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UEG- Pós-Graduação em Identidade, Cultura e Região

Campus Cora Coralina- Itapuranga-GO


Disciplina: Cultura Historiográfica Brasileira
Professor: Aulo Plácio Gontijo Neiva
Aluna: Maria Cecília Ribeiro Abdalla

A formação da agro aristocracia brasileira.


O desenvolvimento socioeconômico brasileiro está interligado ao processo de
colonização portuguesa que estabeleceu no território nacional, uma sociedade tipicamente
rural, mantendo suas características econômicas, políticas e culturais até os dias de hoje.
Os portugueses tiveram como sua maior missão histórica, a colonização e
conquistas das regiões dos trópicos. Eles haviam procurado rotas alternativas para se
chegar ao oriente. A expansão marítima portuguesa, embora tardia, era a única alternativa
para manter a economia de pé.
As descobertas de novas terras, a princípio não traziam a ideia de povoamento
imediato, era o comércio que interessava. As condições climáticas tropicais eram um
empecilho para o povoamento a princípio, pois os portugueses, acostumados ao clima
ameno da Europa, não viam atrativos para tal ocupação e a Europa havia passado por
grandes baixas populacionais em decorrência da grande peste do final do século XIV, o
que reduziu drasticamente o contingente populacional, causando uma grande crise
financeira e fome; isso dificultaria a transferência de habitantes para a colônia.
A atividade econômica na colônia iria permanecer extrativista até o terceiro
decênio do século XVI.
Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, afirma que “essa exploração dos
trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não
emanou de uma vontade construtora e energética: fez-se antes com desleixo e certo
abandono. ”
A ocupação inicial do território é feita por agentes de comércio, funcionários do
governo e militares para a defesa do território por possíveis invasões estrangeiras.
Assim, o Sistema de Capitanias implantado em 1534 pela Coroa Portuguesa na
colônia foi a primeira forma de povoamento já com moldes voltados para o modelo
latifundiário. O plano consistia em dividir o território costeiro da Colônia em 12 setores
com extensões de 30 a 100 léguas. Estes territórios eram doados a titulares que gozariam
de regalias e poderes soberanos. A cultura da cana – de – açúcar era o alvo desses
comerciantes pelo alto valor de mercado do produto.
A grande propriedade rural será acompanhada pela monocultura e o trabalho
escravo. Associado à exploração da cultura de cana- de - açúcar, a propagação do
evangelho pela Igreja Católica foi outro propulsor da colonização. As expedições
catequéticas (missionárias) passaram a ingressar o plano de colonização brasileiro.
Assim, o povoamento da colônia não segue um padrão de desenvolvimento, mas retoma
costumes bárbaro como fumar, comer milho, mandioca, abóbora, taioba, cará, inhame;
dormir em redes, construir casas de cipó, caçar, pescar, enfim, usos e costumes
assimilados dos habitantes locais (indígenas) e a miscigenação tem também seu início.
José Carlos Reis em sua obra “ As identidades do Brasil”, ressalta a visão de
Varnhagen sobre essa miscigenação na sociedade brasileira, principalmente com a
presença do negro pautada na ideia de “um desprestígio da raça brasileira. ” Cita ainda a
visão de Gilberto Freyre da defesa de colonização portuguesa no Brasil, como sendo um
sucesso pois Freyre, deferente de Varnhagen não pensava no Brasil em termos raciais e
sim culturais.
O certo é que, do ponto de vista social, a visão do Brasil é senhorial, visto da Casa
Grande; essa visão nos revela uma sociedade aristocrata, latifundiária e escravista. A
produção canavieira teve índole sem capitalista, orientada para o consumo externo,
pautada numa produção de natureza perdulária, sem zelo pela terra. Havia pouca
mecanização da produção, os métodos rudimentares não propiciavam o aumento
substancial da produção, mas a mantinha em um patamar de lucro que viabilizasse a sua
manutenção. Essa situação dificultava a produção em determinadas áreas e levava aos
colonos a busca de novos locais que facilitassem o processo da produção território
adentro.
A preocupação dos portugueses era a busca de riquezas a qualquer custo. A busca
de especiarias, nas Índias foi um exemplo disso.
Com os altos custos de produção, a transitoriedade do domínio dessas terras era
alta, raramente se mantendo sob o mesmo domínio de posse por duas gerações.
Percebemos que ainda em nossos dias algumas regiões agrícolas preservam métodos
rudimentares de produção que prejudicam e promovem o manuseio predatório da terra
com a utilização de fogo e derrubadas desordenadas.
