A acalásia é caracterizada pelo relaxamento parcial ou ausente do esfíncter esofágico
inferior (EEI) e a presença de contrações não peristálticas no corpo esofágico. Apesar de ser considerada doença rara na população geral, com uma prevalência estimada de 7 a 13 casos por 100.000 indivíduos1, é a principal causa de distúrbio de motilidade esofágico. No Brasil, a etiologia mais comum é a doença de Chagas, e estima-se que afete aproximadamente 7% a 10% das pessoas infectadas com Trypanosoma cruzi. 2 Sintomas relacionadas à doença incluem regurgitação e disfagia, causadas por obstrução do fluxo alimentar para o estômago, além de dor retroesternal e perda de peso, pela dificuldade de ingesta alimentar necessária para manutenção nutricional.3
Em 2010, Inoue e colaboradores descreveram a miotomia endoscópica peroral (POEM) como
uma nova modalidade de tratamento minimamente invasivo para acalásia. 4 A POEM combina os benefícios do tratamento endoscópico menos invasivo com a durabilidade da terapia cirúrgica, o que diminui a necessidade de procedimentos a longo prazo. O procedimento consiste em realização de um túnel submucoso do esôfago médio ao estômago proximal, seguido de miotomia total ou parcial do músculo. Ao longo da última década, a POEM demonstrou ser uma alternativa eficaz à miotomia laparoscópica de Heller (LHM) para o tratamento da acalásia, como demonstrado por Yuki B. W. et al, os quais conduziram um ensaio clínico, randomizado, controlado, multicêntrico com 221 pacientes, o qual comparou a realização de POEM e miotomia laparoscópica à Heller, e obteve taxa de sucesso clínico, definido como escore de Eckardt < 3 durante follow-up de 24 meses, de 83% no grupo da POEM vs 81.7% na LHM.5
O procedimento começa com esofagoscopia inicial para estabelecer a localização da Junção
esofagogástrica (JEG). O endoscopista injeta corante azul para a criação do espaço submucoso. A abertura da mucosa é então criada com uma faca de ponta triangular proximal à JGE, dependendo do tipo de acalásia, conforme descrito na Classificação de Chicago. Este túnel submucoso estende-se distalmente até aproximadamente 3 cm na cárdia gástrica. Após a criação do túnel submucoso, a miotomia endoscópica de espessura parcial dos músculos circulares é criada 5 cm distal à abertura inicial da mucosa e se estende até cerca de 3 cm no estômago. O endoscópio é então retirado do túnel submucoso e usado para avaliar o efeito da miotomia. A abertura da mucosa é então fechada com clipes colocados endoscopicamente. Antes de iniciar uma dieta líquida clara, a miotomia é testada pela realização de esofagograma. Normalmente, os pacientes recebem alta no primeiro dia pós-operatório e são instruídos a continuar uma dieta líquida clara durante a primeira semana. 6 REFERÊNCIAS 1. Kahrilas PJ, Bredenoord AJ, Fox M, et al. The Chicago Classification of esophageal motility disorders, v3.0. Neurogastroenterol Motil 2015;27:160-74. 2. Martins-Melo FR. Epidemiologia e distribuição espacial da mortalidade relacionada à doença de Chagas no Brasil, 1999 a 2007. Cad Saúde Colet. 2013;21:105-6. 3. Vaezi MF, Felix VN, Penagini R, Mauro A, de Moura EGH, Pu LZCT, et al. Achalasia: from diagnosis to management. Ann N Y Acad Sci. 2016;1381:34-44. 4. Inoue H, Minami H, Kobayashi Y, Sato Y, Kaga M, Suzuki M, Satodate H, Odaka N, Itoh H, Kudo S. Peroral endoscopic myotomy (POEM) for esophageal achalasia. Endoscopy [Internet] 2010;42:265-71. 5. Yuki B. Werner, M.D. et al. Endoscopic or Surgical Myotomy in Patients with Idiopathic Achalasia. N Engl J Med 2019; 381:2219-2229 6. Antony Delliturri. et al. A Narrative Review of update in per oral endoscopic myotomy (POEM) and endoscopic esophageal surgery. Ann Transl Med 2021;9(10):909