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Resumo
Este trabalho compreende uma revisão da literatura, dos diferentes fármacos utilizados na terapêutica
das afecções neurológicas de cães e gatos, assim como sua indicação, dosagens, e duração do
tratamento. Nesse contexto incluíram-se analgésicos, antibióticos, anticonvulsivantes, barbitúricos,
anticolinesterásicos, antifúngicos, antifibrinolíticos, antiinflamatórios esteróides e não esteróides,
antineoplásicos, antipsicóticos, ansiolíticos, antidepressivos, antioxidantes e varredores de radicais livres,
diuréticos, fármacos utilizados nos distúrbios da micção, fitoterápicos, modificadores do metabolismo
articular (nutracêuticos), relaxantes musculares e vitaminas.
Palavras-chave: Fármacos, doenças neurológicas, neurologia, cães e gatos
Abstract
A revision of the current literature regarding medical management of neurological diseases of dogs
and cats is presented. The indications, doses, and duration of the recommended treatment of several
medications are reviewed. The authors have reviewed analgesics, antibiotics, anticonvulsants, barbiturates,
anticolinesterasics, antifungals, antifibrinolytics, steroidal and non-steroidal antiinflammatory,
antineoplastics, antipsychotics, anxiolytics, antidepressants, free radical scavengers, diuretics, drugs
used in the treatment of micturition disorders, phytotherapeutics, nutraceuticals, muscle relaxants and
vitamins.
Key words: Medical management, neurological diseases, neurology, dogs and cats
1
Médica Veterinária Autônoma. E-mail: isabellevalente@hotmail.com
2
Professor Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. E-mail:
tudury@nelore.npde.ufrpe.br
3
Professor de Neurologia e Neurocirurgia da The Ohio State University. ,E-mail: ronaldo.dacosta@cvm.osu.edu
Recebido para publicação 02/06/09 Aprovado em 22/09/09
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convulsivas em uma grande frequência. Não se pode Visto que KBr não está disponível comercialmente,
considerar o paciente refratário ao fenobarbital se o cristais com graduação química podem ser obtidos
nível sérico da medicação não foi avaliado, pois não e misturados por um farmacêutico em farmácias de
existe correlação entre a dose oral e a concentração manipulação. Os clientes devem ser instruídos para
sérica (FARNBACH, 1984). A avaliação sérica que usem luvas, porque o KBr pode ser absorvido
do fenobarbital nos primeiros meses e depois, no através da pele e é tóxico para seres humanos.
mínimo, anualmente é uma condição absoluta Os níveis séricos efetivos de KBr variam de 500-
para o uso correto do fenobarbital. Em casos 1500 µg/mL (PEARCE, 1990). O nível sérico na
verdadeiramente refratários, deve-se considerar a monoterapia do brometo é de 2000-3000mg/L
utilização de um segundo anticonvulsivante. Se esta e quando associado ao fenobarbital é de 1500-
necessidade for comprovada, é importante ressaltar 2500mg/L (PODELL, 2004). O KBr pode ser
que a terapia jamais deve ser cessada subitamente, utilizado sem estar associado ao fenobarbital,
devido ao risco do desenvolvimento de estado podendo-se seguir o protocolo para o controle de
epiléptico grave. Assim, o próximo passo é a adição convulsões em 24h onde se utiliza 100 mg/kg,
de um segundo anticonvulsivante, sendo o brometo VO, q6h atingindo em 24 h a dosagem de 400 mg/
de potássio o mais indicado (PEARCE, 1990; kg que é utilizado para pacientes que precisam de
ARIAS; NETO, 1999). proteção imediata, contudo a sedação e os potenciais
distúrbios eletrolíticos associados a esta terapia são
Os gatos são mais sensíveis aos efeitos sedativos
importantes. Outra opção é o protocolo para controle
e eliminam mais lentamente o fenobarbital, sendo
das convulsões em 5 dias onde as doses são de 90
assim o seu nível sérico ideal é de 10-20µg/mL,
mg/kg, q24h durante 5 dias atingindo-se 450 mg/
e dose de 1-2 mg/kg, q24h, inicialmente à noite e
kg. Estes protocolos só são necessários caso haja
posteriormente a cada 12 horas. Os gatos podem
urgência no controle das crises convulsivas, pois
receber 1-2 mg/kg de diazepam VO, q12h. Nos
os efeitos adversos são importantes. Após atingir
casos de epilepsia refratária é recomendada a
o nível sérico administra-se à dose de manutenção
associação do diazepam com o fenobarbital na dose
(PEARCE, 1990; LORENZ; KORNEGAY, 2006).
de 0,5-2 mg/kg, dividida q8-12h (PODELL, 2004).
O diazepam oral é anticonvulsivante efetivo em Outros fármacos pouco utilizados no tratamento
gatos, mas não em cães. O nível sérico é de 200- da epilepsia são primidona, difenilhidantoina,
500mg/mL (CHRISMAN, 1997). clonazepam, ácido valpróico, carbamazepina,
parametadiona, e clorazepato dipotássico
O brometo de potássio (KBr) possui uma
(CHRISMAN, 1997), topiramato, lamotrigina,
estrutura molecular única comparada com os
levetiracetam, zonisamida, gabapentina e felbamato
outros anticonvulsivantes. Ele não é metabolizado
(PODELL, 2004). Contudo a difenilhidantoína, o
pelo fígado, podendo ser administrado em cães
ácido valpróico, a carbamazepina não apresentam
hepatopatas e é excretado pela urina (PEARCE,
farmacocinética apropriada para cães e gatos, sendo
1990). Devido a essas propriedades e a sua eficácia
portanto contra-indicadas. Outras medicações como
no tratamento das epilepsias em humanos se tornou
no casos da zonisamida e do levetiracetam ainda não
uma opção no tratamento das epilepsias em cães.
encontram-se disponíveis no Brasil. O topiramato
Não é recomendado em gatos, sendo relatados
usado em combinação com o fenobarbital ou
problemas respiratórios. Cristais de KBr dissolvidos
brometo de potássio, mostrou-se eficaz no controle
em água bidestilada (250mg/mL) e administrados
de crises epilépticas de difícil controle em cães e é,
na dose de 30 mg/kg, VO, q24h numa das refeições
portanto uma opção terapêutica para o tratamento
quando associada ao fenobarbital, ou 40 mg/kg,
de cães com epilepsia refratária (ADEODATO,
q24h quando usado isoladamente (PODELL, 2004).
