Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A designação habitual metodologia jurídica, com um sentido próximo ao que lhe damos,
encontra-se de uma forma persistente no contexto da generalidade dos sistemas de Civil
Law (de inspiração romano-germâ-nica), destacadamente no horizonte alemão; nos
sistemas de Common Law, de matriz anglo-saxónica, esta terminologia não tem um
correspondente rigoroso (nem mesmo, na verdade, em alguns ordenamentos de Civil Law
), o que decorre do uso diferente de uma mesma expressão: no plano destes segundos,
metodologia vem sempre associada ao domínio da oficina júris enquanto reflexão sobre
uma investigação jurídica dogmaticamente estruturada e orientada em termos
científicos; no nosso contexto, diferentemente, a metodologia jurídica reporta-se
sobretudo à realização judicativo-decisória do Direito, ao modus operandi do juiz
(desenvolveremos adiante em que termos).
1.1. Ponto de partida: a pergunta «de que modo?» e a contraposição entre a dimensão da
validade normativa e a dimensão metodológica
Uma vez que começámos pela referência ao modo como CASTANHEIRA NEVES
assume esta discussão, convém referir já a célebre conferência que o próprio profere sob
o título “O papel do jurista no nosso tempo ”: nela (e, mais tarde, em “A crise actual da
filosofia do direito no contexto da crise global da filosofia - tópicos para a possibilidade de
uma reflexiva reabilitação ”), o autor parte da sua ideia matricial de que o Direito é “uma
solução possível para um problema necessário”, e vem enunciar três grandes questões
Além disto, esta questão carrega em si uma reflexão pesada, noutra vertente: é que,
como sabemos, o Direito é tido e considerado, no contexto ocidental, como que
assente numa “ordem de validade” autorreferencial; assim, formular esta pergunta é
abordar a medida dessa sustentação.
Finalmente, se por uma lado o Direito se situa como assente numa ordem de
validade, e, por outro, se se compreende à luz de um certo contexto (num quase
paradoxal “absoluto histórico” autotranscendente, como CASTANHEIRA NEVES o
formula), chegamos agora à dificuldade de saber como ele se realiza – qual o método
para a sua concretização –: aqui reside, verdadeiramente, o problema central da
metodologia jurídica.
Nos termos em que a questão é respondida pelo autor e pelo curso, vamos chegar a
uma conceção de prius metodológico pensado e experimentado por uma via de
continuidade prática entre o caso e a realização concreta do Direito, mediada pela
figura incontornável e intransponível do juiz, e que assume que daquele primeiro se
extrairá, percorrido um tal caminho, a verdadeira experiência da juridicidade. Mas
como aqui chegamos?
Deparando-nos com o meta enquanto “objetivo, finalidade que se visa conseguir”, e com
um odôs enquanto “caminho, percurso a percorrer”, obtemos o método – o processo, no
caso, para uma realização plausível do Direito –; de análise mais dificultada, e onde
reside uma primeira questão de relevo, temos o logos como racionalidade, uma exigência
de aspiração, uma lógica no sentido condutor a dar ao método
• Outra das questões prementes, colocada esta análise, é a que se debruça sobre
as diversas relações possíveis entre o logos e o método, dado que, como já foi
sendo dito, a um percurso poderão subjazer variadíssimas racionalidades e
intencionalidades lógicas.
o Com isto, HART tomou aquilo a que podemos chamar um conceito de classe –
class concept –, procurando um conceito universal de Direito que fosse tão
detalhado quanto possível, e estruturando para tal um conjunto rígido de pontos
de orientação que, uma vez preenchidos em bloco, permitiriam classificar uma
determinada ordem, sistema ou decisão como juridicamente relevantes (i.e.,
como “de Direito”) -, chegando, como sabemos, à sua distinção entre normas
primárias e normas secundárias.
+Cabe, nesta sede, uma primeira referência ao papel absolutamente essencial de HAYEK,
autor contemporâneo que famosamente distingue duas dimensões da compreensão do
Direito – como nomos e como thesis –, referência de que cabe, para já, uma
contraposição simples:
Com esta menção, e amparado por uma noção de nomos muito próxima, BRONZE
pretende uma metodologia que pense o Direito como ordem de validade imanente, a
partir da experiência do problema concreto – a prática jurisdicional –; impera, nessa
medida um acrescento do predicativo nomos.
