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BOTULISMO: RELATO DE CASO

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DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO

GATROESOPHAGEAL REFLUX DISEASE

ANDERSON RICELLI NUNES GONÇALVES* LUIZ GONZAGA PIMENTA** JOÃO BAPTISTA DE REZENDE NETO***

RESUMO Em 1947, Neuhaser e Berenberg assinalaram episó-


A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) prima pela impor- dios de vômitos em lactentes, conseqüência do relaxa-
tância, incidência e pelas complicações e em todas as idades e mento do esfíncter esofágico inferior. Carre (1952) estu-
ambos os sexos. O êxito terapêutico depende da melhor indi- dou a DRGE em 117 crianças, sendo que 42 delas
cação medicamentosa ou da indispensável intervenção cirúrg i- tinham hérnia esofágica.
ca. O artigo faz uma atualização da epidemiologia, fisiopatolo-
gia, sintomatologia, classificação, propedêutica e terapêutica
Nissen, em 1956, realizou a primeira correção cirúrgi-
da doença. ca da DRGE. A técnica de fundoplicatura em 360 graus
P a l a v r a s - C h a v e : Refluxo Gastroesofágico / diagnóstico; constitui, desde então, uma nova etapa, chamada terapêu-
Refluxo Gastroesofágico / fisiopatologia; Refluxo Gastro- tica cirúrgica, com muita propriedade.
esofágico/terapia.
Em 1963, 1965 e 1967, Toupet, Belsey e Skiner e
Lind, em ordem cronológica, descreveram modificações
INTRODUÇÃO técnicas na fundoplicatura. Surgiram, então, operações
A doença do re f l u xo gastroesofágico (DRGE) é uma das com angulações inferiores a 360 graus.
Na década de 90, as intervenções cirúrgicas em DRGE
afecções mais freqüentes na prática médica, sendo a que
obtiveram notável avanço com o advento da videolaparos-
afeta com prioridade o sistema digestivo alto. É caracteriza-
copia. Dallemangne et al. e We e rts, Jehaes e Geagea, em
da por um fluxo retrógrado de conteúdo gastroduodenal
1991, descreveram técnicas de re p a ro laparoscópico da
para o esôfago terminal e órgãos adjacentes, acarretando um
DRGE, como surpreendente abordagem cirúrgica.
espectro variável de sintomas e sinais esofágicos ou extra-
Cuschieri, Paula e Pinotti, em 1992, apresentaram
esofágicos, associados ou não a lesões teciduais. O tratamen- resultados satisfatórios em reparos cirúrgicos laparoscópi-
to da doença pode ser clínico ou cirúrgico, dependendo da cos de esofagite de refluxo.
evolução e das complicações de cada caso. Apesar dos resultados favoráveis, é conveniente que se
analisem os resultados cirúrgicos em um pós-operatório
TÓPICOS HISTÓRICOS tardio, fato limitado pelo tempo de implantação da lapa-
No século passado, Brigton percebeu a presença de roscopia. Poderão ser, então, conhecidos os riscos poten-
uma hérnia de hiato esofágico em um paciente de 18 ciais de recorrência ou de falhas técnicas da nova aborda-
anos, durante uma necrópsia.1 Tyleston (1906) descre- gem à transição esofagogástrica.
veu úlceras rasas e múltiplas no esôfago distal em dive r-
sos pacientes. * Aluno de Graduação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
** Professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de
O ano de 1935 foi marcado pela descrição da DRGE e Minas Gerais.
*** Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade
sua relação com a redução do tônus do esfíncter inferior do Federal de Minas Gerais – Doutor em Cirurgia.
esôfago. Em menos de uma década, Allison et al (1943) ini- Endereço: Rua Santa Luzia, 326 apto 302, Bairro-
Santa Efigênia-BH-MG Data de submissão: 16/12/03
ciaram uma importante etapa de estudos da DRGE. E-mail: aricelli2002@terra.com.br Data de aprovação: 20/08/04

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EPIDEMIOLOGIA gem única entre os profissionais médicos foi determinan-