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2005). Além de anticonvulsivante, a gabapentina (30-60mg, VO, q8h para cães e 2,5mg, q12h em
pode ser usada para o tratamento da dor neuropática gatos) e a neostigmina (0,5 mg/kg, VO, q8-12h
(MOREIRA, 2005). em cães) podem resultar no controle clínico da
miastenia grave. Podem também ser utilizados para
Ainda não está bem comprovado o efeito
o diagnóstico da miastenia grave, contudo deve-se
protetor do tiopental e do pentobarbital sobre
dar preferência aos anticolinesterásicos de curta
estruturas encefálicas envolvidas em estado
ação para este fim. É difícil acertar a dose diária
convulsivos refratários. O certo é que ambos, em
adequada para cada paciente, visto que o efeito
doses adequadas, quase sempre são eficazes no
médio desses fármacos varia de 1-8 h dependendo
controle das manifestações físicas das convulsões,
da margem de segurança juncional dos músculos
ressalvando-se o efeito depressor sobre o miocárdio.
afetados, a dose diverge de um animal para outro.
Caso tenha sido administrado benzodiazepínocas ou
Também o número de receptores musculares pode
fenobarbital a dose dos barbitúricos é de 3-15 mg/kg
variar em diferentes músculos do mesmo animal
IV (SILVA et al., 2006). Barbitúricos como: tiopental
doente, ou seja, uma certa dose considerada eficaz
e pentobarbital têm demonstrado diminuir a pressão
para alguns músculos pode ser exagerado ou
intracraniana depois de injúrias cerebrais devido
insuficiente para outros. A piridostigmina é pouco
à redução da demanda de oxigênio e glicose dos
absorvida após a administração oral, tornando
tecidos nervosos, acompanhando com isto a redução
necessária à administração em doses muito maiores
do fluxo sanguíneo cerebral devido à diminuição da
do que quando administrada por via parenteral,
pressão arterial e aumento da resistência vascular.
sendo usadas para gatos na dose de 0,25-2 mg/kg,
Deve-se dar preferência ao pentobarbital ao invés
q24h (MOREIRA; MARTINS; SALGADO, 2006).
do tiopental, pois o índice de mortalidade com o
Os efeitos adversos associados são: constipação,
tiopental é maior. O coma por pentobarbital deve
retenção urinária e midríase (SACCO, 2006).
ser induzido com a dose inicial de 3-5 mg/kg. O
Uma dose excessiva de anticolinesterásicos pode
objetivo da terapia com barbitúricos é minimizar a
promover crises colinérgicas e nicotínicas ou do
atividade elétrica do encéfalo com a manutenção de
SNC que podem ser minimizadas com o uso de
adequada pressão sistêmica sanguínea (BULLOCK,
sulfato de atropina cerca de 30 minutos antes
1995).
de sua administração (MOREIRA; MARTINS;
SALGADO, 2006).
Anticolinesterásicos de ação prolongada
Os anticolinesterásicos bloqueiam a ação da Antifúngicos
enzima acetilcolinesterase (AchE), inibindo sua
Ocasionalmente meningoencefalites e
atividade catalítica sobre a acetilcolina (ACh)
discoespondilites fúngicas são identificadas
(ANDRADE, 2002; SACCO, 2006). Os agentes
em pequenos animais e há poucos estudos
anticolinesterásicos são a primeira opção para
documentando a eficácia do tratamento nessas
o tratamento da miastenia grave (MOREIRA;
infecções, porém a opção que se tem é avaliar os
MARTINS; SALGADO, 2006). Não havendo
resultados documentados na medicina humana
hidrólise da acetilcolina, esta se acumula nas
(PAPICH, 2004). Os medicamentos disponíveis são
sinapses colinérgicas, provocando estimulação
anfotericina B, flucitosina, cetoconazol, itraconazol
desses receptores nos sistemas nervoso central e
e fluconazol. O tratamento deverá ser realizado
periférico (ANDRADE, 2002; SACCO, 2006).
por pelo menos seis semanas após remissão dos
Medicamentos aticolinesterásicos de ação
sinais clínicos (FENNER, 1997) e a eliminação da
prolongada como brometo de piridostigmina
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Fármacos utilizados no tratamento das afecções neurológicas de cães e gatos
infecção fúngica do SNC em cães e gatos é difícil ter se mostrado o fármaco de maior concentração
(LEUCOTER; CHILD, 1997). no LCE, sendo seu espectro de ação similar ao do
itraconazol (PAPICH, 2004). Chrisman et al. (2005)
A anfotericina B é utilizada com freqüência
recomenda que o tratamento antifúngico tenha no
no tratamento das infecções fúngicas sistêmicas,
mínimo 6 semanas de duração.
embora seja fracamente absorvida no tecido
nervoso. Deve-se monitorar o paciente quanto a
sua nefrotoxicidade, vômito, tremores e anorexia. A
Antifibrinolítico
dose recomendada é de 0,25 mg/kg nos primeiros
dias de tratamento e posteriormente 0,5 mg/kg Na mielopatia degenerativa tem sido relatada a
q24h até atingir uma dose acumulada de 4-8 mg/ utilização do ácido epsilon aminocapróico (EACA),
kg, sendo esta a dose total limite para ocorrência devido a sua ação antifibrinolítica, levando a
de nefrotoxicidade (PAPICH, 2004). Pode-se redução da inflamação associada com a degeneração
usar a administração intratecal de anfotericina de fibrina para diminuir a progressão da doença.
