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CAPÍTULO X: Formação Religiosa*

Alguns dados sobre a evolução da Igreja na


Província — A colônia de Dois Braços —
Antecedentes da Freguesia — Freguesia de
Santa Cruz da Barra do Corda — Os primeiros
padres encomendados — A primeira Capela — A
Matriz da vila —A Capela de Santa Terezinha —
A nova matriz da cidade — Outras religiões e
igrejas — Crítica — Chegada de Smith em Barra
do Corda — A construção da igreja na cidade —
Outras igrejas protestantes.

Alguns dados sobre a evolução da Igreja na Província


Concordam os cronistas era que os primeiros evangelizadores, na Província,
desembarcaram no Maranhão nos idos de 1612 e foram os capuchinhos franceses.
A guerra sem precedentes entre portugueses e franceses dificultou o progresso da
evangelização. Restaurado, entretanto, o domínio português, os Jesuítas se instauraram,
iniciando-se a catequese dos índios.
Mais de um século depois, (diz Fr. Metódio de Membro — O.F.M. — Dr. em
Missionologia, em São José de Grajaú — Primeira Prelazia do Maranhão — p. 22): "O trabalho
dos Jesuítas foi violentamente interrompido pelas leis opressivas do Marquês de Pombal.
entre 1759 a 1760".
Nas décadas seguintes, foram criadas, pelo Governo Imperial e da Província,
várias colônias catequéticas, mas fracassaram pela falta de definição verdadeira de objetivos e
também pela escassez de missionários.

A colônia de Dois Braços


Já em 1873, desponta a esperança com a entrada do astro Fr. José de Lóro,
capuchinho, que fundou a colônia de Dois Braços, no município de Barra do Corda, para a
colonização e catequese dos índios Guajajaras. Contra ele, se levantaram forças tangidas pela
inveja de lideranças e proprietários de terras, que estavam continuamente se instalando na
região, oriundos do Ceará e de outras Províncias nordestinas, pressionados pelas secas que lá
Já estavam ocorrendo (vide cap. atinente a agricultura e pecuária).

Antecedentes da Freguesia
No Arquivo Público, encontramos a monografia de Barra do Corda nos anos 30 —
MOD. DES e dela extraímos o que segue: "Espírito Religioso e trabalhador, Melo Uchôa
mandou erguer, com a ajuda da população, a Capela de Santo Antônio e empregou as suas
atividades no soerguimento de sua povoação, deixando assim vestígios do seu esforço,
averiguáveis em diversas obras..."
Tal fato, sem dúvida, se iniciara entre os anos de 1847 a 1849, tanto que, por Lei
Provincial de n® 252, de 30 de novembro de 1849, foi criada a Capela Curada do 2° distrito da
Chapada, no povoado do Rio da Corda, mesmo antes de concluída a construção. (César
Marques — p. 106).

Freguesia de Santa Cruz da Barra do Corda


A Capela Curada, autorizada pela Assembléia Provincial, foi erigida, transformada
ou promovida em Freguesia, pela Lei Provincial de nº 368, de 24 de Junho de 1854. Significava
que o povoado estava sendo promovido, também, sob o ponto de vista eclesiástico.
A Igreja se ligava de maneira dependente ao Estado e. na Província do Maranhão,
as freguesias, ao tempo, eram em número de 53. A nossa, recebia o nome de Freguesia da

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Tomei liberdade de inserir, fotos e imagens para ilustrar esse capítulo do livro do professor Galeno.
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Santa Cruz da Barra do Corda. Maciel Parente observou a Melo Uchôa que a data da fundação
do povoado (3 de maio) era dia consagrado à Santa Cruz. Feita a moção aos representantes da
Assembléia Provincial, foi então instituída a Freguesia, com o nome escolhido pelos líderes e
fundadores do povoado.
Enquanto Capela Curada, não havia Paróquia, nem a fixação do vigário. O padre
era solicitado ou, como se chamava, encomendado.

