Você está na página 1de 9

HINÁRIOS BRASILEIROS

Os primeiros hinários brasileiros em português surgiram no final do


séc. XIX (não considerados aqui os hinários católicos). O primeiro
hinário foi o Salmos e Hinos, organizado em 1861 pelo casal Dr.
Robert Reid Kalley e Sarah Poulton Kalley, fundadores da Igreja
Evangélica Fluminense. Em 1876, Richard Holden compilou e
lançou a primeira edição do hinário Hinos e Cânticos; o segundo
hinário evangélico brasileiro. De iniciativa de Salomão Luiz
Ginsburg, em 1891 foi publicada a primeira versão do Cantor
Cristão, terceiro dos hinários evangélicos brasileiros e primeiro
hinário oficial das Igrejas Batistas do Brasil.

Outros hinários foram lançados na primeira metade do século


seguinte, dos quais destacam-se três: a Harpa Cristã, o Hinos de
Louvores e Súplicas a Deus e o Hinário Evangélico. A Harpa Cristã
é o hinário oficial das igrejas Assembleias de Deus no Brasil e foi
lançada em 1922. O livro Hinos de Louvores e Súplicas a Deus é o
hinário utilizado nos cultos e serviços da Congregação Cristã no
Brasil; surgiu por volta do ano 1934 de forma mista, contando com
hinos em italiano e outros traduzidos para o português. O Hinário
Evangélico foi produzido pela extinta Confederação Evangélica do
Brasil; sua primeira versão foi publicada em 1945 e teve como base
o hinário Salmos e Hinos.

Na segunda metade do século XX, muitos outros hinários surgiram.


Em 1977, foi publicada a primeira versão do Novo Cântico, hinário
adotado pela Igreja Presbiteriana do Brasil. A Igreja Evangélica de
Confissão Luterana (IECLB) lançou em 1981 o Hinos do Povo de
Deus. O Hinário Luterano, que é o hinário oficial da Igreja
Evangélica Luterana do Brasil (IELB), foi lançado em 1986. No ano
de 1989, a Igreja Presbiteriana Independente publicou o Canteiro,
embrião do atual Cantai todos os povos. O Hinário para o Culto
Cristão, um dos dois hinários oficiais das igrejas Batistas do Brasil,
foi publicado em 1991, no centenário do Cantor Cristão. O Hinário
Adventista do Sétimo Dia foi lançado oficialmente em 1996 e conta
com muitos hinos do hinário Cantai ao Senhor, lançado em 1963, e
com alguns hinos resgatados do antigo Hinário Adventista, lançado
em 1933. Por fim, em 1998, foi publicado o Hinário das Igrejas
Evangélicas Reformadas do Brasil.

Outros hinários também fizeram parte da história da música sacra


brasileira; alguns em uso até hoje, outros em desuso. Muitas
também foram as revisões feitas em cada um dos hinários: inclusão
de novos hinos e melhorias poéticas, gramaticais e de tradução
para o português. Em boa parte dos hinários também constam
confissões denominacionais, leituras bíblicas, formas litúrgicas e
outras orientações para a celebração dos cultos.
__________
1.2 Tradições Históricas
No contexto evangélico, a importância do ensino por meio do
canto coletivo é por si só evidente. Somente a participação de uma
congregação como um todo, traz os resultados de aprendizado do
ensino do conteúdo doutrinário a todos e não somente a um grupo
de uma determinada igreja, além de proporcionar vivência e
aprendizado musical.
Os fatos históricos ocorridos na igreja protestante nos relatam a
coerência desta afirmação comprovando a importância do ensino
através do canto coletivo, além de delinear os parâmetros que são
usados pelos ministérios de louvor na atualidade.
1.3 Surgimento dos ministérios de louvor no Brasil
No Brasil se constata logo no início do período de colonização a
utilização de música protestante. Braga (1967) destaca que no
próprio século do descobrimento do Brasil por Portugal, que
também foi o da Reforma protestante na Europa, soaram em
nossas plagas os primeiros cânticos evangélicos com musicalidade
européia, inicialmente na execução individual de viajantes alemães
luteranos, como Hans Staden e Heliodoro Eobano Schmidel; depois
entoados em conjunto pela igreja Calvinista no Rio de Janeiro.
Silva relata que nos séculos seguintes a atividade evangélica era
escassa, pois até o século XVIII
Tanto em Portugal quanto em terras de Santa Cruz, dominou com
poderes absolutos o chamado Santo Ofício da Inquisição que
visava, particularmente, a extinção dos denominados herejes:
judeus e protestantes (Silva, 1996, p.30).

