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TA

Artigo

A CONFIGURAÇÃO DO TEMPO PELA


NARRATIVA EM PAUL RICOEUR

Daniel Henrique Siqueira1

5HVXPR2SUHVHQWHDUWLJRSURFXUDGLVFRUUHUVREUDDÀORVRÀDGDOLQJXDJHP
de Paul Ricoeur (1913-2005), de modo particular, a sua hermenêutica feno-
PHQROyJLFDQRTXDOS{GHID]HUSURIXQGDVFRQWULEXLo}HVjÀORVRÀDFRQWDQGR
FRPDVVXDVSULQFLSDLVLQÁXrQFLDVDIHQRPHQRORJLDGH+XVVHUODKHUPHQrX-
WLFDGH*DGDPHUHDÀORVRÀDUHÁH[LYDGH-HDQ1DEHUW5LFRHXUSDUWLQGRGR
tempo em Agostinho e da composição da intriga em Aristóteles, encontrou
nestes dois autores independentes uma profunda relação que nunca foi men-
FLRQDGDDQWHVQDKLVWyULDGDÀORVRÀDQRTXDOSHUFHEHXTXHDLQWULJDDULVWR-
WpOLFDpXPDVROXomRSRpWLFDDRSDUDGR[RWHPSRUDODJRVWLQLDQR1HVWHVHQWLGR
através de uma teoria narrativa que encontra suas raízes na célula melódica no
par mímesis-mythos (imitação-intriga), presente na Poética, Ricoeur dá um passo a
mais que Aristóteles ao desenvolver a sua teoria da tríplice mímesis, que demons-
tra como o tempo pode ser articulado de maneira narrativa através do desdo-
bramento da mímesis (imitação criadora), HP WUrV PRPHQWRV D SUHÀJXUDomR
das ações humanas (mímesis , DFRQÀJXUDomRQRWH[WRQDUUDWLYR mímesis II) e a
UHÀJXUDomRGRYLYLGRGROHLWRU mímesis III).
Palavras-chaves: Paul Ricoeur; Tempo; Narrativa; Mímesis.
Abstract: Cet article vise à discuter la philosophie du langage de Paul Ricœur
(1913-2005), en particulier son herméneutique phénoménologique, dans la-
quelle il a pu apporter de profondes contributions à la philosophie,

1%DFKDUHOHP)LORVR¿DSHOD)DFXOGDGH'HKRQLDQD  2SUHVHQWHDUWLJRFLHQWt¿FR


contém elementos extraídos do trabalho de conclusão de curso do respectivo autor, que foi
apresentado e aprovado em dezembro de 2022 sob o título de $&RQ¿JXUDomRGR7HPSR
pela Narrativa em Paul Ricoeur, e orientado pelo Prof. Dr. Daniel Cardoso Severo.

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A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

HQV·DSSX\DQWVXUVHVSULQFLSDOHVLQÁXHQFHVODSKpQRPpQRORJLHGH+XVVHUO
O·KHUPpQHXWLTXHGH*DGDPHUHW/DSKLORVRSKLHUpÁH[LYHGH-HDQ1DEHUW5L-
cœur, partant du temps chez Augustin et de la composition de l’intrigue chez
$ULVWRWHWURXYHFKH]FHVGHX[DXWHXUVLQGpSHQGDQWVXQHUHODWLRQSURIRQGHMD-
mais évoquée auparavant dans l’histoire de la philosophie, dans laquelle il réalise
TXHO·LQWULJXHDULVWRWpOLFLHQQHHVWXQHVROXWLRQSRpWLTXHjOD3DUDGR[HWHPSRUHO
augustinien. En ce sens, à travers une théorie narrative qui trouve ses racines
dans la cellule mélodique du couple mimésis-mythe (imitation-intrigue), pré-
sent dans la Poétique, Ricœur va plus loin qu’Aristote lorsqu’il développe sa
théorie de la triple mimésis, qui montre comment le temps peut s’articuler
de manière narrative à travers le déroulement de la mimesis (imitation créa-
WULFH HQWURLVWHPSVODSUpÀJXUDWLRQGHVDFWLRQVKXPDLQHV PLPHVLV, OD
FRQÀJXUDWLRQGDQVOHWH[WHQDUUDWLI  PLPHVLV,, HWODUHÀJXUDWLRQGXOHFWHXU
H[SpULHQFH PLPpVLV,,, 
.H\ZRUGV Paul Ricoeur; Temps; Récit; Mímesis.

Introdução

A hermenêutica tradicional, estabelecida como “teoria da


interpretação”, por muito tempo esteve restringida ao âmbito da in-
WHUSUHWDomR EtEOLFD ´WH[WRV VDJUDGRVµ  SRUWDQWR WHROyJLFD VHQGR
Schleiermacher quem deu início a discussão hermenêutica com en-
IRTXH ÀORVyÀFR TXH IRUDP OHYDGDV DGLDQWH HP 'LOWKH\ FRP SUHV-
supostos metodológicos que se serviam de base para a “consciência
histórica” e “historicidade do homem”, e, depois, numa perspectiva
H[LVWHQFLDOHP+HLGHJJHUTXHOHYDQGRDTXHVWmRDXPDWDPDQKDGL-
PHQVmRVHWRUQRXXPGRVJUDQGHVSUREOHPDVGDÀORVRÀDGRVpFXOR
XX. Foi neste cenário que o nosso autor Jean Paul Gustav Ricoeur
(1913-2005) esteve presente e pode contribuir com sua análise da lin-
guagem, em que, no diálogo, principalmente, com a fenomenologia
GH+XVVHUODKHUPHQrXWLFDGH*DGDPHUHDÀORVRÀDUHÁH[LYDGH-HDQ
Nabert, fundamentou a sua teoria hermenêutica fenomenológica.
A obra, de Paul Ricoeur, Temps et Récit (Tempo e Narrativa),
de modo particular, a primeira parte contida no seu primeiro volume,
IRLRHVWtPXORTXHSURYRFRXDQRVVDUHÁH[mRHDSURGXomRGHVWHWUDED-
lho. A obra faz parte da mesma proposta de publicação de La Metáfora
Viva $0HWiIRUD9LYD QmRSRGHQGRVHUFRQFHELGDVHQmRFRQMXQWDV
Sua publicação é dividida em três volumes que vai de 1983 à 1985,
possuindo, ainda, uma subdivisão em quatro partes, contendo duas no
primeiro volume, a terceira no segundo e a quarta no terceiro.

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A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

2TXHUHWUDWDPRVHP7HPSRH1DUUDWLYDpDUHÁH[mRDFHUFDGD
H[SHULrQFLDKXPDQDWHPSRUDOTXHSRGHVHUDUWLFXODGDGHPDQHLUDQDUUD-
tiva: “o tempo se torna tempo humano na medida em que está articu-
ODGRGHPDQHLUDQDUUDWLYDHPFRQWUDSRVLomRDQDUUDWLYDpVLJQLÀFDWLYD
QDPHGLGDHPTXHGHVHQKDDVFDUDFWHUtVWLFDVGDH[SHULrQFLDWHPSRUDOµ2.
Para fundamentar a sua teoria, Ricoeur retoma a questão da aporia do
tempo em Santo Agostinho, procurando na composição da intriga de
$ULVWyWHOHVXPDSRVVtYHOVROXomR$LPSRUWkQFLDGHVVDLQYHVWLJDomRH[-
FHSFLRQDOPHQWHjÀORVRÀDpTXHDRGHPRQVWUDURSRGHUFULDWLYRGDOLQ-
JXDJHPDVXDWHRULDLQRYDHDEUHQRYRVKRUL]RQWHVjSHVTXLVDÀORVyÀFD
UHYHODQGRTXHDH[SHULrQFLDKXPDQDSRGHVHUPHGLDGDSHODOLQJXDJHP
HSHORVVtPERORVHPTXHHVSHFLÀFDPHQWHDWUDYpVGDWUDPDGDQDUUDWLYD
KLVWyULFDRXÀFFLRQDODLPDJLQDomRSURGXWLYDGHFXQKRNDQWLDQRUHYHOD
DSHUVSHFWLYDLQVWUXWLYDGRVVHQWLGRVHVFRQGLGRVQRWH[WR

1. A hermenêutica Ricoeuriana

-HDQ3DXO*XVWDY5LFRHXU  IRLXPÀOyVRIRIUDQFrV


TXHVHGHVWDFRXSRUVXDVFRQWULEXLo}HVQDiUHDGDÀORVRÀDGDOLQJXDJHP
de modo particular, através de sua hermenêutica fenomenológica. Para
ele, a linguagem é o “meio pelo qual o sujeito se põe e o mundo se mos-
tra”, estando profundamente relacionada à fenomenologia da linguagem,
WHQGRSRUVXDVSULQFLSDLVLQÁXrQFLDVDÀORVRÀDUHÁH[LYDGH-HDQ1DEHUW
a fenomenologia de Husserl e a hermenêutica de Gadamer3.
A hermenêutica, ou teoria da interpretação, de Ricoeur teve
sua porta de entrada em Jean Nabert (1881-1960) que, através da sua
ÀORVRÀDUHÁH[LYDIRLUHVSRQViYHOSHOD´YLUDGDKHUPHQrXWLFDµQRSHQ-
samento do nosso autor4. Acontece que Ricoeur encontra no conceito
GH´UHÁH[mRµGH1DEHUWXPDRSRVLomRDRFDUiWHULPHGLDWRGRcogito car-
WHVLDQRFRPRXPSURFHVVRLQWXLWLYRSRLVDUHÁH[mRGHYHVHWRUQDUHP
interpretação, portanto, em um processo que revela uma consciência que
não é simplesmente um dado, mas uma tarefa de decifração dos signos5.

