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AELUROSTRONGILOSE FELINA – RELATO DE CASO

FELINE AELUROSTRONGILOSIS – CASE REPORT

ZACARIAS JUNIOR, ADEMIR1; HOPPE, ESTEVAM GUILHERME LUX2;


CARDOSO, MAURO JOSÉ LAHM3; OLIVEIRA, RODRIGO DOS REIS4;
SILVA-ZACARIAS, FRANCIELLE GIBSON5.

Resumo: As doenças do trato respiratório felino constituem-se em um grande desafio ao


clínico, considerando-se que os sinais clínicos são sempre muito semelhantes,
independentemente da sua etiologia. Entre os agentes etiológicos das patologias respiratórias
estão os parasitas pulmonares, como Aelurostrongylus abstrusus (Nematoda:
Angiostrongylidae). Dada a natureza inespecífica dos sinais clínicos apresentados pelos
animais com aelurostrongilose, esses podem ser erroneamente diagnosticados como uma das
diversas patologias respiratórias que acometem os felinos. O objetivo deste trabalho é
descrever a sintomatologia clínica apresentada por um felino com aelurostrongilose, assim
como seu diagnóstico e resultado ao tratamento.
Palavras-chave: Aelurostrongylus abstrusus, aelurostrongilose, felino.

Abstract: Respiratory diseases of cats are always a challenge to veterinary pratice, due the
analogous clinical signs of non related etiologies. Parasitic helminths, as Aelurostrongylus
abstrusus (Nematoda: Angiostrongylidae), are etiologic agents of some respiratory tract
diseases. The unspecific clinical signs of aelurostrongyliasis may lead to misdiagnosis. This
case report aims to describe the clinical signs shown by a affected adult cat, as well as its
diagnostic procedures and treatment results.
Key-words: Aelurostrongylus abstrusus, aelurostrongyliasis, feline.

Introdução
Doenças do trato respiratório figuram entre as enfermidades mais freqüentes dos
felinos, constituindo sempre um grande desafio ao clínico, haja vista que os sinais clínicos são
sempre muito semelhantes, independentemente da etiologia. Entre os agentes etiológicos
causadores das patologias respiratórias estão os parasitas pulmonares, como Aelurostrongylus
abstrusus (Nematoda: Angiostrongylidae).
São nematódeos de ocorrência cosmopolita que parasitam bronquíolos terminais e
ductos alveolares de felinos domésticos e silvestres, provocando geralmente doença subclínica
ou com sintomatologia variada.

Relato de Caso
Um gato, SRD, adulto, foi atendido no Hospital Veterinário das Faculdades Luiz
Meneghel, Bandeirantes, Paraná, em setembro de 2006 com o histórico de um episódio de
diarréia com sangue. Havia sido vermifugado há aproximadamente 6 meses. Apresentava
sensibilidade à palpação abdominal, presença de gases em alças intestinais e apresentou um
episódio de diarréia durante o atendimento. À auscultação torácica, estavam presentes sibilos e
chiados pulmonares difusos. Encontrava-se com o linfonodo submandibular esquerdo
levemente aumentado e com discreta secreção ocular muco-purulenta bilateral. Realizou-se a
radiografia torácica com resultado negativo para alterações patológicas evidentes no
parênquima pulmonar.
O hemograma apresentava o eritrograma normal, o leucograma com discreta neutrofilia
com desvio à esquerda e eosinofilia moderada. As fezes foram coletadas e enviadas ao
Laboratório de Parasitologia para exame coproparasitológico. Foram utilizados os métodos de
Willis-Mollay e Hoffmann, nos quais foram constatados ovos de Ancylostoma spp e
Platynosomum spp, cápsulas ovígeras de Dipylidium caninum e larvas de primeiro estágio de
Aelurostrongylus abstrusus.

1
Professor de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Departamento de Patologia Geral, FALM/UENP, Bandeirantes – PR;
2
Doutorando do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal, FCAV/Unesp, Jaboticabal – SP;
3
Professor de Clínica Médica de Pequenos Animais, Departamento de Patologia Geral, FALM/UENP, Bandeirantes – PR;
4
Professor de Radiologia Veterinária, Departamento de Patologia Geral, FALM/UENP, Bandeirantes – PR;
5
Professora de Anatomia Veterinária, Departamento de Veterinária e Produção Animal, FALM/UENP, Bandeirantes – PR.
O tratamento foi instituído com Fenbendazole 27mg/kg BID durante 14 dias e
Praziquantel 13,5 mg/kg SID durante 3 dias, visando a eliminação do Ae. abstrusus, bem como
dos demais parasitas diagnosticados. Ao término do período terapêutico contatou-se completa
remissão dos sinais clínicos.

