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POLÍTICAS DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA UNEB E A PERMANÊNCIA

SIMBÓLICA E MATERIAL DOS ESTUDANTES COTISTAS


Diego Conceição Miranda1
Cleber Julião Lázaro Costa2
Resumo
Se configurando como uma continuação das ações afirmativas, as políticas de permanência
estudantil aos discentes cotistas apresentam extrema importância na diminuição das
desigualdades vivenciadas por estes no ensino superior. O presente artigo tem como objetivo
analisar as políticas de permanência desenvolvidas na Universidade do Estado da Bahia e
como elas dialogam com as necessidades dos estudantes cotistas para além das demandas
financeiras. Para tal desiderato, foi realizado a aplicação de um questionário semiestruturado
em 10 estudantes cotistas dos cursos de Psicologia e Farmácia da UNEB, do qual buscou
evidenciar a vivência destes na universidade, bem como sua relação com as ações de
assistência estudantil existentes e inexistentes na instituição. Com isso conclui-se que as
necessidades destes estudantes ultrapassam as questões financeiras, demandando de uma
maior assistência por parte da universidade. Apesar de obterem uma noção considerável
acerca de seus direitos, a falta de informação ainda é um problema na barreira entre o
estudante as políticas de permanência.
Palavras-chave: Ações Afirmativas, Estudante Cotista, Ensino Superior, Afiliação,
Permanência Estudantil, Permanência Simbólica.

Abstract
If it is configured as a continuation of affirmative actions, the policies of students'
permanence to students are extremely important in reducing the inequalities experienced by
them in higher education. The objetive of this article is to analyze the permanence policies
developed at the State University of Bahia and how they dialogue with the needs of quota
students beyond financial demands. To that pourpose, a semistructured questionnaire was
applied to 10 students from the Psychology and Pharmacy courses at UNEB, which sought to
highlight their experience in the university, as well as their relationship with existing student
assistance actions that did not exist in the institution . With this, it is concluded that the needs
of these students outweigh the financial issues, demanding greater assistance from the

1
Graduando em Psicologia pela Universidade do Estado da Bahia. Bolsista de Iniciação Cientifica pelo
Programa AFIRMATIVA. E-mail: dicmiranda1@gmail.com
2
Professor da Universidade do Estado da Bahia do Curso de Direito (Campus 15). Doutor em Sociologia pelo
IESP/UERJ. E-mail: cleber.juliao@gmail.com
university. Although they get a considerable notion about their rights, lack of information is
still a problem in the barrier between the student and the policies of permanence.
Key-words: Affirmative Actions, Student Student, Higher Education, Affiliation, Student
Permanence, Symbolic Permanence.

