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A Eficácia Da Lei No Espaço: Direito Internacional Privado

Luciano Masson
Direito Civil > Lei De Introdução Às Normas De Direito Brasileiro

Olá, meus amigos. Tudo bem? 


Vamos retomar os nossos estudos sobre o Decreto-Lei 4.657 de 1942. Eu quero tratar com vocês
nesse nosso encontro dois grandes temas: Lei 13.655 de 2018 e regras de direito internacional
privado.

Começo esse nosso encontro com uma pergunta:

Mais do que isso, por que existem essas regras de direito internacional privado aqui no
Decreto-Lei 4657? 
O cerne da nossa análise, aqui da nossa resposta, passa pelo artigo 7º do Decreto-Lei. Já antecipo
para você, as bancas examinadoras têm (eu tenho observado isso) dois grandes temas que atraem
mais na lei de introdução: os artigos 1º a 6º do Decreto Lei e os artigos 20 a 30, que são recentes,
introduzidos pela lei 13.655/2018.
Não quer dizer que os demais artigos não caiam, mas quando eles são objeto de questionamento as
bancas gostam de cobrar a literalidade, a disposição desses artigos. O artigo 7º fala e traz para nós o
cerne das regras de direito internacional privado.
O que nós temos aqui no artigo 7º?  
Uma previsão legal sobre a solução de hipótese de conflito, de aparente conflito, de qual é a
legislação aplicável ao caso concreto, notadamente, quando envolver pessoas naturais estrangeiras.
Então, o artigo 7º, regras sobre domicílio e a partir do artigo 7º, um pouco mais para frente do
Decreto-Lei, regras de sucessão, questões sobre impedimentos matrimoniais, questões sobre o
começo e o fim da personalidade, quando envolver sujeito que tenha bens em um país e tenha
falecido em outro país.
São as regras do artigo 7º. Eu quero analisar com vocês o artigo 7º, eu quero ler com você, eu quero
anotar para você algumas informações que eu reputo relevantes no artigo 7º. Então, vamos ler o
artigo 7º, que traz regras de direito internacional privado.

Art. 7º: A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos. Local em que domiciliada a pessoa.
Tenha isso em mente, isso acabou de cair em prova!
Parágrafos 1º a 4º: realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e as formalidades da celebração.
Olha que interessante, mesmo que os nubentes sejam de outras nacionalidades, se o matrimônio, se
o casamento foi realizado em território nacional, aplicam-se as regras brasileiras, sob pena das
hipóteses de nulidade, de anulação (1.521 e 1.523 do Código Civil).
Vou te dar um exemplo: qual é a idade núbil, a idade mínima para casamento em território
nacional?
16 anos.
Imaginemos que os noivos venham de um país asiático, africano, em que a idade núbil é de 12 anos.
Eles poderão realizar o matrimônio no nosso país?
Não, porque aplicam-se as regras e impedimentos vigentes em nosso território nacional.
• 2º: o casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante as autoridades diplomáticas ou
consulares do país de ambos os nubentes.
•   3º: tendo os nubentes domicílio diverso, regerá as invalidades do matrimônio a lei do primeiro
domicílio conjugal e o regime de bens, legal ou convencional, também obedecerá a lei do primeiro
domicílio conjugal.

Não mais que isso, o §5º traz a hipótese de validade, hipótese de naturalização do sujeito, está
certo?! O que diz o §5º do artigo 7º: o estrangeiro (bastante atenção para isso) que se naturalizar
brasileiro, pode, mediante expressa anuência do cônjuge, requerer ao juiz, no ato da entrega da
naturalização, que se apostile adoção do regime da comunhão parcial.
 6º: o divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos cônjuges forem brasileiros, só será
reconhecido no Brasil depois de um ano da sentença. Atenção aqui! Nós temos uma norma
(atenção para isso) do CPC (eu trouxe para você e já já nós vamos colocar ela na tela para
você) que diz que o divórcio consensual celebrado em outro país gera efeitos
automaticamente em território nacional, independentemente de homologação.
O que nós temos aqui?
O ato decisório, o ato de julgar, resolver os litígios é, em última análise, uma expressão de soberania
estatal. Então, um ato praticado por um juiz de um outro país não gera efeitos imediatos em
território nacional, no território brasileiro. Esse ato precisa passar por uma análise do STJ, ou seja,
nos surge aqui o que disciplina-se como homologação de sentença estrangeira. 
Então, a regra é que a sentença estrangeira, para gerar efeitos em território nacional, precisa ser
homologada pelo STJ. Cuidado aqui, meu amigo, minha amiga, a partir da Emenda Constitucional
45 de 2004, quem homologa sentença estrangeira é o Superior Tribunal de Justiça, não o Supremo
Tribunal Federal. Então, essa competência que está lá na Constituição Federal, no artigo 105 da
Constituição, pós a Emenda 45, é do STJ.