2 Paul RICOEUR, 7HPSRH1DUUDWLYDDLQWULJDHDQDUUDWLYDKLVWyULFD 2019. p. 9.


3&I'RQL]HWWH;$9,(5 RUJ Paul Ricoeur de A a Z: uma contribuição de estudantes para estu-
dantes, 2019. p. 119.
4 Cf. Roberto Roque LAUXEM, Interfaces e distanciamentos entre a hermenêutica de Hans-
-Georg Gadamer e Paul Ricoeur, LQ3KLOyVRSKRV5HYLVWDGH)LORVRÀD(online) 1 (2012), p. 131, dis-
ponível em: <https://doi.org/10.5216/phi.v17i1.13942>, acesso em: 12 de outubro de 2022.
5 Cf. Élsio José CORÁ, Hermenêutica e teoria da ação em “O si-mesmo como um outro” de Paul Ricoeur
(online), 2004, p. 15, disponível em <https://repositorio.ufsm.br/handle/1/9159>, acesso
em: 12 de outubro de 2022.

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A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

3RUWDQWRFRPDÀORVRÀDUHÁH[LYDGH1DEHUW5LFRHXUSHUFH-
be que “a ideia de uma compreensão de si e do mundo passa necessa-
ULDPHQWH²HLVXPDQRYDGHÀQLomRGHKHUPHQrXWLFD²SHODDQiOLVHGRV
signos e das obras que encontramos no mundo e que precedem nossa
H[LVWrQFLDµ6.
Hans-Georg Gadamer (1900-2002) foi responsável por uma
reinterpretação do círculo hermenêutico de Heidegger, que, de modo geral,
VLJQLÀFDRSURFHVVRGHLQWHUSUHWDomRGHXPWH[WRHPTXHVyVHSRGH
HQWHQGHUVXDVSDUWHVHPFRQVRQkQFLDFRPRWRGRTXHGiVLJQLÀFDomRjV
partes, e este todo, por sua vez, deve-se ser entendido em função de suas
partes constitutivas: “vai-se da parte ao todo, e do todo à parte, ou par-
tes, sem que nem um nem a outra, ou outras, constituam um ponto de
SDUWLGDVXÀFLHQWHµ7(P+HLGHJJHUDH[SUHVVmRUHFHEHXPDGLPHQVmR
H[LVWHQFLDOQRTXDORFtUFXORVHGi´QRIDWRHPTXHWRGDFRPSUHHQVmR
GR PXQGR D H[LVWrQFLD VH FRPSUHHQGH FRP HOH H YLFHYHUVDµ H ´WRGD
interpretação, se deve contribuir para produzir uma compreensão, deve
ter já compreendido o interpretado”8.
(P5LFRHXUGDPRVGHVWDTXHDQRomRJDGDPHULDQDGHH[SH-
riência histórica enquanto consciência de pertença ao tecido da história.
$VVLPFRPR*DGDPHURÀOyVRIRDFUHGLWDTXHDLQWHUSUHWDomRQDVFHGD
H[SHULrQFLDKLVWyULFDHHVWDSRUVXDYH]QmRLPSOLFDVRPHQWHjTXHVWmR
da estrutura temporal, mas também da mediação do texto que recebe
um lugar de destaque como aquele capaz de trazer à situação dialogal a
À[DomRGHVHQWLGR9. Sendo assim, a hermenêutica não parte das “signi-
ÀFDo}HVGHRUGHPOLQJXtVWLFDµHGD´FRQGLomROLQJXDJHLUDµGRKRPHP
ou seja, não se trata do nível do uso da linguagem como forma de co-
PXQLFDomREiVLFDPDVRSRQWRGHSDUWLGDGDKHUPHQrXWLFDHVWiQDH[SH-
ULrQFLDKLVWyULFDTXHUHFHEHXPDPHGLDomRDWUDYpVGRWH[WR10. Portanto,
na esteira de Gadamer, Ricoeur “reconhece [...] que a problemática da
linguagem não é nem autônoma, nem primeira na ordem da interpreta-
omR0DVPDLVTXH*DGDPHUGHVFREUHDVH[LJrQFLDVTXHGHFRUUHPGD
inserção da problemática da linguagem na interpretação”11.

6-HDQQH0DULH*$*1(%,18PD)LORVRÀDGR&RJLWR)HULGR3DXO5LFRHXUin Estudos
Avançados, 1997, p. 266.
7 José Ferrater MORA, 'LFLRQiULRGH)LORVRÀDWRPR, $'  2000, p. 470.
8 Cf. Idem.
9 Cf. Michel RENAUD, op. cit., p. 26.
10 Cf. Ibidem, p. 27.
11 Idem.

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A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

Encontramos, também, muito presente na hermenêutica ri-


FRHXULDQDDVLQÁXrQFLDVGH(GPXQG+XVVHUO  RSDLGDIHQR-
menologia. Tendo partido de uma teoria do princípio da intencionalidade
– a própria consciência, mas sempre como “consciência de algo”, e este
“algo” por sua vez, como o próprio fenômeno12– Husserl propõe em sua
“ciência dos fenômenos” descrever as essências que, juntamente com os
dados de fato, “o que acontece aqui e agora”, são captadas pela consciên-
cia, apresentando-se a nós por meio dos fenômenos, aquilo que aparece
à consciência13. A consciência, por sua vez, através de suas “vivências”,
os fenômenos puros, coloca a realidade “entre parênteses”, dando forma
a aquilo que Husserl chamou de “redução transcendental” – método da
via do acesso das vivências da consciência –, em que através da descrição
pura dos fenômenos que passam pelos seus “diversos graus de clare-
za”, pode alcançar a “produção originária de todo sentido”, que aparece
sempre de modo “apodicticamente certo” (conceito cartesiano referente
aquilo que se pode apreender com “clareza e distinção”)14.
A apropriação que Paul Ricoeur faz da fenomenologia de
Husserl sempre foi evidente, desde a publicação de Le volontaire et l’in-
volontaire (1950), como também em De l’interprétation. Essai sur Freud
(1965) e /HFRQÁLWGHVLQWHUSUHWDWLRQV (1969). Mas, foi em um artigo publi-
cado pelo nosso autor em 1974 sobre Phénoménologie et herméneutique que
ele mesmo demonstra as mudanças da aplicação do método fenome-
nológico no decorrer de suas obras15. Destacaremos, de modo geral,
apenas a relação entre fenomenologia e hermenêutica.
Segundo o nosso autor, a fenomenologia e a hermenêutica
possuem, primeiramente, uma relação de pertença, pois a hermenêutica
SHUWHQFHjIHQRPHQRORJLDQDPHGLGDHPTXH´DIHQRPHQRORJLDÀFDD
insuperável pressuposição da hermenêutica”, de tal maneira que “a her-
PHQrXWLFD VH HGLÀFD QD EDVH GD IHQRPHQRORJLDµ H HVWD SRU VXD YH]
pertence à hermenêutica na medida em que “a fenomenologia não pode
constituir-se sem uma pressuposição hermenêutica”16. Uma advertência
LPSRUWDQWHDVHID]HUpDOHUWDUTXHTXDQGRVHDÀUPDUTXHD´KHUPHQrX-
tica destruiu a fenomenologia”, refere-se apenas à interpretação idealista
feita por Husserl mesmo17.

12 Cf. Ibidem, p. 26.


13 Cf. Giovanni REALE; Dario ANTISERI, op. cit., p. 181.
14 Cf. Denis HUISMAN, 'LFLRQiULRGRV)LOyVRIRV 2004, p. 526-527.
15    &I 0LFKHO 5(1$8' )HQRPHQRORJLD H +HUPHQrXWLFD R SURMHFWR ÀORVyÀFR GH 3DXO
Ricoeur, LQ 5HYLVWD 3RUWXJXHVD GH )LORVRÀD (online) 4 (1985), p. 24, disponível em: <https://
www.jstor.org/stable/40335866>, acesso em: 12 de outubro de 2022.
16 Cf. Ibidem, p. 25.
17 Cf. Ibidem, p. 24-25.