Discussão
Aelurostrongylus abstrusus (Nematoda: Angiostrongylidae) são nematódeos
cosmopolitas parasitas de bronquíolos terminais e ductos alveolares de felinos domésticos e
silvestres que, apesar de sua baixa patogenicidade, podem provocar quadros de
broncopneumonia granulomatosa em seus hospedeiros, geralmente de forma
subclínica[1,4,7,8]. Ocasionalmente a doença provocada por esse helminto é associada a
outras etiologias [3,4].
Grande parte dos trabalhos relacionados a levantamento parasitológico de felinos
revela que o poliparasitismo nessa espécie é freqüente. Estudos realizados no Brasil mostram
freqüências variáveis de Ae. abstrusus, entre 18% e 58,8%, e alguns autores afirmam não
terem diagnosticado o parasita em uma amostragem de gatos de 6 municípios da região norte
do estado de São Paulo[2,5,6,10]. Não há disponível na literatura relatos da ocorrência desse
helminto no estado do Paraná, até então.
Dada a natureza inespecífica dos sinais clínicos apresentados pelos animais com
aelurostrongilose, esses podem ser erroneamente diagnosticados como uma das diversas
patologias respiratórias que acometem os felinos. O paciente exibia sinais respiratórios que não
determinavam precisamente a etiologia, sendo que estes poderiam estar associados à asma
felina ou à bronquite alérgica. Os dados do hemograma sugeriram um quadro inflamatório ou
alérgico, assim como infecção por parasitas, no entanto sem a determinação precisa da
etiologia. Foram solicitados novos exames complementares a fim de auxiliar no diagnóstico
diferencial. O exame radiográfico não revelou quaisquer alterações patológicas compatíveis
com as suspeitas clínicas, diferentemente do exame coproparasitológico, que evidenciou a
presença de ovos morfologicamente compatíveis com Ancylostoma spp e Platynosomum spp,
cápsulas ovígeras de Dipylidium caninum e larvas de primeiro estágio de Aelurostrongylus
abstrusus. Estes, por sua vez, confirmaram a presença de um parasita que pode ocasionar
quadro inespecífico semelhante ao observado no paciente, assim como justificar as alterações
hematológicas.
Sabe-se que a gravidade da aelurostrongilose é proporcional à intensidade parasitária
[9]. Casos de infestação por um grande número de helmintos resultam em pneumonia, tosse
severa, espirros e descarga óculo-nasal, além de sintomas inespecíficos como perda de peso,
diarréia, anorexia e apatia, podendo inclusive culminar em morte súbita [3,9].
O diagnóstico laboratorial de Ae. abstrusus baseia-se na morfologia das larvas de
primeiro estágio encontradas nas fezes, com comprimento de cerca de 400 µm e cauda
recurvada dotada de espinho subterminal. Os dados morfológicos são suficientes para
diferenciar esse parasita de Oslerus rostratus, outro nematódeo pulmonar de ocorrência menos
freqüente em felinos e ainda não observado no país, cuja larva possui cauda digitiforme e
comprimento de, no máximo, 300 µm [1,11]. Apesar de a metodologia utilizada no exame
coproparasitológico não ser específica para diagnóstico larval, foi possível a observação de um
número suficiente de larvas para a correta identificação do helminto.
O tratamento mostrou-se eficaz, eliminando a doença parasitária e estabelecendo um
prognóstico excelente.

Conclusão
Devido à natureza inespecífica dos sinais clínicos, sugere-se que todo animal
apresentando quadro respiratório deva ser submetido a exame radiográfico e
coproparasitológico, visando a correta identificação da etiologia, para o perfeito
estabelecimento do tratamento. Este relato trata-se provavelmente da primeira descrição do
acometimento de felinos por esse parasita no estado do Paraná.

Referências

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4 Kassai, T. 1999. Veterinary Helminthology. 1a Ed. Oxford: Butterworth Heinemann. 259pp.
5 Mundim, T.C.D.; Oliveira Júnior, S.D.; Rodrigues, D.C.; Cury, M.C. 2004. Freqüência de
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