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PROKDGD³ TXHpRXWURPRWLYRFRQGXWRUGH²-DUGLQVGH&ULV- oposição feroz do literato F. R. Leavis. Com uma diferença


WDLV³ «IUHQWHGHXPERPOLYURHVWiVHPSUHXPJUDQGHSUH- FUXFLDO$UQROGH+X[OH\HUDPDPLJRV6QRZH/HDYLVGH-
fácio. Rodrigues teve a sorte de contar com a clarividência testavam-se. (Aliás, seria sempre difícil gostar de Leavis.) O
elegante da escrita do Professor João Lobo Antunes. Inevita- próprio Snow tentou deitar água na fervura invocando uma
velmente retoma-se aqui a discussão das Duas Culturas, ini- terceira cultura – a das ciências sociais – que colmataria a
ciada no século XIX por Matthew Arnold em “Literature and EUHFKDHQWUHDVFXOWXUDVFLHQWt¾FDHKXPDQLVWD$YHUGDGHp
6FLHQFH³ 5HGH/HFWXUHGH HUHWRPDGDSRU&36QRZ que a cultura é só uma, e abarca a química, a literatura, as
em 1959, noutra Rede Lecture. Arnold teve como opositor RXWUDVFLrQFLDVDVDUWHVD¾ORVR¾DDYLGD²-DUGLQVGH&ULV-
T. H. Huxley, o ‘EXOOGRJGH'DUZLQµ6QRZFRQWRXFRPD WDLV³pXPEHORH[HPSORGHVWDFXOWXUD

MESTRE CARBONO, O CIENTISTA

Raquel Gonçalves-Maia*

Autor: Filipe L.S. Monteiro


Ilustrações: Ana Beatriz Marques
Editora:&KLDGR(GLWRUDFROHFomR²5HFUHLR³
N.º de Páginas: 92
ISBN: 978-989-51-2572-2

Muito mais do que o homem, interessa a Humanidade. A Beatriz Marques. Como seria possível fazer passar as suas
HODVHGLULJH²0HVWUH&DUERQRR&LHQWLVWD³RGUDPDGDV mensagens aos jovens e muito jovens se não existisse um
alterações climáticas, o aquecimento global, a salvação da poderoso Mestre Carbono, átomo redondo que nem lua
Terra. Para isso trabalha Filipe Monteiro, o químico escri- cheia, “elemento UREXVWR³ GH ROKDU VHUHQR H FRQ¾DQWH H
tor licenciado em Química Analítica pela Universidade de IDUWR ELJRGH GH JUD¾WH IHLWR D LQVSLUDU FKH¾D" ( +LGUR-
Aveiro, vinte anos de trabalho na indústria química, como génios de mão dada, Oxigénios sonolentos, enxames a
director de produção, director de qualidade e no desenvol- FRPSRUPROpFXODV*OLFRVH&RHQ]LPD$&ORUR¾OD0L-
vimento de novos produtos.1 croscópios desenhados a preceito, balões, provetas e er-
lenmeyers estilizados e convidativos, três cientistas, uma
$¾QDORREMHFWLYRGD*UDQGH2EUDDOTXtPLFDpDDTXLVLomR
equipa: Karen, Helena e Roberto. É o desenho de Ana Be-
GD3HGUD)LORVRIDORXGR(OL[LUGD/RQJD9LGDHSRUPXLWR
TXHDDOPDGHFLHQWLVWDGH)LOLSH0RQWHLURD¾UPHTXHQmR DWUL] 0DUTXHV TXH DQLPD ²0HVWUH &DUERQR R &LHQWLVWD³
pDOTXLPLVWDHXD¾UPRTXHHODp e permite a tão desejável interligação entre a Ciência e a
Arte. Ah, a cultura... Excelente a qualidade!
Conto de fadas para crianças? Ou uma escrita para adultos,
QXPSODQRHOHYDGRRQGHVHUHDOoDH²PDQLSXOD³XPDGH- ²$LQGDQmRIRLGHVWD³GL].DUHQGL].DUHQHGL]RiWRPR
cifração oculta da Natureza? Saberemos nós quem de nós de Oxigénio. É uma mensagem de esperança: “Mas have-
se serve como fonte de energia? E o que fazer quando per- PRVGHOiFKHJDU³UHWRUTXHRNitrogénio. “Não tenho dú-
cebemos a verdade? YLGDVTXHRLUHPRVDOFDQoDU³GL]5REHUWR(FRPRHUURVH
aprende e com muito suor se constrói. “Não repetiremos as
²0HVWUH&DUERQRR&LHQWLVWD³pPXLWRPDLVGRTXHXPWH[WR OLJDo}HVHUUDGDV³GL]0HVWUH&DUERQR
bem delineado, bem escrito. Filipe Monteiro expressa cla-
ramente os seus objectivos: uma homenagem aos homens e
PXOKHUHVTXHGHGLFDPDVXDYLGDD²ID]HUFLrQFLD³QDEXVFD Como se depreende, para além dos objectivos atrás citados,
GHXPPXQGRPHOKRURDOFDQFHGUDPiWLFRGDVPXGDQoDVFOL- muitas são as mensagens – algumas muito simples, mas
PiWLFDVjHVFDODJOREDOHDSUHPrQFLDGDVDOYDomRGRPXQGR tão fundamentais! – que Filipe Monteiro nos transmite.
DGHVFREHUWDGRFRPSRVWRTXtPLFRVDOYDGRUVHUFLHQWLVWD Lava-se, arruma-se, mantém-se o laboratório operacional.
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Todavia, o autor soube bem quanto o seu livro saiu valo- sono pode ser agitado, mas as motivações são sorridentes.
rizado pela ilustração, a todos os títulos brilhante, de Ana
Retornando ao problema crucial – o apocalipse previsível
*
rmcgonc@gmail.com da extinção da raça humana, se não de todas as raças, se

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PDLVFORUR¾ODQmRH[LVWLUSDUDGHGLy[LGRGHFDUERQRID]HU sempre conseguiu a interpretação perfeita, porque ela sim-


oxigénio – podemos respirar de alívio, ou não? plesmente não existe...