B, especialmente em animais com meningite Contudo não há estudos comprovando sua eficiência.
por Coccidioides immitis, mas tal procedimento O EACA pode causar irritação gástrica devendo ser
poderá resultar numa aracnoidite e inflamação de administrado por via oral, na dose de 500mg q8h
nervos cranianos (LEUCOTER; CHILD, 1997). junto com o alimento (CHRISMAN et al., 2005).
A administração intratecal é efetuada com solução
injetável do fármaco 5mg/mL diluída com solução
Antihistamínicos
de dextrose para 0,25 mg/mL, utilizando-se a dose de
0,01-0,1 mg/kg de q48-72h, sendo sua dose máxima Na chamada síndrome vestibular idiopática
de 0,25mg. Este procedimento é arriscado devendo ocasionalmente ocorrem vômitos. Nestas situações
ser efetuado em último caso (PAPICH, 2004). podem ser usados a difenidramina, 2-4mg/kg SC,
q8h, ou fármacos vestibulo-sedativos como a
Combinações de medicamentos também podem
meclisina 1-2 mg/kg VO, q24h para alívio da êmese
ser utilizadas. A anfotericina B, cetoconazol (má
associada à cinetose (TAYLOR, 2006). Meclisina
penetração no SNC) e flucitosina (boa penetração
pode ser usada também em casos de náusea.
no SNC) são os principais agentes utilizados. A
Nas primeiras 24-48 horas pode-se administrar
terapia com cetoconazol em dose elevada e por
cloridrato de meclizina oral 6,25mg, q24h para
longo período foi considerada efetiva no tratamento
gatos e 12-25mg, q24h para cães para reduzir a
de criptococose em gatos (LEUCOTER; CHILD,
tontura e o desconforto do paciente. O diazepam 0,1-
1997).
0,25mg/kg, VO, q8h, pode ser usado para reduzir o
Os imidazóis como fluconazol e itraconazol desconforto se a meclisina não estiver disponível,
podem ser eficazes no tratamento de infecções mas pode causar alguma sedação (CHRISMAN et
fúngicas do SNC (LEUCOTER; CHILD, 1997). al., 2005).
O itraconazol é altamente lipofílico e atinge altas
concentrações nos tecidos. Sua concentração
específica em cães e gatos ainda não foi avaliada. A Antiinflamatórios
dose recomendada para gatos é de 10 mg/kg q24h Os efeitos da inflamação no sistema nervoso são
e para cães de 2,5-5 mg/kg, q24h. Já o fluconazol edema, necrose, vasculite, hipóxia e efeitos tóxicos
(2,5-5 mg/kg, VO, q24h em cães e 2,5-10 mg/kg, VO, diretos dos neutrófilos sobre SNC (FENNER, 1997).
q12h em gatos) tem sido mais comumente utilizado Durante a hipóxia, os radicais livres de oxigênio são
no tratamento de meningoencefalite fúngica, por gerados a partir da síntese de prostaglandinas onde
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a reintrodução de oxigênio nos tecidos isquêmicos, mostram que aspirina 25 mg/kg VO q3dias durante
resulta na produção em massa de radicais livres, toda a vida do paciente é medicação profilática em
configurando a chamada lesão da reperfusão, neuromiopatia isquêmica em gatos (MCDONALD;
causando morte neuronal (SACCO, 2006). LANGSTON, 1997). Deve-se tomar cuidado com
os seus efeitos gastrintestinais e renais adversos,
não devendo ser combinados com corticosteróides
Antiinflamatórios não-esteróides (AINES) (BAGLEY, 2005). No tratamento da neuromiopatia
Os AINES são apropriados para o tratamento da isquêmica tem sido associada à aspirina, warfarina
inflamação associada a certas enfermidades, quando e heparina, objetivando a redução das chances de
a terapia por corticosteróides tiver o potencial de recidiva do tromboembolismo (CHRISMAN et al.,
causar demasiada quantidade de efeitos colaterais 2005).
(MCDONALD; LANGSTON, 1997). A associação Nas afecções espinhais utiliza-se principalmente
de AINES a corticosteróides é um risco, uma vez o carprofeno (2,2 mg/kg, VO, q12h ou 4,4 mg/
que pode acarretar em úlceras gastrintestinais e kg, VO, q24h) e o endolac (10-15mg/kg, q24h)
hemorragias e é absolutamente contra-indicada (BAGLEY, 2005). Na espondilose deformante e
(PAPICH, 2004). Não apenas os corticosteróides estenose lombossacra é indicado o uso de AINES
prejudicam o sistema imune do paciente, mas como carprofeno (2,2 mg/kg, q12h), meloxicam
também normaliza a BHE, o que diminui a (0,1mg/kg, q24h) ou cetoprofeno (1-2 mg/kg, q24h)
capacidade de penetração dos antibióticos no SNC. (PELLEGRINO, 2003).
Nestes casos, medicamentos antiinflamatórios não-
esteróides podem ser benéficos (FENNER, 1997).
Corticosteróides
As principais ações farmacológicas dos AINES
são antiinflamatórias e analgésicas. As ações As doenças neurológicas freqüentemente
antiinflamatória e analgésica ocorrem pela inibição requerem terapia com corticosteróides (PLATT,
da COX-1 e COX-2, em proporções geralmente 2002), sendo estes comumente prescritos em
diferentes, inibindo a liberação de prostaglandinas e animais com doença espinhal devido a sua ação
tromboxanos, importantes mediadores da inflamação antiinflamatória e redução do edema. São mais
e da dor. A ação antipirética é por causa da inibição da efetivos em doenças neoplásicas ou inflamatórias
PGE2 liberada após a ação fagocitária dos leucócitos do que infecciosas. O uso de corticosteróides no
sobre partículas estranhas, liberando pirógenos tratamento do trauma espinhal é comum, porém não
endógenos. Possui também ação anticoagulante, por é aceito mundialmente e o seu uso em doenças do
inibição da síntese de tromboxanos, que aumenta a disco intervertebral é polêmico. Os efeitos adversos
agregação plaquetária, e ação antiespasmódica por do uso de corticosteróides, principalmente quando
diminuição da liberação de prostaglandinas ao nível usados em altas doses e em tratamentos de longa
do endométrio (ANDRADE, 2002). duração são os efeitos gastrintestinais (úlceras) e
imunossupressivos, também podendo aumentar a
A aspirina é administrada oralmente a todas as
incidência de pancreatite (BAGLEY, 2005). Além
espécies e pode controlar a febre, a dor somática
destes, a terapia com corticosteróides em longo
leve a moderada e alguns estados antiinflamatórios.
