Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Índice
ÍNDICE ---------------------------------------------------------------------------------------------- 2
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------ 3
CONCLUSÃO ------------------------------------------------------------------------------------ 11
BIBLIOGRAFIA -------------------------------------------------------------------------------- 13
Mercês Novais Machado
159097
Introdução
O processo de integração religiosa do Estado da Índia, sobretudo no período entre
1530 e 1560 não foi linear, tendo sido marcado por vivências diferentes e por métodos de
difusão e preservação da fé cristã também muito distintos entre si. Este processo, por não
ser simples esteve sujeito às mais diversas interpretações tanto de membros do poder
político da India, como a dirigentes régios e mesmo membros da sociedade portuguesa
com interesses nos recursos que poderiam obter do Oriente.
Nas viagens portuguesas à Índia iremos então perceber que a evangelização
passou por 2 fases iniciais: a conversão dos povos, num primeiro plano, e a estimulação
dessa nova Fé vivida pelos recém-convertidos num segundo plano. A primeira fase
mostrou-se muito desafiante, devido às contrariedades impostas pelos povos locais e pelo
povo turco; por outro lado, uma segunda caracterizada por um ambiente expansionista da
fé, em que se observa um crescimento da instituição da Igreja Romana nos territórios
referidos anteriormente.
Vemos, dessa forma, um paralelismo de dois tipos de conversão ao cristianismo.
Por um lado, verificamos as políticas nacionais portuguesas que levaram nos reinados de
D. Manuel I e de D. João III à conversão de muitos Judeus e Mouros, mas também à fuga
de muitos outros. Por outro lado, assistimos às políticas transnacionais portuguesas no
Estado da Índia, onde Portugal tenta lentamente converter os povos locais, num espírito
inicial de conversação. Isto é, o objetivo é o mesmo, mas a forma como se realiza essa
conversão e evangelização da Fé cristã é distinta e com velocidades diferentes. Por isso,
por serem dois cenários distintos, mas interligados entre si, convém perceber em que
contexto se iniciou a conversão dos povos no Estado da Índia e também que razões
levaram muitos Judeus e Mouros a sair de Portugal, em direção à Índia.
Mercês Novais Machado
159097
“recém-convertidos” que será um termo mais correto, sendo que o primeiro termo
acabava por ser usado com uma conotação negativa.
Consequentemente, tendo de haver uma fiscalização da conversão, surgiram
mecanismos de comprovação, usados para que fosse possível adjudicar que os judeus em
avaliação se tinham realmente convertido e que viviam a sua vida consoante as tradições
cristãs e não tradições hereges – visto que o judaísmo, por exemplo, era nesta época
considerada uma heresia pelo Santo Ofício. Este clima de controlo, justifica dessa forma
o aumento de fluxo migratório de judeus dentro e para fora de Portugal.
Contudo, a missão portuguesa não foi fácil, visto que regiões como Cochim, Goa
e o Malabar já possuíam fortes hierarquias administrativas religiosas antes de os
portugueses lá chegarem. Daí, assistir-se, por exemplo, a uma submissão (relativa) dos
missionários e clérigos ao ordinário de Goa que era quem facultava a licença aos bispos
de Roma para que tivessem o direito de governar a cristandade nas localidades do
Malabar.1Ou seja, para que os bispos portugueses e missionários pudessem exercer a sua
autoridade religiosa dentro das regiões como o Malabar e Cochim, tinham de ter
autorização expressa.
Inicialmente, foram construídas fortalezas em Goa, por exemplo, que serviam de
refúgio e porto seguro aos padres e missionários que se encontrassem na Índia, visto que
inicialmente não era fácil a instalação do cristianismo no meio de comunidades pré-
existentes. Foi a forma que arranjaram de continuar a sua missão – convidavam e traziam
pessoas a cerimónias cristãs celebradas dentro da fortaleza, cativando-os dessa forma.
Portanto, apesar dos obstáculos que iam sendo impostos pelas autoridades religiosas
locais, os portugueses tentaram sempre continuar a sua missão.
Para além disso, não foram confrontados apenas pelos povos locais, mas também
pela quantidade de ordens diversas que exerciam a sua autoridade. Ora, em Malabar
verificava-se uma grande presença das ordens de S. Francisco e de S. Domingos, que
foram os responsáveis pela construção, com a autorização do Rei, das primeiras igrejas e
conventos no início da presença dos portugueses no Malabar. Veremos nesse sentido a
criação dos conventos de Coulão e de Cananor – impossibilitados de erguer o convento
de Goa, procuraram fazê-lo em locais de menor dimensão e com maior abertura ao
estabelecimento português.