Os primeiros padres encomendados


Mesmo após a elevação da vila ao termo eclesiástico de Freguesia, não havia, em
caráter definitivo, um padre na vila. A Legislação em vigor fazia com que o Estado, ao elevar à
condição de freguesia uma vila, assumia a responsabilidade com o vigário e sua manutenção
no local.
A expressão vigário encomendado decorria de que o Estado assalariava ou pagava
os trabalhos executados pelo padre na assistência ao povo, no trato com as coisas espirituais.
Independentemente, cabia ao padre encomendado, ao vigário da paróquia onde e
quando já fosse o caso, organizar o Colégio Eleitoral Especial, formado de homens bons e
nobres da vila, destinado a eleger os vereadores e Juízes de Paz, nas eleições municipais ou das
vilas, os deputados provinciais e os deputados gerais, enquanto em vigor a Constituição de 25
de março de 1824.
Citaremos dois exemplos: No ano de 1858, a 18 de outubro, o vigário
encomendado da vila era Fr. Antônio do Coração de Jesus e Sousa, com atividades desde a sua
instalação. Foi, portanto, o primeiro vigário encomendado da Vila de Santa Cruz da Barra do
Corda, Termo da Comarca da Chapada. (Livro de nº 02 — fls. 19 verso e fls. 20 do Cartório do
1° Ofício da Vila de Santa Cruz da Barra do Corda, da Comarca da Chapada, aberto no ano de
1856).
Naquela data, (1858) Fr. Antônio do Coração de Jesus era reconhecido pelo então
tabelião, Pedro Alexandrino Gualberto de Macêdo Leão e constituía seus procuradores:
Domingos Vicente Ferreira Paiva, na vila e José Maia Irmão Companhia, na Sede da Província,
com o fim de receberem suas côngruas, em qualidade de vigário encomendado da Província
nesta freguesia e bem assim os Juizamentos da mesma dos Tesouros competentes".
Anotando os nomes dos primeiros vigários encomendados, registramos que
baldados foram os nossos esforços na busca de nomes de religiosos que tiveram funções na
vila até o final do século XIX, quando da chegada em definitivo dos capuchinhos/que passaram
a controlar os trabalhos da Igreja Católica, no meio do povo. Asseguramos a dispersão total de
documentos que facilitassem a seqüência de registros históricos a respeito.
Espero que os claros possam um dia ser preenchidos, registrando-se as omissões
que aqui deixamos, em decorrência da impossibilidade declarada. Que estudiosos do futuro
dêem continuidade aos nossos trabalhos, antes que o Sol do século XX desapareça no
horizonte da nossa existência fugaz.

A primeira Capela
A primeira Capela (Igreja) construída em Barra do Corda, teve início no ano de
1847. O local passava a se denominar Praça da Igreja ou da Matriz. Posteriormente, Praça da
República (a partir de 1889), e mais tarde, em data que não foi possível precisar. Praça Getúlio
Vargas. A posição do logradouro era no setor Leste, poucas braças separada da área das
residências de familiares do coronel José Salomão e de José Pinheiro do Nascimento.

A Matriz da vila
Restos de paredes e fundações foram removidos para terraplanagem (o terreno
era meio acidentado) no ano de 1962, na administração do Senhor Prefeito Édison Falcão da
Costa Gomes, para início dos trabalhos do Mercado Público da cidade, obra que ainda hoje

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serve muito bem à comunidade e redução da área da própria Praça, que tinha as mesmas
medidas da que hoje se denomina Melo Uchôa.

