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Mulheres na ciência:

notas sobre visibilidade e representatividade


GDVSHVTXLVDGRUDVQRMRUQDOLVPRFLHQW¯ÜFR
Maria Eduarda Iankoski
Maria Elisa Maximo

Resumo
Este artigo aborda as primeiras percepções decorrentes de uma pesquisa sobre a
SUHVHQoDGDVPXOKHUHVQRMRUQDOLVPRFLHQWt¿FREUDVLOHLUR%XVFDQGRWHFHUXPGLi-
logo entre os estudos de gênero, as teorias feministas e as teorias do jornalismo,
pretende-se descrever como as pesquisadoras e suas pesquisas são abordadas em
DOJXQVYHtFXORVGHGLYXOJDomRFLHQWt¿FDGHQDWXUH]DMRUQDOtVWLFDFRPRDUHYLVWDGa-
lileu e a Ciência Hoje(PWHUPRVPHWRGROyJLFRVpLPSRUWDQWHGHVWDFDUTXHVHWUDWD
apenas dos primeiros passos na direção de um Trabalho de Conclusão de Curso e,
deste modo, o presente trabalho terá como foco a contextualização da problemática
de pesquisa e a discussão dos primeiros dados decorrentes das observações já reali-
zadas numa perspectiva qualitativa. Concretamente, o foco são as matérias e repor-
WDJHQVTXHID]HPPHQomRDPXOKHUHVSHVTXLVDGRUDVHVXDVSURGXo}HVFLHQWt¿FDV
QXPDWHQWDWLYDGHLGHQWL¿FDUHUHÀHWLUVREUHROXJDUTXHRMRUQDOLVPRFLHQWt¿FRDWUL-
bui à mulher no âmbito da ciência. Apesar da natureza inicial da análise, pretende-
se, com este trabalho, fortalecer o debate de gênero no campo do jornalismo.

3DODYUDVFKDYH-RUQDOLVPR&LHQW¯ȴFR(VWXGRVGHJ¬QHUR0XOKHUHV&L¬QFLD

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Maria Eduarda Iankoski e Maria Elisa Maximo

Introdução
Este artigo contém as primeiras notas de uma pesquisa que resultará num Tra-
balho de Conclusão de Curso de Jornalismo. Os dados apresentados aqui ainda são
muito preliminares e carecem de lapidação, mas sua discussão será fundamental
para o posterior delineamento da problemática da pesquisa. Para o momento, serão
consideradas as revistas Galileu e Ciência HojeFRPRREMHWLYRGHLGHQWL¿FDUGHV-
FUHYHUHUHÀHWLUVREUHROXJDUDWULEXtGRjVPXOKHUHVFLHQWLVWDVQHVWDVSXEOLFDo}HV
Posteriormente, serão consideradas também as revistas Superinteressante e Scien-
WL¿F$PHULFDQ.
O lugar das mulheres na sociedade sempre foi bem demarcado. A participação
e entrada feminina nas universidades, seminários, eleições e mercado de trabalho
DLQGDpPXLWRUHFHQWHHRVUHÀH[RVGHVWDHQWUDGDWDUGLDVmRYLVtYHLVQDVRFLHGDGH
1DFRPXQLGDGHFLHQWt¿FDDLQGDKRMHHVVDGHVLJXDOGDGHPDQLIHVWDVHQRVH[LVPR
existente nas áreas de conhecimento, entre as chamadas “ciências duras” e as huma-
nidades, na barreira que as pesquisadoras encontram para alcançar os cargos mais
DOWRVGDKLHUDUTXLDDFDGrPLFDRXQDVLVWHPiWLFDGHVYDORUL]DomRGDELEOLRJUD¿DHGD
SURGXomRFLHQWt¿FDIHPLQLQD1mRpUDURFRPRVDEHPRVSDUWLFLSDUPRVGHPHVDV
VLPSyVLRV FRQJUHVVRV VHPLQiULRV H RXWURV IyUXQV RQGH SUHGRPLQDP QD FRPSR-
sição de todas as atividades, homens cisgêneros e brancos, o que nos mostra que o
recorte da identidade de gênero está, usualmente, associado aos recortes de raça e
de orientação sexual.
No Jornalismo, em termos mais gerais, linhas editoriais e a “cultura” das reda-
o}HVWDPEpPLQVLVWHPHPUHIRUoDUHVWHUHyWLSRVHSDSpLVGHJrQHURKLVWRULFDPHQWH
atribuídos às mulheres. Não é necessário muito esforço para percebermos que as
mulheres surgem como fontes para o jornalismo convencional geralmente no papel
de mãe, de cuidadora, de trabalhadora doméstica, inseridas no contexto familiar e
PXLWRDVVRFLDGDVDFRPSRUWDPHQWRVHPRFLRQDLVHGHVWLWXtGRVGHUD]mR'L¿FLOPHQ-
te, a mulher surge no jornalismo diário, factual, ocupando posições de destaque, de
liderança, de poder; sobretudo quando o assunto é a ciência, a academia e o que diz
respeito a este universo.
Noemi Correa Bueno (2010) faz uma análise sobre a representação da mulher
no jornalismo. Em seu trabalho, ela se baseia em uma pesquisa realizada em 2005
pela WACC (World Association for Christian Communication) , que analisou a
1

presença das mulheres nos meios impressos, televisivos e radiofônicos de âmbito


PXQGLDO2UHVXOWDGRPRVWURXTXHDVPXOKHUHVDSDUHFHPHPGDVQRWtFLDVHHP

1. Disponível em: http://waccglobal.org/.

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0XOKHUHVQDFL¬QFLDQRWDVVREUHYLVLELOLGDGHHUHSUHVHQWDWLYLGDGHGDVSHVTXLVDGRUDVQRMRUQDOLVPRFLHQW¯ȴFR