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A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

'HPRGRSRQWXDODGLVWkQFLDHDDSUR[LPDomRGDKHUPHQrX-
tica com a fenomenologia acontece “à raiz da descoberta da inten-
cionalidade”, a qual, por um lado, a distância consiste na rejeição da
FRPSUHHQVmR GH ´VXMHLWRREMHWRµ H SRU RXWUR ODGR D DSUR[LPDomR
acontece na noção de pertença ontológica que é anterior ao modelo
´VXMHLWRREMHWRµ´(VWHFRQFHLWRGHSHUWHQoDpH[WUHPDPHQWHLPSRU-
tante, pois impõe-se no pensamento de Ricoeur para designar o mo
mento originário que vai tornar possível o movimento da interpreta-
ção, isto é, tornar possível a própria hermenêutica”18.

2. Entre Agostinho e Aristóteles: o tempo e a narrativa

A motivação que levou Ricoeur a recorrer a dois pensadores in-


dependentes que se encontram entre um “abismo cultural” consiste na
descoberta de uma relação perfeita entre ambos os autores que não está
HYLGHQWHPDVTXHGHVGHVHPSUHH[LVWLX19. Em Agostinho encontramos os
´SDUDGR[RVGDH[SHULrQFLDGRWHPSRµTXHQmRID]QHQKXPDPHQomRD
atividade narrativa. E em Aristóteles encontramos a análise da intriga que
em nenhum momento se refere a questão temporal, mesmo encontrando
na Poética, na lógica da composição da intriga, a utilização de termos como
FRPHoRPHLRHÀPRXTXDQGRRÀOyVRIRGLVFRUUHVREUHDH[WHQVmRRXR
comprimento da intriga; este é o “silêncio total de Aristóteles”20.
6XUJHPHQWmRGXDVH[SUHVV}HVLPSRUWDQWHVGDQRPHQFODWX-
ra utilizada por Ricoeur, são elas os termos de “concordância”, para
designar a composição da intriga de Aristóteles, e de “discordância”,
para designar o tempo de Agostinho21. Isto, porque Ricoeur percebe
que em Agostinho há um tempo que é discordância na medida em que
D H[WHQVmR GR WHPSR SUHYDOHFH VREUH D FRQFRUGkQFLD GD FDSDFLGDGH
representativa da linguagem e que a composição da intriga em Aristó-
teles é concordância na medida em que estabelece lógica ou representa
os elementos discordantes do acaso temporal22. Nesse sentido, Ricoeur

18 Ibidem, p. 25.
19 Cf. Aldo Nelson BONA, 3DXO5LFRHXUHXPDHSLVWHPRORJLDGDKLVWyULDFHQWUDGDQRVXMHLWR (online),
2010, p. 108, disponível em: <https://app.uff.br/riuff/handle/1/22400>, acesso em: 27 de
setembro de 2022.
20 Cf. Paul RICOEUR, Tempo e Narrativa: DLQWULJDHDQDUUDWLYDKLVWyULFD 2019, p. 93.
21&I,VDQDUD.HWKO\6$03$,2op. cit., s.p.
22 Cf. Aldo Nelson BONA, 3DXO5LFRHXUHXPDHSLVWHPRORJLDGDKLVWyULDFHQWUDGDQRVXMHLWR (online),
2010, p. 110, disponível em: <https://app.uff.br/riuff/handle/1/22400>, acesso em: 27 de
setembro de 2022.

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A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

encontra no ato da composição da intriga uma resposta para discor-


dância temporal, mas não sem antes dar uma advertência:
Uma das teses permanentes deste livro será a de que a espe-
culação sobre o tempo é uma ruminação inconclusiva cuja
única réplica é a atividade narrativa. Não que esta resolva por
suplência as aporias. Se as resolve, é num sentido poético e
não teórico do termo. A composição da intriga [...] responde
à aporia especulativa por um fazer poético capaz, de certo, de
esclarecer [...] a aporia, mas não de resolvê-la teoricamente23.
Começando por Agostinho de Hipona (354-430), encontra-
mos o tempo da alma, tempo psicológico ou, ainda, tempo interior,
H[SUHVV}HVGHVLJQDGDVSDUDFRQFHLWXDUDQRomRGHWHPSR)RLPDLVHVSH-
FLÀFDPHQWHQROLYUR;,GD&RQÀVV}HVTXHHQFRQWUDPRVRÀOyVRIRID]HQGR
suas considerações sobre a eternidade e, também, do tempo a partir da
clássica aporia: “o ser e o não ser do tempo e a medida do que não é”
mencionada, anteriormente, na Física de Aristóteles24. Em contraposição
à compreensão do tempo físico que vinha até mesmo antes de Aristó-
teles, que o concebia como “alguma coisa do movimento” ou, ainda, “a
medida do movimento segundo o anterior e o posterior”, Agostinho
declara que o tempo é interior25. Isto é, passa-se na alma, havendo uma
´WULSODSUHVHQoDµDGR3DVVDGRH[SHULPHQWDGRDWUDYpVGD0HPyULDGR
SUHVHQWHDWUDYpVGD9LVmRHDGR)XWXURDWUDYpVGD(VSHUDPDVFRPRp
VXEMHWLYRWRUQDVHXPDH[SHULrQFLDLQFRPXQLFiYHO26.
A questão central trabalhada por Agostinho reside em sua pró-
pria pergunta: “Que é, pois, o tempo?”27(OHPHVPRGHFODUDDGLÀFXO-
dade de se pensar o tempo: “O que é, por conseguinte, o tempo? Se
QLQJXpPPRSHUJXQWDUHXVHLVHRTXLVHUH[SOLFDUDTXHPPHÀ]HUD
pergunta, já não sei”28. Deste modo, o que importa, aqui, é o problema
de Agostinho de se pensar o tempo em si mesmo, o ser e o não ser do
tempo (problema ontológico)29. Contudo, a linguagem nos leva a assu-
PLUTXHRWHPSRpPHVPRVHPVDEHUPRVH[SOLFDUSRLV´4XDQGRGHOH

23 Paul RICOEUR, 7HPSRH1DUUDWLYDDLQWULJDHDQDUUDWLYDKLVWyULFD 2019. p. 16.


24 Cf. José Luiz FIORIN, As Astúcias da Enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo, 1996, p. 129.
25 Cf. Idem.
26 Cf. José D’ Assunção BARROS, Tempo e Narrativa em Paul Ricoeur: considerações sobre
o círculo hermenêutico, LQ)rQL[²5HYLVWDGH+LVWyULDH(VWXGRV&XOWXUDLV (online) 1 (2012), p. 06,
GLVSRQtYHOHPKWWSVZZZUHYLVWDIHQL[SUREUUHYLVWDIHQL[DUWLFOHYLHZ!DFHVVRHP
31 de agosto de 2022.
27 AGOSTINHO, &RQÀVV}HV, 1996. p. 322.
28 Idem.
29 Paul RICOUER, op. cit., 2019, p. 16.

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A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o


que nos dizem quando dele nos falam”30.
Agostinho leva o questionamento para uma outra direção, a da
medidaGRWHPSR2SDUDGR[RGDPHGLGDGRWHPSRpFHQWUDOQRSHQVD-
PHQWRGRÀOyVRIRSRLVpQDWHQWDWLYDGHUHVSRQGrORTXHHOHLUiGHVHQ-
volver sua tese da distentio animi (distensão da alma). A aporia da medida
é decorrente da aporia ontológica, a pergunta é “como se pode medir o
que não é?”. A linguagem cotidiana age de forma positiva, também, diante
da medida do tempo: “dizemos um tempo longo e um tempo curto e de
certo modo observamos o comprimento e fazemos medidas”31.
$R WHQWDU VROXFLRQDU R SUREOHPD GD H[WHQVmR GR WHPSR
Agostinho observou que é só a partir do tempo presente que podemos
pensar o passado e dizer que o tempo, antes, se passa longo e não que
se passou longo:
Não digamos pois: “o tempo passado foi longo”, porque não
encontramos aquilo que tivesse podido ser longo, visto que já
QmR H[LVWH GHVGH R LQVWDQWH HP TXH SDVVRX 'LJDPRV DQWHV
“aquele tempo presente foi longo”, porque só enquanto foi
presente é que foi longo”. Ainda não tinha passado ao não-ser,
HSRUWDQWRH[LVWLDXPDFRLVDTXHSRGLDVHUORQJD0DVORJRTXH
SDVVRXVLPXOWDQHDPHQWHGHL[RXGHVHUORQJRSRUTXHGHL[RX
GHH[LVWLU32.
$SHUJXQWDGRÀOyVRIRSDVVDDQmRVHUPDLVGR´FRPRµHVLP
do “onde” estão o passado e o futuro: “Se as coisas futuras e as coisas
passadas são, quero saber onde são”33, mas “estejam onde estiverem,
estão, aí estão como presente”34. Aonde estão como presentes? Agos-
tinho descobre:
Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três: pre-
sente das coisas passadas, presente dos presentes, presentes
GDV IXWXUDV ([LVWHP SRLV estes três tempos na minha
mente que não vejo em outra parte: lembrança presente das
coisas passadas, visão presente das coisas presentes e espe-
rança presente das coisas futuras. Se me é lícito empregar tais
H[SUHVV}HVYHMRHQWmRWUrVWHPSRVHFRQIHVVRTXHVmRWUrV35.

