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INTRODUÇÃO
A
técnica
de
promover
anestesia
geral
sem
utilizar
agentes
inalatórios
chama-‐se
anestesia
venosa
total
(AVT).
O
aspecto mais importante desse técnica foi o desenvolvimento de fármacos que tivessem curta duração e que mesmo
após longo período de infusão, a recuperação fosse razoavelmente rápida. Com esse raciocínio, pode-‐se dizer que a
era AVT foi definitivamente inaugurada após a introdução do propofol. Com um perfil farmacocinéti-‐
co/farmacodinâmico muito superior aos seus antecessores no que se refere ao seu efeito hipnótico/sedativo e efei-‐
tos adversos, o propofol ainda é o hipnótico de eleição da técnica AVT. Mais recentemente, o remifentanil mostrou o
quão rápido, intenso e fugaz poderia ser um efeito analgésico. Esse opióide introduziu um novo conceito de
meia-‐vida, a meia-‐vida contexto independente. Ou seja, não importa quanto tempo durar a sua infusão, uma vez
interrompida sua administração, sua concentração reduz pela metade após míseros 4-‐6 min.
Em contrapartida, as duas principais causas de despertar intraoperatório com o uso de AVT são: falha no equipa-‐
mento em entregar a dose desejada e falta de conhecimento de princípios farmacológicos subjacentes.1
Os objetivos desse capítulo são: expor alguns desfechos anestésicos com AVT, descrever os tipos de infusão (manu-‐
almente controlada e alvo controlada) salientando os modelos farmacocinéticos/biofase e vários aspectos práticos e
DESFECHOS
ANESTÉSICOS
E
ANESTESIA
VENOSA
TOTAL
Teoricamente,
o
emprego
da
técnica
de
AVT
possui
inúmeras
vantagens
em
relação
aos
agentes
inalatórios
para
manutenção da anestesia geral. Fármacos utilizados em AVT diminuem o risco de efeitos indesejados da anestesia
geral, como náusea e vômitos do pós-‐operatório (NVPO) e a poluição da sala cirúrgica com os agentes inalatórios.2
Embora existam essas e outras potenciais vantagens, o emprego da AVT continua baixo. Alguns dos motivos para
esse baixo uso são a possibilidade aumentada de despertar intraoperatório e a falta da mensuração direta da con-‐
ANESTESIA
VENOSA
TOTAL
E
CÂNCER
A
ressecção
tumoral
é
a
base
terapêutica
para
muitos
tipos
de
câncer.
Paradoxalmente,
o
ato
cirúrgico
pode
causar
disseminação das células tumorais para a circulação periférica e resultar numa proliferação tumoral. Associado a
isso, o estresse cirúrgico promove alterações metabólicas e neuroendócrinas que deprimem a imunidade. Essa com-‐
binação de possível propagação e uma resposta imune prejudicada, aumenta a suscetibilidade dos pacientes oncoló-‐
gicos submetidos à cirurgia ao desenvolvimento de metástases e está associado a piores desfechos a longo prazo. A
possibilidade de agentes anestésicos afetar esse processo tem atraído o interesse de vários pesquisadores.
Uma análise retrospectiva com 1.158 pacientes submetidos à cirurgia de câncer de cólon, concluiu que os pacientes
anestesiados com propofol tiveram melhor sobrevida global em relação ao pacientes anestesiados desflurano
(86,6% e 56,5%, respectivamente), menor recidiva local (5,8% e 9,1%, respectivamente) e menos metástases no
Outro estudo retrospectivo com 492 pacientes submetidos a hepatectomia por carcinoma hepatocelular, mostrou
que os pacientes anestesiados com AVT tiveram menor mortalidade pelo câncer em relação aos pacientes submeti-‐
dos a anestesia com desflurano (30% e 73%, respectivamente), menor recidiva local (37,8% e 70,1%, respectiva-‐
Entretanto, estudo retrospectivo com 943 pacientes diagnosticados com câncer pulmonar de células não-‐pequenas
submetidos a ressecção curativa, não mostrou diferença significativa na recidiva e mortalidade entre pacientes
De uma maneira geral, metanálise e revisão sistemática sobre o tema sugerem que o uso de propofol / AVT pode
estar associado a uma sobrevida global maior e livre de recidiva em pacientes submetidos à cirurgias oncológicas,
mais evidente nas cirurgias de grande porte. Entretanto, para fortalecer a evidência, estudos clínicos aleatórios,
RECUPERAÇÃO
DA
ANESTESIA
A
recuperação
do
procedimento
anestésico
cirúrgico
é
complexo
e
depende
do
paciente,
da
cirurgia
e
das
caracterís-‐
A farmacocinética e a farmacodinâmica da combinação propofol e opioides na AVT tem sido detalhada nos últimos
30 anos. Propofol tem um bom perfil para infusão contínua porque a sua meia vida contexto dependente aumenta
somente de 20 para 30 minutos com a duração de infusão passando de 2 para 8 horas.9 Sua rápida depuração e re-‐
distribuição
após
longo
tempo
em
infusão,
permite
um
rápido
retorno
da
consciência.
A
adição
de
opioide
na
técnica
de
AVT
diminui
a
quantidade
utilizada
de
propofol
em
até
50%.9
Isso
possibilita
um
despertar mais precoce após o termino da infusão de propofol-‐opioide. Esse tempo de recuperação depende princi-‐
palmente da escolha do opioide e da duração da infusão.10 O propofol associado ao remifentanil permite recupera-‐
ção mais rápida da consciência do que o propofol combinado com fentanil, sufentanil ou alfentanil.10, 11
Clinicamente, o emprego da AVT tem demonstrado melhora na recuperação em diferentes grupos de pacientes e
configurações. Anestesia venosa total com propofol tem sido associada com um melhor perfil de recuperação e di-‐
minuição nos custos quando comparado com anestesia com sevoflurano.12 Os pacientes que receberam AVT com
propofol permaneceram menos tempo na sala de recuperação anestésica, tiveram alta hospitalar mais precoce e
ficaram mais satisfeitos. Apesar da diferença ter sido pequena, o intervalo de tempo entre o final da anestesia e a
alta hospitalar foi de 51 minutos no grupo do propofol e 62 minutos no grupo do sevoflurano.12
Um estudo comparou a recuperação da função cognitiva em pacientes submetidos à AVT com propofol-‐remifentanil
e anestesia com desflurano ou sevoflurano.13 O despertar foi mais precoce no grupo AVT em relação aos grupos
sevoflurano e desflurano, sem diferença entre os agentes inalatórios. Após 60 minutos, o retorno da função cognitiva
foi mais rápido no grupo AVT em relação ao grupo sevoflurano e desflurano. Não houve diferença entre os grupos
Em neurocirurgia, não houve diferença no tempo de extubação e recuperação entre os grupos de AVT pro-‐
pofol-‐remifentanil e sevoflurano-‐sufentanil quando ambos os grupos foram guiados com BIS.14 Os autores argu-‐
mentaram que o uso do BIS em ambos os braços do estudo pode ter disfarçado as vantagens farmacodinâmicas da
AVT.
Outro estudo mostrou uma recuperação mais rápida em pacientes submetidos à cirurgia de coluna sob anestesia
com sevoflurano quando os pacientes foram monitorizados com potenciais somatossensitivos.15 Entretanto, tem
sido demonstrado que a monitorização da profundidade anestésica foi capaz de acelerar a recuperação e diminuir a
quantidade de propofol durante a AVT.16, 17 A utilização do BIS também diminuiu o risco de despertar intraoperató-‐
Recentemente, um grande estudo com 1.158 pacientes estudou as características da recuperação em pacientes
submetidos a AVT, propofol na indução e isoflurano/N2O ou sevoflurano/N2O e sevoflurano na indução e manuten-‐
ção da anestesia. Monitorização de profundidade anestésica não foi utilizada. A incidência de NVPO foi menor no
grupo AVT, mas não houve diferença entre os grupos em relação aos tempos de despertar, recuperação, alta hospi-‐
tes que receberam desflurano em relação ao grupo que recebeu AVT, 80% e 44% respectivamente.20
Recentemente, um estudo realizado com crianças em regime ambulatorial mostrou níveis semelhantes na cognição
pós-‐operatória com propofol ou isoflurano.21 O tempo de reação e a coordenação psicomotora estavam diminuídos
em ambos os grupos após 60 minutos de pós operatório, mas estavam restabelecidos após 24 horas. Em ambos os
grupos, a memória visual estava comprometida após 60 minutos e 24 horas.
A presença de náuseas e vômitos no pós-‐operatório (NVPO) é uma das experiências mais desagradáveis do paciente
submetido à anestesia geral. Embora existam significativos avanços sobre o conhecimento da NVPO e da introdução
de novos agentes antieméticos, a incidência geral de NVPO é em torno de 30%.22 Em pacientes de alto risco, essa
incidência sobe para 80%.22 A NVPO pode prolongar o tempo de recuperação, aumentar os cuidados da equipe de
enfermagem, bem como aumentar a taxa de readmissão em cirurgias ambulatoriais.23
Anestesia venosa total com propofol está associada a menor incidência de NVPO quando comparada aos agentes
inalatórios.24 O uso de AVT reduz o risco de NVPO em aproximadamente 25%.25 O efeito antiemético do propofol é
mais evidente no período de recuperação imediata.26 O propofol usado como parte da AVT é efetivo em todos os
A técnica de AVT livre de opioides realizada com propofol, cetamina e dexmedetomidina foram capazes de reduzir o
risco absoluto de NVPO em 17% comparado com o grupo que recebeu anestesia inalatória com opioide.27 O fato
mais interessante nesse estudo foi que ambos os grupos receberam profilaxia tripla para NVPO (patch de escopola-‐
Doses sub hipnóticas de propofol é mais eficaz que placebo no manejo de NVPO.28 A concentração média de propofol
associada a redução da NVPO é de 343 ng.ml-‐1.29 Isto pode ser atingido com uma dose bolus de 10 mg de propofol
seguido de uma infusão contínua de 10 µg.kg-‐1.min-‐1.29 Uma alternativa para conseguir alta precoce na sala de recu-‐
peração pós anestésica, é utilizar dose bolus de 20 mg de propofol via PCA venoso.28
Embora o exato mecanismo de ação do propofol na redução da NVPO não foi todo esclarecido, muitos mecanismos
foram propostos, incluindo o efeito depressor direto na zona quimiorreceptora do gatilho e no núcleo vagal.30, 31
Uma revisão sistemática que incluiu 58 estudos mostrou que a AVT com propofol foi mais eficaz que a anestesia
inalatória
na
redução
da
NVPO
pós-‐alta
hospitalar.32
A
NVPO
pós-‐alta
hospitalar
é
uma
problema
importante,
com
uma
incidência
de
37%
nas
primeiras
48
horas
após
alta
de
pacientes
ambulatoriais.33
Essa
intercorrência
é
de
difí-‐
cil tratamento, uma vez que o paciente já está sem acesso venoso. A utilização da técnica e AVT é recomendada como
parte de uma abordagem multimodal em todos os pacientes de alto risco para NVPO e NVPO pós-‐alta hospitalar.
CARDIOPROTEÇÃO
Agentes inalatórios possuem efeito cardioprotetor. Uma meta análise com 22 estudos mostrou uma redução signifi-‐
cativa na taxa de infarto do miocárdio e morte em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com desflurano ou sevo-‐
O efeito cardioprotetor do propofol é controverso. O propofol aumenta a capacidade antioxidante dos eritrócitos e
tecidos promovendo proteção dose dependente durante isquemia e reperfusão.35 Em modelos animais, o propofol
tem sido capaz de promover um efeito cardioprotetor em até 48 horas.36
Em estudo retrospectivo com 10.535 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca concluiu que o sevoflurano e propofol
possuem propriedades cardioprotetoras, embora de maneira diferente.37 Esse estudo também demonstrou que
estratificando os pacientes em grupos baseados no EUROSCORE, não houve diferença na mortalidade em até 30 dias
Os resultados de estudos clínicos controlados e aleatórios são contraditórios. Alguns estudos concluem que a AVT
não oferece cardioproteção em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca em comparação com os agentes inalató-‐
rios.38-‐40 Entretanto, outros estudos mostram não haver diferença entre as técnicas utilizadas.41-‐43 É importante citar
que todos esses estudos utilizam o aumento da troponina pós-‐operatória como marcador de necrose do miocárdio.
