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Campo Religioso.
distanciada do poder central de Roma. O que se pode observar como consequência deste
A Europa cristã no início do século XV, sofria uma constate ameaça ante
o avanço dos turcos por todo o continente, sendo então necessário a junção dos esforços
de diversos papas no sentido de organizar uma nova cruzada para salvar o continente.
Foi então neste momento que a expansão empreendida pelos portugueses repercutiu
dos extintos Templários, foi alvo de várias concessões que se tornaram a base da
1
LACOMBE, Américo J. A Igreja no Brasil Colonial in História Geral da Civilização Brasileira (org.
Sérgio Buarque de Holanda), Tomo I, vol. 2, pp. 52.
Em 13 de março de 1456, o Papa Calisto III expediu a bula Inter coetera,
jurisdição ordinária, domínio e poder, nas coisas espirituais somente, nas ilhas,
cidades, portos, terras e lugares dos cabos Bojador e Não, e além daquela região
meridional até o Indo... adquiridas e por adquirir... toque e pertença a esta milícia e
ordem, de futuro para sempre... E assim que o prior, na dita milícia possa e deva colar
sejam incluídas”2.
mestre da Ordem de Cristo, título este que passou a ser transmitido a todos os reis de
Portugal, seus sucessores. Não devemos entender esse gesto como uma apropriação dos
monarcas portugueses das atribuições religiosas da Igreja, mas sim como uma forma
estabeleceu então como senhor dos mares “nunca dantes navegados”, organizador da
missão e colonização.
2
LACOMBE, Américo J. A Igreja no Brasil Colonial in História Geral da Civilização Brasileira (org.
Sérgio Buarque de Holanda), Tomo I, vol. 2, pp. 52.
3
BOXER. O Império Colonial Português, pp. 257. “O Padroado português pode ser definido amplamente
como uma combinação de direitos, privilégios e deveres concedidos pelo Papado à Coroa de Portugal,
como patrono das missões e instituições eclesiásticas católicas romanas em vastas regiões da África, da
Ásia e no Brasil”.
Por onde chegavam, os portugueses estabeleciam o “padrão” que trazia
as armas reais e a cruz intrinsecamente ligadas entre si. Portugal usufruía, neste
exercer nas colônias e terras de conquista o pleno domínio político e religioso” 4. Essa
aliança em torno de interesses religiosos, políticos e econômicos, sob controle cada vez
colônia sem autorização explícita do rei, que exigia audiência particular com juramento
Roma. Só podiam encontrar-se com o papa por ocasião da visita ad limina, o que
4
AZZI, Riolando. A Instituição Eclesiástica Durante a Primeira Época Colonial, in História da Igreja no
Brasil (Tomo 2) . Eduardo Hoornaert (org.), pp. 162.
5
Idem, pp. 164.
privilegiada da sociedade, embora o grau de heterogeneidade em relação ao seu estatuto
em duas categorias principais: o clero secular, formado pelos bispos, cônegos, párocos,
colônia foi muito lenta e, a influência romana sobre o catolicismo vivido no Brasil,
Bahia. Poucos bispos realizavam a visita pastoral, recomendada pelo Concílio, o que
vivência da religião católica no Brasil foi, desta forma, pouco afetada pela estrutura
expediente já utilizado pela Igreja Católica, durante a Idade Média, para o sustento do
culto e dos seus ministros. Cada cristão deveria contribuir para as despesas da Igreja
com a décima parte do que tinham conseguido com o trabalho da terra. E as redízimas,
6
BOSCHI, Caio César. Os Leigos e o Poder: irmandades leigas e política colonizadora em Minas
Gerais, pp. 36.
7
AZZI, Riolando. A Instituição Eclesiástica Durante a Primeira Época Colonial, in História da Igreja no
Brasil (Tomo 2) . Eduardo Hoornaert (org.), pp.170.
contribuição da Coroa para o sustento do culto e do clero, vinham para o Brasil quase
colonial em péssima situação. Para ilustrar esta situação podemos citar Gabriel Soares
de Sousa, que na década de 1580, comentava o fato de o bispo da Bahia, para acomodar
população, e não apenas aos grupos que os aceitavam livremente. Eram em outras
palavras obrigatórios. Uma parte do clero secular percorria as capelas das diferentes
confrarias nas cidades, enquanto a outra parte atendia às paróquias dos centro urbanos e
do interior do país. O vigário devia fazer visitas regulares às diferentes capelas, por todo
cavalo, ou às vezes numa rede carregada por escravos. A pregação, frequentemente, era
clero secular estava dividido em alto clero, que compreendia o arcebispo, os bispos e
outros dignitários, que eram pagos com os recursos eclesiásticos do padroado, e o baixo
clero, que abrangia os capelães e os curas de paróquia, os quais mais próximo do povo e
sobre a vida desses religiosos, uma camada tão importante na sociedade colonial, de sua
8
SOUSA, Gabriel Soares. Tratado Descritivo do Brasil em 1587, II parte, cap. VIII.
