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Mari Suguino Yamazaki1, Alfredo Maia Filho2, Carla Daniela Dan de Nardo3, Rafael Augusto
de Azevedo4
RESUMO
INTRODUÇÃO
A dor é uma experiência sensorial
e emocional desagradável que causa Atualmente, não existem dúvidas
alterações fisiológicas no animal, de que os animais assim como os seres
prejudicando a qualidade de vida e humanos são capazes de sentir dor. É
prolongando o período de recuperação. necessário erradicar o conceito de que
Constantemente, os veterinários são eles são mais tolerantes à dor, já que os
desafiados a avaliar e tratar a dor de sinais clínicos são pouco claros, ou
origem ortopédica. Em muitos casos, a quando a espécie não expressa de forma
correção cirúrgica da doença ortopédica “convencional” suas moléstias (OTERO,
não é uma opção, assim, um protocolo 2005c).
para anestesia e analgesia perioperatória Recentemente, o manejo da dor
deve ser cuidadosamente planejado. Em em cães e gatos tem se tornado um
casos de pacientes politraumatizados, a componente essencial na clínica
conduta anestésica inclui a avaliação e veterinária. Já estão bem reconhecidos os
tratamento do choque e possíveis lesões benefícios em termos de bem-estar e a
em outros sistemas. O objetivo do melhora da resposta do animal ao
presente trabalho é descrever os tratamento da doença (ALMEIDA et al,
principais fármacos e cuidados na 2006). A dor não aliviada é prejudicial: as
anestesia e analgesia de doenças funções fisiológicas ficam comprometidas,
ortopédicas em cães e gatos, destacando os animais diminuem a ingestão hídrica e
o uso de analgésicos e o manejo alimentar, ocorrem alterações
anestésico desses pacientes. cardiovasculares e respiratórias,
imunossupressão e retardo no processo
Palavras-chave: dor, anestésico, de cicatrização (SAMPAIO, 2010).
analgésico, ortopedia
______________________________
1
Médica Veterinária. Residente da Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais UNIRP – São José do Rio Preto. BR
153, Km 69 – 15093-450 – São José do Rio Preto-SP. (17)3201-3360. ma_suguino@hotmail.com
2
Médico Veterinário. Professor especialista Cirurgia de Pequenos Animais UNIRP – São José do Rio Preto
3
Médica Veterinária. Professora Especialista Clínica Médica e Terapêutica de Pequenos Animais UNIRP – São
José do Rio Preto
4
Aluno do curso de graduação em Medicina Veterinária UNIRP – São José do Rio Preto
Opióides
Morfina 0,5-2 mg/kg/q3-4h/intra 0,05-0,2 mg/kg/q3-6h/IM,
venoso (IV) lento, intra SC
muscular (IM), sub
cutâneo (SC)
Meperidina 5-10 mg/kg/q2-4h, IM, SC 3-5 mg/kg, q2h, IM, SC
estão a liberação contínua, que minimiza COX-1, assim existe maior tendência ao
os picos e depressões de concentração sangramento. Para o ortopedista, a função
plasmática, o desvio de primeira normal das plaquetas é clinicamente
passagem hepática associados à importante em pacientes tratados
administração oral e retal, praticidade e cirurgicamente, nos quais a hemostasia
menor frequência de administração. As adequada diminui o sangramento
desvantagens incluem irritação cutânea e perioperatório e as co-morbidades
absorção variável (HOFMEISTER; associadas a ele. O sangramento também
EGGER, 2004). tem uma influência sobre a reabilitação,
pois a hemartrose tem um efeito deletério
Anti-inflamatórios não-esteroidais sobre o movimento e força (EKMAN;
(AINE) KOMAN, 2011).
O carprofeno é um fraco inibidor
Os AINEs são os analgésicos mais das enzimas COX e, quando administrado
amplamente utilizados tanto na medicina no pré-operatório de cães submetidos a
quanto na veterinária, cujos alvos são uma variedade de procedimentos
mediadores da dor no SNC e periférico. ortopédicos, proporciona boa analgesia,
São empregados para o alívio da dor livre de efeitos colaterais (LAREDO et al.,
moderada a severa. (MATHEWS, 2002). 2004). Um estudo recente em cães
As ações analgésicas, antipiréticas avaliou a administração a longo prazo de
e anti-inflamatórias devem-se carprofeno e revelou diminuição da
principalmente à inibição da ação das formação de calos ósseos na fase inicial
cicloxigenases, prevenindo a síntese das do processo de consolidação, união tardia
prostaglandinas e a sensibilização de e diminuição das propriedades intrínsecas
nociceptores periféricos. A maioria desses da fratura. No entanto, os autores deste
agentes age de forma não seletiva, estudo não recomendam a interrupção
bloqueando não apenas a ação da dos AINEs em pacientes com fratura, mas
cicloxigenase-2 (COX-2), que se torna alertam sobre a sua utilização em
ativa como resultado de traumatismo pacientes onde a promoção da
tissular, mas também a cicloxigenase-1 osteogênese é necessária, como no
(COX-1), que possibilita a manutenção tratamento de união retardada, não união
das funções fisiológicas renais, ou na artrodese (CHOHAN, 2010)
gastrintestinais e vasculares (SAMPAIO, O meloxicam é um inibidor seletivo
2010). COX-2, apresenta alta atividade intrínseca
Os AINEs são úteis em combinada com baixo potencial
procedimentos ortopédicos e de tecidos ulcerogênico, o que garante um alto índice
moles, principalmente em situações em terapêutico. É considerado um analgésico
que haja extensa inflamação e trauma muito efetivo, especialmente no
tecidual. (MATHEWS, 2002). No entanto, tratamento de osteoartrites em cães.