A prevalência da DRGE depende, diretamente, da te para tal classificação, que é nacional e favoreceu a abor-
maneira pela qual será feito o diagnóstico. Apresenta dagem terapêutica da afecção da pouco conhecida transi-
grandes variações em apresentação clínica, endoscópica e ção esofagogástrica.
pela pHmetria.
Inusitados resultados estatísticos comprovam que, em FISIOPATOLOGIA
1976, 15% da população norte-americana apresentava A barreira da junção esofagogástrica (JEG) impede
pirose uma vez por mês, 13% uma vez por semana e 7% que haja um refluxo constante do conteúdo gastroduode-
diariamente. Em 1988, 44% da população dos Estados nal para o esôfago. São necessárias ações de quatro com-
Unidos relatou ocorrência de pirose pelo menos uma vez ponentes básicos: integridade do esfíncter inferior do esô-
por mês. Em 1997, a ocorrência semanal de pirose foi
fago; ligamento frenoesofágico; compressão anatômica
notada em 19,8% dos casos.2 No Canadá, 30% da popu-
diafragmática e presença da angulação de His na JEG. O
lação têm episódios de pirose semanal e 4%, diários. Na
conjunto é diretamente responsável pela competência do
Finlândia, os resultados mostram que 30% da população
obstáculo funcional.
a p resenta episódios semanais e 10,3%, diários. Na
Considerava-se o refluxo gastroesofágico (RGE) como
França, especial raridade, a ocorrência de um episódio de
um fenômeno sempre patológico, que ocorria em indiví-
pirose ao ano está presente em cerca de 27,1% da popu-
duos com hérnia hiatal por deslizamento em conseqüên-
lação. Os países orientais são caracterizados por apresen-
cia de uma redução persistente do tônus do esfíncter infe-
tarem baixa cifra de pirose. (Índia-7,5%, Malásia-3%,
China-0,8%). Estes dados estatísticos sugerem uma parti- rior do esôfago (EIE). Hoje, a hérnia hiatal é ainda uma
cipação de fatores alimentares, ambientais, culturais e condição freqüentemente associada a DRGE e existe, cer-
étnicos na gênese da pirose. tamente, uma relação causal entre ambas, mas a diminui-
Quando o critério de diagnóstico é a endoscopia alta, ção da pressão do EIE não é mais considerada fator prin-
observamos que cerca de 3 a 4% da população geral é víti- cipal do RGE. Desde a década de 80 do século passado, a
ma de DRGE. Quarenta a 60% dos pacientes sintomáti- investigação simultânea da motilidade e pH esofágico
cos apresentam alterações à endoscopia. trouxeram avanços significativos ao estudo da fisiopatolo-
A afecção acomete em proporções semelhantes ambos gia da DRGE. Surgiram duas observações importantes, a
os gêneros, embora as complicações sejam mais freqüen- primeira foi a demonstração do refluxo fisiológico e a
tes no masculino. Idade superior a 45 anos constitui fator segunda, o relaxamento transitório do esfíncter inferior
de alto risco. A doença se relaciona, ainda, com fatores do esôfago (RTEIE).
genéticos, obesidade (IMC >30) e infecção por Muitos pacientes com DRGE têm episódios de reflu-
Helicobacter pylori.3 xo não apenas dependentes do RTEIE. Tais pacientes
Pacientes com DRGE dos mais variáveis graus de sin- representam um grupo no qual predomina o relaxamento
tomas e sinais apresentam piora na qualidade de vida.4 O do EIE induzido pela deglutição, inspiração profunda ou
uso de fármacos específicos melhora em 50% o estilo de aumento da pressão intra-abdominal. Dor insuportável,
vida dos mesmos. Uma variação nos graus de refluxo pode com características de azia, é provocada pelos fenômenos
ser observada de acordo com o ritmo circadiano, sendo de pirose e regurgitação.
que, no meio da tarde e no início da noite, os episódios Causas do RTEIE não estão bem elucidadas, existindo
de refluxo são preponderantes.5 evidências de que mecanorreceptores gástricos estimulados
A grande diferença entre os métodos de diagnóstico podem deflagrar o RGE. Ou t ro possível mecanismo envol-
acarreta uma ausência de classificação formal para a vido na gênese do RGE é o estímulo alimentar ou líquido
DRGE. O primeiro consenso brasileiro da DRGE, publi- à faringe. Verificou-se, na década de 60 do século passado,
cado em 2000, elaborou uma classificação baseada em que a atropina reduz significativamente os RTEIE. Tem-
sintomatologia, endoscopia e phmetria para a doença. se observado que fármacos antagonistas da colecistocini-
(Tabela 1) A necessidade de manutenção de uma lingua- na e óxido nítrico inibem a deflagração do RTEIE.

