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HEMIPLEGIA LARÍNGEA EM CANINO – RELATO DE CASO

1. INTRODUÇÃO
O termo paralisia ou hemiplegia laríngea refere-se à incapacidade de abdução
da cartilagem aritenóide devido a paralisia do nervo laríngeo recorrente, responsável
pela inervação dos músculos abdutores da região laríngea. A paralisia que envolve
esses nervos está associada na maioria das vezes a inúmeras causas não
elucidadas, chamadas de idiopáticas. Outras causas ainda podem levar a paralisia
laríngea como traumas cervicais, neoplasias, lesões inflamatórias e endocrinopatias
(NELSON; COUTO, 2010). As endocrinopatias, por sua vez, não apresentam
estudos aprofundados que comprovem ser um fator contribuinte importante para a
paralisia laríngea (MONTEIRO, 2013).
Os animais que desenvolvem sinais clínicos dessa afecção podem apresentar
dispneia inspiratória, síncope, apneia, cianose e alterações no latido, tosse e
engasgo ao ingerir água e alimentos (NELSON; COUTO, 2010). Animais que
possuam paralisia laríngea ainda podem apresentar pneumonia aspirativa como
principal complicação, uma vez que as cartilagens se tornam incapazes de abduzir,
o alimento poderá seguir o trajeto da traquéia e posteriormente chegar aos pulmões
(FOSSUM, 2013).
A paralisia laríngea é uma alteração frequentemente encontrada em equinos,
conhecida popularmente por “síndrome do cavalo roncador”, devido a alteração na
fonação que esses animais sofrem. Em cães, é uma alteração que pode ocorrer
concomitantemente a outras deformidades anatômicas e por isso deve ser
conhecida e diferenciada das demais afecções (FOSSUM, 2013).
O presente trabalho tem por objetivo relatar o caso de um cão da raça
Dachshund com paralisia laríngea unilateral abordando os principais aspectos que
envolvem a alteração funcional da laringe.

2. METODOLOGIA
Um canino, macho, adulto, 11Kg, da raça Dachshund chegou ao Hospital
Universitário Veterinário da UNIPAMPA, campus Uruguaiana, para atendimento
veterinário. Durante a anamnese a proprietária relatou que o animal havia sido
adotado há oito meses e desde então, apresentava espirros e tosse quando em
agitação, além de observar apneia durante o sono, roncos mais frequentes e
cansaço fácil quando submetido a exercícios.
Ao exame físico o animal demonstrava-se alerta, hidratado, as mucosas
normocoradas (róseas), TPC 2” e temperatura retal 38,7ºC. Os linfonodos
(submandibulares, pré-escapulares e poplíteos) não apresentaram alteração à
palpação.
Foram solicitados exames de hemograma, plaquetas, uréia, creatinina e
fosfatase alcalina, os quais não apresentaram alterações relevantes. No dia
seguinte, o animal retornou para realização de endoscopia em função da suspeita de
prolongamento de palato. Para realização do procedimento o animal foi anestesiado
com o seguinte protocolo: MPA (medicação pré-anestésica) com Meperidina
(3mg/Kg, IM) e Diazepam (0,1mg/Kg, IV), indução com Propofol (2mg/Kg, IV) e
manutenção também com Propofol (dose efeito). Ao final do exame, foi confirmado o
diagnóstico de prolongamento de palato mole e hemiplegia laríngea. Anteriormente
a esse atendimento o paciente havia participado de um estudo de mestrado e sido
submetido a exames radiográficos para avaliação de colapso de traqueia, utilizando
técnica compressiva, em região cervical na posição látero-lateral. A avaliação
radiográfica apresentou resultado negativo para o estreitamento do lúmen traqueal.