DSHQDVGHODVDOJXPDPXOKHUpFRQVLGHUDGDFRPRXPD³IRQWHHVSHFLDOLVWD´1D
TXHVWmRGHDUWLJRVVREUHSROtWLFDHHFRQRPLDHODVVmRDSHQDVHUHVSHFWL-
vamente, das opiniões consultadas.
Dados como estes serviram de estímulo para a pesquisa que é apresentada aqui
em seus primeiros e tímidos avanços. Se, no jornalismo em geral, as mulheres já
WrPVHXHVSDoREDVWDQWHGHPDUFDGRFRPRLVVRVHGiQRMRUQDOLVPRFLHQWt¿FR"&RPR
costumam ser abordadas, como fontes “especialistas” ou como “personagens”? Per-
cebe-se que a escolha das fontes por área de estudo é determinada por critérios ma-
chistas ou sexistas? Estas perguntas nortearão a pesquisa e é com base nelas que se
pretende elaborar um panorama da visibilidade e reconhecimento da mulher no jor-
QDOLVPRFLHQWt¿FR3DUDDOFDQoDUHVWHSURSyVLWRIH]VHQHFHVViULRWHFHUXPGLiORJR
WHyULFRHQWUHRVHVWXGRVGHJrQHURHDVWHRULDVGRMRUQDOLVPRPDLVHVSHFL¿FDPHQWH
DSURGXomRFLHQWt¿FDYROWDGDDRMRUQDOLVPRFLHQWt¿FR(VSHFL¿FDPHQWHEXVFRXVH
UHÀHWLUVREUHRMRUQDOLVPRFLHQWt¿FRDSDUWLUGDVWHRULDVGHJrQHURFRQVLGHUDQGRVH
a importância e relevância da intersecção entre os dois campos.

1.-RUQDOLVPR&LHQW¯ÜFREUHYHSDQRUDPDFRQFHLWXDO
A pergunta que essa pesquisa pretende esclarecer é: qual a visibilidade e a re-
SUHVHQWDWLYLGDGHGDVPXOKHUHVQRMRUQDOLVPRFLHQWt¿FR"3DUDFRPSUHHQGHURSUR-
blema norteador deste trabalho é essencial entender, também, o contexto no qual se
FRQ¿JXUDRREMHWRGHHVWXGR(YLWDQGRXPDFRQIXVmRFRPRVREMHWRVHPStULFRVGD
pesquisa, entende-se que o objeto de estudo do presente trabalho é, concretamente,
DVUHSUHVHQWDo}HVGDVPXOKHUHVSHVTXLVDGRUDVHVXDVSURGXo}HVFLHQWt¿FDVQRMRU-
QDOLVPRFLHQWt¿FR
6HJXQGR $QHOLVH 5XEOHVFNL   R WHUPR MRUQDOLVPR FLHQWt¿FR WUDGXomR
de VFLHQWL¿FMRXUQDOLVP, usual na literatura americana e inglesa, tem sido utiliza-
GRSDUDGH¿QLUXPDSUiWLFDHVSHFt¿FDGDLPSUHQVDSDUDGLYXOJDomRGHLQIRUPDo}HV
especializadas sobre toda a amplitude da Ciência e Tecnologia (C&T). Para Wilson
GD&RVWD%XHQRFLWDGRSRU6DQGULQL  RWHUPRMRUQDOLVPRFLHQWt¿FRWHPVLGR
XVDGRGHPDQHLUDHTXLYRFDGDPXLWDVYH]HVSDUDGH¿QLUDGLYXOJDomRRXDGLVVHPL-
QDomRFLHQWt¿FD

$H[SUHVVmR³-RUQDOLVPR&LHQWt¿FR´WUDGX]LGDGH³6FLHQWL¿F-RXUQDOLVP´RX
GH³3HULRGLVPR&LHQWt¿FR´XVXDLVUHVSHFWLYDPHQWHQDOLWHUDWXUDGDVOtQJXDV
inglesa e espanhola, tem sido utilizada no Brasil de maneira genérica para
GH¿QLUDYHLFXODomRGHLQIRUPDo}HVFLHQWt¿FDHWHFQROyJLFDVRXDVVRFLDGDVjV
inovações pelos meios de comunicação de massa. O uso indiscriminado dessa
expressão tem contribuído, no entanto, para legitimar algumas imprecisões

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e ambiguidades conceituais. Consequentemente, favorece a confusão ainda


IUHTXHQWHHQWUHR-RUQDOLVPR&LHQWt¿FRHRXWUDVWHRULDVHSUiWLFDVTXHWUDWDP
GRPHVPRREMHWRLGHQWL¿FDGDVSHORVWHUPRVGLIXVmRFRPXQLFDomR RXGLV-
VHPLQDomR HGLYXOJDomRFLHQWt¿FDV %8(12DSXG6$1'5,1,S 