Introdução
O ponto inicial das cotas nas universidades brasileiras se deu pelo pioneirismo da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade do Estado da Bahia, onde nessas
instituições, foi estipulado que boa parte das vagas disponibilizadas em cada curso devessem
ser direcionadas e reservadas para estudantes negros de baixa renda.
Contudo, a UNEB se destaca nesse aspecto pois nela, a decisão de implementação das
cotas se deu de maneira autônoma através de uma decisão unânime do Conselho
Universitário, durante a gestão da primeira Reitora negra do Brasil. Tudo isso em meio a um
contexto acadêmico extremamente segregacionista e fechado para o público alvo das cotas.
Período também onde nas outras universidades, a luta pela mesma adesão de sistema de cotas
ainda estava em pauta.
Todavia, apenas incluir estudantes negros e indígenas de baixa renda no seu corpo
discente não sana as demandas e dificuldades historicamente enfrentadas por esses grupos
sociais. No tocante a UNEB, Santos, M. (2009) aponta que no caso desta, seu modelo
multicampi demanda de uma atenção muito mais meticulosa no que se refere a permanência
dos cotistas, haja vista que estando presente em todo território baiano, as demandas por parte
dos estudantes acabam sendo mais diversas, indo para além das dificuldades financeiras,
mostrando que as políticas de assistência estudantil são de extrema importância para a
permanência dos discentes cotistas na UNEB.
Neste sentido, Santos, R. (2009) denota que para além das necessidades materiais, a
permanência desses estudantes perpassa, sobretudo, por questões simbólicas relacionadas
com afiliação, pertencimento e principalmente aprendizagem, onde, segundo Coulon (2008),
em um contexto de desigualdade social, o conhecimento e os processos de pertencimento e
permanência, se dão de maneira também desiguais, principalmente no ensino superior. Em
síntese, a autora notabiliza para se pensar as necessidades que perpassam pela permanência
simbólica desses estudantes, devendo se pensar tas políticas como dever da instituição no
intuito de minimizar as desigualdades enfrentadas por esses discentes.
Assim, torna-se relevante analisar o contexto das políticas de permanência estudantil
desenvolvidas no seio da Universidade do Estado da Bahia, bem como a presença ou a falta
delas impactam na vivência dos estudantes cotistas.
Cotas na UNEB e a permanência do discente cotista
De acordo com o Anuário UNEB 2017, a Universidade do Estado da Bahia em 2016
detinha um corpo estudantil formado por 40,37% de cotistas em seus cursos de graduação
presencial. São 8.570 estudantes negros e indígenas de baixa renda que se não fossem pelas
politicas de cotas, possivelmente jamais adentrariam em uma instituição pública de ensino
superior. Sobre este processo, Janoario (2013, p.14) nos explana que
O ingresso de alunos(as) negros(as) na universidade pelas cotas consiste em uma
oportunidade ímpar na vida, o contato com conhecimento cientí-fico permite
desenvolver alternativas de luta pela sobrevivência e o combate das múltiplas
formas de racismo que impedem o acesso às instâncias de prestígio social. Além de
permitir o desenvolvimento de estratégias de defesa em momentos de grandes
concorrências que, até então, esses(as) alunos(as) sequer visualizavam a
possibilidade de participar
Sendo assim, o meio universitário nunca antes vivenciado por essa população se
apresenta como um novo espaço de vivências onde as identidades se reconfiguram e são
transformadas mediante as experiências que esses indivíduos estão submetidos.
Com números cada vez mais significativos de estudantes pertencentes a esses grupos,
o autor (idem) também adverte que, frente a isso, a universidade
(...) precisa promover alterações nos conteúdos programáticos das disciplinas, nas
grades curriculares, estabelecer um intercâmbio de experiências para aprofundar a
reflexão sobre relações sociais e raciais, criar mecanismos de enfrentamento do
racismo e construir referências simbólicas a seus grupos e suas comunidades
culturais.
O argumento de Janoario (2013) evidencia a importância de que a universidade deve
se modificar para promover aos estudantes cotistas uma vivência mais adequada possível,
proporcionando a eles a possibilidade de se dedicarem a graduação sem as dificuldades
socioeconômicas.
Em vista dessa responsabilidade por parte do Estado em sanar essa desigualdade, o
governo estadual desenvolveu o Lei nº 13.458 de 10 de dezembro de 2015, que institui o
Projeto Estadual de Auxílio Permanência (PPE) voltado para as universidades estaduais, do
qual, de acordo com o Art. 4º, se compromete a:
I - contribuir para a permanência de estudantes em condições de vulnerabilidade
socioeconômica nas Universidades Públicas Estaduais da Bahia, por meio de
Auxílio Permanência, exclusivamente para os matriculados nos cursos de
Graduação presencial;
II - reduzir custos de manutenção de vagas ociosas em decorrência de evasão
estudantil;
III - fornecer meios para viabilizar a diplomação dos estudantes, na perspectiva da
formação ampliada, da produção de conhecimento, da melhoria do desempenho
acadêmico e da qualidade de vida;
IV - fomentar a democratização dos serviços prestados à comunidade estudantil;
V - contribuir para a promoção da inclusão social e da redução das desigualdades
pela educação.
O Plano Nacional de Permanência Estudantil, por sua vez desenvolvido pelo governo
federal para as Instituições Federais de Ensino, também assume a responsabilidade por parte
da universidade em reduzir as desigualdades existentes no ensino superior, compreendendo
uma visão ampliada das necessidades biopsicossociais dos estudantes e ratificando o dever
das IFES em oferecer acesso a saúde, oportunidades equivalentes de aprendizagem, acesso à
cultura, lazer e uma formação política social. Em síntese, o PNAES (Decreto 7.234/2010)
assegura aos estudante ações de assistência como: I) moradia estudantil; II) alimentação; III)
transporte; IV) assistência à saúde; V) inclusão digital; VI) cultura; VII) esporte; VIII)
creche; e IX) apoio pedagógico.
Ainda de acordo com o Plano Nacional de Permanência Estudantil (2007, p.4), essas
medidas são imprescindíveis para que os alunos vulneráveis socioeconomicamente possam ao
menos concluir seu curso, para isso, é necessária
(...) a criação de mecanismos que viabilizem a permanência e a conclusão de curso
dos que nela ingressam, reduzindo os efeitos das desigualdades apresentadas por um
conjunto de estudantes provenientes de segmentos sociais cada vez mais
pauperizados e que apresentam dificuldades concretas de prosseguirem sua vida
acadêmica com sucesso. (...) é necessário associar à qualidade do ensino ministrado
uma política efetiva de investimento em assistência, a fim de atender às
necessidades básicas de moradia, de alimentação, de saúde, de esporte, de cultura,
de lazer, de inclusão digital, de transporte, de apoio acadêmico e de outras
condições.