Como é sabido, este discurso cientificista, proferido por um certo positivismo herdeiro
da Escola Histórica, partia de numa separação essencial entre o pensamento jurídico
(enquanto Ciência do Direito) e o Direito (como objeto a ser estudado): o pensamento
jurídico cientificamente concebido não poderia ser senão uma explicitação racional do
objeto a que se dirigia, pelo que se veio caracterizar como um pensamento teorético, que
separa antes de mais o que é sujeito do que é objeto – é nesta base que se erige um
modelo relacional de exterioridade construtiva e prescritiva –.
Como se sabe, o positivismo viria fazer redundar esta visão no entendimento de que o
legislador vem estabelecer um esquema silogístico hipotético-condicional, que assim se
impõe ao aplicador da lei; embora se avancem outros argumentos no sentido da
aplicação silogístico-subjuntiva do Direito (como o de que apenas assim, estática e
rigidamente, pode o juiz respeitar a validade da lei enquanto expressão da volonté
génerale, sem nada acrescentar ao Direito que aplica), a ideia central é a de que a
observância de tal método corresponderá às ditas exigências racionais, ao passo que a
não observância da lógica subsuntiva culminará numa decisão arbitrária, irracional.
Se, por um lado, uma tal compreensão do Método Jurídico ainda influencia, pelo peso
absolutamente esmagador que assumiu, algumas perspetivas atuais – e aludiremos ainda
adiante em que termos –, na verdade a sua condição de paradigma caiu, já após o século
XIX
Aquele primeiro raciocínio de tom transcendente pode, em todo o caso, ser revirado e
contraposto pelo exemplo histórico da compreensão e realização do Direito: na verdade,
não se conhece uma qualquer tematização autónoma do método em autores antigos,
havendo uma marcante falta de discussão sobre uma qualquer “determinação prévia e
exterior do método” em obras medievais, tão pouco no horizonte romano; se os juristas
praticavam, sem dúvida, um determinado modo de compreensão do Direito, nunca se
debruçaram, reflexivamente, sobre o “método” que empregavam.
Bem, se tal atitude pode ser sedutora, teremos para nós que algumas coordenadas do
contexto contemporâneo o complexificam de forma tal que, como têm CASTANHEIRA
NEVES e LINHARES, resulta evidente a sua insuficiência – apenas se agravaria, ao invés
de se resolver, o problema –.:
Tudo isto acaba por tornar claro que é necessário um equilíbrio que se baseie numa
verdadeira intenção normativa – é inadequada, por parca, uma qualquer atitude
prescritiva, mas também não é suficiente uma atitude de mera descrição empírica da
prática jurisdicional (de “teoria da prática”, como têm ESSER e GRÖCHNER) –.
prescreva um método imposto à prática; querer-se-á uma descrição, é certo, mas mais
do que um mero relato (como originalmente o daqueles juristas medievais ou romanos):
A compreensão desta distinção passa ainda, como dissemos, pela colaboração com
outras distinções possíveis; dessas, caberá referir (além de outra para já mais
apagada, dirigida a uma dialética societas/communitas, e que contrapõe interesses
estratégicos de prossecução dos fins comuns a uma dimensão verdadeiramente
axiológica – vê-lo-emos melhor a propósito da superação do Método Jurídico do séc. XIX
–) uma que tem recentemente ganho maior destaque, particularmente contraposta e
concertada com o esquema desta primeira.
→Discursos da área aberta (open área ): de acordo com este entendimento (para o qual
o funcionalismo é campo particularmente fértil), somos levados a entender que perante
um caso difícil, que conjuga várias hipóteses equivalentes mas alternativas, o julgador
virá mobilizar intenções não jurídicas (orientadas por uma sensibilidade pessoal), sejam
elas políticas, económicas, pragmáticas, até mesmo éticas; no raciocínio de POSNER, o
juiz escolherá a intenção que ele próprio terá definido anteriormente, mesmo que fora de
um esquema jurídico, ou até de forma inconsciente.
