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Negras
InsUrgências
Teatros e dramaturgias negras em São Paulo:
perspectivas históricas, teóricas e práticas
1ª Edição
São Paulo
Capulanas Cia de Arte Negra
2018
Ficha Técnica
Organizadoras: Salloma Salomão Jovino da Silva e
Capulanas Cia de Arte Negra: Adriana Paixão, Débora Marçal,
Flávia Rosa, Priscia Obaci.
Autores: Salloma Salomão Jovino da Silva, Adriana Paixão,
Carol Rocha Ewaci, Flávia Rosa, Débora Marçal, Dione Carlos.
Edição e preparação: Neide Almeida
Capa, projeto gráfico, diagramação
e colagens: Cassimano
Fotos: Sheila Signário e Naná Prudêncio
Revisão: Neide Almeida e Léia Guimarães
apoio:
realização:
N385
Negras insurgências: teatros e dramaturgias negras em São Paulo, perspectivas
históricas, teóricas e práticas / Organização Capulanas Cia de Arte Negra;
CDD 792.9
Sumário
Apresentação
por Salloma Salomão 9
1. A cena paulista contemporânea de teatro e
dramaturgia negra e o racismo antinegro
por Salloma Salomão & Dione Carlos 21
2. Ialodês e Capulanas - Um oceano de saberes Femininos
por Dione Carlos 49
3. Por uma sociologia do teatro negro femini-
no das Capulanas: indícios e percursos
por Adriana Paixão 57
4. Vozes e palavras bordadas de mulheres negras: a
construção poético-dramatúrgica Capulânica
por Flávia Rosa 65
5. Corporalidades Negras além da cena: em busca da
saúde física e mental das mulheres negras periféricas
por Carol Ewaci 79
6. Como olhar os corpos negros na cena paulista contemporânea?
por Débora Marçal 89
7. Teatro negro: seus valores filosóficos antigos,
modernos e contemporâneos
Por Salloma Salomão 97
8. Oroonoko: o teatro ocidental e as pessoas
africanas escravizadas e livres
por Salloma Salomão 129
9. Práticas dispersas, potentes e antigos jogos de
poder, o saber fazer cultura negra em São Paulo
por Salloma Salomão 157
10. Ainda sobre estéticas e éticas teatrais
negras a partir de negras experiências distintas
por Salloma Salomão 199
Agradecimentos 229
Dedicatória 230
Apresentação
por Salloma Salomão
Joseph Ki-Zerbo
Lima Barreto
Lima Barreto
Aluísio de Azevedo
Beatriz Nascimento
1 Embora a questão da violência social e política esteja sempre presente, veja sobre a histo-
ricidade da violência na zona sul da cidade, como rescaldo do regime militar, a existência dos
esquadrões da morte oficializados pelo estado totalitário e também o surgimento de matado-
res privados contratados por pequenos comerciantes. A pesquisa de Ferreira mergulhou nesse
universo: FERREIRA, Maria Inês Caetano. Homicídios na periferia de Santo Amaro: um estudo
sobre sociabilidade e os arranjos de vida, num cenário de exclusão. Dissertação de Mestrado em
Sociologia. FFLCH-USP, 1998.
2 ABREU, KIL. In: GOMES, Carlos Antonio Moreira & MELLO, Marisabel Lessi de (orgs). Diálo-
gos teatrais – o fomento compartilha (2013 – 2015). São Paulo: SMC, 2014. p. 19
3 Indico dois textos publicados por nós sobre o episódio blackface. Veja: SILVA, Salloma Sa-
lomão Jovino da. Que cidade te habita? Sampa negra: periferia, contracultura e antirracismo.
Revista Observatório Itaú Cultural. São Paulo: Itaú Cultural, n.21, nov. 2016 / maio 2017. pp.
130- 167. Veja também: SCHOR, Patrícia & SILVA, Salloma Salomão Jovino da. Representações
e estereotipias negras: cruzamentos (im)prováveis entre folclore holandês e o teatro paulista.
Projeto História. São Paulo, n. 56, p. 69-91, mai.-ago. 2016.