prazo pode causar também hepatopatias e miopatias
Doses de 10 mg/kg, q12h, VO são geralmente
(CHRISMAN et al., 2005). A dexametasona pode
suficientes para a maioria dos cães, para o controle
causar complicações gastrintestinais mais severas
da febre e da dor, enquanto 20-30 mg/kg, VO, q12h
quando comparada a prednisona e metilprednisona
seriam necessário para o tratamento da inflamação
(THOMAS, 2002).
(MCDONALD; LANGSTON, 1997). Estudos
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Fármacos utilizados no tratamento das afecções neurológicas de cães e gatos
Pode-se fazer uso dos corticosteróides de duas sejam administrados em alta dosagem e dentro das
formas distintas: em doses antiinflamatórias pode- primeiras 8h do traumatismo (FENNER, 1997).
se utilizar a dexametasona na dose de 0,15 mg/kg Existem evidências de melhora após administração
ou a prednisona na dose de 1 mg/kg ou em doses de succinato de metilprednisolona em pacientes
imunossupressivas no tratamento de afecções veterinários com severo trauma craniano, porém
imunomediadas que ocorrem no SNC e sistema rotineiramente a administração de corticosteróides
nervoso periférico (SNP), incluindo a meningite não é recomendada. A administração de
responsiva ao corticóide, miastenia grave, miosite corticosteróides em pacientes com trauma craniano
mastigatória, polimiosite e meningoencefalomielite é controversa (DEWEY; BUDSBERG; OLIVER,
granulomatosa (MEG). A dose imunossupressiva 1993). No passado foram utilizados protocolos para
de prednisona é 2-4 mg/kg q24h. Para terapêutica pacientes após 1 hora do trauma crânio-encefálico
imunossupressiva pode-se usar a azatioprina na onde era administrado metilprednisolona (30 mg/
dose de 2mg/kg, q24h (PAPICH, 2004). kg) em injeção intravenosa rápida concentrada; em
seguida, repetia-se esta injeção em 2-6 h (FENNER,
Os efeitos benéficos da terapia com corticosteróides
1997), contudo a literatura atual, principalmente
referem em particular a doenças do encéfalo e
sobre o traumatismo crânio-encefálico em humanos,
da medula espinhal, incluindo a proteção contra
não recomenda o uso rotineiro de corticosteróides
radicais livres, reduzindo a pressão intracraniana
(GHAJAR; HESDORFFER, 2004)
ao diminuir a produção do LCE e mantendo a
integridade vascular (PLATT; ABRAMSON; Em pacientes com injúrias parciais da medula
CAROSI, 2005). Visto que muitos sinais clínicos com menos de 8h de evolução tem sido demonstrado
nos casos de encefalite estão relacionados à bom resultado com a administração de succinato de
inflamação, e não a algum microrganismo, mesmo metilprednisolona. A dose inicial é de 30 mg/kg, IV
pacientes com infecções podem ser inicialmente com doses adicionais de 15 mg/kg de 2-6h depois
tratados com corticosteróides (FENNER, 1997). da dose inicial e depois q8h até completar 48h de
Os efeitos dos corticosteróides no SNC estão tratamento depois do trauma (PLATT; ABRAMSON;
bem documentados. Indiretamente eles mantêm a GAROSI, 2005). Contudo este protocolo também
concentração plasmática de glicose, responsável tem sido questionado recentemente.
pela função cerebral, manutenção do fluxo cerebral
A dexametasona e a prednisona têm
e influencia no balanço eletrolítico do SNC (PLATT;
sido freqüentemente utilizadas com doses
ABRAMSON; GAROSI, 2005). Reduzem o edema
antiinflamatórias em resposta a extrusão de
estabilizando as membranas celulares a BHE,
disco reduzindo o edema e melhorando o fluxo
evitando o desenvolvimento de mais edema. Dentre
da medula espinhal. Deve-se tomar cuidado
as três formas de edema cerebral, os corticosteróides
com o uso dos corticosteróides, pois eles podem
são bastante eficientes para dois, o edema vasogênico,
diminuir o desconforto dos pacientes com doenças
causado por inflamações e tumores, e o intersticial,
espinhais, encorajando-os à atividade excessiva
causado por hidrocefalia na região periventricular.
(PLATT; ABRAMSON; GAROSI, 2005). O
Os corticosteróides também modulam a resposta
protocolo utilizado na discopatia intervertebral
inflamatória que resulta em necrose tecidual,
degenerativa é de 0,25-1 mg/kg de prednisona,
diminuindo a desmielinização secundária ocorrente
VO, q12h, com doses reduzidas por 30 dias. Nos
de 1-5 dias após o trauma craniocerebral (FENNER,
casos de espondilomielopatia cervical ou síndrome
1997; PLATT; ABRAMSON; GAROSI, 2005).