Simultaneamente, assistimos também à existência de uma terceira ordem – os
cristãos de S. Tomé. Esta ordem era dirigida por um bispo arménio, sendo uma presença
na Índia muito desfigurada do rito romano, por estar já corrompida pela idolatria, tendo
sofrido um descoramento da liturgia. Esta ordem não terá tanto um papel evangelizador,
mas será também ela um dos objetivos de evangelização dos missionários do Malabar –
que pretendiam formar os filhos dos cristãos de S. Tomé para o sacerdócio, de forma que
soubessem administrar os sacramentos.
Para além da presença destas três ordens, uma outra que teve também um papel
significativo foi a Companhia de Jesus. Os padres jesuítas seriam uma presença posterior
e viriam numa altura em que já se assistia a uma forte presença de bispos romanos em
Goa – o que facilitava também a concretização da missão de evangelização. Esta ordem
acaba por estar então maioritariamente sob ordens de D. João III, um rei com políticas,
como o nome que lhe foi atribuído indica, mais piedosas.
Podemos dizer que a presença das ordens franciscana e dominicana foram
especialmente relevantes no início da presença portuguesa em cidades como Cochim e
Malabar, sendo a presença da Companhia de Jesus posterior e encontrando o Estado da
Índia num contexto diferente ao que se via nos inícios. Teve, portanto, uma intervenção
mais relevante numa altura em que já se verificavam progressos na conversão dos povos.
Se olharmos para as datas, os portugueses chegaram ao Malabar por volta de 1500, sendo
1
José Manuel Correia (1997). Os portugueses no Malabar, 1498-1580.
Mercês Novais Machado
159097
que a presença dos jesuítas ganhou maior relevo apenas em 1544 (ano em que Francisco
Xavier fez a sua profissão de fé ao bispo de Goa, seguindo depois para o Malabar). A sua
intervenção foi muito importante para a criação de colégios e pela sua fácil adaptação às
culturas locais, conseguindo facilmente infiltrar-se no meio das comunidades.
2
Cannas, A. (1995). A inquisição no estado da Índia. Arquivos Nacionais/Torre Do Tombo.
Mercês Novais Machado
159097
Estas medidas surgiram como métodos pacíficos e até positivos no que toca à
união e integração local religiosa. Contudo, como já foi referido, as medidas de conversão
e integração religiosas vinham muitas vezes acompanhadas por métodos repressivos e
coercivos de forma a controlar o cumprimento das regras de conduta de um cristão. Este
tipo de medidas ganhou relevância nas décadas de 40 e 50 do séc. XVI, época ilustrada
pelo elevado grau de severidade das penas impostas aos condenados, sendo a mais severa
de todas a pena de morte. Ou seja, passamos de um panorama controlador para um
panorama de violência para com os não convertidos. Importa verificar que estas penas
mais severas tendiam a cair sobre aqueles que praticassem religiões rivais e detestadas
pelos cristãos – por exemplo, o judaísmo. Para além destas penas, havia mesmo
legislações de caráter económico e social de forma a lentamente excluir os não
convertidos da sociedade, alienando-os por completo. A alienação económica e social
deste grupo de pessoas, levava a que os restantes tivessem receio que o mesmo
acontecesse com eles – eram usados pelos órgãos de autoridade como bodes expiatórios
para instigar o medo, de forma a dissuadir o seguimento de outras religiões.
3
Rego, S. (2022). As Gavetas da Torre do Tombo. Volume 5. Gaveta 15, maços 16-24. Handle.net. [online]
Mercês Novais Machado
159097
obrigados a cumprir com as exigências de um estilo de vida cristão, sem que fosse
possível descorar o modelo cristão de comportamento.
Diriam, que a preocupação inicial nunca era o bem-estar destes povos infiéis, nem
a sua qualidade de vida, mas sim o facto de estas políticas de repressão tanto numa fase
como na outra, serem prejudiciais às rendas do rei. Ou seja, devido a estas medidas
controladoras, havia uma tendência de fuga destes povos, o que causava o abandonamento
de terras, deixando de haver quem as trabalhasse e quem as pagasse. Dessa forma, não de
um ponto de vista religioso ou humano, mas de um ponto de vista económico, aos olhos
de alguns críticos religiosos, a forma como estava a ser imposta a religião cristã era
prejudicial ao reino de Portugal.