Então, o STJ, na forma do seu Regimento Interno, poderá, inclusive, reexaminar, a requerimento do
interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação. Está certo?! 

CONTEÚDO IMPORTANTE
Pois bem, o que eu quero destacar para você aqui é que o nosso sistema, e a doutrina fala disso,
adotou o sistema da territorialidade moderada, ou seja, em situações específicas, excepcionais,
admite-se a aplicação do estatuto pessoal do sujeito, das regras do domicílio do sujeito. Então, essa
ideia de territorialidade não é absoluta ou não aplicação absoluta, é temperada ou moderada. Em
algumas situações assim, repito, aplica-se e autoriza-se a aplicação do estatuto pessoal do sujeito. 
Então, é o que diz aqui o nosso conteúdo:
Adotou-se o sistema da territorialidade moderada, ou seja, o direito pátrio é eficaz, mas em
determinadas situações poderá haver coexistência, no território nacional, com o sistema alienígena
(as normas editadas por outro país) no chamado “estatuto pessoal” do sujeito, baseado na lei da
nacionalidade ou domicílio.
Dois exemplos para você que ilustram a aplicação da teoria do sistema da territorialidade moderada:
primeiro: como nós vimos no artigo 7º, aplica-se a lei do país em que domiciliada a pessoa e essa
regra marca o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade de direito de família; e dois:
aplica-se a lei do país em que domiciliado o proprietário quanto aos bens (local rei sitae), local em
que situados os bens móveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
Essa regra (já tá puxando para você) está justamente no artigo 8º, que é chamada a aplicação da Lex
rei sitae (local em que situada, localizada a coisa).

Artigo 8º: para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país
em que os bens estiverem situados.
Não sei se você está observando, meu amigo e minha amiga, essa aula, essa Unidade de
Aprendizagem, é muito amarrada à literalidade. Então, nesta Unidade eu estou analisando com você
muitos artigos de lei, decorrências da lei, está certo?! Então, é por isso que se mostra necessária a
leitura dos artigos, porque, exatamente, são hipóteses em que a banca examinadora faz um ctrl+c e
ctrl+v, ele pega o enunciado e coloca na sua questão. Por isso a necessidade dessa leitura dos
artigos, está certo?!
Regras de sucessão, artigo 10.
O artigo 10 do nosso decreto-lei também marca, traz regras para determinar a sucessão em hipóteses
que envolvam o conflito da legislação de dois ou mais países. Regras de sucessão no direito
internacional: artigo 10: a sucessão por morte ou por ausência obedece a lei do país em que
domiciliado o de cujus / o defunto (na legislação está com uma terminologia horrível, a lei é bem
antiga), o de cujos, está certo?! (...) ou desaparecido, qualquer que seja a natureza da situação dos
bens.
A sucessão de bens de estrangeiros, situados no país, será regulada pela lei brasileira em benefício
do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou quem os represente, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal.
A ideia aqui é o favorecimento dos filhos ou cônjuge brasileiro. Atenção! Se a lei alienígena for
mais benéfica, a lei do outro país mais benéfica que a brasileira, o que diz o artigo 10 parágrafo
1º?
Afasta-se aplicação da lei brasileira e aplica-se a lei alienígena, a lei estrangeira mais benéfica.
Por fim, artigo 10, parágrafo segundo: a lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a
capacidade para suceder.

