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BRASIL - 500 ANOS DE EVANGELIZAÇÃO

APRESENTAÇÃO
Este trabalho de pesquisa baseou-se, na sua maior
parte, no livro “História da Evangelização do Brasil —
dos jesuítas aos neopentecostais”, autoria do pastor
Elben M. Lenz César, que publicou esse livro quando
completava 70 anos de idade. Jornalista e pastor,
contribuiu para a fundação da Igreja Presbiteriana no
Brasil e do Centro Evangélico de Missões, sendo ainda
fundador e diretor da revista Ultimato há mais de 30
anos, onde desenvolveu muitos trabalhos de pesquisa na
área de religião, missiologia e história, sendo o autor das
biografias dos missionários William Carey e Green
Simonton.

INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende ser um guia de pesquisa para
alunos que frequentam cursos teológicos, ou para os cristãos que querem saber mais sobre suas origens
religiosas. Além de mostrar passo a passo como as instituições se formaram no Brasil, procuramos dar muita
ênfase às pessoas que Deus usou nessa obra missionária, mostrando seus erros e acertos, e o que representaram
para o sucesso das suas instituições. O trabalho começa por descrever os fatos históricos do “descobrimento” do
Brasil, de modo que se possa entender em que momento as coisas espirituais foram se encaixando nesse período.
Embora não tenha a pretensão de ser uma obra científica, procuramos ser fiéis às fontes pesquisadas, evitando
opiniões pessoais sobre os procedimentos e atitudes das pessoas envolvidas. Uma coisa não pode ser negada: a
grande maioria das pessoas mandadas para o Brasil, com o intuito de evangelizar, eram pessoas vocacionadas,
destemidas, o que não quer dizer que os interesses das instituições que os enviaram eram de todo espirituais,
decentes. Principalmente no primeiro período (séculos XVI, XVII e XVIII), ficou configurado um interesse
maior no controle colonial do que preocupação com espiritualização do povo. Diante das fontes pesquisadas e
dos fatos históricos registrados, pode-se dividir a História da Evangelização Brasileira em três períodos distintos:
o primeiro período (1500 a 1800) foi aquele em que a Igreja Católica Romana, através dos portugueses, tentou
evangelizar (catequizar) a população indígena
e negra que aqui estava, perseguidas pelos
brancos europeus. Já o segundo período (1800-
1900), foi marcado pela chegada das missões
protestantes, resultado da independência do
Brasil em relação a Portugal, principalmente
quanto ao protecionismo dado aos católicos. O
último período, influenciado pelos fenômenos
pentecostais acontecidos nos Estados Unidos,
começou em 1900 e dura até os dias atuais,
passando pela neopentecostalização brasileira.

1. TRÊS SÉCULOS DE
CRISTIANIZAÇÃO

1.1 A chegada ao Brasil


Quando a armada portuguesa estava para partir, em 8 de março de 1500, o bispo Diogo Ortiz benzeu a bandeira
da Ordem de Cristo, instituição militar e religiosa que financiou a expansão marítima portuguesa. A bordo da
caravela de Pedro Alvarez Cabral viajavam o frei Dom Henrique Soares de Coimbra e 8 padres franciscanos, de
modo que houvesse estrategicamente um sacerdote para cada 150 tripulantes. Como era costume da cultura
portuguesa, suas expedições viajavam munidas do calendário litúrgico (dias dos santos), para que cada acidente
geográfico encontrado fosse batizado com nomes religiosos. Assim, esses acidentes passaram a ser chamados

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de Monte Pascoal, Cabo de São Roque, Cabo de Santo Agostinho, Baía de Todos os Santos, Cabo de São Tomé,
Ilha de São Vicente, etc.

Desembarque dos portugueses em terras brasileiras


1.1.1 A primeira missa
No dia 26 de abril, quatro dias após a
chegada, Dom Henrique celebrou a
primeira missa em território brasileiro,
sendo que a segunda aconteceu em 1º de
maio, para comemorar a paixão de
Cristo. Essa comemoração foi
precedida por uma procissão, da qual
participaram mais de mil portugueses e
cerca de 150 nativos. A consciência
missionária portuguesa incluía uma
forte dose de religiosidade em
“converter” para a fé católica aqueles
que não a conheciam, tudo isso andando
de mãos dadas com a expansão
territorial, com o colonialismo e o
consequente aumento do poder
político. Charles Boxes, citado por
Ronaldo Vainfas (1997) explica da
seguinte forma: “A aliança estreita e
indissolúvel entre a cruz e a coroa, o
trono e o altar, a fé e o império, era uma das principais preocupações aos *monarcas *União ibérica foi a
ibéricos, ministros e missionários em geral.” Vale lembrar aqui o que diz Isaías 1:13, unidade política que regeu
a Península Ibérica de 1580
quando fala que Deus não suporta a “iniqüidade associada ao ajuntamento a 1640,[1] resultado da
solene.” O tratamento dispensado ao índio e ao negro, o desejo de enriquecimento união dinástica entre
rápido e o concubinato, entre outros escândalos, colocam em dúvida a profundidade as monarquias de
religiosa dos portugueses que vieram para o Brasil. Portugal e
da Espanha após a Guerra
da Sucessão
1.2 O engavetamento do projeto missionário Portuguesa.[2] Na sequência
da crise de sucessão de
1580 em Portugal, uma
O primeiro desafio missionário em favor do Brasil tem a mesma idade da descoberta união dinástica que juntou
do pais do país: 500 anos. A carta de Pero Vaz de Caminha (1º de maio de 1500) as duas coroas, bem como
sugeria ao rei de Portugal que devesse cuidar da salvação dos indígenas, enviando um as respectivas possessões
coloniais, sob o controle da
clérigo que procedesse ao batismo deles. Ele entusiasmou-se ao ver os índios monarquia espanhola
carregarem a cruz numa procissão, imitando os portugueses durante o ofício religioso, durante a chamada dinastia
como ajoelharem-se, levantarem as mãos para o alto, etc. Segundo Caminha, o peixe Filipina. O termo união
já estava na rede, faltando apenas o batismo, e os índios se tornariam “cristãos”. A ibérica é uma criação de
historiadores modernos.
“salvação” dessa gente era defendida entusiasticamente por Caminha, iniciativa que
considerava a principal semente a ser plantada na nova terra. Ele sugeria que os Pesquise mais:
indígenas poderiam ser catequisados por quatro pessoas que ficariam aqui, após a
partida de retorno da expedição (dois degredados e dois desertores portugueses),
enquanto não chegasse tal missionário. A história nos mostra que essas pessoas devem
ter feito muito mais do “catequizar” o povo indígena, pois 35 anos depois já havia uma
pequena comunidade de mamelucos (mestiços de portugueses com índios). A
importância desse pedido e dessa carta foi tão pequena, que nada aconteceu nos
próximos anos. Esse documento, inclusive, desapareceu, só sendo encontrado e
publicado quase 300 anos depois. (1827) Só 50 anos depois desse fato é que chegou a
primeira leva de missionários estáveis, a bordo da expedição de Tomé de Souza,
nomeado o primeiro governador do Brasil.

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.3 Os escândalos religiosos na Europa
Esse mesmo período de espera pela chegada de missionários católicos ao Brasil (1500-1549) coincidiu com
uma série de escândalos religiosos no continente europeu, período que testemunhou 7 mudanças no troco papal,
sendo que cada um deles reinou apenas cerca de
7 anos. Quando se usa a palavra escândalo, é
porque o comportamento moral desses líderes
não condizia com seus cargos. O papa Alexandre
VI, por exemplo, envolveu-se com uma senhora
da nobreza romana, com quem teve quatro
filhos. Foi esse mesmo papa quem mandou traçar
a Linha de Tordesilhas, sete anos antes da
“descoberta” do Brasil, separando as zonas de
influência entre Portugal e Espanha.

1.4 A inevitável ruptura da Igreja


Foi nesse ambiente de profunda decadência moral e religiosa que surgiram os primeiros focos de
descontentamento na Europa, visando uma reforma religiosa. (1320-1384) na Inglaterra, João Huss (1369-1415)
na Tchecoslováquia, além de Jerônimo Savonarola (1452-1498) na Itália, estavam entre os primeiros. Huss e
Savonarola foram mortos por ordem dos papas Alexandre V e Alexandre VI. Porém, foi a soma de todos os
esforços de reforma da Igreja, realizados na primeira metade do século XVI, que resultou na grande cisão da
Igreja Cristã, envolvendo focos existentes na
Inglaterra, Escócia, Países Baixos, França,
Alemanha, Suíça e Prússia, através de homens
como Martinho Lutero (1483-1546), Úlrico
Zuínglio (1484-1531), Filipe Melâncton (1497-
1560), João Calvino (1509-1564) e João Knox
(1514-1572) Se quiséssemos marcar uma data
simbólica para determinar a arrancada para a
Reforma Protestante, diríamos que foi 31 de
outubro de 1517, quando Lutero protestou
publicamente contra o abuso na venda de
indulgências. Suas 95 teses foram afixadas na
porta da igreja de Wittenberg, na Alemanha,
durante o pontificado do papa Leão X. Para
enfrentar os problemas da Reforma Protestante,
a Igreja Católica Romana provocou a sua própria
reforma (Contra-Reforma), através da ação da
Sociedade de Jesus (1540), da Inquisição
Romana (1542) e do Concílio de Trento (1545).
Voltando às missões no Brasil, foi depois desses acontecimentos que Portugal resolveu mandar seus 6 primeiros
missionários para cá (1549), membros da recém fundada Companhia de Jesus. Nesse momento histórico, já se
fazia necessário diferenciar quem eram os
missionários católicos romanos e os
missionários protestantes, uma vez que em
1555 chegariam ao Rio de Janeiro os primeiros
missionários reformados, não podendo se
garantir se vieram com interesses de missões,
ou se eram protestantes que vieram em busca de
bons negócios aqui. É bom que se diga que, no
início desse mesmo milênio, já havia
acontecido uma primeira separação da Igreja
Romana, quando foi fundada a Igreja Católica
Apostólica Ortodoxa, também chamada de
Igreja Oriental. Ao lado, alguns dos maiores
líderes da Reforma Protestante.

2. O INÍCIO DA EVANGELIZAÇÃO
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2.1 Os primeiros missionários católicos
Como já foi dito, os primeiros missionários a chegarem aqui pertenciam à Companhia de Jesus, fundada pelo
sacerdote basco Inácio de Loyola, cujos membros faziam voto de pobreza. Sua ação espelhava-se no
comportamento de Jesus, procurando buscar e salvar o que se havia perdido. Para isso, fundaram uma casa de
recuperação para prostitutas, uma hospedaria para agasalhar moças solteiras, nobres empobrecidos e meninos
abandonados. Loyola costuma dizer: “Devo orar como se tudo dependesse de Deus e trabalhar como se tudo
dependesse de mim.” Quando morreu em 1556, ele mantinha cerca de mil jesuítas em vários continentes. Junto
com Tomé de Souza, primeiro Governador Geral do Brasil, vieram mais de mil pessoas entre soldados,
funcionários, colonos, artesãos e cerca de 400 criminosos condenados a viver fora de Portugal. Foi nessa mesma
viagem que chegaram os seis primeiros missionários ao Brasil (1549), subordinados a Loyola, e tendo como
chefe imediato Manoel da Nóbrega. Depois de
instalar o primeiro colégio jesuíta na Bahia,
Nóbrega foi para a capitania de São Vicente,
onde fundou o Colégio de São Paulo (1554).
Com sua morte, vieram outros jesuítas, podendo-
se destacar os nomes de José de Anchieta (1534-
1597) e Antônio Vieira (1608-1697). Durante
200 anos, o número de jesuítas chegou a 480,
sendo que pouco menos da metade já eram
pessoas nascidas no Brasil.

2.2 As primeiras dificuldades


Quanto à opção de evangelizar o território brasileiro, surgiram, de imediato, dificuldades a serem enfrentadas,
que enumeraremos a seguir:
Extensão territorial e migrações
A extensão territorial (cem vezes maior que Portugal) foi a principal dificuldade encontrada pelos primeiros
missionários, além das diferentes migrações a se estabelecerem aqui, como os europeus (portugueses, franceses,
holandeses, etc.) e africanos (escravos).

A diversidade cultural indígena


Os primeiros missionários foram descobrindo que havia povos
indígenas de diferentes línguas e costumes. Eles habitavam todo o
litoral, além do interior próximo e distante, representando cerca de 1,5
milhão de habitantes, divididos em mais de mil etnias. Entre muitas
outras, podem ser citados os aimorés, apinajés, botocudos, caertés,
caiapós, canelas, cariris, goitacazes, guaianazes, guaranis, tabajaras,
timbiras, tupinambás, tupiniquins, tupis, xerentes e muitos
outros. Eram mais de mil etnias indígenas, cada uma com suas
características e línguas distintas. Até hoje há equipes de missionários
gastando em torno de 25 anos de suas vidas para traduzir o Novo
Testamento para determinadas línguas indígenas. Quanto à
religiosidade indígena a ser substituída pela fé católico-romana,
registre-se que os índios não tinham deuses certos, nem ídolos, mas
eram religiosos, dançavam, cantavam, submetendo-se a seus pajés
(sacerdotes, profetas e médicos-feiticeiros). De um modo geral, nenhum
desses povos sabia da unicidade de Deus, da Sua santidade, soberania,
amor e graça. Nunca ouviram falar de Jesus, Seus milagres, Sua morte
e ressurreição, Sua Ascenção e volta. Esses indígenas não tinham
residência fixa, mudando de lugar de acordo com as conveniências de
abundância ou escassez de comida. Em cada oca moravam várias famílias,
constando de pai, mãe, filhos, genros e noras, mulheres solteiras, parentes
idosos, amigos, agregados, netos, bistenos e até prisioneiros de guerra. O
contato íntimo entre os casais acontecia fora da oca, no mato ou na praia. OBRIGATÓRIO ASSISTIR
Eles não tinham horário pré-estabelecido para alimentação e nem
costumavam ajuntar comida em celeiros. Além disso tudo, os indígenas se dividiam em pacíficos, guerreiros e
até antropófagos, e suas comunidades eram separadas umas das outras por grandes distâncias. A população

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indígena da época era superior a toda a população de Portugal. Aos leitores que gostariam de se aprofundar nessa
lamentável forma de evangelização imposta por aqui, sugerimos que procurem por um filme chamado "A
Missão", que ainda existe por aí, e que mostra todas as atrocidades cometidas contra os índios da região sul,
principalmente no Brasil e países vizinhos como Paraguai, Argentina, etc.