A relevância clínica desse aumento é incerta. De fato, é muito questionável extrapolar essa pequena diferença esta-‐
tística, embora significativa, encontrada na diminuição dos marcadores bioquímicos de necrose do miocárdio ob-‐
servados com o uso dos agentes inalatórios, em demonstrar alguma melhora no desfecho anestésico cirúrgico.2
Mais recentemente, um grande estudo multicêntrico (36 centros em 13 países), controlado, com 5.400 pacientes
submetidos a revascularização do miocárdio, sendo 2.709 com anestesia inalatória e 2.691 com anestesia venosa
total, não observou diferença significativa na mortalidade após 1 ano (2,8% e 3,0%, respectivamente). Também não
observaram diferença significativa em nenhuma variável secundária ou evento adverso entre os dois grupos, inclu-‐
moderada ou intensa no pós operatório imediato, e 74% ainda permaneceram com nível de dor importante após a
alta hospitalar.45 Há alguma evidência emergindo que o tipo de anestesia pode afetar o nível de dor no pós operató-‐
rio. Modelos animais têm demonstrado que os agentes inalatórios podem causar hiperalgesia na recuperação da
anestesia, possivelmente por inibição dos receptores nicotínicos de acetilcolina no cérebro e na medula espinhal.46,
47 Em contrapartida, o propofol pode ter um efeito de antinocicepção periférica.48
Outro estudo comparou propofol e isoflurano em 80 mulheres submetidas à cirurgia uterina.49 A variável primaria
foi dor reportada através de escala analógica visual. Eles observaram que AVT com propofol resultou em menor
incidência de dor no pós operatório e menor consumo de morfina nas primeiras 24 horas, ambos estatisticamente
significativos.
Em contrapartida, alguns autores estudaram dor pós operatória em cirurgia de ouvido médio e constataram que os
pacientes que receberam AVT tiveram mais dor na sala de recuperação e consumiram mais morfina.50
Não menos interessante, um grande estudo clínico controlado e aleatório com 366 pacientes avaliaram os efeitos da
anestesia na síndrome de dor crônica pós-‐toracotomia (DCPT).51 Os pacientes anestesiados com AVT pro-‐
pofol/remifentanil desenvolveram significativamente menos DCPT em relação aos pacientes que receberam aneste-‐
sia inalatória. O grupo AVT teve menos alodínea e DCPT em 3 meses de acompanhamento em relação ao grupo ina-‐
latório (38% e 56%, respectivamente p = 0,001) e em 6 meses (33% e 50%, respectivamente p = 0,002). Esses au-‐
tores teorizaram que redução na DCPT deve-‐se ao efeito do propofol na antinocicepção periférica, ao seu efeito an-‐
tioxidante, a sua neuroproteção na injúria dos nervos intercostais e na sua inibição dos receptores NMDA.48, 52-‐54
Também foi demonstrado que AVT com propofol reduziu a hiperalgesia induzida pelo remifentanil.36 Nesse estudo
os autores concluíram que os pacientes submetidos à cirurgia de câncer de mama sob propofol e alta doses de remi-‐
fentanil tiveram melhor analgesia pós operatória com um menor consumo de morfina acumulativo nas primeiras
SINUSECTOMIA
Foram demonstrados em alguns estudos que os pacientes submetidos a cirurgias endoscópicas dos seios da face sob
AVT tiveram perda de sangue inferior e campo operatório visual mais satisfatório ao cirurgião, como resultado da
boa estabilidade cardiovascular.50 Porém, recentemente uma meta análise com 42 estudos concluiu não haver dife-‐
rença
na
perda
sanguínea,
frequência
cardíaca
ou
pressão
arterial
entre
a
AVT
e
a
anestesia
inalatória.55
Somente
7
estudos
demonstraram
um
escore
de
campo
operatório
visual
mais
favorável
a
AVT.
(p
<
0,001).
QUEIMADOS
Anestesia venosa total baseada em cetamina é frequentemente utilizada em pacientes queimados críticos que re-‐
querem anestesia geral, principalmente aqueles com lesão concomitante da árvore brônquica. Um estudo demons-‐
trou que o uso de cetamina, fentanil e propofol nesse grupo de pacientes foi seguro e resultou em maior estabilidade
BRONCOSCOPIA
Um estudo comparou AVT e anestesia inalatória em crianças menores de 3 anos submetidos a broncoscopia rígida
em respiração espontânea para remoção de corpo estranho traqueal/bronquial.57 Os resultados foram mais favorá-‐
veis a anestesia inalatória com sevoflurano, uma vez que promoveu melhor estabilidade hemodinâmica e respirató-‐
FUNÇÃO PULMONAR
Os parâmetros de função pulmonar são afetados negativamente após qualquer tipo de anestesia administrada. Po-‐
rém, um estudo com 60 pacientes submetidos à cirúrgica de hérnia discal lombar demonstrou que nos pacientes que
receberam AVT houve redução na capacidade residual funcional em relação ao grupo que recebeu anestesia inalató-‐
ria.58
técnica de anestesia balanceada, quando uma dose inicial é feita na indução, seguida da administração de agentes ina-‐
latórios para manutenção do plano anestésico. A dose endovenosa inicial produz elevação grande e abrupta da con-‐
centração do fármaco no plasma e nos receptores, produzindo um pico plasmático. Além do agente inalatório, muitas
vezes se utilizam novos bolus de opioides e bloqueadores neuromusculares. Logo após os bolus ocorrem os picos de
concentração plasmática, seguidos de decaimento rápido, que evoluem para os “vales”.59 Essa prática tão comum na
clínica diária produz o que se convencionou chamar de efeito de “picos e vales” (figura 113.1).
Durante
os
“picos”,
concentração
plasmática
superior
à
necessária
pode
determinar
alterações
hemodinâmicas
inde-‐
sejáveis,
como
hipotensão
arterial
e
eventualmente
deficit
de
perfusão
tecidual,
agravando
o
risco
de
acidentes
isquê-‐
micos perioperatórios.60 Eleva também a incidência de efeitos adversos, como náuseas, vômitos e despertar prolonga-‐
do, e a eventual demanda por assistência ventilatória pós-‐operatória. Náuseas e vômitos não raro exigem internação e
cancelamento da alta hospitalar de um paciente inicialmente admitido em regime ambulatorial, o que compromete o
Os “vales” se caracterizam por períodos em que a concentração plasmática frequentemente se apresenta abaixo da
faixa terapêutica do fármaco. Nesses momentos podemos ter plano anestésico inadequado. Insuficiente hipnose pode
permitir a ocorrência de memória intraoperatória, sabidamente nociva.63 Analgesia aquém do necessário para o estí-‐
mulo nociceptivo vigente pode propiciar a ocorrência de alterações hemodinâmicas indesejadas, como hipertensão
Maior variação hemodinâmica eleva a demanda por drogas vasoativas, além de aumentar o risco de complicações rela-‐
A administração da anestesia venosa se faz nos dias atuais através de dispositivos eletroeletrônicos precisos e seguros,
chamados bombas de infusão, que permitem injetar o fármaco de forma contínua. Apresentam inúmeras vantagens
em relação à administração por bolus fracionados, pela possibilidade de manutenção de concentrações plasmáticas
adequadas dos anestésicos, mantendo-‐as dentro da chamada “janela terapêutica” (figura 113.2), quando se obtêm os
efeitos desejados, com o mínimo de para-‐efeitos. O uso de dispositivos como buretas e equipos de microgotas não ofe-‐
rece controle da infusão com a precisão necessária, e apresenta-‐se como má prática, não devendo ser admitido atual-‐
mente.64
Figura 113.1 – Efeito de “picos e vales” após bolus sucessivos. Em vermelho, a concentração plasmática e, em verde, a concentração do
Figura 113.2 – Infusão contínua mantendo concentração plasmática dentro da faixa terapêutica do fármaco. Em vermelho, a concen-‐
tração plasmática e, em verde, a concentração do fármaco na biofase (receptores).
O
organismo
é
descrito
didaticamente
como
um
modelo
tricompartimental.
Quando
injetamos
por
via
venosa
qualquer
fármaco,
o
fazemos
no
chamado
compartimento
central
(V1),
formado
por
sangue
e
órgãos
ricamente
vascularizados,
como cérebro (onde se encontra a biofase, ou seja, os receptores), coração, pulmões, fígado e rins, além de glândulas
endócrinas. É nesses locais que o fármaco chega primeiro, conduzido pela circulação. A seguir, o fármaco é distribuído
rapidamente ao segundo compartimento (V2), formado sobretudo pelos músculos e órgãos de perfusão intermediária,
levando a uma grande redução de sua concentração no plasma, ou compartimento central. Neste compartimento in-‐
termediário as moléculas chegam após um breve intervalo, que varia de acordo com débito cardíaco e estado da per-‐
fusão dos diversos tecidos, além de lipossolubilidade e grau de ligação à proteínas plasmáticas, essas duas últimas,
características inerentes a cada fármaco. Posteriormente, à medida em que os tecidos do chamado terceiro comparti-‐
mento (V3), recebem com atraso ainda maior uma fração do fármaco presente no plasma, trazida pela circulação, que é
menor nesse reservatório mais periférico, há progressivo declínio de sua concentração, tanto no sangue como nos
A transferência aos compartimentos de forma sequencial, ocorre na realidade de forma simultânea, mas com veloci-‐
dade distintas entre V1 e V2 e entre V1 e V3, pelas diferenças de perfusão, lipossolubilidade e ligação a proteínas, exis-‐
tentes entre os tecidos dos diversos compartimentos. Assim, a somatória, ou resultante final, se altera com o tempo,
Diferentemente, a redução da concentração do fármaco no plasma pela eliminação, que é feita a partir do comparti-‐
O movimento das moléculas ocorre também no sentido inverso, quando se reduz o aporte do fármaco ao comparti-‐
mento central, e, em consequência do processo de eliminação, acontece então a queda de sua concentração, abaixo da
encontrada nos compartimentos periféricos, e passa a haver retorno ao sangue, pela tendência de equilíbrio entre os
compartimentos.65
A infusão manualmente controlada pode ou não ser precedida de um bolus inicial. Este bolus oferece uma “dose de
carregamento” do fármaco à circulação, fornecendo ao compartimento central determinada massa de moléculas, que
distribuídas em seu volume, produzirão a chamada concentração plasmática. A infusão contínua provê administração
do fármaco em velocidade constante, que pode ser reajustada pelo anestesiologista no momento em que julgar ade-‐
quado. A intenção é produzir concentração necessária para se obter os efeitos desejados, adequados às alterações que
vão se impondo ao momento cirúrgico, sobretudo às variações da intensidade do estímulo nociceptivo.
Ambos, bolus inicial e taxa (ou velocidade) de infusão, devem ser calculados pelo profissional de acordo com a massa
corporal,
e
ponderados
também
em
função
de
idade,
estado
físico
ou
compleição
corporal,
de
acordo
com
o
fármaco
empregado.
Quando
da
utilização
de
fármacos
que
demandem
variação
da
infusão
ao
longo
do
procedimento,
seja
em
função da redistribuição aos tecidos, seja pelas mudanças no contexto geral do paciente, tais ajustes também têm que
A infusão contínua do fármaco visa manter estável sua concentração no plasma, e por consequência, nos receptores,
repondo ao compartimento central a fração das moléculas que é distribuída aos demais compartimentos ou eliminada.