NÃO ERRE
O que eu trago aqui para você, como forma de fixar o conhecimento? Para você ver como que essa
questão e como essas regras de direito internacional privado podem ser objeto de questionamento.
Eu quero analisar com você uma questão da CESPE 2017, embora as questões de concurso sejam
um material a parte para você, eu quero, para você ver aquilo que é interessante, para você não cair
em pegadinhas.
Por que eu pincei essa questão para você?
Porque ela traz um monte de informações que exige do candidato o conhecimento da literalidade do
decreto-lei.
Vamos ler?
Em 01/01/2017, Lúcio, que era brasileiro e casado com a Maria, também brasileira, ambos
residentes e domiciliados no país asiático, faleceu. Lúcio deixou dois filhos como herdeiros,
Vanessa e Robson, residentes e domiciliados no Brasil, e os seguintes bens a inventariar: uma casa
no exterior, uma casa no Brasil e dois automóveis localizados no exterior. O casamento de Lúcio e
Maria foi celebrado no Brasil. Antes do casamento, ele residia e era domiciliado no Brasil, ao passo
que ela residia e era domiciliada em um país africano. O primeiro domicílio do casal foi no exterior.
Considerando a situação hipotética, assinale a alternativa correta.
Vontade de sair correndo, né? Dá vontade de sair correndo, mas calma! Quando você analisa as
assertivas, e é aquela ideia que queria, tão somente, que você tivesse conhecimento da regra do
artigo 10, §2º: a lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder, ou seja,
quem são os herdeiros?
Vanessa e Robson, residentes e domiciliados no Brasil.
Qual a legislação que regulará a capacidade de Vanessa e Robson para suceder?
A legislação brasileira, artigo 10, §2º.
Exatamente isso que a banca queria que o candidato tivesse conhecimento.
Artigo 15 do Decreto-Lei:
Aqui eu já trouxe a grande informação relevante para você, que é a necessidade de homologação
pelo STJ da sentença estrangeira, como forma de tutela, como forma de defesa da soberania estatal.
Vamos ler o artigo 15?
Artigo 15 do Decreto-Lei: será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro (lembre-se
da defesa da soberania estatal) que reúna os seguintes requisitos: proferida por juiz competente;
terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia - eu já vi em provas citadas
por Edital, está certo! Aqui não exige que a citação seja pessoal, tão somente, citadas; ter passado
em julgado, ter transitado em julgado no país de origem; está revestida das formalidades necessárias
para execução; estar traduzida, por intérprete autorizado.
Olha a pegadinha! Ter sido homologada pelo Supremo Tribunal? Não! STJ, artigo 105, LI, da
Constituição Federal.
Luciano, por que você traz isso, por que você traz essa informação?
Porque não foi feita, apesar (olha que pegadinha, eu já vi isso em prova, pegadinha maldosa) da
redação da Emenda Constitucional 45, não foi alterado o artigo 15 do decreto-lei. Então, se você
bater o olho, você vai ler surpreso e vai falar: "olha, não estou entendendo mais nada". É porque
não foi feita essa adequação, mas entenda que, apesar de estar escrito “Supremo Tribunal Federal”,
a partir de 2004, quem homologa é o STJ.
Artigo 16: quando se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição da Lei e sem
considerar qualquer remissão.
O artigo 17 que eu quero destacar para você. Limites à aplicação da Lei estrangeira. Quando
admitida a aplicação da Lei estrangeira em território nacional, o artigo 17 traz alguns filtros para
nós, não se aplica automaticamente a legislação estrangeira. As leis (artigo 17), atos e sentenças de
outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil (cuidado com
isso!), quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública ou/e os bons costumes.
Vamos para a jurisprudência!

