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CIRURGIAS ESPLÊNICAS EM CANINOS:

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Dilvana Martins Guerra1, Stéfani dos Santos Torres1, Milena Baptista1, Brenda da Silva1,
Jennifer Santos dos Santos1, Guilherme Lopes Dornelles2

Palavras-chave: Baço. Esplenectomia. Esplenomegalia. Reimplante esplênico.

1 INTRODUÇÃO
O baço é um dos órgãos linfoides que constitui a principal fonte de células imunológicas
e mononucleares fagocíticas do organismo e por isso modifica-se de tamanho em resposta a
estímulos antigênicos (NELSON; COUTO, 2017), tornando-se alvo de muitas desordens devido
a sua localização anatômica e funcional (MARINO, 2013). Nesse contexto, as cirurgias
esplênicas são frequentes na rotina do médico veterinário, principalmente em casos de tumores
esplênicos e traumas que são as ocorrências predominantes. Entre as técnicas cirúrgicas do baço
estão as esplenectomias parciais e totais e o reimplante esplênico que é uma técnica de utilização
recente na medicina veterinária, realizado com o objetivo de preservar a função imune do órgão
(OLIVEIRA, 2012).
A esplenectomia é a remoção cirúrgica do baço, um procedimento indicado em casos de
torção esplênica, ruptura do baço, esplenomegalia sintomática ou massas no baço, sendo esta
última a responsável pela maioria das esplenectomias em cães (NELSON; COUTO, 2017). Além
disso, a esplenectomia é utilizada nos casos de doenças imunomediadas hematológicas como a
Anemia Hemolítica Imunomediada (AHIM) e a Trombocitopenia Imunomediada (TIM) e
também nos casos em que o tratamento clínico não foi efetivo ou em que os fármacos causariam
efeitos colaterais inaceitáveis (FOSSUM, 2021). Com relação ao reimplante esplênico, este
também é conhecido como autotransplante esplênico e pode ser utilizado para reduzir algumas
consequências indesejáveis da esplenectomia total (OLIVEIRA, 2012). Assim, este trabalho tem
por objetivo revisar a literatura acerca das principais cirurgias esplênicas, entre elas a
esplenectomia total e parcial e o reimplante esplênico, descrevendo a conduta pré-operatória,
anatomia cirúrgica, as principais técnicas cirúrgicas utilizadas e suas aplicações.

1Discente do curso de Medicina Veterinária, da Universidade de Cruz Alta - Unicruz, Cruz Alta, Brasil.
2Docente do curso de Medicina Veterinária, da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, Erechim,
Brasil. E-mail: guilhermelopesd@gmail.com

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2 MATERIAIS E MÉTODOS
Este resumo consiste em uma revisão de literatura, enfocando a abordagem das
esplenectomias e do reimplante esplênico em cães, as principais técnicas cirúrgicas e quando
utilizá-las. Para a realização deste trabalho foram utilizados livros e foi realizada uma busca de
artigos publicados em língua portuguesa e inglesa na base de dados do Google Acadêmico e
Scielo – Scientific Eletronic Library Online, utilizando os termos “cirurgias esplênicas em cães”
e “esplenectomia em cães”.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O baço geralmente localiza-se no quadrante abdominal cranial esquerdo, incluindo-se no
omento, paralelamente à curvatura maior do estômago, o que facilita a sua localização. Devido a
um aumento gástrico massivo ele pode situar-se no abdome caudal, entretanto, quando o
estômago está contraído, o baço usualmente se aloja na caixa torácica (FOSSUM, 2021). É um
órgão revestido por uma cápsula de colágeno e fibras musculares lisas, que emite trabéculas para
o interior do parênquima esplénico, sendo este constituído pela polpa vermelha e pela polpa
branca (SOUSA, 2012). Este órgão está diretamente envolvido na iniciação da resposta
imunitária, na destruição dos glóbulos vermelhos, no armazenamento de ferro e, por último, na
remoção de células, ou outros componentes do sangue anormais, pela fagocitose (JUNQUEIRA;
CARNEIRO 2004). Por isso, com a técnica de esplenectomia o animal perde as funções totais do
órgão, sendo contraindicada em pacientes com hipoplasia de medula óssea, nos quais o baço é
uma fonte principal de hematopoese (NELSON; COUTO, 2015).
Os animais com doenças esplênicas de tratamento cirúrgico frequentemente apresentam
esplenomegalia focal ou difusa. As causas de esplenomegalia difusa (simétrica) pode ser
atribuída à congestão, a infiltração por infecção, a doença imunomediada ou neoplasia, enquanto
as causas de esplenomegalia focal (assimétrica) pode ser causada por processos benignos ou
processos neoplásicos (DOBSON et al., 2006; CULP; ARONSON, 2008). Casos em decorrência
de trauma, ruptura ou hematoma esplênico ou por hemorragia decorrente de doença subjacente, o
paciente pode apresentar um quadro de anemia devido à hemorragia aguda, por isso, perfis de
coagulação devem ser estabelecidos. Animais com hematócrito inferior a 20% ou um nível de