30 AGOSTINHO, op. cit., p. 322.


31 Cf. Paul RICOUER, op. cit., p. 18.
32 AGOSTINHO. op. cit., p. 323.
33 Ibidem. p. 22.
34 José Luiz FIORIN, op. cit., p. 131.
35 AGOSTINHO, op. cit., p. 328, (grifo nosso).

33
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

$JRVWLQKRDLQGDQmRS}HÀPjVXDUHÁH[mRVREUHRWHPSR
SRLVDWUDYpVGHXPH[HPSORGDUHFLWDomRGHXPSRHPDTXHRÀOyVR-
fo demonstra como o espírito se faz ativo no ato de recitar diante da
passividade da impressão, entre uma espera daquilo que ainda não foi
dito (imagens-sinais) e uma memória daquilo que já foi (imagens-vestí
gios), inserido neste dinamismo até que o poema tenha chegado ao seu
ÀP36 ( QHVWH GLQDPLVPR R SUHVHQWH PXGD GH VLJQLÀFDGR SDVVDQGR
a ser uma “intenção presente” e não um ponto (instante pontual) ou
um ponto de passagem, pois assim a “atenção” merece ser chamada,
tendo em vista que se tornou uma transição ativa (faz passar) e não
somente o modo de o presente ser atravessado: “a intenção presente
faz o futuro passar (traicit) para o passado, fazendo o passado crescer
por diminuição do futuro, até que pela consumição do futuro tudo
seja passado”37. Essa passagem se dá por conta de três operações coe-
[LVWHQWHVQRHVStULWRDHVSHUDDDWHQomRHDPHPyULDHVHQGRDVVLP
DFRQWHFHSRUH[HPSORTXHRREMHWRGDHVSHUDSDVVDGLDQWHGDDWHQomR
se transformando em memória, enquanto que o presente, quando está
passando, se reduz a um ponto, que é a revelação de uma ausência de
H[WHQVmRHDRSDVVRTXHpDWHQomRID]HQGRSDVVDUDRQmRVHUDTXLOR
que por ele está passando, demonstrando ter uma duração continua38.
Portanto, toda a dialética do triplo presente com a distensão da
DOPDSUHVHQWHQRSUySULRFRQWUDVWHHQWUHWUrVWHQV}HVDSDUHFHFRPRDÀU-
ma Ricoeur, em um único parágrafo de Agostinho, encerrando as discus-
sões acerca do tempo:
Preparo-me para cantar um canto que conheço. Antes de co-
PHoDUPLQKDH[SHFWDWLYDVHHVWHQGH tenditur) para o conjunto
desse canto; mas, assim que começo, à medida que os elemen-
WRVUHWLUDGRVGDPLQKDH[SHFWDWLYDWRUQDPVHSDVVDGRPLQKD
memória se estende (tenditur) para eles por sua vez; e faz for-
ças vivas de minha atividade (actionis) são distendidas (disten-
ditur), por causa do que vou dizer. No entanto, minha aten-
ção (attentio) está presente; e é por ela que transita (traicitur) o
que era futuro para se tornar passado. Quanto mais essa ação
avança e avança (agitur et agitur PDLVVHDEUHYLDDH[SHFWDWLYDH
VHDORQJDDPHPyULDDWpTXHDH[SHFWDWLYDLQWHLUDVHFRQVXPD
quando a ação inteira acabou e passou para a memória39.

36 Cf. FIORIN, José Luiz, op. cit., p. 137.


37 AGOSTINHO, Confessions, Livro XI, 27, 36 apud Paul RICOEUR, Tempo e Narrativa: a
LQWULJDHDQDUUDWLYDKLVWyULFD, 2019, p. 36.
38 Cf. José Luiz FIORIN, op. cit., p. 13.
39 AGOSTINHO, Confessions. Livro XI, 28, 38 apud Paul RICOEUR, Tempo e Narrativa: a
LQWULJDHDQDUUDWLYDKLVWyULFD2019, p. 37.
34
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

Em Aristóteles (384-322 a.C.), a “composição da intriga” –


base da teoria narrativa ricoeuriana - presente na Poética (344 a.C.) é o se-
gundo elemento a ser estudado por Ricoeur na elaboração de sua teoria
narrativa. Mas, de modo diferente do primeiro capítulo sobre o tempo
de Agostinho, Ricoeur não pretende fazer um “comentário” da Poética,
SRLVVXDVLQWHQo}HVVHGLULJHPDID]HUXPDUHÁH[mRGH´VHJXQGRJUDXµ
dando esboço à sua tese sobre o paralelo entre tempo e a narrativa que
irá compor toda a sua obra40.
É importante considerar que a interpretação e análise da Poética em
Paul Ricoeur se encontra dentro da perspectiva hermenêutica, uma das cinco
diferentes interpretações que adotaram a narrativa como uma noção essen-
cial, mas que encontram nas teorias da intriga a sua maior importância41.
$ ´SRHVLDµ HQTXDQWR DUWH EHODV DUWHV  VLJQLÀFD GH PRGR
geral, uma “imitação” (mímesis) ou representação das ações humanas
HVSHFLÀFDPHQWHSRUPHLRGDOLQJXDJHP42. Neste sentido, as já citadas
“formas poéticas” trabalhadas por Aristóteles são, na verdade, “modos
de imitação” que se diferenciam entre si na medida em que possuem
três aspectos divergentes, sendo eles o meio, os objetos e o modo de
imitação43(DRSDVVRTXHSRHVLDVLJQLÀFDLPLWDomRRVSRHWDVID]HP
a mesma coisa que todos imitadores, “representar os homens e suas
ações em alguma das formas indicadas”, com a única diferença no seu
recurso, que é a linguagem44.
Aparece, então, em Aristóteles, duas noções que Ricoeur lançará
mão, a de mímesis e a de mythos que, segundo Ricoeur, devem-se algo em
comum no modo de suas respectivas compreensões: as duas possuem um
caráter operatório45. A mímesis deve-se entender como a atividade mimé-
tica, que é o “processo ativo da imitação ou representação” e o mythos é
R´DJHQFLDPHQWRGRVIDWRVHPVLVWHPDµH[SUHVVDGRSHORQRPH´,QWULJDµ
– enquanto complemento do verbo compor (composição da intriga)46. A
dupla mímesis-mythos é o princípio da teoria da narrativa do nosso autor, em
que reconhece uma correlação entre os dois termos no qual a mímesis, a ati-
vidade mimética, se desdobra a partir do agir humano: “A imitação ou re-
presentação é uma atividade mimética na medida em que produz algo, ou
seja, precisamente o agenciamento dos fatos pela composição da intriga”47.
40 Cf. Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 58.
41 Cf. Ernesto MORA, op. cit., p. 528.
42 Cf. José Ferrarter MORA, 'LFLRQiULRGH)LORVRÀDWRPR,,, .3  2001, p. 2305-2306.
43 Cf. Ibidem, p. 2305.
44 Cf. Idem.
45 Cf. Idem.
46 Cf. Idem.
47 Paul RICOEUR, Paul, 7HPSRH1DUUDWLYDDLQWULJDHDQDUUDWLYDKLVWyULFD 2010, p. 61 apud

35
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

Ricoeur elabora a noção elementar de “concordância” a partir


GDGHÀQLomRGDLQWULJDXPDYH]TXHDLQWULJDHVWiLQVHULGDQRPRGHOR
trágico, consistindo este na “representação de uma ação levada a termo
(teleías), que formam um todo (KyOHV  H WHU FHUWD H[WHQVmR mégethos)”,
pois sendo a intriga responsável pelo encadeamento dos episódios ou
agenciamento dos fatos, ela promove a concordância, caracterizada
SHOD´FRPSOHWXGHWRWDOLGDGHH[WHQVmRDSURSULDGDµ48. E através de seu
caráter que é mais lógico do que temporal – uma vez que não submete
os acontecimentos simplesmente pelo “acaso da temporalidade”, mas,
ao invés, ela mesma estabelece os vínculos causais entre os eventos –,
GHÀQLQGRSRUWDQWRXPRUGHQDPHQWRGRSRHPDDRIRUPDUXPWRGR
(KyORV TXDQGRVHDÀUPDXPFRPHoRXPPHLRHXPÀP49. Neste sen-
WLGRSDUDRÀOyVRIRIUDQFrV´FRPSRUDLQWULJDMipID]HUVXUJLURLQWH-
ligível do acidental, o universal do singular, o necessário ou o verossí-
mil do episódio”50, e, por isso, torna-se possível compreender a intriga
FRPRD´PHGLDGRUDSRUH[FHOrQFLDµHQWUHGRLVPXQGRVRTXHDQWHFHGH
a narrativa e o que sucede a narrativa51.
3RVWRLVWRDQDUUDWLYDSRGHVHUDJRUDDÀUPDGDFRPRFRPSRVL-
omRGDLQWULJDPDVHPVHQWLGRDPSOR²QmRpDOJRHVSHFtÀFRGDWUDJpGLD
e sim do agenciamento dos fatos, da história (intriga) –, e enquanto é
composição da intriga, ela lança mão da capacidade de formar um todo,
promove a “síntese do heterogêneo” e compõe o agenciamento dos
eventos, produto de um encadeamento lógico: “a narrativa faz surgir à
concordância de elementos discordantes e com isso, atribui uma lógica,
não meramente cronológica, à temporalidade”52.
Ainda no conceito de mimesis, vimos que ela se desdobra a
partir da ação humana, representando-a por meio da composição da
intriga, o agenciamento dos fatos; esta é a correlação entre mimesis e
mythos. Neste sentido, pode-se dizer que o mythos é o “o que” ou o
próprio objeto da mímesis6XUJHHQWmRHQWUHHVVDFRUUHODomRXPDH[-
pressão utilizada por Aristóteles e retomada por Ricoeur denominada