No tocante a essas políticas, a UNEB tem avançando muito pouco, principalmente ao


compará-la com outras universidades com menos tempo de implementação das cotas. Ao
longo dos 15 anos de adesão ao sistema de cotas, a UNEB passou a comportar órgãos
voltados a permanência estudantil, tais como a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil -
PRAES e a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas - PROAF, onde através delas, os estudantes
podem adquirir apoio financeiro, residencial, psicopedagógico e de auxílio à iniciação
científica. Mas é válido ressaltar que poucas dessas políticas são voltadas exclusivamente
para o estudante cotista. A bolsa de auxílio residência, por exemplo, é destinada em 46,02%
para não cotistas.
Vinculado à PROAF, o Programa AFIRMATIVA se apresenta atualmente como a
única política da UNEB voltada unicamente para os estudantes cotistas. Segundo o portal da
universidade, o programa ofereceu em seu edital de abertura 64 bolsas de iniciação científica
no valor de 400,00 reais exclusivamente para estudantes cotistas dos cursos presenciais da
UNEB em todos os Campus.
Especificamente, a PRAES oferece os serviços de bolsa auxílio permanência,
residência, apoio em Transportes/Viagens/Eventos e fornece atenção biopsicossocial. De
acordo com o portal da universidade, a PRAES oferece anualmente até no máximo 1.100
bolsas, divididas nas modalidades de Bolsa Auxílio Residência (máximo de 500 bolsas
individuais por ano) inclui-se a ela uma vaga em uma das residências universitárias e um
auxílio de 200,00 reais. Além desta, a Bolsa Auxílio Permanência (máximo de 550 bolsas por
ano) que fornece uma bolsa de 400,00 reais, e o restante das vagas são destinadas para a
Bolsa Auxílio Emergência, que oferece até no máximo 50 bolsas.
Apesar de terem os cotistas como maioria de usuários, a PRAES ainda oferece poucas
vagas quando se levado em conta o quantitativo geral de alunos que estudam presencialmente
na UNEB. De acordo com o Anuário UNEB (2017), em 2016, foram 490 alunos
contemplados com o auxílio permanência (2,3% do total geral de alunos) e 465 com o auxílio
residência (2,19% do total geral de alunos). Ao levar em consideração que os cotistas nessas
políticas concorrem com todos os outros estudantes (apesar de ganharem uma pontuação
extra no questionário social), apenas uma menor parte do total de cotistas acaba sendo
contemplada.

A permanência para além das necessidades materiais


Haja vista a importância das medidas de assistência estudantil desenvolvidas no seio
da universidade sobretudo aos estudantes em vulnerabilidade socioeconômica, Santos, R.
(2009) reconhece que tais políticas de permanência voltadas aos cotistas se configuram como
uma continuação das ações afirmativas que foram implementadas como forma de reparação
histórica para estudantes negros e oriundos de classes populares, em seu trabalho a autora
compreende que a assistência estudantil deve se atentar para além das demandas materiais,
sobretudo nas questões simbólicas que norteiam a permanência desses discentes.
Para formular o conceito de permanência simbólica e material no âmbito da vivência
dos cotistas na Universidade Federal da Bahia, Santos, R. (2009) traz as idéias do sociólogo
Pierre Bourdieu (1999 apud SANTOS, 2009), do qual concebe que nas relações sociais o
poder, as opressões e as desigualdades são vivenciadas em inúmeras configurações
imperceptíveis no dia a dia, ratificando a relevância de se analisar atentamente as interações
sociais.
A permanência simbólica compreende a possibilidade do estudante exercer sua plena
atividade na universidade, adquirir conhecimento, participar dos espaços de formação e
realizar uma graduação ideal que o permita atingir sucesso profissional. Nesse mesmo
aspecto, Coulon (2008) entende esse processo como afiliação, quando um ambiente nos é
novo e precisamos nos adaptar, compreender sua dinâmica e contribuir para o funcionamento
deste. Entretanto, para o autor, essa participação vai muito além de estar fisicamente no
espaço, é preciso internalizar o funcionamento, se apropriar das dinâmicas sociais, e no caso
do estudante universitário, a afiliação envolve a aquisição do ofício de ser estudante e de
exercer a função social de estudante universitário.
Coulon (2008) entende que para os estudantes menos bastardos essa afiliação é mais
árdua, pois para ele, a desigualdade social influencia diretamente na vivência plena desses
estudantes, principalmente na aprendizagem, fazendo com que até mesmo o conhecimento
seja passado entre eles de forma desigual, impactando diretamente na vivência estudantil a
depender da condição econômica deste.
Conforme dito anteriormente, o PNAES e o PPE são programas importantíssimos
para direcionar as políticas de permanência nas universidades, esta última em especial no
caso da UNEB. Apesar da PPE compreender determinados elementos que se associam a
permanência simbólica, mesmo que de forma imprecisa, a UNEB ainda possui poucas
políticas voltadas para as necessidades simbólicas, que, segundo Santos (2009), são tão
determinantes na permanência destes estudantes na universidade quanto as necessidades
materiais.
Perez (2015) demonstrou em sua pesquisa, como uma simples implementação de uma
estrutura como o Restaurante Universitário impactou diretamente na melhora da vida
acadêmica dos estudantes cotistas, principalmente por não terem acesso a uma alimentação
com preços acessíveis como as encontradas no RU, estrutura até o momento inexistente na
infraestrutura da UNEB.
Outros autores como Janoario (2013) vão destacar a importância da universidade
oferecer apoio pedagógico a estes estudantes, visto que o fato de serem oriundos de colégios
públicos fazem com que sejam necessitados de políticas que busquem sanar esses problemas.
Assim, um estudante cotista sem esse apoio tende a se sentir responsável pelas suas
dificuldades em acompanhar determinadas matérias do curso.
Na UNEB, a PRAES possui o programa de Atenção Biopsicossocial com a Equipe
Multidisciplinar de Atenção ao Estudante (EMAE), da qual oferece os serviços de
Acolhimento ao discente e familiares (135 atendimentos em 2016), Atendimentos sociais
(149 atendimentos em 2016), Atendimentos auxílio emergencial (entrevista) (19
atendimentos em 2016), Atendimentos intersetoriais (16 atendimentos em 2016),
Atendimentos psicológicos (81 atendimentos em 2016), Atendimentos pedagógicos (68
atendimentos em 2016), totalizando 468 atendimentos aos estudantes.
Do Serviço Médico Odontológico e Social da Universidade do Estado da Bahia
(SMOS), foram totalizados ao todo, em 2016, 2.786 atendimentos apenas aos estudantes
(5.159 no total geral, incluindo professores, técnicos e comunidade externa), oferecendo as
especialidades em Enfermagem, Fisioterapia, Ginecologia, Nutrição, Odontologia e
Psicologia.
No tocante a PROAF, o programa Afirmativa busca auxiliar a permanência dos
cotistas na produção acadêmica, oferecendo bolsas de pesquisa voltadas exclusivamente para
discentes cotistas que exerçam pesquisas com temáticas sociais, ampliando as possibilidades
de pertencimento e afiliação institucional, permitindo que algumas oportunidades sejam
encontradas frente as desigualdades presentes no ensino superior.
Santos, M. (2009) ao analisar esta conjuntura de assistência estudantil compreende
que, apesar dos programas existentes na UNEB, o presente quantitativo de políticas de
assistência estudantil, sobretudo voltadas para a permanência simbólica, é ainda
significativamente baixo, sobretudo ao se pensar no âmbito da UNEB, com um somatório de
21.224 discentes em 2016, e seu modelo multicampi distribui as demandas em 24 municípios
baianos, sendo que a maioria das estruturas que ampliam a assistência para para além do
suporte financeiro, se concentram apenas na cidade de Salvador, (Campus I).
Em resumo, as dificuldades financeiras são apenas uma parte no processo de afiliação
e permanência dos estudantes cotistas, existindo inúmeros obstáculos ao longo da vivência
acadêmica que os levam a evadirem do curso e adquirir o tão sonhado diploma universitário.

