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João 4:21-24
Vamos inicialmente focalizar esta área dos cânticos de louvor. A Reforma passou por
dois estágios na reforma dos cânticos na Igreja. Em primeiro lugar, Lutero foi o pai do
cântico congregacional. Ele viu que por mais de mil anos na Igreja os cânticos estavam
nas mãos dos corais, dos monges e das freiras e não nas mãos do povo de Deus. Uma
das primeiras coisas que Martinho Lutero fez em 1524 foi introduzir na Igreja o uso do
hinário. Lutero deu de volta ao povo de Deus o cântico congregacional. Eles não
precisavam mais vir ao culto vendo-o apenas como uma forma de performance, mas
eles vinham para participar. A segunda etapa foi com Calvino. Lutero restaurou o
louvor congregacional, mas Calvino restaurou a cântico bíblico. Calvino via que na
igreja primitiva, início do Novo Testamento, a igreja cantava os salmos. Ele percebeu
que o coração não apenas deve ser guiado pela Bíblia, mas que a adoração deve ser
repleta de Bíblia e que o cântico na adoração bíblica não precisa apenas ser guiado pelos
princípios bíblicos, mas deveria ser cheio de conteúdo bíblico. Então, Calvino
reintroduziu o saltério na igreja de Cristo. Para Calvino a adoração a Deus deveria ser o
encontro com a Palavra, a leitura da Palavra, a pregação da Palavra, o cântico da
Palavra. Tudo tinha de ser centralizado na Palavra de Deus. Esta é uma breve história da
reforma do culto bíblico.
a) O Passado. “Sempre foi assim!”. E se foi suficiente para as pessoas do passado, será
bom para nós também hoje. Nossos pais adoraram assim então nós adoraremos assim.
Dessa forma o passado é a regra para o presente.
c) Pragmatismo. Funciona, atrai pessoas e é popular? Então, vamos fazer assim! Não
fazer de outra forma porque isso não seria popular e não atrairia as pessoas. Assim,
nossa regra é o pragmatismo: o que funciona.
d) Proibição. Tudo é permitido desde que não seja explicitamente proibido na Palavra
de Deus. Esse foi o princípio que Lutero usou. Ele basicamente disse: Se a Bíblia não
proíbe as velas, então podemos usá-las e assim por diante. Então, se não houver uma
clara proibição, podemos fazer. A Bíblia não proíbe em nenhum lugar a dramatização
no culto, então pode-se usar o drama, o teatro e assim por diante.
Eu diria que estas são as quatro regras mais usadas hoje pelas pessoas para saber o que
devem fazer no culto. Mas a pergunta a ser feita é: isso é Bíblico? A resposta é: Não!
Então, qual é a regra bíblica? É a regra usada por Calvino que a descobriu na Palavra de
Deus: Somente aquilo que é ordenado na Bíblia deve ser permitido no culto a Deus.
Verdadeira adoração é adoração ordenada nas Escrituras conforme a vontade de Deus.
Se não for ordenado, não é autorizado. A Bíblia ordena dramatização, teatro, no culto?
Não. A Bíblia ordena o uso de velas? Não. A Bíblia ordena o uso de vestimentas
clericais? Não. Então, temos aqui a regra mais radical de todas. É o Princípio
Regulador. Mas, de certa forma nós podemos dizer que todas aquelas regras são
“princípios reguladores”. Todas elas regras regulam o culto. Então, todos nós temos
algum tipo de princípio regulador. Então a pergunta é: Será que este nosso princípio
regulador é o Princípio Regulador da Bíblia? O Princípio Regulador bíblico, como
podemos demonstrar, é a prescrição. Somente aquilo que foi ordenado é permitido.
Quando estamos considerando nossa adoração, é esta a pergunta que devemos fazer:
Deus ordenou isso? Não devemos perguntar: Ele proibiu isso? Isso foi sempre feito
assim? Gostamos disso? Também não devemos perguntar, “isso funciona?”. E assim
por diante.
Por que Deus fez assim com oculto? Em parte é porque temos corações pecaminosos e
corruptos. Nossos corações não são confiáveis! E não podemos confiar em nossos
corações para acharmos a forma correta de adorar a Deus. Por isso Deus nos deu
direcionamento suficiente para que sigamos. E este direcionamento é uma direção
externa a nós. Deus tem o direito de decidir como Ele mesmo quer que seja adorado.
