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MESTRADO E DOUTORADO
MÁRCIA HANZEN
Orientadora:
Prof. Dra. Sandra Maria Coltre
A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina
Só mesmo, rejeita
Bem conhecida receita
Quem não sem dores
Aceita que tudo deve mudar
HANZEN, Marcia. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE - 2021. Raiz de roça:
Empoderamento feminino e capital social na agricultura familiar. Orientadora: Drª Sandra Maria Coltre.
Esta dissertação investigou como a participação das mulheres agricultoras na Associação dos
Agricultores Familiares e Ecológicos de Medianeira - AAFEMED, contribui para o aumento do
empoderamento e do capital social. Neste contexto, o empoderamento e capital social como ampliação
da liberdade de escolher e agir, do poder dos indivíduos sobre os recursos e decisões que afetam suas
próprias vidas, se associa às questões de gênero, da agricultora familiar e seu lugar de fala. O estudo
foi exploratório com corte transversal em 2020, sem considerar a evolução dos dados no tempo. Os
dados de fonte primária foram coletados por meio de questionários aplicados para 37 agricultoras que
participaram espontaneamente do estudo. Na primeira parte levantou o perfil destas agricultoras e na
segunda parte levantou o grau de contribuição dos indicadores de capital social, econômico, social e
pessoal, para o empoderamento e as melhorias ocorridas nesta participação. Os dados foram tratados
em porcentagem e analisados descritivamente. Além disso, elaborou-se um documentário com 11
agricultoras sobre o tema que depois de editado foi disponibilizado o acesso pelo código (QRcode) para
complemento do tema. Os resultados apontaram que a participação na AAFEMED agregou maior
empoderamento pessoal (57%), o empoderamento econômico continuou igual para 59% das
entrevistadas e no empoderamento social houve uma agregação para 47% e para 53% das
entrevistadas permaneceu igual. Não houve indício de piora em nenhum dos indicadores analisados
em nenhuma das dimensões de empoderamento e capital social. Para 67% das agricultoras houve
melhoras satisfatórias e muito significativas nas dimensões que constroem o empoderamento e o
capital social, da mesma forma para 52% delas estes resultados estão vinculados aos 14 anos de
trabalho da AAFEMED. Todos os indicadores analisados evidenciaram que sim, a AAFEMED
contribuiu, principalmente para o empoderamento pessoal e aumento do capital social das mulheres
rurais associadas.
.
ABSTRACT
HANZEN, Marcia. State University of Western Paraná - UNIOESTE - 2021. Farming roots: Women's
empowerment and social capital in family farming. Advisor: Drª Sandra Maria Coltre.
This thesis investigated how the participation of female farmers in the Family and Ecological Farmers
Association of Medianeira - AAFEMED, contributes to increased empowerment and social capital. In
this context, empowerment and social capital as an extension of freedom to choose and to act over the
resources and decisions that affect their own lives, is associated with gender issues, of the female family
farmer and of her standpoint. This was an exploratory study with a cross-section in 2020, without
considering the evolution of the data over time. The primary data were collected by means of
questionnaires given to 37 female farmers that volunteered to participate in the study. The first part
surveyed the profile of these female farmers and the second part surveyed the extent that social capital,
economic, social and personal indicators contributed to empowerment and improvements that occurred
during this study. The data were treated as percentages and analysed descriptively. In addition, a
documentary was elaborated with 11 female farmers on the subject which, after being edited, was made
accessible through a code (QRcode) to complement the topic. The results indicated that participation in
AAFEMED added greater personal empowerment (57%), economic empowerment remained the same
for 59% of the interviewees and for social empowerment there was an increase for 47% while for 53%
of the interviewees it remained unchanged. There was no indication of worsening in any of the indicators
analysed in any of the dimensions of empowerment or social capital. For 67% of the female farmers
there were satisfactory and very significant improvements in the dimensions that build empowerment
and social capital, similarly for 52% of them these results are linked to the 14 years of work of AAFEMED.
All indicators analysed showed that indeed, AAFEMED has contributed, mainly to the personal
empowerment and increased social capital of the female rural members.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
Figura 12 - Número de filhos (A) e dependentes (B) por unidade familiar. ............... 98
Figura 13 – Faixa etária das agricultoras pesquisadas. ......................................... 100
Figura 14 – Categorias de produtos agropecuários produzidos nas unidades
pesquisadas. ........................................................................................................... 102
Figura 15 - Participação das mulheres agricultoras nas atividades agrícolas da
propriedade. ............................................................................................................ 103
Figura 16 – Principais atividades não agrícolas desenvolvidas nas propriedades. 103
Figura 17 – Responsabilidade de execução das atividades não agrícolas na
propriedade. ............................................................................................................ 105
Figura 18 – Faixas de renda atribuídas a comercialização de produtos junto a
AAFEMED. .............................................................................................................. 108
Figura 19 – Despesas da família e da propriedade assumidas pela mulher .......... 109
Figura 20 – Distribuição da responsabilidade no pagamento das contas da unidade
familiar. .................................................................................................................... 111
Figura 21 – Responsabilidade pelas atividades do lar. .......................................... 112
Figura 22 – Escolaridade apresentada pelas mulheres (A) e seus cônjuges (B .... 115
Figura 23 – Tempo de vivência na agricultura. ....................................................... 116
Figura 24 - Diferentes formas organizativas das mulheres da AAFEMED ............. 117
Figura 25 – Tempo de participação na AAFEMED. ................................................ 119
Figura 26 – Espaços de capacitação proporcionados pela AAFEMED. ................. 120
Figura 27 – Percentuais de contribuições proporcionadas às mulheres rurais pela
participação na AAFEMED. ..................................................................................... 122
Figura 28 - Contribuições registradas pelas mulheres rurais na dimensão dos
indicadores econômicos, pela participação na AAFEMED. ..................................... 128
Figura 29 - Contribuições registradas pelas mulheres rurais na dimensão dos
indicadores sociais, pela participação na AAFEMED. ............................................. 130
Figura 30 - Contribuições registradas pelas mulheres rurais pela participação na
AAFEMED na dimensão pessoal. ........................................................................... 131
Figura 32 - Contribuições registradas pelas mulheres rurais pela participação na
AAFEMED na dimensão do empoderamento.......................................................... 133
Figura 33 - Contribuições proporcionadas às mulheres rurais antes e depois da