de wobbler, cães levemente afetados podem
Os corticosteróides também podem aliviar o melhorar com 0,25mg/kg de prednisona, VO, q12h
edema subseqüente a traumas no SNC, desde que (CHRISMAN et al., 2005)
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Os corticosteróides são recomendados também tratamento paliativo, também há poucos relatos sobre
nos casos de meningite imuno-mediada em doses avaliação do uso corticosteróides em pacientes com
imunossupressivas, e podem ser usados nos casos de tumores espinhais, porém é claramente indicado o
meningoencefalites bacterianas por curto período. seu uso em compressões de raízes nervosas (PLATT;
Os corticosteróides podem diminuir a inflamação, ABRAMSON; CAROSI, 2005). Em alguns casos
e assim diminuir as lesões resultantes à medula de neoplasias cerebrais, a prednisona (0,25-0,5
espinhal; todavia, este tratamento também poderá mg/kg, VO, q12h) pode reduzir o edema cerebral
deprimir os mecanismos de defesa do hospedeiro, secundário e aliviar os sinais clínicos por vários
e às vezes poderá resultar numa deterioração dos meses (CHRISMAN et al., 2005).
sinais clínicos, e numa incidência mais elevada
Pode-se lançar mão de corticosteróides,
de recidivas (LEUCOTER; CHILD, 1997). Nas
tanto na hidrocefalia primária, quanto na
doenças bacterianas utiliza-se 0,15 mg/kg de
secundária, (FENNER, 1997). Na hidrocefalia o
dexametasona 15-20 minutos antes do início da
uso de corticosteróides pode diminuir o liquido
terapia antimicrobiana (PLATT; ABRAMSON;
cerebroespinhal, pressão intracraniana e diminuir
CAROSI, 2005). O protocolo para o tratamento
injúrias neurológicas. Recomenda-se a utilização de
de meningite imunomediada em longo prazo com
prednisona 0,25-0,5 mg/kg, VO, q6h. A dose pode
prednisona é 2 mg/kg, VO, q12h por dois dias,
ser reduzida depois de 2-4 meses (BRAUND, 1997).
posteriormente redução para 1 mg/kg, q12h, por
É sugerido por alguns autores o uso de prednisona
mais duas semanas e depois 0,5 mg/kg, q12h por um
0,25-0,5 mg/kg, VO, q12h, nos casos de hidrocefalia
mês. Finalmente terapia por dias alternados durante
(DEWEY, 2003). Alternativamente pode-se utilizar
4-20 meses (CHRISMAN et al., 2005).
a dexametasona 0,25 mg/kg, VO, q 6-8h sendo a
Nos casos de cinomose, erliquia, toxoplasmose dose reduzida 2-4 semanas (PLATT, 2002).
e neosporose utiliza-se a dose de 1-2 mg/kg, IV
Nos casos de neurite óptica o animal poderá
de dexametasona. Nos casos de encefalomielite
ser tratado sintomaticamente, por meio de
por peritonite infecciosa felina utiliza-se doses
corticosteróides retrobulbares (ex. betametasona
imunossupressivas e doses antiinflamatórias
2,5mg), juntamente com a administração de
incluindo prednisona (2-4 mg/kg, VO, q24h)
prednisona 1 mg/kg, VO, q12h durante 10-14 dias.
(BRAUND, 1997). Os corticosteróides podem ser
Seguida por metade da dose por mais duas semanas
eficazes na meningite imunomediada associada
e com redução gradual até terapia de manutenção em
à erliquiose, e tratamentos curtos de 2-7 dias
dias alternados durante um ano (BRAUND, 1997).
podem ser benéficos em caso de erliquiose com
Na neurite óptica idiopática é sugerido o uso de 2
trombocitopenia concomitante (PLATT, 2002). No
mg/kg, q12h durante 14 dias e redução gradual após
tratamento de rotina da MEG utiliza-se também
esse período (TILLEY; SMITH JUNIOR, 2003).
medicamentos imunossupressivos. O medicamento
usado com maior freqüência é a prednisona 1-2 mg/ No acidente vascular cerebral a administração
kg, q24h, entretanto, também estão sob consideração de corticosteróides não tem um efeito positivo,
outros medicamentos como a azatioprina (FENNER, podendo alterar o tamanho do infarto ou hemorragia,
1997). Em casos de MEG deve-se utilizar 1-2 mg/ mas provavelmente não reduzindo a pressão
kg de prednisona VO, q12h, porém o prognóstico é intracraniana, sendo o benefício da utilização nessa
ruim e a resposta variável (PLATT, 2002). afecção questionável (PLATT, 2002). O tratamento
para distúrbios cerebrovasculares deve ser ajustado
Não há dados que relatem a sobrevivência de
para tratar a doença subjacente, se houver uma,
cães e gatos com neoplasias cerebrais utilizando
como por exemplo, em animais que apresentam
apenas corticosteróides, sendo considerado como
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Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 2010
Fármacos utilizados no tratamento das afecções neurológicas de cães e gatos
migração parasitária usa-se prednisona 0,25- plaquetas estiverem na variação normal, então se
0,5mg/kg, VO, q12h por 3 a 5 dias, com redução deve aumentar a dose de lomustina para 80mg/m2
subseqüente (CHRISMAN et al., 2005). Atualmente (CHRISMAN et al., 2005).
tem sido demonstrado que o uso de corticosteróides
Nos casos de MEG confirmada pelo exame
na presença de isquemia é perigoso, sendo relatado
histológico de biópsia cerebral, pode-se administrar
o fato de que com os corticosteróides os animais
o fármaco antineoplásico procarbazina, 2-4 mg/
são mais vulneráveis a isquemia-hipóxia cerebral
kg, VO, q24h, por 1 semana e depois aumentar
(PLATT; ABRAMSON; CAROSI, 2005).