O pesquisador Justino Soares de Abreu conta que a senhora sua genitora, por
nome Ana Soares de Abreu, nascida a 24 de setembro de 1881 e falecida a 28 de agosto de
1956, ensinou-lhe que, sobre a Igreja de Santo Antônio, pairava a seguinte Lenda: — "Que uma
senhora de grandes passos ou têres viajava no rio Mearim com uma garotinha sua filha,
quando de repente a menina cai dentro d'água. A mãe, em pânico, faz uma promessa à Santa
Filomena no sentido de que, se a filha não morresse afogada, ela, quando chegasse à vila,
tomaria providências para mandar construir uma capelinha para a dita santa". Dizia: "A garota
foi encontrada viva e a mãe teria lhe perguntado: — Minha filha, você bebeu muita água?, ao
que a garota lhe respondeu: — Não, Uma mulher bonita, a meu lado, colocava a mão na minha
boca, sem que o fôlego me faltasse, evitando pois, que me afogasse". "A feliz senhora, ao
chegar a vila, tratou de cumprir a promessa, mandando iniciar a construção da Capela de Santa
Filomena".

Figura 1: Foto do Largo de Santa Filomena com a vista da antiga Igreja da Matriz da cidade. Foto tirada pelo frade
italiano Matias Bérgamo, um dos padres capuchinhos que chegou à região ainda no final do século 19, da sacada de
antiga casa de 1880, pertencente ao rico Antonio da Rocha Lima, onde funcionou o jornal O Norte, em época
anterior às Casa Paulista e Casa Pernambucana. Igreja demolida em 1950 por ordem de Frei Epifânio da Abadia.

Saindo do mundo da Lenda, para o campo da realidade, há indícios, realmente,


sobre que os homens de haveres, entre os anos de 1847 a 1860, contribuíram para a
construção da igreja.
Já naquele tempo, as esposas dos comerciantes, criadores e lavradores da vila
tinham a seu cargo as tarefas da campanha.
O líder do movimento foi o comerciante de então, João Pedro da Costa Fumeiro,
que mantinha estreita ligação com o vigário Fr. Antônio do Coração de Jesus e Sousa. Sua
esposa, a Sra. D. Thereza Maria de Sousa Fumeiro, poderia ter sido a figura lendária da estória
aventada por D. Ana, a mãe do pesquisador Justino Soares de Abreu.
O vigário, Fr. Antônio do Coração de Jesus e Sousa, designa a Capela com o nome
de Santo Antônio, considerada sobre os aspectos legais, de Matriz da vila, onde todos os anos,
até os anos 30 do século XX, eram celebrados os festejos do Santo.
Como relíquia e homenagem, ao lado de Santo Antônio, havia outra imagem, a de
Santa Filomena, aquela que dera seu nome de início à primeira Capela da Vila de Barra do
Corda.
Nos anos de 1940 (o autor destas notas contava com 10 anos), ocorreu a queda
da Igreja, em circunstâncias que permitiram a retirada de todos os pertences da Paróquia que
lá se encontravam.
Além de sede da Paróquia, Matriz Oficial para as missas do Espírito Santo, que
inspiravam os primeiros líderes na escolha dos nossos governantes, sempre foi o palco da

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reunião dos vicentinos, anônimos benfeitores, que levavam sempre o amor e a fé àqueles que
carecem de socorro.
Na Vila de Barra do Corda, não se firmou o hábito de que se sepultassem nas
matrizes e nas capelas os restos mortais de benfeitores da Igreja e da sociedade, Independente
de alguns sacerdotes, já no início do século XX. Porém, naqueles tempos, abriu-se uma
exceção ao benfeitor e grande cooperador na construção de nossa primeira igreja, que deve
ter falecido após os anos de 1860, (vide Livro de Notas do Cartório de 1° Ofício da Comarca da
Chapada na Vila da Barra do Corda, — pág. 40, onde se encontra o Testamento do citado
homem público). De modo que. "dentro da Igreja, havia um Jazigo com o seguinte epitáfio":
"Aqui Jazem os restos mortais de João Pedro da Costa Fumeiro, falecido em 17 de Janeiro de
1865".
O Jornal O País, de 24 de fevereiro de 1870, publicava que, na vila de Santa Cruz
da Barra do Corda, "há pouco tempo se constrói um largo uma Igreja com boas madeiras, de
pedra e cal, não estando ainda as suas paredes tapadas de barro, senão as da Capela-Mor".
(César Marques — p, 106).
Como na outra praça já se tinha construído a Igreja de Santo Antônio e ao tempo
só haviam duas praças, é claro que se tratava, então, do logradouro inicialmente chamado
Praça da Matriz, hoje "Melo Uchôa".

