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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DE VITÓRIA


CENTRO UNIVERSITÁRIO FAESA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM
MEDICINA VETERINÁRIA

ALESSANDRA CURVACHO; ANA BEATRIZ KROHLING; ANGELICA ARAÚJO;


ISABELLE PASSOS; LARISSA DTTMANN; LIVIA GARCIA; MARIANA
ALBUQUERQUE

COLAPSO DE TRAQUEIA NA ROTINA CLÍNICA: UMA REVISÃO


BIBLIOGRÁFICA

VITÓRIA
2022
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ALESSANDRA CURVACHO; ANA BEATRIZ KROHLING; ANGELICA ARAÚJO;


ISABELLE PASSOS; LARISSA DTTMANN; LIVIA GARCIA; MARIANA
ALBUQUERQUE

COLAPSO DE TRAQUEIA NA ROTINA CLÍNICA: UMA REVISÃO


BIBLIOGRÁFICA

Trabalho acadêmico do Curso de Graduação em


Medicina Veterinária, apresentado ao Professor
Juliano Izidoro como parte das exigências da
disciplina Diagnóstico por Imagem.

VITÓRIA
2022
SUMÁRIO
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1. INTRODUÇÃO 4
2. OBJETIVO 6
3. METODOLOGIA 6
4. DISCUSSÃO6
5. CONCLUSÃO 8
REFERENCIAS 9
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1. INTRODUÇÃO
A traqueia é um órgão oco formado por cartilagens hialinas em forma de “C”
conectadas por ligamentos, e se estende da cartilagem cricóidea da laringe até a
sua bifurcação (KÖNIG & LIEBICH, 2021). É um órgão tubular, cartilaginoso, flexível
e membranoso, que conecta a via nasal superior com a inferior (bronquial e
bronquiolar) na via respiratória (MASON, 2004). Sendo uma patologia considerada
degenerativa, o colapso de traqueia é caracterizado pelo achatamento dos anéis
cartilaginosos e/ou a diminuição da rigidez da membrana dorsal da traqueia, fazendo
com que haja o colabamento parcial ou total dos anéis tanto na região torácica
quanto na região cervical (ETTINGER et al., 2004), causando o que é chamado de
angústia respiratória (ETTINGER, 1997).

O primeiro sinal clínico observado no animal é a tosse, que pode ficar mais forte
quando em excitação, exercício, estresse, calor, umidade, ingestão de alimentos e
líquidos ou pressão externa da traqueia. Com a evolução da doença, mais sinais
começam a aparecer, como: ruídos respiratórios anormais, sensibilidade traqueal,
intolerância ao exercício, síncope, cianose e dispneia, causada pela obstrução do
fluxo de ar. Enquanto alguns animais nunca sentem desconforto respiratório devido
a doença, outros podem vir a óbito por asfixia (HAWKINS, 2006; BIRCHARD e
SHERDING, 2003; FOSSUM, 2002; TILLEY e SMITH Jr., 2003).

Essa afecção pode ser de origem primária, ou pode também vir secundariamente
a outras doenças. Sua etiologia é desconhecida e provavelmente multifatorial, mas
acredita-se que pode estar relacionada com doenças congênitas, degenerativas,
anormalidades dos anéis cartilaginosos, abcessos, tumores e hematomas
peritraqueais ou ainda ser secundário a infecções pulmonares (YOVICH; STASHAK,
1984; RIGG et al., 1985; RUSH; MAIR, 2004; ALEMAN et al., 2008). Também pode
estar associado a traqueobronqueomalácia, que é o enfraquecimento das
cartilagens brônquicas ou/e traqueais causando perda da conformação normal
(MURGU; COLT, 2006). 

Para um correto diagnóstico, exames devem ser feitos. Os exames são


classificados em específicos e complementares, tendo como específico a palpação
da traqueia, que promove graves espasmos de tosse e hipóxia. A palpação da
porção cervical da traqueia revela sua estrutura achatada dorsoventralmente. A
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hiperextensão da articulação atlanto-occiptal pode aumentar a gravidade da dispneia


(SILVA, 2017). 

Já como exames complementares devem ser feitos a radiografia,


broncoscopia/fluoroscopia e traqueoscopia, sendo a broncoscopia e fluoroscopia
mais sensíveis do que a radiografia de rotina (CUNHA, 2019). 