&DUDFWHUL]DURMRUQDOLVPRFLHQWt¿FRFRPRXPPHLRGHGLIXVmR~QLFRpXPGRVGH-
VD¿RVSDUDRVSHVTXLVDGRUHVHMRUQDOLVWDVGHVVDiUHD8PDGDVGLVWLQo}HVTXH5DIDHOD
6DQGULQL  ID]pTXHDGLYXOJDomRDGLIXVmRHDGLVVHPLQDomRFLHQWt¿FDRFRUUHP
de maneira mais ampla e global, podendo ser entre público leigo e especializado. Bue-
QR  D¿UPDTXH³RFRQFHLWRGH-RUQDOLVPR&LHQWt¿FRGHYHREULJDWRULDPHQWH
incluir o de Jornalismo”. Isso é, ter temas da atualidade, respeitar a universalidade,
DEULJDQGR GLIHUHQWHV FDPSRV GH FRQKHFLPHQWR FLHQWt¿FR SHOD SHULRGLFLGDGH H SHOD
difusão coletiva, voltada para um amplo público, o que inclui leigos e especialistas.
5HODFLRQDUMRUQDOLVPRFLHQWt¿FRFRPTXHVW}HVGHJrQHURQR%UDVLOpXPGHVD¿R
As críticas feitas ao jornalismo de C&T partem todas do ponto de vista do fazer jorna-
OtVWLFRFRPR³RMRUQDOLVPRGHFLrQFLDWHQWDVHULPSDUFLDO"7HQWDEXVFDURFRQWUDGLWy-
ULR"´³'HYHRMRUQDOLVPRFRQVLGHUDURFLHQWLVWDFRPRXPD~QLFDYHUGDGH"´RX³4XDOD
linguagem mais adequada para tratar de temas de Ciência e Tecnologia?”
(PVXDSHVTXLVD0DVVDUDQL%DXHUH$PRULP  FRQ¿UPDPTXHQR%UDVLO
HQD$PpULFD/DWLQDHOHVVmRSURYDYHOPHQWHRVSULPHLURVDSHVTXLVDURSHU¿OGRVMRU-
nalistas de ciência. Todas as outras pesquisas focam no hemisfério norte, ou seja, Es-
tados Unidos, Canadá e Europa, os centros da Ciência. A pesquisa, de 2010, focou os
VHJXLQWHVDVSHFWRVLQIRUPDo}HVSHVVRDLVGRVUHSyUWHUHVLQIRUPDo}HVGHJUDGXDomR
HSUR¿VVLRQDLV1RWRWDOHQWUHYLVWDGRVGHWRGRRSDtVRVTXDLVIRUDPFRQWDWDGRV
através de e-mails. Desta pesquisa, alguns dados chamam a atenção. Por exemplo,
dois terços dos entrevistados eram mulheres (ou 43 pessoas), a maioria dos entre-
YLVWDGRVHUDPGRVJUDQGHVFHQWURV5LRGH-DQHLUR  HGH6mR3DXOR  
4XDQWRDRJUDXGHHVFRODULGDGHRVDXWRUHVFRORFDPTXH³SUDWLFDPHQWHWRGRVRVHQ-
trevistados têm diploma universitário. Além disso, observamos que muitos buscam
FXUVRVGHSyVJUDGXDomRSRVVXHPPHVWUDGRGRXWRUDGR´
Ou seja, a pesquisa indica uma predominância de mulheres fazendo jornalismo
FLHQWt¿FRQR%UDVLOHQD$PpULFD/DWLQDFRQFHQWUDGDVHPJUDQGHVFHQWURVXUEDQRV
com forte tendência à carreira acadêmica. No meio acadêmico, a relação é semelhan-
te. Em reportagem para o site Gênero e Número, Alessandra Monnerat traz dados da
HGLWRULDGHSXEOLFDo}HVFLHQWt¿FDV(OVHYLHUVHJXQGRRVTXDLVDVPXOKHUHVMiUHSUHVHQ-
WDPGDSURGXomRFLHQWt¿FDEUDVLOHLUD 0211(5$7RQOLQH 1RHQWDQWR
³HODVWrPFDUUHLUDVPDLVWDUGLDVHSDVVDPSRUGL¿FXOGDGHVSDUDDOFDQoDUSRVWRVPDLV
DYDQoDGRVQRVODERUDWyULRV&RQFLOLDUDPDWHUQLGDGHFRPFDUUHLUDDFDGrPLFDpXP
GRVPDLRUHVGHVD¿RVTXHDVPXOKHUHVHQIUHQWDPDRHVFROKHURFDPLQKRGDFLrQFLD´

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0XOKHUHVQDFL¬QFLDQRWDVVREUHYLVLELOLGDGHHUHSUHVHQWDWLYLGDGHGDVSHVTXLVDGRUDVQRMRUQDOLVPRFLHQW¯ȴFR

0211(5$7  RQOLQH  (P  D UHODomR GH SHVTXLVDGRUHV FRP JUDX 34
(Pesquisador 1) no CNPq, a maior bolsa que se pode ter, era de 23 mulheres com até
40 anos para 280 homens . 2

1R TXH VH UHIHUH j SURGXomR GR MRUQDOLVPR FLHQWt¿FR EUDVLOHLUR XPD PLUDGD
preliminar aponta para abordagens privilegiadamente masculinas, que favorecem
pesquisadores homens e, coincidentemente, as chamadas “ciências duras” (ciências
H[DWDVHWHFQROyJLFDV HYLGHQWHPHQWHPDUFDGDVSHORSHQVDPHQWRPDVFXOLQR(VVDV
percepções serviram de motor para o delineamento da problemática desta pesquisa,
que visa descrever e analisar qualitativamente a presença das mulheres no jornalismo
FLHQWt¿FRUHDOL]DGRSRUDOJXQVYHtFXORVGHDEUDQJrQFLDQDFLRQDOHLQWHUQDFLRQDO

2. A representação das mulheres no jornalismo


As empresas jornalísticas eram pensadas e construídas como ambiente
GHVDXQDEUHJDVySDUDKRPHP1HPKDYLDEDQKHLURIHPLQLQR1R(VWD-
dão, à noite, quando fervia o trabalho jornalístico, as mulheres não eram
DFHLWDVQHPQDPHVDWHOHI{QLFD+DYLDPXOKHUHVFRPRWHOHIRQLVWDVPDV
VyGXUDQWHRGLD¬QRLWHXPKRPHPpTXHRSHUDYD0XOKHUSRGLDVHUWH-
lefonista, faxineira ou servia para fazer o café: circulava na área de serviço
(RIBEIRO apud CASADEI, 2011).