participação na AAFEMED. ..................................................................................... 135
Figura 34 - Contribuições proporcionadas às mulheres rurais antes e depois da
participação na AAFEMED na dimensão econômica. ............................................. 137
Figura 35 - Contribuições proporcionadas às mulheres rurais antes e depois da
participação na AAFEMED na dimensão social. ..................................................... 139
Figura 36 - Contribuições proporcionadas às mulheres rurais antes e depois da
participação na AAFEMED na dimensão pessoal. .................................................. 140
Figura 37 - Contribuições proporcionadas às mulheres rurais antes e depois da
participação na AAFEMED na dimensão do empoderamento. ............................... 142
Figura 39 – Percentuais gerais da identificação dos processos de empoderamento
(A), e no antes e depois da AAFEMED (B). ............................................................ 146
LISTA DE SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
1.1 OBJETIVOS................................................................................................................... 14
1.1.1 Objetivo geral ................................................................................................... 15
1.1.2 Objetivos específicos........................................................................................ 15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 16
2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ......................................................................... 16
2.1.1 Desenvolvimento sustentável na ótica da equidade de gênero ........................ 20
2.2 AGRICULTURA FAMILIAR E RURALIDADE ................................................................. 25
2.3 COOPERAÇÃO E RECIPROCIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR .......................... 30
2.4 FEMINISMO COMO CONTRAMOVIMENTO DESCOLONIZADOR ............................... 36
2.5 EMPODERAMENTO E CAPITAL SOCIAL..................................................................... 45
2.6 INDICADORES DE EMPODERAMENTO E CAPITAL SOCIAL ..................................... 57
2.6.1 Capital social e gênero ..................................................................................... 60
2.7 LUTAS E HISTÓRIAS ADORMECIDAS NA CONSTRUÇÃO DO ASSOCIATIVISMO ... 62
3 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 72
4 RESULTADOS....................................................................................................... 76
4.1 OS MOVIMENTOS DE LUTA DAS MULHERES RURAIS NO CAMINHO DA CRIAÇÃO
DA AAFEMED ..................................................................................................................... 76
4.1.1 A AAFEMED na atualidade .............................................................................. 90
4.2 AS MULHERES DA AAFEMED, O EMPODERAMENTO E O CAPITAL SOCIAL .......... 97
4.2.1.2 A agricultora familiar associada à AAFEMED e a geração de renda e vida 109
4.2.1.3 A mulher agricultora familiar da AAFEMED na busca, construção e partilha do
conhecimento .......................................................................................................... 116
4.2.2 As mulheres agricultoras da AAFEMED e as relações de empoderamento e
capital social construídas ........................................................................................ 123
4.2.2.1 Percepções sobre capital social e empoderamento das mulheres agricultoras
e a participação na AAFEMED ................................................................................ 123
4.2.2.2 Percepções das mulheres agricultoras sobre o capital social e empoderamento
em relação ao antes e depois da AAFEMED .......................................................... 136
4.2.2.3 A mulher rural da AAFEMED, o empoderamento e o capital social: uma estrada
a construir e percorrer ............................................................................................. 147
4.2.3 A mulher rural da AAFEMED e o elo entre empoderamento, capital social e
desenvolvimento rural sustentável: o caminho já percorrido até aqui ..................... 150
4.3 DOCUMENTÁRIO RAIZ DE ROÇA ............................................................................. 154
4.3.1 A mulher rural da AAFEMED, e um olhar para além de suas próprias falas .. 157
4.3.2 Apresentação do documentário Raiz de Roça ............................................... 168
5 CONCLUSÕES .................................................................................................... 172
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 176
APÊNDICE 1: QUESTIONÁRIO ............................................................................. 189
APÊNDICE 2: ENTREVISTA 2 - ROTEIRO DO DOCUMENTÁRIO ....................... 195
APÊNDICE 3: DOCUMENTOS DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM ......... 198
DOCUMENTÁRIO ................................................................................................... 198
ANEXO 1: LEI MUNICIPAL Nº 62/2009 ................................................................ 200
TERMO DE USO DO BARRACÃO DA PREFEITURA PARA A AAFEMED E
OUTRAS ASSOCIAÇÕES ..................................................................................... 200
ANEXO 2: ATA DE FUNDAÇÃO DA AAFEMED .................................................. 202
ANEXO 3: CARTA DE MEDIANEIRA ................................................................... 207
9
1 INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVOS
Quanto aos objetivos, destaca-se que para Richardson et al. (2012, p.63), o
objetivo geral apresenta o que se pretende alcançar no estudo. Já os específicos
demonstram as etapas a seguir para que o objetivo geral seja cumprido e
recomendam os autores que:
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste processo de construção Martins (2001), cita que em 1986 a World Found
for Nature promoveu a Conferência de Otawa, na qual ficaram estabelecidos
princípios básicos do desenvolvimento rural sustentável, entre os quais, a integração
entre conservação e desenvolvimento, a satisfação das necessidades básicas
humanas, o alcance da equidade e justiça social, o fornecimento da autodeterminação
social e diversidade cultural e a manutenção da integração ecológica. Baroni (1992),
encara esses princípios com foco no crescimento renovável, a mudança de qualidade
do crescimento, a satisfação das necessidades essenciais de alimentação, energia,
água, saneamento básico e emprego, a garantia de um nível sustentável de
população, a conservação e proteção da base de recursos, a reorientação da
tecnologia e gestão de risco e a reorientação das relações econômicas.
20
Veiga (2006), corrobora com esta visão, que Sen chama de liberdade
substantiva, abordada no decorrer da dissertação:
[...] a necessidade de se reconhecer o papel das diferentes formas de liberdade
no combate às absurdas privações, destituições e opressões existentes em um
mundo marcado por um grau de opulência que teria sido difícil até mesmo
imaginar um ou dois séculos atrás [...] pobreza e tirania, carência de
oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos
24
Todavia, como Tedeschi1 (2014, p.36), coloca muito bem em sua pesquisa
sobre as mulheres no meio rural do noroeste do Rio Grande do Sul, quando os
diversos “enfoques sobre desenvolvimento consideram de fato as mulheres como seu
agente econômico não histórico, tem tornado invisível e subvalorizado a gestão, o
direito e a participação política das mesmas”.