Figura 2: Na foto, era antiga igreja de Santo Antônio, que foi derrubada para dá lugar a avenida do Mercado.
Também era escola São José da Providencia. O prédio é de 1892 e foi construído pela igreja e funcionou como
escola para indígenas. Foi seminário e atualmente local onde a igreja Católica faz encontros de pastorais. À frente
há lojas e gráfica;

Data, pois, de 1870, o início da construção da antiga matriz da Vila de Barra do


Corda, localizada no centro da praça, parte mais elevada do logradouro, com declive
acentuado para os lados. Estilo colonial português, plantada em forma de (U) ou ferradura.

Figura 3: Quadro do pintor barra-cordense Pedro Luz que registra como era a antiga igreja Matriz, a qual ficava no
meio da praça Melo Uchoa.

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O corpo central, elevado, cobrindo toda a nave, com dois grandes halls laterais, no
mesmo estilo e extensão. Na fachada, simetricamente dispostas, as cruzes. Grandes Janelas,
uma em cada hall, tendo o portão de entrada central e duas Janelas acima do pé direito de
aproximadamente 5 metros, onde transversalmente havia o coro, reservado aos músicos e
cantores.
Os trabalhos de construção se prolongaram por mais de uma década e marcaram
o início das atividades dos frades capuchinhos na Paróquia de Santa Cruz de Barra do Corda,
com a presença, neste espaço de tempo, do laborioso frei José Maria de Loro, para uns
cronistas Já atuando na região desde os idos de 1870.
Não pairam dúvidas quanto a que a inauguração oficial da Igreja Matriz de Santa
Cruz da Paróquia da Vila de Barra do Corda, somente se processara no ano de 1893, que
marcava também o início dos trabalhos dos capuchinhos lombardos na Diocese de São Luís
(vide Fr. Metódio de Membro — 1955).
Mas voltando à saudosa matriz, ela tinha internamente, no centro, o Altar-Mor de
Nossa Senhora, a padroeira da vila; no hall à direita, o altar do Sagrado Coração de Jesus e ao
lado Sul, o altar da Santa Cruz. Foi demolida no ano de 1950, tendo ali, em data de 16 de julho
daquele ano, se celebrado, pela última vez, o Sacrifício da Santa Missa (Fr. Epifânio d'Abadia).

A Capela de Santa Terezinha


Fr. Adriano de Zânica, referindo-se aos anos posteriores a 1930, escrevia: "Além
do Colégio de Meninas externas e internas, dirigido pelas nossas Irmãs Terceiras Capuchinhas,
com a cooperação dos Missionários, aqui estão os outros resultados obtidos: A nova Capela de
Santa Teresinha de Menino Jesus, construída na outra margem do Mearim, para facilitar aos
habitantes da redondeza a observância do preceito Pascal".
O benzimento e a solene inauguração, presidida por D. Emiliano, em 1931, foi
abrilhantada por meio de uma iluminação noturna, jamais vista nestes lugares.
A Capela de Santa Terezinha, templozinho de um só altar, tinha frente para o Sul,
o que significava ter sido construída voltada para a cidade. Ao lado, sobre suporte de madeiras
de lei, estava o sino da pequena ermida e, na parte posterior, havia discreto cemitério, onde se
sepultavam corpos de pessoas falecidas nas regiões envoltas ao bairro, que já se chamava de
Tresidela.
Talvez o local em que fora construída a Capela de Santa Tereslnha esteja, nos dias
atuais, ocupado pelo depósito de gás da empresa M, A. da Cunha, no próspero bairro
Tresidela.

A nova matriz da cidade


No local em que fora construída a Monumental Matriz de Barra da Corda, setor
Oeste da Praça Melo Uchôa, ficava o prédio conhecido como Paço Municipal ou Prefeitura
Municipal, ainda, Casa da Câmara e do Fórum e, em dias de festas, Salão de festas e recepções
da vila.

