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LITERATURA BRASILEIRA I

O BARROCO – CONTEXTO: TENSÕES E


EXPRESSÕES

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de: 1. Conhecer as condições propícias que levaram ao aparecimento do

Barroco na Europa; 2. identificar as características da estética barroca; 3. distinguir as duas correntes estéticas

barrocas: o cultismo e o conceptismo.

1 Sobre a Idade Média


Para compreender a complexidade do período Barroco, antes devemos retroceder no tempo e tentar

compreender os anseios do homem dos séculos XVI e XVII. Esse olhar para o passado contemplará com mais

atenção a sociedade européia e a sua história, tendo em vista a sua força- matriz impondo-se sobre a nossa

situação colonial.

Do século XI ao século XV, a Europa viveu o que se chamou de Idade Média. Esse período foi marcado por

grandes transformações. O feudalismo, sistema social e econômico, estava consolidado a esse tempo. Isso

significa dizer que a sociedade medieval era dividida em estamentos: os nobres, o clero e os servos. E, por isso,

quase não havia possibilidade de ascensão social.

O Clero

Os servos trabalhavam para os senhores feudais e, em troca, esses concediam a segurança contra invasores.

Os Servos

O clero detinha grande poder, pois não havia uma divisão entre Estado e igreja a esse tempo. Dessa forma, cabia-

lhe o papel de apaziguar os ânimos dos camponeses, caso tentassem revoltar-se contra o sistema.

2 Idade das Trevas?


Durante muito tempo, ouviu-se chamar esse período de Idade das Trevas.

No entanto, essa expressão é equivocada e preconceituosa, já que o período foi também marcado, entre outros

fatos, pela criação das Universidades e pela preservação dos escritos da Grécia e Roma antigas por monges

copistas.

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3 Renascimento
Ao fim da Idade Média, a Europa conheceu um movimento chamado Renascimento. Da Itália para toda a Europa,

o movimento manteve características comuns, como a valorização da Antiguidade clássica, a recuperação dos

modelos estéticos gregos e romanos, o prestígio do equilíbrio e da razão. No entanto, em países em que o espírito

medieval estava mais arraigado, como Portugal e Espanha, a absorção das ideias novas ganhou matizes

diferenciados.

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4 Os diferentes cenários
Os países da Península Ibérica conhecem o apogeu no século XVI, devido à centralização política e econômica

precoce, pelo conhecimento de técnicas de navegação e por ter obtido investimento estrangeiro.

A Península Ibérica é formada pelos territórios de Gibraltar (britânico), Portugal, Espanha, Andorra.

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O Brasil não vivenciou o feudalismo, pois, como sabemos, no período medieval o nosso país não tinha sido

encontrado pelos colonizadores ainda. Na idade Média, os indígenas ocupam o protagonismo histórico em

nossas terras: vivíamos as leis e os costumes das tribos que aqui habitavam.

5 A cronologia das mudanças


• Após 1500, pouco a pouco, Portugal estabelecia no Brasil a relação metrópole-colônia que viria a se
prolongar até 1822. Pelo Pacto Colonial, obrigava-se a Colônia a não produzir mercadorias que viessem a
concorrer com os produtos da Metrópole, bem como a comercializar apenas com essa última.
• A partir de 1530, inicia-se a colonização com a expedição de Martim Afonso de Sousa, com o objetivo de
deter as invasões de franceses e holandeses, povoar as terras e cultivar cana-de-açúcar. Para tanto, o país
foi dividido em capitanias hereditárias, cuja posse foi concedida a nobres portugueses, que tinham o
direito de explorar a terra, mas deveriam proteger seu território, bem como povoar e plantar cana-de-
açúcar.
• 1549 - O sistema das capitanias, no entanto, não obteve sucesso. Portugal, em 1549 institui o primeiro
Governo-Geral, a cargo de Tomé de Sousa. O governador foi sucedido por Duarte da Costa e Mem de Sá,
cujo fim do mandato se deu em 1572.

6 A aliança entre Portugal e Inglaterra


Foi no período dos Governos Gerais que Salvador, na Bahia, passou a ser capital do Brasil, devido ao

desenvolvimento da região, bem como pela localização favorável ao envio dos produtos à Europa, já que é uma

cidade litorânea.