E assim oferecer, pelo tempo necessário à realização do procedimento, as condições adequadas de inconsciência, anal-‐
gesia e imobilidade, que devem ser alcançadas na indução, e terminadas na recuperação anestésica, de forma efetiva e
Fármacos com pequeno volume de distribuição, cujo melhor exemplo é o remifentanil, difundem-‐se pouco pelos di-‐
versos compartimentos do organismo, ficando virtualmente restritos ao volume central, que é o mais próximo da bio-‐
fase, ou seja, dos receptores. Assim, a massa adicionada à circulação tem pouca ou praticamente nenhuma “perda” para
os outros compartimentos, e uma infusão contínua, que ofereça ao compartimento central a reposição das moléculas
daí eliminadas, é suficiente para manter estável sua concentração junto aos receptores, no decorrer do tempo. Ajustes
elevando ou reduzindo a taxa de infusão somente são necessários quando houver mudanças no contexto de estímulos
vigente, para adequá-‐los às mudanças que acompanham as diversas fases da cirurgia, não havendo necessidade de
infusão decrescente.
Por outro lado, fármacos com grande volume de distribuição como o propofol, difundem-‐se mais pelos diversos com-‐
partimentos do organismo, a ponto de seus efeitos declinarem, cessada ou reduzida a infusão, pela sua redistribuição a
compartimentos periféricos. Inclusive acontecendo de forma mais rápida que sua própria eliminação, sobretudo na
fase inicial de equilíbrio rápido, quando começa a haver transferência do primeiro ao segundo compartimentos. No
entanto, com o decorrer do tempo, tais compartimentos periféricos tendem a se equilibrar com o central, à semelhança
de um sistema de vasos comunicantes. À medida em que esse equilíbrio vai se tornando mais próximo, diminui o gra-‐
diente de concentração do fármaco entre os compartimentos, e, com isso, se reduz sua transferência aos mais periféri-‐
cos. Ao mesmo tempo, declina a quantidade de moléculas que necessitam ser adicionadas ao volume central para
manter estável a concentração do fármaco, e a infusão deve ser progressivamente reduzida.
Como sua própria denominação deixa claro, na infusão manualmente controlada os ajustes tem que ser feitos pelo
anestesiologista, o que na prática clínica não é possível executar de forma precisa, pois demandaria a realização de
grande quantidade de cálculos, rápida e continuamente, a fim de estimar as velocidades de transferência que são dife-‐
rentes
entre
os
compartimentos,
e
cuja
resultante,
por
isso,
não
é
linear.
Para
viabilizar
alguma
adequação
da
infusão
à
demanda,
foram
idealizados
regimes
de
infusão
decrescentes
para
fár-‐
macos como propofol, alfentanil e sufentanil, a fim de auxiliar o anestesiologista a manter a concentração plasmática
estável durante a anestesia, entre as concentrações efetivas EC 50 e EC 95, demonstrados nas Tabelas 113.1 a 113.3.10
Uma vez que se busca com a anestesia venosa total explorar a oportunidade de manejar hipnose, analgesia e relaxa-‐
mento muscular separadamente, através do uso de fármacos específicos para cada um desses componentes, é no mí-‐
nimo incoerente associar numa mesma solução fármacos com propósitos diferentes, tal como um hipnótico como pro-‐
pofol, e um analgésico como o remifentanil. Além disso, diluir remifentanil em propofol pode causar diferentes con-‐
centrações de remifentanil ao longo da seringa e causar hidrólise do grupo éster do opióide em solução de baixa con-‐
Do ponto de vista técnico, a depender das concentrações de cada um dos fármacos na solução, há grande risco de
ocorrer memória intraoperatória ou variações hemodinâmicas tão indesejadas quanto perigosas, motivos suficientes
para que o uso dessa mistura de fármacos seja também considerada má prática, devendo ser desaconselhada.1
Idealmente deve-‐se ainda utilizar acesso venoso dedicado e exclusivo para infusão dos anestésicos, a fim de evitar
acidentes com bolus inadvertido pela variação do fluxo do cristalóide utilizado. Quando isso não é possível, deve-‐se ao
menos posicionar o divisor de fluxo ou “torneirinha” o mais próximo possível do acesso venoso do paciente.
Quanto às soluções, é imprescindível que sejam preparadas sob condições assépticas, sobretudo quando se emprega o
propofol, pois sua apresentação sob a forma de emulsão lipídica, é em veículo rico como meio de cultura. Deve-‐se res-‐
tringir ao mínimo a manipulação do propofol, evitando diluí-‐lo, pelo risco de contaminação. Isso reduz também a pos-‐
sibilidade da emulsão tornar-‐se instável com eventual coalescência das microvesículas lipídicas, presentes nas apre-‐
sentações comercialmente disponíveis, diminuindo-‐se assim a dor à infusão e alterações de sua latência.68
PROPOFOL
O propofol (2,3-‐diisopropilfenol) é um alcalifenol com propriedades hipnóticas, curta latência e grande volume de
distribuição, que é o responsável por seu rápido término de ação, em parte devido a sua alta lipossolubilidade. Seu
mecanismo de ação parece estar na ativação de receptores do ácido gama aminobutírico (GABA) e modificação da
transmissão glutaminérgica. O T1/2 ke0 do propofol é de 2,6 minutos, o que faz com que alcance equilíbrio entre o plas-‐
ma e a biofase após cerca de 8 a 10 minutos do início da infusão. Apresenta elevada eliminação, o que sugere a existên-‐
infusão contínua, sendo na atualidade o hipnótico de escolha para anestesia venosa total. Contribui para isso o fato de
apresentar poucos para-‐efeitos, sendo os mais importantes as ações vasodilatadora e depressora da função miocárdica,
que, no entanto, são facilmente contornáveis com ajustes da dose, e raramente inviabilizam seu uso.69
Propicia rápido despertar ao término da infusão, com estado mental claro, e grande satisfação dos pacientes. Não de-‐
sencadeia náuseas e vômitos, e oferece sensação de bem estar, e de sono fisiológico e reparador.70
Em AVT, o propofol é administrado em bolus de indução, em dose variando entre 2 e 2,5 mg.kg-‐1, que deve ser reduzida
em idosos para cerca de 1 mg.kg-‐1, e elevada para 3 mg.kg-‐1 em crianças. Nestas o compartimento central chega a ser
50% maior que no adulto jovem, enquanto a depuração no idoso está diminuída em 20%. Segue-‐se à infusão de manu-‐
tenção, que deve começar com 80 a 150 µg.kg-‐1.min-‐1 e ser ajustada às necessidades e características de cada paciente e
cada procedimento, e limitada por eventuais variações farmacodinâmicas, evidenciadas sobretudo por alterações he-‐
modinâmicas.
No decorrer da infusão, para oferecer uma concentração plasmática estável, é necessário se proceder à progressiva
redução da taxa de infusão ao longo do tempo, conforme descrito na Tabela 113.1. O objetivo é manter a concentração
ao redor de 3 ƞg.mL-‐1 na biofase, e evitar hipotensão arterial e alargamento do tempo de despertar, ao final de proce-‐
Tanto o ajuste da dose de manutenção quanto sua adequação ao tempo de infusão devem, no entanto, ser sempre
ponderados e reavaliados considerando o contexto vigente, quanto às condições gerais e hemodinâmicas do paciente, e
principalmente em relação à intensidade do estímulo nociceptivo, que varia muito em função do tempo cirúrgico.
Especificamente quanto a esse último fator, a adequação da infusão do propofol deve ser balizada considerando o fato
de ser hipnótico quase desprovido de poder analgésico. Assim, é de suma importância que a analgesia seja efetivamen-‐
te provida pelo emprego adequado de opioides, ficando a cargo do propofol apenas a manutenção da hipnose, sua me-‐
lhor habilidade. Quando esse cuidado não é lembrado corre-‐se o risco de estar explorando seu para-‐efeito cardiode-‐
pressor, para apenas mascarar os efeitos de uma analgesia insuficiente, sem, no entanto, oferecer proteção contra
eventuais consequências da nocicepção, como a ativação simpática e a liberação de catecolaminas e cortisol, com risco
de acidemia e hiperglicemia.71
A monitorização de efeito do propofol, pelo acompanhamento contínuo do grau de hipnose, através de índice bispec-‐
tral ou da entropia, por exemplo, torna possível proceder aos ajustes de forma infinitamente mais segura e refinada.72
Tal
prática
oferece
ganhos
relevantes
em
qualidade,
pois
a
administração
da
anestesia
pode
ser
feita
de
forma
indivi-‐
dualizada,
adequada
ao
paciente
assistido,
o
que
é
evidenciado
por
menores
alterações
hemodinâmicas,
menor
tempo
de despertar, e redução da dose total empregada.73, 74 Mas ainda mais importante é o fato de se poder oferecer um pa-‐
drão de segurança muito superior quando se utiliza a monitorização cerebral, pois é comprovada a redução da inci-‐
dência de consciência e memória intraoperatórias, eventos que podem ter graves consequências, pelo grande potencial
de causar seqüelas.75 O emprego de monitorização de efeito deve, portanto, ser incentivado, sobretudo nos casos de
maior risco, como em pacientes com baixa reserva cardiovascular, gestantes, pacientes em uso crônico de benzodia-‐
Diferenças farmacocinéticas em relação ao adulto são decorrência do maior volume do compartimento central nas
crianças (9.500 mL.kg-‐1, contra 4.700 mL.kg-‐1 no adulto), inversamente proporcional à idade, com menor proporção
corporal de gordura. Também decorrem da maior depuração plasmática (50 versus 28 mL.min-‐1.kg-‐1), pela maior ativi-‐
dade enzimática e maior fluxo sanguíneo hepático, exceto em prematuros. O mesmo ocorre com a ligação dos fármacos,
que decresce em valores absolutos, com a diminuição das proteínas plasmáticas com a idade, sobretudo da al-‐
Na criança observa-‐se menor sensibilidade dos receptores na biofase ao propofol, ao fentanil, e ao alfentanil.
Doses usadas em adultos podem também ser insuficientes para alcançar e garantir hipnose efetiva em crianças, devido
ao maior volume de distribuição e à maior depuração hepática. Isso foi comprovado pela monitorização cerebral atra-‐
vés de eletroencefalografia processada por monitor de índice bispectral (BIS), que demonstrou que o valor da cons-‐
tante que descreve a saída do fármaco da biofase (ke0) decresce com a idade, variando de 0,91 min-‐1 aos 12 meses de
Assim, para crianças entre 4 e 12 anos de idade, a fim de se obter concentração na biofase em torno de 3 µg.mL-‐1, suge-‐
re-‐se bolus seguido de infusão decrescente, de acordo com a Tabela 113. 4.
REMIFENTANIL
O fármaco opioide de introdução mais recente na anestesiologia clínica apresenta características peculiares que o dis-‐
tingue dos demais agonistas de receptores µ. Exibe ligação éster em sua molécula, suscetível à quebra por enzimas
esterases plasmáticas e tissulares, é responsável por seu rápido término de ação, prescindindo de metabolização hepá-‐
Em razão de sua alta lipossolubilidade, menor ligação a proteínas plasmáticas, e altíssima afinidade pelo receptor,
apresenta
rápido
início
de
ação,
com
volume
de
distribuição
extremamente
pequeno,
virtualmente
restrito
ao
compar-‐
timento
central,
já
que
apenas
5%
das
moléculas
infundidas
chega
ao
terceiro
compartimento.