a principal desvantagem de acrescentar Possui meia-vida plasmática longa, o que
esses compostos ao protocolo anestésico permite sua administração a cada 24
durante a pré-medicação é expor o rim a horas (SAMPAIO, 2010).
um dano potencial, caso ocorra uma Um estudo objetivou comparar a
hipotensão intraoperatória (OTERO, eficácia do meloxicam e do carprofeno
2005b). administrados no pré-operatório para o
A administração do AINE na controle da dor pós-operatória em cães
analgesia pós-operatória em cães pode submetidos a procedimentos ortopédicos.
estar associada com efeitos colaterais Os resultados demonstraram que, em
sobre a função renal, trato gastrintestinal ambos os grupos, os escores de dor pós-
e problemas na coagulação sanguínea. As operatória foram clinicamente aceitáveis
reações gastrintestinais mais comuns em 12 e 24 horas após a cirurgia, não
variam de vômitos, diarréia, úlceras e sendo necessário fornecer uma dose
sangramentos, podendo levar o animal a suplementar de analgésico a qualquer um
óbito (DENEUCHE et al., 2004). dos animais. Portanto, ambos podem ser
Os AINEs impedem a formação de considerados eficazes no controle da dor
prostaglandinas através da inibição da pós-operatória de procedimentos
YAMAZAKI, M.S; MAIA FILHO, A; NARDO, C.D.D; AZEVEDO, R.A.
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melhora rápida e efetiva do quadro clínico. sobrecarga (LISKA, 2010). Os AINEs são
O fármaco e a dose para o manejo inicial os fármacos mais recomendados no
são determinados pela severidade e tratamento da OA. O carprofeno na dose
instabilidade da injúria. Inicialmente, de 2,2 mg/kg (a cada 12 horas) ou 4,4
opióides devem ser administrados mg/kg (a cada 24 horas) promove
enquanto o estado cardiovascular é moderado nível de conforto, e estudos
avaliado. Se não há sinais de têm demonstrado sua eficácia no
hemorragias, hipovolemia ou outras tratamento da OA. O meloxicam na dose
contraindicações para seu uso, os AINEs de 0,1 mg/kg a cada 24 horas demonstrou
podem ser administrados via parenteral. ser efetivo no alívio dos sinais clínicos
(OTERO, 2005b; DYSON, 2008). relacionados à OA e promover alto grau
de conforto nos pacientes. O firocoxibe e
Ruptura de ligamento cruzado cranial deracoxibe também demonstraram ser
efetivos em cães com OA (JOHNSTON et
É uma das doenças ortopédicas al., 2008).
mais relatadas em cães. Tal como A displasia coxo-femoral é uma
acontece em muitos grandes das doenças ortopédicas mais comuns em
procedimentos ortopédicos, animais cães, podendo levar a dores crônicas e
submetidos a correção cirúrgica da impotências funcionais. O tratamento
ruptura de ligamento podem ter um pós- conservador em cães displásicos é
operatório doloroso. A técnica epidural, o direcionado para o alívio da dor. Há
uso de analgésicos intra-articulares e evidências que sugerem que, embora os
intra-venosos podem ser utilizados AINEs sejam anti-inflamatórios e
isoladamente ou em combinação para proporcionem alívio efetivo da dor, a
auxiliar no conforto do paciente no pós- maioria desses compostos aceleram a
operatório. A bupivacaína é comumente degeneração da cartilagem pela
utilizada e proporciona melhor controle da supressão da síntese de condrócitos. Os
dor em comparação com a morfina intra- corticosteróides inibem tanto as vias da
articular ou solução salina em cirurgias de ciclooxigenase como as da lipoxigenase e
estabilização do joelho em cães. De são eficazes no tratamento da inflamação
acordo com um estudo realizado com aguda. No entanto, a administração intra-
cães submetidos a cirurgia de osteotomia articular de corticosteróides causa
de nivelamento do platô tibial (TPLO), os degeneração da matriz cartilaginosa pela
grupos que receberam bupivacaína inibição de proteoglicanos na biossíntese
associada a morfina via epidural e os que de condrócitos, aumentando assim a taxa
receberam bupivacaína intra-articular, de deterioração da articulação. Além
necessitaram de maior tempo para o disso, a injeção intra-articular de
primeiro resgate analgésico e um menor corticosteróides pode resultar em artrite
número de intervenções para manter o séptica iatrogênica. Como tal, os
conforto dos pacientes no pós-operatório corticosteróides devem ser usados
(HOELZLER et al., 2005). somente como último recurso no
tratamento da displasia coxo-femoral
Artropatias (REMEDIOS; FRIES, 1995).