O monopólio comercial estabelecido entre Portugal e Brasil passou a ser um prolongamento da relação entre

Inglaterra e Portugal. Os dois países fizeram uma aliança, por meio da qual o primeiro oferecia apoio militar e

diplomático, mas exigia que o governo português abrisse os portos de seu país e das colônias para os produtos

manufaturados produzidos pelos ingleses.

Essa aliança torna Portugal dependente comercialmente, politicamente e economicamente da Inglaterra.

7 A Sociedade Brasileira
No Brasil, a sociedade do período açucareiro era dividida em três classes sociais: os senhores de engenho,

detentores do poder político e econômico; as camadas médias, constituída pelos profissionais liberais,

comerciantes, religiosos e militares; os escravos, principalmente negros de origem africana.

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8 Você poderia se perguntar: por que preciso saber de
história para estudar literatura?
Quando estudamos as obras de uma determinada época, é importante ter conhecimento sobre a contexto social

em que viveram os artistas, bem como entender as referências a fatos e personagens. Isso nos auxilia a

interpretar e analisar os textos, pois a literatura reflete os anseios do homem de uma determinada época.

Ao analisarmos uma obra literária, até mesmo a ausência de referência à realidade circundante pode auxiliar a

compreender os seus sentidos.

9 A Reforma Protestante X Contra-Reforma


Como vimos, os séculos XVI e XVII mudaram a paisagem econômica e política do planeta. As relações sociais

acompanharam essas mudanças.

Saiba mais
Ecos do Barroco
Expressão cunhada por Alfredo Bosi, que em História concisa da literatura brasileira, distingue
dois momentos nesse período:
“a) ecos da poesia barroca na vida colonial (...) b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas
e na música, que só se tornou uma realidade cultural quando a exploração das minas permitiu
o florescimento de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d’El Rei, Diamantina, ou
deu vida nova a velhas cidades quinhentistas como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro.”
(BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 41.ed..São Paulo: Cultrix, 2003. p.35)

A Igreja, como instituição social importante dessa época, sofreu grandes abalos e procurou adaptar-se aos novos

tempos. A partir de 1517, um monge alemão chamado Martin Lutero propôs o debate sobre as indulgências

católicas e promoveu um movimento de grande proporções, a ponto de fazer romper a Igreja Católica romana.

Esse movimento foi conhecido como Reforma.

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Saiba mais
Abalada pela Reforma, a Igreja católica perdeu um grande número de fiéis para outras
religiões, em decorrência disso criou um movimento chamado Contra-Reforma.
A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado no século XVI por
Martinho Lutero, que, através da publicação de suas 95 teses, [1] protestou contra diversos
pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo. Os princípios
fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas.[2] Lutero foi
apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa,
iniciada na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido,
Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a
Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra-
Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento. O resultado da Reforma
Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os
reformados ou protestantes, originando o Protestantismo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante
Abalada pela Reforma, a Igreja católica perdeu um grande número de fiéis para outras
religiões, em decorrência disso criou um movimento chamado Contra-Reforma.
A Contrarreforma, também denominada Reforma Católica é o nome dado ao movimento criado
no seio da Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante iniciada com Lutero, a partir de
1517[1]. Em 1543, a igreja Católica Romana convocou o Concílio de Trento estabelecendo
entre outras medidas, a retomada do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), a criação do "Index
Librorum Prohibitorum", com uma relação de livros proibidos pela igreja e o incentivo à
catequese dos povos do Novo Mundo, com a criação de novas ordens religiosas dedicadas a
essa empreitada, incluindo aí a criação da Companhia de Jesus[2]. Outras medidas incluíram a
reafirmação da autoridade papal, a manutenção do celibato, a criação do catecismo e
semináriose, e a supressão de abusos envolvendo indulgências[3].

http://pt.wikipedia.org/wiki/Contrarreforma

10 O Barroco
A Europa, nesse período, será sacudida por uma série de guerras de perseguição religiosa de uma e de outra

parte; criando um clima de medo e insegurança, percebido nas obras de arte da época.

Após a recuperação do privilégio da razão que trouxe o homem ao centro de interesse e discussão, provocada

pelo Renascimento, a sociedade se vê abalada pelo medo, pela dúvida e pelas incertezas quanto à fé, à

transcendência da alma, à finalidade da vida. Esse período recebeu o nome de Barroco.