Instaura-se na Colônia o trabalho escravo nas propriedades monocultoras,
inicialmente com os indígenas, o que não dura muito, devido o confronto entre natureza
nômade destes indígenas nativos e e a atividade exaustiva e rotineira imposta pelo
colonizador. Substituídos pelos negros africanos, Portugal esperava solucionar o
problema da mão de obra, processo esse que perdurou até o final do Período Colonial
brasileiro.
Seja com os escravos indígenas ou africanos, a organização das grandes
propriedades rurais açucareiras coloniais foi sempre a mesma: uma grande propriedade
que reúne em um mesmo conjunto produtivo, um número relativamente considerável de
indivíduos reunidos sob a liderança do seu proprietário ou feitor. É uma unidade de
exploração em larga escala, diferente da pequena propriedade de produção de subsistência
dominante na Europa à época.
Caio Prado Jr. Em História Econômica do Brasil afirma:
“ Durante mis de século e meio a produção do açúcar, (...),
representará praticamente a única base em que assenta a
economia brasileira (...), a colonização brasileira, superados
os problemas e as dificuldades do primeiro momento,
desenvolveu-se rápida e brilhantemente, estabelecendo-se
cada vez mais para novos setores. ”
Vemos essa extensão na produção do tabaco a partir do início do século XVII. A
prática subsidiária da cultura canavieira era praticada no próprio latifúndio e era voltada
para a subsistência da propriedade. Nesse cenário, a prática da produção canavieira gerou
um problema no abastecimento dos núcleos urbanos, onde a escassez de alimentos era
frequente. Uma vez que a subsistência dos Engenhos era feita por eles mesmos, o
abastecimento dos núcleos urbanos ficava em segundo plano. Embora os núcleos urbanos
viessem aumentando ao longo dos anos , principalmente após o início do período da
mineração , as grandes propriedades de terra de produção de cana-de-açúcar permaneciam
na mãos de um seleto grupo de proprietários ligados diretamente a Corte .Assim, a
formação social brasileira processada de 1532 em diante é formada por famílias rurais e
semi rurais , sejam elas pessoas casadas vindas do reino , ou de famílias constituídas da
união de colonos com mulheres caboclas ou moças vindas de Portugal por padres
casamenteiros. A família colonial reuniu uma variedade de funções sociais e econômicas
inclusive a do mundo político: o oligarquismo e o nepotismo.
Mesmo com a vinda da Família Real para o Brasil e o processo de Independência,
o processo de produção agrícola permanece latifundiário e monocultor, agora com a cultura
do café em ascensão na região do Oeste Paulista. Além das plantações a fazenda produtora
conta agora com instalações diferenciadas e dependências diversificadas que fazem dela
um conjunto complexo, vultoso, e, em grande parte, autossuficiente. É a repetição do que
se observava nos grandes Engenhos de cana- de- açúcar. Social e politicamente foi a mesma
coisa, O café deu origem à última das três grandes aristocracias do país, após os senhores
de engenho e mineradores, os fazendeiros de café se tornam a elite social brasileira. Assim,
a economia brasileira permanecia presa num círculo vicioso: ainda se fundava naquilo que
constituía sua fraqueza orgânica- a grande lavoura produtora de gêneros de exportação.
A grande propriedade produtora, base da riqueza nacional, era também
responsável pela acanhada perspectiva econômica do país. A expansão da lavoura cafeeira
notada a partir dos últimos decênios do Império chega ao seu apogeu com o advento da
República, mantendo-se voltada para a produção em larga escala e de produção extensiva,
a economia brasileira presencia seu próprio crescimento estimulado por fatores internos e
externos.
Externamente se vê o incremento do consumo externo (Europa) com a retomada
do crescimento e desenvolvimento do comércio internacional em decorrência do aumento
do nível de vida, da industrialização e aperfeiçoamento dos transportes. Internamente, o
aumento da mão de obra com o fim da escravidão e aumento do trabalho livre, o que
aumentou consideravelmente a imigração.
