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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS


MOLÉCULAS, CÉLULAS, GÊNESE E NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO
DISCIPLINA: FARMACOLOGIA MÉDICA

Danillo Monteiro Porfírio

Tiopental e Cetamina – Atuação anestésica

BELÉM
2017
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Danillo Monteiro Porfírio


201709740106
Turma A/2017

Tiopental e Cetamina – Ação anestésica

Relatório escrito como requisito para


obtenção de conceito no eixo de MCGNO
na unidade curricular de Farmacologia.
Prof.Dr. Moisés Hamoy.

BELÉM
2017
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................4

2. OBJETIVO ..............................................................................................................7

3. METODOLOGIA .....................................................................................................8

4. RESULTADOS ......................................................................................................10

5. DISCUSSÃO .........................................................................................................12

6. CONCLUSÃO........................................................................................................24

REFERÊNCIAS ........................................................................................................25
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1. INTRODUÇÃO

Dentro da prática observada, encontra-se o que se conhece como anestésico,


uma substância que priva sensações e movimentos. De atuação no Sistema Nervoso
Central (SNC), seu nome provém do grego anaísthesis (privação de sensações),
tendo sido utilizado como termo clínico, pela primeira vez, por Dióscorides, no sec. I
d.C.; sendo um termo para a perda de qualquer sensação relevante. Na prática
observada, os anestésicos utilizados foram o Tiopental (caráter ácido) e a Cetamina
(caráter básico), com diferentes meios de atuação.

A atuação dos anestésicos ocorre no potencial de ação de canais específicos,


principalmente os sódio, causando uma hiperpolarização, sem o retorno ao potencial
normal de ação, conhecido como potencial de repouso. Sua atuação, além de
química, possui consequências físicas, o que causa um fechamento no poro
transmembrana (Rang & Dale, 2016).

Na análise da atuação dos anestésicos locais, utiliza-se a equação de


Henderson-Hasselbach que leva em conta o pH e o pK do meio em que se encontra
a substância, pois sua passagem por membranas no organismo é necessária de forma
a respeitar um equilíbrio químico, havendo passagem de produtos ou reagentes,
dependendo dos fatores apresentados pelo meio, no caso, o organismo humano.

Figura 1.1. Equilíbrio de transporte de um ácido fraco através de uma


membrana lipídica e as implicações da alteração de pH do meio. (Fonte:
Goodman & Gilman; 12 eds.).
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Seguindo o raciocínio da imagem, compreende-se que pode haver


deslocamentos de equilíbrio, seguindo os conceitos de Le Chatelier, por mudanças no
meio. A equação de Henderson-Hasselbach amplia a interpretação do deslocamento
do equilíbrio, a fim de se entender quais partes da reação representada – reagentes
ou produtos – serão transportadas via transmembrana. Sabendo as partes em
quantidade proporcional, é possível entender que em anestésicos ácido e básicos
haverá maior transporte de diferentes membros da reação.

([𝐴− ])
𝑝𝐻 = 𝑝𝐾 + 𝑙𝑜𝑔 [ ]
([𝐻𝐴])

Figura 1.2. Equação de Henderson-Hasselbach adaptada para ácidos fracos.

A parte em razão no logaritmo será utilizada para a interpretação das partes


em proporção dos anestésicos ácidos e básicos, afim de que se possa saber se
haverá uma maior absorção, ou não, das substâncias, pelo organismo.

Caracterizar os anestésicos utilizados na prática é importante para entender


suas diferenças de atuação no organismo, no caso, nos pequenos ratos Wistar, bem
como a aplicação da equação de equilíbrio. Ambos os fármacos possuem atuação de
importância clínica, cada um com suas especificidades, características de suas
famílias.

O Tiopental é um barbitúrico, utilizado como indutor de anestesias, causando


efeitos rápidos e de curta duração. Tais efeitos são consequência de sua elevada
lipossolubilidade, sendo rapidamente distribuído para órgãos altamente
vascularizados e rapidamente atravessa a barreira hematoencefálica, possuindo
atuação no SNC (Rang & Dale, 2016).

Embora ocorra uma elevada absorção pelo tecido adiposo, tal conjugação
leva tempo para ocorrer devido à baixa vascularização desse tipo de tecido, pois o
Tiopental é conduzido pelo fluxo sanguíneo. A má aplicação da dose de Tiopental no
organismo pode acarretar danos graves ao tecido extravascular, como por exemplo a
necrose (Rang & Dale, 2016).

