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23/09/19
Ex.: Senhor A é francês residente em Berlim, pretende casa com B, iraniana residente em Itália,
e querem casar em Portugal. Têm capacidade nupcial (podem-se casar)? Que critérios se vão
aplicar para saber se têm esta capacidade?
Em Portugal têm de ter 16 anos, não podem ser irmãos, etc. Será que se aplicam estes
critérios?
Será esta uma relação jurídica privada? O casamento? Sim. Qual é a especialidade desta
DIPrivado
relação jurídica privada em concreto? Existe aqui o contacto com outros ordenamentos
jurídicos (França, Alemanha, Irão, Itália e Portugal), sendo então uma relação jurídico-privada
internacional, pois existem ligações com mais de um ordenamento jurídico.
Afonso Patrão (teóricas)
Coloca-se a questão de saber que ordenamento jurídico devemos aplicar nesta situação. Será
certamente uma das mencionadas supra e não qualquer outra (não será por exemplo o
ordenamento jurídico dinamarquês pois não está em contacto com esta relação) – PRINCÍPIO
DA NÃO TRANSATIVIDADE: nunca uma lei se pode aplicar a um caso que não tenha uma
ligação espacial com o caso.
Porque não se aplica a lei portuguesa, visto que querem casar em Portugal? Existe a lei do
foro, que é a lei que se aplica onde se pôs o problema - Pp. da territorialidade das leis: em
cada país aplica-se sempre a sua lei. Então, porque não aplicar a lei do foro? Imaginemos que
casaram segundo o ordenamento jurídico português. Se vigorar o pp da territorialidade,
quando chegarem à Alemanha para lá residir, vão verificar que a senhora B não se podia casar
antes dos 18 (ela tinha 16). Assim, na Alemanha eles eram considerados solteiros, pois o
casamento era inválido. Temos então um problema, pois o estatuto de uma pessoa muda por
cruzar uma fronteira.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Outro exemplo, uma senhora portuguesa divorciada vai para as Filipinas. Lá, o divorcio não
existe. Assim que ela entrar nas filipinas ela é considerada casada, logo não pode dispor do seu
património, etc.
Assim sendo, temos de escolher a lei a aplicar ao caso segundo as regras de conflitos- método
conflitual: um método clássico em que se escolhe uma lei que está presente no conflito.
EX: A português morreu em Portugal com um filho português….etc. serão necessárias regras de
conflitos? Não. A única jurisdição presente é a portuguesa e é a única que está em contacto.
-Situações puramente internas: Só têm contacto com uma ordem jurídica e essa ordem
jurídica é a do Foro. Não precisamos de nenhuma regra de conflito., basta-nos o pp da não
transatividade.
-Situações relativamente internacionais: só tem contacto com uma ordem jurídica que não é a
do foro. Não precisamos do DIP, basta-nos o pp. da não transatividade.
Porque não aplicamos isto a situações públicas? Porque não funciona no direito publico?
Porque no Direito Público, o estado é o sujeito interessado. Cada estado define o âmbito de
aplicação de cada lei. Como o estado é um sujeito interessado, define a que casos se aplica a
sua lei, e nos outros desinteressa-se. No DIPrivado, o Estado aparece com um árbitro que não
insiste na aplicação da sua lei. Aqui, o estado aceita a aplicação do foro de lei estrangeira, pois
o estado não é interessado, aceitando assim a aplicação de lei estrangeira.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
2-Qual é o âmbito desta disciplina? Que questões é que o DIP tem de resolver?
Que problemas trata a nossa disciplina? Todos ou só alguns? Existem várias conceções:
Corrente alemã: o único problema de DIP é o problema da lei aplicável. Os outros são de
outras disciplinas.
Conceção maximalista ou francesa: DIP trata de todos os problemas supra mencionados. Diz
que estes problemas são próprios das relações jurídico-privadas.
Tese intermédia ou anglo-saxónica: DIP trata de três problemas, sendo eles o da competência
internacional, lei aplicável e reconhecimento de sentenças no estrangeiro. Porquê estes três?
A primeira razão é que o tipo de normas é diferente nestes três problemas (são normas
indiretas, normas de segundo grau) do que nos dois problemas restantes. A segunda razão é
que estes três problemas surgem em todas as situações plurilocalizadas, os outros dois já não
(ex: se nenhuma parte for estrageira, não temos o quinto problema).
Resta-nos então escolher uma destas três teses. Em Portugal, a maioria da doutrina toma
partido da corrente anglo-saxónica. Há, no entanto, uma série de autores em Portugal que
recorrem à tese minimalista (autores do ramo de processo civil).
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Nesta disciplina, não vamos dar o primeiro problema. Partimos do princípio de que os tribunais
são competentes, essa área é de processo civil. O segundo problema vai ser dado nesta
disciplina, mas apenas uma parte. Também iremos estudar o terceiro problema. Em relação
aos dois últimos problemas, no 4º vamos falar do conflito de nacionalidades. Quanto ao 5º
problema vamos só falar dos princípios gerais.
30/09/19
Princípios:
1- Harmonia Jurídica Internacional: acordo entre vários países quanto à lei a aplicar.
Uniformidade de lei aplicável, através de tratados e de um sistema de revisões. Ex.: A é
brasileiro e reside em Portugal e quer perfilhar uma criança em Portugal. Que lei vai
regular esta perfilhação? – Regras de conflito (art.56º CC) Este artigo manda aplicar a
lei pessoal (artº31), ou seja, a lei da nacionalidade, neste caso a lei Brasileira. Perfilhou
o filho segundo a lei brasileira. Chega ao Brasil e questiona-se se o ato foi válido. Só
que no Brasil, aplicar-se-ia a lei de conflitos Brasileira. Esta diz q questões de família
devem ser resolvidas segundo a lei de residência, logo, A teria de perfilhar à luz da lei
Portuguesa, visto ser residente em Portugal. Como é que isto se resolve? Se Portugal e
Brasil tivessem a mesma lei de conflito, se houvesse uma harmonia, uma unificação da
lei aplicável, este problema estaria resolvido. Por exemplo, será que em vez de
aplicarmos a lei brasileira, devíamos aplicar a lei que vigora no brasil?
2- Harmonia material: as soluções de DIPrivado não devem gerar resultados
incompatíveis. O pai é alemão residente na Alemanha, a mãe é grega, residente em
Grécia. A regra de conflito da Alemanha diz que as relações entre pais e filhos são
reguladas pela lei da nacionalidade de cada progenitor. A lei alemã tem uma norma
que diz que o pai pode visitar o filho, lei grega tem uma lei q diz que a mãe pode
impedir as visitas do pai. O juiz disse que o caso era internacional, porque tem
contacto com mais do que um ordenamento jurídico.
Aqui o DIPrivado chamou duas leis diferentes e essas leis são incompatíveis porque
têm resultados contraditórios, e isso não pode acontecer. É esse o princípio da
harmonia material. Deve-se escolher apenas uma lei para resolver o caso. Artº57-
nacionalidade comum (não se aplica). Aplica-se então a lei pessoal (nacionalidade do
filho).
3- Princípio da efetividade: A português residente em Portugal e B português residente
em Portugal, celebraram um contrato de compra e venda de um imóvel na suíça.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
As regras de conflito têm uma estrutura repartida (três elementos) e em nenhum dos
elementos nos dá a solução ao caso. Ex.: A inglês e B portuguesa quiserem casar em
Portugal, a lei de conflito não nos vai dizer se é valido ou não, apenas nos dizem que lei dá
solução ao caso. Dividem se em três elementos: a) conceito quadro: determina a matéria a
que se aplica a regra de conflitos. Este conceito está para as regras de conflitos como a
hipótese está para as regras materiais. (ex.: Art.36º-refere-se à forma da declaração
negocial). (saiu o art.42º no exame, e era preciso recorrer ao art.41º para perceber o
conceito quadro desta norma). b) elemento de conexão: é a circunstância que o legislador
escolheu como relevante para a escolha da lei aplicável. O local onde ocorreu o facto
lesivo. (art52- nacionalidade comum dos cônjuges). Subdivide-se em várias categorias:
pessoal ou real, fáctico ou jurídico, móvel ou imóvel. c) consequência jurídica: aplicação da
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
lei que foi designada pelo elemento de conexão à matéria delimitada pelo conceito
quadro.
Qual é a função da regra de conflitos? Escolhe a lei aplicável. Esta é a lei de conflitos básica
e é bilateral, pois escolhe a lei aplicável independentemente de ser a lei do foro ou a lei
estrangeira. Mas nem todas as leis de conflito são bilaterais. Há outro sistema em que as
regras de conflito têm outra função e são unilaterais (ex.: Art.º.3 do CC francês cujo
conceito quadro é capacidade e Art.25º CC português q tem o mesmo conceito quadro e o
mesmo elemento de conexão. Então qual é a diferença? É que a nossa tanto pode mandar
aplicar a lei do foro como a lei estrangeira. A francesa não escolhe a lei aplicável, ela
apenas diz q aos franceses se aplica a lei francesa, aos estrangeiros não se sabe. Apenas
domina o campo de aplicação da sua própria lei).
Há uma conceção que defende o unilateralismo: entende-se que nós não temos poder
para escolher a lei estrangeira, logo a única coisa que podemos fazer é determinar os casos
em que a nossa lei se aplica. Contudo, este argumento é fácil de se rebater: primeiro, o
DIPrivado não se preocupa com soberanias, preocupa-se antes com relações privadas
internacionais; segundo, mesmo que estivesse preocupado com conflitos de soberania, do
argumento retiraríamos que não podíamos aplicar leis estrangeiras, mas da regra
unilateral extrai-se que não é a lei do foro; os unilateralistas aceitam a aplicação de regras
estrangeiras, a única diferença é que eles dizem que não deve ser a nossa lei a escolher.
Isto mostra que o argumento não era sério porque como eles aceitam a aplicação de leis
estrangeiras então eles não estão verdadeiramente preocupados com a soberania.
Ex: A tem nacionalidade do estado A e reside no estado B e quer abrir uma sociedade com
sede no estado C. discute-se em Portugal qual a regra de conflito para a capacidade?