$VREVHUYDo}HVIHLWDVDSDUWLUGDVH[SHULrQFLDVGRMRUQDOLVWD-RVp+DPLOWRQ5L-
beiro mostram como o jornalismo das “grandes mídias” funcionavam na década de
1HVVDpSRFDDLQGDQmRKDYLDDJUDGXDomRGH-RUQDOLVPRRTXHGL¿FXOWDYDDLQGD
PDLVRDFHVVRGDVPXOKHUHVjSUR¿VVmR$PXGDQoDRFRUUHXDOHQWRVSDVVRVGHIRU-
PDTXHQDGpFDGDGHDVPXOKHUHVDLQGDRFXSDYDPGRVFDUJRVGDSUR¿VVmR
QR%UDVLOHQDGpFDGDGHDTXDQWLGDGHSDVVDYDXPSRXFRPDLVGRV . 3

9ROWDQGR QD OLQKD GR WHPSR GD LPSUHQVD EUDVLOHLUD RV SULPHLURV SHULyGLFRV
HVSHFt¿FRV SDUD R S~EOLFR IHPLQLQR VXUJLUDP QR VpFXOR ;,; 6HJXQGR $QD 3DXOD
%DQGHLUD  QR%UDVLORSULPHLURSHULyGLFRIHPLQLQRGHTXHVHWHPQRWtFLDp
o Espelho Diamantino. Lançado no Rio de Janeiro, em 1827, tratava de assuntos
FRPRSROtWLFDOLWHUDWXUDDUWHHPRGD3RGHVHFRQVLGHUDURSHULyGLFRFRPRH[FHomR
DRVRXWURVGRPHVPRQLFKRLQFOXtGRRVSXEOLFDGRVMiGHSRLVGHTXHWUDWDYDP
GHWHPDVFRPRDHFRQRPLDGRPpVWLFDRVFXLGDGRVUHODWLYRVjVD~GHHEHOH]D±GHOD

(QWUHYLVWDFRQFHGLGDSRU+LOGHWH3HUHLUDGH0HORHFRQRPLVWDGD8QLYHUVLGDGH)HGHUDO)OXPLQHQVHjMRUQDOLVWD1DWiOLD0D]RWWH

para o site Gênero e Número. Disponível em: encurtador.net/imoxG.


&$6$'(,(OLVD%DFKHJD$LQVHUomRGDVPXOKHUHVQR-RUQDOLVPRHDLPSUHQVDDOWHUQDWLYDSULPHLUDVH[SHULrQFLDVGR¿QDOGR

VpFXOR;;5HYLVWD$/7(5-25, ed. 03, São Paulo, 2011.

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HGDIDPtOLD±HWUDEDOKRVPDQXDLV
eTXDVHLPSRVVtYHOHQFRQWUDUXPDELEOLRJUD¿DVREUHPXOKHUHVQR-RUQDOLVPR
&LHQWt¿FR6HULDQHFHVViULRXPHVWXGRDSDUWHGHVWHSDUDFRPSUHHQGHUDVUD]}HVHV-
SHFt¿FDVGHVWDDXVrQFLD1mRVHULDDUULVFDGRGL]HUTXHHPSULPHLUDLQVWkQFLDWUDWD-
-se de uma desigualdade que reproduz o padrão social que, historicamente, exclui
RXLQYLVLELOL]DDVPXOKHUHVHPPXLWDVSUR¿VV}HVHFDUUHLUDV0DVSDUWLFXODUPHQWH
no jornalismo, essa ausência também pode estar atrelada à crença de que o critério
da imparcialidade implica numa não diferenciação de gênero. Em outras palavras,
a ilusão da imparcialidade jornalística pode estar na base da falta de interesse sobre
este recorte. Trata-se, é claro, de uma questão para ser aprofundada posteriormen-
WHPDVSDUHFHLQWHUHVVDQWHUHÀHWLUVREUHDUHODomRHQWUHDVHVSHFL¿FLGDGHVGRMRUQD-
lismo e a desigualdade de gênero ainda percebida nas redações e outros espaços de
DWXDomRSUR¿VVLRQDO1HVWHWySLFRGDPRVRSULPHLURSDVVRQDGLUHomRGHVWDUHÀH-
xão, considerando alguns estudos focados no papel das mulheres na imprensa em
geral, ou seja, não relacionada somente a assuntos de C&T.
1mRVyDPXOKHUFRPRMRUQDOLVWDWHPSRXFDUHSUHVHQWDWLYLGDGHPDVWDPEpPD
mulher como fonte. Uma pesquisa da instituição WAAC mostra que mesmo quando
as mulheres são utilizadas como fontes “especialistas”, no jornalismo tradicional,
HODVDLQGDVmRLGHQWL¿FDGDVFRPRHVSRVDVPmHVRX¿OKDVRXVHMDDLQGDHVWmRUHOD-
cionadas a um contexto familiar. Na pesquisa realizada por Patrícia Santo (2008),
analisou-se a presença do gênero feminino nas capas do jornal Estado de Minas,
veiculado no período de 25 de julho a 03 de agosto de 2006. A análise constatou
XPDPDMRULWiULDSUHVHQoDPDVFXOLQDHPGHWULPHQWRGDIHPLQLQDGDVIRWRVGH
pessoas, 60 continham apenas homens, 13 apenas mulheres e 20 homens e mu-
OKHUHV9HUL¿FRXVHDLQGDTXHDVIRWRVPDVFXOLQDVHUDPUHODWLYDVDRFRQWH[WRGH
trabalho, prisão, política, resgate, esportes, ação policial, e homenagens, enquanto
as fotos de mulheres consistiam de modelos de alta-costura, artistas, apenas duas
relacionadas à política e duas à vida cotidiana.

