UNIDADE 01
HISTÓRIA DOS BATISTAS: uma breve introdução
Introdução
Propomos, neste primeiro capítulo, compreender,
objetivamente, um dos aspectos mais relevantes na
KLVWRULRJUDÀD GD GHQRPLQDomR %DWLVWD RV WUDoRV
KLVWyULFRV GH VXD RULJHP QD (XURSD DSRQWDQGR
para os movimentos de transformação social
RFRUULGRV QDTXHOD SDUWH GR PXQGR VREUHWXGR
no início do século XVII. Depois da Europa e
dos Estados Unidos, os batistas alcançaram êxito
em sua inserção no Brasil, revelando estratégias
de expansão missionária a partir da cidade de
Salvador, como veremos no próximo capítulo.
Para compreender os primeiros movimentos
GRV FKDPDGRV EDWLVWDV QD (XURSD H QR %UDVLO
podemos nos apoiar nas análises de estudiosos
TXH SURFXUDUDP FRPSUHHQGHU DV LQWHQo}HV H
SDUWH GR SHQVDPHQWR GDTXHOHV SLRQHLURV TXH
Os traços históricos da origem dos batistas na Europa
Para José dos Reis Pereira, “podem-se distinguir
três teorias a respeito da origem dos Batistas.
A primeira é a teoria JJJ ou Jerusalém-Jordão-
João. A segunda é a do parentesco espiritual
com os Anabatistas do século XVI. E a terceira
é a teoria da origem dos Separatistas ingleses
do século XVII”, (PEREIRA, p. 13). Após
História, Princípios e Organizações Batistas
lançaram os alicerces de uma denominação
FRP PDLV GH TXDWURFHQWRV DQRV GH H[LVWrQFLD
QR PXQGR H TXH XOWUDSDVVRX R VHX SULPHLUR
centenário entre os brasileiros.
eLPSRUWDQWHOHPEUDUTXHjPHGLGDTXHDQDOLVDPRV
RV DFRQWHFLPHQWRV KLVWyULFRV LQGLFDPRV DOJXQV
pontos fundamentais na compreensão doutrinária
dos batistas, como a ênfase na experiência
GH FRQYHUVmR GH SHVVRDV TXH Mi DOFDQoDUDP D
consciência de seus pecados e compreenderam
GH IRUPD UDFLRQDO D JUDoD TXH VH PDQLIHVWRX
11
HP -HVXV &ULVWR 7DLV SRVLo}HV GHIHQGLGDV SHORV
batistas, sobre a conversão pessoal e a prática
GR EDWLVPR GH DGXOWRV GLIHUHP GH FRQYLFo}HV
DVVXPLGDV SRU RXWUDV GHQRPLQDo}HV WDPEpP GH
FRQÀVVmRSURWHVWDQWH
surgimento dos primeiros batistas na Europa
DRV TXH H[SHULPHQWDYDP PDLRUHV GLÀFXOGDGHV
sociais no contexto Inglês, a gênese do grupo
religioso e o seu avanço social “se deram numa
Inglaterra pré-revolucionária e revolucionária
HP PHLR D XPD IHUR] JXHUUD FLYLO ÀOKD GH
uma compreensão pré-moderna de liberdades
analisar as duas primeiras teorias, o autor tece
EUHYHV FRQVLGHUDo}HV VREUH D WHUFHLUD GL]HQGR
TXHDWHUFHLUDSRVLomR´DÀUPDTXHRV%DWLVWDVVH
originaram dos separatistas ingleses, especialmente
DTXHOHVTXHHUDPFRQJUHJDFLRQDLVQDHFOHVLRORJLD
e insistiam na necessidade do batismo somente de
regenerados”, (PEREIRA, p. 14). A terceira teoria
p D PDLV DGHTXDGD SRGHQGR VHU VXVWHQWDGD SRU
GRFXPHQWRVHHVWXGRVKLVWRULRJUiÀFRVDMXGDQGR
a compreender a origem e parte da trajetória dos
batistas, desde o século XVI até os dias atuais.