Art.25º: a lei aplicável é a do próprio estado A, estado de nacionalidade, mas em A aplica-
se a lei do estado de residência – estado B – mas no estado B aplica-se a lei do estado de
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
nacionalidade, logo, A. Para alem disso, o estado C poderia considerar que se aplicava a lei
do estado de sede, ou seja, C. Assim, em cada país, aplica-se uma regra diferente, o que
causa instabilidade no DIPrivado. - Este é o problema da regra de conflitos bilateral,
promovendo a regra de conflitos unilateral a harmonia do DIP.
Mas se o unilateralismo é tao bom, porque temos tantas mais normas bilaterais do que
unilaterais? Porque o unilateralismo tem situações em que dá problemas insolúveis:
quando concluímos que a nossa lei não se aplica vamos ver qual das leis estrangeiras se
quer aplicar, e se nenhuma quiser? E se várias quiserem? Se houver duas ou mais leis
estrangeiras a quererem aplicar-se, então aplica-se aquela que tem uma ligação mais forte
(critério de proximidade) e portanto, aqui se reconhece o falhanço do unilateralismo. Se
nenhuma quiser, escolhe-se a que considerar o negócio valido – este continua a ser um
falhanço do unilateralismo porque a escolha parte de nós- regra de conflitos bilateral.
concluímos assim que o sistema bilateral continua a ser preferível. E, via de regra, temos
um sistema bilateral, mas corrigido por dois institutos de DIPrivado: reenvio e
reconhecimento dos direitos adquiridos.
04/10/19
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Influência do tempo na regra de conflitos: matéria que vai ser dada nas aulas práticas. Aqui
vamos apenas identificar os três problemas que temos de saber resolver:
Natureza jurídica da regra de conflitos: elas são diferentes das normas materiais pois são
normas sobre normas, não dão a solução ao caso (normas de 2ºgrau), apenas indicam as
leis que vão dar solução ao caso. -> Escola de Coimbra.
A escola de Lisboa diz que as regras de conflitos dão solução ao caso. Como?
Indiretamente. Através de outa lei.
1- Será que uma regra de conflitos pode ser inconstitucional? As regras de conflitos não
resolvem os casos, apenas escolhem a lei. Assim, será possível fazer um juízo de
inconstitucionalidade?
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
2- Será que quando a regra de conflitos manda aplicar uma lei estrangeira, podemos
controlar a sua constitucionalidade face à constituição?
3- Quando a regra de conflitos manda aplicar uma lei estrangeira, podemos recusar a sua
aplicação por violar a nossa constituição?
DIPrivado vs. Direito interpessoal: o direito interpessoal são normas que também resolvem
um conflito de leis dentro do mesmo país. Há países que têm leis diferentes para pessoas
diferentes. Isto acontece na Síria e na Jordânia (distinção de muçulmanos e não muçulmanos).
Aqui há um país com duas leis que se aplicam em todo o território. O direito interpessoal
define os critérios para aplicar essas leis diferentes de pessoa para pessoa.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
DIPrivado vs. Direito privado uniforme: O que é o direito privado uniforme? O que são leis
uniformes? É o direito privado unificado. Pretende suprimir o conflito de leis. Pretende que em
todos os países vigore a mesma lei. É um outro método de regular as relações privadas
internacionais. O sucesso do direito privado uniforme dita a morte do DIPrivado, pois se
podemos usar o uniforme, já não seria necessário o DIP. Isto é uma utopia, nunca na vida todo
o mundo vai ter o mesmo direito da família, etc. Ele existe, não unificando o DIPrivado todo,
mas apenas certos domínios. O direito privado uniforme não substitui o DIPrivado, mas em
domínios limitados pode ajudar. Então, mas nesses domínios em que entra o direito privado
uniforme, não precisamos do DIP? O problema é que mesmo as leis uniformes que tiveram
mais sucesso, nem todos os países as aceitaram, ou seja, mesmo nesses domínios, nós vamos
precisar do DIPrivado. Pois o direito privado uniforme não abrange todos os países.
14/10/19
O que o juiz tem de fazer é não usar as regras de conflitos e determinar quais as leis em
contacto, e depois vai procurar a respetiva a policy, a política legislativa de cada uma lei de
cada Estado.
Depois disso o juiz tem de ver quando é que se realiza aquelas políticas legislativas; quanto á
lei do Canada só atinge o seu objetivo quando as pessoas estão a circular nas estradas
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
canadianas, a quem das boleias no Canada ou quem reside lá; quanto à lei dos EUA cumpre o
seu objetivo quando os danos são causados em território americano.
Currie diz se apenas um deles tiver interesses em regular a situação, será essa lei ser aplicada.
No caso será a lei americana, pois é ela que tem o maior interesse governamental.
Pode acontecer que nenhuma das leis que esta em conta tem interesse. Currie diz como o juiz
não pode deixar o caso sem solução, terá de aplicar a lei do foro.
E se varias leis tiverem interesse em regular, Currie diz que nestes casos, se dois países tiverem
interesse em regulamentar e um deles for o foro, prevalece a lei do foro; caso nenhuma for do
foro, para o juiz não ter que escolher entre países estrangeiros, o melhor será aplicar a lei do
foro na mesma, Currie diz que estas situações são excecionais.
Por vezes o método do Currie viola o princípio da não transactividade quando diz que tem de
aplicar a lei do foro quando não se consegue escolher a lei com política legislativas, o foro
pode não ter nenhum contacto com o caso.
Outro problema, é que não conseguimos sempre identificar a política legislativa das normas, e
muitas vezes nem identificar a esfera de aplicação.
Por vezes, mesmo quando encontramos a política legislativa os resultados podem ser
catastróficos; quanto mais restritiva for certa norma, mais interesse governamental há em
aplicar essa lei, maior âmbito de aplicação.
Currie está preocupado com os interesses dos Estados, ele reduz o DIP ao problema de
soberania dos Estados, e desconsidera os interesses dos privados.
Este método põe em causa a harmonia jurídica internacional e gera o fenómeno do fórum
shopping; gera uma lexiforização – aumento dos casos em que se aplica a lei do foro.
O método de Currie, devido a isto tudo, não é uma verdadeira alternativa ao método
conflitual.
“Currie é um unilateralista selvagem” – cada lei é que determina o seu âmbito de aplicação,
neste caso através das suas políticas legislativa; à parte do seu metodo que é próxima das
regras de conflito unilateral; é selvagem porque não se preocupa com a harmonia jurídica
internacional nem o com reconhecimento dos direitos adquiridos.
Ehrenzweig
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
O metodo conflitual não deve ser apagado em todos os domínios, só naqueles em que gera
maus resultados.
❖ Lex certa – casos em que se aplica a lei do foro e não é preciso escolher outra (ex.: direito
processual; normas de aplicação necessária e imediata (NANI))
❖ Lex incerta – ele vai propor o método; temos de ver na lei do foro a lei que se aplicaria se o
caso fosse puramente interno; vamos depois determinar a política legislativa daquela norma;
[que semelhanças (usam o critério da política legislativa) e diferenças (Currie tem em conta a
política legislativa de cada uma das leis, este só tem em consideração a do foro) tem com o
Currie]
Este método vai procurar a ratio legis a lei do foro e depois vai aplicar outras leis, isto é
metodologicamente inaceitável (critica).
Também as mesmas críticas de Currie, pois nem sempre conseguimos determinar as políticas
legislativas.
Por causa destes defeitos, este método não é solução ao método conflitual.
Momento Legislativo
Havia nos EUA uma lista de regras de conflito, Restatement. Neste momento, esta lisa foi
revogada em 1971, desaparece o método conflitual.
Depois aparece o Segundo Restatement que é composto por critérios, onde o juiz deve seguir
para resolver os casos.
Cada um dos métodos embora não tenham dado soluções, teve méritos, pois chamam atenção
aos problemas das regras de conflito, e vão influencia o metodo europeu.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
São ambas normas de direito processual internacional, são normas formais, não dão solução
ao caso, escolhem a lei que dá a solução ao caso.
Em vez de tratar os dois problemas separadamente vãos fazer um juízo conjunto; vamos
escolher os casos em que os nossos tribunais competentes e nesses casos queremos aplicar a
nossa lei.
As vantagens que isso traz é que desparece a aplicação da lei estrangeira, isto favorece a o
princípio da boa administração da justiça.
O método conflitual de hoje sofre várias influências dos métodos anteriores. Na parte final do
seculo XX houve quatro alterações ao metodo conflitual, aproximando-se das propostas
americanas
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
As regras de conflito deixam de ser rígidas, na perspetiva de aplicação por parte do juiz.
Atribuição de maior poder ao juiz, para escolher a lei aplicável ao caso concreto.
❖ Open End Rules – é uma rega que não tem elemento de conexão; nestes casos é o juiz que
vai escolher a lei, que vai escolher a lei mais próxima ao caos; mas em vez de ser o legislador,
atribui-se essa responsabilidade ao juiz (ex.: artigo 52º do CC) • Chama-se a isso a consagração
jurisdicional do princípio da proximidade, pois a escolha é feita pelo juiz.
❖ Cláusulas de Exceção – é uma parte da regra de conflitos que faz uma exceção, que permite
excecionar o juízo que esta na regra de conflitos (ex.: salvo se …); permite ao juiz não seguir o
critério que tinha sido estipulado pelo legislador (a maioria das clausulas de exceção esta no
ROMA I); • este é um fenómeno recente, por isso é que encontramos esta clausulas nos
Regulamentos.
21/10/19
ROMA I: Artigo 3º, nº1 remissão para ao artigo 4º, nº1; nº2
O artigo 4º, nº4 do ROMA I é um exemplo de uma open end rules, estamos perante a
consagração do princípio da maior proximidade; pois não existe um elemento de conexão.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Cláusulas de Exceção
Aqui as regras funcionam normalmente, o legislador escolhe a lei aplicável, mas nestes casos
existe uma clausula que permite ao juiz não aplicara a lei que foi escolhida pelo juiz.