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11 A Literatura Brasileira
A literatura brasileira será inaugurada, por assim dizer, nesse período histórico. Não vivenciamos o Barroco em

concomitância com a Europa, mas recebemos aqui os ecos do movimento, que encontrará no Brasil três vozes:

Bento Teixeira, Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos Guerra.

12 O sentimento do homem barroco


Para você entender como se sentia o homem barroco, veja a imagem a seguir:

O painel de azulejos acima se encontra no claustro do Convento de São Francisco, em Salvador.

Sobre ele, encontra-se a inscrição “A morte é certa”.

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Perceba que, na fila, encontram-se pessoas de todo tipo: o nobre (o homem com a coroa), o camponês (o que está

com a pá), mulheres e crianças. Em outras palavras, a morte é certa para todos, não há escapatória.

A morte é representada pela figura cadavérica que distribui moedas a pessoas, organizadas em um fila.

Após receberem a moeda, todos se encaminham para a barca.

Veja que, nessa representação, temos a inequívoca certeza de que todos nos igualamos na morte. Essa é a

mensagem transmitida pelo painel.

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Essas pessoas estão mortas e suas almas precisam da moeda para entregar ao barqueiro Caronte (veja ao fundo

da imagem) ― figura mitológica ― que as levará ao reino dos mortos.

Saiba mais
O Barraco na visão de Afrânio Coutinho
A morte é tematizada pelo barroco com muita frequência porque o homem dessa época sentia-
se dividido entre a salvação da alma pela fé e a satisfação dos anseios da carne. A angústia
dessa dúvida coloca-o em tensão permanente, refletida nas obras de arte.

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13 A literatura no período Barroco
Na literatura, a tensão é traduzida mediante o emprego de figuras de linguagem, como antítese, paradoxo,

hipérbole, sinestesia, metáfora e metonímia. Mas vale mencionar também o vocabulário rebuscado, hermético,

que recobre a violência de um estado de alma em permanente conflito.

Na Europa, duas poéticas foram percebidas nessa época, no interior do Barroco: o cultismo e o conceptismo.

Cultismo

Entende-se por cultismo o jogo de palavras, proveniente do uso excessivo de figuras de linguagem. Trata-se de

influência do poeta espanhol Luís de Gôngora, por isso também denominamos gongorismo esse aspecto do

Barroco. Na poética de Gregório de Matos, observamos traços dessa tendência.

Conceptismo

Por conceptismo, compreende-se a poética atribuída a Francisco Quevedo, cuja principal característica é o jogo

de idéias, expressso por meio de silogismos. Os sermões de Padre Antônio Vieira apresentam bons exemplos da

influência quevedista.

14 O marco inicial do Barroco no Brasil


Como sabemos, os nossos autores sofreram a influência da literatura ibérica e, por isso, podemos afirmar que

houve “ecos do Barroco” na literatura brasileira, uma vez que não havia aqui a configuração de um movimento,

propriamente dito.

É considerado o marco inicial do Barroco no Brasil a publicação de Prosopopéia, em 1601, de Bento Teixeira.

Assunto de nossa próxima aula, juntamente com a análise dos sermões de Padre Antônio Vieira.

Saiba mais
Ecos do Barroco
Expressão cunhada por Alfredo Bosi, que em História concisa da literatura brasileira, distingue
dois momentos nesse período:
“a) ecos da poesia barroca na vida colonial (...) b) um estilo colonial-barroco nas artes plásticas
e na música, que só se tornou uma realidade cultural quando a exploração das minas permitiu
o florescimento de núcleos como Vila Rica, Sabará, Mariana, São João d’El Rei, Diamantina, ou
deu vida nova a velhas cidades quinhentistas como Salvador, Recife, Olinda e Rio de Janeiro.”
(BOSI, A. História concisa da literatura brasileira. 41.ed..São Paulo: Cultrix, 2003. p.35)

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O que vem na próxima aula
• Os primórdios da literatura brasileira;
• A poesia de Bento Teixeira;
• A parenética de Padre Antônio Vieira.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Conheceu o panorama histórico anterior e contemporâneo ao Barroco;
• Aprendeu os principais traços característicos do Barroco.
• Distinguiu as diferenças entre Cultismo e Conceptismo.

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