Comportando-‐se dessa forma, difunde-‐se muito pouco pelo organismo, atinge concentração estável muito mais rapi-‐
damente após início de uma infusão contínua, e apresenta meia-‐vida contexto independente, diferentemente dos de-‐
mais opioides em uso clínico. Independentemente da duração da infusão, após cerca de 4 minutos de sua interrupção já
há redução de 50% da concentração que vinha sendo mantida no plasma e na biofase. Como exemplo, uma vez que
tenha sido mantida concentração plasmática de 3 ƞg.mL-‐1 no perioperatório, após 3 a 5 minutos do término da infusão
haverá retomada da ventilação espontânea, que reaparece abaixo de 1,5 ƞg.mL-‐1.78
Tais características de curta latência, fácil titulação de efeito e grande previsibilidade tornam seu uso clínico muito
Em procedimentos de maior porte e duração, em associação ou sucedendo a administração dos opióides de duração
mais longa, oferece possibilidade de controle do plano anestésico de forma efetiva durante períodos transitórios de
maior estimulação nociceptiva, graças a seu rápido início de ação, com pico em cerca de 1,5 minuto. É, por isso, o opió-‐
ide de eleição para esse tipo de evento. Idealmente deve ser administrado continuamente durante o procedimento,
com associação de pequenos bolus ou de elevação da taxa de infusão imediatamente antes de episódios de maior esti-‐
Como agente analgésico único, em anestesia geral para procedimentos que demandam despertar intraoperatório,
permite grande controle do plano anestésico, sobretudo em associação com o propofol.82
Como não tem efeito residual, é destituído também de analgesia pós-‐operatória, que tem que ser planejada e provida
Apresenta alguns inconvenientes pela forma breve sendo os mais relevantes as alterações hemodinâmicas, sobretudo
hipotensão arterial e bradicardia, e a eventual rigidez torácica, consequentes não só à dose mas principalmente ao
emprego de bolus na indução. Esse tem ficado restrito às indicações de indução em sequência rápida, e aos pacientes
jovens e hígidos.84 Tem sido substituído por infusão iniciada com taxa de cerca de 0,5 µg.kg-‐1.min-‐1, que em 3 minutos
produz concentração efetiva ao redor de 6 ƞg.ml-‐1, suficiente para intubação traqueal. E então reduzida, de acordo com
Em associação com o propofol, detém a maior sinergia entre os opióides, podendo (e devendo) ter sua taxa de infusão
Para manutenção da AVT, o ajuste da dose pela idade é tão ou mais importante do que pelo peso, pois seu efeito, função
da
concentração
na
biofase,
é
alterado
radicalmente
por
variações
do
volume
de
distribuição,
ou
seja,
pelo
tamanho
do
compartimento
central,
cerca
de
20%
menor
no
idoso
e
até
50%
maior
no
recém
nascido,
em
relação
ao
adulto
jovem.
Também a depuração pode estar reduzida em 30% no idoso e elevada em 20% na criança, na mesma comparação.85
Por tudo isso, a dose de manutenção no idoso deve ser um terço da usada no adulto jovem, e na criança até 2 anos,
100% maior.86
Pelo fato de induzir modificações nos receptores, com risco de hiperalgesia pós-‐operatória, não se recomendam doses
Remifentanil exibe pequeno volume de distribuição, que em muito se deve ao fato de ficar praticamente restrito ao
compartimento central. Por isso teria sua farmacocinética pouco influenciada pelas modificações da compleição cor-‐
poral, decorrentes da maturidade e da velhice. Mas à medida em que também o compartimento central é maior em
crianças, há necessidade de se elevar a dose utilizada em até 100%, principalmente durante o primeiro ano de vida.
Assim como no adulto, não há necessidade de se proceder a reduções da taxa de infusão de remifentanil com o decor-‐
rer do tempo, pois não há migração do fármaco para os compartimentos periféricos. Cuidado importante, rotina em
anestesia pediátrica, deve ser tomado quanto à diluição do fármaco, pois apesar de os dispositivos de infusão terem
atingido satisfatório nível de precisão, qualquer resíduo do fármaco, remanescente nas linhas de infusão ou em suas
ramificações, pode provocar acidentes com graves consequências, ainda piores se for empregada solução com mais de
25 µg.mL-‐1.88
ALFENTANIL
Congênere dos opióides sintéticos utilizados na rotina diária da anestesiologia clínica, o alfentanil exibe depuração
menor do que o do fentanil, mas, por ser menos lipossolúvel que este, e que o sufentanil, apresenta menor volume de
distribuição, ficando, à semelhança do remifentanil, mais restrito ao compartimento central, de onde é eliminado por
Sua latência também é das mais curtas, pois em pH fisiológico tem 90% de suas moléculas na forma não-‐ionizada,
prontas para ligação aos receptores na biofase, o que proporciona pico de ação em cerca de 2 minutos, como pode ser
Dessa forma, combinando curta latência com rápida recuperação, presta-‐se à indução e manutenção de anestesia geral
sob infusão contínua, oferecendo facilidade de titulação do plano anestésico e segurança no pós-‐operatório.89
Diferentemente do remifentanil, pode ser usado em bolus na indução com relativa segurança, desde que se ajuste a
dose
em
função
de
idade
e
estado
geral
do
paciente.
Sua
sinergia
com
propofol
é
da
ordem
de
25%,
e
também
deve
ser
considerada
no
cálculo
da
dose
de
indução.10
Adultos jovens requerem em torno de 50 µg.kg-‐1 na indução anestésica, enquanto em idosos esta dose deve ser redu-‐
zida em 50%. Crianças, por apresentarem maior volume central, podem demandar até 70 µg.kg-‐1. Para manutenção, a
infusão deve ser titulada de acordo com a intensidade do estímulo nociceptivo e a eventual associação de fármacos
A interrupção da infusão deve ser feita antecedendo a conclusão do procedimento em cerca de 10 a 20 minutos, pois
sua meia vida contexto dependente é maior que a do remifentanil, e maior também que a do sufentanil, até cerca de
Apesar de viável e fácil na prática diária, a infusão contínua de alfentanil para manutenção da AVT não apresenta van-‐
tagens sobre a realizada com remifentanil, e é mais onerosa, devido ao custo por ampola, à potência relativa do fárma-‐
co, e à apresentação disponível em nosso meio. Não oferece ganhos em analgesia residual pós-‐operatória, talvez o
ponto fraco do remifentanil, apenas com a vantagem de determinar menor labilidade hemodinâmica na indução. O
controle do plano anestésico, no entanto, é inferior ao que se obtém com o uso do remifentanil, que apresenta facilida-‐
Na concentração de 0,5 mg.mL-‐1, a forma comercializada é adequada ao uso em bolus fracionados, para se corrigir
eventuais alterações do plano anestésico, ou, idealmente, evitar que aconteçam, quando o bolus antecede elevação
transitória da estimulação nociceptiva. Doses de 0,5 a 1 mg são efetivas no controle imediato de eventual superficiali-‐
SUFENTANIL
Sendo duas vezes mais lipossolúvel que o fentanil, era de se esperar que o sufentanil apresentasse volume de distri-‐
buição maior, difundindo-‐se mais pelos compartimentos, depositando-‐se muito no tecido gorduroso, de onde, retor-‐
Mas não é isso o que acontece, pois exibe também a maior taxa de ligação a proteínas plasmáticas dentre os opióides
em uso clínico atualmente, o que limita seu volume de distribuição, e sua deposição em gorduras. Além disso, tem de-‐
puração hepática superior ao do fentanil, o segundo opióide mais lipossolúvel em uso clínico (Tabela 110.5).
E são justamente essas duas características: menor volume de distribuição e maior depuração, que o tornam elegível
para infusão contínua, diferentemente do fentanil, pois fazem com que seu tempo de meia-‐vida contexto dependente se
mantenha
favorável,
à
medida
em
que
o
prolongamento
de
seus
efeitos
com
a
infusão
contínua
é
relativamente
pe-‐
queno,
e
não
inviabiliza
a
administração
por
horas,
para
manutenção
da
anestesia.
Sua
maior
lipossolubilidade
não
atrapalha o uso em infusão prolongada, ou mesmo em bolus fracionados e repetidos ao longo do procedimento.69
Porém, a disponibilidade de suas moléculas na forma não ionizada em pH fisiológico – apenas 20%, contra 90% de
alfentanil e 70% de remifentanil – faz com que sua latência seja maior até que a do fentanil, demandando cerca de 5
Para indução de anestesia geral utiliza-‐se doses de 0,5 a 1 µg.kg-‐1, de acordo com as características do paciente, além de
Novas doses menores podem ser associadas no decorrer da cirurgia, a fim de manter sua concentração plasmática em
níveis efetivos, à medida em que vai sendo metabolizado, sem tanto comprometimento do tempo de recuperação, co-‐
Se a opção é por oferecer concentração plasmática estável, com maior controle do plano anestésico, doses de indução
de 0,3 a 0,5 µg.kg-‐1 devem ser seguidas de infusão de 0,3 a 0,6 µg.kg-‐1.h-‐1, reajustadas sempre conforme as necessidades
da anestesia.65
Para evitar alargamento do tempo de recuperação, pode-‐se proceder a reduções periódicas da taxa de infusão no de-‐
correr do tempo (Tabela 113.3), sobretudo em procedimentos muito prolongados, interrompendo-‐a com antecedência
A maioria dos autores considera as apresentações disponíveis comercialmente muito concentradas para infusão con-‐
Um estudo comparou MCI de sufentanil e remifentanil em cirurgias videolaparoscópicas e concluiu que sabendo ma-‐
nejar corretamente o sufentanil, o tempo de despertar foi semelhante entre os grupos e a incidência de dor pós opera-‐
INFUSÃO
ALVO-‐CONTROLADA
–
TARGET-‐CONTROLLED
INFUSION
(TCI)
DEFINIÇÃO
A
infusão
alvo-‐controlada
é
um
tipo
de
infusão
na
qual
o
usuário
define
a
concentração
do
fármaco
(dose-‐alvo)
em
um determinado compartimento corporal (plasma ou biofase) e o sistema de infusão, através de um modelo farma-‐
cocinético e constante ke0 acoplado a uma bomba de infusão, varia a taxa de vazão para atingir rapidamente e man-‐
tável baseada em modelo farmacocinético bicompartimental.93 Ele mostrou que para atingir uma concentração plas-‐
mática estável era necessária primeiramente uma dose em bolus para “preencher” o volume de distribuição inicial, e
uma infusão para compensar a eliminação do fármaco e sua distribuição aos compartimentos periféricos. Posterior-‐
mente, Vaughan e Tucker94 desenvolveram a primeira aplicação clínica dessa teoria: o sistema CATIA (Compu-‐
O método desenvolvido por esses pioneiros, baseado em modelo bicompartimental, ficou conhecido como método
BET (Bolus, Elimination, Transfer). Nesse método era administrada uma dose inicial em bolus, para preencher o
compartimento central, seguido por duas infusões: uma para compensar a eliminação e outra para manter a redis-‐
tribuição do fármaco. Uma proporção fixa da quantidade total do fármaco no compartimento central é eliminada por
unidade de tempo, portanto, esse declínio da concentração do fármaco pode ser reposto por uma taxa de infusão
constante. Em contrapartida, certa quantidade de fármaco é distribuída do compartimento central aos comparti-‐
mentos periféricos, e esse declínio é exponencial. Então, para repor o declínio ocorrido pela distribuição, é necessá-‐
ria uma infusão com taxa de infusão exponencial. A somatória dessas duas infusões é naturalmente uma infusão com
taxa decrescente.
Posteriormente, foi demonstrado que a maioria dos fármacos venosos se adéqua melhor ao modelo farmacocinético
tricompartimental. Algoritmos apropriados ao modelo tricompartimental têm sido propostos por vários autores,
tendo como alvo a concentração plasmática ou a concentração no local de ação.95-‐98
No início da década de 1990, vários programas para infusão alvo-‐controlada foram desenvolvidos em diversos cen-‐
tros (STANPUMP, STELPUMP, RUGLOOP, ANESTFUSOR) e estão disponíveis pela internet, assim como programas
Somente em 1996, é que o primeiro sistema para infusão alvo-‐controlada (Diprifusor – Astra-‐Zeneca) foi validado
comercialmente.97 Hoje esse sistema existe em muitos países, exceto nos EUA. Esse sistema só funciona com uma
seringa previamente preenchida com propofol a 1% ou 2%, comercializada pelo fabricante.
Até recentemente, o propofol comercializado por outros laboratórios não podia ser utilizado para realização de
infusão alvo-‐controlada. Entretanto, com o desenvolvimento de segunda geração de sistemas com infusão al-‐
vo-‐controlada, os chamados de “Open-‐TCI” (Alaris Asena PK – Alaris Medical System, Base Primea – Fresenius-‐Kabi,
Agilia
–
Fresenius-‐Kabi,
Space
–
BBraun
e
ST7000
-‐
Samtronic),
propofol
de
qualquer
marca
e
até
mesmo
opioides
podem
ser
utilizados
para
realização
de
infusão
alvo-‐controlada.
COMPONENTES
Os
componentes
básicos
de
qualquer
sistema
de
infusão
alvo-‐controlada
são:
uma
interface
com
o
usuário,
um
computador com um ou mais microprocessadores e uma bomba de infusão.