O artigo 21º, nº2 do Regulamento das Sucessões é uma cláusula de exceção aberta;
Atualmente em vez de escolher uma lei para toda a elação jurídica, o DIP vai escolher uma lei
para cada aspeto da relação jurídica.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Porque é um apuramento da justiça conflitual? Porque não temos de escolhe uma só lei,
escolhemos a lei que é mais perto de cada aspeto da relação jurídico, assim conseguimos
cumprir melhor o objetivo das regras de conflito que é escolher a lei mais próxima ao caso.
Ferrer Correi considera isto uma flexibilização, porque se perdeu a rigidez ao nível legislativo,
hoje o legislador escolhe a lei mais perto de cada aspeto jurídico da relação em causa.
O DIP hoje preocupa-se com a justiça material, com o resultado da aplicação da lei escolhido.
Isto era uma preocupação de Cavers, que queria que se aplicasse a lei mais justa.
❖ Regas de Conflito de Conexão Material – não escolhe a lei aplicável por ser a mais próxima,
mas para atingir certo resultado material.
o Fazemos isso através das conexões múltiplas alternativas, pois escolhemos a lei que irá
produzir um certo resultado material;
o Quando o juiz chama só uma lei, será que o faz com o propósito de atingir certo resultado?
Ou para tal, tem de chamar duas ou mais leis? ▪ Para promover a validade do casamento,
escolha uma regra de conflito com conexão material;
Hoje o DIP preocupa-se com as políticas legislativas das leis encontradas; respondendo assim
ás críticas de Currie e do alemão; e com isto surgiu três institutos.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Ao lado das regras de conflitos passaram a existir estas normas. Estas normas, são normas
materiais, só que são autolimitam o seu âmbito de aplicação, estabelecem elas próprias os
casos em que se aplicam por atenção aos interesses políticos legislativos do estado envolvido.
Estas normas dispensam as regras de conflito.
o Normas que se aplicam a muitos casos, pois há um interesse fundamental em que seja
aplicável
o Duas Categorias
▪ Explicitas – o próprio legislador declara que aquela norma seja aplicada a mais casos do que a
lei que ela pertence seja competente; Artigo 25º das Cláusulas Gerais
▪ Implícitas – o legislador não diz nada, não as declara como tal, mas a ratio legis daquela
norma só se realiza aplicando-a a mais casos do que a lei que ela pertence seja competente; a
doutrina e a jurisprudência considera a norma como tal para cumprir a sua ratio legis. • Artigo
53º da CRP; Artigo 1682º-A, nº2 do CC; (artigo 52º do CC)
As NANI quando determinam o seu âmbito de aplicação utilizam elementos de conexão, não
será uma regra de conflitos unilateral? ▪ Escola de Coimbra – isto é um desvio ao método
conflitual, não são regras de conflitos; são normas materiais que não precisam das regras de
conflitos;
▪ Lima Pinheiro – são normas materiais normas, mas que tem acupulada uma regra de conflito
unilateral (determina aos casos em que se aplica); • Esta tese nega a possibilidade de
identificar as normas implícitas.
Será que o juiz deve obediência as NANI do foro ou deve obediência as NANI estrangeiras?
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
->Dois indivíduos suecos são casados e vivem em Portugal. A esposa quer vender a casa
morada de família sozinha, pois a casa é dela. • A lei sueca diz que pode fazer (segundo as
regras de conflito);
• Temos de ver ainda se há outro método, e o artigo 1686º-A que é uma NANI também se
aplica ao caso;
• E se aparecer uma NANI estrangeira? estes dois indivíduos tem um filho residente em
Espanha e a lei exponha tem uma NANI que exige o consentimento do filho na alienação dos
imoveis dos pais.
o Tese do Estatuto Obrigacional (Ferrer Correia) – podemos aplicar a NANI estrangeira da lei
que esta a ser indicada pela regra de conflito; no caso a lei do foro é portuguesa e a lei
competente é a lei sueca, por isso só as NANI da Suécia é que se pode aplicar e não as NANI
espanholas;
o Tesão de Conexão Especial (autor alemão e Moura Ramos) – pode aplicar as NANI
estrangeira, mas só dos países que tem uma ligação especial ao caso; se há um país que tem
uma ligação ao caso, é possível que o caso seja julgado nesse país; tem como vantagem a
harmonia jurida internacional, pois a nossa decisão será igual à decisão do país que tem
ligação ao caso: ▪ Tese Autorizativa (Lima Pinheiro) - Só os casos em o legislador autorizar
o Tese da Tomada em Consideração (Isabela Collaço) – não se pode aplicar a NANI, mas
também não pode ignorar; ao aplicar a lei competente aprecia os objetivos subjetivos tendo
em conta a NANI estrangeira.
Das quatro teses podemos aplicar qualquer uma, desde que justificadamente.
No domino do ROMA I, há uma regra expressa, não podemos escolher, é o artigo 9º - o nº1
não é um NANI, mas sim a sua definição; nº2 é para aplicação das NANI do foro; nº3 é que
temos a NANI, podem aplicar NANI estrangeira do país da execução do contrato.
28/10/19
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Para a norma portuguesa, o que está em causa é uma relação de regime de bens. Já para a lei
italiana, isto é um problema de sucessões. E isto gera-nos um problema, pois temos dois
regimes diferente. Temos o art.62º das sucessões e o 53º que é dos casamentos. Qual usar?
Este é o problema da qualificação. Este está para o dip, como o problema da interpretação
está para as regras substantivas. Há várias formas de o resolver. 3 formas:
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Este metodo de qualificação tem uma enorme vantagem, que é a sua simplicidade. É
um metodo bastante simples e fácil de utilizar. Mas também tem 4 grandes
problemas: 1- este método de qualificação à luz da lei do foro viola o princípio de
paridade de tratamento da ordem jurídica, que nos diz que não podemos tratar a lei
do foro melhor do que tratamos as outras, pois põe a lei do foro à frente de qualquer
outra estrangeira; 2- este metodo gera desarmonia jurídica internacional, i.e., vamos
ver se nos dois países conectados neste caso, iriamos ter a mesma solução. Isso não ia
acontecer, porque se ambos os países aplicassem a sua lei do foro, um ia pelo caminho
do regime de bens e outro pelas sucessões; 3- este sistema não funciona perante
institutos jurídicos desconhecidos; 4- tem um passo desnecessário, que é o da
qualificação primária. Esta qualificação não é necessária. Isto faz nos partir do princípio
que so podemos aplicar uma lei a cada caso, e isto não é verdade, pois podemos
aplicar leis diferentes par acasos diferentes, pois cada lei de conflitos escolhe a lei de
cada matéria, não precisamos de escolher apenas uma;
Com estes quatro fundamentos, esta qualificação não é utilizada em Portugal desde os
anos 30.
2- Qualificação lege causae (à luz da lex causa): é a tese oposta da primeira tese. Diz-nos
que não deve ser o foro a qualificar o tipo de problema, deve ser cada lei competente
para cada matéria. Isto é, não vai ser a lei do foro a decidir, quem o vai decidir é a lei
competente para cada uma das matérias. Ainda no nosso caso, temos duas matérias
diferentes em causa, o art.53º e o art.62º. Vamos ver qual é a lei competente para o
regime de bens (art53), que é a nacionalidade comum dos nubentes à data do
casamento, que seria então a lei portuguesa. No art.62º, manda-nos aplicar a lei
pessoal, que é a nacionalidade do autor da sucessão, que é o que morre, C, italiano,
logo seria a lei italiana. Posto isto, esta tese diz-nos que não vamos ser nós (foro) a
decidir, pois cada lei é que diz para si a matéria para que foi chamada.
Quais são as vantagens deste sistema? 1. Não viola o princípio da paridade de
tratamento da OJ, pois trata todas as leis de todas as formas.
Mas também tem problemas. 1- Esta tese tem um vicio logico. É que a determinação
serve para determinar a lei competente, mas para ter a lei competente, precisamos de
fazer a determinação. 2- Este método implica a perda de controlo das opções
conflituais, i.e.; 3- gera conflito de qualificações. Nos perguntamos à lei portuguesa se
é um problema de regime de comunhão de bens, que nos diz que não se pode
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
repudiar, já a lei italiana diz que é um problema de sucessões e que se pode repudiar,
assim concluímos que as soluções são incompatíveis, causando assim um conflito de
qualificações.
Assim, com estas dificuldades, esta tese também não é seguida por nós, sendo então
necessário estudar outra tese.
3- Método português de qualificação: este metodo foi consagrado no CC. Este metodo
não faz qualificação primaria, i.e., não faz qualificação primária. Assim, aplicam se
várias leis para matérias diferentes. Não escolhemos uma única lei. Assim, esta tese
aproxima-se mais da qualificação lege causae. Isto significa que não recorremos à lei
do foro.
Como funciona? Divide a operação de qualificação em dois passos lógicos:
1- Critério da qualificação ou problemas de interpretação do conceito quadro, é
preciso interpretar o conceito quadro. Há aqui três hipóteses de interpretação:
a) à luz da lei material do foro- se nos seguirmos este método, o que significa o art.
46º p.ex (posse e propriedade dos direitos reais)? O que for posse para os direitos
reais, e o que for propriedade para os direitos reais, na lei portuguesa. Este
método de interpretação do conceito quadro não serve, porque sé consegue fazer
interpretação sobre institutos jurídicos exatamente iguais, caso contrário, já não
funciona.
b) à luz do direito comparado: art.54º- é divorcio, aquilo que for considerado
divórcio nas várias leis do mundo. Isto é impraticável, pois obrigaria o legislador a
saber todas as leis do mundo para saber o que é divórcio.
c) À luz da lex formalis fori: é à lei do foro que cabe interpretar o conceito quadro.
Isto faz com que seja parecida com a primeira. Mas aqui não é a lei material do
foro, e sim a lei formal do foro, i.e., a lei conflitual do foro. Vamos interpretar de
acordo com o os interesses próprios do dip. (1.interpretação autónoma;
2.interpretação teleológica; 3.os conceitos quadro vão ser mais abrangentes do
que os conceitos da lei do foro;)
Objeto da qualificação (qualificação propriamente dita): que normas é que a regra de conflitos
manda aplicar? Ou fazemos um chamamento indiscriminado ou um chamamento circunscrito.