Colonização com baixo padrão moral


Quanto à colonização, os homens brancos que haviam
fixado residência no Brasil, com rara exceção, eram pessoas
de baixo padrão moral, degredados, desterrados ou
desertores. Outros eram aventureiros ávidos de
enriquecimento rápido. Mas todos eram católicos batizados e
“cristãos”. Importante: eles vinham para cá sem suas esposas
e filhos. Segundo Gilberto Freyre, citado por Celso Masson
Fernandes (1997), o colonizador português chegou ao Brasil
à procura de um ambiente propício para liberar a sua
sexualidade, tornando-se responsável pela forte sexualização
da cultura brasileira que existe até hoje. Euclides da Cunha,
citado por Carl Hah (1989), disse o seguinte: “A mancebia
com as caboclas descambou logo em franca devassidão, de
que nem o clero se isentava.” Quanto a uma possível nova
formação étnica, as pessoas que vieram a nascer aqui eram
todas mamelucos (filhos de pai branco e mão índia). Quanto aos africanos, vale
registrar que o deus africano Xangô era louvado por suas proezas sexuais (tinha
OBRIGATÓRIO ASSISTIR
400 mulheres) e a deusa Oxum era considerada uma espécie de símbolo do desejo.
Outro problema a ser enfrentado era a dificuldade natural de conviver com respeito
e castidade diante da nudez das belas índias brasileiras. Eduardo Bueno (1998) menciona, em seu livro, Anchieta
comentando que elas andavam nuas e não sabiam negar-se a ninguém, sendo que elas mesmas assediavam os
homens, metendo-se com eles nas redes, considerando uma honra dormir com os cristãos. Por outro lado, essa
nudez indígena era considerada como uma atitude pura, uma ausência de pecado. Alguns viajantes da época
chegaram a dizer que aquela terra seria como um éden
ainda não violado. Cristóvão Colombo, ao descobrir a
América (1492), comentou em suas cartas que havia
atingido o paraíso bíblico.

A população negra
Onze anos antes da chegada dos primeiros jesuítas, o
Brasil já podia ser considerado um país de evangelização
complicada, pois além das várias centenas de etnias
indígenas, começavam a chegar levas e mais levas de
escravos africanos. Segundo registros de José de
Anchieta, em 1585 já havia 14 mil negros no território
brasileiro, numa população de 24.800 brancos, sendo que
o início do século XVII assistiu ao empate entre as duas
populações. No final do século XVII, o número de negros e
mestiços já chegava a 1,5 milhão contra uma população branca
de 1 milhão. Alaôr Scisínio (1997) garante que ao fim da
escravatura havia registro de um total de 8 milhões de fricanos
trazidos à força para o Brasil, oriundos de quase todos os recantos da África. Calcula-se que havia representantes
de mais de 250 etnias, falando um número enorme de línguas e dialetos. Esses escravos eram caçados no seu
próprio território, vendidos a traficantes e embarcados para o Brasil. Cada navio trazia, em média, 500 a 700
negros, entre homens, mulheres e crianças, acumulados nos porões das embarcações. Muitos morreram durante
a viagem por falta de ventilação, higiene e alimentação básica. Acredita-se que no século XVI as perdas nas
viagens chegaram a representar 25% das pessoas trazidas. Outra afirmação fortíssima é que 400 mil negros não
completaram sua viagem ao Brasil. Eles eram lançados ao mar, à medida em que morriam. Vale lembrar que
um navio negreiro levava de 35 a 50 dias na viagem entre a África e o Brasil. Dependendo de condições
climáticas e distâncias, a travessia podia durar até 6 meses. Chegando aqui eles eram batizados com nomes em
português, mas tendo como sobrenome a sua procedência: Antônio Angola, José Cobu, Maria Moçambique, etc.
Após um período de “engorda”, eles eram separados estrategicamente de seus familiares e amigos, misturados

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depois aleatoriamente, de modo a dificultar a comunicação entre eles e evitar uma possível rebelião. Só depois
disso é que eram postos à venda para fazendeiros brasileiros. Eles eram avaliados como animais: olhava-se a
língua, os olhos, eram apalpados... O preço variava de acordo com a robustez, a idade e o sexo. Para que se tenha
ideia do valor de compra desses escravos, 20 escravos bem escolhidos valiam tanto quanto um cavalo. Uma vez
comprados, eles poderiam ser doados, vendidos, alugados, leiloados ou trocados. Os escravos mais robustos
eram utilizados para engravidar as negras mais férteis, de modo a multiplicar-se estrategicamente o número de
trabalhadores para o futuro. Sua única paga eram a comida (três vezes ao dia) e a roupa básica. Eles dormiam
sobre esteiras e qualquer desobediência era castigada com acorrentamentos e sucessivas chicotadas. Aquele que
tentasse fugir, era marcado com ferro quente, de modo que ficasse escrito no seu corpo a letra F de fujão. A vida
útil de um escravo em trabalhos era 15 anos. As escravas eram utilizadas para satisfazer os desejos sexuais dos
homens brancos solteiros, enquanto eles aguardavam casamento. Não poucos provocaram suicídio, na viagem
e também aqui no Brasil. Também acontecia com eles uma doença chamada “banzo”, uma espécie de depressão,
sofrimento de saudade da sua terra e de seus parentes. Isso os levava a um tipo de loucura e até à morte. Segundo
o padre Vieira, eles tinham o corpo na América e a alma na África. Quanto à parte missionária, a Igreja parecia
não enxergar esses sofrimentos, nem movia um dedo para que isso acabasse. Além de ter sido o último país a
extinguir o comércio e a utilização de mão-de-obra escrava, o Brasil foi a nação que importou o maior número
de escravos, cerca de 40% daqueles que vieram para toda a América.

A violência generalizada
Muitos perigos assolavam às pessoas que iam chegando à terra. Em 1556, por exemplo, os índios caetés
dizimaram todos os viajantes de um navio naufragado, e em 1570 piratas invadiram dois navios que traziam,
entre outras pessoas, 43 jesuítas. Os que
não foram mortos à espada, foram
jogados ao mar. No meio ambiente, além
dos animais selvagens e da incontável
quantidade de insetos, o calor e as
doenças tropicais eram outro problema
para esses europeus despreparados.
Um fato que também merece registro
são as injustiças cometidas pelos
europeus contra os negros e os
indígenas, calçados no seu sentimento de
superioridade étnica, e no seu poder
econômico e militar. Muitos atos de
barbárie foram cometidos aqui, principalmente na época do colonialismo, quando índios eram caçados,
escravizados ou exterminados. Os negros africanos eram colocados “em engorda” depois da chegada, separados
de seus familiares. Recebiam apenas a comida, a roupa e castigos, numa escravidão vergonhosa que durou 350
anos (1538-1888). Encerrando, apesar da motivação errada que os missionários católicos tiveram nos três
primeiros séculos de evangelização, eles conseguiram transplantar aqui a cultura cristã. Como resultado, vemos
ainda hoje que, salvo raríssimas exceções, todos os brasileiros são cristãos, embora a maioria esmagadora seja
formada por cristãos nominais, aqueles que vivem sem uma vida religiosa, sem doutrina e sem salvação. E isso
é reconhecido por todos, até mesmo pelos católicos romanos.

2.3 Os primeiros missionários protestantes

Exatamente seis anos após a chegada dos


primeiros missionários católicos ao Brasil,
aportou na Baía de Guanabara uma caravana
ecumênica proveniente da França, composta
de artesãos, soldados e agricultores (alguns
católicos, outros protestantes), sob o comando
do navegador e aventureiro Nicolau Durant de
Villegaignon, pessoa onde se misturava uma
fé católica com protestante. Eram, ao todo,
três navios, somando aproximadamente 600
pessoas, entre tripulantes e passageiros. Nessa
época, os protestantes franceses (huguenotes)
não tinham segurança no seu país, e pensaram em construir aqui a França Antártica, com duas motivações:

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econômicas e religiosas. Como esse povo era composto de católicos e protestantes, vislumbrou-se a
possibilidade de uma nova terra onde se tivesse liberdade de culto, o que não acontecia nas grandes
metrópoles. Um ano depois chegou a segunda leva de colonos franceses (300 pessoas), católicos e sem religião,
em sua maioria. Junto deles, vieram 14 huguenotes (reformados de língua francesa) de Genebra, mandados por
João Calvino, o líder suíço da Reforma Protestante. Entre essas 14 pessoas estavam o doutor em teologia Pierre
Richier, o pastor Guillaume e o historiador Jean de Léry, que mais tarde editaria excelentes trabalhos na Europa,
discorrendo sobre as coisas do Brasil.
2.3.1 O primeiro culto
No dia 10 de março de 1557 realizou-se o
primeiro culto reformado abaixo da linha do
Equador, tendo como local o Forte Coligny. Na
ilha, hoje chamada de Villegaignon, Richier
pregou em francês sobre o Salmo 27:4.
No dia 23 de março, fundou-se a primeira
Igreja evangélica brasileira e da América do
Sul. Registre-se, que entre a primeira missa e o
primeiro culto evangélico houve um tempo de
57 anos. Nicolau Durant de Villegaignon,
depois de parecer ter aceito a fé evangélica,
expulsou os genebrinos da ilha, que foram
morar num local hoje conhecido como Olaria,
no continente. Três meses depois foram
obrigados a voltar para a Europa, não
suportando a perseguição daquele homem. No
dia 9 de fevereiro de 1558 Villegaignon
mandou estrangular e lançar ao mar quatro autores de uma confissão de fé reformada, sendo que apenas um
deles conseguiu escapar. Os outros três se tornaram os primeiros mártires evangélicos do continente: Jean de
Bourdel, Matthieu Verneuil e Pierre Bourdon. Essa confissão de fé constava de 17 artigos que definiam assuntos
como a Ceia, a mediação única de Jesus como advogado e intercessor, único acesso possível ao Pai, que justifica
aos que crêem pelo Seu sangue, provocando a vitória sobre a morte. Segundo Álvaro Reis em seu livro (1917),
os demais huguenotes começaram a fugir para o interior do país, sendo que muitos deles foram sendo mortos
por ordem de governantes, como Men de Sá, tudo isso na presença do padre José de Anchieta. Em janeiro de
1567 Villegaignon foi expulso do Brasil, com seus companheiros, através de ordem do próprio governador Mem
de Sá. Registre-se que Jean de Lévy (companheiro mandado por Calvino) escreveu e publicou uma obra
intitulada “Narrativa de uma viagem feita a terra do Brasil, também chamada América”, que foi traduzida
imediatamente para o latim, holandês e alemão, sendo muito consultada até os dias de hoje. Abaixo, uma pintura
da Ilha de Villegaignon, podendo ver-se na paisagem as características marcantes da Baía da Guanabara, Morro
do Pão de Açúcar, etc.

3. UMA DISTORÇÃO DOUTRINÁRIA DE 300 ANOS


3.1 Anchieta: um cristianismo sem ressurreição
Anchieta pode ser considerado o maior nome da evangelização do Brasil, chegando aqui em 1553, aos 19 anos.
Pela sua obra missionária, chega a ser chamado de “O apóstolo do Brasil”. Para sentir-se o andar da História,
vale registrar que ele tinha 12 anos quando Lutero morreu. Escreveu o livro “Gramática da língua mais usada
na costa do Brasil”, além do catecismo “Diálogo da fé”, em duas línguas: português e tupi, sete anos depois da
sua chegada ao Brasil. Quanto ao “Diálogo da fé”, constava de 616 perguntas e respostas, propositalmente
endereçadas ao esclarecimento dos problemas culturais brasileiros, com relação aos ensinos bíblicos. Trata ali
de temas como antropofagia, suicídio, feitiçaria para matar pessoas, adultério, falso testemunho,
etc. Praticamente 1/4 do catecismo trata dos acontecimentos da sexta-feira santa. No início, Anchieta explica
que Jesus morreu por Sua própria vontade, para tornar possível o perdão de Deus para todos os homens. Depois
explica os acontecimentos do sofrimento de Jesus, desde a prisão até a morte de cruz, inclusive registrando a
conversão de um dos ladrões na cruz, e os fenômenos ali ocorridos. Quanto ao lado negativo, em nenhum
momento Anchieta fala sobre o rompimento do véu no templo, ou sobre a ressurreição de Cristo, Suas aparições
nos 40 dias que se seguiram, e a Sua Ascenção aos céus. A história simplesmente termina no túmulo, local que
a própria Bíblia afirma que ficou vazio. Aí podemos fazer uma citação de 1ª Coríntios 15:14 que diz o
seguinte: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã a vossa fé.” O registro final do catecismo vem
a quebrar toda uma série de verdades bíblicas, quando diz que Maria cobriu a nudez do corpo de Jesus, fato que

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não se acha relatado em nenhum dos quatro evangelhos ou em outra parte da Bíblia. Também coloca Maria e os
santos como intercessores, o celibato obrigatório, uso de imagens, indulgências, limbo, purgatório, etc. Foram
essas as verdades guardadas no coração e na memória dos negros, dos indígenas e dos europeus que
“devoravam” esse catecismo, e talvez tenha sido esse o motivo da preferência, que até hoje se vê na maioria dos
brasileiros, pela morte de Jesus em detrimento de Sua ressurreição. Basta observar as comemorações pascais da
Igreja Católica Romana: eles comemoram muito mais a morte de Jesus na sexta-feira do que a Sua ressurreição
no domingo. Por outro lado, o catecismo explica bem claramente as duas naturezas de Jesus (homem e Deus) e
a existência da Trindade (Deus é um só mas não é uma pessoa só)

3.2 A fé cristã se mistura à fé pagã

3.2.1 A fé cristã
Com algumas exceções, a presença da Igreja Católica Romana nos três primeiros séculos da História do Brasil
foi um desastre. Segundo registros históricos católico-romanos, o fato da Igreja Romana dominar sozinha o
panorama religioso, não a forçava a enxergar e a corrigir os seus erros. O primeiro grande erro foi a demora em
mandar missionários para trabalhar com os 1,5 milhão de indígenas da época, e padres para pastorear os brancos
portugueses aqui residentes. Roma estava assustada demais com o surgimento da Reforma Protestante na Europa
para se preocupar com os indígenas de uma nova terra descoberta. Além disso, as autoridades portuguesas
estavam muito mais interessadas nas Índias. Por isso afirmamos que foram cinquenta anos jogados fora. Como
já foi dito anteriormente, nessa virada de século (1500) era dramática a situação do clero. Não havia vocação,
não havia preparo e não havia moral. O padre tinha se transformado num funcionário eclesiástico, sem
preocupações com evangelizações ou conversões. Aqui no Brasil, pelo fato de não poder casar (celibato), os
sacerdotes se juntavam a escravas. Sintetizando essa ideia, não era padre o que faltava aqui, mas santidade nos
que aqui estavam. O próprio padre Manoel de Nóbrega, citado por Hoornaert (1992), escreveu certa vez: “Cá
há clérigos, mas é a escória que de lá vem.” Ele estava se referindo a Portugal, é claro. Assim, o casamento da
evangelização como a colonização resultou numa catástrofe. Eram duas coisas bem diferentes, mas uma tomou
carona na outra, fato que aconteceu em várias partes do mundo, não só no Brasil. Veja o que Manoel da Nóbrega
escreveu ao rei de Portugal em 1558, segundo José Maria de Paiva (1982), referindo-se às vantagens de investir
da evangelização no Brasil: “Nosso Senhor ganhará muitas almas e Vossa Alteza muita renda nesta
terra.” Conclui-se, então, pelas palavras de Nóbrega, que para a nobreza portuguesa, evangelizar era sinônimo
de aportuguesar.
Se nos reportarmos ao batismo bíblico praticado por João Batista na época de Jesus, quando os pecadores
arrependidos o procuravam para serem batizados, o que se viu aqui foi um procedimento completamente
antagônico: os jesuítas é que iam atrás dos índios os batizando nas aldeias indígenas, portos de desembarque de
escravos, nas senzalas... Eram batizados à força. Enquanto João Batista restringia o batismo ao arrependimento,
os sacerdotes portugueses o aplicavam a qualquer pessoa, em qualquer situação. Basta dizer que nos primeiros
oito anos de trabalhos os missionários já haviam batizado 15 mil índios. De uma só vez, foram batizados 3.700
indígenas. É bom que se diga também que tais batismos representavam segurança para os negros constantemente
ameaçados, pois era uma espécie de salvo-conduto
para serem melhor tratados na nova realidade que
estavam vivendo. Quem conhece bem a Palavra de
Deus, deve estar pensando que não havia festa no
céu, quando esses homens se batizavam por
atacado, apesar de serem batizados em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo. Mas, por outro lado,
havia muita alegria na Corte de Portugal, pois esses
homens parariam de causar problemas para os
brancos. Stephen (1964) diz que esses batismos em
massa em outros continentes traziam recompensas
aos batizadores: recebiam por cabeça.