Observar que o papel das mulheres cresceu nas propriedades rurais da
agricultura familiar, no entanto, não significa seguramente que as famílias estão
mudando sua forma de pensar em relação ao papel da mulher. Ao contrário, pode
traduzir apenas que “a participação da mulher se tenha ampliado muito mais pela
necessidade de uma força de trabalho para desempenhar o conjunto de atividades do
que por uma ‘tomada de consciência de gênero” (TEDESCHI, 2014, p.129).
Mas o que se pode perceber, pelo estudo de Tedeschi (2014), é que ocupar o
espaço nas diversas forças de trabalho se constitui um caminho promissor para
alcançar maior equidade de gênero na agricultura familiar. Sem essa redistribuição
das forças de trabalho, em que também o homem participe da rotina da casa e da
criação dos filhos, diminuindo a dupla jornada de trabalho das agricultoras, é difícil
falar sobre empoderamento feminino de fato.
Este é o contexto atual em que se discute equidade de gênero, em especial na
agricultura familiar. Sabe-se que o fato de as organizações nacionais e internacionais
abraçarem esta causa das mulheres rurais, possui um cunho social, mas também um
forte olhar econômico sobre esta realidade. Cabe a essas organizações ajudar as
famílias rurais a construir novas premissas com base em novas relações sociais
cotidianas de gênero, superando velhos paradigmas do patriarcado e da subordinação
da mulher. É preciso sair da invisibilidade e ir definitivamente para a luz.
O caráter de família é definido por Chayanov (1974, p.47), como "[...] um dos
principais fatores na organização doméstica, totalmente determinado pela
disponibilidade dos membros da família”. Esse caráter familiar dava base a todos os
serviços da propriedade, tanto no campo, com os pequenos e grandes animais,
quanto ainda com os próprios afazeres domésticos, dos quais o papel da mulher era
fundamental. Esta base familiar continuou ao longo dos anos sendo o cerne da
agricultura familiar como a conhecemos hoje, sem uma grande evolução nos papéis
que cada membro da família exerce no processo produtivo.
Quando os camponeses foram, pela primeira vez, nominados com o termo
agricultores familiares no Brasil, tratava-se de uma categorização pautada em
algumas variáveis que respondiam a necessidades de sobrevivência destas famílias
rurais, e que viriam a propiciar novas oportunidades de sobrevivência para elas.
Esta realidade é pouco discutida no mundo rural brasileiro, mas o país pode
chamar de agricultura familiar a quase totalidade de propriedades rurais. Por isso, se
torna necessário considerar outras variáveis para separar o que seria agricultura
familiar do restante das propriedades rurais brasileiras.
A permanência do rural, enquanto espaço integrado, porém específico e
diferenciado, é reforçada quando se leva em conta as representações sociais a
respeito do meio rural. Wanderley (2001, p.32), defende que “o mundo rural se move
em um espaço específico, o espaço rural, entendido em sua dupla face”. Primeiro
enquanto um espaço físico diferenciado, como construção social do espaço rural, das
formas de dominação social, estrutura de posse e uso da terra e outros recursos
naturais. Em segundo lugar, enquanto um lugar de vida, isto é, lugar onde se vive
particularidades do modo de vida e referência identitária e lugar de onde se vê e se
vive e interpreta o mundo.
Aponta Wanderley (2001), que a ruralidade é um modo de vida, no qual a
socialização tem pertinência e sentimento de pertencimento, e quando as relações
internas intrínsecas, culturais e históricas são específicas do mundo rural, onde há
muito que avançar no meio rural, conforme já destacado pelos autores.
O sentimento de pertencimento à terra é inserido à discussão por Medeiros
(2017) e Wanderley (2001), tendo o agricultor familiar como parte da própria
preservação do meio ambiente e deste espaço de vida. Abramovay (2000), por sua
vez, dá a este mesmo espaço de vida outra noção de valor, mais contemporânea,
muito além dos conceitos tradicionais de progresso e urbanização. O valor que a
27
ruralidade vem adquirindo, define para os agricultores quase que um estilo de vida,
nascido das raízes culturais dos antepassados, e sendo considerado um patrimônio
da agricultura familiar.
As decisões e opções que tais famílias possuem, destaca Schneider (2001), se
fundamentam por suas redes de relações sociais, econômicas e culturais em seu
espaço rural. Se esse espaço rural expandir isso afetará a produção agrícola, o tipo
de conhecimento exigido e a diversificação de cultivo.
Este universo de pluriatividades na agricultura familiar é chamado por Graziano
da Silva (1999, p.170) de o “Novo Rural”.
Este Novo Rural, como bem o temos denominado, pode ser também
resumido em três grandes grupos de atividades: a) uma agropecuária
moderna, baseada em commodities e intimamente ligada às agroindústrias;
b) um conjunto de atividades não-agrícolas, ligadas à moradia, ao lazer e a
várias atividades industriais e de prestação de serviços; c) um conjunto de
novas atividades agropecuárias, localizadas em nichos especiais de
mercados.
Esse novo rural implica em um meio dinâmico de pessoas que têm ali o seu
lugar e sentido de vida e de existência e sobrevivência, seu lugar de trabalho e
sustentabilidade, e não um investimento temporário ou para agregação de capital
econômico.
A relevância da agricultura familiar vai além da economia e da geração de
renda, posto que deve ser destacada a questão social e cultural desse modelo de
produção, pois o agricultor familiar tem uma relação diferente com a terra, mais
próxima, com mais tradição familiar, fazendo parte da manutenção da cultura local.
Neste universo do novo rural, assim como anteriormente, há uma categoria
social, cuja visibilidade, valorização e importância continua subjugada: trata-se das
mulheres rurais, as agricultoras, que são parte fundamental do sucesso deste modelo
de agricultura familiar, mas que permanecem à sombra do patriarcado dominante na
ruralidade. É contra este contexto de privilégios em detrimento de minorias, entre elas
a de mulheres rurais, que se insurge um novo lugar de fala que ao longo das últimas
décadas tenta romper com a prática da subordinação feminina.