Assim, buscando compreender esse processo
TXH FDUDFWHUL]D D RULJHP GRV EDWLVWDV GHYHVH
retroceder ao início do século XVII e observar
os movimentos religiosos ocorridos na Europa,
RXPDLVHVSHFLÀFDPHQWHQD,QJODWHUUDH+RODQGD
3DUD ,VUDHO %HOR GH $]HYHGR TXH DVVRFLD R
S~EOLFDVµ$=(9('2S
$]HYHGR HQWHQGH TXH D ,QJODWHUUD GR VpFXOR
;9,, SUHFLVRX FRQYLYHU FRP WUDQVIRUPDo}HV
na sociedade e desdobramentos religiosos,
´FKRFDQGRRVLQJOHVHVHVSHFLDOPHQWHHPIXQomRGH
algumas idéias políticas e religiosas, consideradas
avançadas”, (AZEVEDO, p. 75). Como resultado
GHVVHSURFHVVRGHWUDQVIRUPDo}HVDVLQVWLWXLo}HV
religiosas da época experimentaram rupturas e
RXWUDVDGDSWDo}HVSURYRFDQGRRVXUJLPHQWRGH
GLYHUVRV JUXSRV RX GHQRPLQDo}HV UHOLJLRVDV GH
FRQÀVVmR SURWHVWDQWH WRUQDQGR D UHOLJLmR FULVWm
QD (XURSD DLQGD PDLV GLYHUVLÀFDGD HP VXDV
SUiWLFDV H ULWXDLV H PHQRV KRPRJrQHD HP VHX
pensamento teológico.
3DUWLQGR GD DQiOLVH GR KLVWRULDGRU .HQQHWK
Scott Latourette, os batistas são mencionados
UNIDADE 01

SHOD SULPHLUD YH] QD KLVWRULRJUDÀD FULVWm TXDQGR OLYUHDUEtWULRTXHFRORFDYDGLDQWHGHFDGDSHVVRDD

GD RUJDQL]DomR GD SULPHLUD LJUHMD EDWLVWD UHVSRQVDELOLGDGHGDHVFROKDSHODYLGDHWHUQD
HQWUH RV LQJOHVHV TXH IRUDP SDUD $PVWHUGm
Assim, após o surgimento dos primeiros cristãos
QDTXHOH SHUtRGR GH SURIXQGDV WUDQVIRUPDo}HV
denominados batistas, de origem inglesa, no início
VRFLDLV FRQJUHJDQGR UHOLJLRVRV TXH VH GL]LDP
História, Princípios e Organizações Batistas

do século XVII, originou-se outro grupo com

separatistas. Após um período na Holanda,
XP JUXSR GH ÀpLV TXH FRQIHVVDYD RV SULQFtSLRV
cristãos reformados retornou para a Inglaterra,
GDQGR RULJHP DR SULPHLUR JUXSR TXH ÀFRX
FRQKHFLGRKLVWRULFDPHQWHFRPRBatistas, segundo
KLVWRULDGRUHVGRFULVWLDQLVPR
(VFUHYHX .HQQHWK /DWRXUHWWH VREUH D RULJHP GH
WDO JUXSR RX LJUHMD ´7KRPDV +HOZ\V XP GRV
DPLJRV GH 6\PWK TXH GHSRLV URPSHX FRP HOH
FDUDFWHUtVWLFDV UHOLJLRVDV VHPHOKDQWHV TXH ÀFRX
FRQKHFLGRFRPR%DWLVWDV3DUWLFXODUHV'HDFRUGR
com Reis Pereira, tal origem deu-se por volta
de 1633 e 1638. Tratava-se, no entanto, de uma
coletividade cristã com forte tendência calvinista.
6HJXQGR HVWXGLRVRV GDV LQVWLWXLo}HV UHOLJLRVDV
essa divisão entre Batistas Gerais (arminianos) e
Batistas Particulares (calvinistas) durou até o século
;,;TXDQGRRVGRLVJUXSRVVHXQLUDPIRUPDQGR
PDV VHJXLX ¶DUPHQLDQR· IXQGRX  D TXH
parece ser a primeira igreja batista em solo inglês,
fora dos muros de Londres”, (LATOURETTE,
Tomo 2, p. 174-175).