ILHA de Villegagnon. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e


Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra34834/ilha-de-
villegagnon>. Acesso em: 08 de Mar. 2021. Verbete da
Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
Castagneto, 1897

Em meio ao que foi dito na Introdução e nestes primeiros parágrafos do


Desenvolvimento, tem-se um dos primeiros evangélicos a pisar no Brasil: o alemão
Hans Staden. Nascido em 1525 na cidade de Homberg, foi um aventureiro do século
XVI. Veio ao Brasil por duas vezes a fim de combater nas capitanias de Pernambuco
(1547) e de São Vicente (1549). Em 1553, Tomé de Sousa[2] concede a ele a função de
artilharia no forte de Santo Amaro, com o intuito de combater os indígenas. No ano
seguinte é capturado por Tupinambás, ficando nove meses preso. Lá, cantava Salmos e
Cânticos, como o clássico Salmo 130 (Das profundezas clamo a Ti,Senhor!). E foi por
causa da cantoria que se livrou da morte, visto que os índios gostavam. Além disto,
“recitava trechos bíblicos e orava em voz alta” (SOUSA, 2011, p.22), deixando os
índios amedrontados, adquirindo respeito e, por consequência desta convivência de
medo e, depois, “amor”, aprendendo a língua deles. Sendo solto, voltou à Europa no dia
31 de outubro de 1554, chegando a Normandia em 20 de fevereiro de 1555.

OUTROS PROTESTANTES NO BRASIL


“Sobre a presença espanhola, sabemos que antes de Cabral passaram pela costa brasileiro Diego de Lepe
e Vicente Pinzón. Pouco mais tarde os espanhóis procuraram uma passagem para o Pacífico pelo Sul do
continente, visando chegar às ilhas Molucas. Achado o caminho com a expedição de Fernão de
Magalhães (1519-1522), estabeleceram logo uma rota regular, que transformou o litoral brasileiro em
ponto de apoio para seus navegadores e na qual exploravam também o pau-brasil.

A presença francesa no litoral brasileiro foi igualmente precoce. Sabemos que Binot de Gonneville aqui
esteve em 1504, carregando pau-brasil, mas ele próprio indicou, em relato posterior, outros franceses que
o haviam antecedido. Apesar da falta de documentos confiáveis, a atividade comercial dos franceses deve
ter sido intensa, pois o governo português fez diversos protestos à corte francesa antes de 1516 e enviou
ao Brasil, nesse ano, a expedição “guarda-costas” de Cristóvão Jacques.”
(WEHLING, A; WEHLING, M., 2005, p.46)

Como já mencionado, não só os portugueses estiveram no Brasil. Espanhóis,


holandeses e franceses puseram seus pés aqui. Os cristãos franceses chegaram em uma
esquadra com aproximadamente 600 pessoas no dia 10 de novembro de 1555. No dia 07
de março de 1557, já em uma esquadra com aproximadamente 300 pessoas, estavam 14
protestantes franceses ou, como eram chamados, huguenotes. Dentre estes 14, um pastor
e um doutor em Teologia, enviados por João Calvino.

João Calvino

Em meio ao que foi dito na Introdução e nestes primeiros parágrafos do


Desenvolvimento, tem-se um dos primeiros evangélicos a pisar no Brasil: o alemão
Hans Staden. Nascido em 1525 na cidade de Homberg, foi um aventureiro do século
XVI. Veio ao Brasil por duas vezes a fim de combater nas capitanias de Pernambuco
(1547) e de São Vicente (1549). Em 1553, Tomé de Sousa[2] concede a ele a função de
artilharia no forte de Santo Amaro, com o intuito de combater os indígenas. No ano
seguinte é capturado por Tupinambás, ficando nove meses preso. Lá, cantava Salmos e
Cânticos, como o clássico Salmo 130 (Das profundezas clamo a Ti,Senhor!). E foi por
causa da cantoria que se livrou da morte, visto que os índios gostavam. Além disto,
“recitava trechos bíblicos e orava em voz alta” (SOUSA, 2011, p.22), deixando os
índios amedrontados, adquirindo respeito e, por consequência desta convivência de
medo e, depois, “amor”, aprendendo a língua deles. Sendo solto, voltou à Europa no dia
31 de outubro de 1554, chegando a Normandia em 20 de fevereiro de 1555.

