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Método Jurídico
I. O PROBLEMA DO ACESSO AO CONCEITO GERAL DE MÉTODO JURÍDICO
Pensamento Jurídico
O pensamento jurídico é aquele setor cultural em que se assume e cumpre o sentido
com que o direito se compreende a determinar as relações sociais, a ordenar a
convivência comunitária- sentido esse que se revela o regulativo constituinte do direito
que normativamente perspetiva essas relações e essa convivência e ainda como
fundamento ultimo da solução dos problemas jurídicos.
Por outro lado, o universo jurídico (o direito e a realidade histórico-social que ele
ordena e estrutura) manifesta-se como um sistema – como um subsistema do sistema
cultural global- e o pensamento jurídico não é senão a ratio desse sistema – a “razão
jurídica” do “sistema jurídico”.
Assim, o pensamento jurídico acaba por ser o intencional constituens daquele sistema
e da sua prática – “é o motor em virtude do qual um sistema jurídico se organiza de
modo coerente, e próprio para realizar certos fins”, é o “que dirige esta atividade para
certos fins”.
Destarte o pensamento jurídico é a chave para determinar o Método jurídico, método
esse que será a metódica especifica de pensar e resolver os problemas jurídicos.
O pensamento jurídico é uma entidade culturalmente histórica: é a função decerto da
conceção do direito e dos objetivos práticos por que ele se orienta em cada época
(desde logo os sistemas de valores comunitários que o direito não deixa de assimilar).
Até ao séc. XVIII
Pensamento jurídico como um capitulo de filosofia prática.
Surge de raízes gregas, sobretudo aristotélicas, repensada em perspetiva teológico-
cristã pelo pensamento medieval e procurava a solução de todos os problemas da
global praxis humana na ética, na doutrina ética do bem e da justiça, em todas das
suas três distintas modalidades fundamentais (romana, medieval e moderna). Na
diversidade cultural e metódica que essas diferentes modalidades exprimem – uma de
sentido sobretudo prudencial, outra de sentido mais hermenêutico e a terceira já de
intenção racional (dedutivo racional)- e com a maior ou menor mediação de um
sistema de fontes normativas positivas que essas modalidades também diversamente
Alexandre da Silva A82506
Sentido analítico- Esta critica começou por incidir sobre o ato da aplicação
concreta do direito, particularmente sobre o juízo jurisdicional ou a sentença, e
que ao contrário do que impunha o esquema silogístico-subsuntivo, não se
tratava de um ato puramente lógico ou que se realizasse e termos tão-só
dedutivos. Por um lado, no concreto juízo decisório concorriam efetivamente
ponderações práticas, “juízos de valor”, momentos volitivos e considerações
teleológicas; Por outro, que o problema da aplicação jurídica não estava na
dedução a partir de premissas que se postulavam oferecidas (normas e factos)
mas na determinação e elaboração de premissas exigidas como critérios pelo
problema do caso decidendo -determinação e elaboração que o esquema
lógico da aplicação nem considerava, nem podia orientar, sendo certo que
tanto a seleção da “norma aplicável” como a formação da “premissa menor” ou
da “subsunção” em si mesma, ou seja, da referência do caso à normas eram
apenas possíveis mediante um juízo normativamente prévio e autónomo do
julgador que verdadeiramente determinava aquela seleção e preparava a
subsunção. Depois, a interpretação da norma reconhecia-se menos como a
mera explicação analítica do seu conteúdo objetivo e mais a constitutiva
imputação a esse conteúdo de um particular sentido normativo em função e
como resultado da referência normativa da norma às exigências problemáticas
do caso concreto – “a interpretação é o resultado do seu resultado” – G.