5 ELIAS, Norbert & SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders. Tradução de Vera Ribei-
ro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
6 Utilizo a categoria modernistas negros, por homologia à ideia desenvolvida por Paul Gilroy
sobre a modernidade dissidente construída pela intelectualidade negra. Conquanto aplicada
por ele ao mundo anglófono e circunscrito à geografia do atlântico norte, Gilroy nos incentiva
a absorver e observar as tentativas de adesão crítica e subversiva dos ativistas de origem
africana ao projeto ocidental de mudança paradigmática.
7 Veja, por exemplo, o esforço de abarcar outras formas de teatro ao redor do mundo e, ao
mesmo tempo, a grande dificuldade em abrir mão de conceitos que repõem a suposta cen-
tralidade cultural europeia. Veja: BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. 6 ed. São
Paulo: Perspectiva, 2014.
8 Idem
9 SILVA, Rodnei Jericó da Silva e CARNEIRO, Suelaine. Violência racial: uma leitura sobre os
dados de homicídios no Brasil. São Paulo: Geledés Instituto da Mulher Negra e Global Rights
Partners for Justice, 2009, p. 93.
10 Talvez as formas culturais afronordestinas já tenham chegado a São Paulo na segunda
metade do século XIX, com o tráfico interprovincial de escravizados. Como o tráfico legal ha-
via relativamente cessado em 1850, os fazendeiros decadentes do Norte (ainda não havia a
noção geográfica de Nordeste) haviam encontrado uma alternativa de boa renda vendendo
seus escravizados para os cafeicultores do Sul, especificamente São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais. Foi, contudo, o êxodo rural dos anos 1930 em diante que fez de São Paulo a
cidade negra e nordestina que é atualmente, embora a ideologia cultural dominante continue
mostrando uma cidade imigrante e branca.
11 Um poeta branco muito benquisto ironizou numa canção: “Essa terra ainda vai cumprir
seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal”.
12 ABREU, KIL. In: GOMES, Carlos Antonio Morieira Gomes & MELLO, Marisabel Lessi de
(orgs). Diálogos teatrais – o fomento compartilha (2013 – 2015). São Paulo: SMC, 2014, p. 13.
13 Idem
14 “A análise por pertencimento racial revela que na população total, no ano de 2002, o
estado de São Paulo apresentou 8.220 homicídios para brancos (30.3%) e 5.988 para ne-
gros (56.0%). Na faixa etária de 15-24 anos, os números foram 3.178 homicídios para brancos
(64.4%) e 2.732 para negros (127.9%) (WAISELFISZ, 2004). No ano de 2004, segundo o Mapa
da Violência 2006 (Idem, 2006), São Paulo apresentou 6.394 homicídios entre os brancos
(taxa de 22,7) e 4.652 entre os negros (taxa de 41,2). Na faixa de 15-24 anos, 2.251 para brancos
(taxa de 45,1) e 2.004 para negros (taxa 90,7)”. Idem, p. 94.
Carlos Lima. Minha mãe: Maria- Oyá Delê, pela vida. Que
bons ventos nos guiem. Vida longa às Capulanas - Cia
Dione Carlos
Beatriz Nascimento
1 A noção de economia moral elaborada por Thompson (1998) foi cunhada dos ingleses
pobres no século XVIII, cujo comportamento era orientado por pressupostos éticos e morais,
referendados nos costumes, na tradição, e em um consenso popular, que, ao serem desrespei-
tados pelos sujeitos da ascendente economia do “livre mercado”, aqueles ficavam indignados
e agiam no intuito de controlar os preços dos alimentos. Ver em SCHENATO, Vilson Cesar.
Economia moral e resistências cotidianas no campesinato: uma leitura a partir de E.P. Thomp-
son e James Scott Vilson Cesar Schenato. Trabalho apresentado no GT02, Natal, nov. 2010.
2 Hampaté Bâ. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph (org.) História Geral da África I: metodo-
logia e pré-história da África. São Paulo, Ed. Ática/Unesco, 1980, p. 181-218.
Jurema Werneck1
1 * CARNEIRO, Fernanda. Nossos passos vêm de longe. In: WERNECK, Jurema; MENDONÇA,
Maísa; WHITE, Evelyn. C. O livro da saúde das mulheres: nossos passos vêm de longe. Rio de
Janeiro: Pallas/Crioula, 2002.