Tabela 1 - Classificação SEP para DRGE, segundo o Consenso Br a s i l e i ro da DRGE

Grau X 0 1 2 3
Sintomas - Assintomático Manifestações esofágicas Manifestações extra-esofágicas Manifestações esofágicas e extra
Endoscopia Não feita Normal Esofagite erosiva Esofagite e complicações -
Phmetria Não feita Normal Normal e índice de Refluxo patológico -
sintomas positivos

Fonte: SAME/PSM-JF

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SINTOMATOLOGIA A história clínica orienta a origem da afecção esofági-


As manifestações clínicas são marcadas pela pre s e n ç a ca. A intensidade e a freqüência dos sintomas e sinais são
de pirose, que ocorre, no mínimo, duas vezes por sema- informações que devem ser avaliadas, visto que podem
na. Nos critérios semiológicos do consenso brasileiro, a predizer, com precisão, não só a presença, como também
pirose deve apresentar história típica de, no mínimo, as prováveis complicações da DRGE. Torna-se indispen-
q u a t ro a oito semanas. É a pirose uma queimação sável o diagnóstico diferencial com a acalasia da doença
re t roesternal que não se irradia para o dorso, sendo de Chagas, dor da coronariopatia, úlcera péptica duode-
caracterizada como sintoma mais comum e característi- nal perfurada, distúrbios da motilidade esofágica e os car-
co da DRGE. Surge, comumente, após refeições copio- cinomas esofágicos. Infelizmente, o exame físico do esôfa-
sas e gord u rosas, sendo agravada pelo decúbito imedia- go é acessível apenas em seu trajeto cervical, limitando a
to. Ge n e rosa ingestão de água e, principalmente, antiá- abordagem ambulatorial.
cidos aliviam sintomas. A regurgitação indica evo l u ç ã o Na possibilidade de doença avançada, observações
da doença. O alimento refluído é misturado à secre ç ã o especiais identificam a origem do re f l u xo. A ingestão
cloridopéptica, sendo comum em pacientes com dive rtí- copiosa de água durante as refeições, ou mesmo durante
culos esofágicos e acalasia. A disfagia, primeira compli- uma consulta médica, oferece sinais de re f l u xo ou obstru-
cação da DRGE, surge pro g re s s i vamente com a ingestão ção orgânica. A posição sentada reclinada para frente e a
de alimentos sólidos, pastosos e líquidos. Na presença de insuflação pulmonar com a capacidade quase que vital é
sintomas extra-esofágicos, especial atenção deve ser dada uma tentativa de manter o diafragma achatado, com diâ-
no intuito de se pensar em associações de afecções no metro ântero-posterior do hiato estreitado e conseqüente
andar superior do abdome. A freqüência dos sintomas elevação do esfíncter esofágico inferior e diminuição do