O Jornal Mensageiro (1993), importante veículo jornalístico escrito do município
de Medianeira e região, com 46 anos de existência, que acompanha, ainda que
timidamente, a trajetória das mulheres rurais de toda a região em que distribui o
semanário, na edição de 11 de março de 1993, alusiva ao Dia Internacional da Mulher,
28
Outro estudo que merece destaque pela similaridade com a realidade deste
estudo de caso foi realizado por Tedeschi (2014), que fez uma aprimorada pesquisa
sobre as famílias da agricultura familiar do noroeste do Rio Grande do Sul, e sua
análise sobre histórias e memórias de mulheres na perspectiva de gênero capturou
dados significativos para compreender como o meio rural perpetua a subordinação
feminina no cotidiano da família e da propriedade.
Na análise de Tedeschi (2014, p.61), “a agricultora não permaneceu no âmbito
do lar, cuidando dos filhos, mas sempre acompanhou em igualdade de função o
marido na produção, cumprindo uma rotina que começa antes mesmo do nascer do
sol”. Contudo, no campo das decisões e dos espaços de poder, ainda cabe ao homem
o poder de fala e de representação da família.
Mas, para Tedeschi (2014, p,128), o que mais marcou esta parte do estudo
foram declarações comuns como:
29
Destaca Singer (2013), que esta postura passa pela forte ligação com sua
história, preocupação com as boas práticas de produção, respeito ao meio ambiente
por meio do cumprimento da legislação, mas principalmente pelo enraizamento à
terra, como ambiente de vivência e de convívio com sua família, vizinhos e
comunidade. E é na qualidade das relações de cooperação e reciprocidade, que há a
possibilidade de compor um cenário pelo qual o econômico possa ter como adjetivo a
solidariedade, se apresentando como uma saída para o desenvolvimento da
agricultura familiar solidária.
Para Higgins (2005, p.29), as relações de cooperação e reciprocidade [...]
“constituem um patrimônio ‘não visível’, mas altamente eficaz, a serviço dos sujeitos
sociais, sejam estes individuais ou coletivos”. A conclusão a que ele mesmo nos leva
31
avaliar seus diferentes efeitos em seus amplos aspectos, tanto os positivos como os
negativos.
Já Colleman (1988), foi o autor que deu mais visibilidade ao tema. Argumentou
que, para gerar capital social, dependia das expectativas, redes de comunicação e de
normas e sanções imposta pelo grupo. Defendeu a questão da aquisição da dádiva,
e acreditava que o Estado não serve como mediador da criação de capital social. Seu
foco foi que a educação é um condicionador para aumentar capital social pois pode
gerar capital humano. Discutiu a intangibilidade de capital social, considerando que
ele está intrínseco às relações, de forma inseparável da estrutura social.
Neste contexto, a economia solidária segundo Singer (2013), pode ser uma
alternativa superior ao capitalismo, no sentido de empoderar os pequenos agricultores
para se tornarem produtores, poupadores, consumidores dentro do seu contexto e ter
uma vida melhor. A economia solidária segue o preceito de que as práticas e os
valores das iniciativas econômicas solidárias, podem fazer os agricultores familiares
assumirem a condição de sujeitos de sua transformação social, possuindo relações
com outros sujeitos e grupos, o que em consequência possibilita distribuição de renda
e igualdade social e a formação de seu capital social.
A economia solidária se traduz em “um novo modo de produzir e viver em
cooperação de maneira sustentável. Um modo de vida material e simbólico que tem
por base relações, princípios e sentimento de solidariedade radical” (SANTOS;
NASCIMENTO, 2018, p.15).
A cooperação e a reciprocidade das relações são a base das iniciativas
econômicas solidárias pautadas na confiança, o que pode fortalecer a agricultura
familiar com base comunitária, e promover um modo de vida sustentável, com alto
capital social e empoderamento no espaço rural tanto de homens como de mulheres.
Neste aspecto, Polanyi (2000), acrescenta que “a reciprocidade atua
principalmente em relação à organização sexual da sociedade, isto é, família e
parentesco, e a redistribuição é importante principalmente em relação a todos aqueles
que têm uma chefia em comum e têm, assim, um caráter territorial” (POLANYI, 2000,
p.67).
A reciprocidade e a cooperação, são típicas da natureza humana. “Na medida
em que o ser humano é um ser social há, em qualquer coletividade humana, uma
tendência ou propensão básica para cooperar” (DE FRANCO, 2001, p.20).
33
confiança entre as partes envolvidas e evitar a exploração por alguma das partes
sobre as outras.
A confiança, para Putnam (2006, p.180), “promove a cooperação. Quanto
mais elevado o nível de confiança numa comunidade, maior a probabilidade de haver
cooperação. E a própria cooperação gera confiança”. Esta pode emergir das normas
de reciprocidade vinculadas aos valores e nos sistemas de participação cívica, que
por sua vez criam a possibilidade de empoderamento e melhoria nas relações e
decisões. Nesse contexto, normas serão aceitas e seguidas com o objetivo de evitar
oportunismos.
Cooperação e confiança também são a base das relações na agricultura
familiar brasileira, que possui características muito plurais, de acordo com as diversas
regiões geográficas, por si só muito distintas. A característica principal, no entanto, o
nome já revela, é de organização familiar. Via de regra, não separa produção, gestão
e comercialização, e todos os membros são participantes ativos, ainda que com
diferentes tarefas e responsabilidades.
Para Basso (2003, p.193), que “os vínculos de cooperação, por um lado,
valorizam a reciprocidade entre as famílias, por outro, estão assentados na redução
dos custos de produção”, pois se utilizam dessa cooperação no contexto do trabalho
familiar e do grupo, da logística, da comercialização e distribuição. Associados a
empresas solidárias, ganham visibilidade, credibilidade e competitividade, pois
passam a comercializar sua produção como produto final para o mercado consumidor,
em comunicação direta com ele.
do mundo rural. Neste aspecto, é salutar a visão de Scott (2005, p.18), que afirma que
"as identidades de grupo são um aspecto inevitável da vida social e da vida política, e
as duas são interconectadas porque as diferenças de grupo se tornam visíveis,
salientes e problemáticas em contextos políticos específicos”.
Neste sentido, o patriarcado continua fortemente intrínseco às relações
sociais, agindo quase que de maneira subliminar no papel de cada ator na família e
no grupo.