A interface permite ao usuário adicionar os dados do paciente (idade, sexo, peso e altura) e definir a dose alvo dese-‐
jada através de uma tela gráfica ou numérica. Também informa a taxa e o tempo de infusão, a concentração plasmá-‐
O microprocessador controla a interface e a bomba de infusão, aceita e inclusão de dados e instruções dadas pelo
usuário, realiza cálculos matemáticos do modelo farmacocinético e aciona alarmes caso aconteça algum problema
(desconexão da seringa, fim da solução, falta de energia, etc.).
A bomba de seringa incorporada ao sistema é capaz de alcançar taxas de infusão de até 1200 mL.h-‐1 e com uma pre-‐
Quando o anestesiologista aumenta a dose-‐alvo, o sistema administra uma rápida infusão (bolus) para rapidamente
infundida é calculada de acordo com o volume sanguíneo estimado do compartimento central e pela diferença entre
Uma vez que a concentração calculada alcançou a dose-‐alvo desejada, o sistema interrompe a infusão rápida e inicia
uma infusão com taxa mais lenta e gradualmente decrescente, com o objetivo de repor o fármaco que será distribu-‐
ído e eliminado.
Em contrapartida, quando o anestesiologista diminui a dose-‐alvo, o sistema de infusão interrompe a infusão e espe-‐
ra até a concentração calculada atingir a nova dose-‐alvo. A taxa pela qual a concentração calculada declina, depende
da taxa de eliminação do fármaco e do gradiente entre a concentração no compartimento central e nos periféricos.
Quando a concentração calculada pelo sistema alcança a nova dose-‐alvo, a infusão é religada numa taxa mais lenta e
gradualmente decrescente.99
Como se pode observar (Figura 113.3), a concentração desejada do fármaco é alcançada o mais rápido possível,
tanto
para
cima
como
para
baixo.
A
anestesia
é
uma
das
poucas
áreas
dentro
da
Medicina
onde
é
importante
variar
rapidamente
a
concentração
no
plasma
e,
consequentemente
em
seu
local
de
ação,
para
se
obter
o
mais
precoce-‐
A infusão manualmente controlada é aquela onde a taxa de infusão é fixa (mL.h-‐1, µg.kg-‐1.min-‐1, mg.kg-‐1.h-‐1) e o usuá-‐
rio manualmente altera essa taxa de infusão. Quando fármacos são administrados sob taxa de infusão fixa, a concen-‐
tração plasmática aumenta lentamente e só atinge um platô ou estado de equilíbrio (steady-‐state) depois de um
longo tempo. No caso do propofol, mesmo após 12 horas de infusão, a concentração plasmática continua a subir. Isso
acontece porque é necessário até 24 horas para que o fármaco se equilibre em todos os tecidos corporais. Para a
morfina, fentanil e midazolam esse tempo para o estado de equilíbrio é mais longo ainda. Então, mesmo grandes
alterações na taxa de infusão desses fármacos, não se observam alterações da concentração plasmática de maneira
rápida e significativa. Existe um longo intervalo de tempo entre alterar a taxa de infusão, aumentar a concentração
plasmática, consequentemente, alterar a concentração no seu local de ação e obter o efeito clínico desejado. Geral-‐
Quando o anestesiologista deseja aumentar rapidamente a concentração plasmática de um fármaco dentro de uma
infusão manualmente-‐controlada, ele pode administrar um bolus, porém, é difícil julgar o tamanho do bolus apro-‐
priado. Similarmente, se ele deseja diminuir a concentração plasmática de um fármaco rapidamente, ele pode desli-‐
gar a infusão e religar. Mas quanto tempo deixar desligada? E se por algum motivo esquecermos de religar?
Por esses motivos é que a infusão alvo-‐controlada ficou tão popular entre os anestesiologistas. O seu fácil manuseio,
alto grau de previsibilidade do efeito anestésico e menor número de ajustes, a tornou técnica gold-‐standart para
Recente guideline da Association of Anaesthesia e da Society for Intravenous Anaesthesia, recomenda o uso de infusão
alvo-‐controlada quando se utilizar propofol para manutenção de anestesia geral.1
Um estudo comparou o uso do remifentanil em MCI e TCI em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca. Os pacientes
que receberam remifentanil via TCI consumiram menos remifentanil em relação pacientes que receberam remifen-‐
tanil via MCI (3,6 e 5,3 mg, respectivamente). Consequentemente, os pacientes do grupo TCI tiveram menos hipe-‐
ralgesia no pós operatório, apesar do consumo de morfina ser semelhante nas primeiras 44 horas.102
Figura
113.3
–
Infusão
alvo-‐controlada
plasma
de
propofol
(modelo
de
Marsh).
Vermelho:
concentração
plasmática;
verde:
concen-‐
tração
no
local
de
ação;
barras
brancas:
velocidade
de
infusão.
ENTRA
FIGURA
110.3
DA
8ª
EDIÇÃO
DO
TRATADO
MODELOS
FARMACOCINÉTICOS
Modelo
farmacocinético
é
um
modelo
matemático
usado
para
prever
a
concentração
plasmática
de
um
fármaco
após
uma
dose
em
bolus
ou
durante
uma
infusão.
Tipicamente,
esses
modelos
são
desenvolvidos
pela
mensuração
da
concentração plasmática (arterial ou venosa) de um fármaco após uma dose em bolus ou infusão, num determinado
grupo de pacientes ou voluntários. Então, usando uma abordagem estatística padrão e um programa de computador
(NONMEM, por exemplo), estimam-‐se os parâmetros do modelo nessa população.99
Modelos bi ou tricompartimentais têm sido usados para descrever o comportamento de vários agentes venosos com ra-‐
zoável precisão. É comum haver vários modelos descritos para cada fármaco venoso. O modelo farmacocinético descreve
o número de compartimentos e seus respectivos volumes, a taxa de eliminação e a taxas de transferência do fármaco
Por convenção, o compartimento na qual é injetado o fármaco é chamado de compartimento central (V1 ou Vc) ou
volume de distribuição inicial. O segundo compartimento (V2) é chamado de compartimento de redistribuição rá-‐
pida, porque existe uma rápida distribuição do fármaco entre V1 e V2. O terceiro compartimento (V3) é chamado de
compartimento de redistribuição lenta, porque existe uma distribuição lenta entre V1 e V3. A somatória de V1, V2 e
As taxas intercompartimentais são taxas constantes descritas por unidade de tempo (min-‐1 ou h-‐1). Por convenção
usam-‐se os símbolos k10 para descrever a taxa de eliminação, assim como os símbolos k12, k21, k13 e k31 são usados para
descrever as constantes entre V1 e V2, V2 e V1, V1 e V3 e entre V3 e V1, respectivamente (Figura 113.4).
Por outro lado, depuração descreve o volume (de um compartimento) o qual é extraído (eliminado) durante uma
unidade de tempo. Geralmente sua unidade é mL.min-‐1 ou mL.h-‐1. Se o volume do compartimento e as constantes são
É importante relembrar que a concentração plasmática do fármaco mostrada pela interface do sistema de infusão
alvo controlada é somente uma concentração prevista pelo modelo farmacocinético. Em 1992, Varvel, Donoho e
Shafer103 propuseram alguns critérios de avaliação da previsibilidade dos modelos farmacocinéticos. Estes critérios
são:
Divergência: medida da tendência de erro (tamanho e magnitude) durante o tempo
Um sistema de infusão alvo-‐controlada juntamente com seu modelo farmacocinético é considerável aceitável quan-‐
do o MDPE e o MDAPE estão entre 10% a 20% e 20% a 40%, respectivamente. Portanto, quando o erro é positivo
indica que o modelo subestima a concentração do fármaco, e quando o erro é negativo o modelo superestima a con-‐
Numa primeira análise, esses números podem indicar uma discrepância muito grande entre a concentração prevista
e a concentração plasmática real do fármaco. Entretanto, mesmo com analisador de gases, estudos mostram que a
diferença entre a concentração de isoflurano exalado e sua concentração arterial mensurada pode haver um erro de
PROPOFOL
ADULTOS
Os
dois
principais
modelos
farmacocinéticos
são
os
modelos
descritos
por
Marsh
e
col.106
e
Schnider
e
col.107
O modelo farmacocinético mais conhecido entre os anestesiologistas é o modelo de Marsh. Este modelo é uma
adaptação do artigo original publicado por Gepts e col.108 Nele, o volume do compartimento central é uma função
linear do peso do paciente e as constantes intercompartimentais são fixas.
Muitos estudos têm demonstrado que a idade, sexo, altura, modo de administração (bolus ou infusão) e local da
retirada de amostras sanguíneas (veia ou artéria) pode influenciar nos parâmetros do modelo farmacocinético.
Schuttler e Ihmsen109 analisaram dados de vários estudos de farmacocinéticos em adultos e crianças e desenvolve-‐
ram um modelo incorporando todos os fatores aferidos e validaram para pacientes de todas as idades.
Schnider e col.107 desenvolveram um modelo farmacocinético no qual o V1 é fixo, a idade é uma covariável no cálculo
de V2 e da Depuração 2 e o peso, altura e massa magra são covariáveis para cálculo da depuração de eliminação.
A
maioria
dos
estudos
mostra
que
o
modelo
de
Marsh
tende
a
subestimar
a
concentração
plasmática
real
(viés
posi-‐
tivo).
Nesses
estudos
a
MDPE
e
a
MDAPE
variaram
entre
–7%
e
23%
e
entre
18
e
30%,
respectivamente.
A
previsibi-‐
lidade é maior quando se reduz a dose-‐alvo, ou seja, quando não está infundindo propofol.110-‐112
Com objetivo de melhorar o desempenho do modelo de Marsh, White e cols. introduziram, além do peso, o sexo e a
idade como variáveis para cálculo do V1 e da depuração.113 Com isso, o MDPE e a MDAPE foram de 3.2% e 18,3%,
respectivamente. No Brasil, o sistema ST7000 da Samtronic foi inovador em introduzir esse modelo de propofol no
seu sistema.
Em pacientes obesos, a escolha do peso a ser informada ao modelo de Marsh altera o seu desempenho e isso ainda é
assunto controverso. Na prática clínica, se o peso corporal total for informado ao sistema TCI, no modelo de Marsh
os pacientes obesos mórbidos receberam na indução uma sobredose de propofol, podendo resultar em eventos
hemodinâmicos adversos. Essa observação provavelmente resulta no fato que o V1 não está significativamente au-‐
mentado nos pacientes obesos, então a dose-‐alvo de indução (bolus inicial fornecido pelo sistema TCI) deve ser rela-‐
cionado com o peso de massa magra. Entretanto, durante a manutenção quando a dose é calculada pelo peso de
massa magra, a dose-‐alvo deve ser aumentada significativamente durante a infusão, pois a dose-‐alvo de manutenção
está melhor correlacionada com o peso corporal total.114 Esse fato foi demonstrado num estudo no qual os pesqui-‐
sadores utilizaram o peso corporal corrigido (fórmula de Servin) no modelo de Marsh. A previsão desse modelo foi
boa durante os 20 minutos iniciais, entretanto após 40 minutos a previsibilidade do modelo piorou consideravel-‐
mente.115 Nesse mesmo estudo, quando se utiliza o peso real do paciente, a MDPE é de -‐6,21%, entretanto, quando
se utiliza o peso corporal corrigido, a medida do viés é -‐32,6%. Já os valores de MDAPE, wobble e divergência per-‐
manecem semelhantes.115 Entretanto, estudo mais recente, demonstrou que a utilização do peso corporal corrigido
melhora o desempenho do modelo de Marsh, melhorando a previsão da concentração plasmática.116 Modelos far-‐
macocinéticos mais específicos e exclusivos para essa população foram desenvolvidos.116-‐118. Entretanto, esses mo-‐
delos não estão disponíveis para o uso em nenhum sistema de infusão alvo-‐controlada comercial no Brasil.