extra-esofágicos descritos em 1.000 indivíduos com refluxo patológico. O exame físico é útil na suspeita de car-
DRGE, na Un i versidade de Washington, está ilustrada cinomas esofágicos e gástricos, importantes no diagnósti-
a b a i xo. (Tabela 2)7. co diferencial com DRGE. Inspecção e palpação de linfo-
O consenso brasileiro da DRGE caracterizou manifes- nodos supraclaviculares são sinais de mau prognóstico.
tações atípicas da DRGE (Tabela 3). A esofagogastroduodenoscopia possui alta sensibilida-
de e expressiva especificidade, quando se trata de análise
Tabela 2 - Freqüência da sintomatologia
de pacientes com DRGE na presença de erosões, úlceras
Sintomas Incidência ou esôfago de Barrett, decorrentes da agressão esofágica.
Pirose 80 % A estenose péptica constitui achado de grande importân-
Regurgitação 54 % cia. As classificações endoscópicas de Savary-Miller e de
Dor Abdominal 29 %
Los Angeles são instrumentos importantes para o diag-
Tosse 27 %
Disfagia para sólidos 23 % nóstico da DRGE (Tabelas 4 e 5). Ausência de alterações
Rouquidão 21 % endoscópicas não exclui o diagnóstico de DRGE. Em
Eructação 15 %
cerca de 25%-40% dos pacientes sintomáticos, o exame
Timpanismo 15 %
Aspiração 14 % endoscópico é normal. O achado de uma hérnia de hiato
Sibilos 7% não implica, necessariamente, a presença de DRGE. É
Bolo 4%
conveniente que um mesmo endoscopista avalie a evolu-
ção da afecção, pois exames realizados por profissionais
diferentes podem ser divergentes.
Tabela 3 - Manifestações atípicas da DRGE A realização de biópsias endoscópicas, exame cintilográ-
Manifestação Ti p o fico, phmétrico e manométrico tem indicações específicas.
Esofágica Dor torácica retroesternal não-cardíaca Tabela 4 - Classificação endoscópica de Savary-Miller
Pulmonar Asma, tosse, hemoptise, bronquite,
bronquiectasia, pneumonias Grau Achado
Otorinolanringológica Rouquidão, pigarro, laringite, sinusite crônica,
0 Normal
otalgia
1 Uma ou mais erosões lineares ou ovaladas em uma única
Oral Desgaste do esmalte dentário, halitose, aftas
prega longitudinal.
2 Várias erosões situadas em mais de uma prega, confluentes
ou não, mas que não ocupam toda confluência do órgão.
PROPEDÊUTICA 3 Erosões confluentes que se estendem por toda a circunfe-
rência do órgão.
O diagnóstico, quase sempre clínico, é confirmado 4 Lesões crônicas, úlceras e estenose isoladas ou associadas
por meio de exames complementares, destacando-se ao grau 1 ou 3.
5 Epitélio colunar em continuidade com a linha z, associado
endoscopia, cintilografia, manometria, phmetria e ou não a lesões de 1 a 4
teste terapêutico.