É nesses momentos – quando exclusões são legitimadas por diferenças de
grupo, quando hierarquias econômicas e sociais favorecem certos grupos em
detrimento de outros, quando um conjunto de características biológicas ou
religiosas ou étnicas ou culturais é valorizado em relação a outros – que a
tensão entre indivíduos e grupos emerge. Indivíduos para os quais as
identidades de grupo eram simplesmente dimensões de uma individualidade
multifacetada descobrem-se totalmente determinados por um único
elemento: a identidade religiosa, étnica, racial ou de gênero (SCOTT, 2005,
p.15).
formadas a repetir o modelo colonizador “em tudo que fosse útil para a reprodução da
dominação, seja no campo da atividade material, tecnológica, como da subjetiva,
especialmente religiosa” (QUIJANO, 2005, p.121).
O papel da América neste novo sistema mundo, para o autor, constituiu a
primeira identidade de modernidade com seus próprios valores praticados nas
sociedades europeias onde o patriarcado imperava. Neste sistema, a mulher não
participava dos processos decisórios, nem mesmo como mão de obra para produção
de riquezas. Nas Américas, este formato de sociedade foi implantado e reproduzido,
e a mulher só possuía algum valor hegemônico se comparada ao homem mestiço ou
negro.
O acesso à cidadania feminina “é um dos pontos de convergência das tensões
e exclusões que demarcam esse novo contexto e serve para problematizar os debates
sobre democracia e desenvolvimento”, defende (BARQUERO, 2007, p.89). Em
Cappelin (1999), entendemos que é preciso compreender a cidadania como uma
forma de usufruir direitos, introduzindo a diferença sexual – marca social, além da
biológica – para ajudar a perceber sob que modalidades sociopolíticas mulheres e
homens usufruem dos direitos civis, sociais e políticos.
Este modelo instituiu a ideia de raça e gênero, para justificar as diferenças de
superioridade entre conquistadores e conquistados, e assim consolidar o formato
histórico de distribuição de renda e do controle do capital (QUIJANO, 2005;
MALDONADO-TORRES, 2008). Além disso, Quijano (2005, p.118), aponta como “o
intersexual ou de gênero: os povos conquistados e dominados foram postos numa
situação natural de inferioridade, e consequentemente também seus traços
fenotípicos, bem como suas descobertas mentais e culturais”. Para Grosfoguel (2008,
p.118), “as relações de poder globais no âmbito do “sistema mundo
europeu/euro-norte-americano moderno/capitalista colonial/patriarcal”, formam o que
ele mesmo chama de “conceitualização descolonial alternativa do sistema-mundo””.
A colonialidade deixou heranças malditas, dentre as quais talvez a maior delas
seja a subordinação ao pensamento hegemônico eurocêntrico nas esferas do
conhecimento, que se instauraram da mesma forma nas estruturas de poder,
marcadamente as raciais e patriarcais.
Para o autor, o lugar de fala da sociedade colonizada situa-se subalterno em
relação ao lugar de fala da sociedade colonizadora. Para ele, ninguém escapa das
38
1967 A mulher
desiludida
Betty Friedan 1963 A mística A tentativa das mulheres de encaixar-se no
feminina padrão patriarcal e suas angústias e
sentimentos
Monique Wittig 1969 Les guérillères Críticas ácidas à sociedade patriarcal e aos
papéis de gênero sexistas do final dos anos
1960.
Germaine Greer 1970 A mulher Defende que a família nuclear, consumista,
eunuco tradicional e suburbana é fruto da sociedade
patriarcal que obrigou a mulher a ser uma
espécie de pilar da família.
Kate Millett 1970 Política sexual Crítica às obras de nomes como D.H
Lawrence, Henry Miller e Sigmund Freud, e
discute o impacto do patriarcado nas relações
sexuais e na sexualidade.
Ursula K. Le A mão esquerda Colocou o feminismo no centro de suas
Guin 1969 da escuridão histórias.
1974 Os despossuídos
Este olhar confina esta mulher a um papel de submissão que comporta significações
hierarquizadas.
É o que Simone de Beauvoir em seu livro “O Segundo Sexo” (1949) chama de,
“O Outro”, onde o mundo não é apresentado às mulheres com todas as possibilidades,
e o olhar masculino sobre a mulher é de dominação, colocando-a sempre em posição
de subordinação. “As mulheres nunca, portanto, constituíram um grupo separado que
se pusesse para si em face do grupo masculino; nunca tiveram uma relação direta e
autônoma com os homens” (BEAUVOIR, 1970, p.90).
Outro ponto tão importante quanto o lugar de fala, é a posição de escuta.
Ribeiro (2017) e Tiburi (2019), confirmam o ponto de vista de Kilomba (2019), que
enfatiza que “é necessário escutar por parte de quem sempre foi autorizado a falar”.
É preciso que o patriarcado, que sempre teve sua autoridade de fala respeitada, passe
a assumir um lugar de escuta, de respeito pelo espaço das mulheres, sendo
necessário que elas ocupem seu lugar de fala, de maneira empoderada e definitiva.
Seria romper com a subalternidade imposta pelo patriarcado, pois o lugar de fala só
se concretiza como, se tiver em contraposição um lugar de escuta, rompendo com o
poder unilateral patriarcal. É contra este contexto de privilégios em detrimento de
minorias, entre elas a de mulheres rurais, que se insurge o lugar de fala.
A violência dos opressores que os faz também desumanizados, não instaura
uma outra vocação – a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser
menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos.
E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscar recuperar
sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente
opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas
restauradores da humanidade em ambos (FREIRE, 1987 p.20).
Se você não é capaz de usar sua liberdade recente para ajudar os outros a
se libertarem através da transformação global da sociedade, então você só
está exercitando uma atitude individualista no sentido do empowerment ou
da liberdade. [...]. Sua curiosidade, são fundamentais para a transformação
social, mas não são por si só suficientes (FREIRE; SHOR, 1986, p.71).
O seu conceito deve ser bem apreendido para não haver equívoco quanto ao
seu uso. León (2001), explica que empoderamento pode ser usado como
empoderamento individual ou coletivo. O empoderamento utilizado no âmbito
individual se foca nos processos cognitivos do indivíduo, em busca de controle
pessoal, ter sucesso por si mesmo, sem aceitar ajudas dos demais. Buscam
autonomia, autocontrole onde sentimentos de solidariedade e cooperação ficam em
planos inferiores decisórios e desconectados do contexto histórico e sociopolítico. A
autora classifica o empoderamento individual, nesta perspectiva como mera ilusão.