,VDQDUD.HWKO\6$03$,24XHVWLRQDPHQWRHPUHWRUQRFRQVLGHUDo}HVVREUHDQDUUDWLYDKLV-
tórica e as contribuições de Paul Ricoeur (online), LQ;;;6LPSyVLR1DFLRQDOGH+LVWyULD (2019),
s.p., disponível em: <https://www.snh2019.anpuh.org/resources/anais/8/1564947552_AR-
48,92B$UWLJRFRPSOHWRUHYLVDGR,VDQDUD6DPSDLRSGI!DFHVVRHPGHVHWHPEURGH
48 Cf. Paul RICOEUR, op. cit., 2019. p. 69.
49 Cf. Ibidem, p. 69-70.
50 Paul RICOEUR, op. cit., 1994, p. 70 apud 'RQL]HWH;$9,(5 RUJ op. cit., p. 158.
51 Cf. Idem.
52&I,VDQDUD.HWKO\6$03$,2op. cit., s.p.
36
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

de “mimesis práxeos”, isto é, a representação da ação53. A mimesis da ação asse-


JXUDDUHODomRHQWUHRVFDPSRVpWLFRVHRVFDPSRVSRpWLFRVSRLVDH[SUHVVmR
práxis (ação) pertence, como visa Ricoeur, tanto ao domínio do real, pela ética,
quanto o domínio do imaginário, pela poética54. Por isso, a “mimesis não tem
somente uma função de corte, mas também de ligação, que estabelece pre-
cisamente o estatuto de transposição “metafórica” do campo prático pelo
mythos6HDVVLPIRUpSUHFLVRSUHVHUYDUQDSUySULDVLJQLÀFDomRGRWHUPR
mimesis uma referência ao antes da composição grega”55.
Foi no trecho acima, quando Ricoeur observa a necessidade
de “uma referência ao antes da composição grega”, que ocorre o des-
dobramento do termo mímesis em três momentos, recebendo o nome
de “tríplice mímesis”, no qual a tese elementar da obra – a correlação
´QHFHVViULDHWUDQVFXOWXUDOµGDDWLYLGDGHGHQDUUDUHDGDH[SHULrQFLD
temporal –, alcança o seu pleno desenvolvimento56.

$FRQÀJXUDomRGRWHPSRSHODQDUUDWLYDDWUtSOLFHPtPHVLV

Uma vez dada a introdução do tempo na &RQÀVV}HV de Agosti-


nho e a composição da intriga ou da narrativa na Poética de Aristóteles,
cabe agora estabelecer a relação entre o tempo e a narrativa em Paul
Ricoeur e sua tese central: “o tempo torna-se humano na medida em que
HVWiDUWLFXODGRGHPRGRQDUUDWLYRHDQDUUDWLYDDOFDQoDVXDVLJQLÀFDomR
SOHQiULDTXDQGRVHWRUQDXPDFRQGLomRGDH[LVWrQFLDWHPSRUDOµ57.
Além dos termos de concordância e de discordância, há, ain-
da, uma outra palavra do pensamento de Ricoeur que nos ajudará na
compreensão da teoria da tríplice mímesisTXHPHUHFHVHULGHQWLÀFDGDD
QRomRGH´WH[WRµ3DUDRQRVVRÀOyVRIRRWH[WRpD´XQLGDGHOLQJXtVWL-
FDµXPDREUDTXHWUD]DSRVVLELOLGDGHGDPHGLDomRHQWUHDH[SHULrQFLD
temporal (“tempo vivido”) e a atividade narrativa (“ato narrativo”), po-
dendo ser compreendido também como “materialidade linguística” ou

53 Cf. Breno MENDES, $UHSUHVHQWkQFLDGRSDVVDGRKLVWyULFRHP3DXO5LFRHXUOLQJXDJHPQDUUDWLYD


e verdade (online), 2013, p. 62, disponível em: <http://hdl.handle.net/1843/BUBD-9JLRCX>,
acesso em: 26 de setembro de 2022.
54 Cf. Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 82
55 Idem.
56 Cf. Breno MENDES, op. cit., p. 64.
57 Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 93.

37
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

uma “instância do discurso”58. Isso importa a nós, porque veremos que


a tríplice mímesispDDUWLFXODomRGDFRQÀJXUDomRGRWHPSRSHODQDUUD-
WLYDHPTXHR´WH[WRµPHVPRGHYHHVWDUVXEHQWHQGLGRFRPRRHVSDoR
HPTXHRFRUUHFRQFUHWDPHQWHWDOFRQÀJXUDomRHPRXWUDVSDODYUDVR
WH[WRPHVPRpRPXQGRFRQÀJXUDGRHPTXHGiOXJDUjH[SHULrQFLDGR
DXWRU QDUUDGRU GRWH[WRHDGROHLWRUGRWH[WR
Portanto, se a composição da intriga em Aristóteles é a resposta
SDUDDGLVFRUGkQFLDGRWHPSRHP$JRVWLQKRXPDYH]TXHHODDUWLFXODDH[-
periência humana temporal, deve-se esse mérito ao conceito chave de mímesis
e ao seu desdobramento em três momentos, como propôs Ricoeur. Por isso,
veremos a seguir cada momento da tríplice mímesis e o que ela representa.
O primeiro estágio, Mímesis , VH UHIHUH D SUpÀJXUDomR GR
PXQGRGDDomRKXPDQDTXHDQWHFHGHDFRQÀJXUDomRQDUUDWLYDSRLVVH
a composição da intriga representa as ações humanas, então deve haver
uma “pré-compreensão” sobre essas ações para que sejam possíveis as
suas imitações ou representações. Neste sentido, Paul Ricoeur sublinha
três dimensões importantes que procedem de uma competência prévia
da composição da intriga:
>@ D FDSDFLGDGH GH LGHQWLÀFDU D DomR em geral por seus as-
SHFWRVHVWUXWXUDLVXPDVHPkQWLFDGDDomRH[SOLFLWDHVVDFRP-
SHWrQFLD $OpP GLVVR VH LPLWDU p HODERUDU XPD VLJQLÀFDomR
articulada GD DomR XPD FRPSHWrQFLD VXSOHPHQWDU p H[LJLGD
DDSWLGmRSDUDLGHQWLÀFDURTXHFKDPRDVPHGLDo}HVVLPEyOLFDV
da ação, num sentido da palavra símbolo que Cassirer tornou
FOiVVLFR >@ 3RU ÀP HVVDV DUWLFXODo}HV VLPEyOLFDV GD DomR
são portadoras de características mais precisamente temporais,
de onde procedem mais diretamente a própria capacidade da
ação de ser narrada e talvez a necessidade de narrá-la59.
A primeira dimensão, a estrutural ou semântica, parte de uma
distinção feita por Ricoeur da esfera do movimento físico e da esfera
GD DomR SRLV R ÀOyVRIR UHFRQKHFH TXH H[LVWH XPD ´UHGH FRQFHLWXDO
da semântica da ação” em que a ação faz parte e se pode tornar com-
preensível, no qual a ação não é isolada ou em si mesma, como seria em
seu sentido restrito entendida como aquilo que alguém faz, mas sendo