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Tabela 5 - Classificação endoscópica de Los Angeles TERAPÊUTICA

Grau Achado O tratamento objetiva o alívio dos sintomas, cicatriza-


A Uma ou mais erosões menores que 5mm ção das lesões, prevenção das recidivas e complicações.
B Uma ou mais erosões maiores que 5 mm em sua maior Cerca de 10% dos pacientes com DRGE procuram trata-
extensão, não contínuas, entre os ápices das duas pregas mento médico. O tratamento clínico baseia-se em dois
esofágicas
C Erosões contínuas entre os ápices de, pelo menos, duas
pilares fundamentais. O primeiro é caracterizado pela
pregas, envolvendo menos de 75% do órgão adoção de medidas comportamentais como a elevação da
D Erosões ocupando, pelo menos, 75% do órgão cabeceira da cama em 15 centímetros; moderação de
ingesta de alimentos gordurosos, cítricos, alcoólicos, gaso-
sos, a base de chocolate e cafeína; cuidados com fármacos
O controle ambulatorial da phmetria por 24h é o
anticolinérgicos e bloqueadores do canal de cálcio; evitar
melhor exame para caracterização do RGE com manifes-
deitar duas horas após as refeições; suspensão do fumo e
tações atípicas. O estudo é feito com a introdução de um
redução do peso corpóreo. O segundo consiste em terapia
cateter nasal contendo três eletrodos espaçados de 5 a 10
farmacológica baseada no uso de agentes antiácidos ou
centímetros, que detecta variações de pH de 2 a 7, apre- alcalinos, bloqueadores de receptores H2 da histamina,
sentando, portanto, um valor limitado aos casos de reflu- inibidores da bomba de prótons e procinéticos.
xo duodenal. Os eletrodos são conectados a um gravador A identificação endoscópica de esofagite indica a utili-
de dados que o paciente utiliza durante o período de zação de inibidores de bomba de prótons ou bloqueadores
observação, a ocorrência de pirose e regurgitação requer dos receptores H2 da histamina como segunda escolha,
anotação em agenda para posterior comparação de dados. por razões financeiras. Não se considera o uso de prociné-
No esôfago proximal, a exposição ao ácido deve ocorrer ticos concomitantemente aos inibidores de bomba de pró-
em menos de 1% do tempo; no esôfago distal, em menos tons. A terapia farmacológica deve durar cerca de seis
de 4%. Percentuais mais elevados são bastante sugestivos semanas, sendo que, em doze semanas, deverá ser feita uma
de refluxo patológico. reavaliação endoscópica do paciente. Cerca de 80% dos
O teste terapêutico, outra modalidade diagnóstica, pacientes com melhoras endoscópicas mostram uma re c i-
pode ser utilizado em pacientes abaixo de 40 anos de diva seis meses após o término da terapia farmacológica.
idade que apresentam manifestações típicas da DRGE O tratamento cirúrgico depende do resultado do tra-
com freqüência inferior a duas vezes por semana e histó- tamento clínico e das complicações. Em pacientes subme-
ria clínica não superior a quatro semanas. Administram- tidos a tratamento clínico bem orientado, com resultados
se inibidores da bomba prótons, em dose plena, junta- insatisfatórios, a intervenção cirúrgica deve ser considera-
mente com medidas comportamentais. Resposta satisfa- da. O êxito do tratamento depende da melhor indicação,
tória permite inferir o diagnóstico de DRGE. momento oportuno e técnica operatória.
A fundoplicatura total de Nissen é a mais comumente
COMPLICAÇÕES utilizada, a qual é freqüentemente realizada por via laparos-
cópica.9,10 As contra-indicações baseiam-se em distúrbios da
A DRGE apresenta complicações que podem requerer motilidade à manometria e maior risco cirúrgico, com peri-
tratamento cirúrgico. go de óbito. No entanto, hipocontratilidade do esôfago
A primeira é representada pelo esôfago de Barrett, inferior e hipotonia do EIE, com pressão inferior a
afecção potencialmente maligna, mais comum em 5mmHg, geralmente requerem tratamento cirúrgico.
homens e presente em cerca de 20% dos casos. Esta,
quando apresentar displasia epitelial de alto grau, requer RECORRÊNCIA
esofagectomia devido à alta prevalência de adenocarcino-
ma (43%)8. A segunda é o sangramento que, caso não res- A recorrência de sintomas após fundoplicatura parcial
ponda à reposição volêmica, obriga uma intervenção ou total pode ocorrer em qualquer período da evolução
cirúrgica baseada na evolução do paciente. A terceira é a pós-operatória. Além dos sintomas específicos, surge,
perfuração esofágica livre, que compromete o mediastino quase sempre, disfagia. Este resultado exige freqüente-
mente re-operação ou tentativas de dilatação endoscópi-
ou região subdiafragmática, exigindo cirurgia de urgên-
ca. A incidência de disfagia pós-operatória é bastante
cia. A última é a complicação crônica e estenosante, carac-
variada, dependendo dos critérios diagnósticos utilizados
terizada por obstáculo orgânico à transição esofagogástri-
(5% a 30% dos casos).
ca, estando presente em, aproximadamente, 10% dos
pacientes com DRGE e requer, na grande maioria dos
CONSIDERAÇÕES FINAIS
pacientes, uma intervenção dilatadora, endoscópica,
videolaparoscópica ou mesmo a céu aberto. A experiência O paciente exige bons resultados qualquer que seja o
da equipe médica constitui atitude obrigatória. tratamento: medicamentoso ou cirúrgico. Pacientes com

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idade avançada merecem especial atenção. O médico REFERÊNCIAS


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certamente, um dia o encontraremos...O destino jamais
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