Repetia-se mais uma vez o ciclo normal das atividades produtivas do Brasil: uma
fase de intensa e rápida prosperidade, segue-se outra de estagnação e decadência. A causa
é sempre a mesma: o acelerado esgotamento das reservas naturais por um sistema de
exploração descuidado e extensivo. Só será particularmente sensível no caso que temos
agora presente. Estes terrenos de fortes declives onde se plantam os cafezais, não
suportariam por muito tempo o efeito do desmatamento de florestas e da exposição do solo
desprotegido à ação das intempéries. O processo de erosão foi rápido. Os produtores agiam
sem o menor cuidado e resguardo: a mata foi arrasada sem preocupação nenhuma; plantou-
se o café sem atenção à preservação do solo, mas unicamente ao rendimento imediato.
Como explana Caio Prado Júnior, “ o desleixo se observa na própria distribuição
das plantas em que se adotou o plano simplista e mais cômodo expedito em fileiras em
linha reta, perpendiculares à encosta: não havia disposição mais favorável à ação da erosão.
O resultado de tudo foi desastroso: bastaram um pouco de decênios para se revelarem
rendimentos aceleradamente decrescentes, enfraquecimento das plantas, aparecimento de
pragas destruidoras. A consequência foi a decadência esperada: empobrecimento,
abandono sucessivo das culturas e rarefação demográfica.
Outro resultado desse sistema é a distinção entre “meio urbano” e o “ meio rural”
que, em nosso caso foi o avesso do que era regra na Europa; o meio rural brasileiro se
desenvolve mais que o meio urbano. Como atesta Sérgio Buarque de Holanda em Raízes
do Brasil:
“ Sem o incremento das cidades, e a formação de
classes não agrárias(...), o que tem sucedido
constantemente é que a terra entra a concentrar-
se, pouco a pouco, nas mãos dos representantes
de tais classes, que residem em geral, nas cidades
e consomem a produção dos elementos rurais,
sem lhes dar, no entanto, o equivalente
econômico do que recebem. ”
Assim, o que é percebido naquele período é que os centros urbanos brasileiros
nunca deixaram de se ressentir fortemente da ditadura nos domínios rurais.
Na década de 30, com a instauração do regime ditatorial de Getúlio Vargas, o
Estado Novo acabou com o arranjo político da República Velha (café com leite), mas o
café não só continuou forte como foi importante para separar a crise mundial nos anos
seguintes. O mecanismo de defesa do café dependia dos financiamentos externos e das
exportações para a sua manutenção, contudo com a crise de 1929 nos Estados Unidos
(EUA), que afetou todo o mundo, o crédito cessou.
A crise da década de 1930 produziu grandes restrições nas importações, com a
quedada renda das exportações. Esse estrangulamento externo proporcionou a produção de
vários produtos industrializados no mercado interno, o que propiciou o início da
industrialização do país. Essa expansão industrial promoveu o subsequente êxodo rural da
população em busca de trabalho nos centros urbanos transformando o país que deixou de
ser predominantemente rural nas décadas seguintes aos da crise de 1929. Em 1940,
31,24%dos brasileiros viviam no meio urbano, enquanto no censo de 2000 esse percentual
subiu para 81,23%.
Se por um lado com a industrialização a agricultura deixou de ser a grande
geradora de riquezas do país, por outro lado introduziu a modernização dela,
principalmente com a mecanização, viabilizando o aumento acentuado da produção a partir
da segunda metade do século XX.
Em Goiás também percebemos a supremacia da atividade agrária extensiva desde
a implantação do Estado e da decadência da mineração.Com a queda das importações e
exportações o comércio local foi bastante afetado o que promoveu a saída de parte da
população do território goiano retornando à São Paulo e outra parcela da população
dispersa dos centros urbanos locais para a zona rural, dedicando-se à criação de gado ou
agricultura. Isso proporcionou o processo de independência do Estado e criação da nova
província de Goyaz. Em 1749, Goiás se torna a região independente passando a ter um
governo próprio. O primeiro presidente de Goiás nomeado por D.Pedro foi Dr.Caetano
Maria Lopes Gama, que assumiu o cargo em 14 de setembro de 1824. Em Goiás não houve
mudanças marcantes de Colônia para Império; a pecuária, após a decadência da mineração,
oferece modificações bastante discretas. Durante o século XIX a população de Goiás
aumentou continuamente, não só pelo crescimento vegetativo, como pelas migrações de
estados vizinhos. Os índios diminuíram quantitativamente e a contribuição estrangeira foi
inexistente. A pecuária extensiva tornou-se o setor mais dinâmico da economia local.