Ruptura*
Estou no meu ninho
Me relendo
Me assistindo
Me remexendo
3 https://www.geledes.org.br/a-transformacao-do-silencio-em-linguagem-e-acao/
* Os poemas que compõem esse texto são todos da autoria de Flávia Rosa
Extrema
Minha dor verte poesia
Meu talho abre minha alma
A secreção é lágrima doce
Vermelho fica o branco nos olhos
O soluço sopra palavras guardadas
Um buraco rasga o peito
Floresce espinhoso sentir
Amarga o doce fel saliva
Desamarra os braços afago
Desapega pensamentos duros
Gozo meus fluidos
Grito o dilúvio
Danço como aço
Elucido na escuridão
Transpareço a vulnerabilidade
Tropeço erguida
Vomito com elegância
6 http://ciacapulanas.blogspot.com/2011/05/espirito-sangoma-prof-marcos-ferreira.html?m=1
1 Dona Raquel me deu de presente o espaço do Teatro Popular Solano Trindade para a ceri-
mônia de meu casamento. Que honra! Estavam todas lá, junto com muitos familiares, amigos,
fazendo do casório uma verdadeira Ópera Negra. Inesquecível...
2 Formas de escrita que significam modos de ser e existir africanos, dos povos Akan, da
África Central.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SOMÉ, Sobonfu. O espírito da intimidade. São Paulo: Editora Odysseus, 2007.
1 Mas o que se entende por dança afro? Em sentido genérico, é uma denominação que diz
respeito a uma diversidade enorme de fenômenos e de práticas de dança. Pode ser um termo
de referência para toda e qualquer prática de dança relacionada ao fenômeno da diáspora
africana ao longo dos últimos cinco séculos. Por isso, quando se pretende analisar um deter-
minado fenômeno artístico a partir da ideia de que é uma manifestação afro, o que acontece
é que, necessariamente, operamos uma determinada seleção, um determinado recorte na
realidade tão vasta e complexa dos intercâmbios que a cultura africana estabeleceu fora da
África. (MONTEIRO, 2011:2)
R eferências bibliográficas
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RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento.
São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Instituto Kuanza, 2007.
Stuart Hall
1 Cosplay é um desses fenômenos nos quais pessoas adultas saem à rua e vão a eventos tra-
jando roupas e adereços de personagens de histórias em quadrinhos ou desenhos animados.
2 BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. Tradução de Maria Paula Zurawski, J. Guins-
burg, Sergio Coelho e Clóvis Garcia. 6a ed. São Paulo: Perspectiva, 2014. p. 1.
5 Idem, p. 2.
6 MUNANGA, Kabenguele & AJZEMBERG, Elza. Revista USP, São Paulo, n. 82, p. 189-192,
junho/agosto 2009.
9 Idem, p. 514.
10 CAMELO, Gerson. Um estudo da relação estética entre a obra teatral de Langston Hughes
e de Amiri Baraka. Trabalho apresentado ao Programa de Pós-Doutorado em Estudos Linguís-
ticos e Literários em Inglês do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, sob a coordenação da profa. dra.
Maria Sílvia Betti. São Paulo, 2015, p. 14.
11 MUNANGA & AJZEMBERG, cit., p. 190.
12 Idem.
Mas agora podemos ligar vários fios dessa trama histórica cul-
tural que parecia esgarçada antes mesmo do tear ser devidamente
instalado nas duas margens do Atlântico. Jan Vansina, na grandio-
sa publicação História geral da África, nos avisava:
15 ILIFFE, John. Os africanos: história dum continente. Tradução de Maria Filomena Duarte.
Lisboa: terramar, 1999, p. 151.
16 VANSINA, Jan. In: História geral da África, VIII: África desde 1935, In: MAZRUI, Ali A. &
Uma confusão tem sido comum aos estudos sobre cultura ar-
tística, no que tange à passagem aparentemente natural do papel
social da arte e dos saberes especializados dos artistas do con-
texto tradicional ao contexto capitalista, no qual o prestígio social
e desempenho financeiro exercem funções modeladoras. Essa
mudança de posição e condição nem sempre é refletida, assim
como não atentamos aos aspectos da posição relativamente an-
tagônica entre público espectador e artistas criadores em diferen-
18 Idem, p. 740.
19 Idem, p. 440.
20 Idem, p. 741.
21 GOMES, Tiago de Melo. Negros contando (e fazendo) sua história: alguns significados da
trajetória da Companhia Negra de Revistas (1926). Estudos Afro-Asiáticos, Ano 23, Número
1, 2001, p. 53-83.
