Infusão contínua de propofol em gato submetido à

orquiectomia – Relato de caso

Ernani Méro Campos1, Bruno Martins Araújo3, Angélica Neves dos Santos Rocha3, José Honorato de França
Neto4, Marília de Albuquerque Bonelli3, Telga Lucena Alves Craveiro de Almeida3, Nathalia Ianatoni
Camargo3, Mychelle Bruna da Silva Barros5, Luciana Correia de Oliveira5, Ana Paula Monteiro Tenório2

INTRODUÇÃO RELATO DE CASO

A anestesia total intravenosa (TIVA) é uma técnica
que tem sido preconizada na prática anestésica em
pequenos animais [1]. Acredita-se que a anestesia
intravenosa produza efeitos cardiovasculares menos
pronunciados que o emprego de anestesia inalatória
[2].
O propofol merece destaque devido suas
características farmacocinéticas, como rápida indução
[3] e recuperação [4, 5], além de ser rapidamente
metabolizado, principalmente pelo fígado, mas também
em outros sítios metabólicos [6]. Por ser isento de
efeito cumulativo [7], pode ser usado na forma de
bolus, para indução, e na manutenção anestésica, em
bolus intermitente [8] ou em infusão contínua [9, 10,
11, 12, 13, 14, 8].
Devido suas características farmacocinéticas, é uma
importante alternativa nos diversos protocolos
anestésicos intravenosos [15, 16]. É importante
associar agentes analgésicos ao protocolo, pois o
propofol não possui propriedade analgésica [17], o que
propicia uma melhor qualidade anestésica em relação
ao seu uso isolado [18].
A TIVA possui algumas vantagens e desvantagens
em relação à anestesia geral inalatória. Entre as
vantagens, menores custos de aparelhagem,
estabilidade hemodinâmica, e em alguns casos, efeitos
cardiovasculares menos pronunciados e redução na
resposta adrenérgica ao estímulo cirúrgico com
redução na concentração de catecolaminas circulantes
[19], e ainda evita a contaminação ambiente por gases
anestésicos [20].
Por outro lado, apresenta algumas limitações, como
necessidade de cateterização de uma veia para a
infusão, independente da utilizada para a fluidoterapia;
contra-indicação em animais com comprometimento
hepático ou renal, pois nesses, a biotransformação e
excreção do fármaco pode ser dificultada [21].
O objetivo desse estudo foi avaliar os efeitos
cardiorrespiratórios, a qualidade da anestesia e a
recuperação pós-anestésica da infusão de propofol em
gato submetido à orquiectomia.
___________________
O procedimento foi realizado em 1 gato, macho, da
raça Angorá, com idade de 3 anos e pesando 2,9 kg, sendo
considerado clinicamente sadio após realização de exames
clínico-laboratoriais. Foi mantido em jejum alimentar e
hídrico por 12 e 6 horas, respectivamente, antes da
realização dos procedimentos anestésicos. Os valores
referentes à pressão arterial sistólica (PAS), foi aferido,
mediante posicionamento do Doppler, e de um manguito na
região rádio-ulnar, a saturação parcial de oxigênio (SpO2)
foi mensurada de forma não invasiva com Oxímetro de
pulso, sendo o sensor colocado na língua do animal, obtida
por meio de monitor multiparamétrico. A freqüência
cardíaca (FC) foi mensurada por meio de estetoscópio
esofágico; a freqüência respiratória (FR) foi determinada
pelo número de excursões torácicas durante um minuto e a
temperatura retal foi registrada por meio de termômetro
digital.
Todas as variáveis foram avaliadas no transoperatório,
sendo registrados a cada 5 minutos. Após determinação dos
valores basais para cada variável cardiorrespiratória de
interesse, realizou-se a administração conjunta de
acepromazina e cloridrato de tramadol, na dose de
0,1mg/kg, e 2 mg/kg, pela via intramuscular,
respectivamente. Após quinze minutos, fez-se a indução
anestésica com propofol e diazepam, na dose de 4 mg/kg e
0,25 mg/kg pela via intravenosa, respectivamente. Em
seguida, os animais foram colocados em decúbito lateral
direito, intubados e conectados a o sistema Baraka e
receberam O2 a 100% com fluxo de 200 mL/kg/min; após
iniciou-se a infusão de propofol na velocidade de 0,3
mg/kg/min, controlado por bomba de infusão.
Com o objetivo de promover analgesia no período trans
e pós-cirúrgico, foi realizado técnicas de anestesia local,
com a utilização de lidocaína 2% com epinefrina,
realizando técnica de anestesia local subcutânea,
denominada de cordão anestésico, e anestesia perineural no
cordão espermático.
A qualidade e profundidade anestésica foram avaliadas
periodicamente durante a manutenção anestésica dos
animais (rotação do globo ocular, movimentação voluntária
dos animaisreflexos palpebrais, reflexos corneano, reflexo
pedal, reflexo auricular).