para 4-6 mg/kg, q24h, devendo-se monitorar o
Dentre as doenças imunomediadas número de plaquetas e leucócitos, já que a duração
neuromusculares a miastenia gravis pode ser tratada do tratamento é de 6 –12 meses para controle dos
com doses imunossupressivas de prednisona 2-4 mg/ sinais clínicos (CHRISMAN et al., 2005). Segundo
kg durante duas semanas, reduzindo gradativamente Coates, Barone e Dewey (2007) o tratamento com
a dose. Pode-se também iniciar com uma dose procarbazina pode resultar em aumento da sobrevida
menor de prednisona (0,25 mg/kg q12-24h) e do paciente e pode ser complementado com outras
depois ir gradativamente aumentando ao longo de terapias imunossupressoras. Pode-se fazer uso de
algumas semanas para impedir a deterioração clínica citosina arabinosídeo em casos de MEG, como agente
(SHELTON, 2002). Já nos casos de polimiosite isolado ou em combinação com a prednisona, na
idiopática e na miosite dos músculos mastigatórios dose de 50mg/m2, SC, q12h por 2 dias consecutivos,
deve-se administrar de 1-2 mg/kg, VO, q12h repetindo o esquema a cada três semanas (LORENZ;
durante 2 e 3 semanas respectivamente com redução KORNEGAY, 2006), sendo relatado que o uso de
gradativa por alguns meses até fazer a retirada total prednisona e citosina arabinosídeo pode ser um
do medicamento (PLATT, 2002). tratamento empírico seguro em pacientes com
meningoencefalite de etiologia desconhecida,
podendo prolongar o tempo de vida desses animais
Antineoplásicos (ZARFOSS et al., 2006). Já Taylor (2006) relata que
A quimioterapia antineoplásica tem sido raras às vezes a terapia com citosina arabinosídeo
tradicionalmente inefetiva nos casos de tumores (50mg/m2, SC ou IV, q24h durante 2 dias, seguido
cerebrais em cães e gatos, pois os fármacos têm por 100mg/m2 1 vez por semana) é eficaz. Segundo
pobre penetração na barreira hematoencefálica, Gnirs (2006) o uso da ciclosporina 10mg/kg,
porém a carmustina (BCNU) e a lomustina (CCNU) VO, q24h durante seis semanas, posteriormente
vêm sendo utilizados nos casos de gliomas em reduzindo para 5mg/kg, VO, q24h, teve melhoria
cães (DEWEY, 2003). Embora existam casos satisfatória nos sinais clínicos, onde seis semanas
selecionados em que a quimioterapia foi benéfica, após o início do tratamento com ciclosporina os
este procedimento não se mostrou tão promissor resultados clínicos foram similares aos obtidos com
quanto à radiação ou a cirurgia. Concomitantemente o uso da prednisona.
com o tratamento do tumor, procede-se ao
tratamento dos efeitos secundários, como o edema
(FENNER, 1997). A lomustina oral retarda o
Antipsicóticos
crescimento tumoral e pode ser uma opção para Os antipsicóticos também chamados de
alguns animais. Administra-se 60mg/m2 , VO, e se neurolépticos ou tranqüilizantes maiores, são
realiza hemograma e contagem plaquetária toda classificados em alta potência e baixa potência, os
semana por 5 semanas. Se a contagem plaquetária primeiros são isentos de efeitos colaterais, como
for de 50.000 células por µL ou acima disso e as xerostomia e hipotensão postural e menos sedativos
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Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 2010
Neves, I. V.; Tudury, E. A.; Costa, R. C. da
Ansiolíticos Antidepressivos
Os ansiolíticos utilizados no combate aos sinais
Os antidepressivos tricíclicos estão inclusos entre
causados pela ansiedade são os benzodiazepínicos
os fármacos mais eficazes no controle da dor cônica,
(diazepam, alprazolam e clorazepato) e as
incluindo a neuropática. Eles exercem ação sedativa,
azapironas (buspirona) (SILVEIRA, 2006). Os
ansiolítica, miorrelaxante e antiinflamatória, além de
benzodiazepínicos causam redução da ansiedade e
regularizar o sono e melhorar o apetite (MOREIRA,
da agressividade, sedação, relaxamento muscular
2005). O cloridrato de selegilina, 0,5-1mg/kg, VO,
e supressão das convulsões, sendo indicado no
q24h pela manhã, pode melhorar a atividade mental
tratamento de distúrbios de ansiedade, na síndrome
sendo utilizado nos casos de síndrome de disfunção
da ansiedade da separação (medicar pelo menos uma
cognitiva em cães. A dose não deve exceder 2 mg/kg,
hora antes de o proprietário sair de casa), distúrbios
q24h e não deve ser usada intercorrentemente com
compulsivos e marcação excessiva urinária pelos
antidepressivos tricíclicos (como clomipramina,
gatos (ANDRADE, 2002). O flumazenil é o fármaco
amitriptilina e imipramina) ou bloqueadores de
empregado, como antagonista eficaz, no tratamento
recaptação de serotonina como fluoxetina, pois
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Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 2010
Fármacos utilizados no tratamento das afecções neurológicas de cães e gatos
podem ocorrer efeitos tóxicos e morte (DEWEY, ativam os receptores corticosteróides, além de ter
2003; CHRISMAN et al., 2005). Pode-se utilizar efeitos antioxidantes (DEWEY, 2003). São 100
antidepressivos nos casos de agressão por domínio, vezes mais potentes do que o succinato sódico
ansiedade por separação, comportamento dimórfico de metilprednisolona na inibição da peroxidase
masculino, comportamento tímido ou agressão pelo lipídica. O tirilazade é um 21-aminoesteróide
temor e distúrbios obsessivo-compulsivos, sendo as desenvolvido para uso clinico (BERGMAN;
medicações mais utilizadas a amitriptilina 0,5 mg/ LANZ; SHELL, 2000). Porém em pesquisa, onde o
kg, VO, q8-12h e a fluoxetina 0,5 mg/kg, VO, q8- aminocorticosteróide U74389G foi usado na dosagem
12h nos gatos e 1 mg/kg, VO, q24h nos cães com de 30, 15, 10, 5 e 1,5 mg/kg IV, não foi observado
duração do tratamento de 6-8 semanas para ambos melhora na recuperação neurológica dos animais,
(MORAIS; OLIVEIRA, 2006). quando comparados ao grupo controle (COATES et
al., 1995). Isto sustenta a idéia de que os benefícios
No tratamento da narcolepsia são utilizados
obtidos com o uso do tirilazade não são comparados
principalmente os antidepressivos tricíclicos como
com os observados com a administração de succinato
imipramina 0,4-1 mg/kg, VO q8-12h, protripilina
sódico de metilprednisolona (SILVEIRA, 2006).