3. As mulheres na ciência
)RLHQWUHRVpFXORHTXHFRPHoDUDPDVSXEOLFDo}HVGHPXOKHUHVQDViUH-
DVGHKLVWyULD¿ORVR¿DOLWHUDWXUDHDOJXQVOLYURVVREUHLJXDOGDGHHQWUHRVJrQHURV
Essas mulheres, as “amadoras”, não conseguiam destaque pelos seus trabalhos e
suas publicações eram consideradas livros de poesias e sentimentos, inferiores aos
masculinos, segundo Bonnie Smith (2003). Elas serviam de plataforma para que
KLVWRULDGRUHVKRPHQVSXGHVVHPODQoDUXPDKLVWyULDPDLVUHVSHLWDGDFRPEDVHHP
PpWRGRVFLHQWt¿FRV6HDFUHGLWDYDTXHROLPLWHELROyJLFRGDVPXOKHUHVGHOLPLWDYD
sua inteligência psíquica e linguística.

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0XOKHUHVQDFL¬QFLDQRWDVVREUHYLVLELOLGDGHHUHSUHVHQWDWLYLGDGHGDVSHVTXLVDGRUDVQRMRUQDOLVPRFLHQW¯ȴFR

$VFUtWLFDVDRPpWRGRFLHQWt¿FRHVHXDQGURFHQWULVPRREMHWLYLGDGHHIDOVDQHX-
tralidade persistem nos discursos feministas nas universidades atualmente. Para
Souza (2002), assim como o gênero, a ciência é um construto social. Para ela, esse
YLpVDQGURFrQWULFRTXHSHUPHLDRSHQVDPHQWRFLHQWt¿FRLQFOXLDVVLPHWULDVGHJrQH-
ro no ambiente acadêmico e nas instituições de pesquisa, incluindo os princípios
HSLVWHPROyJLFRVTXHQRUWHLDPRID]HUFLHQWt¿FRDIRUPDSHODTXDOVmRWUHLQDGRVH
socializados os aspirantes à carreira de pesquisa, entre outros aspectos.
Deve-se considerar, também, que hoje as mulheres são a maioria a entrar e
FRQFOXLURHQVLQRVXSHULRUQR%UDVLO1DFDUUHLUDDFDGrPLFDHFLHQWt¿FDQRHQWDQWR
elas já não são tão bem-sucedidas. Na hierarquia das universidades e dos pesquisa-
dores, as mulheres normalmente ocupam os cargos mais baixos e menos rentáveis e
QRUPDOPHQWH¿FDPDSHQDVQDViUHDVGHVD~GHHFLrQFLDVKXPDQDVVHJXQGR9HOKR
H /pRQ   2 MRUQDOLVPR FLHQWt¿FR SRGH VHU SHQVDGR FRPR XP ³WHUP{PHWUR´
para medirmos a forma como a produção das mulheres pesquisadoras vem sendo
DERUGDGDQRVYHtFXORVGHGLYXOJDomRFLHQWt¿FD(PFHUWDPHGLGDpHVWHRSURSyVLWR
da pesquisa que encontra, aqui, um primeiro movimento de sistematização.

4. Análise das revistas Galileu e Ciência Hoje


$¿PGHTXDOL¿FDUDSUHVHQoDIHPLQLQDQRVSHULyGLFRVGHMRUQDOLVPRFLHQWt¿FR
do Brasil, este artigo traz alguns dados iniciais relativos à análise das revistas Ciên-
cia Hoje e Galileu, apontando questões que serão exploradas na continuidade da
pesquisa, visando a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso de Maria Edu-
arda Iankoski, sob orientação da prof. Dra Maria Elisa Máximo. Posteriormente, o
escopo da pesquisa será ampliado, com a inclusão das revistas Superinteressante e
6FLHQWL¿F$PHULFDQ . 4

$HVFROKDGRVSHULyGLFRVDVHUHPFRQVLGHUDGRVQDSHVTXLVDVHGHXHPIXQomR
das suas características, visando maior abrangência em relação ao público alcança-
do, aos temas tratados e às linhas editoriais adotadas. A revista Superinteressante
(Ed. Abril), por exemplo, é uma das mais vendidas do país no segmento de jorna-
OLVPRFLHQWt¿FR6HXFRQWH~GRpFRPSRVWRHPVXDJUDQGHPDLRULDSRUUHSRUWDJHQV
sobre os mais variados temas e é voltada para um público mais leigo. Já a revista
Galileu (Ed. Globo) tem um viés mais social, tratando de temas como aborto, tran-
sexualidade, drogas, fome e outras questões sociais. A linguagem adotada na Galileu
sinaliza seu direcionamento para um público jovem, composto principalmente por
HVWXGDQWHV7UDWDVHGHXPSHULyGLFRHPIUDQFDFRQVROLGDomRQR%UDVLO$6FLHQWL¿F
American (da Ed. Segmento) parece se situar numa fronteira entre o jornalismo