Figura 4: É o antigo palacete da prefeitura de Barra do Corda (MA). Chamado de Paço Municipal. Localizado na
praça Melo Uchoa. Também sediou grandes bailes populares e até de carnaval. Foi demolido em 1949 para dá lugar
a atual monumental igreja Matriz.

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Fr. Adriano de Zânica, vigário de Barra do Corda no ano de 1939, planejara


construir a atual Matriz de Barra do Corda, arrojado projeto arquitetônico com acabamento
artístico da melhor qualidade, definindo internamente, em altar próprio, perpétuo jazigo dos
Mártires do Alto Alegre, e, externamente, afixação de quadros, trabalhados em metal
precioso, esculturas d'aqueles que, em 1901, foram personagens da Hecatombe do Alto
Alegre, marco histórico da nossa vida.

Figura 5: Fr. Adriano de Zânica, que entre 1930 a 1950, comandou a igreja Católica em Barra do Corda (MA) e
deixou obras monumentais de incalculável valor histórico, religioso e cultural como a igreja Matriz no centro da
cidade.

Para tanto, recebera compromisso formal das autoridades de então quanto a que
a área onde se havia construído, no século anterior, o Paço Municipal, seria doada, para que
nela se edificasse a atual Matriz. Confiado, vai à Itália (ano de 1939) em visita aos seus
familiares, dando início, entre amigos, autoridades italianas, familiares dos Mártires do Alto
alegre e conhecidos seus, a campanha para a aquisição do material de implantação de seu
projeto.
A Segunda Grande Guerra Mundial se expande e se funda o Eixo, que envolvia a
Alemanha e a Itália, sendo esta cenário dos horrores que abalaram o mundo inteiro (vide
capítulo sobre Fr. Adriano Zânica).
A guerra terminara em 1945 e somente no ano seguinte foi possível retornar ao
Brasil e a Barra do Corda, trazendo tudo o que conseguiu para a construção de nossa matriz.
Defrontara-se com enormes dificuldades na área da concessão, em definitivo, do local para
levantamento do prédio.
Fr. Adriano, padre dinâmico e para quem a palavra empenhada deveria ser
cumprida, disse, em seu latim misturado de italiano: Consensum ominium, "Fiz tudo isto com
o consentimento de todos". Não espera. Desgosta-se e deixa Barra do Corda a 4 de Janeiro de
1950.
Nossos chefes políticos, ao tempo, Raimundo Ferreira Lima — Prefeito Municipal
no final do mandato e o coronel Manoel de Melo Milhomem, Presidente da Câmara Municipal
(vide capítulos atinentes), eram católicos praticantes e sentiram a gravidade do compromisso,
as aspirações da comunidade e tomaram a seu cargo vencer pequenos e grandes empecilhos
de setores isolados, efetivando-se a doação da antiga Prefeitura Municipal de Barra do Corda,
com todo o seu espaço, para a construção da nossa matriz.
Ali, Fr. Epifânio d'Abadia, sucessor de Fr. Adriano, a partir de 16 de Julho de 1950,
começava demolir o antigo Paço Municipal, construindo concomitantemente a Igreja que
deveria ter sido inaugurada a 13 de março de 1951 — data do cinqüentenário da morte dos
frades em Alto Alegre.
Estas lembranças, são as nossas memórias, vividas no período fértil dos 15 anos
de idade ... Trazidas para o cenário de hoje, sentimos que, enquanto se erguia, para os séculos
dos nossos pósteros, o Templo de Deus, a casa de nossas orações, se demoliam espaços

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construídos no século XIX, quando se edificara um prédio em estilo sóbrio mas sério, onde
tomaram assento os nossos primeiros governantes, foram prolatadas as sentenças de
julgamentos históricos da vila e realizadas as grandes festividades, em que brilharam, nas
letras e nas artes, os nossos antepassados.
Mas se cumpriu e o sonho de Fr. Adriano se realizara. A igreja fora inaugurada no
final do ano de 1951, em solenidade dirigida por Sua Excelência Dom Emiliano José de Lonatti,
momento em que eram ordenados três frades da Ordem Capuchinha.

