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Missões no Brasil

* CRISTIANIZAÇÃO 

 A chegada ao Brasil
Quando a armada portuguesa estava para partir, em 8 de março de 1500, o bispo Diogo Ortiz
benzeu a bandeira da Ordem de Cristo, instituição militar e religiosa que financiou a expansão
marítima portuguesa. A bordo da caravela de Pedro Alvarez Cabral viajavam o frei Dom
Henrique Soares de Coimbra e 8 padres franciscanos, de modo que houvesse
estrategicamente um sacerdote para cada 150 tripulantes. 
Como era costume da cultura portuguesa, suas expedições viajavam munidas do calendário
litúrgico (dias dos santos), para que cada acidente geográfico encontrado fosse batizado com
nomes religiosos. Assim, esses acidentes passaram a ser chamados de Monte Pascoal, Cabo
de São Roque, Cabo de Santo Agostinho, Baía de Todos os Santos, Cabo de São Tomé, Ilha
de São Vicente, etc.

Desembarque dos portugueses em terras brasileiras

A primeira missa
No dia 26 de abril, quatro dias após a chegada, Dom Henrique celebrou a primeira missa em
território brasileiro, sendo que a segunda aconteceu em 1º de maio, para comemorar a paixão
de Cristo. Essa comemoração foi precedida por uma procissão, da qual participaram mais de
mil portugueses e cerca de 150 nativos.
A consciência missionária portuguesa incluía uma forte dose de religiosidade em “converter”
para a fé católica aqueles que não a conheciam, tudo isso andando de mãos dadas com a
expansão territorial, com o colonialismo e o consequente aumento do poder político. 
Charles Boxes, citado por Ronaldo Vainfas (1997) explica da seguinte forma: “A aliança estreita e
indissolúvel entre a cruz e a coroa,   o trono e o altar, a fé e o império, era uma das principais preocupações aos monarcas ibéricos, ministros
e missionários em geral.”   Vale lembrar aqui o que diz Isaías 1:13, quando fala que Deus não suporta a “iniqüidade   associada ao
ajuntamento solene.” 
O tratamento dispensado ao índio e ao negro, o desejo de enriquecimento rápido e o
concubinato, entre outros escândalos, colocam em dúvida a profundidade religiosa dos
portugueses que vieram para o Brasil.
Primeira missa realizada em solo brasileiro

O engavetamento do projeto missionário


O primeiro desafio missionário em favor do Brasil tem  a  mesma  idade do país: 500 anos. A
carta de Pero Vaz de Caminha (1º de maio de 1500) sugeria ao rei de Portugal que devesse
cuidar da salvação do indígenas, enviando um clérigo que procedesse ao batismo deles. Ele
entusiasmou-se ao ver os índios carregarem a cruz numa procissão, imitando os portugueses
durante o ofício religioso, como ajoelharem-se, levantarem as mãos para o alto, etc.  Segundo
Caminha, o peixe já estava na rede, faltando apenas o batismo, e os índios se tornariam
“cristãos”.
A “salvação” dessa gente era defendida estusiasticamente por Caminha, iniciativa que
considerava a principal semente a ser plantada na nova terra.  Ele sugeria que os indíginas
poderiam ser catequisados por quatro pessoas que ficariam aqui, após a partida de retorno da
expedição (dois degredados e dois desertores portugueses), enquanto não chegasse tal
missionário.  A história nos mostra que essas pessoas devem ter feito muito mais do
“catequizar” o povo indígena, pois 35 anos depois já havia uma pequena comunidade de
mamelucos (mestiços de portugueses com índios). 
A importância desse pedido e dessa carta foi tão pequena, que nada aconteceu nos próximos
anos. Esse documento, inclusive, desapareceu, só sendo encontrado e publicado quase 300
anos depois. (1827)
Só 50 anos depois desse fato é que chegou a primeira leva de missionários estáveis, a bordo
da expedição de Tomé de Souza, nomeado o primeiro governador do Brasil.
Os escândalos religiosos na Europa
Esse mesmo período de espera pela chegada de missionários católicos ao Brasil (1500-1549)
coincidiu com uma série de escândalos religiosos no  continente europeu, período que
testemunhou 7 mudanças no troco papal, sendo que cada um deles reinou apenas cerca de 7
anos.
Quando se usa a palavra escândalo, é porque o comportamento moral desses líderes não
condizia com seus cargos. O papa Alexandre VI, por exemplo, envolveu-se com uma senhora
da nobreza romana, com quem teve quatro filhos. Foi esse mesmo papa quem mandou traçar
a Linha de Tordesilhas, sete anos antes da “descoberta” do Brasil, separando as zonas de
influência entre Portugal e Espanha.