9
A Igreja Católica no Brasil Colonial, in História da América Latina: a América Latina Colonial I, vol. 1,
pp.563.
No entanto, sob a responsabilidade do governo português, o aspecto mais
Estado português, situação que se prolongou por todo o período colonial e durante o
geral, o sacerdócio era considerado nessa época como uma profissão, um ofício ou uma
cobrada dos fiéis que cumpriam os preceitos da confissão anual e da comunhão pessoal.
pelos dízimos eclesiásticos, que eram canalizados para o rei como grão-mestre da
ainda mais devido à limitada formação teológica dos clérigos. Mesmo os que tinham
oportunidade de receber uma formação mais cuidada nos colégios dos jesuítas não
10
RENOU, René. O Clero: divulgador da cultura no Brasil (Parte IV – A Cultura Explícita, 1655-1750),
in O Império Luso-Brasileiro: 1620-1750, Frédéric Mauro (org.)., pp. 406.
11
Idem, pp. 71 e HOORNAERT, Eduardo. A Evangelização do Brasil Durante a Primeira Época
Colonial, in História da Igreja no Brasil, Tomo 2. Eduardo Hoornaert (org.), pp. 38-39.
numerosos clérigos apenas recebiam o essencial para a administração dos ritos da fé
conservando apenas o pouco que haviam aprendido na época da recepção das ordens
sagradas12.
Nos centros urbanos era muito comum, durante o período colonial, que
política13. A côngrua recebida pelos religiosos nunca chegava a ser vultosa, e o clero,
para garantir um certo conforto, adotava o exercício de profissões não clericais, “muito
embora estas fossem proibidas pelo direito canônico, muitos padres tornavam-se
políticas, sob a influência das idéias liberais e iluministas. Diversos bispos no período
governador Fernão Cabral que acabava de falecer, e D. Álvares da Costa teve que
assumir o governo abandonado por Sebastião de Castro e Caldas durante a Guerra dos
Mascates15.
onde ainda não se conseguira impor certos padrões de vida europeus. A condição
12
AZZI, Riolando. A Instituição Eclesiástica Durante a Primeira Época Colonial, in História da Igreja
no Brasil (Tomo 2) . Hoornaert, Eduardo (org.), pp.183.
13
Idem, pp. 184.
14
ASSIS, Virgínia Maria Almoêdo de. Clero e Coroa na Capitania de Pernambuco in Clio – Série
História do Nordeste, n. 16 – 1996, pp. 146.
15
AZZI, Riolando. A Instituição Eclesiástica Durante a Primeira Época Colonial, in História da Igreja
no Brasil (Tomo 2) . Eduardo Hoornaert (org.), pp.179.
colonial proporcionava uma certa facilidade de relações com índias e negras e, a partir
mesmo poder por vezes caprichoso e despótico, essa situação estava longe de ser
propícia à influência da Igreja e, até certo ponto, das virtudes cristãs na formação da
contra o relaxamento geral, dificilmente encontrariam meios para tanto. Destes a maior
parte pensaria como nosso primeiro bispo, que em terra tão nova, muitas coisas se ão de
escandalizaram o Padre Nóbrega. Através dos séculos XVII e XVIII, e grande parte do
funções quase patriarcais, quando não para excessos de libertinagem com negras e
mulatas”18.
de religiosos amancebados dava origem ao dito “que o estado de casado era superior ao
estado religioso”19, frase que o Santo Ofício interpretava como uma heresia luterana
16
Ver AZZI, Riolando. A Instituição Eclesiástica Durante a Primeira Época Colonial, in História da
Igreja no Brasil (Tomo 2). Eduardo Hoornaert (org.), pp.184 e ARAÚJO, Emanuel. O Teatro dos Vícios,
pp. 246-7.