JURISPRUDÊNCIA

Quero que você analise essa decisão judicial que acabou de sair do forno, 2019, uma hipótese de
homologação de sentença estrangeira de alimentos.
O título judicial aqui, ele era oriundo de Portugal, gera efeitos automáticos?
Como eu te disse, não. Homologação pelo STJ, homologação do ano de 2019, homologação nº 560.
Esse PT na frente aqui é o país de origem. Homologação número 560 de Portugal, quero que você
leia. Um procedimento até muito simples. Então, somente a partir da homologação essa sentença
judicial que fixou alimentos é suscetível de execução no território brasileiro.
Aqui, vamos dar um pulo no CPC. Eu já te disse isso, já falei sobre isso. Só para não ficar solto
como disciplina, o CPC, a homologação de sentença estrangeira, artigo 961 do CPC: a decisão
estrangeira somente terá – e aqui muitas ideias que eu já te trouxe – eficácia no Brasil, após
homologação de sentença estrangeira ou concessão de exequátur às cartas rogatórias.

É passível de homologação a decisão judicial definitiva, bem como a decisão não judicial. (§1º). A
decisão estrangeira poderá ser homologada parcialmente (§2º). A autoridade judiciária brasileira
poderá deferir pedido de urgência e realizar casos de execução provisória (§3º). Haverá
homologação de decisão estrangeira para fins de execução fiscal quando prevista em tratado ou em
promessa de reciprocidade (§4º). 
A sentença estrangeira (aqui eu quero que você tome atenção, está certo?!). artigo 961 parágrafo 5º:
a regra, é homologação. Correto?!
Olha a exceção aqui: 961, parágrafo 5º do CPC. Por isso que eu trouxe esse artigo para você. A
sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de
homologação pelo STJ.
Não precisa de homologação pelo STJ a sentença estrangeira.
De qualquer divórcio?
Não, divórcio consensual.

CONTEÚDO IMPORTANTE 

Para fechar, para finalizar esse nosso encontro, eu quero trazer para você um apanhado geral dos
artigos 20 a 30, introduzidos na lei de introdução pela Lei 13.655, que a doutrina chama de lei da
segurança jurídica. É uma lei de 2018. 
Cuidado! Tudo que é novo, tudo o que é recente, meu amigo, minha amiga, atrai as bancas
examinadoras. Então, o decreto lei 4.657 tem os artigos 20 a 30, introduzidos pela Lei 13.655/2018.
São artigos relacionados / afetos ao direito público, afetos ao direito administrativo, que objetivam
dar segurança jurídica nas relações e trazer regras sobre aplicação ou não de sanções aos agentes
políticos, quando sanções administrativas, sanções decorrentes de órgão judicial, sanções
decorrentes de órgão controlador. Trazem hipóteses em que o agente político e agente público será
punido. 
Entre nós, muito melhor seria que esses artigos 20 a 30 tivessem sido introduzidos lá na lei de
improbidade, que são afetos ao direito público, mas como eles estão Decreto-Lei 4.657, eu pincei
para você as principais novidades.
Leitura obrigatória! Se você quiser aprofundar um pouco mais, você acha, tranquilamente, na
internet, texto sobre a 13.655, texto do Professor Carlos Ari Sundfeld, também você acha na
internet, ele escreve muito sobre isso, um professor da FGV que traz uma análise mais profunda da
13.655.
Então, para nós finalizarmos, as principais novidades dos artigos 20 a 30:

• traz critérios para tomar decisões com base em normas abstratas;


• a decisão deverá considerar consequências jurídicas e administrativas, eventual decisão na esfera
controladora, administrativa ou judicial para punição ou não do agente público, do Prefeito, do
Governador, do Vereador;
• nas infrações, critérios para punição em infrações, o que serão consideradas a natureza e a
gravidade da infração cometida pelo agente político, os danos que dela provierem para
administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente;
• a lei fala, ainda, em regra de transição para tomada de decisão administrativa, judicial e
controladora;
• traz a lei, ainda, que a autoridade pública (o agente, o Prefeito, o Governador ou Vereador, por
exemplo) poderá celebrar compromisso com particulares, após audiências públicas (aquela ideia de
legitimação das decisões, por meio das audiências públicas);
• o agente público (aqui uma decisão que, certamente, será objeto de questionamento quanto à sua
constitucionalidade) responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas, em caso de
dolo ou erro grosseiro (o problema aqui está na questão do erro grosseiro, está certo?!);
• as autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas.
Certo, meus amigos? Ficamos por aqui. Um forte abraço, ótimos estudos e até o nosso próximo
encontro.
Luciano Masson

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