Esses três primeiros séculos de evangelização


portuguesa foi um tempo sem livros, sem universidades, com censura à leitura de livros religiosos,
principalmente a Bíblia, que era exclusividade dos padres. Segundo o historiador católico Eduardo Hoornaert
(1992), “Um cristianismo sem livros se torna em pouco tempo uma religião sem fundamentação bíblica,
divorciada da teologia, uma prática de devoções e cerimônias sem ligação com a vida.”
3.2.2 A fé pagã

8
Havia uma guerra de culturas — a européia, a indígena e a
africana. Todos saíram perdendo nessa guerra. Como uma
cultura não conseguia se impor à outra, o que se viu como
resultado foi uma mistura das três que, originalmente, já eram
resultados de uma mistura maior ainda. É a essa situação que se
dá o nome de sincretismo cultural e religioso. Assim, a Igreja
não conseguiu manter separadas as crenças indígenas e
africanas de um lado e a fé cristã de outro. Era mais cômodo que
elas se unissem, e gerassem um cristianismo diferenciado do
cristianismo original. Esse foi o legado deixado para o século
XIX: um criatianismo deformado, nominal e superficial, sem
coerência e autoridade, baseado mais em festas e
comemorações do que em compromissos com Deus. Até hoje
nosso país continua colhendo os frutos amargos dessa
plantação.

4. CHEGAM OS PROTESTANTES E A BÍBLIA


4.1 Igreja Reformada Holandesa
Agora, veremos como aconteceu a chegada das Igrejas
reformadas ao Brasil, cada uma a seu tempo, dando ênfase
às pessoas que se destacaram nas iniciativas
evangelizadoras e a implantação das Igrejas.
Existem registros de que no dia 20 de setembro de 1634
aconteceu o batismo de uma criança brasileira chamada
Domingos Fernandes Filho, numa igreja protestante do
Recife, solenidade que contou com a presença de
holandeses, alemães, poloneses, portugueses e brasileiros.
É um fato curioso, pois as igrejas reformadas só chegariam
ao Brasil em 1817. O que aconteceu é que essa Igreja
instalou-se por ocasião da invasão holandesa no Nordeste,
com propósitos missionários junto aos indígenas daquela
região. Todo o processo, do começo ao fim, teve a mesma duração da invasão holandesa: 25 anos. Vale registrar
que o Conde João Maurício de Nassau-Siegen era membro e frequentador assíduo da Igreja Reformada.
Características
O Nordeste, nessa época, era chamado de Brasil Holandês, e essa Igreja dava muita importância à fé e à conduta
dos fiéis, reflexo da Reforma Protestante acontecida cem anos antes. Seu movimento aqui no Brasil recebeu o
nome de “Puritanismo Holandês”, tendo a Bíblia como norma de fé e comportamento. Defendiam o bom
tratamento aos escravos, conservação do meio ambiente, observação do domingo, os dez mandamentos da lei
de Deus, dar liberdade aos culto não-protestantes, etc. Para atingir seus objetivos, a Igreja Reformada Holandesa
contava com 54 pastores-pregadores 120 presbíteros, 120 diáconos, etc. Os pregadores funcionavam ao mesmo
tempo como capelães militares, pastores das igrejas e missionários entre os indígenas. A Ceia do Senhor
acontecia apenas quatro vezes ao ano. Em 1642, um desses pastores, David Doreslaer, escreveu um catecismo
em três línguas (tupi, holandês e português), com o título “Uma instrução simples e breve da Palavra de Deus
nas línguas brasiliana, holandesa e portuguesa” .

4.2 Os protestantes demoram a chegar

Em 1805, aportou na Bahia, por duas semanas, um navio inglês a caminho da Índia. Entre os passageiros
estava um ministro chamado Henry Martyn, que iria desempenhar a função de missionário no continente
asiático. Assim que desembarcou, Martyn procurou conversar com pessoas importantes e alguns sacerdotes

9
católicos, com quem falava em latim e francês. Ele ficou impressionado com a
grande quantidade de cruzes em Salvador. Segundo Duncan Reily (1984), Martyn
registrou no seu diário: “Aqui há cruzes em abundância, mas quando será
levantada a doutrina da cruz?”

Lembramos que, até esse ponto, todo o trabalho de evangelização fora feito
exclusivamente por missionários e padres católicos, com exceção de pequenas
infiltrações, como dos huguenotes franceses em 1557-1558 (ocupação francesa) e
dos holandeses no Nordeste em 1630-1654 (ocupação holandesa). Como apenas
passou por aqui, a participação de Martyn para o desenvolvimento da Henry Martyn
evangelização do Brasil se reduziu a seus escritos, seus livros, onde criticou
veementemente a falta de uma evangelização efetiva, bíblica, aos moradores dessa
nova terra. Enquanto os missionários católicos demoraram 49 anos para atender aos apelos de Caminha, os
missionários protestantes demoraram 50 anos para atender aos apelos de Martyn. O primeiro motivo dessa
demora dos missionários protestantes estava no fato das igrejas protestantes europeias e norte-americanas ainda
não possuírem nenhuma visão missionária. Parece que a ordem do “Ide!” foi específica para os apóstolos da
Igreja Primitiva, e não para eles. Em 1792 William Carey escreveu um livro que mudaria essa visão comodista
das Igrejas reformadas: “Investigação sobre a obrigação dos cristãos de empregar meios para a conversão dos
pagãos”. Foi a partir daí que sociedades missionárias passaram a ser organizadas, mandando missionários para
o mundo inteiro. Como segundo motivo para essa demora, pode-se citar a falta de liberdade religiosa no Brasil,
cujo território era dominado por Portugal, um dos países mais católicos do mundo daquela época. Além disso,
havia uma preferência pela Ásia e África, onde a evangelização era zero, imaginando-se não ser bom competir
com o trabalho católico mantido na América Latina. Desde a época de Lutero, já eram editados livros de Américo
Vespúcio sobre o Mundo Novo, suas características, sua gente, livros que tiveram uma vendagem enorme. Só
naquela época, seu primeiro livro vendeu mais de 10 mil exemplares, sendo traduzido para o alemão, francês,
italiano, holandês, espanhol e tcheco. Em 1557, foi lançado um livro chamado “Descrição verdadeira de um
país de selvagens”, escrito pelo alemão Hans Staden, que estivera aqui por duas vezes. Esse livro teve mais de
50 edições em alemão, flamengo, holandês, latim, francês e inglês. Sua versão para o português só aconteceu
em 1892, com o nome de “Duas viagens ao Brasil”, e transformou-se num dos documentos mais preciosos e
confiáveis da etnografia brasileira. Em 1578, o pastor calvinista francês Jean de Léry, ex-missionário no Brasil,
publicou o livro “Narrativa de uma viagem feita à terra do Brasil, também chamada América”, que logo foi
traduzido para o alemão, latim e holandês. O livro descrevia os fatos acontecidos na ilha de Villegaignon, os
indígenas, a flora, a fauna e outras coisas singulares da terra brasileira. Porém, o livro que efetivamente provocou
grandes vocações missionárias para o Brasil foi “Reminiscências de viagens e permanências nas províncias do
sul do Brasil” (1840), escrito pelo missionário
metodista Daniel Parish Kidder. Foi através da
curiosidade provocada por esse livro que vieram novos
missionários para o Brasil. Entre eles podem ser citados
o missionário escocês Robert Kalley, chegando ao Rio
de Janeiro em 1855, e o missionário norte-americano
Zacarias Taylor, para a Bahia em 1882. Kalley foi o
pioneiro dos congregacionais no solo brasileiro,
enquanto que Taylor transformou-se num dos dois
precursores da Igreja Batista. Para as pessoas
interessadas, avisamos que os livros de Hans Staden,
Jean de Léry e Daniel Kidder podem ser encontrados no
Brasil através da Editora da Universidade de São Paulo.

4.3 A Bíblia Almeida chega ao Brasil


O português João Ferreira de Almeida foi morar, ainda jovem, nos Países Baixos e de lá foi para a Indonésia,
onde aceitou o Evangelho. Dotado de grande capacidade linguística, ele aos 16 anos traduziu o Novo Testamento

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parta o português, baseado em versões latinas, espanholas, francesas e
italianas. Mais tarde, enquanto trabalhava como missionário no Sri Lanca e
na Índia, passou a traduzir o Antigo Testamento a partir dos originais
hebraicos e gregos. Sua morte (1691) impediu o término desse último
trabalho, tarefa que foi assumida por Jacobus Akker. A princípio, a versão
portuguesa da Bíblia destinava-se aos falantes de língua portuguesa no
sudeste asiático, mas em 1809 ela passou a ser imprimida pela Sociedade
Bíblica Britânica e Estrangeira, de modo a suprir a necessidade dos
refugiados portugueses na Inglaterra. Só depois é que essa versão passou a
ser mandada para Portugal e Brasil. Em 1914 os exemplares da Bíblia
completa em português começaram a ser distribuídos nos navios para
pessoas que se dirigiam ao Brasil, mas a partir de 1918 a distribuição
começou a ser comercial, através de agentes das duas sociedades bíblicas: a
Britânica e a Americana. O primeiro deles foi o pastor batista escocês James
Thompson (1781-1854), que encarregou-se de iniciar a distribuição da
Bíblia em toda a América Latina. Apesar de não se saber se ele chegou a
estar no Brasil, tem-se notícias de que em 1820 ele mandou para cá 100
Bíblias completas e 200 Novos Testamentos. Por outro lado, o missionário
metodista americano Daniel Parish Kidder (1815-1891) foi o primeiro
correspondente da Sociedade Bíblica Americana a se instalar no Brasil, sabendo-se que percorreu o país de norte
a sul, tentando de forma destemida fazer a Bíblia conhecida entre os leigos. A partir de 1850 apareceu uma
versão católica para o português, feita pelo padre Antônio Pereira de Figueiredo. O que a diferenciava da obra
de Almeida é que foi traduzida diretamente da Vulgata, e incluía os livros apócrifos. Seu trabalho durou 18
anos. Foi a partir de 1855 que passou-se a ter um trabalho missionário não interrompido no Brasil, ou seja, 40
anos depois da chegada da Bíblia Almeida. Enquanto a Igreja Católica Romana não estimulava a leitura da
Bíblia, os protestantes, ao contrário, ensinavam que cada fiel deveria ter a sua própria Bíblia, estudar seu
conteúdo, na certeza de que ela é a única regra de fé. Em 1856, depois da chegada dos pioneiros Robert Kalley
(Igreja Congregacional) e Ashbel Green Simonton (Igreja Presbiteriana), a Sociedade Bíblica Britânica resolveu
abrir um depósito permanente de venda de Bíblias, no Rio de Janeiro. Para encerrar, é bom dizer que a Bíblia
Almeida, depois de várias e sucessivas revisões, ainda é a Bíblia preferida pelos evangélicos de língua
portuguesa.

4.4 Os imigrantes alemães


Os primeiros 300 colonos alemães chegaram ao Brasil
em 1824, sendo que quase metade deles eram
protestantes luteranos. Apesar de alguns terem ficado
em Nova Friburgo/RJ, a grande maioria estabeleceu-se
no Rio Grande do Sul. Segundo registros, a permissão
estatal para a vinda dos alemães tinha como objetivo
“branquear” a população, pois a quantidade de negros,
mulatos e mamelucos era três vezes maior do que a dos
brancos. Em 1845 veio a segunda leva de alemães
imigrantes para o Brasil, quando chegaram 1.800
colonos, espalhando-se a maior parte pelo Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, e alguns no Rio, Minas e
Espírito Santo.
Os alemães chegaram aqui com sua fé luterana, mas
em nenhum momento com interesses de evangelização,
missões, etc., fato que pôde ser constatado no
despreparo dos ministros instituídos para dirigir os
trabalhos religiosos das igrejas edificadas. Esses
dirigentes viviam de forma imoral, não recomendada
nem a um chefe de família, quanto mais a um líder espiritual. Só a partir
de 1864, com a chegada do pastor Hermann Borchad, é que a escolha
dos pastores passou a merecer uma maior atenção, como formação
teológica, fazendo com que a comunidade luterana de São Leopoldo/RS
se tornasse referência para todo o luteranismo brasileiro. Em 1900, o
Brasil já possuía uma população de 18 milhões de pessoas, sendo que

11
do total 600 mil eram alemães ou descendentes, e desses, a metade composta de protestantes. (em torno de 350
mil)

4.5 Missionários de língua inglesa


Tratando-se especificamente da evangelização e missões, na
segunda metade do século XIX predominou a chegada de
missionários protestantes da Inglaterra e principalmente dos Estados
Unidos, fora alguns casos de pastores protestantes que vieram para
cuidar de igrejas já existentes. A enorme e contínua movimentação
missionária aconteceu a partir do ano de 1855, com os
congregacionais, os presbiterianos, os metodistas, os batistas, e
terminando em 1889 com os episcopais. Esses missionários, ao
contrário do que aconteceu com os alemães luteranos, tinham boa
cultura teológica, eram vocacionados para a obra, apaixonados por
Jesus. Eram homens e mulheres piedosos, pessoas de oração, de
testemunho impecável, e dispostos a qualquer sacrifício em favor do
Evangelho e dos fiéis conquistados. Muitos deles exerciam funções
paralelas, como a Medicina, Agronomia, Literatura. Esses
missionários fundaram igrejas, escolas, seminários, institutos
bíblicos, universidades, clínicas, hospitais, jornais e editoras,
colocando a Bíblia literalmente na mão do povo. Através do seu
trabalho impecável, eles tiveram moral para exigir da Igreja Católica
Romana o reconhecimento e o respeito pela diversidade religiosa. Na
parte realmente espiritual, apresentaram a salvação pela graça,
mediante a fé, mas sempre mostrando que a fé sem obras é morta.
Como resultado do seu trabalho, mudaram o rumo de vivência de muitas famílias, que iam abandonando a
mentira, o furto, a ira, a vingança, a prostituição, o álcool, a malandragem, o analfabetismo e outros males, tudo
por causa do temor do Senhor. E seus filhos iam sendo educados nessa mesma direção. Estava sendo realizado
missões com propósitos de conversão a Jesus. Se os evangélicos hoje são um povo que canta bastante, muito se
deve a esses missionários do século XIX, a começar pelo casal escocês Robert Reid Kalley e Sarah, que
organizaram a primeira e maior coletânea de cânticos em língua portuguesa, que recebeu o nome de “Salmos e
hinos”. Dessa coletânea faziam parte hinos de Martinho Lutero, John Wesley, Fanny Crosby, da cantora Sankey,
entre outros. Havia 618 hinos, nessa coletânia. Os missionários ensinavam os protestantes a cantar em quatro
vozes, surgindo daí grandes corais nas Igrejas locais.
Menos de 80 anos depois de ser criada a Escola Dominical
na Inglaterra, por Robert Raikes (1735-1811), o casal
Kalley implantou a idéia na cidade de Petrópolis/RJ, em
1855, idéia que passou a ser seguida por quase todas as
Igrejas Evangélicas do país. Embora não existam dados
claros sobre a quantidade de missionários enviados para
o Brasil na segunda metade do século XIX, estima-se que
foram centenas. Quanto ao sexo, se pegarmos como
exemplo a Igreja Presbiteriana com sede no sul dos
Estados Unidos, a maioria dos seus missionários que
vieram para cá eram mulheres (solteiras e casadas).