(GLWRUDVGDVSXEOLFDo}HV(GLWRUD$EULO6HJPHQWR,QVWLWXWR&LrQFLD+RMHH(GLWRUD*ORER

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Maria Eduarda Iankoski e Maria Elisa Maximo

FLHQWt¿FRHDGLYXOJDomRFLHQWt¿FDSURSULDPHQWHGLWDSRLVPLVWXUDPDWHULDOMRUQD-
OtVWLFRFRPFRQWH~GRHODERUDGRHPOLQJXDJHPFLHQWt¿FD1HVVHVHQWLGRD6FLHQWL¿F
American é, das quatro revistas mencionadas, aquela mais “especializada”, que se
volta para um público diferenciado, mais “entendedor” das ciências e mais fami-
liarizado com sua linguagem e métodos. Finalmente, a revista Ciência Hoje, criada
HPSHOD6RFLHGDGH%UDVLOHLUDSDUDR3URJUHVVRGD&LrQFLD 6%3& pXPDGDV
UHYLVWDV GH MRUQDOLVPR FLHQWt¿FR PDLV DQWLJDV GR %UDVLO 3RU HVWDU Ki WDQWR WHPSR
em circulação, tratando dos mesmos temas, a Ciência HojeDSUHVHQWDHVSHFL¿FLGD-
GHVTXHDVRXWUDVQmRWrP7RGDVDVUHYLVWDVVmRPHQVDLVHDWpR¿QDOGDSHVTXLVD
pretende-se analisar três edições de cada uma delas.
No contexto de uma abordagem qualitativa é possível aprofundar-se ainda
PDLVQDFRQWH[WXDOL]DomRGRVSHULyGLFRVVHOHFLRQDGRVSDUDHVWHHVWXGRTXHDJRUD
restringe-se às revistas Ciência Hoje e Galileu. A Ciência Hoje está ligada ao Insti-
tuto Ciência Hoje, que também publica livros e outros materiais. Trata-se de uma
LQVWLWXLomRSULYDGDHVHP¿QVOXFUDWLYRVTXHKiDQRVVHYROWDjGLIXVmRGH& 7
QR%UDVLO(HPERUDHVWHMDVHQGRWUDWDGDFRPRXPDUHYLVWDGHMRUQDOLVPRFLHQWt¿FR
um dos desdobramentos deste estudo será pensar mais atentamente em que medida
DSXEOLFDomRDWHQGHDRFRQFHLWRGHMRUQDOLVPRFLHQWt¿FRDSDUWLUGDDQiOLVHGDVSDX-
tas, dos critérios para a seleção das fontes, na construção das narrativas. Em relação
ao formato, a Ciência Hoje parece atender ao “padrão” dos veículos de jornalismo
FLHQWt¿FRWUD]HQWUHYLVWDVFROXQLVWDVJUDQGHVUHSRUWDJHQVQRWDVQRWtFLDVIDFWXDLV
No entanto, a linguagem de parte dos textos aproxima-se muito da linguagem geral-
PHQWHDGRWDGDHPDUWLJRVFLHQWt¿FRV3HUFHEHVHQHVVHVHQWLGRDIRUWHSUHVHQoDGD
OLQJXDJHPFLHQWt¿FDSRXFRDFHVVtYHOD³OHLJRV´RXDRS~EOLFRH[WHUQRjDFDGHPLD
DOJXQVVHPQHQKXPDIRQWHGLUHWD7DPEpPQmRpFRPXPDSUHVHQoDGHLQIRJUi¿-
cos, boxes e retrancas nos textos.
Os textos tratam, na sua maioria, de biologia, física, química, matemática, um
SRXFRGHKLVWyULDHDUTXHRORJLD7HPDVOLJDGRVjVRFLHGDGHHjDWXDOLGDGHQmRVmR
frequentemente abordados e os maiores espaços normalmente são reservados às
FLrQFLDV H[DWDV WHFQROyJLFDV GD WHUUD H ELROyJLFDV ¿FDQGR HP VHJXQGR SODQR DV
humanas, sociais, linguísticas e ciências aplicadas. Na versão web, porém, há um
caderno especial para ciências humanas, artes, cultura, linguagem etc. chamado
“sobreCultura” (Figura 1).

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0XOKHUHVQDFL¬QFLDQRWDVVREUHYLVLELOLGDGHHUHSUHVHQWDWLYLGDGHGDVSHVTXLVDGRUDVQRMRUQDOLVPRFLHQW¯ȴFR