Sua aplicação em sinergismo com outros fármacos – como os


benzodiazepínicos, por exemplo – é arriscada, por ocorrerem efeitos indesejáveis e,
muitas vezes, de difícil reversão para o paciente.
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Figura 1.3. Fórmula do Tiopental (Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiopental).

A Cetamina é classificada como um fenilciclidínico – derivada do cloridrato de


fenilcilidina –, sendo bastante aplicada em anestesias em animais e humanos,
principalmente em casos pediátricos (Silvânia Vasconcelos et al., 2005). Um dos
efeitos do anestésico é alucinação, motivo tal que explica a não aplicação em idosos,
por interferir na qualidade de vida desses pacientes.

A Cetamina também é utilizada para indução de esquizofrenia em animais,


por atuar na redução do limiar epilético, acarretando convulsões durante sua aplicação
(Silvânia Vasconcelos et al., 2005). Durante sua aplicação, a Cetamina atua em canais
de Ca pré-sinápticos no sistema simpático, liberando noradrenalina, provocando
taquicardia e aumento na pressão arterial; bem como aumenta a pressão intraocular
e intracraniana.

Figura 1.4. Fórmula da Cetamina (Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Cetamina).
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2. OBJETIVOS

Os objetivos previstos para a prática, de forma geral, são de ordem geral,


entendendo não somente como as drogas atuam no organismo, suas consequências
e como são metabolizadas, mas também compreendendo suas principais aplicações
clínicas. As características de cada remédio, o entendimento dessas características
no corpo humano e efeitos inesperados também são alguns objetivos.

Em relação à equação de Henderson-Hasselbach, é necessário entender sua


aplicação no estudo dos fármacos em questão, como as alterações corporais irão
afetar o comportamento farmacológico e as demais observações que podem ser feitas
a partir da equação.
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3. METODOLOGIA

De acordo com a ABNT, a prática possui com método a observação descritiva.


A prática realizada foi coordenada pelo Prof. Dr. Hamoy – utilizando EPI
adequado para a prática, no caso, o jaleco –, que realizou as etapas do procedimento,
indicou os instrumentos utilizados, a via de aplicação do fármaco, bem como detalhes
importantes sobre a cobaia do experimento e as medidas da droga aplicada no roedor.
A aula prática ministrada foi aprovada pelo CEPAE UFPA (Centro de Ética em
Pesquisa com Animais Experimentais), responsável pela análise de todos os projetos
de pesquisa que utilizem animais na instituição, garantindo que o tratamento siga as
normas internacionais para a manipulação de animais de experimentação.

3.1. Droga utilizada

As drogas utilizadas foram o Tiopental e a Cetamina, ambos em concentração


de 5 % (50 mg / ml); dose de 0,3 ml. Os valores de pK e pH são de 7,4, ambos e nas
duas drogas.

3.1.1. Cálculo de dosagem

Concentração = 5% (título)
Título (m/v) – relação de proporcionalidade
5 (g) --------------------------- 100 (ml)
X (g) --------------------------- 0,3 (ml)
5 × 0,3 = 100 × 𝑥
𝑥 = 0,015 , o que equivale à 15 mg

3.2. Instrumentos utilizados

• Jaleco;
• Seringa;
• Cronômetro;
• Flanela (para manuseio do rato).
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3.3. Animais utilizados

O animal utilizado na experiência foi um rato da linhagem Wistar albino (Rattus


novergicus). Peso de 300g.

3.4. Via de administração

A via de administração foi a intraperitoneal, sendo escolhida por resultar em


rápida metabolização da droga no organismo (região altamente vascularizada).
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4. RESULTADOS

Com intuito de ser realizada uma análise concreta do experimento, após cada
aplicação nos ratos – ambos com pesos aproximadamente equivalentes –, foram
isolados em uma caixa de vidro, longe dos outros ratos, a fim de se analisar melhor
os efeitos da aplicação de cada fármaco
A via de aplicação da droga foi a intraperitoneal, por haver rápida difusão pelo
organismo e expressão mais rápida dos efeitos do remédio.