Ao que usam empoderamento no âmbito coletivo, se inserem neste contexto onde
geram possibilidades de desenvolver autoestima e autoconfiança pela ação coletiva
ao participar da comunidade ao qual está envolvida.
Neste sentido, Kelba e Wendausen (2009, p.736), ponderam que
empoderamento “é um processo dinâmico que envolve aspectos cognitivos, afetivos
e condutuais”. É um sentimento de pertencimento, que aumenta o poder da autonomia
pessoal pelas relações coletivas e institucionais.
Uma publicação que foi desenvolvida em conjunto pela ONU Mulheres Brasil
e a Rede Brasil do Pacto Global em 2017 traz a definição de empoderamento como:
47
Robert “Aqui o capital social diz respeito a características da organização social, como confiança,
normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando
Putman
as ações coordenadas” (PUTNAM, 2006, p.177).
“capital social é uma norma informal instanciada que promove a cooperação entre dois ou
mais indivíduos. As normas que constituem o capital social podem variar de uma norma
Francis
de reciprocidade entre dois amigos, até doutrinas complexas e elaboradamente articuladas
Fukuyama como o cristianismo ou o confucionismo” (FUKUYAMA, 2000, p.1)
“Conjunto de recursos incorporados em uma estrutura social e que são acessados ou
mobilizados em ação intencionais. Por esta definição, a noção de capital social contém
Nan Lin três ingredientes: recursos incorporados em uma estrutura social, acessibilidade a tais
recursos por indivíduos, e uso ou mobilização de tais recursos sociais por indivíduos em
ações intencionais” (LIN, 1999, p.35).
Fonte: Elaboração da autora com base nos autores supracitados, 2020.
gradual reconhecimento, por parte das mulheres, das estruturas de poder que estão
presentes na própria vida delas e dos grupos a que elas pertencem e em sua liberdade
de ação.
O poder como maior confiança na capacidade pessoal para levar adiante
algumas formas de ação; como aumento das relações efetivas que as
pessoas desprovidas de poder podem estabelecer com outras organizações;
como resultado da ampliação do acesso aos recursos econômicos, tais como
créditos e insumos (OAKLEY; CLAITON, 2003, p.12).
Fonte: Organizado pela autora com base nos autores supracitados, 2020.
56
Não se trata de uma construção fechada, mas uma síntese que permanece
aberta para análise e contribuição conceitual, na busca do entendimento de todos os
elementos que imbricam na formação do empoderamento e capital social, na
perspectiva do desenvolvimento sustentável. O mapa apresentado pode servir de
base para analisar diversas realidades de grupos, associações e, em uma análise
mais expandida, de uma sociedade de qualquer porte.
Para Putnam (2006), a confiança social pode emanar de duas fontes conexas:
as regras de reciprocidade e os sistemas de participação cívica. A mais importante
dessas regras é a da reciprocidade.
Em sua maioria, altos índices de capital social são associados a maior equidade
social de gênero e igualdade social principalmente quando vinculados a indicadores
sociais como bem-estar da comunidade, educação para as crianças e adolescentes,
segurança, baixo nível de violência contra as mulheres, índices de saúde, lazer
público, etc. Assim, sociedades com índices mais altos de capital social teriam
também maior igualdade social e política de gênero (CAIAZZA e PUTNAM, 2005;
SACCHET, 2009).
Redes interpessoais são influenciadas por questões de gênero, pois homens e
mulheres tendem a apresentar índices similares de capital social, mas advindos de
grupos com características diferentes. Os homens tendem a participar em grupos mais
heterogêneos, como trabalho, economia e lazer. O capital social das mulheres,
também via de regra, vem da participação em grupos menores e mais homogêneos
ligados à esfera da família e da comunidade, assumindo uma característica de
voluntariado e tipicamente feminino (GIDENGIL ET AL, 2003; SACCHET, 2009).
61
Na década de 1980, o Brasil vivia o clima político do movimento das Diretas Já.
Mas não era apenas esta bandeira que movimentava os grupos sociais, em especial
os minoritários, cujas pautas se encontravam à margem das grandes discussões
nacionais.
Tal fato não implica, porém, que a mulher estivesse ausente das lutas
travadas por camponeses e trabalhadores rurais em momentos anteriores.
No entanto, observa-se, nessa época, uma mudança na qualidade desta
participação. Até então, a inserção feminina nos movimentos sociais no
campo realizava-se, normalmente, através da participação dos respectivos
maridos ou de outros familiares (CARNEIRO, 1987, p.11).
2
Paralelamente, outros movimentos do mesmo cunho se desenvolveram nas diversas regiões do
Brasil, dentre eles o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Rio Grande do Sul (MMTR),
criado em 1989; o Movimento de Mulheres Agricultoras (MMA) de Santa Catarina, criando em 1983; o
Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central (MMTRSC) de Pernambuco, criado
em 1982. Na PB, o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Brejo (MMB) e o Movimento de
Mulheres Trabalhadoras da Paraíba (MMT/PB), criados na década de 1980, a Articulação das Mulheres
Trabalhadoras Rurais da Região Sul, criado em 1988; e o Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do
Nordeste (MMTR-NE), criado em 1986. Todos estes movimentos possuíam pautas em comum, e
tinham foco na mulher rural e suas lutas cotidianas por direitos, liberdades e visibilidade (AGUIAR,
2015).
3 Por ocasião da comemoração dos 10 anos do Movimento Popular de Mulheres do Paraná – MPMP,
a Editora Gráfica Popular CEFURIA lançou a Série “Memórias de Lutas Populares no Paraná Pós-
Ditadura Militar”, sendo que coube a Marcia Carneiro Knapik o levantamento detalhado das lutas de
mulheres rurais que antecederam ou foram contemporâneas do MPMP.