Assim, as grandes propriedades extensivas continuam grandes propriedades extensivas
continuam predominando no panorama econômico também do nosso estado. Com uma
sociedade aristocrática firmada no local, o Brasil tem promulgada a sua primeira
Constituição em 25 de março de 1824. Essa Carta Magna regeu o Brasília até o advento da
República em 1889. Aqui em Goiás os presidentes exerciam grande influência na vida
política; eram eles de livre escolha do poder central, sem vínculos familiares com a terra
local, descontentando os políticos locais, isso faz com que Goiás tenha uma vida medíocre
no transcorrer do século XIX, não participando de forma efetiva do desenvolvimento do
Brasil percebido a partir dos anos 1950 e acelerando à partir da década de 1970. O processo
de Proclamação da República em Goiás só se tornou conhecido em 28 de novembro do
mesmo ano, treze dias depois pois aqui não possuía telégrafo e as correspondências vinham
por mensageiros a cavalo uma vez que a Estrada de Ferro não chegava aqui ainda. Os
efeitos da Proclamação da República em Goiás prenderam-se a meras questões
administrativas e políticas. A economia permanece agropastoril. No cenário político
despontava a luta pelo poder dos Bulhões que tinham seu representante em Guimarães
Natal.
Com a renúncia de Deodoro da Fonseca no poder central, os Bulhões retornam ao
poder em Goiás, consolidando seu domínio político. Era um governo oligárquico liderado
por José Leopoldo. Em 1904, ocorre um fracionamento do grupo, sob a liderança de Xavier
de Almeida que conseguiu afastar os Bulhões do poder.
No entanto, em 1908, em decorrência de uma eleição para o Senado, Goiás viveu
um clima de intranquilidade política, desencadeando uma revolução em 1909; nesse
conflito os Bulhões saem vitoriosos com o apoio de Eugênio Jardim e Antônio Ramos
Caiado, que posteriormente se tornaram fortes políticos no cenário regional e nacional. O
quadriênio bulhônico perdura até 1918, quando em um desentendimento entre os Jardim-
Caiado e os Bulhões, os primeiros apoiam Hermes da Fonseca e derrotam os Bulhões. Em
1912, a elite dominante na política goiana vai ser dos Jardim-Caiado, popularmente
conhecido como” Caiadismo”. Antônio Ramos Caiado passa a ser Presidente de Goiás,
vindo a permanecer no poder até 1930, com a ascensão de Pedro Ludovico Teixeira.
A economia goiana nessa época era quase de subsistência a produção era local e
para o consumo sendo muito pequeno o comércio interno e a circulação de moeda. A
grande massa da população trabalhava na agricultura. A criação de gado era, contudo, o
setor mais dinâmico da economia, por ser o gado em pé o produto de mais fácil exportação
e quase o único exportado em quantidade apreciável.
Com a construção da Estrada de Ferro, a produção do arroz para exportação
aumentou rapidamente; no período de 1928 a 1932, a exportação já alcançava a metade do
valor da exportação de gado. Também crescia a exportação do café. Embora as exportações
aumentassem, a economia em seu conjunto continuava sendo uma economia de
subsistência. A escassez da moeda e meios de pagamento, a inexistência de vida urbana e
a dificuldade de comunicação impedia a produção para o exterior mediante a exportação
em maior escala, mas a produção exportada para outros Estados e mercados consumidores
ficava concentrada nas propriedades de grande porte voltadas para a produção extensiva
que se concentravam nas mãos das oligarquias locais. Em todo o Estado, continuava
dominando a grande propriedade rural, o latifúndio: só as grandes fazendas podiam vender
o excedente à dinheiro, com que compravam o sal, aramar, pólvora e chumbo, e outras
coisas imprescindíveis para a vida local e que não eram produzidas na fazenda. Em Goiás
a terra e, consequentemente, sua valorização, só se dariam com o processo de urbanização.
A Revolução de 30 não foi uma revolução popular nem uma revolução de minorias
com objetivos sociais. Foi uma revolução feita por grupos heterogêneos da classe
dominante de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, grupos militares (Tenentistas) e das
classes médias, sem uma ideologia constituída.
Em Goiás, esse movimento teve o apoio da classe dominante descontente. Os
grupos oposicionistas se concentravam em Rio Verde, Inhumas e Anápolis. A participação
efetiva de Goiás na Revolução de 30 limitou-se a ação pessoal do Dr. Pedro Ludovico
Teixeira. Ao explodir a revolução em 04 de outubro de foi reunido um grupo de 120
voluntários no Triângulo Mineiro para tentar invadir o Sudoeste de Goiás culminando na
prisão de Pedro Ludovico. Um grupo procedente de Paracatu, comandado pelo Coronel
Quintino Vargas chegou à Cidade de Goiás e o médico mineiro Carlos Pinheiro Chagas
tomou o poder. Isso instaurou em Goiás um novo governo provisório composto de três
membros; entre eles estava o Dr. Pedro Ludovico Teixeira que, nomeado interventor,
governou Goiás por 15 anos.