Em pacientes idosos (56 e 80 anos) a MDPE e a MDAPE do modelo de Marsh foram similares aos pacientes mais jo-‐
vens, entretanto, nos pacientes mais idosos a variação dentro do grupo foi maior, chegando ser 84% em um pacien-‐
te.111 Talvez por usar a idade e a massa magra como covariáveis, o modelo de Schnider e col. seja mais apropriado para
essa população. Entretanto, nenhum estudo formal sobre o desempenho da previsibilidade do modelo de Schnider e
Mais recentemente, um novo modelo farmacocinético-‐farmacodinâmico de propofol foi desenvolvido utilizando mais
de
30
estudos
prévios
que
tinha
o
índice
bispectral
como
desfecho.
Esse
estudo
abrangeu
um
população
bastante
he-‐
terogênia,
sendo
recomendado
para
pacientes
com
qualquer
faixa
de
idade
e
peso,
tanto
para
anestesia
geral
ou
seda-‐
ção.119 Esse modelo utilizou em seu algoritmo as seguintes variáveis: idade, idade pós-‐menstrual, peso, altura, sexo e a
presença ou não de fármacos anestésicos concomitantes (por exemplo, remifentanil). De maneira geral, o desempenho
farmacocinético na previsão da concentração plasmática do propofol foi superior em relação a outros modelos já exis-‐
tentes. Infelizmente, esse modelo não está disponível em nenhum sistema de infusão comercial.
CRIANÇAS
No
início
dos
anos
1990,
a
precisão
do
modelo
de
Marsh
foi
estudada
em
20
crianças
e
foi
demonstrado
que
a
con-‐
centração predita era maior que a concentração plasmática real (MDPE -‐20%)106 Outros autores encontraram re-‐
sultados semelhantes, mostrando que a farmacocinética do propofol entre crianças e adultos é diferente.120, 121
O modelo de Marsh foi revisado e estabelecido um modelo específico para criança (o tamanho do compartimento cen-‐
tral foi aumentado, permanecendo uma função linear em relação ao peso corporal). Com isso, a precisão do modelo
melhorou e o viés diminuiu (MDAPE 21,5% e MDPE -‐0,1%). Desde então, modelos farmacocinéticos específicos para
essa população foram desenvolvidos. Os dois modelos mais conhecidos são o modelo de Kataria e col.122 e o modelo
O modelo de Kataria e col. é baseado num modelo tricompartimental para crianças entre 3 e 11 anos. Neste modelo,
as constantes são fixas e o volume dos compartimentos tem uma correlação linear com o peso. Não há nenhum es-‐
O modelo Paedfusor é uma adaptação do modelo preliminar desenvolvido por Schuttler e col.109, incorporado a um
sistema de infusão alvo-‐controlada desenvolvido e utilizado em Glasgow. Neste modelo o volume do compartimento
central e a depuração possuem uma correlação não-‐linear com o peso. Nesse modelo os valores de viés (MDPE) e
REMIFENTANIL
O
modelo
farmacocinético
para
o
remifentanil
é
o
modelo
de
Minto
e
cols.124,
125
Esse
modelo
foi
desenvolvido
atra-‐
vés de estudos farmacocinéticos realizados numa população heterogênea, com uma grande variação de idade e peso.
Além do peso, esse modelo utiliza em seu algoritmo outras variáveis, como: idade, altura, sexo e massa magra. Esse
modelo caracteriza-‐se por apresentar pequenos compartimentos e constantes (eliminação e redistribuição) eleva-‐
das.
Muito
se
questiona
sobre
a
real
utilidade
da
infusão
alvo-‐controlada
de
remifentanil.
Por
ter
uma
farmacocinética
bastante
linear
e
pela
rápida
constante
de
equilíbrio
plasma-‐local
de
ação,
a
infusão
alvo-‐controlada
de
remifentanil
não seria tão vantajosa. Entretanto, principalmente nos extremos de idade e peso, a vantagem é nítida, uma vez que
a infusão alvo-‐controlada de remifentanil incorpora em seu algoritmo a idade e a massa magra do paciente. Vale a
pena lembrar que, para o remifentanil, a idade é fator até mais importante que o peso para correção da dose a ser
empregada.
Estudos realizados com o objetivo de avaliar o desempenho do modelo de Minto obtiveram um viés (MDPE) entre –
SUFENTANIL
Para
o
sufentanil,
os
modelos
farmacocinéticos
mais
conhecidos
são
os
modelos
de
Gepts
e
col.127
e
Bovill
e
col.128
A
característica principal desses dois modelos é apresentar grandes volumes compartimentais (particularmente V3) e
alto clearance de eliminação. Pelo grande volume de V3, a meia-‐vida de eliminação do sufentanil é alta.
No modelo de Bovill, V1 é uma função linear em relação ao peso e as constantes são fixas, entretanto, no modelo
descrito por Gepts tanto os volumes compartimentais quanto as constantes são fixas. A idade parece não influenciar
Estudos realizados para avaliar o desempenho do modelo farmacocinético de Gepts obtiveram MDPE entre -‐22,3% e
-‐2,3%, e MDAPE entre 20,7% e 29%.129 Em pacientes obesos, a MDPE e a MDAPE foram de -‐12,8% e 19,8%, respec-‐
tivamente.130
ALFENTANIL
O
modelo
farmacocinético
para
o
alfentanil
mais
conhecido
é
o
modelo
de
Maitre
e
col.131
Esse
modelo
foi
desenvol-‐
vido utilizando dados de quatro estudos prévios de farmacocinética no programa NONMEM (modelo não-‐linear
efeito-‐misto).
Nesse modelo, as variáveis peso, idade e sexo são utilizadas para cálculo dos volumes compartimentais e das cons-‐
tantes de eliminação e distribuição. A principal característica desse modelo é apresentar volumes compartimentais
O desempenho de previsibilidade no modelo de Maitre em adultos submetidos à cirurgia abdominal e cirurgias su-‐
perficiais foi de MDPE –7,9% e MDAPE 22,3%132. Entretanto, em idosos a imprecisão (MDAPE) foi maior que 40%,
O maior problema em escolher uma determinada dose-‐alvo no plasma é que existe certo atraso para haver o equilí-‐
brio entre a concentração plasmática e a concentração no local de ação (Figura 110.3). Além disso, observou que a
perda e recuperação da consciência (efeito clínico) correlacionavam-‐se melhor com a concentração do fármaco em
seu local de ação (Ce) do que com sua concentração no plasma (Cp), mostrando que o equilíbrio entre Ce e Cp não é
instantâneo.134, 135
Não tão somente a perda e recuperação da consciência se correlaciona melhor com a Ce, mas todo o grau de sedação
Baseado nesses estudos, é muito mais racional conduzir uma infusão alvo-‐controlada com a dose-‐alvo baseado no
local de ação (TCI Efeito), uma vez que a farmacodinâmica encontra-‐se no efeito e não no plasma, tornando o con-‐
A constante de equilíbrio entre plasma e local de ação depende de vários fatores, dentre eles: débito cardíaco, fluxo
sanguíneo cerebral, lipossolubilidade, grau de ionização etc. Esse tempo de equilíbrio pode ser descrito matemati-‐
camente pela constante conhecida como ke0. Rigorosamente falando, a ke0 deveria ser utilizada para descrever a taxa
de remoção e eliminação do fármaco do local de ação, entretanto, o volume deste compartimento é virtual, não ha-‐
vendo, portanto necessidade de separar constantes de entrada e saída do local de ação.
Obviamente, a concentração no local de ação (Ce) não pode ser diretamente mensurada, porém, o período de tempo
referente às alterações da concentração no local de ação pode ser estimado por parâmetros clínicos (farmacodinâ-‐
mica). Quando a concentração plasmática é conhecida, parâmetros farmacodinâmicos podem ser utilizados para
Quando não se conhece os dados farmacocinéticos e farmacodinâmicos do grupo em estudo, o tempo para o pico do
efeito (time to peak effect – TTPE) é utilizado para estimar a ke0 (Mertens e col.).126 Após uma dose em bolus, a con-‐
centração máxima no local de ação ocorre quando as curvas de concentração plasmática (Cp) e concentração no
local de ação (Ce) se cruzam. O intervalo de tempo entre a injeção da dose bolus e o cruzamento das curvas de Cp e
Ce é o chamado tempo para o pico do efeito (TTPE). Geralmente utiliza-‐se uma ferramenta, como o índice bispectral,
Com a infusão alvo-‐controlada no plasma (TCI plasma), o usuário define a dose-‐alvo no plasma e a concentração no
local de ação acompanhada passivamente, sempre com certo atraso determinado pelo ke0 do fármaco (Figura 110.3).
Já
na
infusão
alvo-‐controlada
no
efeito
(TCI
efeito),
o
usuário
define
sua
dose-‐alvo
no
local
de
ação
e
o
sistema
ma-‐
nipula
a
concentração
plasmática
com
o
objetivo
de
alcançar
a
dose-‐alvo
no
local
de
ação
o
mais
rápido
possível.
Quando se aumenta a dose-‐alvo no local de ação, o sistema calcula uma concentração plasmática ótima, a qual cau-‐
sará um gradiente suficiente para subir rapidamente a concentração no local de ação sem ultrapassar a dose-‐alvo
efeito selecionada. Após o cálculo, o sistema administra a dose que corresponderá a essa concentração plasmática
necessária. Então, o sistema para a infusão e aguarda que a dose-‐alvo no local de ação alcance o valor definido pelo
usuário. O sistema religará a infusão para manter a concentração plasmática e o local de ação, constantes (Figura
113.6).99
Diferentemente do TCI plasma, onde a ke0 não participa no cálculo do bolus e da taxa de infusão, na modalidade TCI
Efeito, a ke0 é de fundamental importância porque é ela que irá determinar o overshoot e o undershoot na concentra-‐
ção plasmática para que a dose-‐alvo no local de ação seja alcançada rapidamente.
Se dois diferentes sistemas de infusão utilizam o mesmo modelo farmacocinético, porém com valores de ke0 dife-‐
rentes, doses diferentes serão administradas atingindo picos e concentrações plasmáticas distintas.
Um ke0 “lento” (constante baixa) causará um alto pico de concentração plasmática quando a dose-‐alvo no local de
ação for aumentada e houver uma profunda queda na concentração plasmática quando a dose-‐alvo no local de ação
Os sistemas de infusão alvo-‐controlada de propofol que utilizam o modelo de Marsh podem apresentar valores de
ke0 diferentes. Originalmente, o valor da ke0 incorporado no Diprifusor para estimar a concentração de propofol no
local de ação é 0,26min-‐1, equivale a uma T½ke0 de 2,6 minutos e um tempo para o efeito máximo (TTPE) de
4,57min.133 Entretanto, outros sistemas de infusão (Agilia, por exemplo) utilizam o mesmo modelo de Marsh, mas
com uma ke0 de 1,21 min-‐1 (T½ke0 = 34 seg), baseado num tempo para o efeito máximo (TTPE) de 1,6 minuto (Figura
110.7).137
ver
alto
gradiente
e
atingir
rapidamente
a
dose
alvo
no
local
de
ação,
é
bem
inferior
em
relação
à
ke0
“lenta”
(0,26
min-‐1).
Num paciente de 70kg, com a ke0 “lenta”, a concentração plasmática de propofol atingida quando se deseja uma do-‐
se-‐alvo no local de ação de 4,0 µg.mL-‐1 é de quase 10 µg.mL-‐1, enquanto que com a ke0 “rápida” a concentração plas-‐
Figura
113.7
–
TCI
efeito
de
propofol
(modelo
de
Marsh
com
ke0
1,21
min-‐1)
–
(A);
TCI
efeito
de
propofol
(modelo
de
Marsh
com
ke0
0,26
min-‐1)
–
(B).