5. AS IGREJAS TRADICIONAIS
5.1 Igreja Luterana
O Brasil só deixou mesmo de ser 100% católico a partir da sua
independência de Portugal. Tanto é assim que dois anos depois (1824)
chegaram os primeiros 300 imigrantes alemães, metade deles protestantes

luteranos, seguindo para o Rio Grande do Sul e Nova Friburgo. No meio deles
veio o pastor Friedrich Oswald Sauerbronn, considerado o primeiro ministro
protestante residente no país. No mesmo ano chegaram mais dois pastores
para São Leopoldo/RS, Johann Georg Eschenburg e Carl Leopold Voges. Em
seis anos, já havia mais de 2.500 almas aqui. Calcula-se que a quantidade total
de imigrantes alemães, durante o século XIX, tenha chegado a 300 mil
12
pessoas, incluindo Rio Grande, Santa Catarina, Rio de Janeiro, e em menor escala em Minas e Espírito Santo.
Apesar da aparente liberdade de culto no país, a Constituição de 1824 dizia que a Igreja Católica Apostólica
Romana continuaria a ser a religião do império, sendo que aos outros segmentos religioso só seria permitido as
reuniões em residências, sem que exibissem qualquer aparência de templo, ou seja, sem torres, sinos, cruzes,
etc. Como a imigração alemã não tinha como principal motivo a evangelização, as pessoas colocadas à frente
desses trabalhos deixavam muito a desejar, eram despreparadas, tanto na vida familiar como no púlpito. Quanto
a Eschenburg, por exemplo, sua saída foi exigida pelos colonos do Rio Grande, pois ele não vivia moralmente
o que pregava nos púlpitos. Voges, que o substituiu, não era muito diferente: fabricava e vendia cachaça,
mantinha escravos aos seus serviços, ocupando-se mais com os negócios do que com a paróquia. Enquanto os
padres batizavam os negros com nomes em português, Voges os batizava com sobrenomes em alemão: Adelina
Schmitt, etc. Sintetizando, Voges pregava, batizava, casava e enterrava suas ovelhas, mas não as “alimentava”.
Os cultos resumiam-se a leitura de sermões prontos e orações impressas. Quando o grupo se cansava, ele pulava
algumas páginas. Outros personagens que vale mencionar foram o pregador Johann Friedrich Schrader, que era
alcoólatra, e que misteriosamente foi achado morto no campo, além de Philipp Andreas Weber, Erdmann
Wolfram e K.Strüker que também eram dados à bebida alcoólica. Segundo o escritor Carlos Hunsche (1983) o
pastor Heinrich Theodor Recke (Campo Bom/RS) teve que fugir para Buenos Aires, após ter cometido um
“delito vergonhoso”.
Esses registros acima, e um relatório mandado para a Alemanha em
1866, escrito pelo pastor Wilhelm Kleingünther, narram a situação cristã
irreal que viviam os imigrantes alemães até essa época. Cultos rápidos e
depois grandes farras nas vendas e botecos, batizando crianças com a
água de despejo onde se lavava copos de cachaça e assim por diante. Era
a coisa mais comum um líder “espiritual” trocar a Bíblia por um sabre e
tornar-se um soldado, um fazendeiro, carroceiro, etc. A partir de 1864,
com a chegada do pastor Hermann Borchad, a escolha dos pastores
passou a merecer um crivo maior, como a exigência de uma formação
teológica, trabalho que transformou a cidade de São Leopoldo no ponto
de referência do Luteranismo brasileiro. A mesma vergonha que os
imigrantes protestante tinha dos seus pastores no Sul, era a mesma que
os imigrantes católicos tinham de seus padres de lá, pois também
costumavam viver escandalosamente. Porém, com a chegada de jesuítas
alemães em 1850, mudanças também começaram a acontecer no meio
dos imigrantes católicos. Quando se chegava ao ano de 1900, o Brasil já
contava com uma população total de 18 milhões de pessoas, sendo que
600 mil delas eram alemães ou descendentes, metade protestantes (em
torno de 350 mil), número que superava a soma dos congregacionais,
presbiterianos, metodistas, episcopais, batistas e adventistas juntos.

5.2 Igreja Metodista

O trabalho missionário dessa instituição foi muito elogiado e


respeitado no seu início, tanto pela Igreja Católica Romana do Brasil,
quanto pelo presidente norte-americano Abraham Lincoln. Era a
maior denominação protestante de lá, em razão do seu fervor e métodos
evangelísticos. A primeira pessoa enviada para cá foi o pastor
Fountain Elliot, em 1835, que veio para pesquisar o novo campo missionário. Os dois primeiros missionários
enviados, para iniciar os trabalhos, foram R. Justos Spauding (1836) e Daniel Parish Kidder (1837). O segundo,
foi o grande distribuidor de Bíblias em quase todas as províncias brasileiras. Já Spauding deixou instalada uma
congregação de 40 membros. Motivado por problemas políticos internos dos EUA, os trabalhos missionários no
Brasil foram interrompidos por 25 anos, só recomeçando em 1867, época em que os congregacionais e os
presbiterianos já estavam aqui instalados. O missionário Junius Newman foi um dos homens que começaram
essa segunda parte dos trabalhos no solo brasileiro, desenvolvendo uma atividade muito próximo às cidades
paulistas de Piracicaba e Campinas. Depois veio John (1876), que casou com a filha de Newman. Ele era vítima
de críticas por jornais católicos, chegando a trabalhar até nas redondezas de Juiz de Fora/MG, onde em seguida
foi fundado o famoso Instituto Granbery, em honra a John C. Granbery, o primeiro bispo da Igreja Metodista
americana. Esse colégio, anos depois, viria a se tornar um estabelecimento de ensino superior, escola de profetas,
e o primeiro seminário metodista no Brasil. Antes de ir embora (1886), Ranson fundou o jornal “Expositor
Cristão”, considerado até hoje o órgão oficial da Igreja Metodista do Brasil. Ranson era considerado um pregador
13
de qualidades inigualáveis. Nessa mesma época já estava na região de Belém do Pará o missionário Justus H.
Nelson, que lá permaneceu por 45 longos anos. Em 1881 chegou ao Brasil James William Koger. Dentre suas
proezas, pode-se destacar a construção em São Paulo
(1885) do primeiro templo com a aparência externa
proibida pelas autoridades imperiais, exibindo uma cruz e
uma torre com sino, prerrogativas que só os católicos
tinham até a proclamação da República. Com a morte de
Koger, veio para cá o missionário John S. Mattison, que
também morreu de febre amarela um ano depois, doença
que viria a matar a outros pastores e missionários no final
do século XIX, como John William Tarboux, o primeiro
bispo metodista residente no Brasil.

5.3 Igreja Congregacional


O médico escocês Robert Reid Kalley foi o pioneiro do trabalho missionário
protestante na Ilha da Madeira (1838) e o primeiro missionário a estabelecer um
trabalho sistemático nas terras brasileiras, através da Igreja Congregacional. Seu
nome é estranhamente esquecido em obras de peso sobre a evangelização do novo
mundo. Por outro lado, o escritor e pregador Andrew Bonar refere-se a Kalley
como o maior nome das missões modernas, segundo o livro escrito por Michael
Testa (1963).
Pertencentes a famílias abastadas da Escócia, Kalley e sua esposa alugaram a
casa do embaixador americano em Petrópolis, com duas camareiras alemãs, um
jardineiro português, privilégios incomuns para missionários. Mas foi graças ao
seu nível intelectual, cultural e econômico que ele conseguiu alcançar a elite
brasileira com o Evangelho. Para que se tenha idéia do seu prestígio na alta sociedade, em 1859 ele batizou duas
damas da Corte Imperial, mantinha amizade estreita de visitas com D. Pedro II. Porém, apesar da sua estreita
convivência com os nobres, Kalley conseguia se relacionar muito bem com os pobres, dando-lhes assistência
médica e espiritual, ao mesmo tempo.

Robert Reid Kalley


Kalley nasceu em 1809 em Mount Florida, arredores de Glasgow, capital escocesa. Aos seis anos já era órfão
de pai e de mãe, sendo criado pelo segundo marido de sua mãe e pela nova esposa dele. Em 1836 ofereceu seus
serviços à Junta Missionária da Igreja da Escócia, para ser médico missionário na China. Como não deu certo
sua ida à China, em 1838 ele seguiu como missionário para a Ilha da Madeira, onde sofreu violenta perseguição
do clero católico português. Como ficou preso por dois anos e meio, sob ameaças de morte, fugiu da prisão e
voltou à Inglaterra, onde se prepararia para outra empreitada.
Em 1855 chegou ao Brasil, onde permaneceu por 21 anos, até 1876. Três anos após sua chegada ele já tinha
organizado a primeira igreja (1858), quando fez o primeiro batismo. Dez anos depois, para não haver confusão
com o nome da Congregação Presbiteriana fundada por Ashbel Simonton, mudou o nome de sua própria Igreja
para Igreja Evangélica Fluminense, nome que utiliza até os dias
atuais. Para facilitar o desenvolvimento do seu trabalho, Kalley
trouxe para cá um grupo de discípulos da Ilha da Madeira, que o
ajudaram muito na comercialização de Bíblias. Na área da
música, deve-se ao casal Kalley a publicação do primeiro
hinário brasileiro, chamado “Salmos e Hinos”, publicado em
1861, iniciando com 18 salmos e 32 hinos, chegando hoje a um
total de 608 hinos, sendo que 72 deles são de autoria de sua esposa
Sarah Kalley e 13 do próprio Robert Kalley.

14
5.4 Igreja Batista
A Igreja Batista foi a quarta denominação a chegar ao Brasil, demora essa
creditada às desencontradas informações dadas por seus espias que aqui estiveram
antes para sondar o campo. Em 1860, um desses espias (Thomas Jefferson Bowen)
solicitou sua inclusão entre os primeiros missionários a serem mandados para o
Brasil, chegando aqui apenas seis meses depois dos presbiterianos e quatro anos
depois do pioneiro congregacional Kalley. Seus relatórios não devem ter sido
bons, a respeito do Brasil, pois a Igreja Batista afastou-se durante 20 anos do nosso
território. Por causa da derrota do exército confederado na guerra civil americana,
um de seus heróis (General Hawthorne) foi obrigado a sair do país, direcionando-
se para o Brasil, onde organizou uma colônia de imigrantes americanos, tudo com
o apoio pessoal do Imperador Pedro II, com quem Hawthorne mantinha um
relacionamento pessoal de amizade. Só depois que o General Hawthorne fez um
relatório empolgado sobre as perspectivas de um grande trabalho missionário do Brasil, é que a Igreja Batista
voltou a direcionar seus olhos para cá. Foi por sua influência que os dois primeiros missionários batistas vieram
para o campo reaberto: Zachary Clay Taylor e William Buck Bagby. Em 1882, as famílias Taylor e Bagby foram
para Salvador, um campo bem mais necessitado de novos missionários. Junto com eles também se deslocou a
família do ex-sacerdote católico brasileiro Antônio Teixeira de Albuquerque, morando todos, por algum tempo,
numa só casa de três quartos, onde logo fundaram a Primeira Igreja Batista no Brasil. Diante das dificuldades
em aumentar a freqüência, os missionários resolveram encher os bolsos de Novos Testamentos e ganharem as
ruas, visitando lojas e armazéns, locais onde pudessem encontrar algumas pessoas juntas para ouvirem o que
tinham para dizer. Praticaram o que se chama atualmente de evangelismo pessoal. Dois anos depois (1884),
William Bagby e família voltaram para o Rio de Janeiro, que já possuía meio milhão de habitantes, de onde se
deslocavam para o interior das províncias de Minas Gerais e do próprio Rio de Janeiro. No ano 1900 Bagby
viajou para São Paulo, onde permaneceu por 27 anos, local em que sua esposa fundou o hoje conhecido Colégio
Batista Brasileiro. (1902). Em 1927 a família Bagby transferiu-se para Porto Alegre, onde William morreu onze
anos depois, sempre pregando o evangelho.
Quanto a Taylor, permaneceu em Salvador, onde fundou o primeiro jornal batista “O eco da verdade” (1886),
nome que foi mudado duas vezes. Com todo esse trabalho iniciado em várias frentes, o ministério batista
começou a crescer mais do que as outras denominações, inclusive a presbiteriana.

O batismo por imersão


Até a chegada dos primeiros missionários protestantes
(1866), o batismo no Brasil, tanto católico como
protestante (luteranos, congregacionais e presbiterianos),
era realizado por aspersão (água aspergida sobre a
cabeça). Com a instalação de uma igreja batista na colônia
americana nas proximidades de Campinas/SP (1871)
começou a ser aplicado do Brasil o batismo por imersão
(o batizando mergulha na água), caracterizando e
diferenciando logo essa Igreja das demais, da mesma
forma como a guarda do sábado destaca os adventistas. Para se ter idéia do impacto que causou, alguns pastores
de outras denominações resolveram se submeter a esse novo batismo, vindo a tornar-se batistas, a partir daí.
Dois anos depois, o missionário Zachary Clay Taylor publicou o livro “A Bíblia sobre o batismo”. Em 1908,
esse mesmo missionário foi para a cidade do Porto, em Portugal, onde rebatizou quinze membros da Igreja
Batista daquela cidade, numa contundente constatação sobre a irregularidade dos batismos realizados até aquela
data (aspersão).

5.5 Igreja Presbiteriana


Em 1859 a população mundial já era de um bilhão de pessoas, sendo
que os Estados Unidos tinham 30 milhões e o Brasil 10 milhões. Foi um
ano atípico no mundo todo, repleto de muitos acontecimentos, época em
que foram lançados três livros que mudariam a cabeça de muitas pessoas:
”A origem das espécies” (Charles Darwin), “Crítica da política
econômica” (Karl Marx) e “O que é o espiritismo” (Allan Kardec).
Foi nesse mesmo ano que desembarcou no Rio de Janeiro o primeiro
missionário presbiteriano (Ashbel G. Simonton), um jovem solteiro de 26 anos, recém-formado em seminário.
Seu trabalho no Brasil durou apenas 7 anos, mas deixou muitas raízes.
15
Junto com Alexander Latimer Blackford, o segundo missionário presbiteriano a chegar aqui, edificaram a hoje
chamada Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, o primeiro presbitério, a primeira escola paroquial e o
primeiro seminário. Eles ordenaram o primeiro pastor brasileiro, o ex-padre José Manuel da Conceição (1865),
que no interior de São Paulo era conhecido como o “Padre Protestante”. Os três juntos fundaram um
jornal puramente evangelístico, chamado “Imprensa Evangélica, que circulou durante os 25 últimos anos do
Império e durante os três primeiros anos da República. Esse jornal muito defendeu reformas legais que dessem
liberdade de culto, sendo remetido regularmente às autoridades e a padres selecionados e leitores atentos e
diferenciados.

