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MANEJO DA DOR EM

CÃES E GATOS
DRA THAISSA C. DENTELLO
MÉDICA VETERINÁRIA
CRMV-RR: 288
Durante muitas décadas a dor foi considerada uma parte essencial do processo de
cura, era uma consequência "natural" de diferentes doenças e situações. Era como se a
dor tivesse que ser tolerada para o processo de "cura". 
Esse conceito permaneceu no pensamento das pessoas durante os muitos milênios de
existência do homem moderno, fazendo com que a presença da dor ou a necessidade
de seu tratamento fossem pouco valorizadas. 
Os animais foram ainda mais vitimados por conceitos arcaicos, pois muitos acreditavam
que os animais não experimentavam a dor à semelhança do homem. Entre as várias
razões desta diferença, acreditava-se que os animais não possuíam os mesmos
atributos fisiológicos capazes de gerar as sensações dolorosas. 
Além disso, era enraizado entre nós, médicos veterinários, que os animais deveriam
permanecer com dor pois se movimentariam menos, contribuindo para uma melhor
cicatrização e reparação cirúrgica. 
Felizmente estes conceitos foram esquecidos frente as várias evidências científicas que
comprovaram que os animais são totalmente aptos para experimentar a dor e assim
como os seres humanos beneficiam-se de tratamento analgésico. 
O QUE É DOR?

A dor é uma sensação desagradável sentida quando um tecido é


machucado, provoca a excitação de alguns receptores que podem
estar na pele, nos musculos e nos orgãos internos. A dor é resultado
de uma mensagem nervosa transmitida ao cérebro pelos nervos
periféricos através da medula espinhal.
TIPOS DE DOR

• A dor pode ser dividida e classificada de várias formas: 


em relação à sua duração (aguda/crônica) 
em relação à sua origem anatômica (nociceptiva/neuropática)
em relação à sua severidade
(leve/moderada/severa/intolerável) 
• DOR AGUDA 
A dor aguda surge após um evento traumático, cirúrgico, inflamatório ou
infecioso, tendo um início rápido e existindo durante um período
limitado de tempo, normalmente 3 meses, até a lesão em causa
ser curada. 

Faz parte do sistema de proteção do organismo do animal funcionando


como um sinal de alerta. Este tipo de dor leva à ativação do sistema
nervoso simpático resultando assim em quadros de ansiedade,
taquicardia, taquipnéia, aumento da pressão arterial, entre outros.
• DOR CRÔNICA 
• Trata se da dor que persiste para além dos 3 meses ou da dor associada a
doenças crônicas que não podem ser curadas, como por exemplo, o
cancêr de carater maligno. 
• Aparentemente este tipo de dor não parece ter qualquer função exceto a
minimização de futuros traumas numa zona lesionada, sendo muito difícil
de diagnosticar tanto em cão como em gato. 
• Não provoca tantas mudanças fisiológicas como a dor aguda no entanto,
pode levar a casos de depressão, anorexia , letargia, entre outros 
• DOR NEUROPÁTICA 
É uma dor provocada por uma lesão/disfunção a nível do Sistema Nervoso
Periférico (lesões por avulsão das raízes/plexos nervosos) ou do Sistema Nervoso
Central (patologias).
Normalmente o animal desenvolve uma hiper-reatividade a estímulos,
apresentando hiperalgesia (resposta aumentada a um estímulo nocivo e/ou
alodinia (dor em resposta a um estimulo não nocivo.
O animal vai desenvolver certos comportamentos tais como lamber ou coçar o
local repetidas vezes ao dia ou chorar espontaneamente. 
GRAUS DE DOR PREVISTOS DE ACORDO COM
PROCEDIMENTOS REALIZADOS OU DOENÇA
COMO RECONHECER E ABORDAR A DOR -
AGUDA
Nos gatos, o medo e o stress em ambiente hospitalar modificam os parâmetros fisiológicos
(constantes vitais, valores de cortisol por ex)  que, apesar de importantes e associados a dor
aguda no gato, podem induzir a erros e não deverão ser um método exclusivo para fazer
um diagnóstico de dor. 
As modificações comportamentais no gato podem ser sutis. O animal deve ser observado
primeiramente à distância e só depois, se possível, proceder à aproximação com
manipulação mínima para palpação da área dolorosa.  
Exemplos de sinais comportamentais a que devemos estar atentos são: vocalização
reduzida, aumento do ronronar, diminuição da atividade e curiosidade, imobilidade (pode
estar contraído/firme), adoção de posições anormais que refletem desconforto e proteção
da área lesada, possível agressividade no ato de manipulação, diminuição do "banho" 
(lambedura excessiva numa área restrita), diminuição do apetite, alterações nos padrões de
sono, entre outros. 
Nos cães, tal como no gato, medições de frequência cardíaca, pressão
arterial e níveis plasmáticos de cortisol e catecolaminas não são
fidedignos (stress, medo e fármacos). Assim, a avaliação da dor no cão
é também subjetiva e baseada em expressões comportamentais de
dor.  
Os sinais comportamentais a que devemos estar atentos no cão são:
vocalização aumentada, mutilação/”lambedura” constante numa área,
menor interação com o tutor, alterações
no comportamento/personalidade (agitação ou depressão), postura
corporal alterada (posição baixa, relutância a certos movimentos),
perda de peso, entre outros. 
RECONHECIMENTO DA DOR - CRÔNICA