A) Poderá defender-se uma linha de continuidade discursiva, ou, pelo menos, uma
comensurabilidade certa, que permita uma perspetiva macroscópica por sobre um único
método jurídico – será o que defendem várias teses –:
i. Uma primeira proposta, nesta linha, é a de HAYEK, pelo que convirá retomar aquele
raciocínio que já encetámos, a propósito do elemento nomos, por sobre dois tipos-
dimensões de compreensão do Direito:
i. Ora, considera-se que esta construção já não pode ser tida como
possível, pelos estritos termos em que foi formulada: na verdade,
HAYEK enquadrou a sua compreensão dinâmica numa base atualista, e a
“espontaneidade” a que se refere assenta de tal forma numa determinada
exigência de liberdade e determinação imanente, que acaba por ver
como exemplo máximo de tal afirmação… a lógica de mercado.
ii. Como é evidente, uma tal conceção romperia gravosamente com uma
construção do Direito como verdadeiro jus, e coartaria certas bases de
entendimento que temos por fundamentais, impedindo
desenvolvimentos verdadeiramente interessantes.
Para CASTANHEIRA NEVES, esta assunção implicará que se diga que o papel decisivo
da função jurisdicional passa a ser o dizer autónomo do Direito, com uma racionalização
específica que parte do regresso a uma lógica de descontinuidade, de rejeição de uma
complementaridade formal como a que o positivismo oitocentista propugnou, mas
também qualquer visão de unidade metódica: como tal, a convocação do Direito à sua
realização estará, sem dúvida, comprometida com a criação legislativa (e assim político-
ideológica), mas dedica-se a “assimilá-la nomologicamente”, a transpor essa criação para
um plano sistemático em sentido próprio.
Em suma, diremos que no juízo decisório jurídico reverte-se a voluntas à ratio : o Direito
não pode ser apenas realizado, exclusivamente, através do juízo: em bom rigor, uma
referência a uma qualquer fundamentação racional sem que nada haja para fundamentar
(a solução escolhida) é inútil; mas também uma simples opção de um poder judicial,
radicada na vontade, não conseguirá cumprir as exigências do nomos, a que já tivemos
muitas oportunidades de aludir.
Com esta última referência conseguimos delimitar, por fim, o objeto intencional da
metodologia jurídica: o modelo metódico racionalmente fundado que permite uma
“ponte” entre o Direito positivo vigente (a juridicidade) e a decisão concreta (a realização
do Direito em concreto). Mas qual o específico tipo – ou quais os específicos tipos – de
racionalidade que poderá explicar e fundamentar a mera decisão, convertendo-a em puro
juízo?
Será disso que caberá agora estudar: dos tipos de racionalidade jurídica, e da
racionalidade jurídica que permeia, como tal “ponte”, a mera decisão e a decisão
judicativa (sendo que apenas nesta se terá a realização em concreto do Direito); por
outras palavras, pretendemos conhecer o objeto intencional que delimitámos.
• Será muito importante que se sublinhe este aspeto do estudo, uma vez que o
problema em mãos é, essencialmente, o de aferir de um tipo de racionalidade
num contexto pautado pela pluralidade de razões (quase que paradoxalmente
inserido na dita atual crise da razão), muito diverso do de outros tempos; o
que se pretende, hoje, é abordar genericamente os vários tipos de
racionalidade que se têm identificado, e tentar compreendê-los em
cruzamento com o universo do Direito, sob as suas várias propostas de
discurso.
tópica, hermenêutica, etc.), no fundo reconduzíveis àquilo que LINHARES chama uma
“Mega racionalidade prático-prudencial”, por acentuar uma prática que conhecera primor
na pré-modernidade, associada sobretudo à virtude aristotélica da phronesis (latinizada
prudentia – aqui o pendor “prático-prudencial ”, que retomaremos detalhadamente mais
à frente –).
Em Ética a Nicómaco (Livro VI), ARISTÓTELES apresenta aquilo a que podemos hoje
chamar uma base para os diferentes tipos de racionalidade: as virtudes intelectuais
(especificadamente, sofia, theoria, nous, phronesis, poiesis, etc.), que o autor distingue
entre as que colocam o sujeito perante um objeto exterior – numa atitude contemplativa
– e as que autonomizam, em termos próprios, uma prática firmada entre sujeitos: tanto
nos permitirá falar já numde racionalidades essencial, que nos acompanhará daqui em
diante:
Não deixamos, porém, de atender aos aspetos determinantes de modelos mais antigos e
mais recentes, num quadro comparativo e expositivo global; assim, será esta a nossa
ordem de estudo:
2. Racionalidade lógico-formal
hoc sensu, como racionalidade objetiva: já referimos que não há aqui uma atitude
verdadeiramente contemplativa, antes a ausência de qualquer referência a uma
exterioridade (o que nos distancia, sem dúvida, do domínio propriamente
teorético).