3. RESULTADOS e DISCUSSÃO
A hemiplegia laríngea tem como causa principal a idiopática, que no presente
relato torna-se a fisiopatogenia mais aceita, uma vez que a proprietária nega
qualquer processo traumático envolvendo o canino. Os sinais clínicos presentes no
animal demonstraram grande proximidade com as descrições da literatura a
exemplo de alterações de latido, dispneia, tosse e espirros em momentos de
agitação (NELSON; COUTO, 2010).
O exame complementar confirmatório de paralisia laríngea é a endoscopia
(NELSON; COUTO,2010), que nesse animal revelou prolongamento de palato mole
e paralisia da cartilagem aritenóide unilateral direita justificando as alterações
relatadas pela proprietária, embora Nelson & Couto (2010) citem a paralisia laríngea
bilateral como causadora de sinais clínicos. Não houve alterações sistêmicas, o que
pode estar relacionado ao fato do comprometimento unilateral da cartilagem, e
dessa forma não cursar com sinais clínicos graves.
Dentre os diagnósticos diferencias estão síndrome das vias aéreas
braquicefálicas, palato mole alongado, neoplasias, pólipos, abscessos, granulomas e
corpo estranho (NELSON; COUTO, 2010), assim como colapso traqueal cervical,
descartado pela avaliação radiográfica.
O tratamento realizado em animais com crise é emergencial devendo ser
utilizados sedativos, oxigenioterapia e antiinflamatórios (NELSON; COUTO, 2010), o
que não foi necessário no paciente relatado, pois os sinais clínicos eram discretos.
Animais com sinais clínicos brandos devem evitar estresse, locais com temperaturas
elevadas e agitação (MILLARD; TOBIAS, 2009). O tratamento conservativo para
aqueles animais que possuem paralisia laríngea unilateral, pode ser proposto,
consistindo primordialmente em redução de peso e uso de antiinflamatórios
esteroides (CHAMPION, 2015).
Há inúmeras técnicas cirúrgicas responsáveis por proporcionar a abertura
adequada da glote como ventriculocordectomia, laringectomia parcial, lateralização
aritenóide entre outras (MONTEIRO, 2013), porém o tratamento de escolha para o
animal do caso relatado foi conservador e indicou-se a redução do palato mole, que
encontrava-se prolongado, objetivando melhor qualidade de vida, visto que tratava-
se de paralisia unilateral e os sinais clínicos eram brandos. Tal situação torna o
prognóstico de reservado a favorável, apesar de Nelson & Couto (2010) relatarem
um bom prognóstico para aqueles animais submetidos a procedimentos cirúrgicos
como forma de correção, o que está relacionado com uma maior expectativa de
vida (NELSON; COUTO, 2010).
Em função da paralisia laríngea poder ter um quadro evolutivo, pois não
houve perda total dos movimentos da cartilagem, os proprietários foram alertados
quanto aos sinais clínicos severos a exemplo dos que envolvem apneia, síncope e
cianose. Na observância de algum desses sintomas, indica-se o encaminhamento
do paciente para um atendimento imediato.

4. CONSIDERAÇÔES FINAIS
A paralisia laríngea em caninos é uma afecção conhecida mas que deve ter
mais importância na clínica médica e cirúrgica de pequenos animais uma vez que
torna-se diagnóstico diferencial para outras enfermidades que envolvam sistema
respiratório e digestório.

5. REFERÊNCIAS

CHAMPION T. Enfermidades Respiratórias. In: LEANDRO Z. C. & CRIVELLENT S.


B. Casos de Rotina em Medicina Veterinária de Pequenos Animais. São Paulo,
2015, p.289-290.

FOSSUM T. W. Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

MAHONY, O. M., KNOWLES, K. E., BRAUND, K. G., AVERRIL, D. R. &


FRIMBERGER, A. E. Laryngeal Paralysis – Polyneuropathy Complex in Young
Rottweilers. J Vet Intern Med, 12, 1998, p. 330-337.

MILLARD, R. P. & TOBIAS, K. M. Laryngeal Paralysis in Dogs. Compendium:


Continuing Education for Veterinarians, 2009.

MONTEIRO, R. Correcção Cirúrgica da Paralisia da Laringe em Canídeos. 82f.


2013. Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina Veterinária), Faculdade de
Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2013.

NELSON R. W. & COUTO C. G. Medicina interna de Pequenos Animais, Rio de


Janeiro: Elsevier, 2010, p. 241-242

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