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Artigo
Alessandra Thompson1
Resumo
Desde que a ventilação mecânica foi difundida após a epidemia de poliomielite até os dias atuais com o
avanço das estratégias diagnósticas e terapêuticas, houve significativo aumento na sobrevida dos pacientes critica-
mente enfermos. Este subgrupo de sobreviventes encontra-se em um estado cronicamente crítico e dentre outras
disfunções e terapias de suporte, caracteriza-se pela necessidade de ventilação mecânica prolongada. Paralelo a
este fato, o envelhecimento populacional eleva a chance de internações hospitalares com necessidade de assistên-
cia ventilatória invasiva.
Nos dias de hoje, a ventilação mecânica domiciliar é uma realidade e tornou-se uma opção viável para pa-
cientes com insuficiência respiratória crônica, também estimulada pelo crescimento da utilização de ventilação não
invasiva com pressão positiva, o reconhecimento de diferentes tipos de pacientes que podem se beneficiar desta
técnica e redução dos custos hospitalares através da desospitalização.
Atualmente possuímos diversos tipos e modelos de ventiladores exclusivos para ventilação mecânica domici-
liar, assim como interfaces e a escolha do dispositivo ideal para cada paciente pode ser uma tarefa árdua. Porém não
pode ser esquecido que o objetivo principal da utilização da ventilação domiciliar deve ser o controle dos sintomas
decorrentes da doença do paciente e consequente melhora da qualidade de vida.
Palavras-chave: Ventilação mecânica prolongada; doente cronicamente crítico; ventilação mecânica domi-
ciliar
Abstract
Since mechanical ventilation was widespread after the polio epidemic to the present day with the advance-
ment of diagnostic and therapeutic strategies, a significant increase in survival of critically ill patients. This subgroup
of survivors is in a critical state and chronically various etiologies and therapies support, characterized by the need
for prolonged mechanical ventilation. Parallel to this fact, population aging increases the chance of hospitalizations
requiring invasive mechanical ventilation.
Today, home mechanical ventilation is a reality and has become a viable option for patients with chronic
respiratory insufficiency, also encouraged by the increasing use of noninvasive positive pressure ventilation, re-
cognition of different types of patients who may benefit from this technique and reduced hospital costs through
deinstitutionalization.
We currently have various types and models of home mechanical ventilatiors, as well as interfaces and choo-
sing the right device for each patient can be a chore. But it can not be forgotten that the main purpose of using
home ventilation is to control the symptoms of the patient’s illness and consequent improvement in quality of life.
Key words: Prolonged mechanical ventilation; cronically critically illness; home mechanical ventilation
1. Rotina Médica UTI Ventilatória / Suporte Ventilatório – Hospital Copa D’Or/RJ - Supervisora da Pós Graduação de Medicina Intensiva do Hospital Copa
D’Or/RJ - Especialista em Medicina Intensiva – TE AMIB
Endereço para correspondência: Rua Figueiredo de Magalhães, 875 - Copacabana, Rio de Janeiro - RJ, 22031-011
Email: alefthompson@gmail.com
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alcançada durante a fase inspiratória independente da ciente e da eficiência da ventilação. O principal problema
mecânica pulmonar do paciente, por interface na venti- com a utilização da máscara nasal é a presença de vaza-
lação não invasiva, ou através de via aérea artificial na mento oral que pode levar a ressecamento e irritação da
ventilação invasiva. via aérea com períodos de hipoventilação e assincronia24.