Figura 6: Foto registrada pelo Frei Francisco (Chicão), construtor da Igreja; Saudosos Sr. Jasso Barros, carpinteiro e
mestre de obras e Dodô Cavaco, que cavou o alicerce da Igreja.

A partir de 1870, os frades capuchinhos exerceram o comando da Paróquia de


Santa Cruz de Barra do Corda, tomando como marco a pessoa de Fr. José Maria de Lóro.
São decorridos pois 123 anos de atividades no campo espiritual do povo barra-
cordense. Mar, ao lado da missão primordial, foram também incansáveis, marcando
profundamente a nossa sociedade, na formação do povo, no cenário científico, artístico e
cultural de um modo geral, mantendo-se escolas, creches, internatos, grêmios, bibliotecas,
pequenos periódicos, proporcionando assim o que de melhor se escolheu na definição da
civilização barra-cordense, desde os primórdios da Província, atravessando de maneira
Ininterrupta as repúblicas com todas as suas nuances.
É de se afirmar que os nossos homens, líderes de todos os instantes, quase todos,
passaram pelo caminho cultural dos frades e das freiras que têm atuado em nossa
comunidade.
Com alguns naturais claros, decorrentes da falta de informações. a seguir a
relação nominal dos vigários de Barra do Corda:
ANO NOME OBS.:
1873 Fr. José Maria de Lóro
1876 Fr. Antônio de Reschio
Fr. Carlos de S. Martinho 1894/1896
1896 F. Estevam de S. S. João
1910 Fr. Roberto de Castellanza
1913 Fr. Lourenço de Alcântara
1919 Fr. Josué de Monza
1921 Fr. Alfredo de Martinengo
1929 Fr. Ricardo de Dovéra
1935 Fr. Eliodoro de Inzago
1935 Fr. Ângelo de VIgnola
1937 Fr. Josué de Monza
1939 Fr. Adriano de Zânica
1939 Fr. Damião de Erbano
1940 Fr. Sigismundo Crema

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1944 Fr. Francisco C. de Milão


1946 Fr. Paulino de Sellere
1949 Fr. Adriano de Zânica
1951 Fr. Epifânio d'Abadia
1952 Fr. Francisco C. de Milão
1954 Fr. Cosme de Borno
1957 Fr. Paulino de Sellere
1970 Fr. Marcellno de Milão 1957/1970
1971 Fr. Arialdo de Lecadro
1972 Fr. Paulino de Cellere
1973 Fr. Pedro Jorge
1975 Fr. Jezualdo Lazzari
1986 Fr. Luiz Rota
1989 Fr. Leonardo Trotta

Outras religiões e igrejas


A história tem compromissos com a verdade. Para registro de outras doutrinas,
cultos ou práticas religiosas, que tenham sido exercidas em Barra do Corda, dos idos do 1º
Quartel de sua fundação aos dias atuais, necessário se faz lembrar, aqui, da legislação
brasileira, que, neste espaço de tempo, regulamentava a prática da religião: a Constituição
Brasileira era a Carta de Lei de 25 de março de 1824, cujo art. 5° definia: "A Religião Católica
Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras religiões serão
permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para Isto destinadas, sem forma
alguma exterior de templo".
Meio século após o primeiro lustro de fundação da terra de Melo Uchôa, é que,
pela Constituição dos Estados Unidos do Brasil, a 22 de junho de 1891, aquela situação se
modificara, pelo art. 72 § 3º da Lei Maior da Proclamação da República: Todos os Indivíduos e
confissões podem exercer livremente o seu culto, associando-se para este fim, e adquirindo
bens, observados os limites impostos pela lei.