José Manuel da Conceição (ex-padre)


O trabalho de Conceição é considerado importantíssimo até hoje, quando o Evangelho se espalhou por várias
dezenas de cidades paulistas, mineiras e cariocas. Em Brotas/SP, foi edificada o que considerou-se, por muito
tempo, a maior igreja evangélica brasileira. Como formação, Conceição havia estudado Aritmética, gramática,
história sagrada, além de desenho e pintura com um pintor francês em Sorocaba. Como não existia um seminário
organizado, ele passou a estudar filosofia, retórica, francês e teologia em vários lugares. Foi ordenado padre em
1844. Ele tinha muita convivência com algumas famílias presbiteriana alemãs em Sorocaba, ensinando-lhes
português enquanto eles lhe ensinavam o alemão. Ele admirava muito o costume deles de ler a Bíblia, reunirem-
se aos domingos para cultuar a Deus, o fato de não serem dados a botequins, nem bebedeiras. Com o tempo ele
foi mostrando interesse pelos estudos bíblicos, que ia aplicando nas paróquias onde era designado. Ele pregava
a Bíblia como a Palavra de Deus, não dando muita importância às imagens e às confissões auriculares. Por esse
motivo, ele era transferido sistematicamente, de modo a não contaminar as paróquias com suas idéias. Por esse
motivo, ele era conhecido como “o padre protestante”. Diante das pressões cada vez maiores da Igreja Católica
Romana, Conceição começou a se sentir amordaçado, não podendo defender um cristianismo mais bíblico, mas
cristocêntrico, mas puro e transformador. A princípio, achava possível travar uma luta interna no catolicismo
romano, uma reforma dentro da sua Igreja, para tentar impor seu ardor evangelístico. Diante das infrutíferas
tentativas, em 1863 ele solicitou sua saída das funções sacerdotais, e no mesmo ano teve um encontro com o
missionário presbiteriano Blackford, quando uma conversa produtiva e cuidadosa girou em torno da obra
redentora de Jesus. Folhetos evangélicos e exemplares da Bíblia foram deixados na mesa de Conceição, material
que ele distribuiu voluntariamente na população de Brotas/SP.
No ano seguinte ele visitou a Igreja Presbiteriana no Rio de Janeiro, onde foi convidado a pregar a Palavra de
Deus, oportunidade em que professou sua fé em Jesus Cristo, sem mais reservas. No início de 1865 ele foi
ordenado ao ministério, passando a ser um dos cinco ministros presbiterianos em terras brasileiras. Se trabalho
passou a ser itinerante, visitando suas antigas paróquias, procurando rever os ensinos anteriores e apresentando
a nova mensagem. Ao todo, foram 32 cidades paulistas que ele manteve em visitas, além de cinco cariocas e três
mineiras. Durante essas viagens aconteceu de ser
agredido, sendo apedrejado, chicoteado e recebendo
pauladas. Conceição gostava de abria clareiras,
deixando a organização da nova igreja para outros
missionários que o seguiam. De “padre protestante”,
passou a ser chamado de “padre louco”. Conceição
nunca se casou. Morreu em 1873, num hospital militar
no Rio de Janeiro, depois de ser encontrado desmaiado
na rua. Seu corpo foi enterrado como indigente, mas
depois de identificado, foi transladado e enterrado ao
lado de Ashbel Simonton, no Cemitério dos
Protestantes, muito próximo do atual Hospital das
Clínicas, em São Paulo.

16
5.6 Igreja Episcopal

Em 1889 chegaram ao porto de Santos James W.Morris e Lucien Lee


Kinsolving, os dois missionários pioneiros da Igreja Episcopal do Brasil.
Como eles eram recém-formados de um seminário teológico da Virgínia,
Estados Unidos, e diante da sua disposição de virem para o Brasil, eles
foram imediatamente ordenados para o diaconato e dois meses depois ao
presbiterato. Sua chegada quase coincidiu com a proclamação da
República, que desoficializou a Igreja Católica Romana, dando aparente
liberdade de culto para todos os credos religiosos. Seu interesse
em virem para o Brasil nasceu de visitas que faziam à casa de uma
senhora presbiteriana, na Virgínia, com quem morava Helen
Murdoch Simonton, nascida no Brasil e filha única e herdeira dos
pertences de Asbel Green Simonton, o pioneiro da Igreja
Presbiteriana no Brasil. Por sugestão de missionários
presbiterianos, os dois passaram meio ano em Cruzeiro/SP, onde
aprenderam o português, direcionando-se depois para Porto
Alegre/RS, onde foram recebidos por dois presbiterianos que,
mais tarde, tornaram ministros episcopais. Kinsolving, inclusive,
tornou-se o primeiro bispo episcopal em território brasileiro. O
motivo para os episcopais crescerem tão depressa em solo
brasileiro, foi a pouca quantidade de padres católicos para atender
às populações residentes no Rio Grande do Sul. Com oito anos de
atividade ali, a Igreja Episcopal já contava com 301 membros e
4 pastores brasileiros. Em 1903 foi fundado um seminário teológico, contando com 8 alunos e 4
professores. Kinsolving deu 33 anos de sua vida ao trabalho missionário.

6. AS IGREJAS PENTECOSTAIS
6.1 O avivamento da rua Azuza
O começo do século XX trouxe grandes novidades
para o mundo evangélico, através de uma série de
acontecimentos nos Estados Unidos. Um grupo de
alunos de um instituto bíblico em Topeka, começaram
a ter experiências pentecostais, acontecendo o batismo
do Espírito Santo semelhantemente ao que houve no
dia de Pentecostes, como a Igreja Primitiva. A Templo da Rua Azuza, em
Enciclopédia Wikipédia define Pentecostalismo como Los Angeles (1906)
reunião de grupos religiosos cristãos, originários do
seio protestante, baseando-se na crença da presença do Espírito Santo na vida dos
crentes através de sinais, denominados como dons do Espírito Santo, tais como
falar em línguas estranhas (glossolalia), interpretação das mesmas, curas,
milagres, visões etc. Em 1906, em Los Angeles, um negro chamado William J.
Seymour (1870-1922) foi convidado a pregar, e o sucesso foi tal que resolveram
alugar um galpão na rua Azuza. Foi nesse local que teve início a “Missão da Fé Apostólica”, com reuniões
avivadas, rompendo com toda e qualquer organização vista até então nas igrejas evangélicas tradicionais. Como
Los Angeles era a cidade que mais estava crescendo na Califórnia e em todos os Estados Unidos, esse movimento
pentecostal teve uma repercussão por todo o país e até no exterior. Nascia ali, naquele galpão, o chamado Século
Pentecostal, um movimento muito mais visível do que qualquer outro que aparecera até então. Pastores de outras
denominações americanas e do resto do mundo chegavam à rua Azuza para conhecer o movimento, sendo que
a maioria recebia também o batismo com o Espírito Santo, e aderia imediatamente. Um desses líderes foi o
norte-americano Young C. H. Mason, da “Igreja de Deus em Cristo”, composta predominantemente de negros,
que até hoje é considerada a maior denominação pentecostal dos Estados Unidos. Pessoas que participaram do
início desse movimento encarregaram-se de levar as novidades para outras cidades norte-americanas e outras
partes do mundo, incluindo-se aí o Brasil. Existem hoje um número interminável de instituições ou
denominações pentecostais, só no Brasil. Vejamos os nomes de algumas delas: Católicos Carismáticos,
Congregação Cristã do Brasil, Comunidade Evangélica, Igreja Batista Nacional, Igreja Betânia, Igreja Betesda,

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Igreja Cristã Evangélica, Igreja Cristã Maranata, Igreja Cristã Pentecostal no Brasil, Igreja de Deus Avivamento
Bíblico, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja do Nazareno, Igreja Evangélica Ágape, Igreja Evangélica
Assembléia de Deus, Igreja Evangélica do Avivamento Bíblico, Igreja Evangélica Avivamento do Deus Vivo,
Igreja Evangélica Chamas do Avivamento Bíblico, Igreja Evangélica Cristo Ressurreto, Igreja Evangélica
Embaixadores de Cristo, Igreja Evangélica Missionária
Pentecostal, Igreja Evangélica Povo de Deus, Igreja
Internacional da Graça de Deus, Igreja Metodista
Wesleyana, Igreja Missionária Arca da Nova Aliança, Igreja
Pentecostal Novas da Alegria, Igreja Pentecostal Deus é
Amor, Igreja Pentecostal Independente, Igreja Pentecostal
de Jesus Cristo, Igreja Pentecostal da Nova Vida, Igreja
Pentecostal O Brasil para Cristo, Igreja Pentecostal o Som
da Palavra, Igreja Pentecostal Unida do Brasil, Igreja
Presbiteriana Renovada do Brasil, Igreja da Restauração,
Igreja Tabernáculo Evagélico de Jesus, Casa da Bênção de
Deus e Igreja Universal do Reino de Deus. Além dessas,
ainda podem ser citadas outras ramificações como
Adventista da Reforma, Adventista da Promessa, Metodista Ortodoxa,
Igreja da Restauração, Congregacional Independente, Cristã Evangélica
Renovada, Sinais e Prodígios, Maranata, Socorristas, Salão da
Fé, Evangélica da Renovação, Jesus é a Verdade, Cristo Vive, Cristã
Antioquia, Cristo Rei, Assembléia de Cristo, Batista Independente,
Templo da Bênção,... Desses, a maioria surgiu entre 1960 e 1990, sendo
que a maioria delas nasceu no Brasil.

6.2 Congregação Cristã do Brasil

Havia em Chicago um italiano chamado Louis Francescon,


que foi um dos fundadores da Primeira Igreja Presbiteriana
Italiana daquela cidade. Com a chegada do avivamento de Los
Angeles a Chicago, a primeira pessoa a receber o batismo no
Espírito Santo foi a esposa de Francescon, ele próprio um mês
depois, e uma sucessão espantosa de pessoas na sequência.

Francescon e o Brasil
Em 1909, Francescon abandona seu emprego, guiado por Deus, e viaja para
a Argentina e no ano seguinte para o Brasil, onde teve contato com a imensa
colônia italiana residente em São Paulo. Ao frequentar a Igreja Presbiteriana
do bairro do Braz, ele provocou um cisma na comunidade, enquanto falava
sobre o ministério do Espírito Santo.
Logo, cansado dessas perseguições, juntamente com alguns dissidentes
presbiterianos, batistas, metodistas e católicos, fundou a Congregação Cristã do Brasil,
que não parou de crescer até os dias atuais. Ao contrário de outros pioneiros,
Francescon nunca teve moradia permanente no Brasil, fazendo uma ponte permanente
entre Estados e Brasil, durante anos.

Característica da entidade

Apesar da mesma origem da Assembleia de Deus (rua Azuza), a Congregação Cristã tem um procedimento
totalmente diferente, é intolerante e sectarista, com fortes tendências de ser considerada uma seita. Sua direção
e membros consideram-se a única denominação no caminho certo, não apresentando nenhum interesse em
relacionar-se com outras denominações, mesmo as pentecostais. Também não costumam publicar jornais,
revistas de estudo bíblico ou livros, não se utiliza de rádio, televisão e não promovem reuniões em locais
públicos. A evangelização da Igreja é pessoal, e seus cultos geralmente são longos. As pessoas, que aderem suas
idéias, são consideradas predestinadas e chamadas por Deus para a Salvação. Não há ministros ordenados, nem
burocracia eclesiástica. O pregador é suscitado na hora do culto, por “revelação de Deus”. Os anciãos não são

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assalariados e dirigem a parte espiritual da instituição. A Ceia é realizada apenas uma vez por ano. Outro fato
interessante é que não mantém um rol de membros, sendo que o único registro nesse campo é o número de
pessoas batizadas, o que a princípio era em italiano e em português. Embora esteja presente em todos os estados
brasileiros, a C.C.B. é mais forte na região Sudeste, onde encontram-se 47% dos seus templos, principalmente
no estado de São Paulo. O crescimento sempre é maior nas cidades interioranas do que na capital (80% dos
templos). Apesar de ser extremamente soberba, por se considerar “A obra do Senhor” e não “Uma das
expressões da obra do Senhor”, a Congregação é a denominação brasileira mais discreta quanto à sua liderança
eclesiástica, pois só os anciãos e diáconos são considerados obreiros. No tocante a dinheiro, seus frequentadores
não podem contribuir com cheques, para que seus nomes não apareçam. Pelo fato de seus obreiros não serem
assalariados, todo o dinheiro arrecadado é aplicado na construção de novos templos, os quais obedecem a um
único padrão arquitetônico. Uma última característica que diferencia a C.C.B. das outras denominações
pentecostais é que a distribuição de hinários à irmandade é três vezes maior do que a de Bíblias, deixando
dúvidas quanto à motivação da instituição.

6.3 Assembléia de Deus


Os suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg também fizeram parte
daquelas pessoas que receberam o sopro do Espírito Santo em Los
Angeles e Chicago. No verão de 1910, foi-lhes entregue uma profecia
sobre uma missão transcultural para um lugar chamado Pará, um local de
clima muito diferente, e a viagem deveria acontecer no dia 5 de novembro
daquele mesmo ano. Só depois de pesquisarem numa biblioteca, é que
descobriram que aquele era o nome de um estado brasileiro e não de um
país. Eles viajaram para Belém do Pará em 1910 onde, ao chegarem,
iniciaram um trabalho missionário que se transformaria mais tarde na
criação da Assembléia de Deus.
Vingren e Berg
Esses dois homens nasceram num momento difícil da história da Suécia. Entre os anos 1867 e 1886 mais de
meio milhão de suecos tiveram que deixar o seu país por causa da escacez de comida e de trabalho, sendo que a
maioria imigrou para o meio-oeste americano. Primeiro foi Daniel Berg e um ano depois foi Gunnar Vingren,
com 20 anos de idade. Os dois vieram a se conhecer em 1909, numa igreja de Chicago, cidade em que vivera
Dwight Moody, até sua morte, dez anos antes. Gunnar já tinha se formado em Teologia num seminário batista
na Suécia, e pastoreava uma Igreja no estado de Michigan, enquanto que Daniel trabalhava numa quitanda da
cidade de Chicago. Durante uma conferência na Igreja Batista Sueca de Chicago, Gunnar recebeu o batismo no
Espírito Santo, vindo a falar em línguas estranhas, fato que o motivou a pregar a doutrina pentecostal dali em
diante. Como metade da igreja que pastoreava rejeitou suas idéias, ele passou a pastorear outra Igreja batista
sueca em outro estado, transformando-a em igreja pentecostal. Um dos seus seguidores, nessa igreja, um outro
sueco chamado Adolf Ulldin, foi o encarregado de lhe anunciar o que ouvira da parte de Deus a respeito do
ministério além-mar. Quando Daniel foi visitar Gunnar, recebeu a mesma profecia. Obedientes a essa orientação,
no dia 5 de novembro eles embarcaram em Nova York para o Pará, sendo que compraram passagens de terceira
classe, por motivo da falta de recursos. Quando desembarcaram, duas semanas depois em Belém, estavam com
90 dólares no bolso, não sabiam uma só palavra em português e não havia ninguém esperando por eles. Foi
assim que começou a obra da Assembléia de Deus no Brasil, sem planejamento, sem projeto, sem reuniões
presbiteriais, ou de juntas missionárias, etc. Era só o mover do Espírito quem movia aqueles homens. Nessa
época, as denominações protestantes tradicionais já estavam com seus trabalhos missionários em bom
andamento no solo brasileiro, na região Sudeste (congregacionais, presbiterianos, metodistas e salvacionistas),
na região Sul (luteranos e episcopais) e na Bahia (batistas). A Assembéia de Deus, entretanto, iniciou seus
passos pelas terras pobres da região Norte, um clima realmente muito diferente da Suécia. Um eterno verão
quente e úmido. Assim que chegaram, os dois missionários foram acolhidos por Raimundo Nobre, o coordenador
de uma missão batista em Belém, permitindo-lhes participação nos cultos. Mas eles vieram a provocar uma
divisão na igreja quando pregavam sobre o batismo com o Espírito Santo, o falar em línguas, promovendo
reuniões de oração com esse fim, etc. Aborrecido com o comportamento dos dois, Raimundo Nobre remeteu

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correspondência a todas as Igrejas existentes no país, denunciando-os.Enquanto Daniel, cinco anos mais jovem,
tinha muita saúde e resistência física, Gunnar era mais preparado intelectualmente, tornando-se, naturalmente,
o líder do trabalho. Daniel era um ganhador incomum de almas, um excelente vendedor de Bíblias e grande
evangelizador pessoal, indo de casa em casa, de ilha em ilha, de
Gunnar Vingren e Daniel Berg
enfermaria em enfermaria. Além da mala cheia de Bíblias, ele
ainda carregava o seu violão, cantando belos hinos em
português e em sueco. Já Gunnar, era o grande pregador, ia
batizando, organizando a obra, criando novos pontos de
pregação e congregações. Morreu 30 anos antes de Daniel. Da
mesma forma como os missionários protestantes foram
beneficiados pelo trabalho anterior dos jesuítas, Gunnar e Berg
foram beneficiados pelo trabalho dos missionários evangélicos
tradicionais (1855-1910), intensificando a pentecostalização
das igrejas já existentes. Porém, o grosso da membresia das
Assembléias de Deus vinha das trevas da ignorância religiosa e
das trevas do pecado e da incredulidade. Os dois, junto com os
pastores brasileiros ordenados por eles, não pregavam apenas a
Jesus, mas a salvação que havia n’Ele, o batismo com o Espírito
Santo e a mensagem completa do Evangelho.