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hemoglobina abaixo de 5 a 7 g/dL, podem se beneficiar de transfusões sanguíneas pré-
operatórias. Caso se suspeite de CID, a administração de plasma, com ou sem heparina, pode ser
útil. Fluidos intravenosos devem ser administrados em animais desidratados antes da cirurgia. O
uso de antibióticos em animais com doença esplênica depende da natureza da doença subjacente
e da idade do animal, doenças concomitantes e extensão da cirurgia. A antibioticoterapia
prolongada pode ser necessária em animais imunodeprimidos ou gravemente debilitados
(FOSSUM, 2021).
A esplenectomia é um procedimento cirúrgico frequente, realizado normalmente em
casos de emergência. O baço é abordado através de uma incisão na linha média abdominal que se
estende do xifoide até um ponto caudal ao umbigo. De acordo com o seu âmbito, as
esplenectomias podem classificar-se em dois tipos distintos: parciais ou totais (FOSSUM, 2021).
A esplenectomia parcial consiste em definir primariamente a área a ser removida, ligar
duplamente e incisar os vasos que nutrem essa mesma área. Posteriormente, observar a extensão
da isquemia que se desenvolve para que esta sirva de parâmetro da recessão. Em seguida apertar
o tecido esplênico nessa linha e retirar a polpa esplênica na direção da área isquêmica. Deve-se
colocar uma pinça na porção achatada e romper o baço entre a pinça. A superfície de corte deve
ser suturada, adjacente à pinça, com uma sutura contínua e fio absorvível 3-0 ou 4-0. Como
alternativa, colocar duas camadas de sutura de colchoeiro em um padrão contínuo se sobrepondo
à linha de demarcação. Se a hemorragia persistir, suturar novamente a extremidade do baço com
material absorvível em padrão contínuo (FOSSUM, 2021).
A técnica de esplenectomia total consiste em fazer uma incisão na linha média ventral, de
forma a exteriorizar o baço. Em seguida deve-se ligar duplamente e transeccionar todos os vasos
do hilo esplénico com material de sutura absorvível. Deve-se tentar preservar os pequenos ramos
gástricos que suprem o fundo gástrico. Alternativamente, pode optar-se pelo reimplante
esplênico que tem como principais objetivos a manutenção da função imune dos órgãos, a
redução do infarto do miocárdio e a não ocorrência de infecção hiperaguda ocasionada em
decorrência da esplenectomia total. Dessa forma, após a realização da esplenectomia total, são
confeccionados de três a cinco fragmentos pequenos do baço que posteriormente serão
posicionados sobre o omento, formando então a bolsa omental que é fixada com três pontos
isolados (OLIVEIRA, 2012).

3
4 CONCLUSÃO
Portanto, a esplenectomia é indicada para tratamento de neoplasias esplênicas, assim
como, de torções gástricas ou esplênicas, traumatismos graves com risco de morte e doenças
imunomediadas. No entanto, a esplenectomia é o tratamento utilizado apenas se a terapêutica
médica não for bem-sucedida ou se considerada inaceitável. Enquanto o reimplante esplênico é
uma técnica que já é usada na medicina humana há muitos anos e tem sido recentemente
utilizado na medicina veterinária com o objetivo de preservar a função esplênica.

REFERÊNCIAS
CULP, WT, ARONSON, LR. Splenic foreign body in a cat. J Feline Med Surg. 10:380, 2008.

DOBSON, J, Villiers, E, Roulois, A, et al. Histiocytic sarcoma of the spleen in flat-coated


retrievers with regenerative anaemia and hypoproteinaemia. Vet Rec. 158:825, 2006.

FOSSUM, T.W. Cirurgia de Pequenos Animais, 5ª ed., Elsevier Brasil, São Paulo, 2021.

JUNQUEIRA, L.C.; CARNEIRO, J. Sistema imunitário. In: Junqueira, L.C.; Carneiro, J.,
Histologia Básica. 10 ed., p. 276-280. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A, 2004.

MARINO, D.J. Dieseases of the spleen. In: BONAGURA, J.D. Kirks currente veterinary
therapy XV: small animal pactice, Philadelphia: Saunders, 2013.

NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. 5ª edição. Rio de


Janeiro: Elservier, 2015.

OLIVEIRA, André Lacerda de Abreu. Técnicas cirúrgicas de pequenos animais- 1. ed. - Rio
de Janeiro: Elsevier, 2012.

RIVIER, P, MONNET, E. Use of a vessel sealant device for splenectomy in dogs. Vet Surg.
40:102, 2011.

SOUSA, J. U. J. O. Esplenopatias cirúrgicas em cães, estudo retrospetivo num hospital de


referência na área da grande Lisboa 2012. Dissertação (mestrado em medicina veterinária) -
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2012;

TILLSSON, M. Speen. In: Slatter, D. Textbook of Small Animal Surgery. 3 ed. P. 1046-1062.
Philadelphia: Elsevier Science, 2003.

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