Crítica
Não reacenderemos, aqui, as chamas que arderam no passado, tocadas por
aguçados sentimentos e lutas religiosas em todo o País, em sua maioria, decorrentes da
legislação vigente, da queda do Império e da instalação da República, sem o preparo
competente da sociedade brasileira, para que se aceitasse, sem choques, as mudanças
necessárias que se fizeram.
Alguns casos isolados são lembranças de interpretações feitas com riscos das
emoções, que tanto exaltam os nossos sentimentos, quaisquer que sejam.

JOÃO BATISTA PINHEIRO


No ano de 1892, 2 anos após a Promulgação da Ia Constituição da República,
chegava a Barra do Corda João Batista Pinheiro, migrante do Ceará. Segundo o pastor Abdoral
Fernandes da Silva, João Batista tinha as suas pernas amputadas.
Tendo, alguns anos mais tarde, deixado a sua família em Barra do Corda, viajara
para São Luís, atingindo após a cidade do Recife, onde ingressa em uma Igreja Presbiteriana,
nascendo ali, assim, a semente de uma nova Igreja Evangélica.
Retornando, iniciou a formar seu grupo, até que, em 1901, foi visitado por outros
evangélicos, inclusive D. William Thompson —, da cidade de Caxias.

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Chegada de Smith em Barra do Corda


Data do ano de 1906 a chegada a Barra do Corda do missionário Perrin Smith,
embora Inicialmente tenha se fixado em Carolina, casando-se em 1908 com a brasileira Ana
Tavares Bastos.

Figura 7: Perrin Smith e sua Esposa Dona Ana Smith, pioneiro das Igrejas Cristãs.

Depois de ter ido ao Canadá, regressa em definitivo para se fixar em Barra do


Corda, no ano de 1914. Diz o pastor Abdoral, "Já havia ali um grupo de crentes, necessitados
de uma assistência espiritual".

A construção da igreja na cidade


O pioneiro João Batista já definhava: quase surdo e cego, mudara-se para o
interior do município com seus familiares, dividindo-se o grupo de crentes, sendo que uma
parte terminaria por fundar o lugar que, mais tarde, se denominaria de Centro dos
Protestantes.

O líder João Batista Pinheiro falece à margem do rio Flores em data de 18 de


março de 1916. Morria então o pioneiro de uma Igreja, que não demoraria a ser construída em
Barra do Corda.
Sem dúvida o Senhor Smith, como era conhecido na vila, montou, em Barra do
Corda, um centro de expansão missionária da sua igreja.
Teve, aqui, duas residências: no lugar Altamira, setor denominado de Itamaraty,
onde o antigo prático de Farmácia Otávio Lobão construíra uma casa de residência confortável,
que até o meado deste século ainda serviu de casa de hospedagem a homens que vieram
tratar de assuntos técnicos, como na área da mineração e da agricultura.
Trouxe para Barra do Corda, em anos diferentes, missionários de outros países,
tais como: Donaldo e Vera Montieth, da Austrália: Davi e Eva Mills, da Inglaterra; George
Thomas, do Canadá, entre outros.

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O ano de 1928 marcou uma série de convenções realizadas em Barra do Corda,


com participantes do Alto Sertão, do Mearim, do Grajaú, do Pindaré e de outras regiões.
Foi no ano de 1932 que o missionário inglês Mr. George Stears, com apoio da
comunidade e dos líderes crentes Altino Barros, Joaquim Barros, José Dodô, Antonio Dodô,
Amâncio Ferreira e outros, construiu a Igreja Cristã Evangélica de Barra do Corda, na rua Arão
Brito, canto com a antiga rua da Areia.

Figura 8: Igreja Cristã-Evangélica em Barra do Corda, erguida na rua Aarão Brito em 1933.

Na década de 1940, ocorreram expansões dos quadros da Igreja em Barra do


Corda.
Neste período, o Sr. Smith passara a residir ao Sul da cidade de Barra do Corda, do
outro lado do rio Corda, reformou a casa residencial em estilo colonial português, cuja
morada, com a instalação da Sede do Núcleo Colonial de Barra do Corda, nesta década de
1940, passara a ser a residência oficial de seu primeiro administrador — o fundador da
Colônia, sem nunca mudar de nome o bairro, pois hoje é denominado de Canadá.