O tratamento adequado para o colapso traqueal depende do grau da doença, que


são classificados em grau I, II, III e IV. Em animais com colapso grau I e II, que
geralmente são os graus associados a menos de 50% de colapso traqueal e sinais
clínicos leves, é indicado o tratamento clínico, que inclui o uso de medicamentos e
algumas indicações de manejo. Como tratamento clínico, são indicados
antitussígenos, antibióticos, broncodilatadores e corticoides, dependendo dos
sintomas ou necessidade (SLATTER, 2009). Já em casos em que os pacientes não
respondem mais ao tratamento clínico ou casos graves (de grau III e IV) e que
possuem redução de 50% ou mais do lúmen traqueal, o tratamento cirúrgico é o
indicado.

De acordo com SLATTER, 2007, existem alguns métodos básicos utilizados para
a sustentação da via área carente de rigidez causada pelo colapso traqueal, e são
suficientes e capazes de suportar as mudanças de pressão ocasionadas pela
ventilação e permanecer desobstruídas. Esses métodos são: Pregueamento da
Membrana Dorsal da Traqueia, Preparo Pré-operatório, Abordagem cirúrgica e
Dispositivos de Sustentação Interna. O pregueamento da membrana é utilizada
quando os anéis traqueais estão rígidos e em formato C, porém a membrana
traqueal está estirada ou frouxa.

Na abordagem cirúrgica é realizada uma incisão cervical na linha média para a


exposição da traqueia, efetuando uma dissecação lateral direita para a exposição da
face dorsal da traqueia. É reduzida a membrana traqueal frouxa através do
pregueamento com aplicação de pontos horizontais (SLATTER, 2007).

Também podem ser utilizados dispositivos de sustentação interna, como o tubo


de Montgomery em T, tubo de silicone tachado Dumon ou tubo de silicone reforçado
com metal Dynamic. A inserção do tubo em T é através de traqueostomia, enquanto
os outros dispositivos são implantados via broncoscopia rígida. 
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2. OBJETIVOS

Considerada uma importante doença degenerativa e progressiva na clínica de


pequenos animais, o estudo teve por objetivo realizar uma breve revisão
bibliográfica de relatos de casos descritos na literatura.

3. METODOLOGIA

Para o presente estudo, realizou-se uma busca bibliográfica em livros e bases de


dados Google acadêmico, PubVet e Scielo, nos idiomas português e inglês
considerado trabalhos publicados nos últimos 20 anos. Os termos de pesquisa
utilizados foram “colapso de traqueia” “diagnóstico por imagem em cães” “radiografia
em cães” “tosse crônica em cães” “doença degenerativa da traqueia em cães”.
Foram selecionadas 10 publicações e posteriormente 5 foram selecionadas para a
discussão dos relatos de caso.

4. DISCUSSÃO

HENRICH et.al, 2018 relatou em seu estudo os achados patológicos de um


canino, fêmea, da raça Yorkshire, com 4 anos de idade, encaminhado ao
Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Cruz Alta para a realização
de necropsia com histórico de morte súbita tendo em seus achados macroscópicos
além da congestão de diversos órgãos, o acentuado colabamento dorso ventral em
toda extensão da traqueia. O tutor relatou não ter observado nenhum sinal clínico,
como afirma alguns atores quando dizem que muitos animais podem permanecer ao
longo da vida assintomático e ir a óbito subitamente. No caso desse estudo, o fator
desencadeante relatado pelo tutor foi o estresse causado durante o banho e tosa no
pet shop.

Na rotina clínica, o uso de imagens e comumente utilizado para o diagnóstico do


colapso de traqueia. CANOLLA & BORGES, 2005 demostraram em seu estudo a
compressão traqueal como método auxiliar no diagnostico radiológico do colapso de
traqueia cervical. Vinte cães com suspeita clínica e vinte cães adultos de diferenças
raças e porte pequeno, sem sinais clínicos respiratórios foram radiografados nas
regiões cervicais e torácicas em projeção lateral com e sem a “pêra de borracha”
levemente pressionada durante a exposição radiográfica. Em todos os cães a
traqueia foi facilmente identificada, nos vinte animais sem sintomatologia clínica,
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mesmo com a aplicação da compressão traqueal não se verificou redução


significativa do diâmetro traqueal. No grupo de animais com suspeita clínica, no
exame radiológico sem a compressão a traqueia se mostrou com certa frequência
leve estreitamento não permitindo o diagnóstico preciso, porém, nos exames
realizados com a compressão, o exame se mostrou positivo para o colapso de
traqueia.