Nesta altura, por se terem deparado com esta realidade, muitos dos enviados
para a Índia voltavam a Portugal céticos de que a missão portuguesa fosse bem-
sucedida, visto que estes povos se encontravam imersos na sua cultura, muito
“afeiçoados nos ritos”.4 Para além disso, devido à grande multiculturalidade existente,
os cristãos quando chegaram à Índia apresentavam-se como uma minoria religiosa,
sendo por isso, em algumas circunstâncias alvos de perseguição por parte dos Mouros
(por exemplo). Por não conseguirem ter grande controlo, os portugueses acabavam por
4
Rego, A. da S.R. (coord ) (1963). As Gavetas da Torre do Tombo. Volume 3. Gavetas 13-14. [online]
repositorio.ul.pt. Centro de Estudos Históricos Ultramarinos.
Mercês Novais Machado
159097
adotar medidas mais extremas, não sendo razoáveis e mostrando-se num certo ponto
também elas obstáculos à propagação do Cristianismo.
Por outro lado, outro obstáculo que os portugueses encontraram foi o facto de os
dirigentes locais estarem sobre a tutela e autoridade estrangeiras e não cristãs, sendo que
caso estes se convertessem ao cristianismo, iriam ser demovidos dos seus cargos – foi o
caso do Rei de Ormuz, ameaçado pelo soberano da Pérsia de que seria substituído caso
se convertesse ao Cristianismo. Ora, como os regentes locais não queriam perder os seus
cargos e privilégios, não cediam à pressão imposta pelos portugueses para se
converterem, continuando a ser, assim, um peso na expansão do cristianismo no Estado
da Índia.
Conclusão
Durante o séc. XV e XVI, a expansão religiosa foi um dos assuntos prioritários
dos reis, tendo a Coroa portuguesa feito, nesse sentido, grandes investimentos na
edificação de estruturas religiosas e de culto. Nos inícios da chegada dos portugueses à
Índia, sofreram um choque cultural, visto que não contavam estar perante uma sociedade
com tanta pluralidade de culturas bem enraizadas a coexistirem num mesmo espaço.
Apesar disso, com o auxílio de várias ordens religiosas e com a ajuda de missionários e
religiosos portugueses, o Rei conseguiu ser bem-sucedido na sua missão de conversão e
integração religiosa dos povos judeus, mouros e gentios.
Convém notar que não terá havido uma conversão total dos povos, mas verificou-
se uma adesão por grande parte das comunidades onde os portugueses cristãos se tinham
inserido. Esta conversão tinha diversas origens tanto positivas como negativas, não sendo
por isso um processo homogéneo. A diversidade de culturas permaneceu, mas as políticas
portuguesas mudaram. Os portugueses foram-se tornando cada vez mais intransigentes
na convivência com outras religiões e à luz de uma frustração de não serem tão bem-
sucedidos como seria de esperar, acabaram por recorrer a métodos de maior coerção e
pressão económica e social.
Esses novos métodos que foram adotados, chegando até a atingir a pena de morte
de gentios, judeus e mouros, levou a que muitos do lado dos portugueses e do lado dos
locais, se opusessem a estas medidas, tornando-se obstáculos a uma integração geral da
comunidade. A presença de várias ordens também se manifestou neste sentido, visto que
cada ordem tinha uma maneira de estar e uma maneira de evangelizar diferente. Tornando,
assim, o processo de evangelização em si também muito distinto e heterogéneo.
estimulada, nem das condições dos recém-convertidos que acabavam por não se mostrar
muito benéficas na prática, visto que continuou sempre a haver uma discriminação para
com os cristãos-novos, pela dificuldade em avaliar a veracidade das conversões
existentes. É importante reforçar, como nota final, que o objetivo principal era
efetivamente a expansão do Cristianismo e a conversão dos pecadores e dos infiéis. Esse
objetivo, independentemente dos meios que foram usados para o conseguir, foi, na sua
maioria, o fim de todas as medidas e políticas elaboradas no sentido da integração
religiosa.
Mercês Novais Machado
159097
Bibliografia
Barros, M.F.L. de and Tavim, J.A.R. da S. (2013). Cristãos(ãs)-Novos(as),
Mouriscos(as), Judeus e Mouros. Diálogos em trânsito no Portugal Moderno (séculos
XVI-XVII). dspace.uevora.pt. [online]
Cannas, A. (1995). A inquisição no estado da Índia. Arquivos Nacionais/Torre do Tombo.
Rego, A. da S.R. (coord) (1963). As Gavetas da Torre do Tombo. Volume 3. Gavetas 13-
14. [online] repositorio.ul.pt. Centro de Estudos Históricos Ultramarinos. doi:
http://hdl.handle.net/10451/34701
Rego, S. (2022). As Gavetas da Torre do Tombo. Volume 5. Gaveta 15, maços 16-24.
Handle.net. [online] doi: http://hdl.handle.net/10451/34703.