Pense no presidente do Brasil. É ele que decide como funciona seu governo, como as
pessoas devem se aproximar dele. Ele decide o cerimonial para receber as pessoas. Se
nós desejamos agradá-lo, então vamos seguir tudo aquilo que ele determinou. E se os
governadores humanos fazem assim, quanto mais o Rei dos Reis e o Senhor dos
Senhores. De onde tiramos isso na Bíblia?
Lembramos que aqui Davi e o povo de Israel tentaram levar a arca da aliança e isto era
uma coisa boa; estavam com muita sinceridade, tinham boa motivação. Mas eles não
fizeram segundo as ordenanças de Deus. Por isso, quando Uzá tentou tocar na arca,
Deus o matou. Assim eles disseram: “não o buscamos, segundo nos fora ordenado”.
Podemos ver a mesma coisa com o Rei Jeroboão e o Rei Uzias que foram castigados por
terem adorado a Deus de uma forma que Ele não tinha ordenado. Deus tem nos dado
muitas advertências sobre o que Deus nos fará se não respeitamos aquilo que Ele tem
definido. Quando nós realmente abraçamos este princípio de que somente aquilo que
Deus tem ordenado é legítimo no culto, o que sobra?
“Mas a forma aceitável de cultuar o Deus verdadeiro é instituída por sua própria
vontade revelada, de modo que ele não pode ser cultuado segundo as imaginações e
invenções humanas, nem segundo as sugestões de Satanás, sob alguma representação
visível, ou por qualquer outra forma não prescrita na Sagrada Escritura” (CFW).
Veja o que lemos aqui. Nós não podemos adorar a Deus usando ídolos ou qualquer
outra forma não ordenada na Palavra. Mas alguém poderia dizer; “Eu nunca iria adorar
a Deus com ídolos”, mas aqui a Confissão de Fé de Westminster reúne o ensino bíblico
sobre este assunto e diz que qualquer adoração que não encontra prescrição ordenada
por Deus na Palavra, é idolatria. Não é que você está adorando ao Deus errado, mas a
questão é que você está adorando a Deus de forma errada; de uma forma não ordenada
nas Sagradas Escrituras. Então, podemos usar isso também na área do louvor, nos
cânticos, porque podemos aplicar este princípio a todas as áreas do culto. Do início até o
fim, Deus tem ordenado esta área ou aquela; Ele ordena isto e aquilo. E nos cânticos de
louvor, o que Deus nos ordenou a usar? Segundo o pensamento dos reformadores, Deus
nos ordenou o cântico dos Salmos. No Velho Testamento temos exemplos dos Salmos
sendo cantados, mas também no Novo Testamento. Por exemplo, Colossenses 3:16 ?
“Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos
mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos
espirituais, com gratidão, em vosso coração”e Efésios 5:19. À primeira vista, vendo
estes versículos você pode dizer: “Então eu posso cantar não apenas Salmos, mas outros
cânticos também”. Temos duas coisas a dizer em resposta a esta afirmação:
Mais uma vez hino, no grego, significa Salmo. Naquela época, esta era uma prática bem
conhecida na igreja judaica. Quando os judeus estavam celebrando a páscoa, eles
cantavam os hinos pascais. Esses hinos pascais nós os encontramos dos Salmos 113 ao
118. Jesus cantou com seus discípulos estes hinos. Um comentarista disse que o canto
destes Salmos de Hallel, por Cristo e seus discípulos na noite da Sua traição, marca o
momento no qual o saltério passa da antiga dispensação para a nova dispensação,
porque acompanhou a última celebração da páscoa e a primeira celebração da Santa
Ceia do Senhor. Neste versículo Jesus está dizendo que estes mesmos Salmos do Antigo
Testamento são adequados e suficientes no Novo Testamento.
Então, como vimos antes, no Velho Testamento nós temos prescrição e exemplo. Mas
também no Novo Testamento nós temos prescrição e exemplo. Vemos, portanto, como
os reformadores restauraram o Princípio Regulador do culto. Sendo assim, o culto
precisa ser algo ordenado hoje.
Recentemente li uma citação de Ray Lanning que é um perito reformado neste assunto
de culto e ele dizia: “Das muitas mudanças implementadas pelos reformadores,
nenhuma foi mais dramática do que a mudança do culto público”. Calvino disse: “Todo
serviço a Deus que é inventado pelo cérebro do homem na religião de Deus sem o Seu
expresso mandamento é idolatria”. Estas palavras são bem sérias.
1º) Primeiro, porque seguindo este padrão bíblico, conseguiremos ter simplicidade.