2. Paradigma aplicativo: a menção mais destacada cabe, como seria inevitável, à resposta
mecânica que se desenvolveu: o silogismo subsuntivo, que parte da ideia de uma passagem
lógica (rígida, necessária, e materialmente neutra) do Direito dado ao caso concreto.
A tentação de resvalar para esta famosa compreensão do Direito e do método foi de tal
modo marcante que, ainda hoje, grande parte do tratamento dogmático que é dado ao
Direito objetivo parte desta compreensão silogístico-subsuntiva, quase que
inconscientemente; até conscientemente, em certos casos – autores há que, em nome de
um pragmatismo, propõem o recurso a posteriori ao esquema lógico, como método final
de controlo (uma “prova dos nove”) sobre a correta mobilização dos materiais normativos
implicados –.
3. Racionalidades teoréticas
Como já dissemos, se bem que o esquema modelo dado pelo positivismo formalista, de
racionalidade lógico-formal, se aproxima de uma atitude teorética – mormente no plano
jurídico –, a racionalidade objetiva, que parte de um esquema sujeito-objeto onde se
implica uma atitude contemplativa, é bem diversa; cabe falar, então na racionalidade
teorética – se quisermos – hoc sensu.
Um discurso teorético que assumiu grande destaque no pensamento jurídico ocidental foi
o discurso especulativo [speculum - espelho], que podemos reconduzir à virtude
intelectual aristotélica da sofia, ou sapientia (para ARISTÓTELES, a sophia é o
conhecimento de verdades universais e transcendentes, e é considerada em grande
medida uma virtude maior).
Vários problemas puderam suscitar-se em torno desta leitura; porém, terá sido a
valorização do elemento da historicidade, logo no século XIX, a contribuir decisivamente
para diagnosticar as dificuldades e desadequações das posições jusnaturalistas (não
obstante haja ainda quem ensaie tentativas semelhantes – nomeadamente, se bem que
com específicas variações e alguns preciosismos, CABRAL DE MONCADA –).
4. Racionalidade instrumental-estratégica
Dito isto, cabe compreender o modelo que, num plano jurídico, o discurso finalístico-
funcional (associado a um teleotecnologismo, como fala PINTO BRONZE) tido por
uma racionalidade destas propõe: pode falar-se num esquema racional determinado
em dois degraus:
Por vários motivos poderemos refutar esta proposta: não só pelos pressupostos em que
assenta (funcionalistas, a implicar em grande medida um discurso de área aberta, focada
sobretudo num discurso finalístico da societas ), mas ainda pela implicação larga de uma
unidade metódica que, em sede própria, já viemos rejeitar.
5.Racionalidades práticas
Porém, a phronesis aristotélica foi sempre sendo sustentada numa ordem de validade
necessária, num certo Direito natural – ideia cujo restabelecimento pós-moderno a
marcada acentuação da historicidade que o séc. XIX trouxe tornou largamente inviável –;
como tal, a recuperação da prudentia não pôde mais ser acompanhada pelo apoio
metafísico que a mesma tinha no contexto pré-moderno: passou a sustentar-se toda a
prática pela prática, como especificação e ramificação concretizadora de uma phronesis
historicamente situada – no fundo, uma combinação da revitalização da filosofia prática
com a aquisição moderna da communitas enquanto construção axiológica humana,
imanente –.
Uma primeira via veio situar o percurso no problema concreto: a resposta ao caso
vai-se desenvolver sempre e fundamentalmente na perspetiva do mesmo (compreensão
que é desenvol-vida posteriormente pelas correntes da tópica, da “nouvelle
réthorique ” – vide PERELMAN, VIEHWEG, TOULMIN –), a permitir uma abordagem
antiformalista e proto-argumentativista, as-sente, principalmente, em dois pontos
essenciais:
Como é evidente, resultam muitas reservas quanto à aceitação deste modelo proposto à
racionalidade metodológica – substituir a autorreferência a uma ordem de validade
anterior indisponível por uma autorreferência ao mero procedimento como raiz de
validade não resolve, em boa verdade, o problema –, não obstante a menção desta
proposta seja uma nota incontornável, como veremos, na nossa assunção do modelo
dialético problema-sistema.