Figura 9: Smith comprou o terreno, e construiu uma casa coberta de palha, do outro lado do rio Corda que depois
virou a sede da fazenda Vila Canadá. Atualmente é o fórum eleitoral

Outras igrejas protestantes


Os Evangélicos — chamados também Protestantes — constituem Igrejas e
comunidades, na jurisdição de Barra do Corda.
A família denominada de Assembléia de Deus foi instalada em Barra do Corda a
partir dos anos de 1952. Todavia, suas atividades no povoado Leandro são muito antigas. Daí
se dizer que, ali, surgiu a primeira Igreja da Assembléia de Deus em Barra do Corda.
Formam uma família cristã de acentuado espírito de culto, deixando-se envolver
por um carisma que se esboroa em todas as práticas de religião, atualmente.

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Há, na cidade de Barra do Corda, 8 pequenas Igrejas e, nas vilas e povoados do


município, 13, ressaltando-se, como maiores, as que foram construídas em Ipiranga, Leandro e
Cajazeiras. (vide anexo n° 22).
Entre os líderes que fundaram as nossas primeiras escolas e ajudaram na vida
social, política e econômica, a História registra Melo Albuquerque como o primeiro a praticar,
através de atos, leituras e reuniões em varanda, o Espiritismo. Acreditava ele na mediunidade;
que os mortos e os vivos se comunicassem.
No capítulo sobre a Proclamação da República, já se comentou da visão que teria
tido, e foi às pressas surpreender ao promotor Dr. Dunshee de Abranches, dando-lhe a notícia,
que só seria oficialmente comunicada 5 dias após. "O fato, em toda a vila, deu lugar aos mais
variados e espantosos comentários; atribuíram no logo muitas pessoas impressionáveis, a uma
revelação espírita, pois essa doutrina possuía numerosos adeptos em todo o sertão". (Dunshee
de Abranches em A Esfinge do Grajaú — págs. 326 e 237).
Portanto, já no final do século passado, existia em Barra do Corda a prática do
Espiritismo, segundo o próprio Abranches, católico fervoroso, que mais tarde chefiara a
Delegação Brasileira na solenidade de lançamento da Pedra Fundamental da Basílica de Santa
Terezinha do Menino Jesus, em Lisieux .
Não ficaram por aí os adeptos do Espiritismo em nosso meio.
A Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão — n° 06, de dezembro
de 1956, p. 123 — publica discurso de homenagem do prof. Virgílio Domingues Filho à
memória do desembargador Benedito Barros Vasconcelos, falecido no ano anterior.
Ali, constata-se que, a partir de 1906, o grande Jurista fora nomeado para Juiz
Municipal de Barra do Corda, onde casou-se com a senhora D. Maria José Moreira, filha do
coronel Felipe Moreira de Sousa, abastado criador e político, cuja filha fora casada com o
revolucionário e acadêmico da Escola Militar dos anos 20, Euclides Maranhão.
Ligando-se os fatos, as pessoas e as coisas da Barra do Corda de ontem e
projetando tais acontecimentos aos dias atuais, pode-se dizer que, entre os Moreira,
Maranhão e outras famílias existia a prática discreta do Espiritismo, plantada pelos juristas
Barros Vasconcelos e, mais tarde, Dr. Costa Gomes.
Ambos escreveram obras que demonstraram a crença na doutrina espírita. Barros
Vasconcelos escreveu o romance que o consagrou — Redenção — e o Dr. Costa Gomes, o Livro
de Contos Infantis, sobre a vida de Jesus.
A falta de construção do Templo dos Espíritas em Barra do Corda se deve, antes
da Proclamação da República, aos naturais impedimentos constitucionais e, a partir e então,
ao comportamento eclético dos Espíritas, que costumam, via de regra, freqüentar o Templo
Católico.

Trabalho de Digitalização – Professor Leonardo de Arruda Delgado

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