22 Idem, p. 63-83.
23 Idem, p. 742.
29 Idem, p. 140.
Civilização branca
Lincharam um homem
Entre os arranha-céus
(Li no jornal)
procurei o crime do homem
O crime não estava no homem
Estava na cor da sua epiderme.41
40 Idem, p. 28.
41 TRINDADE, Solano. Poemas antológicos. São Paulo: Secretaria da Educação: Nova Ale-
xandria. Sd, p. 144.
42 Idem, p. 17.
Pode ser que o racismo antinegro não estivesse plenamente
desenvolvido na cultura ocidental quando Aphra Behn criou a nar-
rativa do príncipe negro-africano. Ou pode ser ainda que os estere-
ótipos mais radicalmente desumanizadores estivessem esperando
a legitimação ideológica do sistema mundial de tráfico e escravidão
1 M’BOKOLO, Elikia. África negra. História e civilizações. Tomo I. Tradução de Alfredo Margari-
do. São Paulo: Salvador: Edufba; Casa das Áfricas, 2009, p. 381.
2 Idem
3 Idem.
4 WILLIAMS, Raymond. Palavras–chave: um vocabulário de cultura e sociedade. Tradução de
Sandra Guardini Vasconcelos. São Paulo: Boitempo Editorial. 2007, p. 318.
5 Ki-ZERBO, Joseph. Para quando África? Tradução de Carlos Aboim de Brito. Rio de janeiro:
Pallas, 2009, p. 137.
6 THOMPSON, Rober Farris. Flash of spirit: arte e filosofia africana e afro-americana. Tradução
de Tuca Magalhães. São Paulo: Museu Afro-Brasil, p. 17.
7 HOLANDA, Sergio Buarque de. Brancos e negros. In: Cobra de vidro. 2a ed. São Paulo: Pers-
pectiva. 1978.
8 Idem, p. 16.
9 MINTS, Sidney W. & PRICE, Richrad. O nascimento da cultura afroamericana: uma pers-
pectiva antropológica. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Palas Athena: Universidade
Cândido Mendes, 2003, p. 37-38.
10 NEMO, Philippe. O que é ocidente? Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. São
Paulo: Martins Fontes, 2005, p 77.
12 MOURA, Clovis. Dialética radical do negro. 2a ed. São paulo: Fundação Maurício Grabois;
Anita Garibaldi, 2014, p. 248. Moura tece precisos comentários sobre suas tentativas frustradas
de realizar seminário sobre literatura negra com o jornal Folha de S.Paulo, concluindo que
a mídia de massa tornou-se um eficaz sistema de controle cultural no Brasil, com nefasta
incidência sobre as formas culturais negras contemporâneas.
13 HUNSCHE, Carlos H. O biênio 1824/25 da imigração alemã no Rio Grande do sul (de São
Pedro). 2 ed. Porto Alegre: A Nação, 1975.
14 Idem, p. 30.
15 ANDREWS, George Rei. Negros e brancos em São Paulo (1888-1988). Tradução de Magda
Lopes. São Paulo: Edusc, 1988, p. 98.
Por tudo isso, certas entrelinhas dos estudos feitos por Antônio
Sergio Guimarães sobre as motivações xenofóbicas na origem da
Frente Negra Brasileira e sua noção subliminar de autodiscrimina-
ção,17 causam espanto e soam historicamente descabidas e inter-
pretativamente desonestas. O que o ativismo negro moderno das
décadas de 1890-1930 percebeu com aguda criticidade foi como se
ergueram, em tempo real na sua frente, sobretudo em São Paulo,
as barreiras sociopolíticas combinadas, as evidentes melhorias das
condições de vida da população branca, a imigração acelerada de
europeus e o vertiginoso processo de industrialização/urbanização,
gerando novos privilégios instituídos para os eurodescendentes.