58&I-RVp9DQGHUOHL&$51(,52+HUPHQrXWLFDGD1DUUDWLYDGH)LFomR$,QWULJDFRPR
Mediação do Sentido, LQ3HQVDQGR²5HYLVWDGH)LORVRÀD(online) 8 (2013), p. 81, disponível em:
<https://doi.org/10.26694/pensando.v4i8.918>, acesso em 01 de outubro de 2022.
59 Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 96.
38
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

compreendida como uma ação de um agente que lhe confere sentido e


VLJQLÀFDGR60'HQWURGHVWD´UHGHFRQFHLWXDomRµH[LVWHXPDUHODomRGH
´LQWHUVLJQLÀFDomRµTXHID]HPSDUWHGD´compreensão prática”, que, por
sua vez, está dentro de uma teoria da ação61. E entre essa compreensão
prática, que faz parte da teoria da ação, e a compreensão narrativa, da
WHRULDQDUUDWLYDH[LVWHXPDUHODomRVLPXOWkQHDGH´SUHVVXSRVLomRµHGH
“transformação”, em que a narrativa pressupõe do narrador uma certa
familiaridade com a compreensão prática, mas que passa a transfor-
má-la acrescentando aspectos discursivos que se referem a modalidade
sintática62.
As mediações simbólicas são a segunda dimensão da mímesis
I. Ela retrata os recursos simbólicos imanentes à ação, em que Ricoeur
DÀUPD TXH HVWHV UHFXUVRV VmR D FRQGLomR GH SRVVLELOLGDGH GD QDUUD-
tiva das ações humanas, pois para que uma ação possa ser inserida
na intriga é necessário haver, antes, uma articulação dessas ações em
signos, regras e normas63. Ricoeur entende por “mediação simbólica”
um conjunto de símbolos que dão base para ação ser compreendido
a nível consensual64. Neste sentido, há um sistema simbólico que
RIHUHFHXP´FRQWH[WRGHGHVFULomRµSDUDDVDo}HVSDUWLFXODUHVHP
que, graças a uma convenção simbólica, podemos interpretar os
VLJQLÀFDGRVGRVJHVWRV´RPHVPRJHVWRGHOHYDQWDUREUDoRSRGH
VHJXQGRRFRQWH[WRVHUHQWHQGLGRcomo maneira de saudar, de cha-
PDUXPWi[LRXGHYRWDUµ65.
O último caráter da atividade mimética nível I consiste nos
aspectos temporais que estão implicitamente presentes nas mediações
simbólicas da ação. Essa questão da temporalidade é o problema cen-
tral da investigação do nosso autor, em que na esteira de Santo Agosti-
nho reconhece um tempo envolto em aporias, no qual demonstra uma
´FRUUHODomRIURX[DµFRPFHUWDVFDWHJRULDVGDDomRSRLV$JRVWLQKRDR
DÀUPDUTXHKiXPWULSORSUHVHQWHXPSUHVHQWHGDVFRLVDVSDVVDGDVXP
presente das coisas presentes e um presente das coisas futuras, faz com
que se torne perceptível, segundo Ricoeur, o modo como a ação hu

60 Cf. Breno MENDES, ([LVWrQFLD H OLQJXDJHP R SUREOHPD GR VHQWLGR QD ÀORVRÀD GD KLVWyULD GH
Paul Ricoeur (online), 2019, p. 193-194, disponível em: <https://repositorio.ufmg.br/hand-
le/1843/30218>, acesso em: 03 de outubro de 2022.
61 Cf. Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 98.
62 Cf. Ibidem, p. 99.
63 Cf. Idem.
64 Cf. Carolina SOUZA; Francilaine MORAES, 7UtSOLFH0LPHVHGH5LFRHXUPRGHORPHWRGROyJLFR
DSOLFDGRHPQDUUDWLYDVVREUHSHUHJULQDo}HV(online), 2019, p. 74, disponível em <https://www.resear-
chgate.net/publication/336242340>, acesso em: 04 de outubro de 2022.
65 Cf. Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 98.

39
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

mana efetiva, por um viés fenomenológico, “faz aparecer” uma “troca”


entre as dimensões temporais66. Essa troca entre a categoria da ação e a
GLPHQVmRWHPSRUDOpH[HPSOLÀFDGRSHORÀOyVRIRIUDQFrV
É fácil reescrever cada uma das três estruturas temporais da
ação nos termos do triplo presente. Presente do futuro? Daqui
por diante, ou seja, a partir de agora, com prometo-me a fazer
isso amanhã. Presento do passado? Tenho agora a intenção de
fazer isso porque acabei de pensar que... Presente do presente?
Agora faço isso porque agora posso fazê-lo: o presente efetivo
do fazer atesta o presente potencial da capacidade de fazer e
se constitui em presente do presente67.
Em um passo adiante, o nosso autor, através dessa “via aberta”
colocada por Agostinho em sua teoria da distentio animiUHFRUUHDRDX[tOLR
GDDQiOLVHH[LVWHQFLDOGH+HLGHJJHUSDUDVHDSURSULDUGDQRomRHVWUXWX-
ral de intratemporalidade presente na obra Sein und zeit [Ser e tempo] que
pressupõe o ser-no-tempo68. O que importa a Ricoeur nessa análise é
a crítica de Heidegger àqueles que compreendiam o tempo como uma
“mera sucessão de agoras abstratos”, pois segundo ele a temporalização
da temporalidade acontece não por uma sucessão de agoras que não pos-
VXHPFRPHoRQHPÀPPDVHVWiLQVHULGRQD´FDSDFLGDGHGHWRWDOL]DomR
LQHUHQWHDR&XLGDGRµLVWRpRVHUQRPXQGRHVWiVHPSUHXQLGRH[LV-
tencialmente ao tempo por sua capacidade de tornar-presente69: “Dizer,
agora, escreve Heidegger, é a articulação no discurso de um tornar-presente
TXHVHWHPSRUDOL]DHPXQLmRFRPXPDH[SHFWDWLYDTXHUHWpP>@2WRU-
nar-presente que se interpreta a si mesmo – em outras palavras, o que é
interpretado e considerado no “agora” - é o que chamamos “tempo””70.
Portanto esse último caráter da mímesis,GDDQiOLVHH[LVWHQFLDO
do tempo é importante para Ricoeur na medida que ele percebe que
os elementos temporais da ação induzem à narrativa, pois nisto reside
sua tese central: “o tempo torna-se tempo humano na medida em que é
DUWLFXODGRGHPDQHLUDQDUUDWLYDHPFRPSHQVDomRDQDUUDWLYDpVLJQLÀ-
FDWLYDQDPHGLGDHPTXHGHVHQKDRVWUDoRVGDH[SHULrQFLDWHPSRUDOµ71.

66 Cf. Ibidem, p. 106.


67 Idem.
68 Cf. Carolina SOUZA; Francilaine MORAES, op. cit., p. 74.
69 Cf. Breno MENDES, op. cit., p. 199, disponível em: <https://repositorio.ufmg.br/hand-
le/1843/30218>, acesso em: 03 de outubro de 2022.
70 Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 111.
71 Ibidem, p. 9.
40
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

Seguindo para o segundo estágio da mímesis, encontramos a


FRQÀJXUDomRQDUUDWLYD2ÀOyVRIRIUDQFrVFRPHoDSRUDÀUPDUTXHD
mímesis,,pLGHQWLÀFDGDFRPRFRQGLomRGHSRVVLELOLGDGHGDPHGLDomR
entre mímesis,DSUHÀJXUDomRGDDomRKXPDQDHmímesis ,,,DUHÀJXUD-
omRGRYLYLGRGROHLWRUQDUHFHSomRGRWH[WR72. Esse seu papel mediador
FRQVLVWHQR´FDUiWHUGLQkPLFRGDRSHUDomRGHFRQÀJXUDomRµHTXLYD-
OHQGRDGL]HUTXHDLQWULJDRSHUDQRVHXSUySULRFDPSRWH[WXDOXPD
função de integração que traz a possibilidade de haver uma mediação
à nível abrangente, entre a pré-compreensão e a pós-compreensão das
ações humanas e de suas características temporais, uma vez que não
UHVWULQJHVHXFDUiWHUPHGLDGRUDRVHXFDPSRWH[WXDO 73. Neste sentido,
Ricoeur vai elencar três principais motivos da intriga possuir uma fun-
ção mediadora, como veremos a seguir.
Em primeiro lugar, o motivo de sua mediação se dá pelo fato
de a intriga fazer a mediação entre acontecimentos ou incidentes individuais
e uma história tomada como um todo742HL[RFHQWUDOGHVVDPRWLYDomRVL-
WXDVHQDFDSDFLGDGHGHDLQWULJDH[WUDLUGHXPDDGYHUVLGDGHGHDFRQWHFLPHQ-
tos uma “história sensata”, não limitando-se a colocar tais acontecimentos
numa “ordem serial”, ela deve organizar os incidentes eventuais ao ponto
de fazer com que uma história alcance uma totalidade inteligível que, se diga
GHSDVVDJHPpRTXHID]SRVVtYHOLGHQWLÀFDUR´WHPDµGHXPDGHWHUPLQDGD
história75. É importante, também, conceber os incidentes individuais sem
LJQRUDUVHXVYDORUHVSDUWLFLSDWLYRVGHXPDKLVWyULDSRLVHOHVVmRGHÀQLGRV
a partir de suas contribuições para o desenvolvimento da intriga e, por isso,
“um acontecimento tem de ser mais que uma ocorrência singular”76.
A segunda motivação é apresentada a partir da capacidade
GDLQWULJDGHFRPSRU´MXQWRVIDWRUHVKHWHURJrQHRVFRPRÀQVPHLRV
interações, circunstâncias, resultados inesperados, etc.”77. O que Paul
Ricoeur chama de “síntese do heterogêneo” é a própria capacidade con-
ÀJXUDWLYDGDLQWULJDTXHpFDUDFWHUL]DGDFRPR´FRQFRUGkQFLDGLVFRUGkQ-
cia”, sendo essa a segunda motivação e que já havia sido adiantada quan-
do, no primeiro momento da mímesisRÀOyVRIRPHQFLRQDTXHDQDUUDWLYD
faz aparecer “numa ordem sintagmática todos os componentes suscetí

72&I$LOWRQGH628=$)LORVRÀDH/LWHUDWXUDIXQGDPHQWRVÀORVyÀFRVSDUDXPDFUtWLFD
literária em Paul Ricoeur – Tempo e Narrativa, in Revista Pandora Brasil (online) 42 (2010), p.
28, disponível em: <http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/ricoeur/ailton.pdf>,
acesso em: 07 de outubro de 2022.
73 Cf. Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 114.
74 Cf. Idem.
75 Cf. Ailton SOUZA, op. cit., p. 28.
76 Cf. Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 114.
77 Ailton SOUZA, op. cit., p. 28.

