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Aspectos farmacológicos dos opioides | Colunistas


Acervo Comunidade Sanar 03/08/2021

Índice

Os opioides são medicamentos analgésicos, que, apesar da sua alta eficácia, devem ser
cuidadosamente prescritos. A sua indicação principal é para o controle da dor moderada e grave. Por
isso, é importante o conhecimento da farmacologia das drogas derivadas do ópio, visto que o
manejo insuficiente da dor causa prejuízos em relação ao sono, funções cognitivas e em toda a
qualidade de vida do paciente.

Mecanismo de Ação
A maioria dos opioides age pelo mesmo mecanismo de ação, a única exceção é o Tramadol (descrito
logo adiante no texto).

Esse mecanismo consiste, basicamente, na ativação de receptores localizados no Sistema Nervoso


Central (SNC): Mu – principal responsável pela ação analgésica -, Kappa e Delta. Esses receptores são
acoplados à proteína G inibitória, que irá inibir a enzima adenilato ciclase e, por consequência,
diminuirá a quantidade intracelular disponível de 3′,5′-monofosfato cíclico (AMPc). A redução do
AMPc será a responsável por afetar significativamente a função celular do neurônio, pois causará
abertura de canais de potássio, o que, por sua vez, irá hiperpolarizar os neurônios, deixando-os
“inativos”. O efeito disso é a redução de sinapses e é isso o que paralisa a passagem de informações
referente à dor.

Ressalta-se, ainda, que os opioides atuam em várias funções fisiológicas, como na modulação do
Trato Gastrointestinal (TGI), no sistema endócrino e na aprendizagem e memória. Os fármacos
derivados do ópio atuam também no sistema de recompensa do SNC, causando euforia; uma vez
que liberam dopamina no núcleo accumbens, inibindo a secreção de ácido gama-aminobutílico
(GABA) pelos neurônios da área tegmentar ventral.
Efeitos adversos
Quando se fala de opioides, os principais efeitos adversos que logo vem à mente são: Euforia,
depressão respiratória e constipação. Tais efeitos adversos são responsáveis pela resistência a sua
prescrição e, além destes já citados, ainda podemos citar: A Hiperalgesia Induzida por Opioides (HIO),
que ocorre principalmente na dor crônica não maligna, e a tolerância medicamentosa, que pode
resultar em dependência física e abstinência.

Medo na hora da prescrição


Existem vários motivos que dificultam a prescrição dos opioides, seja pelo receio dos médicos ou
pela resistência dos pacientes em receber essa medicação devido ao medo do vício. Da parte dos
médicos, os motivos principais são: receio de causar uma iatrogenia médica, medo de induzir o
paciente ao vício, dificuldade de obtenção do receituário “Tipo A”, a falta de conhecimento
farmacológico e a falta de preparo médico para lidar com a dor dos pacientes paliativos.

Principais Representantes
Os principais opioides utilizados são: Morfina, Codeína, Tramadol, Meperidina, Metadona e Fentanil:

Morfina
A morfina é um opioide de intensidade moderada, usado para o manejo da dor aguda ou crônica,
sendo bastante utilizada em pacientes com dor moderada a grave. É um medicamento que possui
rápida absorção por via oral, é de metabolização hepática, excreção renal e possui rápida liberação,
com início da sua ação em 30 minutos e duração de 4 horas.

Codeína
A codeína é um opioide fraco, que possui menor tendência em causar tolerância em relação aos
principais opioides. Ela é considerada um pró-fármaco clássico, pois aumenta a biodisponibilidade e
diminui a toxicidade. A sua administração geralmente é por via oral e sua metabolização é hepática,
de forma que parte dos seus metabólitos são convertidos em morfina pelo fígado.

Tramadol
Como dito anteriormente, o Tramadol possui um mecanismo de ação próprio, pois possui pouca
afinidade com os receptores Mu. Resumidamente, o seu mecanismo consiste na inibição da
recaptação de noradrenalina e serotonina na via descendente da dor. A sua administração geralmente
é por via oral, intravenosa ou supositório retal, sendo indicado para dores moderadas.

Meperidina
A meperidina é um opioide sintético, que possui efeito analgésico, ação espasmolítica e anti-
histamínica suave. Ela é administrada por via intramuscular, mas também pode ser administrada
por via oral. Ela é de metabolização hepática e excreção renal, possui curta duração e pode causar
dependência precoce. Por isso, é utilizada em dor aguda, mas dá-se preferência a outras drogas para
o manejo da dor crônica.

Metadona
A metadona é um opioide lipossolúvel, ou seja, é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica.
Comumente, é administrada por via oral, sendo bem absorvida e tendo longo tempo de meia vida. Em
comparação à morfina, a metadona possui maior biodisponibilidade, maior meia vida, maior ligação
plasmática e sofre menos influência por disfunção renal, entretanto, sofre maior influência pela
disfunção hepática. O seu efeito analgésico dura de 6 a 8 horas, é 10 vezes mais potente que a
morfina e produz menos náuseas, constipação e sedação.

Fentanil
O fentanil é um opioide de curta duração, com potência analgésica de 80 a 100 vezes maior que a
morfina. As suas principais vantagens são o seu início rápido de ação (devido a sua alta
lipossolubilidade) e a não produção de metabólitos ativos. Geralmente, ele é administrado por via
intravenosa, intramuscular ou subcutânea.

Antídoto
A naloxona (Brasil) é um antagonista dos receptores de opioides de curta duração. Ela é administrada
por via intravenosa, intramuscular ou subcutânea. A sua principal indicação são os casos de
intoxicação por opioides, seja os casos conhecidos ou suspeitos de sobredosagem dos
medicamentos derivados do ópio. Normalmente, o efeito esperado é a reversão do quadro de
depressão respiratória, constipação e euforia.

Conclusão
Torna-se necessário que os médicos saibam prescrever os medicamentos opioides e entendam bem
dos seus aspectos farmacológicos e principais indicações, a fim de que não haja receio na hora da
prescrição; visto que o manejo correto e seguro dos opioides contribui significamente na redução da
dor, o que afeta positivamente nas funções cognitivas, no sono, no conforto e na qualidade de vida
do paciente como um todo.

Autora: Letícia de Paula Santos.

Instagram:
@leticiapaula.santos

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com
estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de
2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço
empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais
podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por


Experts da Sanar
, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.

Referências:
1. AZEVEDO AS. Uso de opióides na dor crónica não oncológica: Resistência e Mitos. Dissertação (Mestre em
Medicina) – Ciências da Saúde. Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2017; 42p.
2. LEÓN MX, et al. Recomendaciones basadas en evidencia para el manejo del dolor oncológico (revisión de la
literatura). Revista Mexicana de Anestesiología, 2010; 42: 45- 55
3. PETER YI, PRYZBYLKOWSKI P. Opioid Induced Hyperalgesia. Pain Medicine, 2015; 16: 32- 36.
4. ORIOL AL, et al. Antagonistas periféricos de los receptores opioides Mu en el tratamiento del estreñimiento
inducido por opioides: revisión. Revista de la Sociedad Española del Dolor, 2018; 27(1): 37- 49.
5. LEAL RS, ALENCAR GA. Uso indevido de opioides: Da prevenção ao tratamento. Revista de Medicina de
família e Saúde mental, 2020; 2: 29- 44.
6. RANG HP, et al. Farmacologia. 8th ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016; 510- 520p.
7. GOODMAN A, et al. As bases farmacológicas da terapêutica. 13th ed. Rio de Janeiro: McGraw, 2018; 427-
465p.

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