66
4
Um detalhado estudo sobre a história da Marcha das Margaridas foi realizado por Vilenia Venâncio
Porto Aguiar em 2015, em sua Tese de Doutorado. A análise parte de uma etnografia da Marcha das
Margaridas 2011, considerada um movimento que se expressa numa manifestação pública, assumindo
a forma de uma marcha que ocorre a cada quatro anos na capital federal, Brasília. Ao mesmo tempo
em que procura estabelecer processos de diálogo e negociação com o Estado, a Marcha busca dar
visibilidade às mulheres do campo e da floresta. A Marcha que abarca uma pluralidade e uma
diversidade de mulheres, agricultoras familiares, trabalhadoras rurais, assentadas, quebradeiras de
coco, seringueiras, extrativistas, ribeirinhas, pescadoras, quilombolas, mulheres do campo, das águas
e das florestas. A tese discute a constituição desse sujeito político em termos de pluralidade,
diversidade e de busca de uma linguagem e de uma identificação que agregue os seus diversos
interesses, sem, contudo, desconsiderar as diferenças e as subjetividades.
http://www.memoriaemovimentossociais.com.br/sites/default/files/publicacao/tese_somos_todas_mar
garidas_finalizada_03_de_agosto_de_2015_1.pdf
67
2003 A titulação conjunta da terra para áreas constituídas por um casal passa a ser
obrigatória.
2004 Programa Nacional de Documentação da Mulher Trabalhadora Rural, pelos
documentos civis e trabalhistas para as trabalhadoras rurais.
2005/2006 Direito das mulheres realizarem, através do PRONAF Mulher, operações de
microcrédito rural para o desenvolvimento de atividades produtivas.
Fonte: Rua; Abramovay (2000).
Sobre esta bandeira da saúde, cabe citar com elevado destaque a criação do
Centro Popular de Saúde Yanten, uma entidade filantrópica com fins de fomentar a
produção de plantas medicinais e cursos de formação para agricultores e agricultoras
familiares com vistas a discutir os problemas cotidianos das famílias, relacionando as
doenças com questões que iam desde as relações de trabalho e produção, baixa
qualidade de vida, pobreza, sistema de saúde precarizado, alimentação inadequada,
destruição do ecossistema e da natureza local, até a escolha do modelo político,
econômico, social e cultural do país.
Posteriormente, com a expansão das discussões e a presença das mulheres
em praticamente todas as áreas dos movimentos sociais, mais três bandeiras de luta
foram agregadas às 04 primeiras:
70
3 MATERIAL E MÉTODOS
4 RESULTADOS
Uma das lideranças foi marcadamente exercida por Teolide Turcatel, também
fundadora do Centro Popular de Saúde Yanten5, uma organização não governamental
sem fins lucrativos com objetivo de trabalhar e desenvolver a saúde da mulher através
das plantas medicinais.
5 O Centro Popular de Saúde Yanten é uma Associação fundada em 03 de junho de 1990. Instituição
referência na região oeste do Paraná no trabalho com educação popular em saúde, principalmente com
as plantas medicinais, orientando para o uso correto das ervas, com identificação das diversas
espécies, incentivo à preservação da natureza e realização de práticas populares. Surgiu como
movimento social na década de 1980, junto à Entidade SANEM (Sociedade de Amparo ao Necessitado
Medianeirense), com participação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica e de
outras Igrejas (Luterana); Necessidade de se organizar a população para discutir o acesso de todos
aos serviços públicos de saúde; Grande participação das mulheres nos debates sobre: saúde,
educação, sexualidade, cidadania, sindicalismo, estudos bíblicos na ótica da mulher, alimentação
saudável e plantas medicinais; Organização de hortas comunitárias e de encontros para a produção de
remédios caseiros (pomadas, xaropes, tisanas, xampus, sabonetes). O YANTEN como ASSOCIAÇÃO
(Fundada em 03 de junho de 1990), tem como missão promover a vida, com ações educativas em
saúde e biodiversidade, valorizando o conhecimento popular e científico para o bem de todos. Como
LABORATÓRIO DE PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS, obteve autorização de
funcionamento pelo Ministério da Saúde desde 1993.
77
sabia tudo o que tinha acontecido, tá. Então no final era o resumo de todos
os grupos (TEOLIDE, entrevista em 03 de outubro de 2020).
[...] eu era mais religiosa então eu levava a bandeira bíblica, mas era a Bíblia
na ótica da mulher, resgatando as guerreiras da Bíblia e mostrando o valor
da mulher dentro da fé. Tinha daí outra pessoa que fazia a educação política,
tinha outra que falava da mulher e sindicato, assim de canalizar a mulher
(TEOLIDE, entrevista em 03 de outubro de 2020).
Nós tínhamos formação política, estudávamos o que era uma lei orgânica do
município... O que a gente iria elaborar os projetos... De como que a gente ia
se comportar também como candidata, quais eram as exigências de você ser
uma vereadora, uma prefeita... [...] Fazer a mulher valorizar o seu corpo, fazer
a mulher ser mais companheira do seu marido, discutir as questões da
agricultura familiar... (TEOLIDE, entrevista em 03 de outubro de 2020).
[...] era para pôr mulheres na política e aí a gente fez um encontrão, primeiro
em Guaíra e depois Curitiba. E daí o pessoal lá, ligado mais à questão
política, dava formação política [...] E aí o que a gente fazia, acendia uma
grande fogueira. Olha o que nós fazíamos. Uma grande fogueira, tinha as
baianas que primeiro faziam uma celebração toda de branco e ficávamos
todas em volta da fogueira. Era tudo uma celebração popular, era linda, gente
eu... Quando eu começo contar essa história eu me emociono... E aí depois
nós, quem tinha pretensão de ser candidata ou que melhor se identificava ia
ao redor da fogueira... As outras ficavam do outro lado da fogueira e a gente
ficava do lado de cá da fogueira, e a gente fazia o discurso, como que a gente
se preparava para fazer um discurso público... [...] Apresentando propostas
que nós queríamos que a mulher levasse como referência na sua candidatura
política. Olha gente, hoje não tem mais isso (TEOLIDE, entrevista em 03 de
outubro de 2020).
[...] ... O Yanten tem na sua base de constituição, está no seu estatuto social,
essa aproximação, essa relação com outras organizações que também
promovam a vida, que também tenham esse comprometimento com o
desenvolvimento; com a defesa da vida, da agricultura orgânica, da
sustentabilidade e também do desenvolvimento da agricultura familiar. A
produção das plantas medicinais é que se dá na agricultura familiar (ROSELI,
entrevista em 24 de outubro, 2020).