No dia 10 de março de 1557 foi realizado o primeiro culto no Brasil, na Baía


de Guanabara (RJ). Um dos hinos cantados foi o Salmo 5, de acordo com o disposto no
Saltério Huguenote, hinário dos franceses. Porém, os portugueses interpretaram isto
como uma tentativa de a França querer tomar o país. Os franceses foram mortos e, em
1567, totalmente expulsos.

"O desembarque no forte Coligny deu-se no dia 10 de março, uma quarta-feira. O vice-almirante recebeu
o grupo afetuosamente e demonstrou alegria porque vinham estabelecer uma igreja reformada. Logo em
seguida, reunidos todos em uma pequena sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças,
o primeiro culto protestante ocorrido nas Américas, o Novo Mundo. O ministro Richier orou invocando a
Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos,
Senhor, às minhas palavras”. Esse hino constava do Saltério Huguenote, com metrificação de Clement
Marot e melodia de Louis Bourgeois, e até hoje se mantém nos hinários franceses. Bourgeois foi diretor
de música da Igreja de Genebra de 1545 a 1557 e um dos grandes mestres da música francesa no século
16. A versão mais conhecida em português (“À minha voz, ó Deus, atende”) tem música de Claude
Goudimel (†1572) e metrificação do Rev. Manoel da Silveira Porto Filho. Em seguida, o pastor Richier
pregou um sermão com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar
na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu
templo”. Após o culto, os huguenotes tiveram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe
moqueado e raízes assadas noborralho. Dormiram em redes, à maneira indígena. A Santa Ceia segundo o
rito reformado foi celebrada pela primeira vez no domingo 21 de março de 1557."
(Daniele Pereira – Portal Blog: IP Esperança)

Em 1630, há a chegada dos holandeses no Nordeste, tendo permanecido até


1654, quando foram expulsos pelos portugueses. Eles fundaram 22 congregações da
Igreja Reformada no Brasil, ficando todas, a princípio, sob jurisdição do Presbítero de
Amsterdã. Não há registros de atividades protestantes no Brasil no século XVIII (1700-
1799). Uma das prováveis causas é a presença do Santo Ofício da Inquisição, que tinha
como um dos objetivos extinguir protestantes, considerados hereges.
 
Santo Ofício da Inquisição

“Às vezes, a vida cotidiana da colônia parecia estar irreversivelmente demonizada. Na


mentalidade popular, delineava-se, nítida, a visão do inferno. O Compêndio Narrativo do Peregrino da
América, que coletou inumeráveis tradições populares em voga no primeiro quartel do século XVIII,
ficou a imagem de um dos infernos possíveis: um inferno semelhante ao que as populações européias
tinham em seu acervo imaginário, e que eruditos da Baixa Idade Média incorporavam à demonologia.”
(MELLO, 1986, pp.144-145)

OUTROS PROTESTANTES NO BRASIL


“Sobre a presença espanhola, sabemos que antes de Cabral passaram pela costa brasileiro Diego de Lepe
e Vicente Pinzón. Pouco mais tarde os espanhóis procuraram uma passagem para o Pacífico pelo Sul do
continente, visando chegar às ilhas Molucas. Achado o caminho com a expedição de Fernão de
Magalhães (1519-1522), estabeleceram logo uma rota regular, que transformou o litoral brasileiro em
ponto de apoio para seus navegadores e na qual exploravam também o pau-brasil.

A presença francesa no litoral brasileiro foi igualmente precoce. Sabemos que Binot de Gonneville aqui
esteve em 1504, carregando pau-brasil, mas ele próprio indicou, em relato posterior, outros franceses que
o haviam antecedido. Apesar da falta de documentos confiáveis, a atividade comercial dos franceses deve
ter sido intensa, pois o governo português fez diversos protestos à corte francesa antes de 1516 e enviou
ao Brasil, nesse ano, a expedição “guarda-costas” de Cristóvão Jacques.”
(WEHLING, A; WEHLING, M., 2005, p.46)