Os pertencentes às elites advindas do escravismo e do tráfico
empreenderam efetivo esforço para encarar de forma realista a pre-
sença negra na formação social brasileira como fato consumado.
Isso depois que seus antecessores haviam formulado inúmeras
hipóteses inconclusas e sem sucesso sobre o desaparecimento
gradual e coordenado da população negra.
O racismo como ideologia e prática política efetiva somente
começou a ser implementado na medida em que o escravismo
caminhava para um ponto de agonia irreversível. O comando fi-
nanceiro e técnico esteve diretamente nas mãos e ideias dos fazen-
deiros paulistas, mineiros e fluminenses, que haviam feito fortuna
combinando tráfico clandestino e interno com produção em larga
escala de cafeicultura de exportação. Eles que também eram o
estado imperial, agora reformadores republicanos, imediatamen-
te após a abolição e proclamação constituíram o mais ambicioso
projeto de nacionalização da população. Como nacionalizar uma
população etnicamente tão diversa, se perguntaram. Como fazer
um estado-nação com tantos negros e índios remanescentes?
Mas era necessário não apenas importar brancos, como
também impedir a formação de “quistos étnicos”, gritou Silvio
Romero. Alberto Schneider,18 um gênio de sua raça, repercu-
16 GUIMARÃES, Antonio Sergio. Racismo e antirracismo. Novos Estudos CEBAP, n. 43, novem-
bro de 1995, p. 26-44.
17 GUIMARÃES, Antonio Sergio. Racismo e antirracismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, p. 226.
18 SCHNEIDER, Alberto Luiz. Silvio Romero, hermeneuta do Império. São Paulo: Annablume,
2005, p. 77.
19 Veja por exemplo: GÓES, Weber Lopes. Racismo e eugenia no pensamento conservador
brasileiro. A proposta de povo em Renato Kehl. São Paulo: Liber Ars, 2018.
20 GATES JR., Henry Louis. Os negros na América Latina. Tradução de Donasldson M. Gars-
chagem. 1a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 29.
21 RAMOS, Jair de Souza. Dos males que vêm com o sangue: representações raciais e a
categoria de imigrante indesejável nas concepções sobre imigração na década de 1920. In:
MAIO, Marcos Chor & SANTOS, Ricardo Ventura. Raça, Ciência e Sociedade. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 1996.
22 Veja: BLACK, Edwin. A guerra contra os fracos: A eugenia e a campanha norte-americana
para criar uma raça superior. Tradução de Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa. 2003. Veja
também: Racismo uma história: a cor do dinheiro. BBC Londres, 2007.
23 Leia: SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão
racial no Brasil, 1870-1930. Assista: Racismo, uma história da BBC, 1997. Leia: BLACK, Edwin.
A guerra contra os fracos. A eugenia e a campanha norte-americana para criar uma raça
superior. Tradução de Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa, 2003.
25 M’BOKOLO, Elikia. África negra. História e civilizações. Tomo I. Tradução de Alfredo Marga-
rido. São paulo: Salvador: Edufba Casa das Áfricas, 2009, p. 381.
27 WILLIAMS, Eric. Capitalismo e escravidão. Tradução de Denise Bottman. 1a ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012.
28 SANTOS, Joel Rufino dos. Reflexões sobre teatro e teatralidade. In: PARDO, Ana Lúcia. Tea-
tralidade do humano. São Paulo: Sesc, 2011, p. 81-89.
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Milton Santos
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3 ALMEIDA, Raquel. In: FAUSTINO, Carmen; FREITAS, Maitê; VAZ, Patricia (orgs). Samba em
primeira pessoa. São Paulo: Pólen, 2018, p. 39.
4 PAIXÃO, Adriana. Idem, p. 30.
5 Idem.
6 Idem, p. 36.
13 Ibdem.
14 SCHUMAHER, Schuma & BRAZIL, Erico Vital. Mulheres negras no Brasil. Rio de Janeiro:
Senac Nacional/Rede de Desenvolvimento Humano, 2006, p. 299.