Para tal temos de recorrer ao art.15º. podemos fazer um chamamento circunscrito, ou seja, só
aplicamos as normas que integram o regime definido pelo conceito quadro da regra de
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
conflitos. Como sabemos quais são as normas em causa? Aquelas que pelo seu conteúdo e
pela sua função….
QUESTÕES:
04/11/19
Temos aqui um problema do DIP pois é uma situação plurilocalizada. Que lei vamos aplicar à
determinação da indemnização? É-nos irrelevante como a lei do foro vê este problema. Cada
lei de conflitos vai chamar leis diferentes, que nós vamos aplicar parcialmente. À
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
É verdade que aplicamos leis diferentes, mas para matérias diferentes. Este problema não se
põe no método tradicional, pois este só aplica uma lei.
O problema pôs-se aqui pois verdadeiramente as matérias jurídicas projetam.se umas nas
outras. A responsabilidade civil vai produzir efeitos no casamento. A indemnização gera
reparação de danos. As vezes há normas de natureza x que acabam por produzir efeitos na
natureza y e vice-versa, sendo este o problema que aqui se põe. Vejamos isto de um ponto de
vista mais dogmático.
Este problema coloca-se quando duas regras de conflitos diferentes, mandam aplicar leis
diferentes, que têm normas simultaneamente aplicáveis.
Por referência ao caso dado: a lei francesa tem normas por que foi chamada, o mesmo
acontecendo com a alemã, simultaneamente aplicáveis, mas que têm resultados
incompatíveis. Simplesmente, essas leis diferentes têm normas que resolvem o caso da
matéria pela qual foram chamadas, mas têm resultados incompatíveis (conflito positivo de
qualificação). Isto somente acontece em 2% dos casos. Normalmente este problema nem
sequer se põe.
Este problema surge no nosso método e não no tradicional, sendo este o principal argumento
da doutrina francesa e espanhola para não se seguir o método por nós adotado. O método
clássico nunca gera conflitos de qualificação, pois só aplica uma lei, logo, não vão surgir
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Se o conflito for entre a lei aplicável aos direitos reais (art. 46º que manda aplicar a lei da
situação da coisa) e a lei aplicável ao estatuto pessoal (art. 25º - conjunto de matérias
definidas pelo nosso legislador – capacidade, estado das pessoas, sucessões por morte,
família), deve preferir a qualificação real. Há duas razões para tal:
(a) Princípio da efetividade – não criar situações que depois não possam produzir
efeitos no país em que as partes pretendem que eles se produzam. Nós queremos que a
sentença produza efeitos no sítio onde a coisa está, pelo que a qualificação real garante a
efetividade da sentença. Evitamos assim problemas de não reconhecimento.
(b) Só se aplica nos imóveis. A ligação dos prédios ao país onde estão situados é maior
do que a ligação das pessoas ao país onde estão. Há uma ligação mais intensa no primeiro
caso, não podem mudar de país, ao contrário das pessoas. Preterimos mais uma vez a
qualificação pessoal e damos preferência à qualificação real.
Note-se que por aqui ainda não resolvíamos o caso que demos como exemplo. Cabe, portanto,
avançar para o próximo critério.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
- forma do casamento (art.50º - manda aplicar a lei israelita sobre a matéria da forma do
casamento). A forma exigida é o escrito particular. Ninguém verifica a regularidade do
consentimento.
Temos aqui um conflito positivo de qualificações. Neste conflito, vamos preferir a lei
portuguesa, aplicável à substância.
Deve preferir-se a substância à forma, pois na substância o legislador escolhe a lei mais
próxima. Se o conflito é entre a lei mais próxima ou a lei que tem outros objetivos, deve
escolher-se a lei mais próxima, que o legislador entendeu ter uma ligação mais forte ao caso. A
lei da forma está orientada para outros propósitos.
Veja-se o art.36º CC. O conceito-quadro é a forma da declaração negocial (se tem de ser por
escrito, se basta a forma verbal, etc.). Há uma conexão múltipla alternativa entre a lei que
regula a substância ou a lei do local da celebração. Mas veja-se o que acontece. Se a lei da
substância impuser determinada forma (sob pena de nulidade ou ineficácia) deixa de haver
alternativa. É uma norma que dá respaldo à preferência da substância em detrimento da
forma. Temos aqui, a acrescentar aos argumentos acima mencionados, uma base legal para
apoiar este critério.
Resolve este critério o nosso caso? Não serve. Veja-se o próximo.
Exemplo de escola: no direito sueco, os cônjuges mantêm os seus bens, mas no momento da
morte (dissolução por morte) junta-se o património comum e divide metade para os cônjuges
sobrevivos e metade para os herdeiros. No direito inglês, também não se conhece comunhão
de bens, mas na morte de um dos cônjuges, metade do seu património é entregue ao cônjuge
sobrevivo. Cria-se um conflito, por uma solução tida como incompatível. Nestes casos, qual o
regime a aplicar?
Um autor alemão diz que, à partida, prefere-se (1) o regime matrimonial, uma vez que
normalmente aplica-se cronologicamente primeiro (o regime matrimonial já era aplicado
quando a pessoa era viva, enquanto que o regime sucessório só se aplica depois). (2) Só não é
assim se o regime matrimonial mudar o regime de bens no momento da morte, como faz a lei
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
sueca; nesse caso, faz sentido preferir a qualificação sucessória, porque temos um efeito
jurídico da morte.
Este critério também não soluciona o nosso caso.
Se o problema não pode ser resolvido ao nível do DIP, há que o resolver ao nível do direito
substantivo. Temos de escolher entre as duas normas materiais que são simultaneamente
aplicáveis e de resultado incompatível. Tudo se passa como se fossem duas regras materiais
incompatíveis, ao nível interno. Neste caso:
Só existe quando houver uma total ausência de critério decisório. Só se põe, se por força dele,
houver total ausência de critério decisório.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Vamos ter de escolher o ordenamento jurídico que vai dar solução. Vamos perguntar-nos “se
isto fosse um conflito positivo, conseguíamos escolher uma regra sobre a outra? Os critérios
de qualificação permitiriam escolher uma das regras de conflitos que entram em choque?”.
Temos um conflito entre uma regra de conflitos de direitos reais e uma regra de conflitos de
sucessões.
O primeiro critério abordado a propósito da hierarquização, mencionado em cima, diz-nos que
a lei que vai dar solução é a lei portuguesa. Porque é que não está a dar solução? A solução é a
do 2133º CCiv, mas não a aplicamos, porque ela não tem normas reais sobre o problema, é de
natureza sucessória O que vamos fazer é fazer uma qualificação subsidiária. Vamos ter de
ficcionar que ela tem natureza real. Assim se resolve o conflito negativo de qualificação.
Sucede que se dá autorização ao juiz como que para “mudar” o sistema, alterando a natureza
do art. 2133º/1 al.e) CCiv., atribuindo-lhe natureza real.
Os Conflitos de Sistema
Imagine-se: o sr. A é brasileiro e reside em Portugal. Quer perfilhar uma criança. Aplica-se a
lei brasileira. No Brasil põe-se o problema da validade desta perfilhação. O juiz brasileiro
utiliza o art. 56º CCiv.? Vai utilizar o DIP brasileiro, que manda aplicar a lei do domicílio. Ou
seja, no Brasil consideram aplicável a lei portuguesa.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
08/11/19
o Vantagens: ▪ Faz aplicar a lei que efetivamente o legislador considerou como a lei mais
próxima ao caso; não aceitar é uma fora de impor a lei que consideramos mais próxima ao
caso concreto.
▪ Devolução Simples (França) – quando aplicamos a lei estrangeira é para aplicar as normas
materiais dessa lei e as regras de conflito dessa lei. Ou seja, quando consideramos uma lei
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
competente e ela tem uma devolução simples, temos de aplicar a lei que a sua regra de
conflitos considerar competente. • Quando remetemos para L2, vamos aplicar a lei que a regra
de conflitos que essa lei estiver a indicar.
• Só que nem sempre a harmonia jurídica internacional pode estar garantida, por isso
não é perfeita, aparecendo outra.
▪ Dupla Devolução (Inglaterra) – vamos olhar para o DIP da L2, aplicamos as normas matérias,
as regras de conflito e também as normas de reenvio dessa lei; vamos aplicar exatamente a
mesma lei que seria aplicada no tribunal do país da L2. • Com esta teoria conseguimos
promover a harmonia jurídica internacional.
• Como espera que os outros sistemas decidem e se os vários países tiverem este sistema
não se consegue encontrar uma solução, porque cada um esta à espera do outro; a dupla
devolução não é perfeita.
11/11/19
(reenvio->continuação)
Dupla devolução: quando se remete pra a lei 2 é uma referência global: para a regra de
conflitos da lei 2 e para o próprio sistema de resolução de conflitos do país 2: posição do
reenvio total.
Referencia material: a regra de conflitos de 3 está a apontar para a lei 1 (do foro- a lei 3 aponta
para as normas materiais da lei 1 e desconsidera-se o DIP do país 1 – posição que não admite o
reenvio. Se o caso se aplicasse em 3, aplicar-se-ia em 3 a lei 1.
Devolução simples: quando se aponta para uma lei aponta-se para a regra de conflitos dessa
lei, aplicando-se a norma material para a qual esta regra de conflitos aponta o que é diferente
que aplicar a norma que o juiz desse país iria aplicar. Nem sempre conduz à HUL. Se a lei 1
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
remete para a lei 2 com devolução simples e a lei 2 remete para a lei 1 com devolução simples
e a lei 2 remete para a lei 1 com devolução simples. Se o caso se aplicasse em 1, que lei é q o
juiz aplicava? A lei 1, porque é a lei que a regra de conflitos de 2 aponta. E se o caso se pusesse
em 2? É para aplicar a lei que a regra de conflitos de 1 está a apontar, que é a lei 2.
“aceitar o reenvio”: deixar de aplicar a lei que a nossa regra de conflitos indica para aplicar
uma outra, que não aquela que o nosso legislador considerou a mais próxima. Aceitar o
reenvio justifica-se por razões de harmonia jurídica internacional. O que é aceitar o reenvio?