41
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

YHLVGHÀJXUDUQRTXDGURSDUDGLJPiWLFRHVWDEHOHFLGRSHODVHPkQWLFDGD
ação”78(QWmRDLQWULJDpDVVLPFRORFDGDFRPRDWLYLGDGHGHFRQÀJXUD-
ção que se encontra nessa passagem do paradigmático para o sintagmá-
tico, a mesma passagem de mímesis I para mímesis II79.
A última motivação em questão que confere o papel mediador
à intriga se refere aos seus “caracteres temporais próprios”80. Estes carac-
teres são, na verdade, duas dimensões temporais combinadas através da
composição da intriga, sendo elas a cronológica e a não cronológica, que
UHÁHWHPRSDUDGR[RGRWHPSRGH$JRVWLQKRHFRQIHUHPR´VHQWLGRSOHQR
GHFRQFRUGkQFLDGLVFRUGkQFLDµTXHDWpHQWmRVyKDYLDUHFHELGRXPDGHÀ-
nição prévia no pensamento do nosso autor81. Pressupondo as dimensões
temporais da composição da intriga, deve-se elucidar, segundo o nosso
autor, que a dimensão cronológica é aquela que “constitui a dimensão epi-
sódica da narrativa”, isto é, a história (intriga) é reconhecida como formada
de acontecimentos, enquanto que a não cronológica é aquela dimensão
FRQÀJXUDQWHTXHDLQWULJD´WUDQVIRUPDRVDFRQWHFLPHQWRVHPKLVWyULDµ
VLJQLÀFDQGRR´DWRFRQÀJXUDQWHµTXHpGHÀQLGRSRUVHXFDUiWHUGH´WR-
PDUFRQMXQWDPHQWHµRVLQFLGHQWHVSDUWLFXODUHVHTXLYDOHQGRDDÀUPDUTXH
HVVHDWRGDFRQÀJXUDomRFRQVLVWHMXVWDPHQWHHPIRUPDUXPDXQLGDGHGD
totalidade temporal de acontecimentos diversos82.
2ÀOyVRIRIUDQFrVDLQGDDÀUPDTXHRDWRGDLQWULJDRXDWR
FRQÀJXUDWLYRpDSUySULDVROXomRGRWHPSRDSRUpWLFRGH$JRVWLQKRQR
qual se demonstra ou se revela ao leitor na medida em que a história
possui a capacidade de ser acompanhada83. Surge aqui, então, a noção
de “acompanhar uma história”, referente à própria dimensão episódica,
HPTXHROHLWRURXRRXYLQWHVREDH[SHFWDWLYDGHHQFRQWUDUQRÀQDOGD
história uma satisfação, avança em meio a contingências e peripécias até
a sua conclusão84­HVVD´FRQFOXVmRµDVVLPDÀUPD5LFRHXU
Essa conclusão não está logicamente implicada por qualquer
SUHPLVVDDQWHULRU'ijKLVWyULDXP´SRQWRÀQDOµTXHSRUVXDYH]IRUQH-
ce o ponto de vista de onde a história pode ser percebida como formando
um todo. Entender a história é entender como e por que os sucessivos epi-
sódios conduziram a essa conclusão, que, longe de ser previsível, deve ser
ÀQDOPHQWHDFHLWiYHOFRPRVHQGRFRQJUXHQWHFRPRVHSLVyGLRVUHXQLGRV
[...] é essa a capacidade da história de ser acompanhada que constitui

78 Paul RICOEUR, op. cit., 2019, p. 114.


79 Cf. Idem.
80 Cf. Ailton SOUZA, op. cit., p. 29.
81 Cf. RICOEUR, Paul, op. cit., p. 115.
82 Cf. Ibidem, p. 115-116.
83 Cf. Ibidem, p. 116.
84 Cf. MENDES, Breno, op. cit., p. 67.
42
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

DVROXomRSRpWLFDGRSDUDGR[RGHGLVWHQVmRLQWHOHFomR4XHDKLVWyULDVH
GHL[HDFRPSDQKDUFRQYHUWHRSDUDGR[RHPGLDOpWLFDYLYD85.
A teoria narrativa não se pode dar por realizada de ple-
no sentido enquanto ainda QmR HVWLYHU GHÀQLGR R WHUFHLUR H ~OWLPR
desdobramento da mímesisSRULVVRYDOHDOXGLUTXHRDWRFRQÀJXUDQWH
da mímesis ,, QmR SRVVXL XPD ÀQDOLGDGH HP VL PHVPD XPD YH] TXH
VHJXQGRRQRVVRÀOyVRIRHVWDQGRDLQYHVWLJDomRSDXWDGDQDPHGLDomR
HQWUHWHPSRHQDUUDWLYDDFRQÀJXUDomRQDUUDWLYDÀFDULDLQFRPSOHWDVH
RVVHQWLGRVSURGX]LGRVSRUHODQmRUHWRUQDVVHPjH[SHULrQFLD86. Nisto
consiste a mímesis III: a marcação da intersecção entre o mundo do
WH[WRHRPXQGRGROHLWRUTXHUHVVLJQLÀFDVXDYLGDDWUDYpVGRVHQWLGR
WUDQVPLWLGRSHORWH[WR87.
A tríplice mímesis trata, na verdade, de um “círculo herme-
QrXWLFRµHPTXHÀQDOPHQWHSRGHVHUDÀUPDGRSHODQRomRGDUHFHS-
ção do leitor no ato de leitura, pois se encontramos em mímesis I o
PXQGRSUpÀJXUDGRRPXQGRGR´YLYLGRµRXHPRXWUDVSDODYUDV
GDV Do}HV KXPDQDV HP TXH WDQWR R DXWRU RX R OHLWRU GH XP WH[WR
SDUWLFLSDPÀFDQtWLGRFRPRLUHPRVYHUTXHROHLWRUDRVHDSURSULDU
GRWH[WRFRQÀJXUDGRSHORDXWRUUHWRUQDDR´YLYLGRµHPmímesis I, no
SURFHVVR TXH 5LFRHXU FKDPDUi GH UHÀJXUDomR 88. Mas, diferente da
PDLRULDGDVFRUUHQWHVGHDQiOLVHWH[WXDOQDKHUPHQrXWLFDULFRHXULDQD
o “centro da análise” é o leitor e não o autor, pois o único que par-
ticipa dos três estágios da mímesis é o leitor: “Na fronteira entre M2
H0ROHLWRU´OrµRWH[WRWDOFRPRHVWiFRQÀJXUDGR1RVHLRGD0
ele “compreende” a narrativa. Na fronteira entre M3 e M1 o leitor
GHYROYH R WH[WR DR YLYLGR LQFRUSRUDQGR R VDEHU DSUHQGLGR DWUDYpV
GHOHDRVHXSUySULR9LYHUµ89.
A noção de ato de leitura recebe um destaque de Ricoeur, o
que se deve saber é que ela é o vetor da condição de possibilidade que a
LQWULJDSRVVXLGHPRGHOL]DUDH[SHULrQFLDLVVRSRUTXHDOpPGHUHWRPDU
RDWRFRQÀJXUDQWHGHmímesis II, ela o encerra90. Neste sentido, é preciso
DEDQGRQDUDLGHLDGHTXHH[LVWHXPDRSRVLomRHQWUHXP´GHQWURµHXP
´IRUDµGRWH[WRHSRULVVR5LFRHXUUHWRPDDVH[SUHVV}HVGHHVTXHPD-

85 Paul RICOEUR, op. cit., p. 115-116.


86 Cf. Breno MENDES, op. cit., p. 202.
87 Cf. Idem.
88 José D’ Assunção BARROS, Paul Ricoeur e a Narrativa Histórica, LQ5HYLVWD+LVWyULD,PDJHP
e Narrativas (online) 12 (2017), p. 19, disponível em: <https://www.researchgate.net/publica-
tion/268286263>, acesso em: 11 de outubro de 2022.
89 Cf. Idem.
90 Cf. Paul RICOEUR, op. cit., p. 130-131.