Proposta diversa foi dada pela nova hermenêutica – movimento intensamente ligado
a GADAMER, cujo pensamento foi, por sua vez, influenciado por HEIDEGGER –, que
partiu para um discurso jurídico como prático-prudencial (sublinha-se a importância da
phronesis aristotélica) mas, antes, dedicou-se profusamente a reinventar a hermenêutica
como proposta filosófica global, e não mero método.
A racionalidade metodológica, sem dúvida, deve ser enquadrada como uma racionalidade
prático-prudencial, por motivos claros, que já foram sendo afirmados – nomeadamente, a
assunção de um esquema dialógico sujeito-sujeito (não obstante se possam ir
identificando alguns aspetos reminiscentes de outras das racionalidades vistas), e um
acentuar da importância racional da phronesis aristotélica –.
Ainda há que sublinhar uma outra questão: da generalidade das análises histórico-
jurídicas consta o célebre momento da “viragem teleológica das normas” a
propósito da superação do paradigma positivista, formalista e normativista, que
também aqui desenvolvemos, pelo exame da racionalidade estratégica, de matriz
finalístico-funcional; todavia, essa viragem, hoje, também se faz atendendo a uma
– Valores (que virão hierarquizar os fins – na medida em que, sem uma referência
axiológica ao “outro”, se torna inacessível a própria perceção de um referente
comunitário próprio –).
Concluindo que a racionalidade jurídica, sendo prática, não convoca nenhum daqueles
discursos, cabe retomar brevemente a contraposição dos mesmos, agora apenas com o
intuito de aceder aos motivos que impedem a assimilação, por qualquer um deles, do
caminho que se propõe ser percorrido como logos da metodologia jurídica.
A racionalidade jurídica não poderá ser assumida em pleno pelo modelo tópico-retórico,
avultando para o efeito vários obstáculos de fundo, que o curso desenvolve:
3. Esvazia materialmente o papel do juiz – uma vez que esta proposta perspetiva o juiz
como mero mediador de argumentos, o mesmo tem no argumentativismo tópico- -
retórico um papel muito mais próximo ao que conhecemos nos meios extrajudiciais da
Também a resposta dada pela nova hermenêutica se depara com um argumento fulcral
contra a sua assimilação da racionalidade metodológico-jurídica:
1.Não dá uma resposta global –a tese (se bem que dinâmica e original) de que a
tarefa complexa do juiz se pode sintetizar na apreensão e reconstituição de
narrativas, sem atender ao momento em que – e ao modo como – se dirigirá ao
Direito e lhe pedirá resposta, não consegue dar mostras de utilidade geral, além
de se revelar pouco fiel à realidade do momento jurisdicional (salvo em certos
momentos e figuras, como a prova); nessa medida, tentar fazer corresponder a
Refere-se a quatro grandes dimensões que a assistem, numa estruturação quase que
“tectónica” do universo jurídico:
2.ª – sabendo que se já invocou uma dimensão de validade (a primeira), há que assumir
que nos dirigimos ao sistema jurídico, aos seus substratos, em busca dessa ordem de
validade comunitária, o que significa que temos que ter uma “precipitação” institucional
da dimensão axiológica, com caráter de dogmaticidade, nos substratos que descendem
do dos princípios – uma dimensão dogmática (em que a comparabilidade do juiz reside,
sobretudo, na ideia de que o seu juízo está sustentado em padrões de comparabilidade
que radicam numa ordem de validade, ordem que ele conhece – a que ele acede – através
do sistema) –;
3.ª – de forma próxima, também a controvérsia real, para se lhe dar uma solução jurídica,
há de ser convertida num caso jurídico, e assim “ascender” ao sistema (no esquema
dialético problema-sistema), à luz do qual o juiz tomará o relevo das suas várias
particularidades e garantirá uma decisão que é juízo – a nossa decisão judicativa ou juízo
decisório –, por convocar as exigências fundamentais e as predicações axiológicas de
validade que o sistema reveste – a dimensão judicativo-decisória
https://www.studocu.com/pt/document/universidade-de-coimbra/metodologia-
juridica/resumo-de-metodologia-do-direito/21839147