Deixar de aplicar a lei que tínhamos indicado para aplicar outra. Mas nem sempre o reenvio é a
solução para promover a harmonia jurídica, pois por vezes, não aceitar o reenvio, acaba por
gerar harmonia.
Esta era a posição até 1966 estes eram os três sistemas que existiam. Em 1966 entrou o código
civil português. Aqui não vamos ter um pré juízo sobre se vamos aceitar ou não o reenvio. Com
isto percebemos que umas vezes o reenvio faz sentido, e outras vezes não. No nosso sistema,
vamos ver em concreto, quando faz sentido e quando não faz sentido. O sistema de reenvio
está consagrado no artr.16º a art.19º do CC. O art.16º tem como epigrafe o princípio geral.
Que sistema de reenvio está presente neste artigo? Fala-se aqui na lei estrageira, e determina
apenas a aplicação do direito material dessa lei. Que sistema de reenvio está aqui? A
referência material. O nosso sistema não é um sistema de referência material, é sim um
sistema pragmático. Mas o artigo refere-se também à “falta de preceito em contrário”, e são
estes o art.17º e 18º, que são os casos em que admite reenvio. Mas estes artigos têm âmbitos
de aplicação diferentes. O art.18º é para que casos? Para os casos de retorno direto e de
retorno indireto. Nestas matérias, temos que ver se vale a pena ou não usar o reenvio. No
art.17º tem como âmbito de aplicação o reenvio como uma transmissão de competências
simples ou em cadeia.
Assim, nos vamos aceitar o reenvio, apenas se este promover a harmonia jurídica. Se não
promover a harmonia jurídica, nós utilizamos a referência material.
Nota: Não se aplica este sistema quando utilizamos regras de conflito da união europeia ou de
convenções internacionais, este serve apenas para regras de conflitos de fonte interna.
Nota: segundo ferrer correia, no art. 16º temos uma regra e nos art.17 e 18 duas exceções.
Isto é, nos só utilizamos as exceções quando são necessárias à harmonia jurídica. Mas, para
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
batista machado, nós temos um pp geral no art.16 que estabelece os casos em que há
referencia material, e temos casos em que há reenvio, referencia global nos art. 17 e 18.
Segundo o artigo 16º, em princípio que regra é para aplicar? Aplica-se a lei 2- referencia
material. Esta posição não aceita o reenvio. Mas, há casos em que isto não é assim. Isto é um
retorno.
Mas, haverá casos em que faz sentido aplicar o reenvio? O nosso sistema, à partida, quer fazer
referência material, i.e., aplica a lei 2. Mas, também está disponível para fazer reenvio. Então
como sabemos se devemos fazer reenvio ou referencia material? Temos de ter em atenção à
lei que está em causa no caso concreto.
Concluindo, o art.18 diz que devemos aceitar o reenvio, se a L2 estiver a fazer uma referência
material à lei material portuguesa.
Quando faz sentido aceitar o reenvio neste caso do art.17º? se a lei 2 remeter para a lei 3 e se
esta se considerar competente para julgar o caso. O que é ser competente? O requisito é que a
lei 3 remeta para si própria, ou seja, assumir-se a ela própria como competente. Então o juiz
de 3 aplicava a lei 3. Em 2, remete-se para 3 com base na referência material. Faz sentido
aceitar o reenvio ou mantemos a regra do art.16º? aceitar o reenvio. E se a lei 2 remeter para
a lei 3 com devolução simples? E com dupla devolução, também faz sentido? Sim, devemos
aceitar o reenvio. Na transmissão de competências simples, basta que a lei 3 se considere
competente, independentemente do meio que usa.
Só é retorno quando alguma lei remete para a lei portuguesa, L1. Se não houver remissão para
a L1, estamos perante um caso de transmissão de competências.
No caso de transmissão de competências, não baste ver se a lei 3 é competente ou não para
saber se devemos ou não aceitar o reenvio. As vezes, a L3 aparentemente não se considera
competente, nestes casos temos de verificar se em 3 o juiz aplica ou não a sua lei; se conseguir
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
aplicar a L3, considera-se competente indiretamente, ou seja, podemos aceitar o reenvio pois
esta garantia a harmonia jurídica internacional.
Transmissão de competência em cadeia: a lei 1 remete para a L2, que remete para a L3, que
remete para a L4. Não está diretamente prevista no art.17º, vamos fazer uma extensão
teleológica para aceitar o reenvio para a lei 4 se isso promover a harmonia jurídica.
Nos casos de retorno direto com dupla devolução, do ponto de vista da harmonia jurídica
internacional, é indiferente aceitar ou não o reenvio, uma vez que em qualquer uma das
decisões, a mesma está garantida.
Coloca-se saber qual a melhor decisão a tomar. Existe divergência doutrinal: para Ferrer
Correia, utilizamos o art.16, que para ele é uma regra e os outros dois são as exceções. Como
neste caso não é necessário o reenvio para garantir a harmonia jurídica internacional, por isso
aplicamos o art.16º que diz que temos de fazer uma referência material. A vantagem desta
posição é que aplicamos a lei que consideramos competente; já Batista Machado diz que não
há regras nem exceção; neste caso em concreto, é o caso em que o legislador não previu.
Podemos começar por uma harmonia jurídica, mas este não será necessário pois está sempre
garantido. Temos de aplicar o princípio da boa administração da justiça (o último princípio que
recorremos) que permite ao juiz escolher a lei que conhece melhor, e que no nosso caso será a
lei portuguesa.
Este é o sistema básico do reenvio. Mas se repararmos, os art.17 e 18 têm números, e nós só
olhámos para o número 1.
15/11/19
Revisão do retorno: imaginemos que estamos a escolher a lei a aplicar à validade de uma
perfilhação.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
O nosso sistema aceita deixar de aplicar a lei canadiana, se isso for favorável à harmonia
jurídica.
Sabendo isto, faz sentido que aceitemos o reenvio? Faz, pois se aceitarmos o reenvio para a lei
1, significa que vamos aceitar a mesma……..
Aqui, estamos perante um caso de retorno, pois a L2 remete para a L1, logo aplicamos o
art.18º. o tribunal de 2 está a mandar aplicar a lei portuguesa logo temos uma autorização
para aceitar o reenvio – art.18º/1 – aplica-se a lei do local da celebração.
Exemplo: A é canadiano e reside no brasil (L3). Que lei aplicamos? A lei portuguesa. Por força
da aceitação do reenvio, estamos a aceitar uma lei que provavelmente a pessoa não conhece.
Há certas matérias mais sensíveis, em que a aceitação do reenvio não pode ocorrer apenas por
causa da harmonia jurídica.
Então, o legislador criou o estatuto pessoal, estas são as matérias mais próximas das pessoas.
Estas matérias estão presentes no art.25º. Que leis aplicamos nestas matérias? A lei pessoal,
ou seja, a lei da nacionalidade. Também a lei da residência é uma boa escolha para o estatuto
pessoal.
No nosso caso, de perfilhação, estamos a aplicar a lei do brasil em que ele perfilhou. E isto não
faz sentido, pois ele provavelmente não conhece a lei portuguesa. E porque mandámos aplicar
a lei portuguesa? Por causa do reenvio. Isto significa que nem sempre devemos aceitar o
reenvio só com base na harmonia jurídica.
Assim, cria-se um sistema em que o reenvio é mais restrito. Mas isso não significa que o
reenvio não seja possível, apenas a sua aceitação é mais exigente. Não basta a harmonia
jurídica, mas também a harmonia jurídica qualificada, isto é, quando estivermos no estatuto
pessoal, o legislador tem um cuidado redobrado. Nestas matérias do art.25º, em que se aplica
a lei da nacionalidade, só aceitamos o reenvio se existir uma harmonia jurídica qualificável.
Enquanto que harmonia jurídica internacional é um acordo entre os países sobre a lei
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
aplicável. Já a harmonia jurídica qualificável, não existe um acordo entre os países, mas sim
entre a vontade das duas leis aplicáveis à pessoa (lei da nacionalidade e lei da residência).
Se este caso se pusesse no brasil, temos harmonia jurídica internacional, mas não temos
harmonia jurídica qualificável, pois as duas leis não estão de acordo quanto à lei aplicar, logo
não aceitamos o reenvio.
Como funciona o art.18º/2? Começa com “quando, porém…”, significa que é uma exceção a
um caso em que tínhamos aceitado o reenvio. O reenvio só se mantém se se preencherem um
dos requisitos alternativos. Se não se preenchem os requisitos do art.18º/2 não se mantém o
reenvio, logo vamos aplicar a L2.
Art.17º/2 diz-nos que temos de estar em matéria de estatuto pessoal e pelo nr.1 estávamos
dispostos a aceitar o reenvio.
Enquanto que no art.18º tínhamos critérios adicionais, no art.17º temos causas de cessação de
reenvio (o interessado residir habitualmente em território português ou residir em país que
esteja a mandar aplicar a lei da nacionalidade). Paramos o reenvio se se verificar uma destas
condições.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
18/11/19
Notas:
A lei portuguesa é a única que utiliza o reenvio de forma altruísta. As outras não. Comente: as
outras posições dogmáticas mostram uma certa posição sobre o reenvio, eu acho que se deve,
eu acho q não se deve…. O legislador português não tem uma posição de princípio sobre o
reenvio, ele aceita se tiver vantagens, se não, não aceita.
Para que serve? Porque nestas matérias de estatuto pessoal, o legislador não quer aplicar uma
lei que o agente não conheça.
L1 (onde tem imóvel), remete para L2 por referência material (nacionalidade), que remete
para a L3 também por referência material (onde fez o testamento). A L3 remete para a L1.
Aplica-se então:
T3 -> L1
T2 -> L3
T1 -> L2
Aplicamos a lei 2, com base no 18º, pois não temos harmonia jurídica internacional, logo não
se faz reenvio, logo aplica-se a lei que a Lei 1 manda aplicar. (não se aceita o reenvio, logo não
se deixa de aplicar a lei que nós achamos competentes para aplicar outra)
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Segundo Ferrer Correia, nas matérias do estatuto pessoal não podemos ser indiferentes ao
que fazem as duas leis principais. Assim, a harmonia jurídica qualificada não é só um limite do
reenvio, como também nestes casos ela promove o reenvio.