RADBRUCH; “a norma será como é interpretada” – T. ASCARELLI; o que permite
concluir que o problema da interpretação jurídica não é puramente
hermenêutico e si normativo. Por ultimo, dava-se ainda conta de que a própria
“construção” (elaboração dogmática conceitual sistemática do direito positivo)
tinha verdadeiramente na sua base uma interessa intenção prática assumida
pela subjetividade do jurista pois era decisivamente orientada pelos objetivos
práticos que se propunha. Tudo o que nos leva concluir que os metódicos
esquemas lógicos não eram senão esquemas de exposição de uma atividade ou
atos jurídicos cuja constituição tinha outra sede e se determinava de outro
modo, e sobretudo que o esquema silogístico-subsuntivo não era mais do que o
esquema lógico de justificação ex post de aplicações do direito constituído ex
ante por intenções de índole diversa – o que era afinal cobrir com a aparência
Alexandre da Silva A82506
Pós II Guerra Mundial o pensamento jurídico veio a orientar-se por duas linhas
diferentes, já atrás referidas. Têm de comum o reconhecimento da índole prática-
constitutiva da atividade jurídica, da realização do direito. Mas já se distinguem
quer no sentido último a reconhecer à vocação prática do pensamento jurídico,
quer nos objetivos que, em coerência com esse sentido, ele se haverá
constitutivamente de propor.
ao próprio direito? Pois o direito postula uma ordem justa da sociedade e não
tão só uma organização viável ou eficaz da mesma sociedade, tem a ver com o
universo espiritual e de sentido, com o dever ser de uma axiológica validade e com
correlativos fundamentos normativos, não apenas com o mundo empírico da
factualidade, da eficácia e dos efeitos. O direito é uma categoria ética, não uma
categoria “cientifica” – a sua racionalidade é prático-axiológica, não tão-só técnico-
intelectual.
2. A constituição do direito
O atual quadro metódico do pensamento jurídico orienta-se para a realização do
direito numa linha de continuidade com a tradicional ciência do direito dogmática. E se
reconhecemos nessa realização do direito um momento concretamente constitutivo,
tratava-se, todavia, de um momento só mediatamente constituinte. Mas elevada a
tarefa imediata, que não apenas mediata, e como tema autónomo ou para além da
referencia completar ao direito constituído, a constituição do direito (no sentido de
produção de direito novo) tornou-se hoje também objeto do pensamento jurídico ou
da “ciência do direito”.
Produção do direito assim inferida, por sua vez, numa conceção alargada da “ciência
do direito” que se especifica, por sua vez em duas disciplinas particulares, a politica do
direito e a teoria da legislação.
problema e bem assim da realidade humana, mas todas elas e não menos o
seu conjunto deixam intocado o problema fundamental do homem, que justamente se
furta a uma redução analítico-teorética. Já que também o problema do direito não se
resolverá pela mera síntese dos fatores e elementos que constitutivamente nele
concorrem.
O que já a outra referia orientação validamente revela ao sublinhar que “a reflexão
sobre as estruturas axiológicas do direito” – a reflexão sobre a humanidade do direito
para além da consideração da sua socialidade, da sua legalidade e da sua cientificidade
e enquanto remete aquela reflexão à filosofia do direito- é a ultima ratio de todo o
jurídico já prescritivo, já decisório. Ou, de outro modo, que a politica do direito tem
por tarefa a “formulação do melhor direito possível”, mas querendo deste modo
significar que a tarefa constituinte do direito exige tanto a irredutível consideração do
valor fundamentante (o melhor) como do facto condicionante (o possível). Que tanto é
dizer, e em geral, que o momento essencial da intencionalidade normativa só pode ter
a sua base constitutiva numa reflexão argumentativa em que se assume
axiologicamente os sentido humano-comunitário de direito enquanto tal – o seu
domino não é da evidencia demonstrativa e da heteromia impessoal e sim o de um
pessoal e responsabilizante encontro de espíritos (PERLEMAN).
O que nos levará a concluir que o Método Jurídico, na complexidade dos seus
pressupostos, das suas estruturas e das suas dimensões intencionais culmina numa
filosofia. Mais do que uma mera hermenêutica e pra além de uma estrita dogmática, o
método jurídico, ao propor-se a tarefa do global problema do direito, não recusa
menos reduzir-se a uma simples tecnologia, porquanto, sendo essencialmente uma
prática normativa de projeção judicativo-decisória, não pode deixar de convocar uma
fundamentante reflexão prática (uma filosofia prática) por que, regulativa e
constitutivamente, se oriente.