4.1. Tiopental

Primeiramente foi aplicado o Tiopental, anestésico ácido, em um dos ratos,


com finalidade de observação dos seus efeitos. Após a aplicação, o cronômetro foi
iniciado, para contagem do tempo de efeito da droga e a diminuição dos reflexos no
organismo do pequeno rato.
Foi observada a agitação, nos segundos iniciais, do rato, juntamente com
uma taquicardia e um aumento na frequência respiratória, caracterizando o momento
de indução da anestesia. Em seguida, os movimentos começaram a ficar reduzidos,
de forma que o rato não conseguia de movimentar de forma adequada depois de 1’20”,
sendo observado seu estado de confusão, cambaleando ao tentar se locomover.
Concomitante a isso, começa a depressão na frequência cardíaca, mas se mantêm
sua amplitude, caracterizando um movimento fraco e suave na respiração.
Em 1’55”, o rato encontrava-se respirando de forma fraca, mas com uma
amplitude constante, sem reflexos à estímulo. Nesse momento, os cronômetros foram
parados.

4.2. Cetamina

Na parte final do experimento, ocorreu a aplicação da Cetamina, anestésico


básico, via intraperitoneal, em um rato de porte semelhante ao primeiro, para que
houvesse poucas mudanças nas respostas fisiológicas.
A aplicação ocorreu e, com isso, o cronômetro foi iniciado, para controle dos
mesmos parâmetros de análise do primeiro caso.
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Os efeitos foram observados com uma certa demora em relação ao Tiopental,


levando cerca de 40” para que o rato começasse a se sentir agitado, evidenciando o
aumento na pressão arterial. As alucinações podem ter iniciado no espaço de tempo
de 40” à 1’00”, sendo evidente o balançar da cabeça do rato conforme se
movimentava. No período de 1’20”, os reflexos foram diminuindo aos poucos, de forma
que a taquicardia e a frequência cardíaca mantinham-se elevadas. Os reflexos
cessaram por completo aos 2’15”, momento que o rato se encontrava deitado, com
movimentos respiratórios fortes e rápidos. Nesse momento, o cronômetro foi parado.
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5. DISCUSSÃO

A análise do experimento necessita do entendimento da equação de


Henderson-Hasselbach e como ela é uma ferramenta importante para a análise dos
efeitos orgânicos na ação dos fármacos. De forma geral, e analisando o
comportamento de anestésicos ácidos e básicos, existem diferenças nos membros
que irão ser absorvidos pelas membranas celulares de forma mais eficiente (Rang &
Dale, 2016).
Tanto barbitúricos quanto benzodiazepínicos possuem afinidade por sítios
específicos nos canais de Cloro no complexo GABA-ionóforo cloro. Os barbitúricos
aumentam o tempo de abertura dos canais, sem que haja uma alteração na
condutância dos canais das células (Danilo Duarte, 1994).

5.1. Equação de Henderson-Hasselbach

Alguns fármacos, como o Tiopental e a Cetamina, são ácidos ou bases fracas,


o que os faz depender de variáveis como pH e o pK, dentro de um equilíbrio
representado a seguir:
• Para um ácido fraco:
𝐻𝐴 ⇋ 𝐻 + + 𝐴− ; 𝑝𝐾𝑎
• Para uma base fraca:
𝐵𝐻 + ⇋ 𝐻 + + 𝐵; 𝑝𝐾𝑏
Levando à equação:
([𝐴− ])
𝑝𝐻 = 𝑝𝐾 + 𝑙𝑜𝑔 [ ]
([𝐻𝐴])
No caso, a equação está adaptada para fármacos ácidos.
Dessa forma, pode-se saber a relação de proporcionalidade entre as
concentrações, pois em meios diferentes, sejam eles mais ácidos ou mais básicos, irá
prevalecer um dos membros da equação em equilíbrio e, assim, irá alterar o
comportamento de determinado fármaco. No caso dos ácidos e bases, os íons não
irão ser transportados pela membrana lipídica, por possuírem carga, diferenciando da
carga apolar da membrana, o que irá causar uma repulsão por parte dessa estrutura,
sendo necessário um mecanismo de transporte mais complexo para a entrada das
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substâncias na célula (Rang & Dale, 2016). Para serem absorvidos, os fármacos
costumam sofrer difusão simples, sendo o transporte mais recorrente para drogas no
organismo.
No caso do experimento, os valores de pK e pH são fornecidos, possibilitando
o cálculo das razões. Realizando o cálculo para uma droga – básica ou ácida – será
obtido um valor único, sendo importante para a interpretação da absorção no
organismo.
Em posse dos valores de pK e pH, o cálculo será:
[(𝐴− )]
𝑝𝐻 = 𝑝𝐾 + 𝑙𝑜𝑔 [ ]
[(𝐻𝐴)]
[(𝐴− )]
7,4 = 7,4 + 𝑙𝑜𝑔 [ ]
[(𝐻𝐴)]