Pires de Lima diz que nem o art.17º e 18º não preveem a autonomia qualificada, logo não
pode ser aceite.
Ferrer correia defende-se, dizendo que ele não está expressamente previsto, mas retira-se do
sistema. Como? Porque nas matérias do estatuto pessoal é para aplicar a lei que as leis mais
importantes mandam aplicar (17º/2 e 18º/2).
Nos casos em que se verifique harmonia jurídica internacional, não nos podemos esquecer de
recorrer aos art.17º/2, ou ao art. 18º/2 nos casos de retorno. É nestes artigos que se
encontram os limites ao reenvio, e caso não se verifiquem os requisitos destes artigos, não se
aceita o reenvio.
Outro princípio:
Princípio da maior proximidade. É muito fácil confundi-lo com o princípio da proximidade, que
diz que o DIP deve escolher a lei mais próxima.
C.P. : Vejamos o art.62º do CC, manda aplicar a A a lei da nacionalidade, como ele é português,
aplica-se a lei portuguesa. Ele deixou bens no brasil, em Portugal e na frança. A lei portuguesa
vai dizer quais são os herdeiros em relação aos bens todos, quer os do brasil, como os da
frança, como os de Portugal. Isto não envolve um risco? A lei portuguesa diz que o herdeiro é o
cônjuge vivo. O que vai fazer este cônjuge com esta sentença? Vai a frança registar os seus
bens. Mas e se lá em frança se considera competente outra lei para regular a sucessão dos
bens imoveis? Eles dizem que na frança se aplica a lei do local do imóvel, frança, e dizem que o
cônjuge não é herdeiro.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
O problema põe-se quando estamos a escolher uma lei para universalidade de bens, que é
este caso, pois escolhemos a lei portuguesa para regular a sucessão de vários bens que se
encontram em diferentes países.
Este problema nunca se põe em matérias de direitos reais. Porque aos direitos reais aplica-se a
lei da situação da coisa (art.46º), logo o problema não se poe. Apenas se põe em matérias sem
ser em direitos reais, como por exemplo sucessões, regime de bens do casamento, etc.
Mas e se, em vez de escolher uma lei para regular uma universalidade de bens, em certos
casos excluíssemos dessa universalidade alguns bens imóveis e os sujeitássemos à lei da sua
situação? A isto se chama o problema do princípio da maior proximidade.
“A lei de todo vai ceder à lei da parte”: em certos casos, devemos deixar de aplicar a alguns
imoveis a lei que tínhamos escolhido para a universalidade de bens, e sujeitamos esses imoveis
à lei da sua situação. Para garantir que as nossas decisões sobre esses imoveis são
reconhecidos no país onde eles se encontram. Isto não faz sentido em direitos reais, porque
nestes já se aplica a lei da situação da coisa.
Em que casos faz sentido fazer isto? Em que casos faz sentidos escolher certos bens? Isto
corresponde a duas aceções diferentes do princípio:
1- aceção restrita ou material: Há poucos casos em que isto acontece. Que casos são
estes? Só nos casos em que a lei da situação da coisa tenha um regime material
especial para aqueles bens. Se ela tiver normas especiais para aquele tipo de bens, faz
sentido deixar de aplicar a lei da nacionalidade, e aplicar a lei da situação da coisa.
Ex.: no direito Brasileiro, há uma norma que diz que a sucessão de bens imoveis com
interesse histórico tem de dar preferência ao estado. Aqui faz sentido deixar de aplicar
a lei que tínhamos escolhido pois existe para estes bens uma lei especial que os regula.
2- Aceção ampla ou conflitual: devemos deixar de aplicar a lei que tínhamos escolhido,
quando a lei da situação da coisa, à luz do seu DIP, se considera competente.
Ambas dizem que há certos bens que merecem essa seleção, o que muda é em que casos.
Apreciação do princípio:
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
A doutrina portuguesa tem uma posição unanime: na aceção restrita o princípio faz todo o
sentido. Tudo indica que se existem normas especiais, é porque são de facto bastantes
especiais, e a não serem aplicadas, isto pode gerar falta de reconhecimento. Se são especiais,
provavelmente são normas de aplicação necessária imediata. Logo, o princípio deve vigorar na
aceção restrita.
E na aceção ampla? Ele tem imoveis em frança, e a lei francesa diz que se deve aplicar a lei
francesa. Faz sentido? Para a doutrina portuguesa não. Não faz sentido só porque ela se
considera competente. Por duas razoes: pode não ser necessário e pode não ser suficiente.
Para que? Para o objetivo da maior proximidade, para o reconhecimento da nossa decisão.
Quando é que não é necessário? Estaríamos a abdicar de aplicar a lei geral para aplicar a deles
porque eles se consideram competentes. Só que pode não ser necessário, pois se o direito da
situação dos bens tiver o regime de direitos adquiridos (ainda não demos) acabam por
reconhecer a nossa decisão, e por isso não vale a pena desistir da primeira lei.
Quando não é suficiente? Mesmo que nós desistamos de aplicar a nossa lei, Às vezes não
basta, pois às vezes nos países dos bens, nunca reconhecem leis estrangeiras sobre os imoveis
no seu território.
Na aceção restrita, o princípio vigora, por via da aplicação das normas de aplicação necessária
imediatas estrangeiras.
Na aceção ampla, o princípio não vigora, mas há duas situações em que o legislador lhe deu
relevância:
Afloramento direto: há uma única regra de conflitos que tem esse princípio (art.47º). é a única
regra de conflitos que consagra o princípio da maior proximidade. O conceito quadro deste é a
capacidade para constituir direitos reais sobre imoveis ou para dispor deles. Devemos começar
a ler a partir do ponto e vírgula, que refere a lei pessoal, a lei da nacionalidade. “desde que
essa lei assim o determine” – se a lei da situação da coisa se considerar competente, podemos
aplicá-la, caso contrário aplicamos a lei da nacionalidade. É o caso onde vigora o princípio da
maior proximidade na aceção ampla. Chama-se afloramento direto porque há uma regra de
conflitos que refere diretamente esta situação.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
que esta não se considere competente e pode reenviar para outra lei. Também é matéria de
estatuto pessoal, assim devemos preocupar-nos com a harmonia jurídica internacional e
qualificada. Caso pratico…
O art.17º/3 é uma causa de reativação do reenvio, visto que o 17º/2 tinha parado o reenvio.
O art.17º/3 reativa com 3 requisitos: nas situações que o artigo refere, pode-se reativar o
reenvio; se a lei nacional indicada pela norma de conflitos devolver para a lei da situação dos
bens imóveis; e se a lei se considerar competente;
Mas porque o legislador deixa vigorar o reenvio numa matéria tao sensível, quando nem há
harmonia jurídica? Para fazer vigorar o princípio da maior proximidade. Isto é uma
consagração do princípio da maior proximidade.
1ª pergunta: qual das acessões está no 17º/3? Aceção ampla – art.17º/3 parte final, pois exige-
se que a lei 3 se considere competente.
Como se chega ao 17/3? Temos que passar pelo 17/1, que cria uma exceção à referência
material e aceita o reenvio. Depois passamos pelo 17/2, que cessa o reenvio, isto é uma
exceção à exceção. Depois passamos ao nr3. Que é uma exceção à exceção da exceção da
regra, isto é, volta a reativar o reenvio.
22/11/2019
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
T3 – L3
T2 – L3
Assim, aceitamos o reenvio. Mas podemos? Vamos procurar ao art.17º, pois estamos perante
uma transmissão de competências.
Devemos atentar ao princípio do favor negotti. Mas será quem em matéria de reenvio este
princípio também atua?
Vamos recorrer ao art.19º, “casos em que não é admitido o reenvio”. Este artigo é uma causa
de cessação do reenvio com base no princípio do favor negotti, para proteger as expectativas
das partes depositadas – se por causa do reenvio nós chegarmos à invalidade de um negócio,
cessa o reenvio. i.e., se nós tivéssemos aceitado o reenvio, o negócio fosse inválido, segundo o
art.19º, o reenvio cessa. O art.19 funciona quando o negócio era válido para a lei 2 (a lei que
nós aplicaríamos segunda a regra geral do art.16º), mas tornou-se inválido devido à aceitação
do reenvio para a lei 3. Nestas situações, o reenvio cessa.
Assim, se cessa o reenvio, aplicamos o art.16º, que manda aplicar a Lei 2, e com isto
consideramos que o negócio é válido. MAS, com isto abdicamos da harmonia jurídica
internacional.
41
Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Isto de abdicar da harmonia jurídica é boa ideia? Por um lado é bom para as partes, mas isto
causa instabilidade na harmonia jurídica. Deve fazer isto? Para a escola de Lisboa, sim.
1- o artigo 19º deve funcionar para negócios jurídicos já celebrados, pois só assim é que as
partes têm expectativas;
2- que se consiga demonstrar que as partes tinham uma legitima expectativa em ver aplicada a
Lei 2 que considerava o negócio válido – as partes só podem ter alguma expectativas se eles
foram ler a nossa regra de conflitos, pois é a nossa L1 que manda aplicar a L2. Mas como
podemos saber se eles contavam ou não com a aplicação da lei 2? Bem, podemos presumir
que talvez eles contassem com a aplicação da L2 se no momento da celebração do contrato
havia algum contacto com Portugal (L1).
A escola de Coimbra entende que só com estes dois requisitos é que se pode considerar que
devemos abdicar da harmonia jurídica internacional.
Chegamos assim ao último princípio – favor negotti – funciona como limite. Mas pode
funcionar como fundamento autónomo do reenvio? Sim, em duas situações específicas:
Art.65º CC – neste artigo estão presentes conexões múltiplas alternativas, em que o legislador
dá várias soluções. E porque faz isto? Porque ele quer a validade do testamento, pois ele
preocupa-se com as expectativas doo legislador – princípio do favor negotti. Aqui, aplica-se a
lei que tornar o negócio válido. Na última opção, há reenvio, pois a lei do local da celebração
manda aplicar a L3. Aqui o princípio não funciona como um limite, mas sim como um
fundamento autónomo do reenvio.