5-10 mg, VO, q24h, amitriptilina 1-2 mg/kg, VO,
q12h e fluxetina 1mg/kg, VO, q24h nos casos Alopurinol, mesilato de deferoxamina e DMSO
de catalepsia. Quando o animal apresenta além podem ser usados no tratamento dos traumas
de catalepsia o sono excessivo utilizam-se os craniano e medular agudos (DEWEY, 2003). A
simpatomiméticos metilfenidato 0,25 mg/kg, VO, N-acetilcisteína (NAC) é um antioxidante potente
q8-12h ou dextroanfetamina 5-10mg, VO, 8-12h e que impede a destruição tecidual induzida por
em apenas sono excessivo utiliza-se a selegilina 1 radicais livres, sendo utilizado na mielopatia
mg/kg, VO, q24h (THOMAS, 2003). degenerativa na dose de 25 mg/kg, q8h por duas
semanas e posteriormente em dias alternados por
mais duas semanas, tendo como objetivo a redução
Antioxidantes e varredores de radicais da progressão da doença (CHRISMAN et al.,
livres 2005).
Os antioxidantes atuam fornecendo hidrogênio O DMSO tem o potencial de reduzir a magnitude
para o radical livre e o estabilizando. O antioxidante da necrose tecidual após lesão medular, protegendo
torna-se um radical livre, mas tem a propriedade de a medula espinhal contra efeitos deletérios dos
poder reajustar-se em um composto estável e dessa radicais livres induzidos pela peroxidação (EWAN,
maneira interromper a reação de propagação em 1996). Estudos de microscopia eletrônica indicam
cadeia (LIS, 2003). que o DMSO, administrado uma hora após a lesão
Há grandes evidências de que a produção de contusiva em cães, protegeu a bainha de mielina e
radicais livres afeta o sistema nervoso após o trauma axônios, reduzindo o edema e acelerando o retorno
craniano, contribuindo para a autólise e o edema à função motora (BERGMAN; LANZ; SHELL,
cerebral. O radical superóxido tem sido demonstrado 2000). No entanto, em outro estudo realizado com
após 1h da injúria cerebral experimental em gatos. O gatos submetidos a trauma medular agudo, não
mesilato de deferoxamina é importante antioxidante se observou diferença significativa da eficácia do
tendo dose recomendada de 25-50 mg/kg, IM ou IV DMSO entre os grupos de animais tratados e não
(lentamente) (THOMAS, 2003). tratados (COATES et al., 1995). A dose recomendada
no tratamento do edema ou traumatismo do SNC é
Os lazaróides ou 21-aminocorticosteróides
de 0,5-1g/kg, IV, q24h, lentamente com solução a
são análogos à metilprednisolona, porém não
10% (MCDONALD; LANGSTON, 1997).
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Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 2010
Neves, I. V.; Tudury, E. A.; Costa, R. C. da
O DMSO tem sido efetivo na redução da administrada juntamente com manitol, os efeitos
pressão intracraniana no trauma craniano, pois destes dois medicamentos ficarão potencializados,
tem efeito neuroprotetor, reduzindo a oxigenação e ficando reduzidos os edemas de rebote, sugerindo-
requerimento de glicose pelo tecido cerebral, além se a administração da furosemida juntamente ao
da diminuição do edema devido a suas propriedades manitol no trauma craniano, pois a furosemida
antiinflamatórias e diuréticas (BULLOCK, 1995). previne a expansão rápida de volume, diminui o risco
de edema pulmonar e promove rápida excreção do
manitol pelos rins (FRANKLIN, 1995; FENNER,
Diuréticos 1997; THOMAS, 2003).
Os diuréticos reduzem a pressão intracraniana Acetozolamida pode ser usado para diminuir a
(PIC), tanto pela remoção do edema, quanto pela produção de líquido cerebroespinhal utilizando-se
redução do volume intracraniano. O manitol na dose de 10 mg/kg, VO, q 6-8h, assim como a
é um diurético osmótico comumente utilizado metazolamida nos casos de hidrocefalia (DEWEY;
na redução da PIC elevada e é exclusivamente BUDSBERG; OLIVER, 1993).
administrado pela via intravenosa. Ele é totalmente
excretado através da filtração glomerular, não sofre
metabolização, nem mesmo reabsorção tubular e é Fármacos que atuam na função da micção
eliminado através da urina. Sua principal indicação
A disfunção no armazenamento da urina pela
é diminuição do edema cerebral principalmente
bexiga se dá pela hiperreflexia do músculo detrusor
no sentido de manter um gradiente osmótico,
que ocorre devido a distúrbios cerebelares e doenças
além de apresentar capacidade de reperfusão e
da medula espinhal crônicas. Os fármacos utilizados
mobilização de radicais livres (BULLOCK, 1995;
nestes casos são: brometo de propantelina 0,25-0,5
FRANKLIN, 1995). A dose é de 1g/kg, IV, q6-8h
mg/kg, VO, q8h ou cloridrato de oxibutinina 2-5mg,
(SPINOSA; GORNIAK; BERNARD, 1999). A
VO, q8-12h (COATES, 2004).
dose recomendada nos casos de trauma craniano é
de 0,25-2 g/kg IV, lentamente (duração entre 20 e A incontinência uretral está associada a lesões
30 minutos), administrado IV como solução a 20%, na região medular sacral e tem como tratamentos:
sendo aplicado na velocidade de 2 mL/kg/minuto a administração do fenilpropanolamina 1,5 mg/kg,
(BULLOCK, 1995; FRANKLIN, 1995). VO, q8-12h que tem como efeitos adversos a retenção
urinária e a taquicardia, ou a imipramina 5-15mg,
A colheita de fluido cerebroespinhal espinhal é
VO, q12h tendo como efeitos adversos convulsões,
arriscada quando associada à elevação da pressão
tremores e hiperexcitabilidade (COATES, 2004).
intracraniana, pois pode ocorrer herniação cerebral.
