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Bloqueio do nervo pudendo para realização de penectomia em um felino – Relato de Caso

Bruno Silva de Rezende 1, João Pedro Brochado Souza2, Simone Caramalac3, Josimar da Silva4, Fabrício
de Oliveira Frazílio 5
1
Aluno do Curso de Medicina Veterinária da FAMEZ/UFMS. E-mail: brunorezende97@hotmail.com
2
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da FAMEZ/UFMS. E-mail:
joao.jpbs23@gmail.com
3
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da FAMEZ/UFMS. E-mail:
simonecaramalac@gmail.com
4
Aluno Especial do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da FAMEZ/UFMS. E-mail:
josimar.dasilva@hotmail.com
5
Professor adjunto da FAMEZ/UFMS. E-mail: fabricio.frazilio@ufms.com
Resumo: Na rotina clínica de pequenos animais, a DTUIF é uma doença de caráter urgente,
apresentando muitas vezes sinais clínicos evidentes como: hematúria, disúria, estrangúria, polaciúria e até
presença de obstrução uretral mudando assim seu caráter para emergencial. Evolui para quadro grave,
quando não tratada de maneira eficaz, levando ao desenvolvimento de distúrbios importantes. Para o
tratamento emergencial, preconiza-se desobstrução com sondagem uretral, sendo necessária a realização
de anestesia geral ou sedação associada a bloqueio locorregional. A técnica de bloqueio locorregional do
nervo pudendo apresenta dificuldades para realização, entretanto, a utilização de neurolocalizador o torna
altamente eficaz, garantindo o relaxamento e analgesia local do animal obstruído . Tal dessensibilização
neural é efetuado desde a etapa de sondagem até o período de peri e pós-operatório para cirurgia de
penectomia (tratamento cirúrgico de pacientes obstruídos sem eficiência em sondagem). Portanto,
ressalta-se a importância para a eficácia da analgesia em pacientes com obstrução uretral submetidos a
tratamento, garantindo o bem-estar e prevenindo assim múltiplas consequências em decorrência da alta
incidência de dor nesses animais.

(o resumo deve conter também o resumo do seu relato de caso)

Palavras-chave: Analgesia Anestesia, lidocaína, pudendo.

Abstract: In the clinical routine of small animals, FLUTD is an urgent disease, often presenting obvious
clinical signs such as hematuria, dysuria, stranguria, polyuria and even the presence of urethral
obstruction, thus changing its character to emergency. It develops into a severe condition, when not
treated effectively, leading to the development of important disorders. For emergency treatment,
clearance with urethral probing is recommended, requiring general anesthesia or sedation associated with
regional loco block. The pudendal nerve loco block technique presents difficulties to perform, however,
the use of neurolocalizer makes it highly effective, ensuring relaxation and local analgesia of the
obstructed animal. Such neural desensitization is performed from the probing stage to the peri and post-
operative period for penectomy surgery (surgical treatment of obstructed patients without probing
efficiency). Therefore, the importance for analgesia efficacy in patients with urethral obstruction
undergoing treatment is emphasized, ensuring well-being and thus preventing multiple consequences due
to the high incidence of pain in these animals.

Keyworlds: Analgesia, anesthesia, lidocaine, pudend.

Introdução

A técnica de bloqueio locorregional do nervo pudendo muito é pouco conhecida e apresenta certas
dificuldades para realização. Uma alternativa para aumentar a eficiência do mesmo é a utilização do
neurolocalizador (uma ferramenta que possibilita a localização do nervo através de estímulos elétricos).

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Apesar das dificuldades relacionadas a execução da técnica, ela é altamente recomendada para os
procedimento que são feitos em pacientes com obstrução uretral, desde a sondagem até a analgesia
durante e após a cirurgia de penectomia (Adami et al. 2014). Com o passar do tempo, a facilidade de
obtenção do neurolocalizador foi aumentando e sua presença na rotina se tornou mais comum. Este
equipamento permite a identificação de respostas motoras ou sensoriais obtidas na região perineural,
aumentando a segurança e reduzindo os insucessos do bloqueio e o excesso no uso do anestésico (Sala-
Blanch et al., 2011).
O bloqueio do pudendo é uma técnica nova e muito eficaz, apesar das possíveis complicações,
como aplicação intraneural, possibilidade de punção venosa ou arterial, ou até mesmo lesão
intraperitoneal (Klauman & Otero, 2000). Apesar disso, o bloqueio permite maior estabilidade
hemodinâmica para o paciente com o menor risco a vida, sendo um diferencial comparando com outros
bloqueios que são utilizados nestes casos. O objetivo deste trabalho é descrever um caso no qual foi
realizado bloqueio do nervo pudendo com neurolocalizador em um gato com obstrução uretral, para
analgesia na sondagem e penectomia (trans e pós cirúrgico).
Relato de caso