17
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil, pp. 85.
18
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala, pp. 443.
19
Confissões de Pernambuco, pp. 120.
mas que, na verdade, nada mais era do que a expressão decorrente da observação, por
clérigos faziam às mulheres que iam se confessar. Um lavrador do recôncavo baiano foi
aborrecido por o vigário a quem a mulher foi se confessar ter procurado seduzi-la
dizendo “que mal empregada era ela nele e que se ele vigário tivera mulher lhe havia de
açucareira. É bastante sombrio o quadro que nos apresenta do clero cearense o autor
Raimundo Girão:
paróquias, e para tanto concorria por imposição dos pais, vaidosos de ter um “filho
faziam por fazer votos sagrados, nem sempre respeitavam o da castidade, quantos deles
filhos, e sabe-se como inúmeros destes vieram a ser homens ilustres na vida pública e
nas letras21.
O clero achava-se enredado no labirinto inexplicável da política, que era então uma
20
Confissões da Bahia, pp. 119-120.
21
GIRÃO, Raimundo. Pequena História do Ceará, pp 166.
O povo estava esfomeado do pasto espiritual, e muitas igrejas se achavam acéfalas por
falta de pároco...
uma espécie de ofício, e não uma vocação. Os padres eram como capitães ou baixás dos
estima em que era tido o sacerdócio num tempo, e numa sociedade, em que a Igreja
Católica tinha uma extraordinária força e influência: o padre era o ministro dos
doutrina da Igreja, o árbitro moral em muitas crises na família e nos grupos sociais.
direção dos costumes, extirpação dos vícios, e abusos, moderação dos crimes, e reta
exigiam uma legislação especial. O clero no Brasil colonial anteriormente se regia pelas
preciso elaborar uma nova legislação específica para a realidade colonial. Este trabalho
foi obra do arcebispo da Bahia, D. Sebastião Monteiro da Vide, que convocou os bispos
22
ALMEIDA, Francisco Manuel Raposo. Elogio Histórico e Biográfico do Exmo. Sr. Arcebispo Dom
Romualdo A. de Seixas, 76 s.
23
AZEVEDO, Thales de.Igreja e Estado em Tensão e Crise, pp. 77.
(Rio de Janeiro, Pernambuco, Angola e São Tomé) para um Concílio Provincial. Mas
em que tomou parte grande número de altas personalidades da Igreja tanto do clero
em 21 de Julho de 1707.
casamento entre os fiéis, fossem livres ou escravos. Promulgou uma legislação que,
teoricamente, dava aos membros do clero todos os meios e recursos necessários para
deveria fazer-se pelo cumprimento das normas estabelecidas por estas Constituições. A
ausência de recato, o que muito preocupava a Igreja em Portugal. Não eram raros os
sacerdotes, não só nos pecados da carne, visto que há títulos inteiros dedicados a outros
título contido nas Constituições: “Da obrigação que tem os clérigos de viver virtuosa e
24
LACOMBE, Américo J. A Igreja no Brasil Colonial in História Geral da Civilização Brasileira (org.
Sérgio Buarque de Holanda), Tomo I, vol. 2, pp. 60-1.
25
ARAÚJO, Emanoel. O Teatro dos Vícios, pp. 246.
Primeiras várias páginas especificam as proibições: o padre não podia andar à noite,
nem comer ou beber em tavernas, conservaria perfeita castidade, não entraria em teatros
Igreja se mostrava inquieta “com a distância que a separava dos fiéis, para o que muito
26
AZEVEDO, Thales de. Igreja e Estado em Tensão e Crise, pp. 77.
27
VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos Pecados, pp. 20.
BIBLIOGRAFIA:
vol. 1. 2ª edição. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação
1969.
- FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 32ª. Edição. Rio de Janeiro: Record,
1992.
- HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26ª. Edição. São Paulo: Companhia
- LIMA, Lana Lage da Gama (org.). Mulheres, Adúlteros e Padres. História e moral na
Estampa, 1991.
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1992.
- RUSSEL-WOOD, A. J. R. Fidalgos e Filantropos. A Santa Casa de Misericórdia da
- SILVA, Maria Beatriz Nizza da. História da Família no Brasil Colonial. Rio de
Ática, 1978.
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- TORRES, Camilo de Oliveira. História das Idéias Religiosas no Brasil. São Paulo:
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