[(𝐴− )] [𝐴− ]
𝑙𝑜𝑔 [ ] = 0; 1 =
[(𝐻𝐴)] [𝐻𝐴]

Interpretando o valor obtido, as partes encontram-se em igual quantidade, ou


seja, o meio de aplicação influência de forma mínima no transporte transmembrana,
de forma que o equilíbrio não é deslocado para nenhuma parte da reação, seja produto
ou reagente, havendo uma facilidade na aplicação.

Uma outra abordagem possível para a equação de Henderson-Hasselbach é


no local de aplicação e/ou atuação do fármaco, pelo pH ótimo do corpo variar em cada
região de atividade diferente. Os órgãos possuem alguma autonomia, o que garante
mudanças de pH nos mesmos, dessa forma, é necessário analisar qual será mais
presente, a forma iônica ou não, havendo mudança na sua absorção (Rang & Dale,
2016).

5.2. Tiopental

O Tiopental pertence à família dos barbitúricos, com efeitos dependentes da


via de administração e sua dose aplicada, sendo sua lipossolubilidade fator importante
para sua atividade como anestésico de atuação no SNC; sendo o efeito lipossolúvel
acentuado devida a presença de enxofre no lugar de oxigênio em sua molécula
(Carmen Baptista, 2015).
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Apresenta-se em forma de pó estéril, para aplicação intravenosa, sendo


considerado de curta duração. Os anestésicos barbitúricos deprimem o SNC para
atuarem como hipnotizantes ou anestésicos, sem possuírem, contudo, efeitos
analgésicos. Dentre todos os barbitúricos, o único com capacidade analgésica é a
Cetamina (Danilo Duarte, 1994). Devido sua lipossolubilidade, não é recomendado
que se faça aplicação dessa droga durante a gravidez, por possuir potencial de
atravessar a barreira placentária, embora não existam estudos disponíveis que
tenham sido realizados em mulheres grávidas.
A atuação no organismo ocorre por meio da ligação com o neurotransmissor
extrassináptico inibitório ácido δ amino butírico, que compete de forma proporcional
com os estímulos excitatórios do sistema adrenérgico central (Carmen Baptista,
2015). Possui atuação no canal de Cloro, ligando-se ao GABA-A, realizando uma
abertura completa do canal por um período mais extenso que o convencional,
causando uma hiperpolarização – essa ocorrendo pelo aumento de cargas negativas
no interior da célula, devido à grande entrada, seguindo o gradiente de concentração,
do Cloro iônico –, sem retorno ao potencial de repouso. O transporte ocorre por meio
do plasma sanguíneo, altamente lipofílico, o que acaba facilitando a distribuição do
fármaco.

Figura 5.2.1. Imagem esquemática do Canal de Cloro (Cl)


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5.2.1. Farmacocinética do Tiopental

É necessário entender que a forma que será utilizada pela célula será a não-
ionizada, dependendo do pKa do corpo e seu respectivo pH. Além disso, a ação do
Tiopental no sistema nervoso ocorre de forma simples, pois é facilmente saturado pela
droga; enquanto uma boa parte circulante se conjuga com proteínas plasmáticas do
sangue, o que indica que a metabolização e captação ocorrerão com os fármacos
livres na circulação. Estudos apontam que a redistribuição do fármaco é mais
importante que o metabolismo, embora uma relação clara entre a baixa da
concentração e sua ligação com as proteínas plasmáticas (Carmen Baptista, 2015).

No caso dos anestésicos venosos – por exemplo, Tiopental -, a absorção


dessa classe de drogas não é considerada por serem aplicadas diretamente na
corrente sanguínea. Dessa forma, fatores como dosagem e velocidade de aplicação
serão os únicos relevantes, em caso de aplicação única. Por se ligarem a proteínas,
os anestésicos venosos podem se conjugar aos eritrócitos (Danilo Duarte, 1994).