Foi atendido no hospital veterinário da UFMS um felino, macho, sem raça definida, pesando
3,25kg com 2 anos de idade, não castrado, com histórico de êmese, disúria, e dor abdominal há 1 dia. O
exame físico constatou-se: temperatura retal 37,6°C, frequência cardíaca 160 bpm, frequência respiratória
30 mpm, TPC de 3 segundos, mucosas normocoradas, alerta, estado nutricional normal, sem
ectoparasitas. Apresentava dor a palpação abdominal, bexiga repleta e distendida, sem formação de fluxo
urinário após leve pressão manual.
O paciente apresentava histórico de obstruções recorrentes, sendo 4 episódios em 7 dias. Assim,
a terapêutica cirúrgica foi escolhida. A medicação pré-anestésica foi feita com acepromazina (0,03mg/kg)
e meperidina (3mg/kg). O paciente foi induzido com propofol (4mg/kg) e midazolam (0,2mg/kg),
intubado com tuboendotraqueal 3,5 com cuff e acoplado ao aparelho anestésico em sistema circular
valvular com fluxo de oxigênio de 5ml/kg e ar comprimido de 5ml/kg de oxigênio e mantido em plano
anestésico cirúrgico com 1,4 de CAM de isoflurano para manutenção. Para realização do bloqueio, foi
aplicado lidocaína 2% com auxílio de neurolocalizador (DL250 - neurolocalizador Vet®). O
posicionamento da agulha na região perineal foi realizada próximo ao esfíncter anal externo, tendo-se
como referências as horas em um relógio analógico que seria o anus, onde se introduza agulha nos pontos
de 10 (lado esquerdo) e 2 horas (lado direito), como observado na figura 1 e 2 respectivamente. A agulha
foi introduzida no sentido crânio dorsal até tocar o osso sacro, atingindo o teto da pelve (Klauman &
Otero, 2000). O neurolocalizador foi ligado, e após a certificação da agulha na região perineural, o
anestésico local (lidocaína 2%) foi injetado na dose de 0,1ml/kg em cada ponto. Não foi realizado resgate
analgésico durante o trans-cirúrgico. A recuperação anestésica ocorreu sem complicações. Os fármacos
do pós-operatório foram administrados, sendo eles: morfina (0,3mg/kg/IM); cefalotina (30mg/kg/IV),
meloxicam (0,1mg/kg/IV); dipirona (25mg/kg/SC). Em seguida o paciente foi encaminhado para
internação.

Figura 1 – Inserção da agulha no lado direito Figura 2 – Inserção da agulha do lado esquerdo

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Discussão

A penectomia é considerada uma cirurgia altamente algésica, visto que o pênis é um órgão
ricamente inervado. Durante o procedimento cirúrgico, adotou-se o bloqueio locorregional do nervo
pudendo com lidocaína 2% como técnica analgésica. Tal procedimento anestésico possibilita benefícios
como redução dos outros fármacos para anestesia, diminuí a utilização do anestésico geral, possibilita
analgesia preemptiva, oferendo maior conforto e estabilidade cardiovascular (Klauman & Otero, 2000).
O bloqueio locorregional do nervo pudendo permitiu estabilidade hemodinâmica, analgesia
satisfatória, baixa depressão do sistema nervoso central e a diminuição do risco de lesão do nervo foi
obtida com a utilização do neurolocalizador. A estabilidade e eficiência do bloqueio foi comprovada pela
estabilidade anestésica do paciente, não havendo aumento significativo em mais de 20% nos parâmetros
cardíacos, respiratórios e de pressão arterial, durante os estímulos cirúrgicos, alteração decorrentes de dor
(Tranquili et al., 2013). A necessidade de aumento da concentração alveolar mínima (CAM) é
geralmente provocada com aumento da atividade cerebral, dor, ou plano anestésico indesejável (Fantoni
& Cortopassi, 2002). No presente relato, a não alteração dos parâmetros clínicos demonstra a efetividade
do bloqueio, uma vez que a anestesia foi mantida com isoflurano com CAM à 1,4%, concentração esta
ideal para que o paciente não tenha estímulos musculares sem estímulo cirúrgico.
Conclusão

A técnica utilizada foi eficiente na analgesia e relaxamento muscular no intra-operatório e pode ser
utilizada para procedimentos de penectomia e desobstrução uretral quando realizada de forma correta e
eficiente.

Literatura Citada

ADAMI C., DAYER T., SPADAVECCHIA C. &ANGELI G. Ultrasound-guidedpudendalnerveblock in


catsundergoing perineal urethrostomy: a prospective, randomised, investigator-blind, placebo-
controlledclinicaltrial. JournalofFeline Medicine andSurgery. 16(4): 340-345, 2014. Disponível em :
https://journals.lww.com/anesthesiaclinics/Citation/2011/04940/A_Practical_Review_of_Peri
neural_Versus.2.aspx. Acesso em: 10/10/2019.
FANTONI, D. T.; CORTOPASSI, S. R. G.. Anestesia em cães e gatos. Anestesia em cães e gatos, 2002.

KLAUMANN, P. R.; OTERO, P. E. Anestesia locorregional em pequenos animais. Grupo Gen-Editora


Roca Ltda., 2000-

SALA-BLANCH, X., VANDEPITTE, C., LAUR, J. J., et al. A practical review of perineural versus
intraneural injections: a call for standard nomenclature/, 2011. Disponível em:
https://insights.ovid.com/pubmed?pmid=21956073. Acesso em : 08/10/2019.
J. C.; GRIMM, Kurt A. (Ed.). Lumb and Jones' veterinary anesthesia and analgesia. John Wiley & Sons,
2013.

BIAZZOTTO, C.; BRUDNIEWSKI, M.; SCHMIDT, A. J. J. Hipotermia no Período Peri-Operatório.


Rev. Bras. Anestesiol. Vol.56 N.1, 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-70942006000100012. Acesso
em : 05/10/2019.

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