ENTRA
FIGURA
110.7
DA
8ª
EDIÇÃO
DO
TRATADO
Por esse motivo, é que o primeiro modelo do Diprifusor não disponibiliza ao usuário a opção TCI efeito, uma vez que
em pacientes com pouca reserva cardiovascular, dependendo da dose-‐alvo, poderia gerar concentração plasmática
Recentemente, um novo valor de ke0 (0,61 min-‐1) foi incorporado ao modelo farmacocinético de Marsh para o pro-‐
pofol para o uso em TCI Efeito.138 Esse novo valor de ke0 no modelo de Marsh foi comparado em TCI efeito
(M0.6Ce) com outros modelos/ke0s amplamente utilizados: modelo de Marsh – TCI plasma ke0 0,26 min-‐1(M0.26Cp),
modelo de Marsh – TCI efeito ke0 1,21 min-‐1 (M1.21Ce), modelo de Schnider – TCI efeito ke0 0,46min-‐1(S0.46Ce).139 As
variáveis estudadas nesse estudo foram tempo de indução, alterações hemodinâmicas e ventilatórias. Para um alvo
inicial de 4,0 µg.ml-‐1, o tempo de indução no M0.6Ce, M0.26Cp, M1.21Ce e S0.46Ce foram 81, 78, 132 e 298 segundos,
respectivamente. Após 2 min, 89% dos pacientes que utilizaram M0.6Ce perderam a consciência. As alterações he-‐
No Brasil, vale a pena atentar que o novo sistema TCI New Diprifusor incorpora o novo valor de ke0 (0,61min-‐1) ao
modelo farmacocinético de Marsh, porém o sistema não permite a modalidade TCI efeito, permanecendo ainda so-‐
Preferencialmente, o modelo de Schnider é utilizado para se realizar TCI efeito. Como descrito anteriormente, o
modelo de Schnider é muito mais complexo que o modelo de Marsh, pois nele outras covariáveis (idade, sexo, altura
e peso de massa magra) são utilizadas em seu algoritmo. Durante o estudo Schnider estabeleceu um ke0 mais rápido
resultando num TTPE de 1,6 minuto. Com isso, nessa modalidade o modelo de Schnider promove menor overshoot e
undershoot
da
concentração
plasmática.
Por
esta
razão
e
pelos
parâmetros
farmacocinéticos
utilizados
por
Schnider,
mesmo
em
TCI
efeito
resultam
em
doses
menores
de
propofol
quando
comparado
ao
modelo
de
Marsh
na
modali-‐
dade plasma.
O modelo de Cortinez para o propofol foi desenvolvido para utilização em TCI Efeito exclusivamente para pacientes
obesos (IMC > 35 kg.m2-‐1), havendo risco de sub-‐dosagem se utilizado em pacientes não obesos. O peso corporal
total foi o melhor parâmetro de escala para cálculo dos volumes compartimentais e clearences. Nenhum efeito da
idade ou sexo foi observado. Semelhante ao modelo de Marsh, é um modelo proporcional ao peso, mas foi derivado
exclusivamente de pacientes obesos. Os erros preditivos farmacocinéticos desse modelo estão dentro dos limites
aceitáveis para uso clínico (MDPE 11,5% e MDAPE 26,8%). Já na parte farmacodinâmica os erros preditivos foram
Num TCI plasma de sufentanil (ke0 0,12 min-‐1), o tempo de equilíbrio entre a concentração no local de ação e a con-‐
centração plasmática é de até 40 minutos. Entretanto, na modalidade TCI efeito esse equilíbrio se daria em 6 minu-‐
tos.
Considerando um paciente do sexo masculino, 40 anos, 70 kg, 170 cm de altura, mesmo com o remifentanil e alfen-‐
tanil que possuem alta ke0 (0,58 e 0,77 min-‐1, respectivamente), na modalidade TCI plasma o equilíbrio entre a con-‐
centração no local de ação e a plasmática se daria em aproximadamente 10 minutos, enquanto que num TCI efeito
É importante observar que com essa modalidade grandes concentrações plasmáticas podem ser atingidas se a do-‐
se-‐alvo efeito desejada for elevada, consequentemente os efeitos adversos (bradicardia, hipotensão, rigidez toráci-‐
ca) serão frequentes, principalmente para o remifentanil. Para diminuir ou até mesmo evitar esses efeitos adversos,
é recomendado selecionar uma dose-‐alvo efeito mais baixa e ir aumentando gradualmente até atingir a dose-‐alvo e
ASPECTOS
PRÁTICOS
PROPOFOL
Sedação
Para sedação em adultos, estudos mostram que a concentração plasmática de propofol deve permanecer entre 0,8 e
A maioria dos pacientes sem medicação pré-‐anestésica perde a consciência após a concentração plasmática prevista
atingir 5 a 6µg.mL-‐1 141. Entretanto, naqueles pacientes que receberam medicação pré-‐anestésica ou algum opióide
antes do propofol, a concentração plasmática média para perda da consciência é de 4 µg.mL-‐1. 142
Logo após a venopunção, utilizar uma dose alvo plasmática de 1,0 a 1,5 µg.mL-‐1 pode ser útil com ansiolítico para o
período entre a venopunção e o preparo do paciente (monitorização, posicionamento, etc.), reduzindo a concentra-‐
Quando se realiza uma indução em TCI plasma, deve-‐se escolher uma dose-‐alvo inicial superior à provável concen-‐
tração no local de ação que ocorrerá a perda da consciência. Nesse caso, é o usuário que fazendo o overshoot. Com
isso, a concentração no local de ação subirá mais rapidamente e o paciente será induzido mais rápido.
Após a perda da consciência e intubação traqueal deve-‐se baixar a dose alvo plasmática para valores próximos ao
valor da concentração no local de ação previsto na tela do sistema de infusão. Caso o paciente permaneça hemodi-‐
namicamente estável e sem sinais de superficialização após a intubação, essa concentração no local de ação servirá
Outra forma de induzir com TCI plasma modelo de Marsh é aumentar gradativamente a dose-‐alvo plasmática de
propofol, observar a concentração no local de ação na perda da consciência, completar a indução com opioide e
bloqueador neuromuscular, realizar a intubação traqueal e reduzir a dose-‐alvo plasmática de propofol para valores
próximos à concentração no local de ação na perda da consciência. Lembrando que essa dose alvo necessita de ajus-‐
tes para corrigir o erro inerente ao modelo farmacocinético (20% a 40%), caso o estímulo nociceptivo não esteja
adequadamente bloqueado.134
Dessa maneira, cada paciente terá uma dose alvo plasmática de propofol específica, tornando uma anestesia perso-‐
baseado em médias populacionais (C50 e C95) existe a possibilidade real de encontrar algum paciente que se com-‐
no seu local de ação é mais adequada com o modelo de Marsh, pois a concentração no local de ação (Ce) prevista por
A concentração plasmática necessária para abolir a movimentação em resposta à incisão cirúrgica em 50% dos pa-‐
cientes (Cp50) é em torno de 6,0 a 7,0 µg.mL–1 e de 4,0 a 5,0 µg.mL-‐1 em pacientes recebendo 67% de óxido nitro-‐
so.143
Quando a indução é feita com TCI efeito, não há necessidade de extrapolar a dose-‐alvo, pois essa é aplicada direta-‐
mente no local de ação. O sistema de infusão calculará a concentração plasmática ótima para que a dose alvo no local
Independente do modelo farmacológico, a melhor maneira de induzir e manter uma anestesia em TCI efeito é titular
a dose-‐alvo no efeito (Ce) de acordo com a resposta farmacodinâmica (efeito) que deseja.
Concentração no local de ação (Ce) em torno de 0,5 µg.mL-‐1 tem propriedades ansiolíticas e permite estimar a sensibili-‐
É de extrema importância conhecer a diferença entre os modelos de Marsh, “Fast” Marsh (Agilia – Fresenius-‐Kabi) e
Nos sistemas que incorporaram o modelo de Marsh com a ke0 de 0,26 min-‐1, só existe a opção de realizar TCI plasma, uma
vez que o volume central (paciente de 70 kg) é de 15,9 litros. Por essas características, caso fosse realizado nesse paciente
um TCI efeito com uma dose-‐alvo no local de ação de apenas 2,0 µg.mL-‐1, o valor da concentração plasmática atingida em
poucos segundos seria de 5,0 µg.mL-‐1 (8,6 mL de propofol infundido). Num paciente sadio isso não teria muito problema,
Para permitir o modalidade TCI Efeito com o modelo de Marsh foi proposta uma nova ke0 com valor de 1,21 min-‐1,
baseado no tempo para o pico do efeito (TTPE). Com isso criou-‐se o “Fast” Marsh, pois o equilíbrio entre a concen-‐
tração no local de ação e a plasmática acontece mais rapidamente. Para uma dose alvo no local de ação (Ce) de 2,0
µg.mL-‐1, naquele paciente de 70 kg, a concentração plasmática atingida é de 2,8 µg.mL com apenas 4,9 mL de pro-‐
pofol infundido.
Entretanto, vale a pena observar que com essa modificação no valor da ke0, a concentração no local de ação (Ce) na
mento central e no valor da ke0. No modelo de Schnider, num paciente de 70 kg, os valores do volume central e a da
ke0 é de 4,27 litros e 0,45min-‐1, respectivamente. Com isso, com uma dose alvo no local de ação (Ce) de 2,0 µg.mL-‐1, a
concentração plasmática prevista atingida pelo modelo de Schnider é de 7,2 µg.mL, porém com somente 3,4 ml de
propofol infundido.
Usando o modelo de Schnider, a Ce50 para perda da consciência foi de 2,9 µg.mL-‐1 quando somente propofol foi utili-‐
zado, 1,8 µg.mL-‐1 quando associado a 2,0 ƞg.mL-‐1 de remifentanil e 1,7 µg.mL-‐1 na presença de 4,0 ƞg.mL-‐1 de remi-‐
fentanil. Entretanto, a Ce50 para abolir a resposta motora ao estímulo nociceptivo é de 4,1 µg.mL-‐1 quando somente
propofol é usado, 1,8 µg.mL-‐1 na presença de 2,0 ƞg.mL-‐1 de remifentanil e 1,7 µg.mL-‐1 quando administrado 4,0
Com dose-‐alvo plasmática (Cp) Marsh e dose-‐alvo no local de ação (Ce) Schnider de 4,0 µg.mL-‐1, o total de propofol
infundido após 1 e 30 minutos é de 7,7 e 6,8 mL, 46,9 e 40,8 mL, respectivamente. Isso mostra com TCI plasma
Marsh e TCI efeito Schnider que a quantidade de propofol infundida é bastante semelhante. Consequentemente, caso
o usuário deseje utilizar TCI plasma, deve optar pelo modelo de Marsh, e caso deseje utilizar Schnider, a modalidade
Um estudo comparou o efeito farmacodinâmico (hipnose) e o modelo farmacocinético de Marsh com o fármaco re-‐
ferência de propofol (Diprivan® -‐ Astrazeneca Ltda) e sua formulação genérica (Propovan® -‐ Cristália Laborató-‐
rios) ambos amplamente utilizados no Brasil, e posteriormente analisou as propriedades físico-‐químicas das duas
apresentações, como a concentração do princípio ativo e ao tamanho médio da gotícula da emulsão lipídica.136 As
duas formulações de propofol estudadas apresentaram efeito hipnótico semelhante, entretanto o tempo de recupe-‐
ração foi mais prolongado com o fármaco referência (Figura 113.8). Também ficou evidenciado forte correlação
entre a concentração de propofol no local de ação prevista pelo modelo farmacocinético de Marsh e o índice bispec-‐
tral com ambas formulações (Figura 113.9). A análise qualitativa demonstrou que as duas formulações apresenta-‐
ram quantidade semelhante do princípio ativo propofol. As emulsões lipídicas das formulações estudadas se mos-‐
traram estáveis e com tamanho médio das gotículas semelhantes e dentro da faixa de segurança (Tabela 113.9 e
Figura
110.8
–
Valores
médios
do
índice
bispectral
(BIS)
Figura 110.9 – Relação entre Cp, Ce e valores do índice bispectral (BIS) com Diprivan® e Propovan®.
Cp = concentração plasmática de propofol prevista; Ce = concentração no local de ação de propofol prevista
Figura 110.10 – Fotomicrografia do Diprivan®: microscopia óptica com aumento de 1.000x.
Figura 110.11 – Fotomicrografia do Propovan®: microscopia óptica com aumento de 1.000x.