Os únicos componentes do Tiopental que serão utilizados nas suas atividades


farmacológicas propriamente ditas serão aqueles não ligados a proteínas plasmáticas,
ou seja, os realmente livres na corrente sanguínea.

Vc = Volume Central

Vdss = Volume de Distribuição em


estado de equilíbrio

Cl = Clearence ou depuração

T1/2β = Meia-vida

Figura 5.2.1.1. Dados farmacocinéticos do Tiopental. Fonte: Barbitúricos;


Carmen Baptista, 2015

A distribuição da droga ocorre de um volume maior (V1) que excede o volume


intravascular, para um menor ou periférico (V2), sendo que essa correlação pode
apontar uma relação válida com o término do efeito do anestésico; sendo apontado
que o cérebro faz parte de V1, pela ação rápida dos anestésicos. Caracteriza-se a
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distribuição como extensa, pela alta lipossolubilidade. Normalmente, os anestésicos


possuem um alto valor de distribuição (Vd) (Danilo Duarte, 1994).

No quesito de distribuição, deve-se ater ao porte físico do paciente,


justamente pela afinidade com o tecido adiposo. Tal fator altera fatores como a
distribuição e a eliminação, devendo se ater à posologia adequada para que haja
consonância entre as terapêuticas em diferentes pessoas (Jonas Mallmann, 2012).
No caso do tratamento com o Tiopental, observou-se aumento nos níveis de volume
de distribuição e meia-vida, mas diminuição de níveis de depuração, que é a taxa de
excreção do organismo (Jung et al., 1982 apud Jonas Mallmann, 2012). Contudo, há
pouca informação farmacocinéticas sobre aplicações continuadas em pacientes
obesos.

Segundo Danilo Duarte (1994):

A vida média pode ser determinada separadamente, tanto para a


fase de distribuição (T1/2α) quanto para a fase de eliminação (T1/2ß). Ambas
são calculadas a partir da curva de concentração plasmática e o T1/2ß serve
como guia não só para calcular o tempo necessário à eliminação da droga
como para sugerir a possibilidade de acúmulo, num esquema de doses
repetidas.

Após a atuação farmacológica de um determinado fármaco, ocorre sua


eliminação, havendo uma queda na concentração nos locais onde houve a
distribuição. Os rins ficam a cargo da excreção dos metabólitos, de forma que haja
uma limpeza adequada do organismo. O Tiopental não é aconselhável para pacientes
que apresentem uma disfunção renal ou perda nas funções dos mesmos, por haver
uma grande dependência desses órgãos para a eliminação e um prolongamento nos
efeitos hipnóticos causados pelo fármaco.

O período de excreção é dado em função do tempo de infusão da droga na


circulação, dependendo, também, da quantidade que foi aplicada. A metabolização
dos barbitúricos ocorre no fígado, sendo eliminados em metabólitos solúveis em água,
pelos rins. A meia-vida do Tiopental é alta, bem como dos benzodiazepínicos,
alcançando valores elevados de sobredose além da dose clínica recomendável
(Carmen Baptista, 2015).
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Os metabólitos do Tiopental são menos efetivos no SNC, por serem bem


menos solúveis. Derivados do ácido carboxílico e hidroxitiopental são alguns dos
metabólitos gerados na metabolização do anestésico, podendo haver presença de
pentobarbital, o que ocorre quando há infusão de grandes quantidades de Tiopental
no organismo, tal possuindo alto tropismo com o SNC, havendo maior período de
duração e baixa taxa de clearence (3 a 4 ml.kg1. min-1), aumentando o período de
meia-vida (12 horas) (Carmen Baptista, 2015).

A velocidade da eliminação depende muito da concentração que foi ministrada


ao paciente e a ação enzimática do fígado para metabolização da droga, o que
acarreta em conceitos como “fluxo-dependente” para altas concentrações da droga
circulantes, estando essa livre, sem aderência à tecidos ou captura por determinado
setor – fato esse conhecido como sequestro iônico – e “capacidade-dependente” para
baixas concentrações, o que, literalmente, significa a capacidade hepática de
metabolização da droga circulante (Danilo Duarte, 1994).

Figura 5.2.1.2. Gráfico da excreção do Tiopental (considerando a


concentração plasmática). Fonte: Barbitúricos; Carmen Baptista, 2015
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Figura 5.2.1.3. Gráfico da Meia-Vida/Duração de Infusão de alguns


fármacos. Nota-se que dentre os barbitúricos citados, o Tiopental é o de
maior meia-vida de eliminação conforme se aumenta o período de infusão.
Fonte: Barbitúricos; Carmen Baptista, 2015.

