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1. RESUMO
Objetivou-se relatar um caso de paciente felino com 1 ano, pesando 3,7kg, sem
raça definida, atendida no Hospital de Medicina Veterinária Prof. Renato Rodemburg
de Medeiros Neto (HOSPMEV/UFBA). A paciente deu entrada na cirurgia de
emergência após passar pela triagem e um feto ser visualizado no canal do parto,
parturiente apresentava sinais de desconforto abdominal e dispnéia, e logo foi
encaminhada para fazer cesariana seguida de ovariohisterectomia terapêutica.
Palavras-chave: felino, cesárea, cirurgia
1.1 Summary
The objective was to report a case of a 1-year-old feline patient, weighing 3.7 kg,
mixed breed, attended at the Hospital de Medicina Veterinária Prof. Renato
Rodemburg de Medeiros Neto (HOSPMEV/UFBA). The patient was admitted to
emergency surgery after going through the triage and a fetus was seen in the birth
canal, the parturient had signs of abdominal discomfort and dyspnea, and was soon
referred for a cesarean section followed by therapeutic ovariohysterectomy.
Keywords: feline, cesarean section, surgery
2. INTRODUÇÃO
Numa cirurgia de emergência, hipotensão, hipotermia, desidratação, hipoglicemia e
hipocalcemia são fatores que podem estar presentes antes e durante a cesariana.
Por isso, o protocolo anestésico que deve ser escolhido é aquele que promova boa
analgesia, retorno rápido da paciente e que seja seguro para o feto (OLIVEIRA,
2012), já que estes fármacos possuem capacidade de atravessar a barreira
hematoencefálica e promover depressão fetal, entre outras complicações.
Cada vez mais são utilizadas técnicas das anestesias regionais que diminuem a
quantidade de fármacos intravenosos e inalatórios circulantes. A anestesia epidural
lombossacra é uma das técnicas mais utilizadas nas cirurgias em animais de
companhia, essa técnica consiste na aplicação de fármacos anestésicos no espaço
epidural, localizado entre o canal medular e a dura-máter, realizando o bloqueio dos
nervos sensitivo e motor dos nervos espinhais, devendo ter cautela na região de
cone medular (porção final da medula espinhal) para não provocar lesões. O cone
3. RELATO DE CASO
Foi atendido no Hospital de Medicina Veterinária Prof. Renato Rodemburg de
Medeiros Neto (HOSPMEV/UFBA) um felino, fêmea, 1 ano de idade, pesando
3,7kg, sem raça definida, apresentando contrações uterinas e feto no canal do parto
com os membros posteriores expostos. Durante a consulta pré anestésica foram
aferidos os seguintes parâmetros: desidratação 7%, mucosas normocoradas,
frequência cardíaca (FC) 168bpm, frequência respiratória (FR) 60mpm, temperatura
retal (TR) 39,3 ° C e pulso forte e síncrono. A paciente foi classificada como ASA
(American Socity of Anesthesiologists) ll, foi colocado o acesso intravenoso na veia
cefálica, e administrado como medicação pré anestésica (MPA) Dexmedetomidina
intramuscular (IM) na dose de 1mcg/kg e esperou-se 15 minutos para realizar a
indução anestésica com Propofol intravenoso (IV) na dose de 5mg/kg. Após isso, a
paciente foi entubada com sonda traqueal número 3 e colocada no circuito de
anestesia Baraka, fazendo a manutenção anestésica com Sevoflurano fornecido a
1,1 CAM, além do fornecimento de oxigênio 100%.
Para realizar a técnica de anestesia epidural, foi feita tricotomia e antissepsia da
região e o animal posicionado em decúbito esternal com membros pélvicos
estendidos cranialmente. A localização do espaço foi feita através da palpação entre
as vértebras S3-Co1 e certificado através do movimento de levantar e abaixar a
cauda, seguindo pela punção com cateter de calibre 24G em um ângulo de 90° com
a pele e administrado morfina na dose 0,1 ml/kg e lidocaína sem vasoconstritor a
2% na dose 0,25 ml/kg na região sacrococcígea, onde não houve resistência da
seringa ao injetar o fármaco no espaço, conferindo sucesso da técnica.