Art.36º/2 CC – também vê o princípio do favor negotti não como limite, mas sim com
fundamento autónomo.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
1. Conexões proibidas do reenvio: se a regra de conflitos utilizar aquela conexão, não vai haver
conflito.
Uma delas é a prevista no art.19º/2 – a escolha das partes. Se a regra de conflitos escolheu
como elemento de conexão a escolha das partes, nunca vai haver reenvio.
2. Este sistema de reenvio só se utiliza quando estejamos a usar regras de conflitos internas.
Não se utiliza o nosso sistema de reenvio quando usamos regras de conflitos de regulamentos
da eu ou de convenções internacionais.
Porque é que a maioria destes regulamentos e etc. utiliza a referência material? Porque
quando há uniformização os conflitos desaparecem. Opta-se pelo sistema mais simples.
25/11/2019
Como reconhecemos a validade de um negócio jurídico feito no estrangeiro? Quando ele for
válido para a lei competente.
Tanto determinamos a lei aplicável para as situações que se vão constituir como para as
situações a reconhecer.
Quando utilizamos regras de conflitos bilaterais pode haver um problema: mandar aplicar a lei
X e esta mandar aplicar outra – conflitos negativos de sistemas – resolvemos este problema
através do reenvio.
Mas estas regras de conflitos, sobre tudo as bilaterais, podem gerar outro tipo de problema:
compro um telemóvel em nova York, por exemplo, quando a L1 manda aplicar a L2, e esta se
considera competente, mas, esta L2 diz-nos que o contrato é nulo, logo em Portugal este
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negócio não vai ser reconhecido. Mas, a lei de Nova York diz que o negócio é válido. O
problema é que quando compro o telemóvel, em nova York, lá dizem-me que a lei competente
é a nova-iorquina, e lá o contrato é válido. Pois se nós seguirmos a nossa regra de conflitos,
não reconhecemos, MAS, se dermos importância à lei estrangeira, o contrato é válido.
Via de regra, o nosso sistema não leva em consideração os sistemas de DIP estrangeiro, é um
sistema imperativo. O DIP serve para escolher a alei mais próxima, porquê então olhar para as
leis estrangeiras?
Há um caso em que o legislador escolhe uma lei mais próxima mas admite que há outra mais
próxima. Estamos a falar dos casos em que estamos perante o estatuto pessoal, pois o
legislador escolhe a lei da nacionalidade, mas também considera a lei da residência. Pois para
o legislador, estas são as duas leis mais próximas em casos de estatuto pessoal.
2- Negócios jurídicos – só vamos utilizar o art.31º/2 para negócios jurídicos, e nunca para
as situações constituídos pela lei. É preciso também atender às expectativas das partes
– quando um indivíduo pratica um negócio jurídico, este cria automaticamente
expectativas das partes, e é preciso proteger essas situações. Aqui aparece como
aplicável o princípio do favor negotti. MAS, não podemos nunca utilizar este regime
para situações que não sejam negócios jurídicos? Sim, podemos utilizar para os que
para nós são negócios jurídicos, mas também para negócios jurídicos para figuras afins,
como por exemplo a perfilhação, que criam legítimas expectativas.
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4- Em conformidade com a lei deste país, desde que esta se considere competente: no
país da residência, tem de se considerar a lei da residência competente. Porquê? O
sistema parte do pressuposto em que nas matérias de estatuto pessoal se aplica a lei
da nacionalidade, mas também se dá atenção à lei da residência. Se no país da
residência mandar aplicar a lei da residência, e se lá o negócio é valido, nós temos de
reconhecer a validade, pois entendemos que a lei da residência tem tanta autoridade
como a lei da nacionalidade.
Estes 4 requisitos são cumulativos, i.e., têm se estra verificados todos eles. Cumprindo-se os 4,
nós reconhecemos como válido o negócio jurídico, apesar de não ser válido aos olhos da lei
portuguesa – princípio do favor negotti está sempre aqui presente.
1- Tem de ser um negócio celebrado há algum tempo, pois só assim é que sabemos que
existem expectativas das partes, pois só assim faz sentido deixar de aplicar a lei que
nós tínhamos escolhido;
2- Não pode haver uma sentença estrangeira sobre o assunto. Se houver uma sentença
estrangeira já estamos no âmbito do reconhecimento de leis estrangeiras;
3- Tem de ser um problema de validade do negócio que seja suscitada a título principal e
não a título incidental. Não pode ser uma situação prévia, mas sim uma questão
principal, senão submete-se o problema ao instituto da situação previa, e isso não é
matéria de DIP.
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Faltam os requisitos do art.31º/2, os literais: estamos perante o estatuto pessoal; não temos
um negócio jurídico mas abrange figuras afins ao negocio jurídico, que é o caso da perfilhação;
o negocio tem de ser valido para a lei da residência e esta tem de considerar competente
(precisamos de saber qual é a lei da residência e qual é que esta se manda aplicar, e esta tem
de considerar o negócio válido). A lei brasileira considera-se competente? Se o caso se
aplicasse no brasil, aplicava-se a lei brasileira, ela considerava-se competente, logo este
requisito está preenchido. Temos outro requisito – o negócio tem de ser celebrado no país da
residência. Este senhor reside no brasil, mas fez a perfilhação na argentina. Falha aqui este
requisito, e, à partida, falhando um requisito, não podemos reconhecer (os critérios são
cumulativos). MAS, se virmos, este negócio, no país da residência é válido, e nós não estamos
a reconhecer este negócio porque não foi celebrado no país da residência. Será que devemos
abdicar deste requisito? Toda a doutrina diz que podemos abdicar deste requisito (ser
celebrado no país da residência), porque ele não é necessário para a ratio do art.31º/2. Com
isto, fazemos uma primeira flexibilização do art.31º/2, pois se este requisito não se verificar,
não há problema, pois basta que o negócio seja reconhecido no país da residência.
Imaginemos agora que o português reside em londres e perfilhou uma criança no Canadá. Esta
perfilhação é inválida par a lei portuguesa e para a lei inglesa, mas é válida para a lei
canadiana. A lei do país da residência, está a mandar aplicar a lei do local da celebração com
referência material. – art.56º manda aplicar a lei pessoal, a lei da nacionalidade. Este senhor é
português, logo aplica-se a lei portuguesa, logo a perfilhação é inválida. Mas, talvez possamos
reconhecer esta perfilhação, em nome do Pp. do favor negotti e do reconhecimento da lei da
residência.
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Ficamos assim? A lei da residência manda aplicar a lei do local da celebração, que e o Canadá,
e no Canadá o negócio é válido. Se o caso se pusesse em londres, ir-se-ia aplicar a lei canadiana
e o negócio seria válido. Então, será que não devíamos reconhecer, uma vez que no país da
residência o negócio é tido como válido por mandar aplicar a lei canadiana? Assim, a doutrina
propõe uma interpretação extensiva do 31/2 aceitando uma diferente interpretação do quarto
requisito. Não vamos exigir que o país da residência aplique a lei da residência e que este o
considere válido. Basta que a lei da residência mande aplicar uma lei que considera o negócio
valido. Se no país da residência se considera o negócio válido, então devemos entender o
requisito como preenchido e reconhecemos a validade do negócio.
1- É estatuto pessoal;
2- É considerado negócio jurídico;
3- O negócio precisa de ter sido celebrado no país da residência, mas foi em cuba
(podemos abdicar deste)
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
4- Que a perfilhação seja valida à luz da lei da residência e que esta se considere
competente. A lei da residência (cuba) considera o negócio válido mas não se
considera competente. Falhou assim o quarto requisito.
MAS, já sabemos que podemos fazer uma interpretação extensiva, e basta-nos que no país da
residência , mesmo que ela não se considere competente, ver as leis que lá se aplicam e ver se
consideram o negócio válido. Sabemos que em cuba mandam aplicar a L2, e a lei 2 diz que a
perfilhação é nula, ou seja, nem com interpretação extensiva vamos conseguir.
Em estatuto pessoal, à partida preferimos a lei da nacionalidade. Vamos ver se este problema
se colocasse no país mais importante (o da nacionalidade). Se o caso se pusesse na Bélgica, o
que achavam eles da perfilhação? Eles mandam aplicar a L3, cubana, que considera a
perfilhação válida – interpretação enunciativa por maioria da razão. Se estávamos dispostos a
considerar válidos os negócios que produzem efeitos no país da residência, será que não
devemos reconhecer os negócios que no país da nacionalidade (que para nos até é mais
relevante) produzem efeitos? Se podemos fazer isto, conseguimos reconhecer a perfilhação.
Esta é a posição da escola de Coimbra – faz esta interpretação analógica do art.31º/2.
Fazemos isto em nome da proteção das expectativas das partes, isto é, em nome do princípio
do favor negotti.
Na prática estamos a aplicar a lei da nacionalidade ou a L3? A L3, no fundo vamos reconhecer
o negócio que está a ser considerado válido no país da nacionalidade, i.e., na prática, ao
aceitar a interpretação analógica do art.31º/2, vamos acabar por aplicar a L3, pois o país da
nacionalidade está a mandar aplicar a L3.
Esta interpretação analógica restringe o art.17º - estamos a aceitar reenvios que o art.17º não
permitia. Esta interpretação provoca um reenvio não autorizado pelo art.17º. E é aqui que está
o motivo pela qual a escola de Lisboa não aceita esta interpretação analógica. O princípio
protegido pelo art.17º é o da harmonia internacional e este é um princípio de ordem pública. E
se fizermos uma interpretação analógica, era em favor do princípio do favor negotti, e este não
é um princípio de ordem publica, pois só protege as partes e não todos.
MAS, o legislador já mostrou que entre estes dois princípios prefere o princípio do favor
negotti (art.19º), pois prefere a validade do negócio do que a harmonia jurídica internacional,
logo é possível esta interpretação analógica do art.31º/2.
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09/12/19
Momento do controlo:
MAS, no art.978º/2 CPC, é possível utilizar sentenças não confirmadas como meio de prova:
nesse caso, pode ser apreciada nos termos gerais pelo julgador.