12
( DTXL FDEH XPD H[SOLFDomR SDUD RV EDWLVWDV QD
atualidade, o conceito de igreja local VLJQLÀFD XP
JUXSRIRUPDGRSRUUHOLJLRVRVTXHFRQJUHJDPQD
PHVPD ORFDOLGDGH QmR H[LVWLQGR TXDOTXHU SRGHU
KLHUiUTXLFRGHDOJXPDRUJDQL]DomRH[WHUQDVREUH
tal igreja, tendo a mesma a liberdade para orientar
RV ÀpLV VREUH WHPDV GRXWULQiULRV H WUDWDU GH
TXHVW}HVSROtWLFDVFRPRDVHSDUDomRHQWUH,JUHMD
e Estado. Por outro lado, a expressão separatista,
segundo Latourette, aplica-se a um grupo de
UHOLJLRVRVTXHVHUHWLURXGD,JUHMD$QJOLFDQDVpFXOR
XVII) defendendo a independência e a autonomia
GD LJUHMD QmR KDYHQGR TXDOTXHU YtQFXOR FRP RV
DQDEDWLVWDV 3DUD R KLVWRULDGRU GR FULVWLDQLVPR
os separatistas inspiraram, posteriormente, os
FRQJUHJDFLRQDLVGRVTXDLVRVEDWLVWDVKHUGDUDPD
forma administrativo-doutrinária.
$TXHOD SULPHLUD LJUHMD ORFDO QRPHDGD EDWLVWD
datada de 1612, professava os ensinamentos
arminianos, sendo considerada ascendente
HVSLULWXDO GRV %DWLVWDV *HUDLV GH %UHWDQKD (
DTXL WHPRV RXWUD H[SOLFDomR SDUD /DWRXUHWWH
a expressão arminianos HVWi DVVRFLDGD j ÀJXUD
de Jacob Armínio, um professor de teologia na
8QLYHUVLGDGH GH /HLGHQ TXH GHIHQGLD D VDOYDomR
GRLQGLYtGXRDSDUWLUGDJUDoDGH'HXVVHPTXH
KRXYHVVH XPD SUHGHWHUPLQDomR GLYLQD HVVD
predeterminação podia assegurar a salvação de
DOJXQV HP GHWULPHQWR GH RXWURV TXH QmR IRUDP
D8QLmR%DWLVWDGD*Um%UHWDQKDH,UODQGD
Ainda no século XVII, por motivos de
perseguição religiosa, alguns batistas deslocaram-
se da Inglaterra para os Estados Unidos, num
SHUtRGR TXDQGR DV FRO{QLDV DPHULFDQDV HVWDYDP
HPIRUPDomR2VFRQÁLWRVHQWUHFULVWmRVGDWDPGD
5HIRUPDUHOLJLRVDRFRUULGDQD$OHPDQKDGRVpFXOR
;9, TXDQGR FDWyOLFRV URPDQRV H UHIRUPDGRUHV
VH HQIUHQWDUDP WDQWR GLVFXUVLYD TXDQWR
ÀVLFDPHQWH &RP R PRYLPHQWR GH 5HIRUPD
3URWHVWDQWH QDTXHOH SHUtRGR SDUWH GD (XURSD
FULVWmFRQIURQWRXVHHPGHIHVDGHVXDVFRQYLFo}HV
de fé e doutrinas. Nesse sentido, os confrontos
entre cristãos datam do século XVI, mas avançam
pelos séculos seguintes, como analisados no livro
Cristãos em Confronto: Brasil 1890-1960 TXH WUDWD
dos embates entre intelectuais do catolicismo e
do protestantismo no contexto social brasileiro,
FRPSUHHQGHQGR R SHUtRGR TXH YDL GR ÀQDO GR
século XIX até parte do século XX. Mas essa é
RXWUDSDUWHGDKLVWyULDGRFULVWLDQLVPRVREUHWXGR
no contexto de América Latina!
Deixando a perseguição religiosa para trás, os
protestantes dirigiram-se aos Estados Unidos em
IRUPDomRTXHMiUHYHODYDPXPFRQWH[WRSROtWLFR
religioso mais tolerante ao pluralismo religioso.
Nas colônias americanas, os batistas cresceram e
VHGHVHQYROYHUDPLGHQWLÀFDQGRVHFRPDVFODVVHV
menos favorecidas da sociedade, inclusive, com os
negros escravos do Sul dos Estados Unidos.