METODOLOGIA
O presente trabalho se refere a primeira etapa da pesquisa acerca da construção de
identidade dos estudantes cotistas em relação as ações afirmativas promovidas pela UNEB.
Esta etapa se propôs a analisar as políticas de permanência simbólicas e materias existentes
na Universidade do Estado da Bahia, bem como sua relação com os estudantes cotistas, para
tal feito, foi realizada a aplicação de um questionário semiestruturado em 05 estudantes de
cada um dos cursos de Farmácia e Psicologia, totalizando 10 sujeitos (40% da amostra total
da pesquisa). A escolha dos cursos em diversas áreas do conhecimento teve como objetivo
reconhecer a peculiaridade e as diferentes dificuldades que cada cotista vivencia em cada um
deles. Todos os itens do questionário foram criados em relação aos conceitos abordados na
revisão de literatura, onde buscou adquirir respostas que pautassem a vivência dos estudantes
para que se fosse possível investigar as mudanças comportamentais e subjetivas frente às
experiências acadêmicas, nesta etapa foram analisadas apenas os itens de respostas fechadas e
quantitativas de uma parte da amostra.
As questões foram organizadas em eixos temáticos, constituídos por: (1) momento
anterior às cotas; (2) momento de inserção/aprovação no vestibular; (3) dificuldades
financeiras; (4) dificuldades pedagógicas; (5) representatividade; (6) acesso à saúde; (7)
afetividade intergrupal; e (8) ser cotista na UNEB, onde cada eixo busca explorar diferentes
perspectivas da experiência acadêmica dos estudantes. A análise das respostas terá sempre
como referência a revisão de literatura, da qual será evidenciada a opinião, as vivências, os
comportamentos, as leituras dos estudantes acerca de si mesmo, além das mudanças de
pensamento e concepção que se apresentarem relacionadas ao contexto universitário. Nomes
fictícios de origem angolenses foram atribuídos aos sujeitos como forma de preservar suas
identidades.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Coleta de Dados
A coleta de dados foi realizada entre os dias 10 de abril e 04 de maio, por meio de um
questionário semiestruturado aplicado online, sendo apenas um deles impresso e respondido a
manuscrito.
Questionário
Deste modo foram organizadas os itens do questionário, segundo um agrupamento
teórico acerca da temática analisada. O questionário online disponibilizado em arquivo word
para os participantes, continha a funcionalidade de selecionar a alternativa desejada e
comportava de campos de textos onde era possível a escrita das respostas abertas. Foram ao
total 20 itens, distribuídos da seguinte maneira:
Tabela 1 – Distribuição dos itens do questionário
Categoria Perguntas Perguntas
fechadas abertas

Momento anterior às cotas 1, 2

Momento de inserção/aprovação 5 3, 4

Dificuldades pedagógicas 6, 7, 8, 9

Dificuldades financeiras 10, 11, 12, 13

Representatividade 14, 15 16

Acesso à saúde 17

Afetividade intergrupal/Ser cotista na 18, 21 19, 20


UNEB

FONTE: Questionário do autor

Participantes
Foram totalizados 10 estudantes cotistas participantes desta etapa do questionário,
compondo 40% da amostra total da pesquisa. A maioria dos participantes são jovens, sendo a
média de idade 22,3 anos (DP=2,36) do gênero feminino e dos semestres iniciais do curso.