O ciclo respiratório também pode ser dividido em A utilização de humidificadores e máscaras faciais totais
quatro fases: disparo, fase inspiratória, ciclagem (passa- diminuem esta ocorrência25.
gem da fase inspiratória para expiratória) e fase expirató- A traqueostomia é reservada para pacientes com
ria. Em cada fase, uma variável é medida e utilizada para disfunção pulmonar avançada ou disfunção da muscula-
mudar de uma fase para a outra. Podemos concluir então tura ventilatória. Para uso domiciliar ela deve estar epi-
que não existe receita de bolo para iniciar a ventilação telizada com pertuito definitivo. A escolha do dispositivo
assistida domiciliar. O melhor ventilador e modo ventila- ideal dependerá de algumas características do paciente
tório que deve ser escolhido é aquele em que o médico como anatomia da traqueia, distúrbios de deglutição as-
assistente tem conhecimento técnico e que seja confortá- sociados ou possibilidade de fonação durante os períodos
vel para o paciente. Podemos ventilar qualquer paciente de ventilação espontânea. Pacientes obesos podem ne-
com praticamente qualquer modo ventilatório desde que cessitar de cânulas longas e ajustáveis, pacientes com
saibamos ajustar os parâmetros ventilatórios de maneira deformidades na traqueia de cânulas aramadas ou cânu-
adequada e individualizada. Por exemplo, pacientes com las com subcânulas fenestradas para os que apresentam
doenças obstrutivas podem ter ciclagem tardia e necessi- capacidade de fonação. Complicações como infecção do
dade de altos fluxos inspiratórios. A diminuição do tempo óstio, granulomas, traqueomalácea e estenose de tra-
inspiratório e/ou a aceleração da rampa podem aumen- queia são possíveis com o passar do tempo.
tar a sincronia e conforto durante a ventilação mecânica.
Em pacientes restritivos, como os portadores de defor- Humidificação
midades da caixa torácica, a ciclagem prematura pode Humidificadores podem ser ativos ou passivos e
ser solucionada com a desaceleração da rampa e/ou au- devem ser sempre utilizados em pacientes ventilados no
mento do tempo inspiratório. Para pacientes em uso de período noturno e/ou em ventilação invasiva. A ventilação
ventilação não invasiva, a utilização do modo pressão de não invasiva fornece ar em fluxos mais altos do que o da
suporte é bem tolerada e apresenta poucos parâmetros respiração espontânea, e isto pode comprometer a habi-
para serem ajustados. A ventilação com volume contro- lidade do paciente em aquecer e humidificar o ar inspira-
lada normalmente é preferida para pacientes traqueosto- do26. A humidificação aquecida é importante em pacientes
mizados que hipoventilam, como portadores de doenças secretivos, em uso de oxigenioterapia ou referindo sinto-
neuromusculares. Outro tópico importante é a presença mas nas vias aéreas superiores.
de bateria interna ou externa. Em pacientes totalmente
dependentes de ventilação invasiva domiciliar, por exem- Conclusão
plo, é necessário um ventilador com bateria interna. Pacientes em VMP estão crescendo em número e
Os ventiladores domiciliares estão cada vez mais complexidade e apesar dos avanços tecnológicos grande
sofisticados, controlados a fluxo e pressão, com sistemas parte dos que sobrevivem sofrem significativa disfunção
de retroalimentação, permitindo a combinação de modos funcional e dependência de terapias de suporte. A venti-
e proporcionando maior sincronia e conforto ao paciente. lação mecânica domiciliar faz cada vez mais parte da re-
alidade e tornou-se uma opção viável para pacientes com
Circuitos insuficiência respiratória crônica, sendo possível alcançar
Existem três tipos de circuitos: circuito único níveis adequados de qualidade de vida desde que sejam
com orifício de vazamento para escape de CO2 (utiliza- utilizados equipamentos e equipe de saúde especializada
dos em aparelhos de BIPAP), circuito único com válvula e o paciente e seus familiares estejam cientes de suas
e circuito duplo com válvula (permite a monitorização do limitações.
volume expirado). É recomendado que o orifício de vaza-
mento esteja o mais próximo possível do paciente e even-
tuais modificações23 podem alterar a ventilação levando
ao acúmulo de CO2.
Interfaces
A máscara nasal continua sendo a interface mais
utilizada na ventilação não invasiva domiciliar, porém exis-
tem outras possibilidades como máscara oronasal, facial
total e bocal. A escolha dependerá da tolerância do pa-
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