EVANGELHO et. al.,2004 descreve o caso clínico de um cão da raça Dachshund,


fêmea, 2 anos de idade, que teve ocorrência de um caso de colapso traqueal
cervical, e chegou no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul com histórico de dificuldade respiratória, emaciação progressiva, poliúria,
polidipsia, disfagia e tratamentos anteriores sem resultados. Tutor relatou ausência
de tosse e durante o tempo da paciente no hospital esse sinal clínico não foi
observado. No exame clínico revelou que a paciente tinha mucosas hipocoradas,
estertores úmidos bem audíveis a nível da traqueia, dispneia inspiratória sob
agitação e aumento de linfonodo submandibular esquerdo. A avaliação radiológica
feita do tórax e da região cervical mostrou resultados inconclusivos, o animal foi
submetido a anestesia para avaliação da cavidade oral: laringe e traqueia e foi
observado corpo estranho linear aderido ao frênulo da língua e na palpação da
traqueia foi evidenciado um achatamento dorsal da traqueia cervical. Em nova
avaliação radiográfica da traqueia, foi realizado em inspiração máxima e evidenciou
colapso de traqueia cervical dorsoventral. A paciente fez uma cirurgia de correção,
utilizando próteses de seringas recortadas e dispostas em forma de “C” com objetivo
de circuncidar parcialmente a traqueia e evitar o achatamento dorsoventral do
mesmo. 

BUZIN, 2020 em seu relatório de estágio curricular obrigatório descreveu um


caso de colapso de traqueia em um paciente canino, fêmea, da raça Yorkshire
Terrier, quatro anos de idade, pesando 1,8 kg atendido na Clínica Veterinária
Empório de bicho. A queixa principal dos tutores era tosse crônica, cianose,
engasgos e dispneia. No exame clínico a paciente apresentou reflexo de tosse no
teste de compressão traqueal, estando todos os parâmetros vitais dentro da
normalidade. Os tutores relataram que anteriormente, fizeram o uso de condroitina e
colágeno indicados por outra clínica veterinária, porém sem melhora dos sinais
clínicos da paciente. Exames de radiografia de região cervical e de região torácica,
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com teste de compressão traqueal devido à suspeita de colapso traqueal foram


solicitados confirmando o diagnostico (imagem 1).
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Imagem 1: Radiografia evidenciando colabamento de traqueia. Fonte: Clínica Veterinária Simpaticão


(2020). A) Radiografia simples de tórax na projeção lateral direita apresentando oscilação no diâmetro
luminal, sugestivo de colapso traqueal torácico. B) Radiografia simples de cervical com compressão
traqueal, apresentando diminuição no lúmen traqueal sugestivo de colapso traqueal cervical.

Após a confirmação da gravidade do colapso através de broncoscopia, foi indicado o


tratamento cirúrgico tanto para traqueia cervical quanto torácica, para colocação de
próteses extra e intraluminais. Contudo, os tutores optaram pela realização apenas
da traqueoplastia cervical.

CAVALARO et.al., 2011 descreveu o relato de um canino, fêmea, da raça


Yorkshire, de dois anos e seis meses de idade, atendido, no Hospital veterinário do
Cesumar com sinais clínicos sugestivos a colapso de traqueia como dispnéia,
respiração ofegante, engasgo e ruídos durante a respiração, associado a situações
de estresse, visíveis ao exame clinico sendo confirmado o diagnostico no exame
radiográfico. Nesse caso, foi instituído um tratamento de suporte, visando melhorar o
bem-estar do animal, por meio de corticoide e sulfato de condroitina que até a
publicação do artigo teve efeito positivo.

5. CONCLUSÃO
Dos artigos discutidos pode-se observar a predominância de cães de pequeno
porte acometidos pelo colapso de traqueia, o que torna de extrema importância a
correta avaliação clínica e realização dos exames de imagem, assim como o uso de
técnicas auxiliares oferecendo ao animal o tratamento correto para o grau de
colabamento. Quando óbito, a necropsia e histopatologia também se mostram
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importantes a fim de entender a causa mortem assim como entender melhor


patologias que podem acometer animais de forma assintomática e levar ao óbito.

REFERÊNCIAS

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