Tabela 2 – Porcentagem de gênero da amostra


GÊNERO PORCENTAGEM

Feminino 70%
Masculino 30%

TOTAL 100%

FONTE: Pesquisa do autor

Tabela 3 – Porcentagem dos semestres da amostra


SEMESTRE PORCENTAGEM

Segundo 30%

Quarto 30%

Sexto 10%

Oitavo 10%

Décimo 10%

Desemestralizado 10%

TOTAL 100%

FONTE: Pesquisa do autor

Momento anterior às cotas


Os itens desta categoria buscaram analisar a concepção anterior e atual sobre as cotas,
do qual se pode evidenciar a concepção que os cotistas têm sobre as cotas. No que se refere
aos resultados das questões 01 e 02, percebeu-se uma prevalência na concepção do que
seriam as cotas, bem como seu público alvo, em geral, a maioria entende a sua importância
política e social, tendo consciência de que as cotas possuem um caráter de reparação social.
Entretanto, nessas mesmas duas questões, percebeu-se que tal concepção está ligada
ao contato dessas discussões nos ambientes sociais dos quais esses estudantes vivenciaram,
escolhendo a alternativa “D (Outros)”, 20% dos cotistas relataram que não tiveram acesso as
informações necessárias para o real entendimento da importância ou significado das cotas,
fazendo com que estes optassem por elas apenas por indicação ou sendo este um jeito mais
fácil de adentrar no espaço universitário.
No que se refere a promoção dessas discussões, os resultados evidenciaram que 0%
obtiveram incentivo ou participação da escola na escolha das cotas como modalidade de
ingresso, mostrando que as escolas públicas ainda desenvolvem poucas políticas que auxiliem
no entendimento ou motivação desses estudantes a optarem as cotas como direito desses
estudantes.
Esse contexto é analisado por Lemos (2015) em seu trabalho ao pesquisar a trajetória
dos estudantes cotistas, para a autora, o contato com essas discussões antes da entrada na
universidade é de suma importância para a construção do auto conceito de ser cotista,
repercutindo na sua vivência e construção identitária, sendo a família e a escola como
principais meios dos quais esses estudantes obtêm essas informações. A ênfase dessas
discussões na escola deve ser sustentada na medida em que a esse ambiente se propõe a
formar os futuros estudantes universitários, principalmente cotistas.

Momento de inserção/aprovação
Ao buscar um panorama geral das dificuldades enfrentadas pelos estudantes, as
respostas nessa categoria se apresentaram os resultados mais dispersos do questionário,
evidenciando que inúmeras dificuldades surgem na vida universitária, fazendo com que cada
contexto apresente dificuldades específicas.
Gráfico 1 - Questão n°5: Quais são as suas maiores
dificuldades em ser estudante cotista na UNEB?

A. Dificuldades financeiras. 40

B. Convivência com não cotistas e/ou


10
professores.

C. Desempenho acadêmico. 30

D. Preconceito. 0

E. Outro: 20

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

FONTE: Pesquisa do autor

No tocante ao pertencimento, ficou evidente as dificuldades de afiliação que se inicia


logo após a provação deste no vestibular, onde surge o medo do preconceito vinculado a
representação social do cotista, como podemos ver na fala de Raila.
Me sentia diferente dos meus colegas, quando a lista de aprovados é lançada, ela
divulga quem é cotista e quem não é, eu achava que seria julgada o tempo inteiro
pois todos sabiam. (Raila, estudante de Psicologia).
Poucas discussões no âmbito social, como evidenciado nos itens anteriores, dificultam
ainda mais a aproximação dos cotistas com o espaço universitário, pois intensifica o medo de
vivenciar discriminação.
A primeira semana é de adaptação, reconhecimento de espaço, esse tipo de
reflexão não passou por minha cabeça, situações posteriores a esse período durante
o curso me fizeram refletir o que é ser cotista na universidade pública, posso dizer
que é um privilégio está nesse espaço porém me incomoda muito ouvir alguns
colegas e professores, repetirem discursos sobre meritocracia e como as cotas
contribui para discriminação. (Balbina, estudante de Farmácia).