)LJXUD3ULQWVFUHHQGDWHODGRFDGHUQRVREUH&XOWXUDGDUHYLVWD&L¬QFLD+RMH

Fonte: Disponível em: http://www.cienciahoje.org.br/sobreCultura

A revista Galileu (Figura 2), como já dito, é da Editora Globo. Sua primeira
versão chamava-se Globo CiênciaGHHWUDWDYDWDPEpPGHDVVXQWRVOLJDGRV
jV FLrQFLDV WHFQROyJLFDV H[DWDV H GD WHUUD H ELROyJLFDV $SyV PXLWDV PXGDQoDV D
Galileu tomou um viés diferente das suas origens e das outras revistas de C&T,
aproximando-se apenas da Superinteressante em linha editorial. O público-alvo da
revista são os jovens, estudantes do ensino médio e superior. Ela dá maior atenção
à tecnologia relacionada ao dia a dia, trata de temas sociais e políticos como pessoas
LGBT, direitos das mulheres, racismo, drogas, aborto, com uma linguagem simples,
PDVVHPDEULUPmRGRHPEDVDPHQWRFLHQWt¿FR2GHVLJQMRYLDOHDIiFLOOHLWXUDSRU
PHLRGHLQIRJUi¿FRVER[HVHVTXHPDVHOLQKDVGRWHPSRVmRPDUFDQWHVHPJUDQGH
parte das reportagens. Também há espaço para cultura popular. Ela aborda temas
OLJDGRVjWHFQRORJLDItVLFDTXtPLFDDVWURQRPLDELRORJLDKLVWyULDJHRJUD¿DVRFLR-
ORJLDDQWURSRORJLD¿ORVR¿DDWXDOLGDGHVSROtWLFDHTXHVW}HVVRFLRHFRQ{PLFDV

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Maria Eduarda Iankoski e Maria Elisa Maximo

Figura 2: Printscreen da tela da revista Galileu online.

Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Revista/

A contextualização feita até aqui é imprescindível para uma melhor compre-


HQVmRGRMRUQDOLVPRFLHQWt¿FRSUDWLFDGRSHODVUHYLVWDVCiência Hoje e Galileu. Fei-
WRLVVRIRLGDGRLQtFLRjHWDSDH[SORUDWyULDGDSHVTXLVDFRPROHYDQWDPHQWRGRV
dados preliminares relativo à problemática deste estudo: a presença das mulheres
QR MRUQDOLVPR FLHQWt¿FR SURGX]LGR QHVWHV YHtFXORV 2EVHUYDPRV QR VLWH D SUH-
sença de 11 colunistas homens e 2 mulheres. É importante destacar que no site da
Ciência Hoje o conteúdo não segue, necessariamente, o padrão de organização das
edições impressas e conta, muitas vezes, com conteúdo exclusivo. Na pesquisa,
pretende-se considerar apenas o conteúdo das edições impressas.
Nesta fase preliminar, a edição n. 333, volume. 56, de janeiro/fevereiro de
2016 foi analisada mais atentamente. Nessa edição, nove homens e oito mulheres
escreveram as reportagens principais (sendo algumas escritas por mais de uma
pessoa), e quatro homens e quatro mulheres escreveram as reportagens secun-
dárias. Se formos considerar apenas os números, poderíamos dizer que há certa
equidade entre homens e mulheres que assinam o conteúdo da edição. No entan-
to, observando o conteúdo de uma das reportagens principais, notou-se a menção
a duas pesquisadoras e a um pesquisador, mas o foco do texto foi colocado sobre
a pesquisa realizada pelo pesquisador, o homem. Isso nos possibilitou uma infe-

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0XOKHUHVQDFL¬QFLDQRWDVVREUHYLVLELOLGDGHHUHSUHVHQWDWLYLGDGHGDVSHVTXLVDGRUDVQRMRUQDOLVPRFLHQW¯ȴFR

rência importante: que a representatividade não está apenas no aspecto numérico,


mas ela se consolida no enfoque e no espaço que as reportagens darão às pesquisas
feitas por mulheres e às pesquisas feitas por homens. Eis uma primeira correlação
que deverá ser analisada, em profundidade, na continuidade deste trabalho: nú-
PHURGHPXOKHUHVFLWDGDV;LPSRUWkQFLDHHVSDoRGDGRVjVSHVTXLVDVSRUHODVUH-
alizadas. Complementarmente, outro aspecto importante parece ser a forma pela
qual as mulheres são citadas. Nesta primeira observação, notou-se a prática de
citar pesquisadoras mulheres somente pelo sobrenome, com o prenome abrevia-
GR(VWDSUiWLFD±TXHpSUD[HQDOLQJXDJHPFLHQWt¿FDFRUURERUDGDSHODVQRUPDV
de citação e referências (ABNT), do ponto de vista da promoção da igualdade de
gênero na ciência acaba por contribuir com a invisibilização da mulher. Conside-
rando que o imaginário social é, em grande medida, “colonizado” pelo machismo
HSHODOyJLFDSDWULDUFDOSRGHVHGL]HUTXHFLWDUXPDSHVTXLVDGRUDDSHQDVSHORVR-
EUHQRPH±RFXOWDQGRVHXSUHQRPHQXPDDEUHYLDomR±ID]FUHUTXHWRGDVHODVVmR
KRPHQV$¿QDOpPDLVFRPXPJHQHUDOL]DUPRVQRPDVFXOLQRGRTXHRFRQWUiULR
Observamos também a edição 307, de fevereiro de 2017, da revista Galileu.
Das reportagens principais, três foram escritas por um homem e três por uma
mulher. Nas secundárias, quatro foram escritas por um homem e seis por uma
mulher. Aqui, novamente nos deparamos com a representatividade numérica das
mulheres na produção da revista. Além disso, o editorial da revista foi assinado
por uma mulher. No entanto, na revista Galileu parece haver também uma pre-
ocupação em relação à escolha das fontes, o que pode ter sido facilitado pelos
temas abordados na edição observada. Uma das reportagens principais era sobre
YLROrQFLD FRQWUD PXOKHU /RJR GH VDtGD SDUHFH VLJQL¿FDWLYR TXH XPD UHYLVWD GH
MRUQDOLVPR FLHQWt¿FR WUDJD XPD UHSRUWDJHP VREUH HVWD WHPiWLFD 1HVWD PDWpULD
WRGDVDVIRQWHVPHQFLRQDGDVVmRPXOKHUHV6HULDyEYLRWUD]HUHVWHGDGRVHQRDP-
ELHQWHDFDGrPLFRQmRIRVVHFRPXP±RXPDLVFRPXPGRTXHLPDJLQDPRV±TXH
homens sejam frequentemente convidados para tratarem de temas exclusivos das
PXOKHUHV(VWDpXPDTXHVWmRTXHHVWiQRFHQWURGDVUHÀH[}HVVREUHR³OXJDUGH
fala” e sobre o protagonismo das mulheres, realizadas na articulação entre os mo-
vimentos feministas e o campo de estudos de gênero. Trata-se de uma discussão
que certamente não está livre de tensões e dissensos e que deverá ser aprofundada
QRVSUy[LPRVSDVVRVGRWUDEDOKR
Ainda sobre a edição da revista Galileu, duas reportagens que foram escri-
tas por um homem não continham nenhuma fonte mulher, enquanto que aquelas
escritas por mulheres intercalaram apresentavam uma preocupação em mesclar
homens e mulheres como fontes citadas. Inclusive, numa das reportagens escritas
por uma mulher, há duas fontes mulheres personagens, com o tema de excesso de
trabalho.