Todas as decisões sobre o que deve existir no culto se tornam tão simples. Não importa
quantas pessoas, sejam elas jovens ou velhas, cheguem dizendo: “Esta é uma idéia
ótima para o culto”. Nós não precisamos consultar o passado, não precisamos perguntar
se isso vai ser popular, não precisamos perguntar se isso vai funcionar, não é necessário
procurar na Bíblia para ver se há uma provisão, mas simplesmente perguntar: “Isso foi
ordenado? Isso é requerido?”. Simplicidade! Realmente isso iria simplificar de forma
impressionante os cultos de adoração nas igrejas.
4º) Uma quarta razão é a glória de Deus. Se nós dissermos: “Nós não somos
confiáveis para dizer o que é apropriado para o culto; só Deus tem o direito de dizer o
que é legítimo na adoração e eu me submeto a tudo aquilo que Ele ordena”. O que isso
diz? Diz que Deus esteja em seu trono e eu esteja no pó! Isso dá a Deus o seu direito e
nos torna seus servos. Assim Deus é glorificado.
4) Em quarto lugar cantamos com Cristo. Que hinário Cristo usava quando neste
mundo? Ele usava o livro de Salmos. Isso era o maná da Sua alma. Esses foram os
salmos, os cânticos que sua mãe o ensinou a cantar. Foram os cânticos que Ele tinha na
memória quando estava na Sinagoga; foram estes os cânticos que gradativamente lhe
revelavam todas as implicações do seu trabalho como Mediador. Portanto, vemos que
em momentos críticos e importantes de sua vida, estes Salmos surgem em seu coração.
Estes Salmos edificavam sua própria alma. O primeiro Salmo que uma mãe judaica
ensinava a seu filho era aquele que dizia: “Em tuas mãos entrego o meu espírito”. Quais
fora as últimas palavras que saíram da boca de Jesus? Veja o salmo 22 e o 69. Eles nos
revelam tudo que estava se passando na mente e no coração de Jesus quando ele estava
morrendo. Os Evangelhos nos revelam e relatam muitas coisas dos sofrimentos externos
de Cristo, mas não chegam a nos informar aquilo que estava se passando no seu
coração. Mas os Salmos nos informam disso. Mil anos antes do evento da morte de
Jesus estes Salmos profetizam e nos predizem os pensamentos, temores e desejos que
encheram o coração de Jesus. Então, quando estamos cantando os Salmos guardemos
em nossas mentes o fato de que Cristo cantava estes Salmos, meditava neles. Onde e
quando Cristo cantou estes Salmos? Como Ele cantou estes Salmos? Você não teria
muito prazer e gozo em ouvir o próprio Cristo cantando estes Salmos? Por exemplo, não
seria prazeroso ouvi-lo cantando as palavras do Salmo 118.17-19?
2) Adore de verdade. Uma coisa é dar uma palestra sobre adoração. Uma coisa é
lermos muitos livros sobre adoração, e pode se tornar até um perito no assunto de
adoração. Mas você sabe adorar? Você se dobra a Deus? Em sua vida há uma adoração
real, de coração a coração, ao seu amado Salvador?
3) Vamos ter a coragem de fazer uma reforma em nosso culto se assim for
necessário. Lembram-se do que Jesus disse em Mateus 15.8-9: “Este povo se aproxima
de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de
mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”.
Notem que não são os preceitos de Deus, mas de homens. Ele diz: “em vão me
adoram”. Então, vamos ter a coragem de fazer uma reforma na adoração.
Existem duas formas eficazes para se persuadir e que são muito melhor do que todas as
palestras que você possa dar: (1) Cante os Salmos com alegria no coração. (2) Se você é
pastor pregue os Salmos. Se olhar para trás, para a história do culto bíblico, a época
quando os Salmos caíram em desuso, essas épocas também coincidiram com o
momento quando não se tinha a pregação de Cristo nos Salmos. Quando você estiver
pregando Cristo nos Salmos será muito mais fácil persuadir o povo a cantar os Salmos
para Cristo.
5) Em último lugar. Toda nossa adoração deve ser uma antecipação do céu. Deve ter
um sabor do céu vindouro. Esse é o grande fim da adoração, nos levar ao céu e até
trazer o céu até nós. Naquele dia quando não haverá mais nenhuma divisão e nenhum
argumento restará e todo propósito da adoração aqui na terra deve ser para nos dá um
pequeno sabor do céu vindouro. Esperamos e oramos que esta seja nossa experiência.