A implantação das igrejas


A primeira igreja pentecostal foi organizada em 18/11/1911, seis
meses depois da chegada da dupla ao Brasil, recebendo o nome de
“Missão da Fé Apostólica”, em homenagem ao nome dado ao trabalho realizado no galpão da Rua Azuza, cinco
anos antes em Los Angeles. Só em 1918 é que o nome “Assembléia de Deus” foi adotado. Nenhuma
denominação evangélica no Brasil experimentou um crescimento tão rápido e tão grande como o das
Assembléias de Deus. Nos quatro primeiros anos (1911-1914) houve 384 batismos nas águas e até 1920 já
estavam estabelecidas em sete estados do Norte (Pará e Amazonas) e Nordeste (Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco e Alagoas). Na década de 20 os assembleianos ocuparam os demais estados do Norte e
Nordeste, e começaram o trabalho nas regiões Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) e Sul
(Paraná e Rio Grande do Sul). Em 33 anos de atividades (1911-1944) a Assembléia de Deus já estava instalada
em todos os estados brasileiros. A maior prova desse crescimento é que em 1947 o Brasil foi considerado o
terceiro país em número de crentes pentecostais do mundo, já com 100 mil fiéis batizados. A Assembéia de
Deus, com apenas dois anos de atividades, mandou um missionário para trabalhos no exterior, cujo nome era
José Plácido da Costa para Portugal. Em 1961 os assembleianos comemoraram o seu Jubileu de Ouro, numa
maravilhosa festa no Maracanazinho, Rio de Janeiro, quando esteve presente Daniel Berg, com 77 anos, e Ivan
Vingren, filho do já falecido Gunnar Vingren.

6.4 EXÉRCITO DA SALVAÇÃO

Em 1865, o pastor metodista William Booth, nascido em Nottingham


(Inglaterra), fundou a “Missão Cristã”, juntamente com sua esposa Catherine,
com o objetivo de lutar contra a pobreza e o poder do pecado, nome que seria
mudado para “Exército da Salvação”, mais tarde. Booth denunciava os baixos
salários pagos pelas fábricas, as condições sociais escandalosas, desmascarava
imoralidades, reconciliava famílias e oferecia abrigo, emprego e assistência
médica aos necessitados, tudo isso de mãos dadas com a pregação do Evangelho
às meretrizes, aos bêbados e aos vagabundos. Era um homem considerado em
Londres, médico emérito da Universidade de Oxford, sendo inclusive convidado
para a coroação de Eduardo VII. Atualmente, o Exército da Salvação é a instituição beneficente que mais
arrecada apoio financeiro no mundo inteiro.

Características
O Exército da Salvação é uma denominação evangélica de estrutura semi-militar, assemelhada à Companhia
de Jesus, fundada por Inácio de Loyola (1534). Os soldados são todos os seus membros (homens e mulheres),
os sargentos são os obreiros leigos, sendo que os oficiais são os pastores. A Escola de cadetes é o seu seminário
teológico, e as promoções variam de acordo com o tempo de serviço, capacidade e responsabilidade. Seus
membros não bebem, não usam narcóticos, entorpecentes, nem participam de divertimentos mundanos. Eles
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combatem o aborto, a mortalidade infantil, o analfabetismo e a fome, a embriaguez, a prostituição e demais
males sociais. É uma força espiritual dotada de uma consciência social.
Entre suas obras visíveis, eles abrem centros comunitários, lares para menores e mães solteiras, acampamentos,
colônias de férias, casas de apoio, hospitais, maternidades, leprosários, clínicas de apoio a dependentes químicos,
agências de empregos e restaurantes populares. Uma outra característica dessa instituição é colocar letras
religiosas em músicas conhecidas (reggae, jazz, pagode, samba, etc.), utilizando todo tipo de instrumento que
se adapte a esses ritmos profanos (pandeiro, bumbo, guitarra, etc). Bater palmas enquanto se canta nunca
representou um problema para os salvacionistas.

Os pioneiros no Brasil
Em 1922 chegou ao Brasil o casal suíço David e Stelle Miche, para tratar
da instalação de uma extensão do Exército da Salvação no Rio de Janeiro, fruto de um pedido do pastor
Erasmo Braga a Booth, em Londres. Esse casal se completava: ela era mais instruída e ele mais piedoso. Nas
festividades pela passagem do primeiro centenário da independência brasileira, eles distribuíram 40 mil folhetos
que historiava a organização. Bastaram nove meses para que David Miche tivesse uma idéia do país em que
estava. Num relatório a Londres, ele definia o Brasil como uma terra com abundância de minérios e comida,
mas quanto ao caráter negativo dos seus habitantes, ele escreveu: povo ignorante, doente, pecador, infeliz; pouco
escrúpulo para atingir os objetivos e facilidade para mentir e para apropriar-se do que não é seu; a empregada
engana a patroa, o empresário sonega impostos, mais de 80% da população é analfabeta; tendências para jogo a
dinheiro, levando muitos ao endividamento. Como qualidades, David enxergava que o brasileiro era
hospitaleiro, amável e generoso. Também deve ser destacada a passagem por aqui da missionária norueguesa
Helen Londahl. Horrorizando-se com as zonas de meretrício existentes nos grandes centros brasileiros,
comandou um grupo de senhoras presbiterianas para organizar uma festa de natal para as prostitutas,constando
de guloseimas, cânticos e pregação da Palavra de Deus. As prostitutas foram sendo convidadas uma a uma,
chegando a um total de 300 convites.
Para decpção geral, só apareceram quatro convidadas.
Mas a festividade foi iniciada como se o salão estivesse
cheio, fazendo com que uma das quatro se levantasse
chorando. Disposta a abandonar a vida de prostituição,
ela foi convidada a morar com Helene até que se
ajeitasse numa nova vida. A moça, porém, no dia
marcado, não apareceu.
Em 1938 os salvacionistas inauguraram o “Rancho do
Senhor”, também conhecido como o “Lar das Moças”,
local afastado do centro urbano que amparava mães
solteiras, de modo a impedir que a situação criada as
lançasse nas ruas como novas prostitutas. Esse local
existe até o dia de hoje, sendo que mais de 1.200 mães
já passaram por ali, sendo que algumas dessas moças
vieram se tornar membros do Exército da Salvação. Charrete de doações

6.5 Igreja do Evangelho Quadrangular

Com exceção da Assembléia de Deus e da Congregação Cristã do


Brasil, até a metade do século XX não surgiu mais nenhuma
denominação evangélica pentecostal no Brasil, quando surgiram a
Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), Igreja Pentecostal O Brasil
para Cristo (1955) e a Igreja Pentecostal Deus é Anor (1961), todas as
três no estado de São Paulo.
Origem da denominação
Na década de 1920 foi fundada em Los Angeles (EUA) a Igreja
Internacional do Evangelho Quadrangular. Esse nome originou-se da interpretação dada por uma mulher
canadense (Aimée Semple McPherson) aos rostos dos quatro seres viventes vistos pelo profeta Ezequiel (Ez
1:5-14), “...rosto de homem, de leão, de boi e de águia”, que simbolizam os quatro ângulos do ministério de
Jesus: o que salva, que batiza com o Espírito Santo, que cura e que há de voltar. Ela teve essa visão em 1907,
um anos depois do avivamento da Rua Azuza, quando ela tinha apenas 17 anos. Depois de cruzar os Estados
Unidos pregando a cura divina, de carro, ela estabeleceu-se em Los Angeles (1922), onde passou a pregar o
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evangelho numa emissora de rádio. Ali, inaugurou o “Angelus Temple”, que viria a se tornar o templo-sede dos
quadrangulares de todo o mundo.

Início no Brasil
Depois da morte de Aimée (1940), Harold Williams (ex-ator de Hollywood), um discípulo dela trouxe para o
Brasil essa instituição (1951). Esse homem primeiro veio para a Bolívia, viajando para o Brasil por rios, terra e
mar, desembarcando em Santos (1946), seguindo dali para Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, onde
aprenderia a língua portuguesa. Depois de passar quatro anos quase sem atividades no Brasil, Harold foi para
os Estados Unidos, onde permaneceu por um ano. Aí voltou para o Brasil, passando antes por Cuba, Panamá e
Peru, vindo a inaugurar aqui a “Igreja Evangélica do Brasil”, com doutrina quadrangular, mentora da Cruzada
Nacional de Evangelização. Em 1958 a instituição passou a chamar-se “Igreja do Evangelho Quadrangular”,
como nos Estados Unidos, quando deslanchou definitivamente, principalmente em São Paulo e no Paraná. Por
diversas vezes Harold Williams trouxe ao Brasil um cantor americado de Country Music, chamado Raymond
Boatright, que costumava aparecer em filmes como cowboy. Ele cantava vestido de vaqueiro, tocando a sua
guitarra. Enquanto o ex-cowboy cantava, o ex-galã Harold interpretava as falas para o público. Eles iam de
cidade em cidade, fazendo uma cruzada em tendas de lona, com capacidade para 1.200 pessoas. Em muito pouco
tempo, mais de 300 brasileiros foram ordenados para o ministério da Igreja Quadrangular, recebendo cada um
uma tenda de lona e um sistema de alto-falantes, de modo a iniciar seu próprio ministério itinerante. Em 1957,
depois de fundar o Instituto Teológico Quadrangular, em São Paulo, Harold Williams desentendeu-se com a
liderança local, voltando para os Estados Unidos. No seu lugar veio o missionário George Russel Faulkner, que
acumularia a supervisão dos campos da Argentina, Uruguai e Chile. Ele permaneceu aqui por 22 anos. Faulkner,
julgava estagnado o trabalho no Brasil (só 160 igrejas entre o Espírito Santo e Santa Catarina), dinamizou o
processo, mandando jovens obreiros para todas as
capitais dos estados não alcançados, sendo que até
1976 a instituição já estava instalada em todo o país.
Próximo ao ano 2000 a marca chegou a um total de
6.022 igrejas instaladas (aproximadamente 1,5 milhão
de fiéis) com 17.500 obreiros. A Igreja do Evangelho
Quadrangular do Brasil sustenta missionários em 15
países. Quando alguém estranha a quantidade de
mulheres entre os obreiros, vale lembrar que foi uma
mulher quem teve a visão de fundar esse ministério.
Para confirmar essa tendência, lembramos também
que as mulheres de Harold Williams e George
Faulkner já eram pastoras antes deles.

6.6 Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo

Essa denominação é genuinamente brasileira, fundada pelo


pernambucano Manoel de Mello, que morava e trabalhava em São Paulo.
De acordo com a maioria dos estudiosos sobre denominações evangélicas,
essa é a Igreja pentecostal mais aberta do país.

Características

Uma das características peculiares a essa Igreja é um modelo próprio de


hierarquia eclesiástica: o diácono está sujeito ao presbítero, e este ao
pastor. Deus fala diretamente ao pastor, e esse ao presbítero, e este com o
diácono. O presbítero tem ordem para abrir a cortina e falar com o
sacerdote (pastor), mas o diácono não pode fazer isso diretamente. A
igreja O Brasil para Cristo foi a única igreja pentecostal que se aventurou
a se filiar ao “Conselho Mundial de Igrejas”, instituição bastante criticada no meio evangélico, pelo fato de
reunir ecumenicamente qualquer tipo de credo, debaixo do apoio do FMI – Fundo Monetário Internacional,
grupo que comprovadamente apoia o movimento Nova Era. Quando da inauguração do grande templo no Largo
da Pompéia (1979), quem pregou foi Philip Potter, secretário do FMI, estando na platéia o arcebispo católico
Paulo Evaristo Arns, que foi saudado pelos presentes com a frase: “Eu amo meu irmão católico!”

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No ano 2000 a BPC já contava com 600 mil fiéis e 2 mil pastores, a maioria espalhados por São Paulo, Paraná
e Rio Grande do Sul, possuindo templos na Argentina, Peru, Uruguai. Bolívia, Portugal, Espanha, Dinamarca e
Japão. Vale registrar que a Igreja desligou-se no FMI em 1986.

Manoel de Mello – o fundador


O pernambucano Manoel de Mello, que morava em São Paulo, exerceu uma série de atividades ligadas à
construção civil, enquanto servia a Deus por na Assembléia de Deus e depois na Igreja do Evangelho
Quadrangular. Em 1955,

sentiu que Deus o chamava para uma grande obra de avivamento, passando a
iniciar um novo trabalho de pregação do evangelho, a chamada Igreja
“Evangélica Pentecostal o Brasil para Cristo.”
Manoel de Mello era muito polêmico, fazia declarações bombásticas,
destemidas, “jogando farpas pra todo lado”. Em 1989, durante o regime
militar, pregando numa praça pública na cidade de Tatuí/SP, entre outras
coisas, ele disse o seguinte: A maioria dos pregadores ensina os crentes a
serem fracos, e alguns ensinam até a orar por essas autoridades que estão por
aí, baseados no versículo que diz: “Orai pelas autoridades constituídas!” E eu
oro. Só que para autoridade constituída que dirige o povo de acordo com a
Palavra de Deus. Quando a autoridade dirige o povo de acordo com a vontade
de Satanás, não merece o nosso respeito. A mensagem que ele pregou naquela
noite baseava-se em Ezequiel 37, sobre o vale dos ossos secos. Segundo
registros da própria instituição, a pregação foi tão impactante que 1.018 almas
confessaram publicamente a Jesus como Senhor e Salvador, naquela
oportunidade, n]ao incluindo aí dezenas de pessoas que não puderam ser
cadastradas no momento, devido à grande aglomeração. Numa outra oportunidade, no Estádio da Fonte Nova
em Salvador, ele pregou por cinco dias contra a feitiçaria, sendo ameaçado por milhares de macumbeiros
vestidos de branco, com velas nas mãos. Pelas coisas que dizia, Mello foi preso 27 vezes, acusado de
curandeirismo, desrespeito às autoridades, etc. Visitou mais de 130 países do mundo e construiu um templo em
São Paulo com mais de 6.000 metros quadrados, incluindo o átrio. Uma das histórias pitorescas contadas em sua
Igreja, está aquela em que o padre Martinho Lutero ao voz de Deus, caiu por terra e foi batizado com o Espírito
Santo. Ao se levantar fez o maior roubo do universo: entrou nos aposentos do papa e roubou a Bíblia Sagrada,
mandou imprimi-la e começou a cobrir a Alemanha com a Palavra de Deus. Ainda segundo ele, o papa, muito
irado, reuniu mais de 70 cardeais, mas de 1.000 bispos e todo o exército da Itália para dar cabo de Lutero, que
não se rendeu às ameaças.