5.2.2. Farmacodinâmica do Tiopental

Um dos efeitos causados pelo Tiopental é referente à depressão acentuada


dos níveis do SNC, levando à um quadro de sedação e, em casos mais agravados, o
coma; embora, muitas vezes os efeitos sejam reversíveis, sendo enquadrados como
dose-dependentes (Danilo Duarte, 1994). Embora ocorram efeitos nos nervos, sua
situação de normalidade é mantida após o efeito ser cessado no organismo, pois os
efeitos ocorrem, basicamente, na membrana celular, no processo de excitação-
condução (José Carvalho, 1994).
Os anestésicos devem exercer suas funções nos axônios dos neurônios, de
forma a bloquear a propagação dos estímulos elétricos, ou nas sinapses, de forma a
impedir a liberação das substâncias que irão propagar os estímulos (Danilo Duarte,
1994). Estudos mostram que os barbitúricos promovem uma relativa estabilização do
potencial de ação, sem que haja diferenças de voltagem ao serem cedidos quaisquer
tipos de estímulos (Danilo Duarte, 1994).
Outro efeito causado pelo Tiopental é a hipnose, com efeito direto ou indireto
em sistemas orgânicos maiores. A redução na pressão intracraniana é um dos usos
dados à droga nos dias de hoje (Rang & Dale, 2016). Ainda pode ser utilizado como
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anticonvulsionante, sendo necessária a devida análise para a utilização em casos


dessa ordem, por serem necessárias altas doses de Tiopental para produção de
ondas isoelétricas no cérebro (Carmen Baptista, 2015).
Há a ocorrência de sensibilização das vias aéreas, mas tosse e
broncoespasmos são características da má aplicação da droga nos planos
anestésicos e não por ação direta (Carmen Baptista, 2015). Fatores como idade e
sexo podem alterar características farmacodinâmicas durante a aplicação do remédio,
de forma que seja relevante a atenção para tais fatores.
Por vários estudos, as sinapses contínuas são consideradas os locais de
atuação dos anestésicos. As sinapses de atuação do Tiopental são as inibitórias, na
região pré-sináptica, a qual possui função de inibir a liberação de neurotransmissores
(José Carvalho, 1994).

Figura 5.2.2.1. Tabela de ações do Tiopental em sistemas do corpo


humano. Fonte: Barbitúricos; Carmen Baptista, 2015.

O Tiopental não possui reações adversas muito bem documentadas, sendo


estas mais visíveis no metohexital, ocorrendo reações anafilactóides por liberação de
histamina não imunológica. O Tiopental possui reações muito incomuns de anafilaxia,
envolvendo IgE. As contraindicações são para pessoas que possuem porfiria latente
ou bem expressa e para pessoas que tenham aversão fisiológica a anestesias gerais
(Carmen Baptista, 2015).
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5.3. Cetamina

A Cetamina é um anestésico básico, com ação analgésica, muito


implementado em procedimentos cirúrgicos pediátricos. É um composto hidrossolúvel
que causa depressão dose-dependente no SNC, levando à um estágio denominado
de anestesia dissociativa, porque ocorre uma discordância entre os sistemas
talamocortical e límbico (Ana Luft e Florentino Mendes, 2005).
É aconselhável sua utilização em procedimentos que não venham a utilizar
relaxantes musculares. Funciona, também, como indutor anestésico para
procedimentos de duração mais longa, sendo utilizado previamente antes de outros
anestésicos. Pode ser sinérgico com óxido nitroso, outro anestésico bastante utilizado.
É um anestésico geral que apresenta efeitos bem visíveis e profundos, como de
analgésico.
Devido seus efeitos alucinógenos, não é recomendado que seja utilizado em
idosos por causar pesadelos e, dessa forma, prejudicar a qualidade do sono dessa
parcela dos pacientes. Muitas vezes termina sendo utilizado para fins recreativos por
jovens pelos seus efeitos. A sua atuação ocorre no bloqueio dos receptores
glutamatérgicos ionotrópicos do tipo N-metil-D-aspartato, acarretando em um quadro
para o paciente semelhante ao da esquizofrenia (Silvânia Vasconcelos et al., 2005).