Minha adaptação à universidade foi mais difícil em relação ao nível de


conhecimento e responsabilidade que é exigido dos professores. Vim de escola
pública e o ensino não foi suficiente para me sair bem nas disciplinas exigidas.
(Adjara, estudante de Farmácia).
A cobrança por ser cotista em um ambiente meritocrata aliada a falta de capital
cultural pela vivência na escola pública norteia a experiência desses estudantes, para além do
preconceito que alguns sofrem, todos esses demarcadores sempre estão presentes nas falas.
No modo geral como uma aluna normal da UNEB, porém em relação ao curso de
farmácia, eu comecei a perceber que eu fazia parte do pequeno número de pessoas
negras que ingressa no curso, mesmo tendo vagas para cotista. (Milja, estudante de
Farmácia).
Mudou muito. Hoje me sinto pertencida, principalmente por perceber que não estou
sozinha nessa e que muitos outros estudantes da minha turma e de outras, sentem as
mesmas coisas e em diversos momentos se apoiam. (Nataniela, estudante de
Psicologia).

Hoje me reconheço fazendo parte da universidade e atuante no meu curso de


escolha através do diretório acadêmico, todo esse processo se deu a partir de
reflexões sobre qual seria o meu papel como estudante cotista, como extrair desse
lugar de formação conhecimento suficiente para além de ser uma profissional de
excelência dá uma devolutiva á sociedade. Além de reconhecer a universidade o
ensino como meu local de direito. (Balbina, estudante de Farmácia).

Nas falas acima é perceptível como se da o processo de afiliação, do qual não apenas
o ambiente é diferente, mas as pessoas que fazem parte dele. Se apresenta com certa
notoriedade que esta afiliação acontece na medida em que o estudante busca articulação em
determinadas atividades como movimentos estudantis e encontra seus semelhantes, mesmo
sendo minoria, a aprendizagem do ofício de estudante, assim como aponta Coulon (2008),
está ligada ao sentimento de pertencimento, que por sua vez, no caso dos entrevistados, está
ligado a convivência com estudantes que compartilham das mesmas questões.

Dificuldades pedagógicas
No que diz respeito as questões das dificuldades pedagógicas, evidenciou-se que a
maioria dos participantes relataram apresentar dificuldades em determinadas disciplinas,
entretanto, tal dificuldade em 40% (n=4) dos sujeitos se apresentou relacionada a origem
deficitária do ensino público básico e médio.
Frente a tais dificuldades, ao selecionarem as alternativas “A” e “B”, 100% (n=10) da
amostra responderam desenvolver atividades informais para contornar esses empecilhos que
ora enfrentam ao longo do curso.
Gráfico 2 - Questão n°7: Como você lida com as
dificuldades enfrentadas nas matérias?
A. Por conta própria, busco materiais
introdutórios em livros e sites, que me ajudem a 50
entender os assuntos das disciplinas.
B. Informalmente articulo com meus colegas as
50
dificuldades em comum.

C. Busco auxilio institucionalmente através da


0
PRAES.

D. Não tenho dificuldades. 0

E. Outro. 0

0 10 20 30 40 50 60

FONTE: Pesquisa do autor

Quando perguntados sobre um possível programa institucional que auxiliasse em uma


ocasional dificuldade, um total de 70% (n=7) informaram que acessariam essa política, sendo
desses, 40% (n=4) acessaria e considera essa uma política intrínseca a sua qualidade e
desempenho na graduação, e os outros 30% (n=3) acham mais importante principalmente por
serem cotistas oriundos do ensino público, estando essa política relacionada com um dever da
universidade. No contraponto, 30% (n=3) demonstraram uma impossibilidade de acessar por
falta de tempo, relatando até mesmo uma possível piora em seu desempenho por conta de
uma demanda extra.
Acerca da experiência com essa política, Ferreira (2015) analisa o Programa
Institucional de Apoio Pedagógico aos Estudantes (PIAPE) da UFSC, do qual concluiu que o
programa pedagógico foi de extrema importância para a permanência do estudante cotista na
universidade, haja vista que estes estudantes vieram de um ensino deficitário e demanda de
uma dedicação dupla para obter um bom desempenho. Ainda no tocante a temática, Coulon
(2008) ratifica que essa é uma realidade no ensino superior em qualquer pais que vivencie
desigualdades sociais, o conhecimento e aprendizagem na universidade nesses casos se dá de
forma também desigual, fazendo com que quem tenha melhor base sociocultural tenha uma
melhor afiliação ao espaço e ao conteúdo trabalhado nas matérias.
Deste modo, o Programa Institucional de Apoio Pedagógico aos Estudantes da UFSC
oferece cursos introdutórios de matérias onde os estudantes geralmente enfrentam mais
dificuldades, assumindo assim, sua responsabilidade frente as desigualdades vivenciadas
diariamente por seus discentes
Ferreira (2015) ainda evidencia que o então programa conseguiu reduzir o índice de
evasão nos cursos de graduação, proporcionando uma maior afiliação institucional por parte
destes estudantes. No tocante a possível falta de tempo trazida por alguns sujeitos na amostra,
o PIAPE reorganiza os cursos antes do início do semestre, para que ele não concorra com as
matérias da grade curricular, preparando muito antes os estudantes para a vida acadêmica.
A emergência de apoio neste âmbito é nítida ao analisar as respostas do item nº19,
quando se pergunta acerca dos momentos em que a vivência na universidade os faz lembrar
que são cotistas, majoritariamente, as respostas norteiam a vinda do colégio público, bem
como as dificuldades enfrentadas ao longo do curso, que se diferenciam dos demais
estudantes.
No momento que percebo a diferencia da minha situação financeira ou falta de
conhecimento prévio, em relação ao meu ensino na rede pública. (Milja, estudante
de Farmácia).