6.7 Igreja Pentecostal Deus é Amor


Essa Igreja foi criada em decorrência das experiências de um rapaz chamado
David Miranda, que veio com sua família do Paraná para São Paulo. Católico
fervoroso, após um período de divergências com seus familiares, que estavam
se convertendo ao Evangelho, ele mesmo teve um encontro do Jesus, sentindo
um desejo imenso de criar uma nova instituição evangélica. Em 1962, sem
dinheiro e sem fiéis, solteiro e sem ordenação sacerdotal, ele alugou um salão
no bairro de Vila Maria, onde organizou a sua Igreja, pagando o aluguel dos
três primeiros meses com a indenização da saída do seu trabalho. Com um
mês de funcionamento o trabalho já contava 70 adeptos e ele foi eleito pastor
da Igreja. Em 1975 a Igreja adquiriu um enorme armazém na Baixada do
Glicério, comportando 10 mil pessoas, tornando-se a sede nacional da organização, sendo que em 1991 a Igreja
já possuía aproximadamente 5.500 templos, mais de 15 mil obreiros, além de missionários em vários países
como Paraguai, Uruguai e Argentina.
Características
Essa denominação é considerada a mais legalista entre todas as Igrejas pentecostais. Para se ter idéia, vejamos
algumas das suas exigências: as mulheres e os homens sentam-se em alas separadas; homens não podem usar
roupas vermelhas; mulheres não podem usar sapatos de salto alto (máximo de 30 cm), anticoncepcional; os fiéis
não podem participar de brincadeiras de “Amigo Secreto”; não é permitido estudar Teologia; seus membros não
podem se relacionar com membros de outras denominações, pois são consideradas mundanas. Porém, ao
contrário da Assembléia de Deus e da Congregação Cristã do Brasil, denominações também consideradas
legalistas, a “Deus é Amor” fez do rádio seu maior meio de comunicação com os incrédulos. Muitas pessoas
23
enxergam que a Igreja Universal do Reino de Deus copiou uma série de atitudes da “Deus é amor”, como o
modismo de utilizar obreiras uniformizadas, a prática de exorcismos escandalosos, onde entrevistavam os
demônios, o grito de “Queima! Queima!” para fazer com que os demõnios saiam dos corpos das pessoas, o
condicionamento de que a bênção chega à medida em que as ofertas acontecem, etc. Porém, as imitações ficaram
por aí, pois a Deus é amor é muito mais amadora e culturalmente ultrapassada do que a Universal. Há poucos
anos atrás a Igreja se viu enredada num grande escândalo financeiro, saída ilegal de divisas para o estrangeiro,
em reportagens que desmascararam o luxo e ostentação em que vivem David Miranda, seus filhos e genros, suas
mansões tanto aqui como nos Estados Unidos.

David Miranda, o fundador


Em 1957, David Miranda, católico praticante, foi para São Paulo com sua família em busca de melhores
condições de vida, oriundo do Paraná. A irmã mais velha, a mãe e os outros irmãos foram se convertendo em
igrejas evangélicas, menos David. Como a mãe quis destruir as imagens de santos que tinha em casa, David
chegou a romper relações com a família, preparando a sua saída de casa. Porém, no momento em que ia para
casa pegar suas coisas, passou por um local onde se cantava “...a graça de Jesus jamais me faltará...” e ele sentiu
um impulso muito grande em entrar naquele lugar. Entrou, sentou, e ouviu o pregador falando sobre o sacrifício
de Isaque. Caiu em prantos e rendeu-se ao Senhor, ali mesmo. Na saída da igreja, ao voltar para casa, ajoelhou-
se em plena rua, pediu perdão a Deus pelos seus pecados, prometeu abandonar seus vícios, como o cigarro,
jogando fora a carteira que estava no seu bolso. Porém, o orgulho não lhe permitiu contar ainda para à sua família
o que lhe havia acontecido. Ato contínuo, ele mesmo colocou as imagens de santos num saco e as deixou num
terreno baldio próximo de sua casa. Naquela semana, ele
assistiu a todos os cultos daquela igreja, sendo que no sábado
participou de uma vigília de oração, onde foi batizado com o
Espírito Santo. A partir dali, leu a Bíblia inteira duas vezes
seguidas, e sentiu de Deus que participaria de uma grande
obra, mas não sabia onde, nem como. A revelação veio com a
frase “Deus é amor”, que ele imaginava ser o nome de uma
Igreja. Por não encontrá-la é que entendeu que ele mesmo é
que deveria iniciar essa Igreja. Segundo sua autobiografia,
ele sempre foi chamado de “O maior pregador de curas
divinas”. Seu nome está gravado em todas as placas externas
que identificam a Igreja Pentecostal “Deus é Amor”, tanto nos
templo brasileiros como de outros países.

Pr.David Miranda

6.8 Renovação Carismática Católica

O movimento carismático da Igreja Católica aconteceu num sítio


localizado na Pensilvânia (EUA), em 1967, pertencente à diocese de
Pittsburg. O derramar do Espírito aconteceu num final de semana,
enquanto um grupo de 25 estudantes e dois professores da faculdade local
buscavam tal experiência. Eles cantavam hinos gregorianos e faziam
orações espontâneas, ao mesmo tempo em que estudavam os quatro
primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos. As pessoas do grupo estavam
habiatuadas a ler livros pentecostais e esperavam pelo batismo com o
Espírito Santo.
Naquela experiência de falar línguas e com o avivamento da fé pessoal,
houve a preocupação de que as pessoas se debandassem para igrejas
pentecostais, com as quais já tinham contatos anteriores. Por isso,
firmaram um acordo de que nenhum deles deixaria de ser católico.

O movimento chega ao Brasil


Em 1970, três anos depois desse acontecimento, Harold Rahm e Eduard Dougherty, missionários jesuítas
norte-americanos, trouxeram a renovação carismática para o Brasil, quando retiros alcançaram o mesmo
propósito dos universitários da Pensilvânia, começando por Campinas/SP. Essas reuniões, passando a ser
chamadas de “Experiências de Oração”, foram se multiplicando pelo país, promovendo o despertamento da
vida espiritual de muitos católicos atuantes. Um ano depois, um padre chamado Jonas Abib abraçou a Renovação
24
Carismática de corpo e alma, sendo que, em 1978, fundou a
“Comunidade Canção Nova” com o propósito de evangelizar
através do rádio, jornal, TV, livros, CDs, etc. Em 2000, a
comunidade já possuía nove estações de rádio em sete estados e a
TV Canção Nova, com 34 retransmissores pelo país. A sede do
movimento fica em Cachoeira Paulista, onde trabalham 120
pessoas. Após vinte anos de atividade, percebe-se um
enfraquecimento no movimento, apesar de, aparentemente, contar
com 8 milhões de adeptos e 60 mil grupos de oração. Nem todos
os bispos aprovam o movimento carismático, sendo que alguns
apenas acompanham, outros respeitam e outros criticam Além do
movimento Canção Nova, ainda existem outros dois, o
“Movimento Focolares” e o “Caminho Neocatecumenal”.

A visão dos protestantes


A princípio, as igrejas protestantes vêem com simpatia a atividade carismática, apreciando a ênfase dada
a Jesus, a busca pela leitura Bíblia, a oração, o desejo de louvar, a busca dos dons e do poder do Espírito Santo
e o desejo de evangelização, atitudes pouco comuns entre os católicos comuns. Porém, as barreiras começam
quando os carismáticos reafirmam insistentemente sua crença em Maria como “Mãe de Deus”, “Mãe da Igreja”,
“Esposa do Espírito Santo”, etc., práticas contrárias aos ensinos bíblicos. O cardeal Suenens se defende dizendo
que “não devemos querer separar o que Deus uniu”, quando se refere à união mística de Maria com o Espírito
Santo, para que o Verbo se fizesse carne. São afirmações como essas que deixam os evangélicos pentecostais e
não-pentecostais de “cabelo em pé”.

7. O MOVIMENTO NEOPENTECOSTAL

Quando observamos, à luz da gramática da Língua Portuguesa, o nome “Neopentecostalismo”, aprendemos


que o seu prefixo NEO (novo) junto ao substantivo PENTECOSTALISMO, referem-se a uma forma ainda mais
nova de se praticar o “Pentecostalismo” surgido em 1906. Consultando o site de Augustus Nicodemus Lopes,
vemos que este novo movimento, surgido nos últimos anos, é um desdobramento do pentecostalismo clássico,
abandonando algumas ênfases e adquirindo marcas próprias, através de revelações diretas, curas, batalha
espiritual, e uma forma sobrenaturalista de encarar a realidade. Ainda segundo esse site, o movimento percebe
Deus somente em termos de Sua ação extraordinária, guiando o seguidor na vida diária através de impulsos,
sonhos, visões, palavras proféticas, com soluções miraculosas, sendo que tudo sempre acontece através da
prática de livramentos, exorcismos e curas. Paulo Ayres Mattos, doutor em Teologia pela Drew University of
New Jersey, Estados Unidos, e pastor metodista, é mais enfático quando afirma que a era do denominacionismo
acabou. Ele considera as atuais denominações evangélicas e pentecostais clássicas como estruturas burocráticas,
com discutível poder institucional, muito afastada do crente comum. Segundo ele, para o crente atual, não faz
qualquer sentido ser metodista, batista, presbiteriano, assembleiano, ou seja lá o que for. Ele se considera apenas
um crente, um evangélico. Paulo Mattos continua, dizendo que é nesse caldo religioso pós-moderno que crescem
as igrejas neopentecostais independentes, onde não prevalece o poder das burocracias eclesiásticas, mas o
carisma religioso de seus líderes. Encerrando, de acordo com os pesquisadores Waldo César (luterano) e Richard
Shaul (presbiteriano), pertecentes a igrejas tradicionalmente litúrgicas,
“as igrejas históricas devem rever suas formas de culto e experiência religiosa, fazendo uma releitura de
sua herança de fé e missão.”

7.1 Igreja Universal do Reino de Deus

Edir Macedo e seu cunhado RR Soares eram membros da “Igreja da


Nova Vida”, no bairro de Botafogo/RJ, denominação não aberta a
costumes e com tendências ao ecumenismo, inclusive com católicos. Essa
foi a primeira Igreja a adotar o sistema episcopal no Brasil. Por motivos
pouco conhecidos, Edir Macedo e seu cunhado RR Soares deixaram a
denominação para fundar a “Igreja da Bênção” (1977), no bairro da
Abolição, Rio de Janeiro, sendo que no ano seguinte o nome foi trocado
para Igreja Universal do Reino de Deus. Pouco depois, os pastores RR
Soares e Miguel Ângelo se separaram de Macedo, vindo a fundar,
respectivamente, a “Igreja Internacional da Graça de Deus” e a “Igreja
25
Cristo Vive”. Com 33 anos de idade, Macedo precisou deixar seu trabalho para poder dedicar todo o seu tempo
à denominação, que é totalmente brasileira, a exemplo da “Deus é Amor” e “O Brasil para Cristo”. Uma
característica desta denominação é a grande e repetida evasão de dirigentes, como RR Soares, Miguel Ângelo,
Carlos Magno, Roberto Augusto Lopes, inclusive alguns sendo co-fundadores da instituição. Problemas de
entrosamento são os motivos apresentados. Em 1984, com 17 anos de funcionamento, a IURD já possuía 1.000
templos, 2.700 pastores e um milhão de membros espalhados pelo Brasil, Estados Unidos, Portugal, Angola e
quase toda a América Latina. Além dos templos comprados ou arrendados, a Universal possui uma rede de
estações de rádio e televisão, jornais, editora, gráfica, construtora e até um banco. A “Folha Universal” é um
jornal quinzenal com uma tiragem de 1,5 milhão de exemplares, transformando-se no maior jornal protestante
do país. Os artigos contra os mitos católicos e espiritismo são grosseiros e sem a menor piedade, sem temer
represálias.

Características
O que mais atrai fiéis à Universal não são as curas, exorcismos, línguas estranhas ou outras características
parecidas com outras igrejas, mas a Teologia da Prosperidade, muito utilizada também pela “Igreja Internacional
da Graça de Deus”, e pela ADHONEP (Associação de homens de negócios do Evangelho Pleno), uma doutrina
de origem norte-americana — Helph and Welth Gospel (Evangelho da Saúde e da Opulência). Isso faz com que
a Universal não consiga comunhão com as demais denominações evangélicas por causa dos excessos ligados à
prosperidade essa doutrina ensina a prática da afirmação positiva, onde se encontram a fé e a oferta em dinheiro,
normalmente acima da própria possibilidade do doador, sempre com a promessa de que tudo voltará em
quantidade nunca vista antes. Eles ensinam que “Fé é dar o que não se tem.” Verdadeiros leilões de oferta são
feitos durante as reuniões. Eles criam novidades seguidamente, como trocar dinheiro por “azeite abençoado”,
por “areia de Jerusalém”, “bomba milagrosa”, “fitinha do não-sei-o-quê”, etc. Os pastores chegam ao ponto de
prometerem orações personalizadas por algum tempo para as pessoas que derem mais ofertas. Já aconteceu
reunião em que as pessoas que tinham recebido oração teriam que passar em fila pelo pastor, tocando a sua
gravata. O Pastor Elben Lenz César (2000) considera nefasta essa teologia, pois transforma a oferta em
instrumento de privilégios materiais e não em gratidão, adoração. Para ele, essa prática deturpa gravemente o
verdadeiro culto e o verdadeiro evangelho. Os anos mostram que essa doutrina têm criado um ninho de cristãos
materialistas e mundanos. A IURD ensina a seus fiéis a não se sujeitarem à miséria, incentiva-os a abrirem seus
próprios negócios, etc. Um comentário na mídia definiu a Universal como “a combinação de uma igreja
pentecostal com uma agência de cura divina”, pois une a preocupação nas demandas particulares com a demanda
espiritual de salvação. Enquanto incentivam a leitura da Bíblia, só incentivam livros editados pela própria
denominação, o que lembra um pouco o obscurantismo da Idade Média, quando o conhecimento dos leigos não
era incentivado pela Igreja. Também lembra o comportamento da “Congregação Cristã do Brasil”, que só
aconselha a aquisição da Bíblia e de hinários. Na IURD pouca ou quase nenhuma mensagem bíblica é pregada,
e as que acontecem normalmente mantêm relações com dinheiro. Em meio a tudo isso, a “Ceia do Senhor” é
servida a todas as pessoas que estiverem presentes, em copinhos de plástico, não importando se são batizadas
em águas ou não, ou se pertencem a alguma denominação evangélica. Após a cerimônia, todos devem amarrar
os copinhos utilizados, pois estarão “amarrando os pecados”.

Bispo Edir Macedo


Ao contrário da maioria dos dirigentes denominacionais
que estão na mídia, Edir Macedo tem sido discreto, sendo
que pouco se sabe de sua vida privada. Nascido em 1944 no
interior do Estado do Rio de janeiro, foi para a capital aos 17
anos de idade para trabalhar numa agência lotérica. Depois
de uma pequena passagem pela Umbanda, ele se converteu
na “Igreja da Nova Vida”, que fica no bairro de Botafogo,
no Rio de Janeiro, onde conheceu seu cunhado RR
Soares. Em 1977 fundou a “Igreja da Bênção” com seu
cunhado, que logo passaria a se chamar “Igreja Universal do
Reino de Deus. De 1986 a 1989 ele morou nos Estados
Unidos, enquanto sua Igreja era administrada em São Paulo. Bispo Edir Macedo
Ele começou a ganhar promoção na mídia quando da compra
da TV Record e da eleição de três deputados federais e
quatro estaduais, época de conhecidos conchavos com Collor e Maluf, procurando sempre repudiar as idéias
políticas de esqueda. Além de pastor, Edir Macedo é um excelente admistrador e empresário, o que explica a
natureza “sui generis” da Universal. Não exita em morar em palacetes e ter carros do ano.

26
Com uma certa arrogância, Edir Macedo, certa vez, fez a seguinte afirmação, para justificar o sucesso da
IURD:
“Já vivemos a pregação protestante com Lutero, a avivalista com John Wesley e agora temos que sair da
mera pregação carismática para a pregação plena.”

7.2 Igreja Internacional da Graça de Deus


O nome do fundador da Igreja é Romildo Ribeiro Soares, um capixaba do interior que veio para o Rio de
Janeiro em 1924. Na sua mocidade
lhe foi oferecida uma bolsa para estudar Medicina numa faculdade de
Moscou, mas ele abriu mão desse projeto, para poder se dedicar à obra.
A princípio, RR Soares e seu cunhado Edir Macedo eram membros da
“Igreja da Nova Vida”, no bairro de Botafogo/RJ, denominação não
aberta a costumes e com tendências ao ecumenismo, inclusive com
católicos. Ambos deixaram a denominação para fundar a “Igreja da
Bênção” (1977), no bairro da Abolição, sendo que no ano seguinte o
nome foi trocado para Igreja Universal do Reino de Deus. Em1980 RR
Soares sentiu que deveria iniciar o seu próprio trabalho, segundo a visão
que Deus lhe dava. Segundo conta o Missionário RR Soares, certa noite ele sonhou que estava entregando
folhetos evangelísticos em uma vila, na qual havia uma loja de artigos de feitiçaria. Dentro do estabelecimento,
encontravam-se três mulheres que, ao verem o missionário com os folhetos sobre o Evangelho, correram em sua
direção. Porém, Soares não conseguia entregá-los, pois havia uma cerca invisível que os separava. Após várias
tentativas, perguntou a Jesus o que fazer, e teve como resposta que deveria jogar os folhetos por baixo da cerca.
Fez conforme a orientação e as mulheres pegaram os folhetos. Quando acordou, entendeu imediatamente que
Deus queria que ele evangelizasse especificamente nessa, área. Entendeu que mesmo não conseguindo entrar lá,
ele alcançaria as almas de algum jeito. A primeira “Igreja da Graça” a ser inaugurada foi no município de Duque
de Caxias/RJ, seguido de outros lugares como Guadalupe, Parada de Lucas, Terminal Américo Fontenele, São
João do Meriti e Niterói. Seu ministério, entretanto, só começou a ganhar reconhecimento público em 1977,
quando iniciou pela antiga Rede Tupi de Televisão um programa diário de TV que funcionou como uma
perseguição aos adeptos da feitiçaria. empos depois Deus proporcionou a oportunidade do seu programa de
televisão do Rio de Janeiro também ser transmitido em São Paulo. Em alguns meses, a Igreja da Graça
inaugurava sua primeira igreja lá, na Praça da Sé. A partir daquele momento, o ministério se expandiu para o
interior do Estado, onde hoje, somado à grande metrópole, já existem mais de 350 locais de pregação.

Atualmente, essa denominação mantém um programa de televisão que atinge todo o território nacional,
comprando horários de mais de uma rede, inclusive em horário nobre. As estações de rádio foram mais uma
porta aberta para a divulgação do Evangelho. A extinta Rádio Relógio, de alcance nacional, foi comprada e a
Nossa Rádio FM, com estações no Rio, São Paulo e Minas Gerais, edificam a vida de milhares de ouvintes por
meio das músicas e mensagens de fé. Nesse mesmo pensamento, a Graça Music lançou mais de 70 títulos de
Cd´s lançados desde 1999. Atualmente, a Igreja da Graça possui mais de 1.000 templos espalhados por quase
todo o país, Uruguai, Japão, Estados Unidos e Portugal. Além da televisão, existe a revista Graça, livros
publicados pela Graça Editorial, fundada em 1983.

Características
O Missionário R. R. Soares, ao fundar a Igreja da Graça,
estava apavorado diante do espaço dado pela mídia aos
macumbeiros e às obras das trevas, naquela época, sendo que o
país caminhava rapidamente em direção ao precipício
espiritual. A ousadia dos praticantes da magia negra e a
covardia dos pregadores eram tais que, certa vez, um
macumbeiro colocou um despacho na porta de uma filial da
igreja em que ele era membro. Enquanto aguardava-se o
caminhão de lixo para retirar o despacho, o pastor da igreja usou
a porta lateral para entrar, pois tinha medo de R.R. Soares
demônios. Apregoando a autoridade concedida ao cristão para
expulsar demônios e desfazer toda a obra do diabo, o
Missionário RR Soares partiu para um combate espiritual, travado inicialmente na cidade do Rio de Janeiro,
utilizando um programa de televisão. Em poucos dias, a cidade toda se apaixonou pela mensagem do programa
e as conversões começaram a ocorrer às centenas. Eram pais e mães de santos, junto com seus familiares que
vinham entregar-se completamente ao Senhor. Começava o primeiro programa evangelístico da televisão
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brasileira. Assemelhando-se aos propósitos da Igreja Universal, a Igreja da Graça também dá um enfoque
exagerado às doutrinas da prosperidade e da cura, apesar de dar muita importância à pregação da Palavra de
Deus. O missionário viaja todo mês pelo Brasil para realizar campanhas de curas e milagres.

8. O JOIO E O TRIGO
Agora, depois de se ver como tudo começou, os pioneiros, os mais diversos ministérios, as mais diferentes
formas de
evangelizar, perguntamos: Por que tantas denominações
se separam umas das outras para iniciar um novo
trabalho? Logo vemos a resposta saltando aos olhos: Muita
luta interna, muita busca pelo poder, muita defesa
sobre “aquilo que eu penso é melhor”.
Quanto às igrejas pentecostais, apesar das muitas buscas
pelo poder do Espírito Santo, como se viu desde 1900, é de
estranhar que a maioria dos livros editados a partir desse
período tenha dado uma tremenda preferência pela terceira
pessoa da Trindade, o Espírito Santo, em detrimento de Jesus
Cristo, o Salvador, o centro de todas as doutrinas bíblicas, de
capa a capa. Boa parte das igrejas pentecostais e
principalmente as neopentecostais da atualidade vêm numa
busca desenfreada pela cura, expulsão de demônios,
prosperidade financeira, etc., o que tem sido motivo de escárnio pela imprensa secular, dada a vulgarização que
certas denominações têm dado a essa atividade espiritual. Outra coisa importante a ser analisada, é a incansável
busca pelos dons do Espírito Santo (línguas, profecias, cura), dando-se menor importância aos frutos do Espírito
Santo (amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, etc.) tão enfatizada em Gálatas 5:22,23. São
as Sagradas escrituras quem nos alertam para a presença de joio no meio do trigo, e isso tem sido pouco
observado pelos cristãos da atualidade. É Mateus 13:36-43 quem diz para não esquecermos da constante
presença do joio, nem de quem o plantou, ou seja, o inimigo do Filho do Homem. É preciso que se diga que
nenhuma Igreja está vacinada contra o joio. O joio pentecostal e o joio tradicional estão igualmente
representados pela inveja, pelo ciúme, vaidade, sede de poder, endeusamento do homem, mentiras, visões e
revelações forçadas, exegeses tendenciosas, escândalos envolvendo dinheiro e sexo, línguas inventadas, coisas
ridículas, impurezas doutrinárias, abuso de autoridade, ditaduras eclesiásticas, soberbas sectária, e mais uma
série de disvirtuamentos da Palavra de Deus. Elber Lenz César (2000) diz que o verdadeiro avivamento vai
muito mais além do passar pelos êxtases e línguas e por visões sobrenaturais; vai muito mais além do vigiar os
outros com a Bíblia aberta nas línguas originais, de modo a detectar policialmente qualquer pequeno desvio
alheio de conduta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho visou mostrar que o Reino de Deus é composto de
uma grande variedade de obras, que as coisas nem sempre
aconteceram como as vemos hoje. Muitas das Igrejas tradicionais
costumam ser ridicularizadas por causa de certas coisas que
defendem tão ardorosamente. Será que os costumes rígidos pregados
anteriormente não foram o caminho mais curto para uma conversão
segura, numa determinada época? Será que os vestidões defendidos
em muitas denominações não respondem mais de perto às
orientações bíblicas do que as minissaias e blusas decotadas da
atualidade, que muitos defendem comodamente com a alegação de
que o que vale é o coração? Esse é apenas um exemplo das diferenças
de pensamento entre as Igrejas de outro tempo e as atuais. Em meio a tantas visões do Reino de Deus, em meio
a essa variedade de pregação do Evangelho, é preciso que os pentecostais respeitem mais os históricos, pois
foram eles que vieram primeiro, foram eles que abriram as clareira, onde nada havia, encontrando terreno
virgem, animais selvagens, índios antropófagos, tudo isso em meio à falta de liberdade religiosa, distâncias
quase inatingíveis, falta de transporte, comunicação, para que os crentes atuais possam desfrutar dos recursos
da modernidade.
Muitos deles, talvez, tenham tido uma visão bem mais ampla do Reino de Deus do que muitos de nós, hoje,
com toda a liberdade e comodidade que temos, dentro dos belos e confortáveis templos, com ar condicionado,
com agua mineral, onde a maioria chega em belos carros, e onde a mensagem é mais facilmente entregue graças
28
aos microfones, câmaras, mouses, etc. Seria bom lembrarmos que enquanto a Igreja Primitiva levou 30 anos
para evangelizar o mundo urbano da época — Jerusalém (55 mil habitantes), Éfeso (300 mil), Corinto (500 mil),
Atenas (250 mil), Roma (500 mil), contando só com Paulo, Pedro, Barnabé, Silas, Timóteo, Lucas e mais alguns,
nós, atualmente, gastamos 500 anos para fazer o mesmo só aqui no Brasil, apesar de muita gente ainda não ter
sido alcançada. Por outro lado, vê-se também um sarcasmo das igrejas tradicionais sobre o comportamento
despojado dos pentecostais. Consideram mais correto buscar a Deus em cultos frios, mecânicos, do que na
“gritaria” dos pentecostais. As Igrejas ficam perdendo tempo olhando e criticando o modus operandi das outras,
ao invés de olharem todas juntas para Jesus, o Salvador, verdade que nenhuma delas contesta, na realidade.
Quanto à Igreja Católica Apostólica Romana, o que se viu, neste trabalho, foi que esqueceram a ordem de Jesus
em proceder a uma evangelização pessoal, fazer discípulos, batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, conforme está escrito em Mateus 16. A preocupação do clero sempre esteve centrada apenas em batizar
e manter o alto número de fiéis. Olhando em todas as direções, precisamos entender que evangelizar não é apenas
tirar alguém católico de lá e trazê-lo para cá, ou convencer irmãos de fé a se batizarem nas águas, ou convencer
irmãos de outra denominação que o mais importante é guardar o sábado. Para muitos evangélicos pentecostais,
por exemplo, evangelizar ainda é tirar alguém da geladeira e colocá-lo no fogo! É bom que se diga que quem
converte o pecador ouvinte da mensagem da Salvação é Deus, e não a argumentação do evangelizador. Por outro
lado, quem anuncia a boa nova da Salvação não é Deus, nem os anjos, mas o homem que já O conhece.
Vejamos agora algumas definições sobre o que significa o verbo Evangelizar e o substantivo Evangelismo:
“Evangelizar é como uma caminhada lenta, normalmente com altos e baixos, até que, finalmente, ela se
materialize de forma pública e convincente para todos aqueles que estão à volta.” (Elbem Lenz César, escritor)
“Evangelismo é compartilhar Cristo a toda e qualquer pessoa com a qual você se encontra, através de palavra
falada, livros, folhetos e através de desenhos e pinturas.” (Joni Eareckson Tada) “Evangelismo é proclamar as
boas notícias, deixando os resultados absolutamente nas mãos de Deus.” (Luís Rodrigues, jornalista espanhol)
“Evangelizar é executar o testamento do Cristo ressurreto, cujo centro está em ganhar almas para o Cordeiro.”
(Frans Leonard Schalkwijk, missionário holandês) “Evangelismo abrange todos os esforços no sentido de
declarar as boas novas de Jesus Cristo, com o objetivo de que as pessoas entendam a oferta da Salvação de Deus,
tenham fé e tornem-se discípulos.” (Billy Graham, pregador) Evangelização é a proclamação das boas novas da
Salvação em Jesus Cristo, visando levar a efeito a reconciliação entre o pecador e Deus Pai, mediante o poder
regenerador do Espírito Santo.” (Timothy Weber, Doutor em História da Igreja) Quanto a missões, é preciso
que se deixe registrado um dado interessante. De evangelizados, os países da América Latina se transformaram,
hoje, em evangelizadores. A tocha da evangelização mundial já esteve nas mãos de Israel, da Europa, da América
do Norte, mas agora está nas mãos dos terceiro-mundistas, pois a percentagem de evangélicos abaixo da linha
do Equador já é muito maior do que a do Hemisfério Norte. O Brasil, por exemplo, de campo missionário passou
a ser uma das novas nações que inverteram o quadro: em vez de receber missionários, envia missionários para
todo o mundo. Há quem diga que existem mais missionários brasileiros do que jogadores de futebol em terras
estrangeiras. Na verdade, de uma forma geral está acontecendo uma globalização missionária, pois todos os
países, os ricos e os pobres, recebem e mandam missionários.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CÉSAR, Waldo; SHAULL, Leopoldo. Pentecostalismo e futuro das igrejas cristãs. Petrópolis: Vozes, 1999.
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PAIVA, Josér Maria de. Colonização e catequese. São Paulo: Cortez, 1982.
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REIS, Álvaro. O Marthyr le balleur. Rio de Janeiro: 1917.
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VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos pecados: moral, sexualidade e inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1997.

Créditos:
Compartilhe

Por: Walmir Damiani Corrêa - Publicado em 15/08/2016


Procedência - Livro: “História da Evangelização do Brasil — dos jesuítas aos neopentecostais”

https://www.elevados.com.br/artigo/507/brasil:-500-anos-deevangelizacao.html

Copilado, adaptado, atualizado, e formatado por:


Pr. Cícero, professor do curso livre de Teologia pela Escola de Ministros Academia de Deus na Igreja
Assembleia de Deus Boas Novas – Convalidado em Bacharel em teologia pela:

Ouvidoria: 0800 720 3322 | ouvidoria@fatin.com.br


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