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Maria Eduarda Iankoski e Maria Elisa Maximo

&RQVLGHUD©·HVÜQDLV
As questões levantadas aqui e os poucos dados apresentados são apenas ini-
ciais e nortearão uma pesquisa mais ampla que resultará num Trabalho de Con-
FOXVmR GH &XUVR GH -RUQDOLVPR D VHU ¿QDOL]DGR H GHIHQGLGR HP MXOKR GH  .
5

Como já foi dito anteriormente, a pesquisa completa prevê a análise de três edi-
o}HVGHFDGDXPDGDVUHYLVWDVPHQFLRQDGDVYLVDQGRLGHQWL¿FDUSDGU}HVQDSUR-
GXomRGDVPDWpULDVGH¿QLomRGDVSDXWDVHVFROKDGDVIRQWHVIRUPDVGHFLWDomRH
abordagens, considerando-se as linhas editoriais e público-alvo de cada veículo.
O que já é possível perceber é que a desigualdade de gênero não é “escanca-
rada”, mas se apresenta nas sutilezas das revistas: a revista mais ligada ao campo
FLHQWt¿FRDCiência Hoje, é a que menos parece se importar com a representati-
vidade em suas redações e na linha editorial conteúdo voltado às mulheres. Além
disso, é possível notar em detalhes da linguagem e do formato uma tendência de
LQYLVLELOL]DomRGDPXOKHUSHVTXLVDGRUDHGHVXDVSURGXo}HVFLHQWt¿FDV
Por outro lado, a revista Galileu mostra abordar assuntos ligados ao feminis-
mo, à participação das mulheres na ciência e à dupla jornada de trabalho, comum
às mulheres brasileiras etc. Porém, também foi possível perceber que o esforço
em trazer a visibilidade feminina pode estar apenas nas jornalistas mulheres.
6mR SUHVVXSRVWRV TXH SRGHUmR VH WRUQDU KLSyWHVHV GH SHVTXLVD DSyV H[SORUDomR
mais aprofundada, mas que por ora sinalizam para a relevância do estudo pela
FRQWULEXLomR TXH SRGH WUD]HU DR MRUQDOLVPR FLHQWt¿FR EUDVLOHLUR WDQWR SRU DSRQ-
WDUDVGHVLJXDOGDGHVDLQGDSUHVHQWHVQDVUHGDo}HVMRUQDOtVWLFDVTXDQWRQRSUySULR
processo de produção dos conteúdos. O intuito é que possamos concluir este tra-
balho sinalizando para um jornalismo de C&T mais consciente, que se empenhe
em transformar o triste cenário das pesquisas brasileiras, onde as pesquisadoras
¿FDP SUHVDV DR ³WHWR GH YLGUR´ GDV KLHUDUTXLDV VHP WHUHP VXDV FRPSHWrQFLDV H
contribuições verdadeiramente reconhecidas.

Referências
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3URYDYHOPHQWHQDGDWDGHODQoDPHQWRGHVWDHGLomRR7&&MiWHUiVLGR¿QDOL]DGR

106 Redes | N. I | Ano I | 2018


0XOKHUHVQDFL¬QFLDQRWDVVREUHYLVLELOLGDGHHUHSUHVHQWDWLYLGDGHGDVSHVTXLVDGRUDVQRMRUQDOLVPRFLHQW¯ȴFR

mentos da Folha de S. Paulo e d’O Estado de S. Paulo do caso de hostilização a uma estu-
dante. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Arquitetura,
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BUENO, Wilson da Costa. -RUQDOLVPRFLHQWt¿FR: revisitando o conceito. Jornalis-
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CASADEI, Elisa Bachega. A inserção das mulheres no jornalismo e a imprensa alterna-
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OKHUHV&DGHUQRV3DJX  &DPSLQDV63SS

Sobre as autoras
0DULD(GXDUGDΖDQNRVNL$FDG¬PLFDGR&XUVRGH-RUQDOLVPRGD)DFXOGDGHΖ(/86&
Maria Elisa Maximo: Prof. Titular da Faculdade IELUSC. Doutora em Antropologia.

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