A Revolução não provocou nenhuma mudança social, mas trouxe uma revolução
política.
Muitos jovens, politicamente novo vão assumir cargos no governo. Mas a ditadura
seguiu-se ao longo dos anos seguintes. Nesse período o grande empreendimento do Estado
foi a construção de Goiânia.
A situação do novo governo nascido da revolução, era radicalmente diferente com
respeito da mudança da capital. A cidade de Goiás era o centro do poder da oligarquia
dominante antes da revolução. A criação de uma nova capital rompia com essa ligação e
criava um novo símbolo do novo poder dominante. A construção de Goiânia promoveu a
abertura de novas estradas, tornando-se centro de ligação dentro do Estado e com outros,
favorecendo a imigração e, consequentemente, o povoamento do Mato Grosso Goiano.
A alta taxa de natalidade populacional e o aumento da imigração determinaram
um crescimento econômico acelerado nesse período. Entre as décadas de 1950 e 1970 esse
crescimento foi se intensificando em escala crescente. Ao longo das décadas de 1940 e
1960, após a queda do Estado Novo, termina o período intervencionista em Goiás. A partir
de 1946, esboça-se o pacto populista, dando início a uma nova fase por meio do PSD
(Partido Social Democrático). Abre-se uma nova fase na história do Brasil e de Goiás. O
Pacto Comunista foi uma aliança poli classista que, apesar de se consolidar a partir de 1946,
nasceu com a Revolução de 1930, marcando o surgimento do Estado Burguês Brasileiro,
por meio da UDN (União Democrática Nacional), que defendia a associação com o capital
externo. Nesse cenário, permanece aqui em Goiás o “ ludovicismo” de meados da década
de 1960. Em 1961, assume o poder Mauro Borges Teixeira, filho de Pedro Ludovico
Teixeira, que traz um governo inspirado no Plano de Metas do Governo de Juscelino
Kubistchek, onde promoveu o crescimento das fronteiras econômicas do Estado por meio
de um governo planejado, que teve como principal característica a retomada da Marcha
Para o Oeste e a implantação de uma Reforma Agrária inspirada em modelos praticados
em Israel, tendo uma organização pautada a partir da produção cooperativa e coletiva,
fundada na propriedade particular. Esse plano só foi possível de execução em razão de dois
fatores: a expansão do capitalismo no país, que passou a exigir mais a integração de Goiás
no processo econômico, o que fortalecia a intervenção do Estado, e o fato de a principal
base de governo constituir-se na organização de produtores rurais e trabalhadores rurais.
A estrutura fundiária de Goiás não se diferencia muito da situação do país, onde
se observa um evidente processo de concentração de propriedade. Os principais aspectos
identificados são referentes à interiorização da ocupação agrária, as características do novo
padrão agrário e a questão social no campo. Fica evidenciado, nesse processo, a aceleração
da ocupação das terras de fronteiras e o contraste entre o dinamismo da década de 1970 e
a desaceleração do crescimento da década de 1980. O questionamento da questão fundiária
ou a sua percepção não é de hoje, através dos grandes números, emergem questões
associadas a excessos de incorporação de terras; expansão de alguns usos de propriedades;
adoção indiscriminada de práticas modernas ou carências de terras para grandes segmentos
da população; assistência técnica; formas associativas discriminadoras da pequena
população, emergindo das diferenciações espaciais do Norte e do centro-sul de Goiás.
A expansão agrária constituía-se em aspecto relevante fundamental na
caracterização domiciliar de Goiás. O surgimento de novas cidades a partir da Marcha para
as Oestes formas responsáveis diretamente pelo povoamento do Estado. Acompanhando a
tendência do processo de industrialização, durante a década de 1980, paulatinamente, Goiás
deixa de ser um estado eminentemente rural, grande produtor agropecuário, para tornar-se
um estado onde as indústrias encontravam boas condições para se instalarem, por trás de
vários fatores facilitadores estava o fator Brasília, que ao contrário do que tenham os
governantes goianos, só veio trazer benefícios para Goiás.