As alterações comportamentais associadas com dor crônica podem ser bastante sutis e ter
um desenvolvimento gradual, que as torna mais facilmente detectáveis pelo tutor em
ambiente familiar.
Alterações na alimentação e execução de atividades (como por exemplo, subir para áreas
superiores ou utilização da caixa de areia) e o menor grau de sociabilidade, vitalidade e
mobilidade (desconforto, rigidez, claudicação, tolerância ao exercício e fluidez nos
movimentos), stress e temperamento são algumas alterações possíveis de observar. 
Assim sendo, a observação feita em casa por parte do tutor pode proporcionar pistas úteis
ao médico veterinário, constituindo uma importante base para a avaliação da dor crônica.  
COMO AVALIAR A DOR ?
Na literatura estão disponíveis vários instrumentos que nos permitem graduar a
dor mais acuradamente tornando a escolha de fármacos, doses e associações
analgésicas menos empíricas.
Há escalas subjetivas como a escala numérica verbal e a EVA na qual o veterinário com os
relatos do tutor atribui uma nota de 0 a 10 para o animal sendo o zero a ausência de dor e
10 a pior dor possível simplesmente observando seu comportamento. 
Porém não são tão eficazes como a da Universidade de Glasgow e a do Colorado
Escala curta de Glasgow
para avaliação de dor
aguda pós-operatória em
cães.
Escala da Universidade do Colorado proposta para avaliação da dor aguda em cães, com escore de zero a
quatro (adaptada de HELLYER et al., 2007).
Escala da Universidade do Colorado proposta para avaliação da dor aguda em gatos, com escore de zero a
quatro (adaptada de HELLYER et al., 2007)
Escala da
Universidade de
Helsinque para
avaliar a dor em
cães com
osteoartrite
Escala de
qualidade de
vida em cães
com câncer
ESCADA DE TRATAMENTO PARA DOR

LEVE                                      MODERADA                           INTENSA                          TORTURANTE


TRATAMENTO DOR AGUDA

Uma vez avaliada a intensidade e o tipo de dor, procede-se o tratamento, a base do


tratamento farmacológico da dor aguda são os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), os
opioides e os anestésicos locais.
Em todos os procedimentos cirúrgicos, por princípio, deveria-se realizar bloqueios
anestésicos, pois assim impede-se a nocicepção na sua origem e minimiza-se ou elimina-se a
possibilidade de ocorrer dor neuropática pós-operatória.
Deve-se também utilizar AINEs antes da cirurgia, para garantir uma anestesia preventiva ou
protetiva, a não ser em casos em que esta classe de fármacos seja contraindicada.
Já os opioides também devem ser empregados no pré e/ou no trans e pós-operatório. 
TRATAMENTO DOR CRÔNICA
Para tratar a dor crônica, além de todas as opções anteriormente citadas para tratar a
dor aguda, embora haja poucas evidências científicas, os fármacos mais indicados são
em ordem de eficácia a gabapentina, a amantadina e a amitriptilina.
A gabapentina é um gabaérgico que aumenta a síntese e reduz a degradação do
GABA, bloqueia os canais de cálcio pré-sinápticos, o que reduz a liberação de
neurotransmissores excitatórios e ainda atua como antagonista de NMDA, este último
efeito compartilhado pela amantadina.
Já a amitriptilina e outros antidepressivos tricíclicos diminuem a recaptação de
serotonina e noradrenalina, por este motivo, evita-se associar com o tramadol. Como
efeitos adversos, estes fármacos podem causar sedação e ganho de peso no caso da
amitriptilina e gabapentina e ataxia no caso da gabapentina.
CONCLUSÕES
O IMPORTANTE É SE TER EM MENTE QUE O PROTOCOLO
DE ANALGESIA DEVERÁ SER AJUSTADO DE ACORDO COM
A EVOLUÇÃO DA DOENÇA. ASSIM SENDO, NOS QUADROS
DE DOR AGUDA, GERALMENTE HAVERÁ DIMINUIÇÃO DE
SUA INTENSIDADE À MEDIDA QUE A LESÃO
INFLAMATÓRIA VAI SE DIMINUINDO, AO PASSO QUE NO
CASO DE DOR CRÔNICA QUE ADVÉM DE UMA DOENÇA
QUE TENDE A SE AGRAVAR, A DOR PODERÁ PIORAR.

POR ESTAS RAZÕES É NECESSÁRIO ACOMPANHAR O


TRATAMENTO COM AVALIAÇÕES FREQUENTES DO ESTADO
DE SAÚDE DE CADA PACIENTE E AVALIAR AS RESPOSTAS À
DOR CONTINUAMENTE.
OBRIGADA

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