital de 18 de janeiro de 1838,
Maurício de Nassau determinava que os senhores de terras e lavradores de
canaviais e de roças plantassem duzentas covas de mandioca por escravo que
possuíssem, dando ele mesmo o exemplo, plantando junto à sua residência, um
vasto pomar, com inúmeras variedades de frutas: laranjas, limoeiros, romãzeiras,
figueiras, coqueiros, limões-doces, mamoeiros, jenipapeiros, mangabeiras, cajueiros,
entre outras.
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De acordo com Magalhães (2004), a escassez e a carestia de víveres foram
corriqueiras desde os primórdios da colonização do Brasil. O sistema econômico que
se montava, não permitindo atividades diversificadas, foi marcado pela exigüidade do
mercado interno, bem como pelas condições inerentes ao sistema produtivo geral, no
qual se inseria.
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A carestia, também, era um dos fatores que atingia a mandioca e todos os
gêneros que pudessem substituí-la, como o milho e o feijão. Diante dessa realidade,
não só as pessoas pobres que consumiam mandioca eram atingidas, os senhores de
engenho também sentiam os efeitos da inflação, uma vez que a manutenção de
ração de suas vastas escravarias tornava-se problemática (MAGALHÃES, 2004).
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de alimentos cresceu, mas em torno de 1920, começou a ter a concorrência acirrada
do mercado internacional (ROCHA e GUEDES, 2006; BONFIM, 2000).
Foi nos anos 40 que surgiu a preocupação com a contagem de pessoas que
passavam (e ainda passam) fome no Brasil, ou seja, com os mapas da fome que são
utilizados como "fotografia" do problema. Josué de Castro no seu clássico ‘Geografia
da Fome’ foi o responsável pelo primeiro mapa da fome do país, acompanhado de
seus determinantes e apontando vias para a superação do problema.
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Conforme Lima (1998), na década de 1930, do século XX, a sociedade
brasileira se voltava para a perspectiva da consolidação de demandas e mudanças
sociais, políticas, econômicas e culturais, comprometidas com a reorientação dos
rumos do país, momento em que um novo Estado se reorganizava e assumia a
tarefa de orientar o próprio desenvolvimento social. Dentro deste quadro, as teorias
raciais precisavam ser superadas, pois a realidade social impunha outro tipo de
interpretação do Brasil,
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social ao lado de outros fatores aos quais estavam ligados, por conexão do meio, por
influências mútuas:
Referências
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LIMA, E. da S. Gênese e constituição da educação alimentar: a instauração da
norma. História, Ciências, Saúde — Manguinhos, V(1): 57-83 mar.-jun., 1998.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Fome e conflito social: uma história que vem de
longe. Ciência Hoje, vol.17, n. 100, p.39-43, 1994.
VIEIRA, Antônio. Obras escolhidas. Cartas do Padre Antônio Vieira. 2 vols. Lisboa:
Livraria Sá da Costa, 1951.
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