Figura 5.3.1. Figura esquemática do Receptor NMDA. Disponível em:


http://neuromed94.blogspot.com.br/2011/11/esquizofrenia-e-os-
neurotransmissores.html

Além dos receptores NMDA, a Cetamina pode se comunicar com receptores


não-NMDA, tornando a neurofarmacologia da droga mais complexa. Alguns dos
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receptores que a Cetamina pode se ligara são: gabaérgicos, opioides e


serotonérgicos; podendo agir de forma direta ou indireta sobre as monoaminas
(acetilcolina, noradrenalina e dopamina) (Francisca Charliane et al., 2010).

5.3.1. Farmacocinética da Cetamina

A Cetamina é um potente antagonista não-competitivo do receptor NMDA e


atua no sítio de ligação do PCP, presente no canal iônico supracitado, significando
que não ocorre competição pelo mesmo sítio que o glutamato (Silvânia Vasconcelos
et al., 2005).
A Cetamina é comercializada em uma mistura racêmica de dois isômeros S
(+) e R (-), que possuem propriedades ópticas ativas – sendo esses enantiômeros, e
ambos possuem propriedades farmacológicas distintas. O enantiômero S (+) possui
quatro vezes mais afinidade de ligação no receptor de NMDA, além de duas vezes
mais potência para evitar a sensibilização da central da medula espinhal. Tais fatores
mostraram ser interessantes para a utilização do isômero S (+) como uma droga
clínica, semelhante à sua versão racêmica (Francisca Charliane et al., 2010).
É metabolizada no sistema microssomal do fígado – citocromo P450 – por
enzimas e em menor escala nos rins, intestino e pulmões, dando origem a metabólitos
ativos: norcetamina; 5OH-cetamina e 4OH-cetamina; dentre esses três a norcetamina
apresenta de 1⁄3 a 1⁄5 da potência da droga original (Francisca Charliane et al., 2010).
Diferentemente de outros anestésicos venosos, a Cetamina possui alta
lipossolubilidade, porém baixa capacidade de ligação com proteínas plasmáticas (10
a 30 %) (Danilo Duarte, 1994). Em consequência disso, é disponibilizado um grande
volume de distribuição (equivalente à 3l.kg-1), tornando uma ação farmacológica mais
rápida (Francisca Charliane et al., 2010).
Além da alta taxa de distribuição (Vd), o clearance de eliminação é
relativamente alto – de 1000 a 1600 mL.min-1 – acarretando em uma meia-vida curta
para a droga (de 2 a 3 horas) (Franscisca Charliane et al., 2010). Contrastando com
a Cetamina, seu metabólito principal possui uma taxa de eliminação muito baixa,
causando, inclusive, um acúmulo no organismo.
De acordo com Silvânia Vasconcelos et al. (2005):
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Estudos clínicos randomizados mostraram que a Cetamina inibe a


dor aguda causada por vários estímulos nocivos, incluindo isquemia,
estímulos químicos, elétricos e calor, além de ser preferencialmente utilizada
em procedimentos cirúrgicos associados à dor intensa e/ou à elevada
ansiedade.

A norcetamina pode ser relacionada com efeitos analgésicos prolongados,


havendo uma forte correlação entre os níveis plasmáticos da droga e o alívio da dor
(Ana Luft e Florentino Mendes, 2005). Os metabólitos da Cetamina, no geral, são
todos hidroxilados, levando à síntese de hidroxinorcetamina que será conjugado com
derivados glicurônicos para ser excretado pela urina (Francisca Charliane et al., 2010).

Figura 5.3.1.1. Tabela de efeitos da Cetamina. Fonte: Farmacologia; Rang &


Dale, 2016

5.3.2. Farmacodinâmica da Cetamina

Os efeitos clínicos que recaem sobre a aplicação da Cetamina acabam sendo,


ainda, um empecilho devido à atuação no SNC. De forma primária, o uso anestésico
é de forma dissociativa – dose-dependente e acomete muito mais homens jovens –,
o que significa que o paciente permanece em um estado cataléptico, embora hajam,
ainda, alguns reflexos. Outros efeitos observados são nistagmo (movimento
involuntário de um ou ambos os olhos), lacrimejamento e salivação (Francisca
Charliane et al., 2010).
A Cetamina age bloqueando canais, dessa forma prevenindo a
despolarização, inibindo a atividade excitatória do Glutamato (Carmen Baptista, 2015).
Esse bloqueio impede o fluxo iônico do canal que possui o receptor NMDA, dessa
forma aumentam a carga simpática, elevando a quantidade de noradrenalina na
circulação, o que aumenta a frequência cardíaca e mantêm a pressão sanguínea.
Além disso, agem de forma a aumentar a frequência respiratória do paciente. (Rang
& Dale, 2016).
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Outros efeitos acarretados pela aplicação da Cetamina são a pressão