1. Primeiro Autor é Médico Veterinário Residente de Anestesiologia do DMV – HOVET/UFRPE. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, CEP 52171-
900 – Recife/PE. Email. merocampos@hotmail.com
2. Segundo Autor é Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel
de Medeiros, s/n, CEP 52171-900 – Recife/PE.
3. Terceiro Autor é M.V Residente do DMV – HOVET/UFRPE. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, CEP 52171-900 – Recife/PE.
4. Quarto Autor é Graduando do Curso de Medicina Veterinária. Bolsista de Extensão. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel
de Medeiros, s/n, CEP 52171-900 – Recife/PE.
5. Quinto Autor é Discente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manuel de Medeiros s/n, Dois
Irmãos, Recife-PE CEP: 52171-900
 Como parte do protocolo analgésico, foi utilizado
anti-inflamatório não esteróide, Meloxicam, na dose de
0,2 mg/kg. A antibioticoterapia foi realizada com
Cefalotina, na dose de 30 mg/kg, sendo repetida, se
necessário, a cada 2 horas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A verificação do plano anestésico foi realizada
através do relaxamento dos músculos da mandíbula,
rotação do globo ocular, movimentação voluntária dos
animaisreflexos palpebrais, reflexos corneano, reflexo
pedal, reflexo auricular. Não foi necessária dosagem
suplementar de propofol durante o período da infusão.
A taxa de infusão utilizada foi constante em 0,3
mg/kg/min, corroborando com AGUIAR et al. [22],
que utilizou três taxas de infusão 0,2, 0,3 e 0,4
mg/kg/min, sendo que as duas taxas inferiores podem
ser utilizadas com o emprego de fármaco analgésico.
Os valores da oximetria permaneceram constantes
durante todo o experimento (Tabela 1), não
apresentando diferenças estatísticas significantes entre
os tempos estudados, permanecendo dentro dos valores
considerados fisiológicos, que oscila entre 92 a 99%
[23, 24], entretanto não deve ser inferior a 95% [25].
Os valores encontrados provavelmente estão
relacionados ao uso do oxigênio e à perfusão tecidual
adequada.
O animal começou a apresentar sinais de reflexo
laríngeo, em média, com 13 minutos após o final da
infusão, sendo realizada a extubação. O tempo obtido
foi superior aos obtidos por AGUIAR et al. [22], os
quais relataram uma variação de cinco a sete minutos.
É necessária a realização de mais exames, como função
hepática, renal e proteína plasmática e albumina.
A recuperação total, a partir do termino da infusão
do propofol, até posição quadrupedal, foi de 90
minutos, valor superior aos relatados por AGUIAR et
al. [22], que foi em média de 70,4 ± 14,4 minutos. O
tempo encontrado pode estar relacionado à diminuição
da temperatura corpórea, o que está diretamente ligada
às funções biológicas, de biotransformação e excreção
do fármaco.
Nas condições em que foi realizado este
experimento, foi possível concluir que a associação de
acepromazina, tramadol, diazepam e propofol é segura
para utilização em gatos por não promover grandes
alterações nos parâmetros fisiológicos, e não deprimiu
o sistema respiratório, permanecendo em ventilação
espontânea, é necessário mais estudos e que seja
realizada com equipamentos precisos, assegurando
precisão na velocidade de infusão.
REFEÊNCIAS
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citrato de sufentanil na manutenção anestésica por infusão
contínua em cães pré medicados com acepromazina. 2004,
146p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia de Botucatu, Universidade Estadual
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[4] SMITH, I. et al. Propofol: an update on its clinical use.
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[6] COURT, M.H. et al. Cytocrome P-450 2B6 is responsible for
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[12] CHAMBERS, J.P. Induction of anaesthesia in dogs with
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[15] GLEN, J.G. Animal studies of the anaesthetic activity of ICI 35
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Lumb & Jones’ Veterinary Anesthesia and Analgesia.4. ed.
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p.749-752, 1988.
[19] ZACHEU, J. Avaliação da associação de propofol e de cloridrato
de alfentanil na manutenção anestésica por infusão contínua em
cães prémedicados com acepromazina, 2004, 146p. Dissertação
(Mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de
Botucatu, Universidade estadual Paulista, Botucatu.
[20] BETHS, T.; GLEN, J.B.; REID, J. et al. Evaluation and
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p.198-203, 2001.
 [21] NOLAN, A. Total intravenous anaesthesia in dogs.
Disponível em: http://www.vin.com/proceedings Acesso
em: 05 out 2006.
[22] AGUIAR, A.J.A., LUNA, S.P.L., OLIVA, V.N.L.S. et al.
Anestesia por infusão contínua com propofol em cães após
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Veterinary Anaesthesiology, v.20, p.26-28, 1993.
[24] GUYTON, A.C., HALL, J.E. Tratado de fisiologia médica. 9 ed.
Rio de Janeiro : Interamericana, 1997. Cap.40: transporte de
oxigênio e de dióxido de carbono no sangue e em outros líquidos
corporais: p.465-474.
[25] LUMB, W.V. JONES, E.W. Veterinary anesthesia. 3 ed.
Baltimore : Williams & Wilkins, 1996. 928p.