Ao longo da história outros líderes e grupos protestantes surgiram com o objetivo de


tornar a música um dos principais instrumentos de ensino do conteúdo doutrinário. Para isso
se utilizaram novamente do princípio da música contextualizada com a linguagem musical
popular de cada geração. Isaac Watts (1674-1748) era conhecedor de várias línguas e
acostumado com a poesia e literatura de sua época, criticou a falta de estética dos salmos
metrificados. Watts tornou-se o ‘pai da hinologia inglesa’, utilizando o estilo de canções
populares e poesia da sua época (Baggio, 1997).
Foram as músicas de outros líderes protestantes, a saber, John Wesley (1703-1791) e
seu irmão Charles Wesley (1707-1788), fundadores da denominação protestante chamada
Metodista, que ensinaram aos fiéis a doutrina do ‘livre arbítrio’, formulada pelo teólogo Jacob
Arminius (1560 – 1609).
As fontes que eles usaram foram as novas músicas dos salmos, melodias de óperas, e
canções folclóricas de origem germânica. Um exemplo deste tipo de música é
‘Mendenbras’; comumente cantada com a letra ‘ó dia de descanso e júbilo’, mas ainda
pode ser ouvida com suas palavras históricas e seculares, nos ‘jardins de cerveja da
Alemanha’ (Hustad, 1981, p.129).
Em 1800, começou nos Estados Unidos o movimento de acampamentos. Presbiterianos,
batistas e metodistas se uniram em acampamentos, que irromperam nos condados de Logan e
Bourbon, no estado do Kentuck. A ênfase no crescimento do número de protestantes, já
denominados evangélicos, passou para os estados do sul dos Estados Unidos, começando
com
os presbiterianos da Virgínia. Contudo, ao continuar, o movimento se centralizou nos batistas
e metodistas. Muitos dos cânticos dos acampamentos também usavam melodias seculares. “A
música que caracterizava os acampamentos era muito simples, com muita repetição,
freqüentemente improvisada, emocional e com influência das músicas seculares” (Hustad,
1981, p.130).
Vejamos um texto típico desta forma de canção: 9
Oh! Coloquem os seus corações em ordem, ordem, ordem. Oh! Coloquem os seus
corações em ordem para o fim dos tempos. Pois Gabriel vai tocar, no porvir, no
porvir. Pois Gabriel vai tocar no porvir (Harpa Evangélica, 1845, p.40).
Começando em 1840, os hinos para Escola Dominical de professores como William B.
Bradbury e outros assumiram a mesma forma musical que as canções dos acampamentos:
melodia cativante, harmonia simples, além de um inevitável refrão. Mais tarde, essas canções,
inicialmente compostas para crianças, foram adotadas pelos adultos (Hustad, 1981).
Esta forma de canção - simples, repetitiva, freqüentemente improvisada - é a forma que
caracteriza o estilo utilizado posteriormente por muitas igrejas e atualmente pelos ministérios
de louvor.
Description
English: Calvins Psautier Huguenot (ed. 1539) - Title page
Date 1539
Source [1]
Author Jean Calvin

https://en.wikipedia.org/wiki/File:Psautier_huguenot_title_1539.jpg, 13/04/2021

Hoje relembramos a realização do primeiro culto protestante no Brasil.


Leia o relato feito pelo historiador da IPB, Rev. Alderi Souza de Matos, sobre os
acontecimentos daquele dia.... “O desembarque no forte Coligny deu-se no dia 10 de março,
uma quarta-feira. O vice-almirante recebeu o grupo afetuosamente e demonstrou alegria
porque vinham estabelecer uma igreja reformada. Logo em seguida, reunidos todos em uma
pequena sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto
protestante ocorrido nas Américas, o Novo Mundo.
O ministro Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o
costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”. Esse hino
constava do Saltério Huguenote, com metrificação de Clement Marot e melodia de Louis
Bourgeois, e até hoje se mantém nos hinários franceses. Bourgeois foi diretor de música da
Igreja de Genebra de 1545 a 1557 e um dos grandes mestres da música francesa no século
16. A versão mais conhecida em português (“À minha voz, ó Deus, atende”) tem música de
Claude Goudimel (†1572) e metrificação do Rev. Manoel da Silveira Porto Filho.
Em seguida, o pastor Richier pregou um sermão com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço
ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida,
para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”. Após o culto, os huguenotes
tiveram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes
assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena. A Santa Ceia segundo o rito
reformado foi celebrada pela primeira vez no domingo 21 de março de 1557.”

Você também pode gostar