15 Idem.
16 CARNEIRO, Sueli. Apresentação. In: SCHUMAHER, Schuma & BRAZIL, Erico Vital. Idem, p. 12.
19 BÓ, Efrain Tomas. O ator negro. In. Quilombo. P 7, n. 2, maio de 1949. Quilombo: Vida, proble-
mas e aspirações do negro. Edição Fac-similar do Jornal dirigido por Abdias do Nascimento.
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Apoio à Universidade de São Paulo: Editora 34, 2003, p 33.
20 PAIXÃO, Adriana. Idem, p. 30.
23 HALL, Stuart. Identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tadeu Tomas da Silva,
Guaracira Lopes Louro. 10 ed., Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
Sou Negro
Sou negro.
Meus avós foram queimados
pelo sol da África.
Minh’alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs.
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda,
como mercadoria de baixo preço.
Plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.
Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi.
Era valente como quê.
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu.
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou.
Na minh’alma ficou
o samba,
o batuque,
o bamboleio
e o desejo de libertação.25
25 TRINDADE, Solano. O poeta do povo. São Paulo: Cantos e Prantos Editora, 1999, p. 48.
Plástica Negra
Negra no sonho insultada
Negra no sonho oprimida
27 Venho trabalhando esse conceito a partir de uma referência poética de Daniel Fagundes,
“lado Sul da Sampa Mundi”. Efetivamente trata-se de vivências e experiências, memórias e
registros fragmentários das populações e sociabilidades de pessoas de origem africana e
autonomeadas negras, na cidade de São Paulo e na sua área metropolitana.
28 FRY, Peter. A persistência da raça: ensaios antropológicos sobre o Brasil e África austral.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
29 FRY, Peter & VOGT, Carlos. Cafundó: a África no Brasil - linguagem e sociedade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996, p. 16.
30 Ibidem.
31 FRY, Peter. A persistência da raça: ensaios antropológicos sobre o Brasil e África austral.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 16.
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Muniz Sodré
3 BARRETO, Lima. Diários íntimos. Cópia digital rede Web, s./d, p. 105.
4 Idem.
5 Veja: GATES, Henry Louis. The Classic Slave Narratives. Signet Classic: New York, 2002. Tam-
bém: AZEVEDO, Elciene. Orfeu de carapinha. A trajetória de Luiz Gama na imperial cidade de
São Paulo. Campinas: Ed. Unicamp, 1999.
6 BRITO, Deise Santos de. Casamento de preto? Correlações entre as corporeidades de Jo-
sephine Baker e Grande Otelo. Orientadora: Profa. Dra. Marianna Francisca Martins Monteiro.
Relatório de qualificação, referente às atividades realizadas pela doutoranda em artes no
período de março de 2015 a julho de 2016. Veja também: SILVA, Luciane Ramos. Corpo em
diáspora: colonialidade, pedagogia de dança e técnica Germaine Acogny. Tese de doutorado
sob orientação da Dra Inacyra Falcão. Antropologia da Dança. Unicamp, 2017.
7 Idem, p. 7.
8 SABINO, Jorge & LODY, Raul. Danças de matriz africana. Antropologia do movimento. Rio
de Janeiro: Pallas, 2011.
9 HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice/Editora Revista dos tribunais,
1990.
11 NASCIMENTO, Elisa Larkin. O sortilégio da cor: identidade, raça e gênero no Brasil. São
Paulo: Summus, 2003.
12 Idem, p. 40-60.
13 NASCIMENTO, Aysha; Flávio GOMES; GARCIA, Raphael. Negras dramaturgias 2. 2 ed. São
Paulo: R. S. Garcia, 2018.
14 SCHUMAHER & BRAZIL, Erico Vital. Mulheres negras no Brasil. Rio de Janeiro: REDEH,
Rede de Desenvolimento Humano, 2007, p.198.
15 MORRISON, Toni, In: GILROY, Paul. O atlântico negro: modernidade e dupla consciência.
Tradução de Cid Knipel Moreira. São Paulo: Ed. 34; Rio de janeiro: Universidade Cândido Men-
des, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001, p. 412.
16 Idem, p. 104.
18 CUNHA, Manuela Carneiro da, Antropologia do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 104.
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BARRETO, Raquel de Andrade. Enegrecendo o feminismo ou feminizando a
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Kaô Kabecilê.
“Levante! A ancestral diz!”