[23] PLUMB, D.P. Veterinary drug handbook. 2 ed. Iowa : Iowa

State University, 1995. 790p.

Tabela 1. Variações dos valores médios e desvios-padrões dos parâmetros freqüência cardíaca (FC), pressão arterial sistólica (PAS),
frequência respiratória (FR), oximetria (SpO2) e Temperatura (TºC) durante procedimento anestésico com infusão contínua de
propofol.
TEMPOS*

PARÂMENTROS T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6

FC (bpm) 200 148 132 124 126 122 118

FR (mpm) 80 24 20 16 16 16 18

T°C 39,6 38,9 38,3 37,8 37,5 37,2 36,9

SPO2 (%) - 100% 99% 99% 99% 99% 99%

PAS (mmHg) - 110 100 90 86 88 90

REFLEXOS Todos Globo rotacionado; Igual aos Igual aos Reflexo Manutenção dos Reflexos presentes;
Ausência de tônus descritos do T1. palpebral parâmetros do T4. Fim da cirurgia.
mandibular; anteriormente; presente;
Ausência de Diminuição de Reflexo
movimentos; FR e FC; mandibular
Ausência de Reflexo leve.
reflexos palpebral; palpebral
Ventilação medial
espontânea. levemente;
Início da
cirurgia.

*(T – Tempo): T0 – Avaliação pré-anestésica. T1 – após indução e intubação, e início da infusão contínua; T2 – T6 – Momentos de
cada avaliação, com intervalo de 5 minutos entre cada uma.

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