Indução Rápida e Lenta de Propofol com TCI Plasma Modelo de Marsh (ke0 0,26 min-‐1)
Recente estudo147 comparou indução com infusão alvo-‐controlada de propofol. No grupo indução lenta (L), os paci-‐
entes foram induzidos com propofol em infusão alvo controlada (IAC) plasmática, modelo farmacocinético de Marsh
(ke0 0,26 min-‐1), com concentração alvo (Ca) em 2,0 µg.ml-‐1. Quando a concentração de propofol prevista no local de
ação (Ce) atingia metade do valor da Ca, aumentava-‐se a Ca para Ca anterior + 1,0 µg.ml-‐1. Assim sucessivamente até
o momento da perda da consciência do paciente (perda da resposta verbal e do reflexo palpebral). No grupo indução
rápida (R), os pacientes foram induzidos com propofol em IAC plasmática com Ca em 6,0 µg.ml-‐1 e aguardava-‐se a
perda da consciência do paciente. Esse estudo concluiu que em casos de uma indução rápida com modelo de Marsh
ke0 0,26min-‐1, a Ce na perda e recuperação da consciência são semelhantes (1,63 e 1,60 µg.mL-‐1, respectivamente).
Porém, a Ce durante o intraoperatório deve ser em torno de 50% maior. Já nos casos de indução lenta, a dose alvo de
manutenção (intraoperatório) pode ser a semelhante a Ce durante a perda da consciência (Figura 113.12).
REMIFENTANIL
Doses
sedativas
são
alcançadas
com
concentração
de
até
2,0
hg.mL-‐1,
pois
a
maioria
dos
pacientes
permanece
em
Figura
113.12
–
Concentração
de
propofol
prevista
no
local
de
ação
(mcg.ml-‐1).
L
=
Grupo
Indução
Lenta;
R
=
Grupo
Indução
Rápida;
PDC = perda da consciência; IO = intraoperatório; RDC = recuperação da consciência. *vs • p = 0,004; * vs • p<0,001; • vs p = 0,002.
Para adequada analgesia durante a laringoscopia e intubação traqueal, a dose alvo de remifentanil no local de ação
(TCI efeito) deve permanecer entre 4 a 6 hg.mL-‐1. Caso a opção seja a inserção de máscara laríngea, uma dose alvo
Para promover analgesia adequada em cirurgias de médio e grande porte, a concentração no local de ação (Ce) deve
permanecer ao redor de 6 a 8 hg.mL-‐1, porém concentrações de até 15 hg.mL-‐1 podem ser utilizadas com segurança.
SUFENTANIL
Em
se
tratando
de
um
fármaco
com
longo
tempo
para
o
seu
efeito
máximo
(ke0
lenta),
o
sufentanil
na
modalidade
TCI efeito é o mais recomendado, pois o equilíbrio entre plasma e o local de ação ocorre mais rápido, consequente-‐
Em concentrações abaixo de 0,4 ƞg.mL-‐1no local de ação, o paciente é capaz de respirar espontaneamente.
Para cirurgias de médio porte, concentrações entre 0,5 e 0,8 ƞg.mL-‐1 no local de ação promovem analgesia adequada.
Entretanto, dose alvo de até 3,0 ƞg.mL-‐1 pode ser necessária para procedimentos de grande porte.
ALFENTANIL
Os
valores
de
Cp50
para
o
alfentanil
em
combinação
com
o
propofol
(3,0
µg.mL-‐1)
é
de
92
ƞg.mL-‐1
para
intubação
traqueal, 55 ƞg.mL-‐1 para incisão na pele, 84 ƞg.mL-‐1para incisão peritoneal e 66 ƞg.mL para o tempo in-‐
tra-‐abdominal. Entretanto, em combinação com óxido nitroso (66%) esses valores são de 429, 101 e 206 ƞg.mL-‐1,
respectivamente.148
INTERAÇÃO
PROPOFOL
E
OPIÓIDES
Durante
o
desenvolvimento
dos
fármacos
anestésicos,
os
parâmetros
farmacocinéticos
e
farmacodinâmicos,
são
caracterizados isoladamente. No entanto, na prática anestésica ocorre a interação de pelo menos dois fármacos,
geralmente um opióide e um hipnótico (remifentanil e propofol, por exemplo) sendo muito importante compreen-‐
der a farmacodinâmica da interação desses fármacos quando são utilizados clinicamente.
Shoushtarian e col.149, realizaram comparações eletroencefalográficas de medidas de hipnose e antinocicepção em
resposta a estímulos padronizados durante anestesia alvo-‐controlada com propofol e diferentes doses de remifen-‐
tanil.
Os
autores
concluíram
que
o
estado
cortical
composto-‐CCS
e
o
índice
bispectral-‐BIS
mostraram
fortes
correla-‐
ções
com
o
sinergismo
entre
os
fármacos,
sugerindo
que
eles
se
comportam
adequadamente
como
indicadores
de
hipnose. Isto pode ter implicações importantes para o desenvolvimento de abordagens precisas para otimizar uma
anestesia equilibrada.
Um bom método para a visualização do comportamento da interação farmacodinâmica de fármacos é por meio de
modelos de superfície de resposta.150 Ao contrário dos tradicionais isobalogramas que representam as concentra-‐
ções dos dois agentes que se combinam para produzir um único grau de efeito do fármaco, como a concentração de
50% do efeito máximo do fármaco ou ED50, os modelos de superfície de resposta são capazes de caracterizar o es-‐
pectro completo de interação entre dois ou mais agentes para todos os níveis possíveis de concentração e efeito.
(Figura 113.13)
Para essa análise da interação, Minto e col 150, descreveram um modelo de superfície de resposta. Este modelo for-‐
nece uma análise quantitativa e representação gráfica da interação entre dois ou três fármacos, mais completa que a
1) a combinação das dois fármacos é considerada a atuar como um único fármaco e com uma determinada relação
2) as propriedades desta interação são dependentes da razão das concentrações dos dois fármacos.151
As concentrações de cada fármaco são normalizados para o correspondente ED50, que é a concentração que produz
50% do efeito máximo e que está relacionada com a sua potência (Figura 110.14).
As três linhas radiais na superfície mostram a relação sigmoide entre a concentração e resposta para três razões de
fármacos
A
e
B.
O
efeito
do
fármaco
por
qualquer
combinação
de
drogas
A
e
B
é
descrito
pela
superfície
de
resposta.
As
características
morfológicas
da
superfície
podem
também
identificar
se
a
interação
é
aditiva,
sinérgica
ou
anta-‐
gônica, sendo que o grau desta interação pode ser expresso quantitativamente. Além disso, a superfície de resposta
também pode ser integrada com informações farmacocinéticas do fármaco, identificando parâmetros para otimiza-‐
ção da concentração no local de ação dos dois fármacos para o resultado desejado (Figura 113.15).
Figura 113.15 – Superfície de resposta com interação entre um fármaco agonista e outro aditiva agonista (A), supra-‐agonista (B), in-‐
fra-‐agonista (C), parcial agonista (D), antagonista competitivo (E) e agonista inverso (F). As isoboles de 10% e 90% são representadas
nas figuras.
Vuyk e col. combinaram conhecimento da superfície de resposta da interação entre o propofol e alfentanil com mo-‐
delos farmacocinéticos, identificaram concentrações de efeito ou na biofase das duas drogas que resultaram em
anestesia adequada com o mais rápido despertar e grau de hipnose e analgesia adequados.10
Para identificar as concentrações de efeito que otimizariam algum desfecho de interesse, como o tempo de recu-‐
peração, custo dos fármacos utilizados e estado analgésico no final da anestesia, é fundamental que a superfície de
Bouillon e col.152 publicaram um estudo sobre a interação farmacodinâmica entre o propofol e remifentanil. Eles
demonstraram a superfície de resposta descrevendo o sinergismo entre propofol e remifentanil com a probabilida-‐
de de hipnose (Figura 113.16) e resposta a laringoscopia (Figura 113.7). As linhas grossas refletem as isoboles 50%.
No mesmo estudo, os autores demonstraram a correlação entre a interação dos fármacos e o índice bispectral, onde
os pontos pretos representam os indivíduos acima da superfície de resposta e os pontos brancos, os indivíduos
Kern e col.153 também analisaram o sinergismo entre opioides/hipnóticos e os resultados deste estudo indicam
que os fármacos, representados por propofol e remifentanil, exibem diferentes graus de sinergismo que podem ser
quantificados. Além do mais, as superfícies produzidas pelas combinações, são muito úteis para diminuir a resposta
A partir destes conceitos, pesquisas estão sendo realizadas para desenvolver modelos farmacológicos de anestésicos
que
permitam
a
administração
de
fármacos
com
visualização
em
tempo
real
da
sua
farmacocinética
e
farmacodi-‐
nâmica
mostrando
as
concentrações
previstas
na
biofase
e
os
efeitos
previstos
dos
fármacos,
incluindo
sedação,
analgesia e bloqueio neuromuscular.153, 154 Estes sistemas interativos representam um avanço em comparação com
sistemas de TCI passivos, ou seja, TCI em que incluem não apenas previsões farmacocinéticas sobre as concentra-‐
ções dos fármacos, mas também previsões de farmacodinâmicas em relação à probabilidade de certos efeitos anes-‐
tésicos.
Figura 113.17 – Sinergismo entre propofol e remifentanil e probabilidade de resposta à laringoscopia.
Figura 113.18 – Sinergismo entre propofol e remifentanil e probabilidade e relação com o BIS.
Portanto, os modelos de superfícies de resposta constituem a base fundamental desses sistemas de visualização com
imagens bidimensionais, tridimensionais, ou topográficas, exibindo as informações num formato facilmente com-‐
preensível em tempo real, entendendo que os anestesiologistas não podem resolver equações poliexponenciais
complexas para manutenção de um plano ideal.155, 156 Em vez de simplesmente pensar sobre hipnóticos e opioides
Recentemente introduzido na prática clínica, Navigator® (GE Healthcare) e SmartPilot® Vista (Dräger Medical),
mostram as concentrações e os efeitos previstos dos fármacos anestésicos combinados, facilitando e otimizando sua
titulação.
Estudo publicado por Cirillo e col. concluiu que tanto Navigator® quanto SmartPilot® Vista podem ser de uso clíni-‐
co
para
monitorizar
e
estabelecer
parâmetros
ideais
de
anestesia,
com
diminuição
do
consumo
dos
fármacos
e
oti-‐
mização
das
três
fases
bem
definidas
do
procedimento
anestésico
:
indução,
manutenção
e
despertar.157
A
Figura
110.20 mostra um exemplo de vista topográfica de uma superfície de resposta com interação farmacodinâmica de
propofol e remifentanil. A Figura 110.21 simula graficamente uma superfície de resposta tridimensional (A) e uma
Figura
110.20
—
Exemplo
de
vista
topográfica
de
uma
superfície
de
resposta
com
interação
farmacodinâmica
de
propofol
e
remifentanil,
com
os
tempos
de
recuperação
associados
com
diferentes
combinações
de
propofol
e
o
remifentanil.
Os
isoboles
representam
as
combinações
de
dois
fármacos
que
produzem
uma
probabilidade
de
%
de
ausência
de
resposta
à
laringoscopia
(linha
contínua),
e
uma
probabilidade
de
50%
de
resposta
a
falar
ou
movimentar
(linha
pontilhada).
As
linhas
numeradas
(1,
2
e
3)
entre
as
isoboles
mostram
o
tempo
necessário
para
passar
de
anestesiado
a
acordado,
após
infusões
de
10
horas.107,
124,
158,
159
Figura
110.21
—
Esta
simulação
apresenta
graficamente
uma
superfície
de
resposta
tridimensional
(A)
e
uma
vista
topográfica
bidimensional
da
superfície
de
resposta
(B).
As
três
fases
do
anestésico
são
mostradas
como
linhas
coloridas.
As
isoboles
representam
as
combinações
de
duas
que
produzem
50%
de
probabilidade
de
ausência
de
resposta
à
laringoscopia
direta
(linha
contínua)
e
50%
de
ausência
de
resposta
de
falar
e
movimentar
(linha
pontilhada).
LOR:
perda
da
capacidade
de
resposta;
Ce:
concentração
no
sítio
efetor.
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Cortínez
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Muñoz
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Holford
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Influence
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Cottin
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