Nas dificuldades diárias enfrentadas nas matérias como para se manter na


universidade. (Balbina, estudante de Farmácia).

No momento em que percebo assuntos em que nunca vivenciei e que vários dos
meus colegas já conhecem e já estudaram. (Abilio, estudante de Farmácia).
Na maioria das vezes em sala de aula, quando percebo o quanto meu desempenho é
diferente da maioria dos meus colegas. (Nataniela, estudante de Psicologia).

Acho que nos momentos em que encontro dificuldades mediante aos meus colegas
que vieram de escolas boas e tem uma boa preparação. (Melodi, estudante de
Farmácia).

Ficando assim evidente, que o desempenho e a aquisição do conhecimento, podendo


até se pensar no sucesso profissional, se dão de forma desigual dentro das salas de aula, na
medida em que a instituição permite que esta continue existindo.

Dificuldades financeiras
Sendo a dificuldade mais explorada na revisão de literatura, estando muitas vezes
relacionada de forma direta com a permanência desses estudantes, 40% (n=40) relataram
receber apoio institucional, 30% (n=3) disseram receber apoio dos pais, 20% (n=2) buscam
formas informais de remuneração e apenas 10% (n=1) se utiliza das atividades acadêmicas
remuneradas.
Faz-se interessante a grande importância da família no apoio financeiro e
permanência desses estudantes, contexto evidenciado por Barros (2015), onde mais
especificamente a mãe, participa diretamente deste apoio financeiro familiar.
Em meio a tais dificuldades, os sentimentos dos estudantes caminham para uma
compreensão de uma conjuntura social (70%, n=7), possivelmente associados a participações
de discussões acerca do tema. Mas ainda 30% (n=3) se sentem constrangidos por tais
dificuldades, principalmente no convívio com estudantes que possuem condições financeiras
totalmente distintas. Os participantes relataram que um possível apoio institucional durante
todo o curso possibilitaria mais tempo para se dedicar as atividades acadêmicas (70%, n=7) e
os outros evidenciaram a possibilidade de investirem em materiais profissionais e importantes
para seu curso (30%, n=3). Deste modo, um apoio integral ao longo do curso está
inteiramente ligado a qualidade do ensino e da formação profissional desses estudantes.
No apoio alimentar, mais especificamente o Restaurante Universitário, as perguntas
variaram, como mostra o Gráfico 3:

Gráfico 3 - Questão n°13: Em relação ao Restaurante


Universitário, você acha que sua vivência acadêmica
seria diferente se tivesse acesso a um?

A. Muito diferente, passaria mais tempo na


20
universidade.
B. Teria mais bem estar para realizar as atividades
60
acadêmicas.
C. Não acho que mudaria muita coisa na minha
0
graduação.
D. Ajudaria financeiramente nas despeças com
20
alimentação.

E. Outro 0

0 50 100

FONTE: Pesquisa do autor

A maior concentração das respostas se relaciona com a saúde (possivelmente mental e


física) dos estudantes. Em seu estudo, Perez (2015) evidenciou a importância da
implementação do restaurante universitário na saúde dos estudantes, especificamente os de
baixa renda, podendo ter uma dieta mais saudável e reduzindo os custos de alimentação.
Ainda no contexto da saúde do estudante, a questão n°17 evidenciou que a maioria
(70%, n=7) apenas utiliza o SUS como assistência de saúde, dos que utilizam o serviço
médico da UNEB, todos ainda dependem do SUS para obter acesso aos serviços de saúde,
podendo problematizar o alcance do apoio médico da universidade, bem como a divulgação
de seus serviços.
Ao analisar as variáveis que implicam no acesso a saúde na população brasileira,
Mambrini (2009) aponta que inúmeros aspectos como idade, gênero, raça, local de moradia e
renda familiar influenciam na obtenção dos serviços básicos de saúde, principalmente pela
desigualdade social presente na distribuição e acesso dos serviços de saúde, fazendo com que
pessoas de baixa renda tenham uma maior vulnerabilidade.

Afetividade intergrupal/Ser cotista na UNEB


Nesta categoria, ao serem questionados acerca da prevalência de cotistas ou não
cotistas em seu ciclo de amigos na universidade, foi-se evidenciado que a maioria dos
participantes tem, majoritariamente, outros estudantes cotistas em seu ciclo de amigos, sendo
eles 60% (n=6), afirmando que costumam se relacionar em sua maioria com os cotistas. Do
restante, 20% (n=2) responderam o oposto, sendo a maioria de seus amigos não cotistas, e os
outros 20% (n=2) disseram nunca ter reparado nessa questão.
A outra pergunta se referiu à possibilidade de constar em seus diplomas universitários
a identificação de terem adentrado na universidade pelo sistema de cotas, como mostra o
Gráfico 3, apenas 30% (n=3) dos participantes concordaram e acharam importante tal
medida, possivelmente pelo caráter político e identitário que essa medida teria. Entretanto, a
grande maioria dos participantes, 50% (n=5), mostraram não achar algo tão relevante, sem
concordar ou discordar, e 20% (n=2) discorda totalmente, não achando uma boa medida,
principalmente por possivelmente essa informação prejudica-los em uma futura seleção de
emprego.
Gráfico 4 - Questão n°21: Você concordaria com a
possibilidade de em seu diploma constar a sua condição
de aluno cotista?