Nestas situações pode-se fazer uso do manitol na A incapacidade de urinar se dá pela ausência
dose em bolos de 0,25-2 g/kg, IV durante 10-15 ou incompleta contração da bexiga ou obstrução
minutos, seguido em 15 minutos por furosemida uretral (anatômica ou funcional). A ausência ou
(0,7 mg/kg) antes da coleta de fluido cerebroespinhal incompleta contração da bexiga está associada às
(CHRISMAN et al., 2005). lesões craniais à L7 (neurônio motor superior) sendo
uma seqüela comum nos casos de mielopatia entre
A furosemida aparentemente diminui a produção
T3-L3, onde as vias motoras e sensitivas do reflexo
do LCE e facilita a reabsorção do edema cerebral,
detrusor estão afetadas. Também pode ocorrer nos
diminuindo o volume intracraniano, podendo
casos de lesões medulares, sacrais, raízes nervosas
ser utilizada na dose de 0,7 mg/kg, administrada
e/ou plexo pélvico (COATES, 2004). A atonia
em forma de injeção intravenosa concentrada,
da bexiga se dá quando esta se distende além de
que deverá ser repetida em 4h. Se a furosemida é
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Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 2010
Fármacos utilizados no tratamento das afecções neurológicas de cães e gatos
kg e em gatos 2-5 mg, VO, q8h e o midazolam na neurológicas. Nos casos de deficiência, estas
dosagem de 0,06-0,22 mg/kg, IM, IV ou 0,1 mg/kg, vitaminas têm indicação precisa, porém pouco se
IV para cães e gatos (ANDRADE, 2002). Na doença sabe sobre seus efeitos nas doenças neurológicas
espinhal pode-se utilizar os benzodiazepínicos decorrentes de outras etiologias. Algumas doenças
para o alívio dos espasmos musculares, sendo nutricionais ocasionadas pela deficiência seletiva ou
considerado um tratamento adjuvante no tratamento pelo excesso de ingredientes podem ter implicações
da dor nesses pacientes (PAPICH, 2004). Chrisman neurológicas. Entretanto, ainda existem dúvidas
et al. (2005), cita o uso do diazepam 0,5-2 mg/ quanto à necessidade ou benefício das vitaminas em
kg, VO, q6-8h na doença do disco intervetebral muitas doenças (NISHIOKA; ARIAS., 2005).
e na espondilomielopatia cervical (síndrome de
wobbler).
Vitamina B
Nos casos de tétano quando necessário a
manutenção da respiração artificial, pode-se promover Em caninos e felinos, os sinais clínicos da
um relaxamento da musculatura respiratória à base deficiência de tiamina são anorexia, ataxia
de bloqueadores neuromuscularesdo tipo curare proprioceptiva, ventroflexão do pescoço, coprofagia,
(CANAL; LOPES; CANAL, 2006), já os espasmos consciência diminuída, postura em base ampla,
musculares são controlados através do uso de cifose, êmese, paraparesia espástica progressiva,
diazepam (0,5-2 mg/kg IV) ou clorpromazina (0,5 andar em círculos, convulsões generalizadas,
mg/kg, IV) q8h (TAYLOR, 2006). opistótono, coma e morte (BRAUND, 1993;
NISHIOKA & ARIAS, 2005). A deficiência natural
de tiamina é pouco freqüente em cães e gatos e
Nos casos das câimbras musculares que são costuma ser decorrente da presença de fatores anti-
vistas com maior freqüência em cães, principalmente tiamina nos alimentos, ao invés de uma deficiência
naqueles das raças Greyhound e Scottish Terrier, vitamínica absoluta (NISHIOKA; ARIAS, 2005).
podem ser usados também a levomepromazina ou o
A deficiência de tiamina canina e felina bloqueia
diazepam (SILVA et al., 2006)
as vias metabólicas aeróbicas do SNC. O primeiro
passo consiste na reversão da afecção imediata com
cloridrato de tiamina injetável, na dose de 10 mg/
Vitaminas
kg. Muitos pacientes afetados são mantidos com
As vitaminas são substâncias necessárias em suplementação vitamínica durante 1-2 semanas
pequenas quantidades no organismo. Em geral, após a alta hospitalar, sendo a terapia iniciada
funcionam como catalisadoras ou reguladoras logo, os pacientes recuperar-se-ão completamente
do metabolismo. Podem ser classificadas com (FENNER, 1997). A administração intramuscular
hidrossolúveis e lipossolúveis. As vitaminas de cloridrato de tiamina por alguns dias na dose de
hidrossolúveis são ácido ascórbico (vitamina 25-50 mg/dia em cães e de 10-20 mg/dia em gatos,
C) e as vitaminas do complexo B; as vitaminas mesmo em animais severamente afetados, resulta na
lipossolúveis são as vitaminas A, D, E e K. remissão completa do quadro (BRAUND, 1993).
Tradicionalmente, as vitaminas utilizadas na
terapêutica do sistema nervoso são: tiamina (B1),
piridoxina (B6), cobalamina (B12), vitamina E e Vitaminas C e E
vitamina C (NISHIOKA; ARIAS, 2005).
A vitamina C e E são essenciais e agem como
As vitaminas B, C e E são freqüentemente antioxidantes, varredores de radicais livre e
utilizadas no tratamento de algumas doenças nutrientes para as células, protegendo a membrana
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Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 2010
Fármacos utilizados no tratamento das afecções neurológicas de cães e gatos
Em animais como o cão e o gato, o ácido ascórbico ANDRADE, S. F. Manual de terapêutica veterinária. 2.
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o tratamento com baixas doses e posteriormente
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