-RVp GRV 5HLV 3HUHLUD HVFUHYH VREUH D FKHJDGD
dos primeiros protestantes ao novo continente,
GL]HQGRTXH
HOHLWRVGLYLQDPHQWH1RFRQWH[WRGD%UHWDQKDRV
Batistas Gerais defendiam uma posição teológica muitos foram para a Holanda porém
VHPHOKDQWHDRVDUPLQLDQRVLVWRpDH[LVWrQFLDGR o mais famoso desses grupos fugitivos

preferiu ir para a América do Norte,
FXMD FRORQL]DomR HVWDYD QRV VHXV
começos. Esse grupo era o dos ‘Pilgrim
)DWKHUV· RV 3DLV 3HUHJULQRV TXH IUHWRX
XP SHTXHQR QDYLR R ¶0D\ÁRZHU· H
desembarcou nas costas do atual Estado
QRUWHDPHULFDQR GH 0DVVDFKXVVHWWV HP
 2V SDLV SHUHJULQRV FKDPDUDP
jTXHOD UHJLmR HP TXH VH HVWDEHOHFHUDP
GH 1RYD ,QJODWHUUD VDXGRVRV TXH
estavam do torrão natal, apesar de toda
a perseguição. Ali se estabeleceram e ali
prosperaram, (PEREIRA, p. 53).
Pereira atribui a Roger Williams, um jovem idealista
FKHJDGR GD ,QJODWHUUD D IXQGDomR GH XPD GDV
FRO{QLDV DPHULFDQDV PDV WDPEpP D RUJDQL]DomR
Considerações
Historicamente, os batistas ou parte da liderança
GHQRPLQDFLRQDO QmR UHFRQKHFH R VXUJLPHQWR
da coletividade religiosa a partir das Reformas
Religiosas ocorridas na Europa do século XVII.
'HIHQGHPTXHDGHQRPLQDomRQRPHDGDGHEDWLVWD
QmR VH DOLQKRX FRP RV JUXSRV UHOLJLRVRV TXH
protestaram contra a Igreja Católica, rompendo
FRP R FOHUR URPDQLVWD QDTXHOH SHUtRGR 2XWURV
QR HQWDQWR HQWHQGHP TXH RV EDWLVWDV VmR
LGHQWLÀFDGRV H QRPHDGRV DSyV RV PRYLPHQWRV
reformistas do protestantismo europeu. Dessa
IRUPD GHIHQGHP DOJXQV SULQFtSLRV TXH RXWUDV
UNIDADE 01
GDTXHOD TXH SURYDYHOPHQWH WRUQRXVH D 3ULPHLUD
Igreja Batista em solo estadunidense, datada de
FRQKHFLGDFRPR3ULPHLUD,JUHMD%DWLVWDGH
Providence. Embora exista uma igreja com esse
nome na mesma localidade, é difícil estabelecer a
História, Princípios e Organizações Batistas
FRQWLQXLGDGHKLVWyULFDHQWUHDTXHODRUJDQL]DGDSRU
Roger Williams (século XVII) e a atual Primeira
Igreja Batista de Providence (século XXI). Assim,
deixando a perseguição religiosa para trás, os
protestantes dirigiram-se aos Estados Unidos da
$PpULFDTXHHVWDYDPHPIRUPDomRHQFRQWUDQGR
um lugar mais tolerante aos pensamentos
UHOLJLRVRV GLIHUHQWHPHQWH GD LQWROHUkQFLD TXH
assolava parte da Europa do século XVII. Foi
QDTXHOH FRQWH[WR DPHULFDQR TXH RV EDWLVWDV VH
desenvolveram fortemente, enviando missionários
além das fronteiras dos Estados Unidos.
13
GHQRPLQDo}HV SURWHVWDQWHV WDPEpP FRQVHUYDP
como a liberdade de leitura e a interpretação da
%tEOLD QmR UHFRQKHFHQGR D YR] DXWRUL]DGD GR
papa, algo fundamental no catolicismo romano.
e LPSRUWDQWH OHPEUDU SRUWDQWR TXH RV EDWLVWDV
VmR LGHQWLÀFDGRV SHOD SULPHLUD YH] QR LQtFLR GR
século XVII, no contexto de uma Europa em
IUDQFD WUDQVIRUPDomR VRFLDO GDQGR VLJQLÀFDWLYD
ênfase ao batismo de pessoas adultas, conscientes
GH VHXV SHFDGRV H FRQÀDQWHV QD JUDoD UHGHQWRUD
de Jesus Cristo.