intraocular elevada e intracraniana, resultados do aumento da frequência cardíaca, o
que leva ao desaconselhamento da utilização desse fármaco em procedimentos
cirúrgicos oculares e cranianos.
Ainda de acordo com Francisca Charliane et al. (2010):

Além disso, as drogas utilizadas no tratamento da depressão


demoram cerca de semanas a meses para produzir um efeito, resultando em
morbidade considerável e risco aumentado para comportamento suicidas,
principalmente nos primeiros 9 dias após o início do tratamento.

Farmacodinâmica da Cetamina
Sistema Cardiovascular Sistema Sistema Nervoso
Respiratório Central
Aumento do Débito Cardíaco Anestesia
Aumento da Pressão Intraocular e Relaxamento das vias dissociativa
Intracraniana aéreas
Aumento da Frequência Estado Cataléptico
Respiratória
Figura 5.3.2.1. Farmacodinâmica da Cetamina

As contraindicações ao uso da Cetamina são de importância terapêutica, por


haver um cuidado com o aumento da pressão do paciente, além de ser necessário a
cautela para com possível hipersensibilidade à droga. Hipertensão, frequência
cardíaca aumentada, arritmia, apneia, visão dupla, anorexia, náuseas e vômito são os
cuidados a serem tomados quanto as reações adversas da Cetamina.
24

6. CONCLUSÃO

A experimentação foi realizada de forma a serem visualizados os efeitos de


ambos os fármacos, sendo possíveis serem realizadas as anotações e observações
necessárias frente ao que se foi estudado. Pode se analisar a atuação dos efeitos
farmacodinâmicos previstos, interpretar em quais estágios a farmacocinética estaria
atuando e caracterizar cada uma das drogas aplicadas nos ratos.

Dentro da interpretação da equação de Henderson-Hasselbach, levando em


consideração as diferenças dos organismos é possível saber como o fármaco irá se
comportar, se ocorrerá sequestro iônico por algum setor do organismo devido
alterações fisiológicas e como é realizada a interpretação dos dados dentro da
equação.

Cada anestésico apresentou suas características peculiares, diferenciando-


se e mostrando suas inserções clínicas em cada caso específico, a fim de se melhor
entender quando, ou não, aplicar um fármaco de tal porte em determinada atividade
médica cirúrgica.
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REFERÊNCIAS

1. Baptista C. Barbitúricos. 2015;25–37.


2. Bula - Cetamina.
3. Bula - Tiopental.
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Ketamine : General Aspects and Relationship with Schizophrenia. 2005;32(85):10–6.
5. Ritter JM, Frcp D, Fmedsci F. Rang & Dale: Farmacologia. Vol. 1. Elsevier;
2016.
6. Carvalho J. Farmacologia dos Anestésicos Locais. 1994; 75–82.
7. Duarte DF. Farmacocinética e Farmacodinâmica dos Anestésicos Venosos.
1994; 35–42.
8. Mallmann J. IMPACTO DA OBESIDADE NA FARMACOCINÉTICA. 2012;
9. Charliane F et al. Ketamina, da anestesia ao uso abusivo : artigo de revisão.
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10. Luft A, Mendes F. S(+) Cetamina em Baixas Doses: Atualização. 2005;55:460–
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12. Conceitos Básicos de Anestesiologia [Internet]. Disponível em:
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfermagem/conceitos-basicos-
em-anestesiologia/23169
13. Esquizofrenia e os neurotransmissores [Internet]. Disponível em:
http://neuromed94.blogspot.com.br/2011/11/esquizofrenia-e-os-
neurotransmissores.html
14. Os efeitos nos neurotransmissores [Internet]. Disponível em:
https://jimmie1945.jimdo.com/alcol-e-cervello/l-effetto-sui-neurotrasmettitori/
15. Tiopental [Internet]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiopental

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