O problema é tratado em dois níveis paralelos: o macro, a Mas os jovens aprendem, estão cá para isso... E, se não se
nível humano, e o micro, a nível dos átomos que se com- VHQWLUHPIDPLOLDUL]DGRVFRPFHUWRVWHUPRVPDLVFLHQWt¾FRV
portam como humanos – apenas um pouco mais inteligen- ou mais técnicos, podem sempre recorrer ao glossário que
tes... A metáfora é bem conseguida. o autor, inspirado, introduziu no livro. E se, mesmo assim,
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E a originalidade surge, não tanto na temática que já é bem aos pais, aos professores, aos amigos – ao Filipe! – que to-
conhecida de todos nós, mas na forma escolhida pelo autor dos nós temos o dever de os elucidar, ao mesmo tempo que
para que ela tenha impacte sobre todos nós: são os “pe- °TXHPGLULDPDLVVHQVLELOL]DGRV¾FDUHPRVSDUDRSUREOH-
TXHQLQRV³ TXH HQVLQDP RV ²JUDQGHV³ VmR RV iWRPRV TXH PDGR²HIHLWRGHHVWXID³HVXDVPDOp¾FDVFRQVHTXrQFLDV
FRQGX]HPDVLQYHVWLJDo}HVGDHTXLSDVmRRV¾OKRVTXHYmR
ensinar os pais... e PXLWR HVFDVVR R WUDEDOKR GH GLYXOJDomR FLHQWt¾FD HP
Portugal, para mais a nível infanto-juvenil. Aplaudir a ou-
2DXWRUWHPSOHQDFRQVFLrQFLDGDGL¾FXOGDGHGDWUDGXomR sadia de Filipe Monteiro que, por artes mágicas, nos devol-
escrita desta inversão de poderes. E mais sabe – que nem YHXR²DUSXUR³QD7HUUDpXPVDXGiYHOLPSHUDWLYR

ACTUALIDADES CIENTÍFICAS
CÁLCULOS PREVÊEM GRAFENO PENTAGONAL
Investigadores chineses propuseram a existência de um novo alótropo 2D de carbono, constituído por pentágonos, o qual
GHVLJQDUDPSRU²SHQWDJUDIHQR³7DOFRPRRJUDIHQRRSHQWDJUDIHQRFRQVLVWHQXPDIROKDSODQDGHiWRPRVGHFDUERQRHP
que estes se encontram dispostos segundo um padrão pentagonal, originando algumas propriedades físicas interessantes.

Estudos teóricos realizados pela equipa de investigação mostraram que a versão pentagonal do grafeno será razoavelmen-
te estável e também mais forte e capaz de resistir a temperaturas mais elevadas, até 730° C, do que o grafeno convencio-
nal. Além disso, terá propriedades semicondutoras, ao contrário do grafeno convencional que é um condutor altamente
H¾FLHQWHTXHWHPGHVHUTXLPLFDPHQWHPRGL¾FDGRSDUDVHUWUDQVIRUPDGRHPVHPLFRQGXWRU&RPHVWDGHVFREHUWDSRGHU-
-se-á abrir uma porta na produção selectiva de nanotubos de carbono (CNTs) semicondutores uma vez que os métodos
actuais de síntese de CNTs a partir do grafeno convencional produzem geralmente uma mistura de CNTs condutores e
semicondutores, dependendo da orientação dos hexágonos quando uma folha de grafeno é enrolada. Curiosamente, o
penta-grafeno também parece ter propriedades auxéticas, ou seja, ao ser esticado numa determinada direcção, expande
quer nessa direcção quer na sua perpendicular, ao contrário do que se observa na grande maioria dos materiais, grafeno
convencional incluído, em que se observa uma contracção na direcção perpendicular àquela em que são esticados.
O conjunto destas propriedades sugere uma série de potenciais aplicações para o penta-grafeno, nomeadamente na área
da nano-electrónica, biomateriais e em tecnologias espaciais, tal como sugerido por Qian Wang, líder da equipa de in-
vestigação. Philip Feng da Universidade Case Western Reserve, em Cleveland, Estados Unidos, que trabalha com mui-
WRVQDQRPDWHULDLV'HVSHUDTXHRSHQWDJUDIHQRSRVVDVHUVLQWHWL]DGR²$HVWUXWXUDpPXLWRLQWULJDQWHHIDVFLQDQWH³
referiu, acrescentando que “se este penta-grafeno puder ser isolado ou sintetizado, poderá ser outra grande contribuição
SDUDDIDPtOLDGHHVWUXWXUDV'³

(adaptado de “&DOFXODWLRQVSUHGLFWSHQWDJRQDOJUDSKHQH³KWWSZZZUVFRUJFKHPLVWU\ZRUOGFDOFXODWLRQV-
SUHGLFWSHQWDJRQDOJUDSKHQHHGH6KXQKRQJ=KDQJD-LDQ=KRXF4LDQ:DQJD;LDRVKXDQJ&KHQG<RVKL\XNL.D-
wazoef, Puru Jenac. 3URF1DWO$FDG6FL 86$ 112 (2015) 2372-2377)
Paulo Mendes
(pjgm@uevora.pt)

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