Após aguardar cerca de 15 minutos, foi feita a cesariana descrita na literatura por
Fossum (2001), com o animal em decúbito ventral, colocação de 4 panos de campo,
foi feita incisão retroumbilical, o útero foi isolado com compressas estéreis e a
incisão feita em área relativamente avascular na face ventral do corpo uterino
exposição dos cornos uterinos e realizada incisão em região de bifurcação uterina,
onde se exteriorizou o feto já sem vida, foi feito o pinçamento dos ovários e útero
para a ovariohisterectomia usando a técnica das 3 pinças e ligadas com nó de
Muller, posteriormente foi feita sutura uterina e omentopexia, depois músculos,
subcutâneo e pele, respectivamente.
Durante o procedimento, a paciente foi assistida no monitor multiparamétrico a
cada 10 minutos e manteve seus parâmetros estáveis durante o procedimento,
exceto por um aumento da pressão sistólica e frequência cardíaca, onde interviu-se
com Remifentanil intravenoso (IV) em infusão contínua na dose 10mcg/kg. Foi
possível monitorar frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR),
temperatura, pressão sistólica, diastólica e média (PAS/PAD/PAM) e saturação de
Oxigênio (SatO2). Durante o transcirúrgico foi administrado meloxicam 0,2%
intravenoso (IV) na dose de 0,2mg/kg e cefazolina na dose 30mg/kg. Ao final da
cirurgia foi aferida glicemia, que estava normalizada (129mg/dl). A paciente foi
liberada para casa com antibiótico, antiinflamatório, analgésico e limpeza da ferida
cirúrgica, retornou para retirada de pontos cerca de 15 dias após o procedimento e
teve alta médica.
4. DISCUSSÃO
Neste caso não houveram intercorrências significativas de parâmetros, conferindo
que a técnica de epidural através da região sacrococcígea tem a mesma eficácia
anestésica da lombossacral. A técnica sacrococcígea traz boa segurança para
reduzir os riscos de lesão medular e analgesia durante o procedimento devido a
associação de um opióide com o anestésico local, já que a administração de morfina
epidural pode resultar em uma analgesia de até 16 horas (PYPENDOP et al., 2008),
esta técnica pode ser utilizada em felinos durante cirurgia de cesariana e
ovariohisterectomia, além de cirurgias abdominais, do membro pélvico, coxal, região
anal, perianal e caudal (QUANDT & RAWLINGS, 1996). Além disso, o uso do
Remifentanil em infusão contínua foi escolhido após visto que não havia fetos
viáveis, pois alguns opióides podem causar depressão no sistema respiratório e
dificultar a hematose nos neonatos (DAVIDSON, 2006). Confere também que o uso
da Dexmedetomidina, Propofol e Sevoflurano, cada um em sua etapa de MPA,
Indução e Manutenção, certificaram o bom retorno da paciente e a mantiveram num
plano anestésico estável.
Os parâmetros durante a monitorização não oscilaram muito, a saturação de
oxigênio se manteve entre 99% e 100%, frequência cardíaca teve uma média de
158bmp, oscilando para 170bpm aos 20 minutos de cirurgia, quando se interviu com
o Remifentanil, a pressão média (PAM) teve seu pico assim que atingiu 145mmHg,
normalizando após anestésico e ficou entre 100mmHg, a frequência respiratória
também manteve-se estável com valores de 20mpm, e a temperatura no início da
cirurgia estava 39,3 °C e foi caindo ao decorrer, chegando a 37,7 °C.
5. CONCLUSÃO
Conclui-se que a técnica de anestesia epidural através da região sacrococcígea é
mais segura para gatos desde que seja feita da forma correta, tem bom efeito
analgésico durante o trans e pós cirúrgico, confere ao paciente um plano estável
durante toda cirurgia e é uma boa alternativa para cesarianas, já que os fármacos
injetados pela via epidural sofrem menor absorção a nível circulatório.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS