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ArqRio na História

CADERNO ESPECIAL - 8 de maio de 2022 - Ano I - nº 8

Parte integrante da edição 1265


De 8 a 14 de maio de 2022
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Efeméride Eclesiástica Carioca:


130 Anos do Arcebispado do
Rio de Janeiro
N
este mês de abril, a Arquidiocese do Rio de Janeiro celebra os Sede Metropolitana era a Arquidiocese de São Salvador da Bahia, tendo por
130 anos de sua criação. Para compreender a importância dessa sufragâneas as Dioceses de São Sebastião do Rio de Janeiro, Olinda, São Luis
efeméride, importa voltar um pouco ao contexto da Igreja no Brasil do Maranhão, Belém do Pará, São Paulo, Mariana, Cuiabá, Goiás, São Pedro do
no século XIX. Rio Grande do Sul, Diamantina e Ceará. O Governo republicano, já em janeiro
de 1890, decretou o fim do Catolicismo como Religião oficial do País, bem
Com a proclamação da independência em 1822 e a promulgação da
como do regime do Padroado, cessando assim o gerenciamento da hierarquia
Constituição Imperial de 1824, 2 artigos da referida Constituição atrelavam
eclesiástica por parte do Estado e a obrigação de sustento da atividade da Igreja.
intimamente a Igreja ao Estado e instituíam o regime do Padroado Imperial
respectivamente: o artigo 5º prescrevia a Religião Católica Apostólica Diante da necessidade de reorganizar-se no contexto do novo regime
Romana como a Religião oficial do Império, e o artigo 102, parágrafo que vigoraria a partir de então, o Episcopado brasileiro reuniu-se em São

segundo, conferia ao Imperador do Brasil a prerrogativa de nomear os bispos Paulo no ano de 1890 e dessa reunião saiu a decisão de levar a cabo antigos

e prover aos chamados benefícios eclesiásticos, isto é, criar as circunscrições intentos de reorganização da hierarquia eclesiástica no Brasil, o que foi

episcopais ou dioceses. remetido à Santa Sé logo em seguida.

Apesar de repousar na autoridade do Imperador a criação das Deste modo, pela Bula Ad universas orbis ecclesias, de 27 de abril de 1892,

circunscrições episcopais, para que isso se efetivasse era preciso apresentar o Santo Padre Leão XIII reorganizou a hierarquia eclesiástica no Brasil, que

um projeto de Lei ao Parlamento, que como todo projeto de Lei precisava ser até então constava de um só Arcebispado na Bahia e 11 Bispados sufragâneos.

discutido e conquistar maioria de votos para ser aprovado, seguindo assim Para isso, criou duas Províncias Eclesiásticas: uma ao Norte tendo por Sede

para a sanção do Imperador e a solicitação à Santa Sé da bula de criação Metropolitana a Bahia; outra ao Sul, da qual seria Sede Metropolitana o Rio

do Bispado. Esse trâmite em muitas ocasiões impediu a Igreja no Brasil de de Janeiro, elevando o então Distrito Federal à categoria de Arcebispado.

ampliar a sua malha diocesana, pois não se queria aumentar as despesas Ao mesmo tempo, desmembrou do antigo Bispado de São Sebastião do
do Erário Imperial, visto que era dever do Estado o sustento do organismo Rio de Janeiro os Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, dos quais
de governo diocesano: bispo, vigário-geral, cabido de cônegos, seminário formou o Bispado de Niterói, e o Estado de Santa Catarina, que anexou ao do
para formação dos futuros padres etc. Alguns projetos, aliás, começaram Paraná, separando-o do Bispado de São Paulo, para deles formar o Bispado
a ser apresentados ao Parlamento já na década de 1830 propondo a criação de Curitiba. Separou igualmente ainda do Bispado do Pará o Estado do
de um Arcebispado no Rio de Janeiro, para que se pudesse não apenas Amazonas, do qual constituiu o Bispado deste nome. Por fim, desmembrou
elevar à dignidade arquiepiscopal a Igreja no Rio de Janeiro, mas com isso do Bispado de Olinda os Estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, que
reorganizar o episcopado brasileiro e instalar no Rio de Janeiro um Tribunal formaram o Bispado da Paraíba.
da Relação Eclesiástica, a 2ª instância à época para os processos canônicos.
Desta forma, ficaram sufragâneas da Arquidiocese da Bahia todas as
Ao longo de 67 anos do regime Padroado Imperial, somente 3 projetos Dioceses do Norte do Brasil, a saber: Amazonas, Pará, Maranhão, Ceará,
conseguiram vingar: um em 1826, tornando Dioceses as então Prelazias de Paraíba, Olinda e Goiás; e sufragâneas da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Goiás e Cuiabá; outro em 1847, constituindo em Diocese o território da então todas as do Sul, a saber: Niterói, Mariana, Diamantina, São Paulo, Curitiba,
Província do Rio Grande do Sul por bula pontifícia de 1848; e o último em Rio Grande do Sul e Cuiabá.
1853, criando a Diocese de Diamantina em Minas Gerais e a Diocese do Ceará
Encarregado pelo Santo Padre de dar execução à referida Bula Ad Universas
por bulas de 1854.
Orbis Ecclesias, o então Internúncio Apostólico no Brasil Dom Jeronymo Maria
Quando da proclamação da República em 1889, o Brasil estava organizado Gotti, OCD, determinou por Decreto de 22 de janeiro de 1893 que o território
em apenas 12 Dioceses, constituindo uma única Provincia Eclesiástica, cuja do Arcebispado ficaria constituído pelo então Distrito Federal – ou seja, o

EXPEDIENTE: Equipe: Vinicius Miranda Cardoso, Vanessa Bezerra, Contatos: Telefone 3231-3560
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Aclamação da Princesa Isabel,1887

Catedral do Rio de Janeiro em 1870 (Marc Ferrez)


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Município do Rio de Janeiro – com os mesmos limites deste, assim como pela Cidade e
Município de Petrópolis, encravado no Estado do Rio de Janeiro.

Continuaram, porém, a depender da jurisdição do Arcebispado do Rio de Janeiro as


paróquias do Estado de Minas Gerais, que antes faziam parte do antigo Bispado do Rio
de Janeiro, por não terem sido contempladas na Bula nem no Decreto executório acima
citado de 22 de janeiro de 1893. Ainda na década de 1890, essas paróquias foram anexadas
ao então Bispado de Mariana, assim como a Cidade e Município de Petrópolis ao Bispado
de Niterói, de forma que a partir de 1897 o território do Arcebispado de São Sebastião do
Rio de Janeiro passou a coincidir com o do Município do Rio de Janeiro.

Pela Bula Ad universas orbis ecclesias, a então Catedral Diocesana – outrora Capela
Imperial – foi elevada à categoria de Catedral Metropolitana. Palco de eventos marcantes
da religiosidade nacional de então, como as coroações, casamentos e batismos imperiais,
a Sé de Nossa Senhora do Carmo, localizada na Praça XV de Novembro, junto ao antigo
Paço do Governo Imperial no Centro do Rio, passava por processo de restauração desde
1889, de forma que os ofícios do Cabido e os Pontificais do último Bispo e do primeiro
Arcebispo do Rio de Janeiro, por exemplo, eram celebrados na vizinha Igreja da Ordem
Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo.

Com a elevação do Bispado de São Sebastião do Rio de Janeiro a Arcebispado cessou


a jurisdição do último Bispo, Dom José Pereira da Silva Barros, que porém continuou
a governar a Arquidiocese na qualidade de Administrador Apostólico até a posse do
primeiro Arcebispo.

Corrigindo situações controversas de então, o primeiro Arcebispo do Rio de Janeiro foi


nomeado pelo Papa Leão XIII em 12 de setembro 1893 na pessoa de Dom João Fernando
Tiago Esberard, até então Bispo Diocesano de Olinda, que tomou posse do Arcebispado por
procuração aos 6 de janeiro de 1894 em cerimônia realizada na Igreja da Venerável Ordem
Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo – que à época servia provisoriamente de
Catedral –, fazendo seu ingresso solene no Arcebispado aos 24 de agosto de 1894.

REFERÊNCIAS:
ARQUIVO DA CÚRIA METROPOLITANA DO CMRJ_CRI_SD_Cx097_UD01.htm. Acesso
RIO DE JANEIRO, códice E-232, fls. 1-10v. em: 26 abr. 2022.
(BULLARIO do Arcebispado de São Sebastião
BRASIL. Constituição Politica do Imperio
do Rio de Janeiro, t. 3).
do Brazil (de 25 de março de 1824). Brasí-
ARQUIVO DO CABIDO METROPOLITANO DO lia: Presidência da República, [20--]. Dis-
RIO DE JANEIRO. Cx. 097, fls. 76-78v. (Li- ponível em: https://www.planalto.gov.br/
vro de tombo da Catedral e Capela Impe- ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm.
rial). Disponível em: http://acmerj.com.br/ Acesso em: 26 abr. 2022.

PADRE ERALDO DE SOUZA LEÃO FILHO


Doutorando em História Social – UFRJ
Mestre em Teologia – PUC-Rio
Professor de História da Igreja – ISCR/ArqRio
Coordenador da Comissão Histórica do
Quinquênio Jubilar Arquidiocesano
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Bula do Santíssimo Senhor Nosso o Papa Leão XIII


Sobre a nova sagrada hierarquia a ser constituída no Brasil
LEÃO, BISPO,
Servo dos servos de Deus,
Para perpétua memória do fato.

O
Romano Pontífice, dirigindo com zelo sua
fraternal solicitude a todas as Igrejas do Orbe
em virtude do ministério do sagrado
Apostolado, eventualmente dispõe de medidas
que julga hão de aproveitar mais ao estado das mesmas
Igrejas e ao bem espiritual das almas que lhe foram
confiadas no Senhor. Por isso já de há muito a Sé Apostólica
desejou, e foi sempre seu principal cuidado e solicitude,
constituir novas Sedes Episcopais nas regiões brasileiras,
pelas quais provesse ao bem espiritual dos seus fiéis
cristãos. Por vezes, lá algumas Dioceses são tão extensas
e abrangem lugares tão remotos que os seus respectivos
bispos, ou por causa do incremento da população, ou por
causa das dificuldades e da grande distância dos caminhos,
não podem acudir às necessidades dos fiéis e ao andamento
regular da Igreja. E a Santa Sé não ocultou seu empenho
de atender aos interesses da Igreja, porém muitas vezes o
declarou ao poder civil, por intermédio de seus
representantes junto da nação brasileira, e quando as
ocasiões se ofereceram, de bom ânimo prevaleceu-se
delas para criar Dioceses a bem dos brasileiros. Levado
pelas mesmas razões Pio IX, nosso predecessor de feliz
memória criou no ano do Senhor de 1848 a Diocese de S.
Pedro do Rio Grande do Sul, depois no ano de 1854, as
Dioceses de Diamantina e Fortaleza, que produziram Papa Leão XIII

abundantes e salutares frutos em benefício das almas.


Corresponderam plenamente com os constantes cuidados da Sé Apostólica os sentenças eclesiásticas; das censuras e penas “a jure vel ab homine”, infligidas
intuitos piedosos dos Bispos do Brasil que, reunidos no ano de 1890 na cidade em qualquer ocasião ou por qualquer motivo, se de algum modo se acharem
de S. Paulo, declararam que seria de religião e de utilidade para o Brasil a implicados nelas; tão somente para conseguirem o efeito destas presentes;
criação de novas Sés Episcopais e suplicaram ao nosso venerável irmão o pelo voto da Congregação dos Nossos Veneráveis Irmãos os Cardeais da Santa
Arcebispo de Bahia que viesse a Roma e Nos transmitisse os votos de todos Igreja Romana encarregada dos negócios consistoriais, pelo Nosso Motu
sobre este assunto e que Nós pela Autoridade Apostólica Nos dignássemos levar próprio e por ciência certa e em virtude da plenitude do poder Apostólico
a efeito os mesmos votos. Nós também pensamos ser não só oportuno, mas até decretamos o que se segue: Primeiramente dividimos todo o território
necessário no Senhor condescender com os desejos manifestados pelos mesmos eclesiástico do Brasil em duas partes, a saber, em parte do Norte e parte do Sul,
Bispos, que são também os dos Católicos Brasileiros; portanto julgamos e dele assim dividido queremos que sejam constituídas duas províncias
conveniente erigir ali quatro novas Dioceses, e assim, existindo ali 16 Dioceses, eclesiásticas, a saber: do Norte e do Sul constituímos Metropolita da parte do
constituir também uma nova Província Eclesiástica. Portanto, ratificando e Norte o mesmo Arcebispo de S. Salvador, ao qual até agora esteve sujeito todo
levando a efeito o acordo dos preditos Bispos Brasileiros, para o efeito o Brasil em matéria eclesiástica, e sujeitamos-lhe como sufragâneas sete
mencionado, e tendo examinado e ponderado com madura deliberação tudo Igrejas Episcopais, isto é, as antigas de Belém do Pará, de S. Luís do Maranhão,
que em negócio de tal natureza deve se considerar e, absolvendo, e tendo por da Fortaleza, de Olinda e de Goiás, e também duas outras novas, como abaixo
absolvidos a todos e a cada um daqueles aos quais as presentes Letras interessam vão ser eretas e que se hão de chamar do Amazonas e Paraíba. Para a formação
de quaisquer sentenças de excomunhão, suspensão e interdito e outras desta nova Diocese do Amazonas, desmembramos para sempre, por autoridade
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Apostólica, o território do Estado deste nome, da Diocese de Belém, à qual até


agora pertencia, e o damos perpetuamente à Igreja do Amazonas por Diocese.
Fundamos perpetuamente a Sé e a Cadeira Episcopais na Cidade de Manaus, e
elevamos à dignidade de Igreja Catedral a Igreja dedicada a Mãe de Deus
Imaculada. Determinamos do modo que se segue os limites da Diocese do
Amazonas: Ao Norte a Guiana Inglesa, a República de Venezuela e a Nova
Granada. Ao Ocidente as Repúblicas do Equador e do Peru. Ao Sul a República
da Bolívia e a Diocese de Cuiabá, da qual se separa pelos rios Ji-Paraná e
Tapajós, desde a embocadura das Três-Barras até a confluência do Uruguatá,
que faz barra com o rio Tapajós. Ao Oriente os limites serão a Diocese de Belém
do Pará, separada pelos rios Nhamundá, pelos montes Parintins, de onde, por
uma linha reta, se segue até a esquerda do rio Tapajós, desde a região do
confluente Três-Barras. Para formar, porém, a nova Diocese de Paraíba
desmembramos para sempre o território do Estado desse nome e o do Rio
Grande do Norte, que até o presente fazem parte da Diocese de Pernambuco e
lho damos: fundamos na cidade da Paraíba a Sé e Cadeira Episcopais, na Igreja
intitulada Nossa Senhora das Neves, e por isso a elevamos para sempre à
dignidade de Catedral. Os limites Orientais e Boreais da Diocese da Paraíba
correrão desde o Oceano Atlântico até a foz do Rio Mossoró. Ao Ocidente o
limite será a cadeia dos Montes Apodi e Pajeú, pelos quais será separada da
Diocese da Fortaleza. Finalmente, ao sul se separará da Diocese de Olinda, pela Dioceses do Brasil em 1889
cadeia dos montes Cariris-Velhos e pela cadeia dos montes Imburanos em
linha reta até a foz do rio Goiana. Pelo que toca à parte do Sul, constituímos e
declaramos Metropolita da mesma o Bispo de S. Sebastião do Rio de Janeiro.
Por isso, pela autoridade apostólica, suprimimos e extinguimos sua Sé e Cadeira
Episcopais, o caráter, a natureza, e o que a constitui Catedral, para efeito da
nova ereção mencionada e para sempre a elevamos pela mesma autoridade
Apostólica ao grau e dignidade mais eminentes de Igreja Metropolitana, de
modo que a mesma, desde agora e para sempre seja chamada Igreja
Metropolitana e como tal exista e seja considerada; e, por conseguinte, de
todos e cada um dos direitos, honras, graças, favores, jurisdições, indultos e
privilégios, dos quais a outra Igreja Metropolitana de S. Salvador de fato goza
e está revestida por direito comum, do mesmo modo e sem nenhuma diferença
goze e seja revestida. Reduzimos, porém, o território desta nova Arquidiocese
ao antigo Município Neutro, a saber: a Capital da República com o seu território,
a ilha do Governador e todas as outras ilhas, assim como também a cidade e
município de Petrópolis. Queremos também que esta Igreja Metropolitana do
Sul, de S. Sebastião do Rio de Janeiro, tenha como sufragâneas, sete Igrejas
Episcopais, das quais cinco serão as antigas de S. Pedro do Rio Grande, de S.
Paulo, de Mariana, de Diamantina e de Cuiabá, às quais devem ser ajuntadas
duas novas Sés Episcopais, a saber: A de Niterói e Curitiba, do Paraná. A nova
Diocese de Niterói será assim constituída, constará dos Estados de Rio de
Dioceses do Brasil em 1893
Janeiro e do Espírito Santo, tirados os territórios dados à Igreja Metropolitana,
que deve ser constituída no Sul, e o Estado de Santa Catarina, que pertencia
Paranapanema, Sacaremine, Sturale, Stapirapuan e a cadeia dos montes Negros
primitivamente à mesma Igreja Metropolitana. Fundamos perpetuamente na
até o rio Mangapituba. Ao Sul se extremará da Diocese de S. Pedro do Rio
cidade de Niterói a Sé e Cadeira Episcopais e elevamos à dignidade de Igreja
Grande pelos rios Uruguai, Pelotas, Cerquinho e Barroca, e também por uma
Catedral a Igreja dedicada a S. Lourenço. Finalmente, a nova Diocese de Curitiba
linha reta para o Sul desde a nascente do rio Desertão. Finalmente, ao Ocidente
do Paraná constará do Estado desse nome e do Estado de Santa Catarina, o qual
se estenderá até os limites da República Argentina. Quanto às outras Dioceses
declaramos desmembrado da Igreja Metropolitana do Rio de Janeiro. Fundamos
a Sé e Cadeira Episcopais da nova Diocese na cidade de Curitiba e também que não mencionamos nas presentes Letras, julgamos que nada se deve alterar

elevamos para sempre à honra e dignidade de Catedral a Igreja dedicada à Mãe no estado das mesmas. Queremos que as novas Igreja Catedrais eretas, como

de Deus com o título de Nossa Senhora da Luz. Os limites da referida Diocese fica dito, conservada a plena igualdade de direitos, gozem do mesmo modo de

da parte do Norte serão a Diocese de S. Paulo, da qual se separará pelos rios todas e cada uma das honras, graças, indultos, privilégios e dos demais favores
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dos quais as outras Igrejas Catedrais no Brasil por direito comum participam e contrários à integridade da Fé e perniciosos aos costumes. Aos Bispos ainda
gozam. Do mesmo modo queremos que aquele que tiver o nome, o título, a compete ordenar preces públicas e outras obras de piedade, quando o bem da
preeminência, a dignidade e ministério Episcopal seja revestido e goze de todos Igreja ou do Estado ou do povo o exigir, de igual modo determinar ações de
e de cada um dos privilégios que são próprios aos Bispos. Igualmente queremos graças e peregrinações, regular os funerais e outras funções sagradas, convocar
que os fíéis das preditas novas Dioceses gozem dos mesmos direitos, privilégios e celebrar o Sínodo Diocesano, publicar suas atas, observar em tudo as
e honras de que gozam por direito comum os fiéis da Diocese a que são prescrições canónicas. Igualmente queremos que fique livre aos mesmos novos
incorporados. Portanto, a todos e a cada um dos fiéis que habitam as novas Bispos a escolha de idôneos Párocos e a sua canônica instituição, observando
Dioceses, constituídas como fica dito, exceto aqueles que gozarem de alguma com tudo o que se deve observar conforme o direito e o costume. Cuide muito
exceção, juntamente com os seus lugares vizinhos, com seus pios institutos e cada Bispo de conservar comunicação livre com a Santa Sé Apostólica, e ele
dependências, terras, cidades e juntamente com direitos reais, pessoais e mesmo procure com prudência remover as causas que possam obstar a essa
mistos; incorporamos e sujeitamos perpetuamente à sua Diocese ereta e liberdade. Também com todo o cuidado empenhem-se os novos Bispos para
queremos que sejam incorporados e estejam sujeitos para serem regidos e que a mocidade tenha como Professores e Mestres varões católicos, e o mesmo
governados pelo seu Bispo Ordinário, à cuja voz sempre e de bom ânimo ouvirão ensino, quer nas escolas públicas quer nas escolas privadas, seja ministrado
dóceis. Demais, todos os monumentos, direitos e documentos que dizem com todo o esmero conforme a doutrina católica. Porém determinamos, que
respeito aos povos que devem ser incorporados às novas Dioceses, os quais nenhuma supressão, ou união, ou alienação dos bens da Igreja se faça sem a
atualmente se conservam em cada uma das Dioceses que devem ser deixadas, intervenção da autoridade da Sé Apostólica, salvas as faculdades dadas aos
mandamos que daí sejam removidos e entregues ao arquivo da Diocese ereta, Bispos pelo Sagrado Concílio de Trento. Estatuímos as taxas canônicas em cada
para que no mesmo arquivo Episcopal sejam guardados e conservados. uma das expedições solenes das Letras Apostólicas todas as vezes que um novo
Julgamos que nada devemos determinar em relação ao patrimônio das ditas Bispo tiver de tomar um governo qualquer das ditas Igrejas novamente eretas,
Dioceses novamente constituídas. Porquanto conhecemos bem a piedade e em trinta e três florins de ouro de Câmera, e assim seja inscrito nos livros da
religião do Povo Brasileiro em promover a glória de Deus; por isso confiamos Congregação do Sacro Colégio dos Cardeais da mesma Santa Igreja Romana, e
que aos novos Bispos não hão de faltar o auxílio e assistência necessários para ordenamos que seja conservado no seu arquivo. Porém, tudo que diz respeito
exercerem o múnus pastoral e para que possam conservar decentemente a às coisas, direito e pessoas eclesiásticas, das quais não se faz menção nenhuma
dignidade Episcopal. E como muito importa que em cada uma Diocese se expressa nas presentes Letras, queremos que fique tudo ratificado e de todo o
preparem sacerdotes probos e doutos que, como oliveira frutífera nos campos ponto firme como dantes era; mas se sobrevier alguma dificuldade, deve ela
do Senhor, se apliquem não só aos ofícios divinos e eclesiásticos, como também segundo as leis canónicas, ser exposta a mesma Sé Apostólica e a esta Sé
à edificação das almas e à salvação eterna das mesmas; por isso mandamos pertence decidir, resolver e aplainar as dificuldades. Semelhantemente aquelas
que, logo que for possível, seja estabelecido o Seminário Episcopal e que os coisas que pertencem ao direito, ou a obrigações, ou a causas atinentes ao
Bispos empreguem todo o cuidado e vigilância em promover a disciplina e o eclesiástico, as quais não ficaram expressas na Nossa presente Constituição,
aproveitamento dos alunos do seminário, no qual sejam recebidos e formados, queremos que sejam regularmente tratadas e exercidas e administradas,
como prescreve o Concílio de Trento, aqueles jovens que os Bispos julgarem segundo a doutrina da Igreja e segundo a disciplina admitida pela Sé Apostólica.
que devem ser admitidos, conforme a utilidade e necessidade da própria Finalmente, se o bem das novas Dioceses, ou a utilidade pública o exigir, para
Diocese. Os Bispos livremente nomearão os Reitores e Professores do mesmo o futuro, uma nova circunscrição ou algum desmembramento, sem haver
Seminário, e os demitirão todas as vezes que julgarem necessário e útil. Urge nenhuma compensação de território, reservamos à Nós e a mesma Santa Sé
muito que os Bispos se empenhem para que a mocidade, que deve ser formada Apostólica, plena e livre faculdade de o executar. Queremos, estatuímos e
para esperança e incremento da Igreja, seja instruída na doutrina sagrada, mandamos estas coisas, decretando que as nossas presentes Letras e tudo o
bebida nas fontes do Dr. Angélico; pois, dos escritos de S. Tomás tirará que nelas se contém, em nenhum tempo, por nenhum motivo ou causa, ainda
argumentos com os quais demonstre vigorosamente os fundamentos da Fé que jurídica, legítima, privilegiada que seja, ainda porque as causas pelas quais
cristã, ensine as verdades sobrenaturais e repila da religião santíssima os foram ordenadas estas coisas não tenham sido aduzidas, verificadas e
nefários ímpetos de seus inimigos. Finalmente, mandamos que dependa justificadas, decretamos, que não sejam notadas, nem impugnadas, nem
unicamente do Bispo Diocesano tudo o que diz respeito ao regime, ordem e invalidadas, por vício de sub-repção ou ob-repção ou de nulidade, ou por
governo do Seminário; cada Bispo exercerá nele seu direito e sua livre e plena defeito da Nossa intenção, ou por qualquer outro defeito substancial,
liberdade. De mais fica aos Bispos a liberdade de promover ao estado clerical e substanciadíssimo e que requeira menção e expressão especial, individual, ou
às ordens sacras, segundo os cânones eclesiásticos, aqueles que julgarem no ainda porque nas coisas ordenadas ou em algumas destas coisas não tenham
Senhor úteis ou necessários à sua Diocese, e pelo contrário rejeitarem aqueles sido observadas e cumpridas as solenidades, ou qualquer outra cláusula que
que julgarem indignos ou incapazes da recepção das ordens. Enquanto, porém, devam ser observadas e cumpridas, ou por outro motivo, cor e pretexto, ou por
o novo Bispo não tiver cabido na sua Igreja Catedral, institua conselheiros outra razão ou causa, ainda tal que deva ser expressa necessariamente para
cooperadores de sua administração a eclesiásticos prudentes e probos aos quais efeito da validade destas presentes, nem sejam levadas a juízo e controvérsia
julgar dignos de sua plena confiança. Além disso cada Bispo se esforce para nem reconduzidas ad vam júris, nem se alcance contra elas qualquer recurso de
conservar intacta e inviolável a Religião Católica Apostólica Romana e a defenda direito ou de fato, de graça ou de justiça, nem também que qualquer use ou
com todos os seus direitos e prerrogativas, dos quais ela por ordenação divina possa socorrer-se em juízo, ou fora dele de alguma ordem semelhante
e canónica se acha revestida. Por isso com toda a diligência se acautelará e concedida ou impetrada; que as mesmas presentes de nenhum modo sejam
empregará todo o esforço para que não se introduzam ou divulguem erros compreendidas ou confundidas, sobre quaisquer revogações de graças
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semelhantes ou dessemelhantes, suspensões, limitações, derrogações ou outras disposições contrárias publicadas ou que devam ser publicadas, por quaisquer
Letras ou Constituições Apostólicas, ou pelas regras das Chancelarias Apostólicas, porém sempre sejam excetuadas delas, e quantas vezes de novo forem
publicadas, outras tantas sejam restituídas, restabelecidas e plenamente reintegradas e surtam e obtenham seus efeitos plenários íntegros, e deste modo sejam
julgadas por todos e assim e não de outra forma devem ser julgadas e definidas por quaisquer juízes ordinários ou delegados que exerçam qualquer dignidade,
ainda os Auditores das causas do Palácio Apostólico, e os Cardeais da mesma Santa Igreja Romana, legados a Latere e Vice-legados e Núncios da dita Sé, sendo-
lhes tirado a todos e a cada um deles qualquer poder, faculdade ou autoridade de julgar ou interpretar o contrário, e declaramos írrito e sem valor tudo o que
qualquer autoridade ciente ou ignorantemente atentar contra o que fica prescrito. Por isso, pelas presentes Letras, Nós encarregamos e mandamos ao Nosso
Venerável Irmão Jeronymo Gotti, Arcebispo Titular de Petra, Internúncio Apostólico junto ao Presidente e Governo da República Brasileira, que proceda à execução
de todas e cada uma das coisas que ficam ordenadas, conferindo-lhe para esse efeito todas e cada uma das faculdades de qualquer modo necessárias; como
também, se o mesmo Jeronymo Arcebispo, por si não possa executar tudo quanto fica acima disposto, possa contudo subdelegar a outra qualquer pessoa
constituída em dignidade eclesiástica. Não obstando Nossa Regra e a da Chancelaria Apostólica - De jure quaesito non tollendo - e as do último Concílio de Latrão,
que proíbem que se façam novos desmembramentos, se não nos casos permitidos pelo direito, e as regras especiais que já foram dadas e que se hão de dar nos
Concílios Sinodais, provinciais, gerais e universais ou em constituições gerais e ordenações Apostólicas, para todos os quais e cada um a parte ou qualquer outra
expressão devia ser tida, ou qualquer outra forma requerida deveria ser conservada, ainda que desses documentos se houvesse de fazer menção especial, específica
ou individual, não, porém, por cláusulas gerais que significam o mesmo, por Autoridade própria com ciência e plenitude do poder de que usamos em ocasiões
tais, só por essa vez, derrogamos todos esses teores como se contivessem nos documentos aludidos supra, palavra por palavra, e a fórmula da praxe neles fosse
observada, e tendo-os como plena e suficientemente expressos nestes presentes teores, permanecendo, aliás, os outros em seu vigor - isso especial e expressamente
para o efeito das presentes e validades de toda e cada uma das coisas acima ordenadas - ceterisque contrariis quibuscumque. Queremos, porém, que o mesmo
Jeronymo Arcebispo transmita um exemplar autêntico dos decretos e de todos os atos que forem publicados sobre este assunto para a referida Congregação dos
Nossos Veneráveis Irmãos Cardeais da mesma Santa Igreja Romana, encarregada dos negócios consistoriais, para que se guardem no arquivo da referida
Congregação ad perpetuam rei memoriam. Queremos também que aos transuntos das presentes Letras impressos, subscritos, por algum notário público e com o
selo de alguma pessoa eclesiástica, constituída em dignidade, se dê a mesma fé em juízo, ou fora dele, a mesma que se daria às presentes, como se fosse exibido
o seu original. A ninguém, portanto, seja lícito infringir, ou com arrojo temerário contrariar, esta nossa Carta de absolvição, de desmembramento, de adjudicação,
de fundação, de ereção, de separação, de declaração, de supressão, de extinção, de elevação, de adição, de reserva, de sanção, de ordem, de derrogação e de
vontade. Se, porém, alguém se atrever a um tal atentado, saiba que há de incorrer na indignação de Deus Onipotente e dos bem-aventurados Pedro e Paulo
Apóstolos. Dada em Roma, junto a S. Pedro, no ano da Encarnação do Senhor de 1892, no dia quinto das Kalendas de Maio, décimo quinto ano do nosso Pontificado.

(Lugar de Selo.)

Luigi Pericoli
Regente

Giovanni Ponzi
Abbreviatore

Agostino Bartolini
Abbreviatore

Expedida no oitavo dia das Kalendas de Novembro do ano décimo quinto.

-Vimos, examinamos este exemplar impresso da Bula Apostólica que começa: “Ad Universas Orbis Ecclesias” dada pelo Nosso Santíssimo Padre, Leão XIII, no dia
quinto das Kalendas de maio de 1892, achamos conforme ao texto original e o declaramos autêntico. Para fé do que subscrevemos estes exemplares com o Nosso
nome e o munimos com o nosso selo. Dado em Petrópolis, no dia 22 de janeiro de 1893.

Frei Jeronymo Gotti


Arcebispo de Petra

Internúncio Apostólico e Legado extraordinário da Santa Sé no Brasil

João Baptista Guidi


Auditor da Internunciatura Apostólica
TESTEMUNHO DE FÉ | 8 DE MAIO DE 2022 ARQRIO NA HISTÓRIA 9

Decreto da Internunciatura Apostólica


de Execução da Bula
Ad Universas Orbis Ecclesias
FREI JERONYMO MARIA GOTTI,

DA ORDEM DOS CARMELITAS DESCALÇOS,

Por Graça de Deus e da Santa Sé Apostólica,

Arcebispo de Petra,

Internúncio Apostólico e Legado Extraordinário da mesma Santa Sé na República dos Estados Unidos do Brasil.

DECRETO

C
om a carta escrita ex-ofïcio de Roma, da-
tada do dia 19 de Novembro de 1892, com
o número 9319, Nos foi transmitida pelo
Eminentíssimo e Reverendíssimo Sr. Ma-

rianno Rampolla, Cardeal da Santa Igreja Romana, Se-

cretário de Estado de Nosso Santíssimo Padre, o Papa

Leão XIII, a Bula do mesmo Santíssimo Padre, dada

no ano da Encarnação do Senhor de 1892, no dia 5 das

Kalendas de Maio, no XV ano do seu Pontificado, expe-

dida, porém, no dia oitavo das Kalendas de Novembro

do mesmo ano, que começa Ad Universas Orbis Ecclesias

e trata da nova Hierarquia Sagrada que deve ser criada

no Brasil. A qual Bula Apostólica a Nós mandada, como

fica dito, vimos, examinamos, reconhecemos e testi-

ficamos ser perfeitamente autêntica. Tendo o mesmo

Nosso Santíssimo Padre, o Papa Leão XIII, se dignado

ordenar-Nos que déssemos execução a todas e a cada

uma das coisas, que estão contidas na referida Bula

Apostólica, concedendo-Nos para este fim todas e cada

uma das faculdades de qualquer modo necessárias e

oportunas, Nós Frei Jeronymo Maria Gotti, Arcebispo

de Petra, Internúncio Apostólico e Legado Extraordi-

nário da Santa Sé na República dos Estados Unidos do

Brasil, querendo dar execução ao mandato Apostólico


Dom Jeronymo Maria Gotti, Internuncio
e usar das faculdades a Nós benignamente concedidas,

pelo nosso presente Decreto executivo, em virtude da Autoridade Apostólica que Nos foi conferida, determinamos estatuímos e mandamos o que segue,

a saber:
10 ARQRIO NA HISTÓRIA 8 DE MAIO DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ

I. Criamos e declaramos criadas quatro novas Dioceses no Brasil, que devem ser denominadas do Amazonas, Paraíba, Niterói e Curitiba do Paraná, como o terri-
tório e limites fixados na referida Bula Apostólica para cada Sé, e Cadeiras respectivas. Porém, por um Decreto especial, que deve ser por Nós expedido, para cada
uma das quatro novas Dioceses, Nós providenciaremos singular e especialmente sobre tudo o que diz respeito em particular à criação de cada uma.

II. Dividimos em duas Províncias Eclesiásticas todo o Território Eclesiástico Brasileiro, contendo as doze dioceses já existentes e as quatro novas agora criadas, e
em tudo dezesseis Dioceses, de modo que uma e outra Província constará da Sé Metropolitana e de sete Igrejas Episcopais.

III. Constituímos Metropolita da Província Norte o Arcebispo de S. Salvador da Bahia, e sujeitamos-lhe como sufragâneas as sete Igrejas Episcopais: as antigas
de Belém do Pará, de S. Luís do Maranhão, da Fortaleza, de Olinda, de Goiás e as novas chamadas do Amazonas e da Paraíba; e ordenamos que todos e cada um
dos Bispos das sete Dioceses sufragâneas reconheçam como seu Metropolita o mesmo Arcebispo de S. Salvador da Bahia, para todos os efeitos de direito conforme
os sagrados Cânones.

IV. Levantamos a grau e dignidade mais eminente de Igreja Metropolitana a Sé e Cadeira até agora Episcopais de S. Sebastião do Rio de Janeiro, sendo observado
tudo o que se deve observar conforme o teor da referida Bula Apostólica, sobre o que providenciaremos por um Decreto especial.

V. Constituímos Metropolita da Província do Sul o Arcebispo de S. Sebastião do Rio de Janeiro, e a ele sujeitamos como sufragâneas sete Igrejas Episcopais: as
antigas de S. Pedro do Rio Grande, de S. Pedro, de Mariana, de Diamantina, de Cuiabá, e as novas denominadas de Niterói e Curitiba; e ordenamos a todos e a
cada um dos sete Bispos das Dioceses sufragâneas que reconheçam como seu Metropolita o mesmo Arcebispo do Rio de Janeiro, para todos os efeitos do direito
conforme as disposições canónicas.

VI. Quanto às outras Dioceses, das quais nenhuma menção faz a referida Bula Apostólica, muitas vezes citada, declaramos que nada se alterou no estado e limi-
tação das mesmas.

VII. Ademais, pelo vigor das mesmas amplíssimas faculdades a Nós concedidas, mandamos que o atual Vigário Capitular de S. Salvador da Bahia e o atual Bispo
de S. Sebastião do Rio de Janeiro continuem a exercer a jurisdição ordinária, o regímen e a administração sobre as respectivas Dioceses, como até agora, até que
sejam eleitos os Arcebispos de S. Salvador da Bahia e de S. Sebastião do Rio de Janeiro: e do mesmo modo que os atuais Bispos de S. Sebastião do Rio de Janeiro, de
Belém do Pará, de Olinda e de S. Paulo, do território de cujas Dioceses foram desmembradas partes para constituir as novas Dioceses, como fica dito, conservem a
jurisdição ordinária, o regímen e administração sobre as partes desmembradas do território, até que os quatro Bispos eleitos das novas Dioceses tenham tomado
posse canônica do seu respectivo Bispado.

Mandamos que seja remetido um exemplar impresso da referida Bula Apostólica que começa Ad Universas Orbis Ecclesias reconhecido e declarado autêntico por
Nós com este nosso Decreto de execução a todos e a cada um dos Exmºs. e Revmºs. Srs. Bispos do Brasil, para que conheçam em forma autêntica as disposições
Pontifícias e as Nossas, e cada um por sua parte as observe e faça executar Contrariis quibuscumque non obstantibus…

Dado em Petrópolis, na residência da Internunciatura Apostólica, no dia 21 do mês de Janeiro do ano 1893.

Frei Jeronymo Maria Gotti

Arcebispo de Petra

Internúncio Apostólico e Legado Extraordinário da Santa Sé no Brasil

João Baptista Guidi

Auditor da Internunciatura Apostólica.


TESTEMUNHO DE FÉ | 8 DE MAIO DE 2022 ARQRIO NA HISTÓRIA 11

O Primeiro Arcebispo
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Nasceu João Fernando Tiago Esberad em Barcelona, Espanha,


a 10 de outubro de 1843, filho do belga Francisco Teodoro
Esberard e da espanhola Antônia Feliciana Eulália Herthing
Esberard. Vindo para o Rio de Janeiro com seus pais quanto
tinha nove anos, João Esberard Fez seus estudos no colégio
das Irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo, desde cedo
apresentando sinais de vocação sacerdotal. A pobreza fami-
liar, porém, retardou sua entrada no Seminário São José, que
se deu aos 21 anos, em 1864. No Seminário mostrou-se aluno
de grandes virtudes religiosas e intelectuais, dominando o
francês e o espanhol, bem como o latim, ganhando gran-
de admiração e estima do então reitor Mons. José Gonçalves
Ferreira, fundador e redator do jornal O Apóstolo.

Foi ordenado presbítero na capela do Seminário em 24 de


agosto de 1869, recebendo a imposição das mãos do bispo
do Rio de Janeiro D. Pedro Maria de Lacerda. Inicialmente
lecionando no Seminário São José e em outras instituições
de ensino da capital do Império, em 1873, com a saúde de-
bilitada, é transferido para a função de capelão do Carmelo
de Santa Teresa. Ali se destacará como pregador exímio,
atraindo grande número de ouvintes aos seus sermões do-
minicais. Segundo um testemunho da época, “muitos ho-
mens de mérito e saber quiçá imbuídos de preconceitos,
subiam a montanha em que se acha o convento de Santa
Teresa para ouvi-lo e de lá desciam encantados pelo que
tinham presenciado”.

Ao ofício de pregador uniu também o de colaborador do aci-


ma citado jornal O Apóstolo, empregando a pena de modo
D. João Esberard, primeiro Arcebispo do Rio de Janeiro
especial no período da chamada “questão religiosa”, quan-
anos da entrega da Rosa de Ouro dada pelo Papa Leão XIII à Princesa Isabel, e
do o Império entra em conflito com a Igreja em torno da
19º aniversário da Lei do Ventre Livre. Escolheu como lema o dito de São João
maçonaria, chegando a prender o bispo do Pará, D. Macedo Costa, e o bispo de
Batista: “illum oportet crescere” – “importa que ele cresça” (Jo 3, 30), trazendo
Olinda, D. Vital, em 1873. Empregando sua inteligência e erudição na defesa
em seu brasão a imagem do Cordeiro de Deus.
da Igreja e de seus prelados, vai ser apelidado pelos seus inimigos de “bota-
-fogo”, pela força e intrepidez de seus textos na imprensa. Com o falecimento de D. Pedro Maria de Lacerda em novembro daquele ano,
o bispo de Olinda, D. José Pereira da Silva Barros é transferido para o Rio de
Por essa época ir à Europa, para tratamento de sua debilitada saúde, sendo re-
Janeiro, e D. João Esberard assume a diocese pernambucana. Porém, ficará em
cebido com louvores pela intelectualidade do velho continente. Será convidado
Pernambuco por breve tempo, pois em 27 de abril de 1892 o Papa Leão XIII
a fazer parte da Academia da Arcádia, importante círculo literário fundado em
elevava a diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro à condição de Arquidiocese
Roma no séc. XVII, e receberá do Papa Pio IX o título de Camareiro secreto su-
pela bula Ad universas orbis ecclesias, e por um breve datado de 12 de setembro
pranumerário de Sua Santidade, passando a ter como pronome de tratamento
1893 D. João Esberard era transferido de Olinda para ser o primeiro o primeiro
“monsenhor”.
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro. Seu retorno ao então Distrito Fe-
Em 1890 Mons. João Esberard era nomeado bispo titular de Guerra e coadjutor deral, porém, será atrasado por um relevante fato histórico: naquele setembro
de Olinda, sendo sagrado por aquele que lhe havia ordenado sacerdote e que de 1893 estoura no Rio a Revolta da Armada, rebelião dos militares da Marinha
sempre o tivera como filho espiritual, o último bispo do Império e Conde de contra o Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto. Mas enfim, em
Santa Fé, D. Pedro Maria de Lacerda. A sagração aconteceu na Igreja do Sagra- 24 de agosto de 1894, conseguia o primeiro Arcebispo desembarcar no porto de
do Coração de Jesus do Seminário São José, hoje Igreja da Venerável Irmandade sua Arquidiocese. Mons. Antônio Alves Ferreira dos Santos, importante histo-
do Príncipe dos Apóstolos São Pedro, no Rio Comprido. A data escolhida para riador da história eclesiástica carioca, descreve a chegada de D. João Esberard
a cerimônia, 28 de setembro, tinha um sabor especial: era o aniversário de 2 conforme ele mesmo presenciou:
12 ARQRIO NA HISTÓRIA 8 DE MAIO DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ

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ACERVO DO SEMINÁRIO SÃO JOSÉ. FOTO DE RAFAEL SANTOS I0015861-2-0-002272-001500-006829-004508.JPG

“Aqui desembarcou no
Cais dos Mineiros e se-
guiu para o Palácio ar-
quiepiscopal da Con-
ceição, a pé, pela rua
Visconde de Inhaúma,
largo de Santa Rita, rua
dos Ourives e ladeira da
Conceição, estando esse
pequeno trajeto todo
juncado de flores e en-
galanado com festões
vistosos, bandeirolas e
galhardetes de diversas
cores, arcos de triunfo
com dizeres alusivos ao
bom Pastor recebido no
aprisco de suas ovelhas,
no meio de estrondosas
festas. Em sua passagem
e ao chegar ao Palácio, é
saudado e cumprimen-
Jornal O Apóstolo noticia a morte do
tado por todos com vivas Arcebispo em janeiro de 1897

demonstrações de afeto”.

O novo Arcebispo recebeu o pálio pastoral no dia 1 de setembro, das mãos do


Internúncio Apostólico, D. Fr. Jerônimo Maria Gotti e, no dia seguinte, 2 de se-
tembro de 1894, um domingo, saindo da capela do antigo prédio do Seminário
Brasão episcopal de D. João Es-
berad, cujo lema era “illum oportet São José no morro do Castelo, segue em procissão, acompanhado do Cabido, do

crescere” – “importa que ele cresça” clero e do povo, até a então Catedral de Nossa Senhora do Carmo na Praça XV,
(Jo 3, 30)
onde inaugura, enfim, como primeiro Arcebispo, a Arquidiocese de São Sebas-
tião do Rio de Janeiro.

Apesar do curto período de seu governo episcopal, pois que morreria prematu-

Por essa época irá à Europa, para ramente três anos após sua posse, em janeiro de 1897, D. João Esberard gran-
jeou a admiração de seu clero e de seus fiéis, sendo unânimes os testemunhos
tratamento de sua debilitada de seu zelo, humildade e fervor apostólico e principalmente por seu caráter

saúde, sendo recebido com amável e conciliador. Interessante é o testemunho do já citado Mons. Alves,

louvores pela intelectualidade do que dá provas da admiração conquistada até mesmo de homens hostis à fé:

“Quantas vezes, ao subir a ladeira da Conceição, vimos descendo homens co-


velho continente. Será convidado nhecidos como fomentadores de discórdias, humilhados diante da candura,
a fazer parte da Academia da simplicidade e sabedoria do grande Prelado? Diziam uns para os outros: agora,

Arcádia, importante círculo sim, temos homem para nos guiar, dirigir e governar! Este, sim, é um prelado
na altura de sua divina missão!”
literário fundado em Roma no
Sepultado na capela do palácio da Conceição, então residência episcopal, em
séc. XVII, e receberá do Papa seu túmulo foi colocado o epitáfio que ele mesmo ditou um dia antes de sua

Pio IX o título de Camareiro morte, epitáfio que reflete a simplicidade, piedade e consciência que tinha de
sua missão de pastor: Ad pedes Virginis Immaculatae expectat resurrectionem mor-
secreto supranumerário de tuorum Joannes Esberad primus Archiepicopus Fluminis Januarii. Orate pro eo.

Sua Santidade, passando a ter “Aos pés da Virgem Imaculada

como pronome de tratamento espera a ressurreição dos mortos


João Esberard, primeiro Arce-
EDUARDO DOUGLAS SANTANA
SILVA
“monsenhor”. bispo do Rio de Janeiro. Orai por SEMINARISTA DA
CONFIGURAÇÃO II
ele”.
TESTEMUNHO DE FÉ | 8 DE MAIO DE 2022 ARQRIO NA HISTÓRIA 13

O Cardeal Arcoverde e a
Reforma da Antiga Sé

O
Rio de Janeiro foi elevado ao grau de Arquidiocese em 1892, há 130 Os frades carmelitas chegam na última década dos Mil-e-Quinhentos e se
anos. Não demorou para que se projetassem intervenções na sede instalam na ermida (antes deles, os beneditinos foram hóspedes do local por
episcopal: a antiga Catedral de Nossa Senhora do Carmo, já neces- um breve tempo). Em 1619, os frades começam a construir seu convento no
sitada de reformas naqueles dias. Era preciso adequar o edifício ao terreno adjacente à capela do Ó. Tempos depois, a velha capela ruiu num de-
novo status da diocese, que passaria a ter a segunda catedral metropolitana do sabamento catastrófico, que soterrou muitas pessoas num dia de festividade.

país – depois de Salvador (BA)1. A igreja do Carmo, afinal, era antiga e já tinha Passada a tragédia, os carmelitas construíram uma nova igreja, no mesmo

uma longa história. local. Em 1761, foi lançada a pedra fundamental, com procissão solene.

Os fundamentos daquele templo vinham do século XVI. Fora construída ali, De súbito, o logradouro se torna o mais importante de toda a América Por-

pelos portugueses, a capela de Nossa Senhora do Ó – de início, quase solitária, tuguesa – já que, a partir de 1763, o Rio de Janeiro passava a ter o vice-rei do

emoldurada apenas pelo verde-musgo dos manguezais e vegetações rasteiras, Brasil despachando quase de fronte: no antigo Palácio dos Governadores, que

que então predominavam na paisagem, a poucos metros das ondulações sosse- hoje conhecemos como o Paço Imperial, ao lado da Praça XV. Com vista para o
mar e ainda não-urbanizado à época, aquele terreno da praça – chamado então
gadas da Guanabara. Sabe-se relativamente pouco sobre aquela pioneira casa
de ‘terreiro do Carmo’, entre outras denominações – era a menina dos olhos
de oração. Parte de suas fundações foram escavadas em 2007 pelos arqueólo-
dos frades. Qualquer projeto que se intentava ali – um curral, uma nova igreja
gos do Instituto de Arqueologia Brasileira, durante o restauro da Antiga Sé2.
catedral – era embargado pelos carmelitas. Afinal, tinham respaldo em docu-
Existe uma imagem sacra muito antiga de Nossa Senhora do Ó, hoje em exi-
mentos régios anteriores, muito bem guardados, proibindo que se construísse
bição no Museu Arquidiocesano de Arte Sacra (MAAS), no subsolo da catedral.
algo na frente da igreja e do convento, o que lhes tamparia a visão do mar que
Não se sabe, porém, se esta imagem pertenceu à capela. Faltam documentos
dali tinham, desde sempre.
que o comprovem. É tombada pelo IPHAN.
O estilo rococó, então em voga, começou a se manifestar na decoração in-
terna da nova igreja que se sobrepôs às ruínas da capela do Ó. É ainda
o estilo predominante internamente, com suas delicadas talhas dou-
radas sobre fundos claros. Há registro de que Mestre Inácio Ferreira
Pinto tenha adotado o estilo em suas intervenções, por volta de 1785.
É o que se observa no arco cruzeiro – especialmente, no entalhe do
dístico da ordem carmelita, atribuído a esse artífice. A este tempo,
o arco, a capela-mor e a nave, com seus retábulos de colunas torsas
salomônicas, já estavam prontos. Mas a ornamentação geral ficaria,
em breve, ainda mais requintada: com a chegada da família real por-
tuguesa, a igreja se tornou catedral e capela real, como se sabe.

Comissionado pelo príncipe D. João, José Leandro de Carvalho pin-


tou, por volta de 1811, o painel que adornou a tribuna do altar-mor, e
que não mais existe. Na composição da cena, Nossa Senhora do Car-
mo, rodeada por anjos celestiais, era reverenciada por membros da
família real peregrina, em terra. Na nave da igreja foram incrustadas
pinturas ovaladas dos doze apóstolos, também buriladas a óleo por
José Leandro e ainda existentes. Sem alterações drásticas de estilo,
o alemão Thomas Driendl criou depois a ornamentação das capelas
laterais internas, construídas em meados do século XIX.

Como capela real, desde 1808, e imperial, após a independência


de 1822, a igreja do Carmo sediou ritos de passagem e eventos da
família reinante, como batizados, casamentos e coroações. Em 1817,
o casamento de D. Pedro e D. Leopoldina. Em 1818, a aclamação de D.
João como rei. Em 1819, o batizado de D. Maria da Glória, filha de D.
Pedro e D. Leopoldina. Em 1822, no primeiro de dezembro, a coroação
Dom Joaquim Arcoverde, c.1890 de Pedro I, imperador do Brasil. Em 1829, o segundo casamento dele,
14 ARQRIO NA HISTÓRIA 8 DE MAIO DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ

Já em 1905, a primeira grande transformação da fachada: a


antiga torre sineira é demolida. Dois anos mais tarde já acon-
teciam as obras para se levantar uma outra, imponente, em
estilo eclético, então em voga. Ela sustentaria, em seu ápice,
uma imagem de Nossa Senhora da Conceição de 6 metros de
altura, em bronze – monumento ao jubileu de ouro do dogma
da Imaculada, que tinha completado 50 anos, em 1904. O pro-
jeto era do arquiteto italiano Raphael Rebecci. A torre teria 52
metros de altura e campanário para 7 sinos. Na face frontal,
um relógio e o brasão de armas de Arcoverde, com o chapéu
cardinalício. Mas as preocupações não se voltavam somente a
novidades externas. Também visavam à salvaguarda do pa-
trimônio interno. Em duas ocasiões, 1902 e 1908, foram feitos
inventários da prataria que havia na catedral.

Era pouco, ainda. Diante das transformações que o Rio


de Janeiro, Distrito Federal, vinha passando, a renovação da
igreja catedralícia era sentida como insuficiente. Enquanto
os vestígios de Cabral chegavam, em 1903, o prefeito Pereira
Passos estava em seu primeiro ano à frente da capital do país,
orquestrando os operários e as máquinas que destruiriam cor-
tiços, abririam avenidas afrancesadas, reformariam o porto e
ergueriam colossos da modernidade no coração da urbe cario-
ca. Quando a barulheira cessou e o glamour do novo centro se
estabeleceu, na década de 1910, o Rio acordou ‘Cidade Maravi-
lhosa’. Mas sua catedral ainda não estava à altura – a não ser,
talvez, o torreão, inaugurado em 1913. Paralelamente, ia sendo
construído, desde 1912, o Palácio São Joaquim, na Glória, pro-
jetado para ser a residência do Cardeal Arcoverde.
Fachada remodelada da Catedral. Augusto Malta, 1930
Houve um hiato, provocado não só pela falta de recursos, mas, quem sabe,
com D. Amélia. Em 1841, a aclamação do jovem D. Pedro II como imperador. também pelo cenário externo, onde a Primeira Guerra (1914-1918) e a gripe
Em 1843, o casamento dele com D. Teresa Cristina. Em 1846, o batizado da “espanhola” perturbavam o mundo inteiro. Somente em 1918, voltou-se a se
princesa Isabel. Em 1864, o casamento dela com o Conde D’Eu. falar da continuação das reformas. Dom Arcoverde estabeleceu uma comissão
responsável, composta por membros da alta sociedade. O arcebispo veio então
Foi-se a monarquia, veio a República. Junto às diversas transformações que
a público por meio de uma carta pastoral a respeito das “Obras da Cathedral
movimentaram a vida católica no Brasil e no antigo Distrito Federal, houve a
Metropolitana” e de uma portaria anexa, nomeando os membros da comissão.
elevação do bispado do Rio de Janeiro a Arquidiocese, em 1892. Já no ano se-
Ambas emitidas em 30 de novembro de 19183, um mês após o ápice da mortan-
guinte, em 1893, alguns orçamentos e contas relativos a pequenas reformas
dade de gripe, na cidade.
começaram a ser feitos. Porém, o primeiro arcebispo ficou pouco tempo. Dom
João Fernando Tiago Esberard (1893-1897) não pôde iniciar, eficazmente, a re- Na pastoral, o cardeal inicia sua fala colocando-se como o principal res-
ponsável por aquele templo físico. Afinal, diz, “entre os cuidados dos bispos,
novação da sé. Foi o arcebispo seguinte, o incansável Dom Joaquim Arcoverde
não ocupa o último lugar o que se refere à Casa de Deus, ao templo”. Assim, os
– primeiro cardeal brasileiro e latino-americano, purpurado em 11 de dezem-
pastores deviam se esforçar por “manter e promover oportunamente o decoro
bro de 1905, no pontificado de Pio X – quem conseguiu, aos poucos, efetivar
e esplendor das igrejas”. Evoca então o salmo “Domine, dilexi decorem domus
as adequações que o templo necessitava para corresponder aos novos tempos.
tuoe – Senhor, amei a formosura de tua casa” (Sl, 25, 8).
No apagar das luzes do século XIX, a sé do Carmo se tornava ‘catedral me-
Na sequência vem o primeiro argumento que transcende o dever da própria
tropolitana’, no ano de 1900. É no novo século que as mudanças ficam visíveis
mitra. Tal argumento se articula a um grande evento vindouro, que seria realizado
e palpáveis.
somente dali a quase quatro anos. Para o cardeal, era hora de prosseguir com as
Em 1903, uma relíquia é recebida de Portugal: os restos mortais do ‘des- obras necessárias, deixando a “querida Cathedral Metropolitana ficar em condi-
cobridor’, Pedro Álvares Cabral, vindos da igreja de Nossa Senhora da Graça, ções de realizar as festas pomposas, que se projetam, em 1922, centenário da In-
em Santarém. A urna pode ser visitada, ainda hoje, na cripta da mesma Antiga dependência”. Neste trecho, evocam-se implicitamente, talvez, os acontecimen-
Sé. A escolha da catedral do Rio de Janeiro – e não alguma igreja baiana, por tos históricos pregressos, relativos ao período em que o templo havia sido capela
exemplo – parece retroprojetar o Brasil de então (e sua capital) ao ano de 1500, real e imperial; e projeta-se um horizonte de expectativas de que a sé do Carmo e
como aspecto da construção da nacionalidade em curso. a Arquidiocese tivessem parte importante nas comemorações do Centenário.
TESTEMUNHO DE FÉ | 8 DE MAIO DE 2022 ARQRIO NA HISTÓRIA 15

A catedral é classificada pelo arcebispo, no parágrafo seguinte, como “mo- Interessante notar que a Reforma Passos tinha, entre suas intenções, trans-
numento nacional”. Ele diz: “terminá-la como convém deve ser e é um em- formar o Rio na “vitrine” do Brasil para atração de estrangeiros – tanto é que o
penho de honra para todos os habitantes desta religiosa e mui liberal cidade saneamento e as melhorias no porto foram uma das prioridades. Esse discurso
do Rio de Janeiro”. Não só por questões políticas. Dom Arcoverde reitera que a
foi empregado também pelo cardeal para mobilizar as doações para as refor-
grandiosidade dos templos “nos recordam, com suprema imponência, o domí-
mas. Igualmente notável é o uso de termos do período como ‘elegância’ e ‘ci-
nio do Altíssimo”. Por tudo isso, apela na carta à “generosidade magnânima”
vilização’ – embora, neste último caso, pareça sugerir que a ‘verdadeira’ civi-
dos súditos para que as obras, “tantas vezes interrompidas”, fossem retoma-
das, de modo que a “Casa de Deus, a Cathedral Metropolitana deste Arcebispa- lização era proporcionada pelo catolicismo desembarcado com os portugueses.

do não fique em plano inferior aos demais monumentos desta Cidade”. Quem Dom Arcoverde prossegue, sendo mais específico em relação às reformas
sabe a que monumentos se referia? Possivelmente, ao patrimônio de origem
urbanas, com suas modernosas avenidas e praças:
colonial ou imperial – “exemplos dos antepassados” – como as igrejas e con-
ventos. Mas também aos recentes prodígios urbanísticos do século, implanta- No momento em que se tem transformado esta cidade, pelo afor-
dos com a Era Pereira Passos. Não é mera impressão.
moseamento de seus edifícios, de suas ruas principaes, de suas

O cardeal desenvolve a argumentação, agora, de maneira explícita: praças e pela abertura da grande e bella avenida [Avenida Central,

atual Rio Branco], que é, certamente, um padrão de gloria para o


Que dirá o estrangeiro, ao visitar esta nossa bella capital, vendo
governo que a mandou abrir [Pereira Passos e Paulo de Frontin],
a Egreja Cathedral do Rio de Janeiro em um estado tão desolador,
como poderemos permitir que continue nossa Santa Egreja Ca-
que mais parece um edifício em ruínas? Terá por certo tentação
thedral no estado em que a vemos, reclamando urgente reforma?
de fazer de nossa fé e de nossos sentimentos religiosos juízo des-
Que contraste desagradável oferece esse exterior com a magnífica
favorável!
Praça que se estende à sua frente, e com o bello Desembarcadouro
Pois bem, irmãos e filhos muito amados, esforcemo-nos por tirar
fronteiro, que dá entrada na praça Quinze de Novembro aos innu-
ao estrangeiro, de uma vez, o apparente pretexto de pensar mal
meros passageiros, transportados pelos paquetes, que, de todos
de nossos sentimentos religiosos, dando à nossa Cathedral Me-
os paizes, demandam o nosso porto!
tropolitana o aspecto majestoso e elegante que convém à primeira

Egreja da capital deste grande paiz, que cresceu e se civilizou à luz O arcebispo recorda que esses motivos eram secundários, embora não de-
e ao calor da religião santa de nossos pais (...). simportantes. Mas o espiritual e o temporal, a questão religiosa e a política,

Largo do Paço. Marc Ferrez, 1870


16 ARQRIO NA HISTÓRIA 8 DE MAIO DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ

coexistiam, em sinergia: “o principal [motivo] é que, como


já voz dissemos, aquella é a Casa do Senhor, e a Cathedral
do Rio de Janeiro, capital do Brasil”.

Passa então a relembrar o cotidiano sagrado que se dava


internamente: ali estava o “sólio do Príncipe e Pontífice da
Egreja Fluminense”; faziam-se orações com “seu veneran-
do senado [o Cabido Metropolitano, composto por cônegos]
em nome do povo”; invocavam-se “os anjos, guardas po-
derosos das nações e dos homens”; implorava-se a prote-
ção dos santos, “pressurosos advogados dos mortaes”, e da
“dulcíssima Virgem, consoladora dos afflictos”; recorria-se
a Jesus Christo, “Redemptor da humanidade” e adorava-se
a Deus – “belleza sempiterna, justiça intemerata”; pediam-
-se “favores e benefícios espirituais”; rendiam-se públicas
e solemnes acções de graças”; renovavam-se as “solemnes
promessas do batismo”; cumpriam-se votos; faziam-se
sufrágios pelas “bendictas almas” dos purgatório – pais,
amigos, benfeitores etc.

O prelado se dirige ao clero secular e regular, às ordens


terceiras e irmandades de leigos, suplicando o “óbolo” que
permitiria “restaurar a grandeza de nossa veneranda Ca-
thedral Metropolitana” nesta “rica Metrópole Brasileira”.
E fala em valores: as obras estavam orçadas em cerca de
mil contos de réis. Desta forma, pedia aos seus arquidioce-
sanos, ricos ou humildes: “que lhe reserveis uma parte de
vossas liberalidades (...) um pouco das riquezas com que o
mesmo Deus vos felicitou; que dê pouco, quem tiver pou- Imagem de São Sebastião instalada em 1922
co; mais, quem tiver mais: fazei todos, porém, com alegria e espontaneidade,
como todos devemos fazer, quando damos ao Senhor”.
Cândido Gafrèe (sócio de Eduardo Guinle, ambos construtores das Docas de
Depois da assinatura e da data que finalizam a carta pastoral, vem a por-
Santos e empreendedores); Dr. Guilherme Guinle (um dos herdeiros de Eduar-
taria arquiepiscopal. Nela, se reconhece que a mitra não tinha dinheiro para a
reforma e se anunciam os nomes de ricos ou influentes beneméritos que for- do, empresário e industrial); o Comendador Manoel A. da Costa Pereira, (pre-

mariam a comissão das obras, voltada para a captação de recursos. sidente da Companhia Progresso Industrial do Brasil) e João Ferrer - ambos

administradores da Fábrica de Tecidos Bangu; os condes de Paes Leme (mé-


Sendo de urgente necessidade concluir no mais breve prazo pos-
dico, professor da Escola de Medicina) e de Affonso Celso (professor, literato,
sível as obras da Nossa Santa Egreja Cathedral Metropolitana e
político); Carlos de Láet (jornalista e polígrafo); entre outras personalidades.
não dispondo Nós dos meios precisos para tão árdua empresa,
Muitos deles, senão todos, conhecidos como ‘bons católicos’.
deliberamos chamar em Nosso auxílio o concurso generoso de

distinctos e abastados cavalheiros desta nobre e liberal cidade do As obras aconteceram. Uma nova Capela do Santíssimo, em estilo neoclás-

Rio de Janeiro. E tendo sido o Nosso convite recebido com benig- sico, já havia sido feita num dos braços do transepto4. A fachada da igreja foi

no acolhimento, como esperávamos: havemos por bem constituir, totalmente remodelada, esticando para o alto os pavimentos superiores. Só a
debaixo de nossa imediata presidência ou do Nosso Vigário Geral, parte térrea permaneceu com as características pombalinas, em pedra de can-
uma Comissão permanente, composta dos seguintes Cavalheiros, taria do século XVIII. Essa renovada fachada foi inaugurada em 1922, ano do
a cujos sentimentos de religião e caridade, com a mais bem fun- Centenário da Independência. Significativamente, o numeral do ano foi encra-
dada confiança, recordaremos.
vado lá em cima, no frontão. Pouco abaixo dele, num nicho, foi abrigada uma

imagem de mármore de 4,5m de altura, representando São Sebastião, o pa-


A Comissão tinha algumas dezenas de nomes masculinos, começando por
Monsenhor Dr. Fernando Rangel de Mello, o Vigário-Geral. Apareciam algu- droeiro da cidade – olhos ao Céu, peito desnudado, com uma flecha encravada

mas patentes militares, como almirantes; títulos aristocráticos, como condes nele. Foi o santo que teve suas festividades justificadas e ampliadas em carta

e comendadores; políticos, como ex-prefeitos e senadores; intelectuais, enge- pastoral de Arcoverde, em dezembro de 1919 – muito por conta do contexto da

nheiros, doutores e empresários industriais. Faziam parte dela os engenheiros redescoberta de suas invocações durante a gripe espanhola (1918). Nesta car-
Conde Paulo de Frontin (prestes a assumir a prefeitura) e Dr. Miguel Calmon; ta, podem-se vislumbrar as possíveis intenções de Sua Eminência para com a
os senadores Índio do Brasil e Rivadávia Corrêa (ex-prefeito); o Comendador imagem monumental do histórico padroeiro da cidade:
TESTEMUNHO DE FÉ | 8 DE MAIO DE 2022 ARQRIO NA HISTÓRIA 17

É com pesar que vemos descurado no seio das famíias, o culto Castelo – ainda não-completamente destruído. Tão perto e tão longe. Foi com
devido ao nosso grande protector. A sua imagem devia ser en- essa constatação decepcionante que Dom Sebastião Leme – já arcebispo-coad-
contrada em todas as egrejas, em todos os oratórios, nos palácios,
jutor de Dom Arcoverde – incentivou um grande evento eclesiástico: lançava as
nas choupanas dos pobres, porque deve ser elle, por excellencia, o
sementes do Congresso Eucarístico Nacional, a ser sediado pela Arquidiocese
santo da devoção dos habitantes desta cidade.
do Rio de Janeiro ainda naquele ano, também sob a justificativa dos 100 anos
Volte elle a occupar o lugar que lhe pertence. da Independência.

Não lhe tirem a dianteira outros santos que a devoção de particu-


Com a morte de Dom Joaquim, em 1930, uma cripta para abrigar seus restos
lares vae introduzindo contra o espírito da Egreja, e sem o bafejo
mortais foi preparada. Ali descansam eles, aguardando a ressurreição, tendo
da autoridade eclesiástica.
sobre si a Capela do Santíssimo. Assim, o Cardeal Arcoverde continua, a seu
S. Sebastião é nosso protector por títulos muito especiaes, quer modo, sustentando a sagrada edificação que foi, por muitos anos, o coração
litúrgicos, quer patrióticos (...).
5
pulsante da vida religiosa do Rio de Janeiro e, com algum exagero, do Brasil.

Junto aos ossos do ‘Descobridor’, às pedras vermelhas da capela do Ó e à areia


Apesar dos esforços pela catedral, não se pode dizer seguramente que a
Igreja Católica tenha tido o espaço que Arcoverde imaginava, no âmbito do pisada pelos tamoios, é também alicerce, pedra viva e fundamental da Antiga

Centenário. O principal evento comemorativo de 1922, afinal, foi a grande Ex- Sé – “Casa do Senhor” e “monumento nacional”, como escreveu em sua carta

posição Internacional, na esplanada que tomou o lugar do extinto Morro do pastoral.

FONTES:
1
A catedral primaz de Salvador foi elevada a catedral metropolitana em 1676, quando houve
o desmembramento que originou os bispados do Rio de Janeiro e de Olinda.
2
Em 1941, a igreja de Nossa Senhora do Carmo foi tombada pelo Serviço do Patrimônio Histó-
rico e Artístico Nacional, o SPHAN, antecessor do IPHAN. Com a construção da nova catedral
na Avenida Chile, a igreja passou a ser chamada de ‘Antiga Sé’. Por seus significados históricos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
como capela real e imperial no passado, o templo foi restaurado, tendo em vista os eventos do ENDERS, Armelle. A história do Rio de Janeiro. 2ed. Rio de Janeiro: Gryphus, 2008.
bicentenário da vinda da família real (1808-2008). Em 2007, a equipe de arqueólogos liderada
PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Restauração da Igreja de Nossa Senho-
pelo célebre arqueólogo Ondemar Dias trabalhou sob o piso da capela-mor, descobrindo ca-
ra do Carmo da Antiga Sé: caderno de educação. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do
madas de 5 momentos de ocupação diferentes, sendo a mais antiga aquela que, provavelmen-
Rio de Janeiro, Comissão & Fundação Roberto Marinho, 2007.
te, fez parte da capela do Ó, e que tinha aspecto avermelhado. Descobriram também vestígios
de mangue e areia, indicando a proximidade com o mar naqueles tempos. PREFEITURA DA CAVALCANTI, Dom Joaquim Arcoverde (Cardeal) de Albuquerque. Carta pastoral sobre as
CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Restauração da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da obras da catedral. Rio de Janeiro: Typ. Martins de Araújo, 1918 (Arquivo da Cúria Metropo-
Antiga Sé: caderno de educação. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, litana do Rio de Janeiro, CP-119).
Comissão & Fundação Roberto Marinho, 2007, p.8. CAVALCANTI, Dom Joaquim Arcoverde (Cardeal) de Albuquerque. Carta pastoral de 18 de
3
CAVALCANTI, Dom Joaquim Arcoverde (Cardeal) de Albuquerque. Carta pastoral sobre dezembro de 1819. Rio de Janeiro: Typ. Martins de Araújo, 1918 (Arquivo da Cúria Metropo-
as obras da catedral. Rio de Janeiro: Typ. Martins de Araújo, 1918 (Arquivo da Cúria Me- litana do Rio de Janeiro, CP-119).
tropolitana do Rio de Janeiro, CP-119). As citações em sequência são da mesma carta, exceto OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. Barroco e Rococó nas igrejas do Rio de Janeiro,
onde indicado. v.2. Brasília, DF: Iphan, Programa Monumenta, 2008 (Roteiros do Patrimônio, 2).
4
Há informações desencontradas sobre quando a nova Capela do Santíssimo Sacramento foi
edificada e não se tem uma data precisa dessa obra, nos trabalhos consultados. Tudo indica
que foi estabelecida em algum momento do arquiepiscopado de Arcoverde. O estilo adotado
para ela, contudo, é característico do século XIX.
5
CAVALCANTI, Dom Joaquim Arcoverde (Cardeal) de Albuquerque. Carta pastoral de 18
de dezembro de 1819. Rio de Janeiro: Typ. Martins de Araújo, 1918 (Arquivo da Cúria Metro-
politana do Rio de Janeiro, CP-119), p.5. Sobre as festividades de São Sebastião, a demolição
do Morro do Castelo e o Centenário da Independência no ano de 1922, ver ‘Uma semana
sacra e moderna: o São Sebastião no Rio de 22’ (ArqRio na História, v.6, p.2-8); sobre a carta
pastoral de Arcoverde, a gripe espanhola e o padroeiro como defensor contra a peste, ver
‘São Sebastião e as flechas da peste’ (Testemunho de Fé, v.1196, p.7); sobre a imagem de São
Sebastião e outras monumentos públicos do santo na cidade, ver ‘Padroeiro Monumental’
VINICIUS MIRANDA CARDOSO
(Testemunho de Fé, 1198, p.4). Doutor em história social (PPGHISUFRJ)
Professor da SME-RJ
Autor do livro “Cidade de São Sebastião”
Vencedor do prêmio anual do Arquivo da Cidade (2018)
18 ARQRIO NA HISTÓRIA 8 DE MAIO DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ

O complexo agrário do primeiro Bispo Brasileiro:


Dom José Joaquim Justiniano
Mascarenhas Castelo Branco
e o Capão do Bispo
Depois de tomar grau de licenciado na Faculdade de Cânones, recebeu em
Lisboa, no ano de 1754, a ordem presbiterial realizando a primeira missa na
Igreja do Convento de Odivelas. Neste convento, abriu mão de benfeitorias para
si em prol de outro candidato, atitude que chamou a atenção de um bispo que o
indicara ao cargo de deputado do tribunal da Inquisição em Évora, onde também
se tornou, posteriormente, promotor. Quinze anos depois ocupou o mesmo cargo
no Tribunal da Inquisição de Lisboa (NERY, 2015:93).

D. José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco sucedeu o Deão1 da


Diocese do Rio de Janeiro, Dr. Manoel Ferreira Batalha, na dignidade decanal da
Sé do Rio de Janeiro, no ano de 1765 e foi nomeado Bispo Coadjutor2 da cidade, por
bula papal em 20/12/1773. Foi sagrado no ano seguinte como cardeal Arcebispo
de Évora, entrando para o mais alto clero da Igreja Católica. Em 1774 voltou ao
Rio de Janeiro ocupando a posição de Bispo diocesano após o falecimento de seu
antecessor (NERY, 2015: 95). Sua posse ocorreu no dia 29 de abril, por meio de
seu tio, o cônego Paulo Mascarenhas Coutinho.

A presença de um brasileiro ocupando a função de bispo diocesano foi muito


significativa para a elite colonial administradora da época, pois por se tratar de
uma colônia, o Brasil tinha seus principais cargos administrativos, jurídicos e
religiosos ocupados por membros da nobreza de sangue portuguesa. Segundo
Frederico Nery, apesar dos notáveis feitos em sua atuação clerical, há indícios de
que a descendência em uma família nobiliárquica dos conquistadores da América
portuguesa tenha contado para sua indicação ao cargo, podendo, inclusive, ter
tido intervenção direta de sua mãe D. Ana Teodora Mascarenhas às autoridades
de direito da época (2015: 96).

Após analisar a situação da Diocese do Rio de Janeiro, D. José Joaquim deter-


minou ao clero, por meio de carta pastoral (11/03/1775), um exame de Teologia
Moral, com o objetivo de avaliar a competência dos sacerdotes quanto à direção
Dom José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco religiosa dos fiéis e à administração das Igrejas (RIHGB, 1842:371, apud NERY,
2015). A resistência de algumas ordens religiosas fez o bispo emitir uma segun-

N
da carta pastoral em dezembro do mesmo ano. Dom José Joaquim também fez
o dia 12 de março deste ano, um incêndio tomou o terreno de um casarão
localizado na Av. Dom Helder Câmara, n. 4616. A propriedade que parece
para o público uma casa abandonada, guarda uma rica história da cidade
não só sobre a formação espacial suburbana, como para a própria história da
Igreja: seu proprietário foi o bispo diocesano do Rio de Janeiro D. José Joaquim
Justiniano Mascarenhas Castelo Branco.

Patrimônio remanescente de antigas propriedades coloniais brasileiras,


localizada entre os bairros de Del Castilho e Cachambi, a fazenda do Capão do
Bispo foi adquirida pelo primeiro Bispo nascido no Brasil, Dom José Joaquim
Mascarenhas Castelo Branco, no último quartel século XVIII, sendo administrada
por seus descendentes até o final do XIX.

Filho do tenente-coronel João de Mascarenhas e D. Ana Teodora Mascare-


nhas, nasceu em 06 de agosto de 1731, na freguesia da Candelária, no Rio de
Janeiro. Na infância e juventude, o menino José Joaquim estudou no colégio da
Companhia de Jesus, instituição responsável pela instrução equivalente ao nosso
ensino básico atual, seguindo para a Universidade de Coimbra, em Portugal,
às expensas de seu tio o padre Inácio Manoel da Costa Mascarenhas. Naquela
época não existiam faculdades no Brasil e as famílias mais ricas enviavam seus Casa grande da Fazenda do Capão do Bispo presente na Avenida Dom Hélder
filhos para estudarem na metrópole. Câmara, 4616
TESTEMUNHO DE FÉ | 8 DE MAIO DE 2022 ARQRIO NA HISTÓRIA 19

“Capão do Bispo” do “síndico da Terra Santa e administrador desta cidade”3,


provavelmente um superior destes padres missionários. A propriedade possuía
400 braças de testada para a Estrada Real de Santa Cruz (atual av. D. Helder
Câmara) e 800 braças de sertão (em direção aos fundos) chegando ao Rio Faria.
Contava com 6 quartos, 2 cozinhas, sala de visitas, galeria, capela e sacristia
onde se realizavam celebrações, além de um pátio interno. No porão havia 3
depósitos. A historiografia afirma que naquelas terras havia ainda erguida uma
capela em devoção a São Benedito, mas acreditamos que provavelmente a capela
ficasse na outra fazenda do bispo, a Sant´anna, onde hoje é edificada a paróquia
de mesmo nome, em Pilares. A casa grande do Capão do Bispo é visível para
quem passa pela avenida Dom Helder Câmara entre Del Castilho e Cachambi,
em uma pequena colina ou “capão”.

Ao adquirir a fazenda do Capão, o bispo era senhor desde 1789 da fazenda de


Acervo de Rafael Mattoso Sant’anna onde morava seu irmão, o sargento Mor Fernando José de Mascarenhas
(Mestre de Campo) e sua esposa4. A fazenda de Santa`anna era colada a do Capão,
reformas estruturais na formação de padres no Seminário São José (TUPPER,
ocupando hoje os bairros de Pilares e Abolição. Além de expandir seus domínios
1966: 93-95)., estabelecendo a cadeira de Moral, em 1780, e oito anos depois
com a compra desta propriedade, o bispo adquiriu outros terrenos fronteiriços
as cadeiras de Geografia, História Natural, Cosmologia, Retórica e Filosofia
transformando o Capão do Bispo e a Fazenda de Sant’anna em um “complexo
(NERY, 2015: 105-106). Enviou visitadores para as freguesias e Vilas da diocese
agrário” (LIMA, 2018: 259). De acordo com Brasil Gerson (2000:375), a Fazenda
e teve como um de seus secretários um importante membro do clero carioca, o
de Sant’anna teve como primeiro proprietário João Barbosa de Sá Freire que
Monsenhor Pizarro de Araújo que é uma grande fonte histórica para os estudos
ergueu uma capela para a santa em 17545. Joaquim Justino Moura dos Santos
do Rio de Janeiro Colonial.
acredita que esta propriedade foi uma das cinco demarcadas por Manoel Vieira
A relevância da atuação religiosa do Bispo é conhecida pela história da Igreja. Leão como detentora de engenho no ano de 1767 (SANTOS, 1987:50). Em 1789,
Contudo, poucos sabem que o primeiro Bispo brasileiro adquiriu propriedades o bispo Dom José Joaquim a comprou do capitão Francisco de Macedo Freire de
na freguesia de São Tiago de Inhaúma, freguesia rural mais próxima às urba- Azevedo Coutinho e sua mulher.
nas da cidade. Comprou, em 1794, a propriedade que ficaria conhecida como

Fonte google maps

Acervo de Rafael Mattoso Do Capão do Bispo saíram mudas de café para outras fazendas do Rio de
Janeiro, especialmente aquelas cujos proprietários eram padres e conhecidos
do bispo D. José Joaquim: para a Fazenda do Mendanha, na freguesia de Campo
Grande, pertencente ao padre Antônio Fonseca, para o padre Joao Lopes em São
Gonçalo que propagou para propriedades vizinhas e para os padres lavradores
Couto e Lopes, na serra a caminho de Minas Gerais, tendo, portanto, uma pe-
quena interferência na propagação da rubiácea para o interior do país (SANTOS,
1981:222-223)6. A geógrafa Fânia Fridman afirmou que no ano de 1792, a fazenda
chegou a produzir 160 arrobas de café (1999: 106).

A medida total do complexo agrário constituído em Inhaúma pelo bispo Dom


José Joaquim após expansão e compras de propriedades menores não é revelada
em nenhuma fonte primária por nós analisada, mas acreditamos que tivessem
de frente, pelo menos 1000 braças (ou 2,2 km). Compreendiam uma área que
principiava nas proximidades da junção da Estrada Ademar Bebiano (Antiga
Estrada Velha da Pavuna) com a Avenida Dom Helder Câmara (Estrada Real de
Santa Cruz / Av. Suburbana), perto da Rua Bispo Lacerda e ia até a localidade
conhecida como Terra Nova nas proximidades de Pilares e Abolição. As duas
Acervo de Rafael Mattoso possuíam muitos escravos, vivendas, alfaias, gado e capela, e confrontavam em
20 ARQRIO NA HISTÓRIA 8 DE MAIO DE 2022 | TESTEMUNHO DE FÉ

Fonte : www.ipatrimonio.org

diversos vales ligeiramente acidentados por baixas colinas nas proximidades


dos rios Jacaré, Faria e Timbó que desaguam na Baia de Guanabara (SANTOS,
1981:221). Ou seja, abrangiam os atuais bairros de Del Castilho, parte de Pilares
Fonte: www.ipatrimonio.org e do Cachambi, Abolição, Maria da Graça, Higienópolis (confrontando possi-
velmente com parte do antigo complexo do Engenho da Pedra) e Tomás Coelho
chegando a confrontar com terras do Engenho da Rainha (SANTOS, 1987:58). O
Capão e a Fazenda de Sant’anna ficariam unidos até o início da segunda metade
do século XIX, sendo registrados juntamente no livro paroquial de Registro de
Terras da Freguesia de Inhaúma7.

Ainda em vida, o bispo D. José Joaquim fez uma escritura de doação no ano
de 1801, deixando seus bens em fidei comisso8 para D. Anna de Lemos Masca-
renhas, filha de seu irmão o então Mestre de campo Fernando José Mascarenhas
Castelo Branco, que já residia na Fazenda de Sant’anna. O mestre de Campo teve
cinco filhos, sendo dois padres, Fernando José e Dom Joaquim Maria, um coronel
chamado Ignáscio Manoel de Lemos Castelo Branco, e duas filhas, D. Anna e
D. Francisca de Paula Lys Castelo Branco. O bispo, porém, escolheu a sobrinha
Anna, ainda solteira, dentre os quatro que estavam vivos naquele momento, para
deixar seus bens. O estado de solteira foi um dos fatores para o Bispo escolher
Anna, mas em sua escritura o próprio afirmou que merecia não só “por este
motivo como da contemplação e respeito, como pela minha satisfação que tem
de lhe fazer o bem e de lhe dar mais esta prova de qualificação”9.

Além das terras do Capão do Bispo e da Fazenda Sant’anna, o Bispo deixava


à sua sobrinha suas casas no centro da cidade: Uma morada de casas de sobrado
existentes no canto da Rua da Ajuda para a rua que ia em direção a do Hospício
dos Capuchinhos. Estas haviam sido do casal de seus pais e lhes pertenceram
pelo inventário e partilha dos bens destes, no ano de 1787. Tinha outras duas
casas térreas nesta mesma rua que segue para a do Hospício dos Capuchinhos
e outra que seu sobrinho o coronel Ignascio Manoel de Lemos Mascarenhas
lhe deu cessão como pagamento em uma partilha, em 1796. Estas casas eram
conservadas unidas à casa principal, assim como um pequeno terreno aforado
à Câmara que ficava no fim da “rua que do porto ia para a do Desterro”, e outra
casa inacabada na Rua da Carioca que os religiosos de Santo Antônio estavam
utilizando e se servindo para a entrada e saída de seu portão10.

A doação tinha, porém, exigências: D. Anna Lemos era obrigada a ter e a


conservar em sua vida os ditos bens sem deterioração considerável e por nenhum
modo poderia dividir, desmembrar, vender ou assinar, salvo se fosse algum
escravo da fazenda que falecesse ou por ser incorrigível tivesse que o vender
ou libertar. Casando-se, os bens passariam a seu filho ou filha mais velha e
deste para seus sucessores. Se não casasse ou não tivesse sucessão legítima,
Fotografia da Capela no interior da Fazenda do Capão do Bispo ficariam os ditos bens em “fidei comisso” para seu irmão o Coronel Ignascio
Mascarenhas de Lemos Castelo Branco, com a mesma obrigação e tendo filhos,
diferentes limites com a Fazenda do Engenho Novo (que foi dos jesuítas) e a do que passassem para eles.
Engenho de Dentro, e com outras médias propriedades (GERSON, 2000:375- O Bispo faleceu em 28 de janeiro de 1805, ficando assim a sobrinha D. Anna
376). Noronha Santos afirma que as duas propriedades ficavam limitadas pe- de Lemos na administração dos bens. Nesse meio tempo, sua irmã D. Francisca,
los morros do Pedregulho e do Telégrafo ao sul, pela serra da Misericórdia e terceira na linha de sucessão, ficara viúva e casara-se novamente, em 1807, com
pelo litoral do canal de Benfica, ao norte. Estavam na planície suburbana, com o Dr. Jacinto Furtado de Mendonça natural do bispado do Rio.
TESTEMUNHO DE FÉ | 8 DE MAIO DE 2022 ARQRIO NA HISTÓRIA 21

Em 1811, porém, o casal entrou com uma apelação cível no Tribunal da Relação, pedindo a nulidade da administração de bens por D. Anna Lemos. De
acordo com os suplicantes, D. Anna Lemos estava em estado de solteira e já enferma e seu irmão Coronel Ignácio, segundo na linha sucessória, já era fa-
lecido e não deixara herdeiros. Além disso, D. Anna não estava cumprindo com as regras da escritura de doação, que era obrigada a tê-los e conservá-los
em sua vida, sem deterioração, alienação, divisas ou desmembramentos: Mas estaria arrendando, deixando terceiros edificarem prédios nas propriedades
do centro da cidade, desmembrando assim as mesmas. Para eles, arrendar era retalhar e ameaçava o patrimônio, pois esses arrendatários poderiam cobrar
no fim do contrato indenizações pelas benfeitorias que fizeram, prejudicando os futuros herdeiros que, seguindo a lógica sucessória deixada pelo Bispo,
era o casal D. Francisca e Dr. Jacinto e após estes, seu filho primogênito, nascido no ano de 1809 que seria batizado com o mesmo nome que o pai – Jacinto
Mascarenhas Furtado de Mendonça.

Após alguns conflitos no judiciário, o casal conseguiu a posse e administração dos bens. O complexo do Capão do Bispo ficou sendo de propriedade de seu
sobrinho neto Jacintho Furtado de Mendonça e sobrinha bisneta. Jacinto foi responsável por abrir algumas ruas e loteamentos em parte das terras das pro-
priedades ao longo do século XIX.

Como afirmamos anteriormente, esse importante patrimônio da História da Cidade e da Igreja permanece de pé, mas ao mesmo tempo a falta de cuidados do
poder público transparece um projeto de destruição: o velho descaso com a história e patrimônios do Brasil. O Capão foi tombado pelo IPHAN em 1947. Chegou a
ser ocupado pelo Instituto de Arqueologia do Brasil, que enquanto estava na propriedade a mantinha em mínimas condições de uso, mas teve que desocupar o local
na década de 2000. A administração se dá atualmente pelo governo do Estado do Rio de Janeiro através da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa.

A associação de Amigos do Capão do Bispo vem fazendo constantes movimentos e possui inclusive projetos para uso do espaço como um Centro Cultural para
os subúrbios e comunidades do RJ. Reuniões com representantes do governo são feitas há anos, mas não se observa nenhum movimento por parte das autoridades
para restauração do patrimônio.

FONTES:
1
Responsável Máximo de um órgão colegial da Igreja.
varão primogénito. Assim, o conjunto dos bens dum morgado constituía um
2
Suplente do Bispo Diocesano, atuando na falta deste. vínculo, uma vez que esses bens estavam vinculados à perpetuação do poder
económico da família de que faziam parte, ao longo de sucessivas gerações.).
3
Arquivo Nacional. Casa de Suplicação do Brasil, EJ. Benfeitoria/nulidade. Ja-
Porém, neste caso, trata-se de um fidei comisso, onde o proprietário final pode
cinto Furtado de Mendonça; Anna de Lemos Mascarenhas Castelo Branco- Ano
dispor de seus bens como quiser, alienando, por exemplo.
1812. Número 387. Caixa 1404. Galeria A- Santo Antonio de Sá – RJ – CODES.
4
Arquivo Nacional. Fundo de Sesmarias. Microfilme 067-2000. Notação BI
16.163. Jacinto Furtado de Mendonça. Juízo Privativo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
5
(...)”Além da posse do dito capão tem o doador mais 300 braças de terras
que foram do casal Maria Pecheca Freira a saber, 200 braças compradas ao FRIDMAN, Fania. Donos do Rio em Nome do Rei. Uma história fundiária da
Padre Sebastião da Costa Montegalvão, e 100 que houve por parte do mesmo cidade do Rio de Janeiro. RJ: Jorge Zahar Ed.; Ed. Garamond, 1999.
por escritura também feita nesta nota em 15/05/1795 e outra do Alferes Jacinto GERSON, Brasil. História das Ruas do Rio. 5 ed. Rio de Janeiro: Lacerda Ed.
Martins Pamplona como testamenteiro e inventariante de Ignascio da Costa 2000
Montegalvao por escritura em 1795 (...)”. Arquivo Nacional. Casa de Suplicação LIMA, Rachel Gomes de. Senhores e Possuidores: propriedades, famílias e ne-
do Brasil, EJ. Benfeitoria/nulidade. Jacinto Furtado de Mendonça; Anna de Le- gócios da terra
mos Mascarenhas Castelo Branco. Ano 1812. Número 387. Caixa 1404. Galeria
no rural carioca oitocentista (Inhaúma: 1830-1870). Rio de Janeiro: Multifoco,
A- Santo Antonio de Sá – RJ – CODES.
2018. Cap. IV.
6
Acreditamos, no entanto, que a produção cafeeira na propriedade era destina-
NERY, Frederico Morato. A Igreja no Brasil e o zelo pastoral de D. José Joaquim
da ao abastecimento local. Joaquim Justino Santos afirma que esta propriedade Justiniano Mascarenhas Castelo Branco: Breve olhar sobre a implementação
foi uma das primeiras do Rio de Janeiro a introduzir a produção de café em do catolicismo colonial e seus reflexos no sétimo episcopado carioca do século
grande escala. XVIII. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UERJ, 2015.
7
“Jacinto Mascarenhas Furtado de Mendonça possui na Freguesia de São Tiago SANTOS, Joaquim Justino Moura dos. Contribuição ao Estudo da História do
de Inhaúma as Fazendas do Capão e Sant’anna anexas uma a outra e compostas Subúrbio de Inhaúma de 1743 a 1920. “Tese” de Mestrado. Rio de Janeiro:
de duas datas(...)”. As fazendas estavam submetidas à décima urbana. Livro de UFRJ, 1987.
Registro de Terras da Freguesia de São Tiago de Inhaúma. 1854 – 1863. Fundo/ SANTOS, Noronha. Crônicas do Rio de Janeiro. Ed. Padrão, 1981.
Coleção: Registro de Terras – Corte de Apelação. Seção de guarda: CODES; Cód.
TUPPER, Maria Clara. Cariocas Três e Quatro Centãos. Rio de Janeiro, 1966.
de Fundo 20. Fl 5 e 5v.
Capítulo II – Os Mascarenhas. Págs.93-95.
8
Fidei Comisso” é um ato de disposição de vontade expressa em testamentos,
doações, etc., pelo qual uma pessoa pode deixar um bem imóvel para o suces-
sor de seu herdeiro. O herdeiro ou legatário que recebe o bem em primeiro grau
(neste caso D. Anna de Lemos) é chamado de fiduciário, ficando com ele o en-
RACHEL GOMES DE LIMA
cargo de transmitir a propriedade para aquele que será o proprietário final do Professora de História do Direito e História
bem, designado fideicomissário e que poderá dispor dos mesmos como quiser. do Direito Brasileiro na Universidade Cândido
Mendes – Ucam
9
Casa da Suplicação do Brasil. Benfeitoria/nulidade – Op. Cit. Ano 1811-1813.
Pós-doutoranda no PPGH-Unirio
10
Casa da Suplicação do Brasil. Benfeitoria/nulidade – Op. Cit. Ano 1811-1813. Doutora e Mestre em História pela UFF
19 A definição é bem parecida com a instituição do morgado ou morgadio (uma Pesquisadora do INCT Proprietas
Membro do Coletivo Engenho de Histórias
forma de organização familiar que cria uma linhagem, bem como um código
Autora do livro: Senhores e Possuidores:
para designar os seus sucessores, estatutos e comportamentos, onde os domí- Proprietários, famílias e negócios da terra no
nios senhoriais eram inalienáveis, indivisíveis e insusceptíveis de partilha por rural carioca oitocentista (Inhaúma, 1830-1870).
morte do seu titular, transmitindo-se nas mesmas condições ao descendente RJ: Multifoco, 2018.

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