E. Outro 0

D. Não concordo, não acho que seria tão


0
importante.

C. Nem concordo, nem discordo. 50

B. Não concordo, pois penso que isso poderia


20
influenciar em uma seleção de emprego.

A. Concordo, acho que seria importante. 30

0 20 40 60

FONTE: Pesquisa do autor

Com ambas as informações acerca de seus ciclos afetivos e uma possível nomeação
institucional enquanto cotistas, levantaram-se questões acerca da construção identitária desses
estudantes. Paulo (2014) ao analisar as relações intergrupais em estudantes negros,
evidenciou que as aproximações grupais geralmente tem como base algo que os indivíduos
tenham em comum (comunhão) ou em ordens, geralmente prezando o funcionamento social
(autoridade). Deste modo, os discentes participantes da pesquisa expôs que de fato existe uma
aproximação entre os cotistas, e que essa proximidade está totalmente atrelada a um
compartilhamento mútuo dos mesmos contextos sociais, apresentando uma comunhão da
qual esses estudantes se aproximam na medida em que se identificam com as mesmas
dificuldades e/ou questões sociais.
Entretanto, não foi evidenciado uma forte presença de identidade social ou auto
categorização, estando a identidade de ser cotista estando atrelada majoritariamente em suas
dificuldades socioeconômicas e falta de assistência estudantil. Assim, como trazido por
Santos (2009) ao analisar o conceito de movimentos heréticos de Bourdieu, da qual em um
contexto semelhante, esses estudantes cotistas, em sua maioria, vão buscar “parecer o menos
cotista possível” (Santos, 2009, p.77), principalmente quando sua identidade ainda está
atrelada a elementos pejorativos ou de baixa atenção por parte da universidade,
proporcionando uma invisibilidade.
As necessidades
No tocante ao que eles desejariam que tivesse na UNEB, podemos listar que para
além da ampliação de bolsas, existe uma demanda de atendimento psicológico; mais debate
acerca das cotas; cotas nas seleção de pesquisa e monitoria; inclusão das temáticas
vivenciadas pela população mais marginalizada nas disciplinas, bem como atividades
referentes a cultura negra.
Fica evidente que as necessidades majoritariamente ultrapassam as necessidades
puramente financeiras, estando elas diretamente ligadas a afiliação institucional, com mais
visibilidade dos grupos étnico raciais e mais apoio institucional que vise o controle das
desigualdades existentes ao longo do curso, como por exemplo na seleção de participantes de
pesquisa e monitoria pelos professores, que segundo s4, é feita por pura meritocracia e com
base em perfis pré-determinados pelos professores, fazendo com que a maiorias dos
selecionados não sejam os cotistas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inserção de estudantes negros por meio das cotas constroem novos espaços sociais
onde se torna possível a formação de novas identidades e novas vivências, sendo elas de
preconceito, superação, dificuldades e autoconhecimento. É papel da universidade fornecer
autonomia tanto intelectual quanto financeira para que esses estudantes possam concluir seus
cursos e possam adentrar no mercado de trabalho, e por resultado, modificarem suas
realidades socioeconômicas.
Além disso, as ações afirmativas em formato de permanência estudantil são
indispensáveis para a emancipação e ascensão social desses estudantes, visto que o simples
fato de adentrar no espaço universitário não sana as interferências do racismo institucional
vivenciado diariamente pelos estudantes.
A universidade, bem como seus projetos de assistência e permanência, deve se voltar
para analisar e identificar as necessidades desses estudantes para além das dificuldades
financeiras, se atentando aos processos psicossociais implicados na vivência de ser estudante
cotista, sobretudo pela sua condição socioeconômica, da qual tende a proporcionar a estes
condições desiguais de aprendizagem, afiliação, reconhecimento, sucesso profissional e até
mesmo bem estar biopsicossocial.
Apesar de existirem no âmbito da UNEB, as políticas que vão além do apoio
financeiro são pouco disseminadas entre os estudantes cotistas. Ao analisar a baixa adesão
delas, podemos supor que essas políticas mais amplas são pouco divulgadas ou apresentam
baixo quantitativo de vagas, fazendo com que alguns nem sequer a busquem.
A noção acerca de seus direitos está presente na fala da maioria dos estudantes,
mostrando que para eles, tais políticas são de extrema importância para sua permanência na
universidade, bem como se configuram como a continuação de uma reparação histórica aos
grupos socialmente marginalizados.
Deste modo, é dever da universidade construir espaços onde a diversidade possa estar
presente e de maneira que todos possam se desenvolver tanto pessoalmente quanto
profissionalmente, contribuindo para as mudanças sociais e o progresso nas relações étnico
raciais no país.
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