A inevitável ruptura da Igreja

Foi nesse ambiente de profunda decadência moral e religiosa que surgiram os primeiros focos
de descontentamento na Europa, visando uma reforma religiosa. (1320-1384) na Inglaterra,
João Huss (1369-1415) na Tchecoslováquia, além de Jerônimo Savonarola (1452-1498) na
Itália, estavam entre os primeiros. Huss e Savonarola foram mortos por ordem dos papas
Alexandre V e Alexandre VI.
Porém, foi a soma de todos os esforços de reforma da Igreja, realizados na primeira metade
do século XVI, que resultou na grande cisão da Igreja Cristã, envolvendo focos existentes na
Inglaterra, Escócia, Países Baixos, França, Alemanha, Suíça e Prússia, através de homens
como Martinho Lutero (1483-1546), Úlrico Zuínglio (1484-1531), Filipe Melâncton (1497-1560),
João Calvino (1509-1564) e João Knox (1514-1572)
Se quiséssemos marcar uma data simbólica para determinar a arrancada para a Reforma
Protestante, diríamos que foi 31 de outubro de 1517, quando Lutero protestou publicamente
contra o abuso na venda de indulgências. Suas 95 teses foram afixadas na porta da igreja de
Wittenberg, na Alemanha, durante o pontificado do papa Leão X. 
Para enfrentar os problemas da Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana provocou a
sua própria reforma (Contra-Reforma), através da ação da Sociedade de Jesus (1540), da
Inquisição Romana (1542) e do Concílio de trento (1545).
Voltando às missões no Brasil, foi depois desses acontecimentos que Portugal resolveu
mandar seus 6 primeiros missionários para cá (1549), membros da recém fundada
Companhia de Jesus.
Nesse momento histórico, já se fazia necessário diferenciar quem eram os missionários
católicos romanos  e os missionários protestantes, uma vez que em 1555 chegariam ao Rio
de Janeiro os primeiros missionários reformados, não podendo se garantir se vieram com
interesses de missões, ou se eram protestantes que vieram em busca de bons negócios aqui. 
É bom que se diga que, no início desse mesmo milênio, já havia acontecido uma primeira
separação da Igreja Romana, quando foi fundada a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa,
também chamada de Igreja Oriental.
Abaixo, alguns dos maiores líderes da Reforma Protestante.
*O INÍCIO DA EVANGELIZAÇÃO
Os primeiros missionários católicos
Como já foi dito, os primeiros missionários a chegarem aqui pertenciam à Companhia de
Jesus, fundada pelo sacerdote basco Inácio de Loyola, cujos membros faziam voto de
pobreza.  Sua ação espelhava-se no comportamento de Jesus, procurando buscar e salvar o
que se havia perdido. Para isso, fundaram uma casa de recuperação para prostitutas, uma
hospedaria para agasalhar moças solteiras, nobres empobrecidos e meninos abandonados.
Loyola costuma dizer: “Devo orar como se tudo dependesse de Deus e trabalhar como se tudo dependesse de
mim.”  Quando morreu em 1556, ele mantinha cerca de mil jesuítas em vários continentes.
Junto com Tomé de Souza, primeiro Governador Geral do Brasil, vieram mais de mil pessoas
entre soldados, funcionários, colonos, artesãos e cerca de 400 criminosos condenados a viver
fora de Portugal. Foi nessa mesma viagem que chegaram os seis primeiros missionários ao
Brasil (1549), subordinados a Loyola, e tendo como chefe imediato Manoel da Nóbrega. 
Depois de instalar o primeiro colégio jesuíta na Bahia, Nóbrega foi para a capitania de São
Vicente, onde fundou o Colégio de São Paulo (1554). Com sua morte, vieram outros jesuítas,
podendo-se destacar os nomes de José de Anchieta (1534-1597) e Antônio Vieira (1608-
1697). Durante 200 anos, o número de jesuítas chegou a 480, sendo que pouco menos da
metade já eram pessoas nascidas no Brasil.
As primeiras dificuldades
Quanto à opção de evangelizar o território brasileiro, surgiram, de imediato, dificuldades a
serem enfrentadas, que enumeraremos a seguir:
 
Extensão territorial e migrações
 
A extensão territorial (cem vezes maior que Portugal) foi a principal dificuldade encontrada pelos primeiros
missionários, além das diferentes migrações a se estabelecerem aqui, como os europeus (portugueses,
franceses, holandeses,etc.) e africanos (escravos).

A diversidade cultural indígena

Os primeiros missionários foram descobrindo que havia povos indígenas de diferentes línguas
e costumes. Eles habitavam todo o litoral, além do interior próximo e distante, representando
cerca de 1,5 milhão de habitantes, divididos em mais de mil etnias. Entre muitas outras,
podem ser citados os aimorés, apinajés, botocudos, caertés, caiapós, canelas, cariris,
goitacazes, guaianazes, guaranis, tabajaras, timbiras, tupinambás, tupiniquins, tupis, xerentes
e muitos outros.  Eram mais de mil etnias indígenas, cada uma com suas características e
línguas distintas. Até hoje há equipes de missionários gastando em torno de 25 anos de suas
vidas para traduzir o Novo Testamento para determinadas línguas indígenas.
Quanto à religiosidade indígena a ser substituída pela fé católico-romana, registre-se que os
índios não tinham deuses certos, nem ídolos, mas eram religiosos, dançavam, cantavam,
submetendo-se a seus pajés (sacerdotes, profetas e médicos-feiticeiros). De um modo geral,
nenhum desses povos sabia da unicidade de Deus, da Sua santidade, soberania, amor e
graça. Nunca ouviram falar de Jesus, Seus milagres, Sua morte e ressurreição, Sua ascenção
e volta.
Esses indíginas não tinham residência fixa, mudando de lugar de acordo com as
conveniências de abundância ou escassez de comida. Em cada oca moravam várias famílias,
constando de pai, mãe, filhos, genros e noras, mulheres solteiras, parentes idosos, amigos,
agregados, netos, bistenos e até prisioneiros de guerra.  O contato íntimo entre os casais
acontecia fora da oca, no mato ou na praia. Eles não tinham horário pré-estabelecido para
alimentação e nem costumavam ajuntar comida em celeiros. 
Além disso tudo, os indígenas se dividiam em pacíficos, guerreiros e até antropófagos, e suas
comunidades eram separadas umas das outras por grandes distâncias. A população indígena
da época era superior a toda a população de Portugal.

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