Ex.: num processo a correr em tribunal português por danos causados num acidente
rodoviário, pode ser aceite como meio de prova uma sentença marroquina relativa à infração
de regras de transito. – é recebida como um documento e não como um ato jurisdicional.
É relevante o objeto da decisão – e não o tribunal que a proferiu. Pode ser oriunda de um
tribunal criminal que haja decidido um pedido de indemnização civil e, nesse caso, está
abrangida. O que é relevante é que seja uma decisão que, no país do reconhecimento
(Portugal), seja privada.
O que é uma decisão proferida por um tribunal estrangeiro A que seja atribuída, no país de
origem força de caso julgado.
Modalidade de controlo
Requisitos de reconhecimento:
1- Que não haja dúvidas sobre a autenticidade do documente de que conste a sentença
nem sobre a inteligência da decisão. Mas e se houver dúvidas? Existem mecanismos,
como a tradução e a legalização de documentos estrangeiros.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
2- Que tenha transitado em julgado segundo a lei do país em que foi proferida (pode ser
provisória);
3- Que provenha de tribunal estrangeiro cuja competência não tenha sido provocada em
fraude à lei e não verse sobre matéria da exclusiva competência dos tribunais
portugueses;
4- Que não possa invocar-se a exceção de litispendência ou de caso julgado com
fundamento em causa afeta a tribunal português, exceto se foi tribunal estrangeiro
que preveniu a jurisdição. (ou decisões já confirmadas);
5- Que o réu tenha sido regularmente citado para a ação, nos termos da lei no país do
tribunal de origem, e que no processo hajam sido observados os princípios do
contraditório e da igualdade das partes (ordem publica processual);
(até aqui todos os requisitos são formais, mas o próximo já não é)
6- Que não contenha decisão cujo reconhecimento conduza a um resultado
manifestamente incompatível com os princípios da ordem publica internacional do
estado português. Aqui não se verifica a lei aplicável, apenas atendemos ao resultado.
Este requisito é o único traço de controlo de mérito.
Há ainda condições de reconhecimento no art.983º: estas têm de ser arguidas pelo requerido
– caso contrário o tribunal não conhece delas.
Aqui, podem ser ainda invocadas duas causas. O tribunal competente será o tribunal da
relação, de segunda instância, pois é uma decisão perante outra decisão.
Até 2013, havia aqui uma contradição com o regime da oposição ao reconhecimento – que
permitia impedir revisão quando a sentença portuguesa fizesse caso julgado primeiro, ainda
que proposta depois. Essa possibilidade foi eliminada.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Tese da bilateralização da regra portuguesa: só será competente se segundo a nossa lei ele
for competente. Ex.: nas açoes de divorcio, os tribunais portugueses seriam competentes se
aqui fosse o domicilio do autor. Assim, só se considera que o tribunal X era competente se aí
for o domicilio do autor. É a única forma de se controlar a competência do tribunal estrangeiro
pelos critérios que se reoutam adequados. Este é o sistema vigente na Alemanha e na italia.
Posto isto, a tendência atual é propiciar a unilateralidade, mas ela envolve uma renuncia ao
controlo da competência: pode suceder que o país de origem haja determinado a sua
competência a casos que não tem contato relevante.
E se, ainda assim, o estado de origem tiver uma competência exorbitante? Ferrer correia,
moura ramos e dário moura vicente, partidários da unilateralidade, defendem a introdução de
uma clausula de limitação aos casos em que haja uma ligação relevante.
Art.980º/c): “que provenha de tribunal estrangeiro cuja competência não tenha sido
provocada em fraude à lei e não verse sobre matéria da exclusiva competência dos tribunais
portugueses”.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Sistema regra
-983º/1: admite-se uma revisão de mérito nos casos do art.696º/a), c) e g): recurso
extraordinário por crime do juiz, novo documento ou ato simulado;
Privilégio da nacionalidade
Será conforme o DUE? Nos domínios cobertos pelo DUE, há uma discriminação em razão da
nacionalidade que é proibida pelo art.18º TFUE.
O regime do CPC
Este regime tem cada vez menor aplicação. Visto que é subsidiário, só se aplica quando não há
convenções ou regulamentos. O problema é que existem cada vez mais regulamentos e
convenções e leis especiais, o que faz com que não se aplique o regime do CPC.
Porquê? Porque nós confiamos mais nas decisões tomadas pelos estados membros da união
europeia.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Se viermos de uma decisão de um estado que está coberto por um regulamento, nós sabemos
que a competência do tribunal estrangeiro está assegurado pois as regras dele são iguais à
nossas.
Qual destes prevalece? Regulamento ROMA l – princípio do primado da lei da união europeia.
Os contratos que não forem abrangidos pelo regulamento, continuam a reger-se pelo 1º
regime.
O art.41º é para todos os negócios jurídicos, enquanto que o regulamento Roma l é apenas
para os contratos.
Mas nem todos os contratos, só os de matéria civil e comercial. Para alem disto, O art.1º/2 do
regulamento exclui alguns contratos. Se estivermos perante um destes contratos excluídos,
aplica-se o 1º regime. Por norma, estes contratos são pessoais e comerciais.
Os EM celebraram a convenção de Roma sobre a lei aplicável aos contratos. Essa convenção
entrou em vigor em Portugal em 1 de janeiro de 1994. Quando a união europeia começou a
ter competências no DIP, substituiu a tal convenção e Roma pelo atual regulamento Roma l.
assim, aplica-se o regulamento aos contratos celebrados a partir de 17 de dezembro de 2009.
Para os contratos de ante de 1994, aplica-se o CC, para os celebrados entre 94 e 2009, aplica-
se a convenção de Roma, e a partir de 2009 aplica-se o regulamento Roma l.
Temos então 3 coisas que se devem verificar para sabermos se o contrato em questão é ou
não regulado pelo regulamento Roma l.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Qual é então o critério escolhido pelo legislador para escolher a lei aplicável aos contratos? O
art.41º do CC manda aplicar a escolha das partes – Princípio da autonomia conflitual – não é o
estado a escolher a lei aplicável, mas sim as partes. Elas é que decidem a lei que vão escolher.
Isto vem do sec. XVl.
Porquê autonomia conflitual? E qual a diferença entre autonomia conflitual e material? (SAI
SEMPRE EM EXAME) – nos contratos, quem sabe a lei mais próxima são as partes. O legislador
nunca conhece as partes, quem sabe verdadeiramente a lei mais próxima são as partes. A
segunda razão é a segurança jurídica, as partes já sabem a lei que se lhes vai aplicar, o que
aumenta a segurança jurídica e diminui os conflitos.
Em relação à segunda questão. O que é a autonomia conflitual? Deixar as partes escolher a lei
aplicável. Já na autonomia material, as partes estão limitadas pelas normas imperativas. É o
espaço que cada lei permite as partes fixarem as clausulas das suas relações jurídicas. Dentro
dos limites de uma certa lei, as partes podem ter mais ou menos liberdade. A autonomia
conflitual é outra coisa, pois aqui escolhe-se o sistema jurídico, e este sistema jurídico é que
pode dar mais ou menos liberdade às partes.
13/12/19
Concluímos que tanto existe autonomia conflitual no regulamento de Roma l como no art.41º
do CC. Até aqui, é igual nas duas situações.
Mas, apesar de existir nos dois sistemas, não é igual nas duas situações. No regulamento esta
autonomia é maior, pois a tendência é esta aumentar, e o regulamento é mais recente.
Será que é visível uma escolha tácita da lei a aplicar? As partes não escolhem diretamente a lei
a aplicar, mas existem indícios de que preferem determinada lei. Olhemos ao código civil –
art.41º - que admite que pode existir escolha tácita da lei a aplicar. Não é necessário existir
escolha expressa. E o regulamento? Também admite a escolha tácita? Diz que a escolha deve
ser expressa ou resultar de forma clara das disposições do contrato. Admite-se, portanto,
também a escolha tácita.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Atenção que a escolha tácita não é uma escolha hipotética. A escolha hipotética é a escolha
que as partes teriam feito, mas não fizeram. Enquanto que na escolha tácita existe uma
verdadeira escolha.
Como se sabe que num contrato as partes estão a escolher tacitamente uma lei?
Primeiro é preciso analisar o contrato – existem 3 indícios, que não são exclusivos, mas são
importantes:
Há um indício muito duvidoso – a língua em que está o contrato ou a moeda por que se rege o
contrato.
O art.41º/2 CC diz que está dentro de um certo leque de leis. A lei tem que estar em conexão
com o caso ou que corresponda ao interesse sério das partes. Podemos dizer então que a
autonomia conflitual é limitada.
Art.3º Roma l diz que não existem limites à autonomia conflitual, as partes podem escolher
qualquer lei.
Isto será compatível com o princípio da não transatividade? Não estaremos a aplicar uma lei
que não tenha nenhuma ligação ao caso? Ou será que aqui acaba por ter uma ligação ao caso?
Não, nestes casos, a vontade das partes torna aquela lei próxima o suficiente.
Nas situações puramente internas (só estados membros), também se admite autonomia
conflitual?
E se as partes lá puserem uma cláusula de escolha de lei nas situações puramente internas? –
art.3º/3 – o contrato é uma situação em que o contrato apenas está em contacto com um país
mas escolhem uma lei externa – situações puramente internas e situações relativamente
internacionais.
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Diana Ferreira DIPrivado Teóricas
Será que se admite uma escolha parcial da lei? Será que num contrato se pode escolher a lei
aplicável a uma parte do contrato e não a todo o contrato?
SIM, as partes podem designar a lei aplicável à totalidade ou apenas a parte do contrato.
Contudo, apenas se permite um fracionamento objetivo. Isto é, não se permite que uma parte
fique regulada por uma lei e outra parte por outra – regulamento roma l.
Para fechar, importa saber, e se as partes não escolherem? O regime do CC diz que – art.41º -
falhando a 1ª conexão, existe uma conexão subsidiária. O regulamento é muito mais moderno
do que o CC, e já inclui o fenómeno do depesage, e em vez de ter uma lista, ele escolhe a lei
mais próxima consoante o tipo de contrato. Aqui temos de ver se o contrato tem duas partes
iguais ou se o contrato tem uma parte mais fraca.
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