A década de 1980 é caracterizada como o período de novas mudanças nas
economias dos Estados e do país. O período vigoroso da industrialização entrava em
declínio e se fazia necessário encontrar outro meio para voltar ao crescimento. A solução
encontrada foi retomar as atenções para a produção agrícola. Assim, a agricultura, que já
era forte em Goiás, continuou a puxar a pauta produtiva do Estado. Nesse período, um novo
produto é introduzido nas lavouras goianas, a soja. O processo produtivo se mantém
voltado mais uma vez para a produção de exportação, retomando a força da propriedade
monocultora de característica latifundiária, mas agora, com as inovações tecnológicas,
tornando o agronegócio um segmento informatizado e de tecnologias avançadas. Daí a
criação de um slogan de campanha publicitária que diz: “ Agro é tech, Agro é pop; Agro é
tudo”.
O espaço rural começou a ser vendido pela mídia como um produto de riqueza
para o mercado, tendo como ponto de partida a terra na condição de negócio. Nessa
perspectiva, no Brasil, com as articulações entre grandes corporações e o Estado a partir da
década de 1990, o agronegócio se expande e se apropria da terra e dos frutos dela,
utilizando do discurso que é o único modelo com capacidade de combater a fome e gerar
empregos.
A propaganda nos intervalos de noticiários de TV, novelas, e salas de cinema,
repete imagens coloridas o sucesso do agronegócio brasileiro: “Agro é tech; Agro ´´e pop;
Agro é tudo”, será?
O agronegócio, na condição de agricultura moderna, deixa de ser somente
“primário”, ou seja, começa nos insumos, passa pela agropecuária e termina na forma de
comida, bebida, roupa, energia, plástico, etc., considerando-se, com isso, rentabilidade.
Contudo, para se materializar esse modelo produtivo há uma necessidade de grandes
propriedades que são apropriadas por empresas capitalistas, cuja finalidade é apropriação
dos frutos da terra. Nessa perspectiva, o negócio rentável para a indústria do agro, em
detrimento da agricultura familiar camponesa, impede o agro de ser “ pop”, de ser “ tudo”,
já que é um grupo muito diminuto da população que se beneficia, enquanto aqueles que,
de fato, vivem no campo, muitas vezes, chegam ao limite da sobrevivência humana.
Assim, vemos que, o agro não pode ser considerado “tech” pois uma das
tecnologias se sustenta no uso indiscriminado de agrotóxicos para garantir a produção
rápida, porém, contraditoriamente, provoca doenças seguidas de morte. Quando se fala em
tecnologia, logo vem a contradição exatamente porque o país tem se destacado no trabalho
escravo no campo, e o agronegócio continua sendo o setor que mais submete trabalhadores
a condições análoga à escravidão. O agro não pode ser “tudo”, uma vez que o alimento,
condição básica de sobrevivência, é transformado em “commodities” e passa a ser
concentrado por um pequeno número de empresas em que sete delas dominavam
mundialmente o controle de sementes, e também de fertilizantes e pesticidas.
O agro como produtor de riquezas revela uma realidade que mostra uma
apropriação da terra e exploração de trabalho, beneficiando um grupo pequeno de
detentores de capital, tem poder político e necessita da mídia pois tem natureza
mercadológica.
Enquanto essa agro aristocracia brasileira se apropria do discurso de “ combate a
fome” expande suas empresas, impedindo o direito ao alimento pois faz com que ele deixe
de ser de uso comum para ser commodities negociadas em bolsas de valores, mercadorias
e futuro, por isso é concentrador de terras, é monocultor e nem um pouco sustentável, nem
socialmente correto.
Bibliografia
ABREU, Marta; SOIHET, Rachel; GONTIJO, Rebeca< org.>- Cultura Política e leitura do
passado: historiografia e ensino da história- Rio de Janeiro- José Olympio Editora-2010.
JÙNIOR, Caio Prado, História Econômica do Brasil-Ed.Brasiliense-1ªed.1945,
reimpressão 2004.
Holanda, Sérgio Buarque- Raízes do Brasil- Companhia das Letras,26ª edição.
REIS, José Carlos- As identidades do Brasil: De Varnhagen a FHC, ed.ampl. _ Rio de
Janeiro, Editor FGV,2007.
SILVA, Rogério Chaves-Artigo: Padre Luís Palacin e a ciência da história de Goiás-UFG-
Periódico,2013.
PALACIN, Luís, História de Goiás, ED. Vieira/UCG,2018.

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