43
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

tização e de tradicionalidade trabalhadas em mímesis II91. Essas duas no-


ções garantem a ideia de uma transcendência da oposição citada acima,
uma vez que elas, também, são categorias operativas da interação entre
a escrita e a leitura92.
Assim, podemos, por um lado, encontrar nos paradigmas a
FDSDFLGDGHGHHVWUXWXUDURXRULHQWDUDVH[SHFWDWLYDVIHLWDVSHOROHLWRU
uma vez que eles ajudam o leitor a reconhecer qual é a regra, o gênero e
o tipo que a história narrada se baseia93; eles, os paradigmas, “fornecem
DVOLQKDVGLUHWRUDVSDUDRHQFRQWURHQWUHRWH[WRHRVHXOHLWRUµ94. E, por
outro lado, nesse encontro, o ato de leitura atualiza a história, ou seja,
o leitor “acompanha o jogo entre a inovação e a sedimentação dos pa-
radigmas, joga com as coerções narrativas, efetua os desvios, participa
GRFRPEDWHHQWUHRURPDQFHHRDQWLURPDQFHWHPRSUD]HUGRWH[WR
conclui a obra”95.
$UHÀJXUDomRGRYLYLGRGROHLWRUpGHPDUFDGRQHVVHHQFRQWUR
FRPRWH[WRFRQÀJXUDGRSHORDXWRU$REUDPDLVGRTXHFRPXQLFDU
XPVHQWLGRHODSURMHWDGLDQWHGHVLXP´PXQGRGRWH[WRµHHVVHPXQ-
do se entrecruza com o mundo do leitor, transformando-o em sua
H[SHULrQFLDFRWLGLDQDHHPVHXPXQGRHIHWLYR962PXQGRGRWH[WRp
caracterizado, ainda, por sua função mediadora, no qual situa-se por
ID]HUDSDVVDJHPHQWUHDFRQÀJXUDomRHDUHÀJXUDomRHQWUHmímesis II
e mímesis ,,,eHVVDUHÀJXUDomRTXH´SURFHGHGHXPPXQGRDRXWUR
GHXPPXQGRÀFWtFLRDXPPXQGRUHDODWUDYpVGHXPPXQGRSRWHQ-
cialmente real”97.
Assim, a investigação de Ricoeur chega ao seu desfecho com
essa última caracterização da mímesis ,,, FRPR UHÀJXUDomR GHPRQV-
trando que na teoria da tríplice mímesis não há espaço somente para
UHYHODUXPWHPSRTXHHVWiSUHÀJXUDGRQDVDo}HVKXPDQDVTXHSRGH
VHUFRQÀJXUDGRSHODQDUUDWLYDKiHVSDoRWDPEpPSDUDWUDQVIRUPDomR
GHVVHWHPSRQDSUi[LVFRWLGLDQDSRUPHLRGRDWRGHOHUXPWH[WRFRQ-
ÀJXUDGRTXHp´R~OWLPRYHWRUGDUHÀJXUDomRGRPXQGRGDDomRVRE
o signo da intriga”98.

91 Cf. Ibidem, p. 131.


92 Cf. Ailton SOUZA, op. cit., p. 34.
93 Cf. Idem.
94 Paul RICOEUR, op. cit., p. 131.
95 Ailton SOUZA, op. cit., p. 34.
96 Cf. Breno MENDES, op. cit., p. 76.
97 Paul RICOEUR, 0LPqVLVUpIHUHQFHHWUHÀJXUDWLRQGDQV7HPSVHWUpFLWeWXGHV3KpQRPpQRORJLTXHV,
1990a, p. 35.
98 Paul RICOEUR, op. cit., p. 132.

44
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

Considerações Finais

9LPRV D FRQÀJXUDomR GR WHPSR SHOD QDUUDWLYD HP 3DXO 5L-


FRHXU9LPRVWDPEpPRSDQRUDPDHPTXHRQRVVRDXWRUHVXDÀORVRÀD
GDOLQJXDJHPÀ]HUDPVHSUHVHQWHHUHFRUUHPRVDGRLVDXWRUHVLQGHSHQ-
dentes, mas que possuem uma profunda relação, tratamos de discutir o
tempo em Agostinho e a composição da intriga em Aristóteles.
eFODURHVVDUHODomRQXQFDIRLPHQFLRQDGDDQWHVQDKLVWyULDGDÀORVRÀD
a não ser pelos méritos de Paul Ricoeur que, por conta própria, faz
a ligação dos “elos intermediários e que articulam a correlação”99. O
nosso problema em questão é se a Narrativa fundamentada na intriga
aristotélica é resposta para a aporia Temporal agostiniana.
+DYtDPRVSDUWLGRGDKLSyWHVHTXHHP3DXO5LFRHXUWRGDH[-
periência humana se desencadeia no tempo e pode ser narrada e, atra-
YpVGDQDUUDWLYDPHVPDWDOH[SHULrQFLDVHULDDUWLFXODGDSHODmímesis, uma
LPLWDomRFULDGRUDUHVSRQViYHOSRUFRQÀJXUDUDH[SHULrQFLDWHPSRUDOQR
WH[WR7DPEpPDFUHGLWiYDPRVTXHDIXQomRQDUUDWLYDIRVVHVHPHOKDQWH
à mímesisFRQÀJXUDQGRRWHPSRHH[SORUDQGRRVVHQWLGRVHVFRQGLGRVGD
vida humana.
Por isso, primeiro, começamos por elucidar as pressuposições
mais básicas da teoria hermenêutica de Ricoeur através das suas prin-
FLSDLVLQÁXrQFLDVÀORVyÀFDVSRUGHWUiVGHVXDÀORVRÀDGDOLQJXDJHP
DIHQRPHQRORJLDGH+XVVHUODKHUPHQrXWLFDGH*DGDPHUHDÀORVRÀD
UHÁH[LYDGH-HDQ1DEHUWTXHGHDOJXPDIRUPDRXGHRXWUDIRUDPEDVH
à sua teoria hermenêutica fenomenológica. Em segundo lugar, por um
lado, descrevemos o tempo discordante de Agostinho, revolto em apo-
ULDVHTXHVyH[LVWHQDDOPDKXPDQDFRPRPHPyULDDWHQomRHH[SHFWD-
tiva presentes na teoria da distensão da alma e, por outro lado, vimos a
composição da intriga concordante de Aristóteles em que, se tratando
GHXPDUHÁH[mRGHVHJXQGRJUDXRQRVVRÀOyVRIRSDUWHGHXPDWHRULD
narrativa que encontra na célula melódica mímesis-mythos a sua fundamen-
tação, mas, indo além de Aristóteles, Ricouer demonstra que a intriga
pode ser resposta ao tempo de Agostinho de modo poético, isso no
desdobramento da mímesis HPWUrVPRPHQWRV3RUÀPDWUDYpVGDWHRULD
da tríplice mímesisRQRVVRÀOyVRIRUHYHODTXHRWHPSRSRGHVHUFRQÀ-
gurado pela narrativa no desdobramento da mímesis em três momentos:
QDSUHÀJXUDomRGDVDo}HVKXPDQDV mímesis, SRUPHLRGDFRQÀJXUDomR
WH[WXDO (mímesis ,, HQDUHÀJXUDomRGROHLWRUDWUDYpVGRWH[WRFRQÀJXUDGR
(mímesis III); nisso consiste a teoria narrativa de Ricoeur.

99 Ibidem, p. 93.

45
A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

Posto isso, ao retomarmos o nosso problema em questão,


descobrimos que, em Ricoeur, a narrativa soluciona a aporia temporal
DSHQDV HP XP VHQWLGR SRpWLFR FRPR 5LFRHXU PHVPR DÀUPD ´1mR
que esta resolva por suplência as aporias. Se as resolve, é num sentido
poético e não teórico do termo. A composição da intriga [...] responde
à aporia especulativa por um fazer poético capaz, de certo, de esclare-
cer [...] a aporia, mas não de resolvê-la teoricamente”100. E como vimos,
de fato, a teoria narrativa é capaz de mediar através da tríplice mímesis a
H[SHULrQFLDWHPSRUDOKXPDQDSRLVHODGHPRQVWUDTXHDOLQJXDJHPWHP
XPSRGHULPLWDWLYRHFULDWLYRTXHFRQÀJXUDS}HRUGHPHGiVHQWLGRj
H[SHULrQFLDWHPSRUDOFKHJDQGRDRiSLFHQDH[SHULrQFLDGRDWRGHOHU
XPWH[WRTXHUHÀJXUDRYLYLGRGROHLWRU1RHQWDQWRDWHRULDGDWUtSOL-
ce mímesis, presente na primeira parte da trilogia Tempo e Narrativa,
que elucidamos no presente artigo, segundo o nosso autor, apenas um
´HVERoRTXHDLQGDUHTXHUH[SDQVmRFUtWLFDHUHYLVmRµ101(QÀPDLQGD
há muito a ser aprofundado nessa teoria, restando as outras três partes
que compõe a trilogia, que ressalta diversos outros temas, como, por
H[HPSORDGLIHUHQoDHQWUHQDUUDWLYDKLVWyULFDHÀFFLRQDOHDLGHQWLGDGH
QDUUDWLYDHPHVPRGHSRLVGDWULORJLD5LFRXHUH[SDQGHRSUREOHPDHP
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tion/268286263>. Acesso em: 11 de outubro de 2022.

100 Ibidem, p. 16.


101 Ibidem, p. 94.

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A configuração do tempo pela narrativa em Paul Ricoeur

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