Como surgiu a APAM... A antiga APAM funcionava ali em frente a saída dos
ônibus na Rodoviária. [...] Era também um trabalho de nossas mulheres que
estavam trazendo suas coisinhas para vender, enfim. Eu era pra ser a
presidente, mas depois os homens acharam que deveria ser um outro, e
trouxeram alguém lá de Guarapuava... Funcionou um tempo e depois veio
todo aquele dinheirão da Bélgica praquele projetão, que pra nós ( do Yanten)
sobrou só um tantinho assim. Com a Ann e o Cris que foram os agrônomos,
e eles ficaram com todo aquele dinheirão e montaram aquele mausoléu que
hoje é o Panorama, e foram, foram, foram e expandiram, e depois não deram
85
mais conta, e acabou da noite para o dia fechar, que eu não entro no mérito
deles. [...] (TEOLIDE, entrevista em 03 de outubro, 2020).
As ações eram realizadas no dia 8 de março, com encontros que reuniam mais
de 800 mulheres de toda a região, em sua maioria rurais, sempre em Medianeira,
onde elas desenvolviam as pautas políticas e sociais, falavam da necessidade de
organização, tinham advogados para encaminhar aposentadoria, e tratavam da saúde
de mulher, com médicas e enfermeiras, discutiam o tema da violência doméstica, e
começaram as primeiras discussões sobre empoderamento feminino.
Os eventos também em relação ao Dia da Mulher, que o Yanten já fazia
anterior a esta data. Começamos a comemorar ano a ano a partir do ano
2000, foi quando eu também comecei a ter uma participação maior, né,
sempre foram muito focados nessa área da saúde da mulher, desse cuidado
dela com o seu corpo, dela usar as plantas como medicamento natural, mas
também como alimento na sua vida, a discussão sobre a participação delas
no sindicato, nas cooperativas, buscando muito essa força feminina... que eu
te digo que ela é de cada uma de nós, né? E eu creio muito nisso, que nós
nos juntamos (ROSELI, entrevista em 24 de outubro, 2020).
Voltado para as questões de gênero, 2018 foi um ano em que a Comissão sobre
a Situação da Mulher (CSW), a reunião mais significativa da agenda das mulheres,
convocada pela ONU, e a Reunião Especializada da Agricultura Familiar (REAF) do
Mercosul, faziam ações específicas para incrementar o alcance dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável até 2030, discutindo desafios, oportunidades e
similaridades entre os países para se alcançar a igualdade de gênero e o
empoderamento das mulheres rurais. Deste evento se originou um documento
chamado “Carta de Medianeira” (ANEXO 4), que entre outros temas centraliza a
discussão da participação da mulher nos espaços de poder, principalmente no âmbito
da agricultura familiar.
[...] em vista do que tem hoje era horrível né. Nos dias de chuva era salve-se
quem puder, que era tudo aberto, então não tinha como ficar lá em dia de
chuva. Era difícil porque não era tão conhecida como a que é hoje... e não
vendia na mesma proporção que vende hoje, e a minha vó não fazia tudo que
ela faz hoje. Ela fazia muito pouco de muito menos coisas... era muito mais
coisas praxes assim... leite, macarrão, ovo e bolacha [...] (GABRIELA,
entrevista em 31 de outubro, 2020).
Da mesma forma, Ana Slongo, que na época ainda não possui sua
agroindústria de Doces e Geleias, conta que era comum aparecer a polícia e fazer
todos os feirantes recolherem os produtos e saírem correndo, pois a ferinha na rua
era considerada ilegal por não possuir um CNPJ e principalmente, porque nenhum
produtor possuía autorização da Vigilância Sanitária ou qualquer outro órgão para
comercializar seus produtos, todos coloniais.
Apenas em 2009 a prefeitura municipal cedeu um novo local com estrutura
física para atender as necessidades dos agricultores.
A Casa do Produtor de Medianeira veio responder aos anseios de três
associações: Associação dos Artesãos de Medianeira, Associação Feira Pequeno
Produtor Rural de Medianeira - APPROME, e Associação dos Agricultores Familiares
e Ecológicos de Medianeira – AAFEMED, que em 2009 receberam da administração
pública, através da LEI Nº 62/2009, de 23 de junho de 2009 (ANEXO 3), a concessão
de uso do local, para funcionamento coletivo, onde se constituiu a popular “Feirinha”
de Medianeira, com o objetivo de comercialização dos produtos de todos os
associados.
Ações dos governos federal e estadual do período, em especial dos governos
do PT (2002 a 2016), com destaque para dois programas voltados para a agricultura
familiar, contribuíram para fortalecer a economia das famílias pertencentes à
AAFEMED, com visível melhoria da qualidade de vida para as mesmas. O primeiro
programa, PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar foi criado em 1983, em
uma releitura da Campanha da Merenda Escolar do governo de Getúlio Vargas, de
1954. O segundo programa, PAA - Programa de Aquisição de Alimentos foi criado
pelo art. 19 da Lei nº 10.696, de 02 de julho de 2003 e possui duas finalidades básicas:
promover o acesso à alimentação e incentivar a agricultura familiar.
As políticas públicas do PNAE e PAA alavancaram o crescimento da
comercialização e consequentemente da produção dos associados, que passaram a
produzir com regularidade e frequência, obtendo faturamento também mais regular, o
92
Claudia Mainatz, que produz orgânicos, também possui hoje outros pontos de
distribuição de suas hortaliças: “Levo meus produtos no Portal Colonial e na Feira de
Matelândia, além da entrega na AAFEMED em Medianeira, para vender na feirinha
de lá”.
Neire Tubiana produz milho verde e tomates em estufa. Atualmente já
comercializa 80% de sua produção de tomates na rede de supermercados da Lar,
sendo que apenas 20% vão para a Feira do Produtor.
Laura Valiati, que entrega carnes de ovelha, suíno e frango caipira na
AAFEMED, também possui um box fixo na APROME. Em 2020 começou a construir
um frigorífico para abate artesanal de ovinos, suínos e frango. Seu planejamento é
criar uma rede regional de criadores para fornecer ao seu frigorífico e posterior
comercialização em restaurantes e casas de carne especializadas. Seu depoimento
sobre a evolução da produção e dos pontos de venda deixa clara a importância da
AAFEMED:
Eu estou fazendo a agroindústria para poder abater e entregar nos mercados,
açougues, nos restaurantes e mais que eu quero entregar nas duas feiras na
APROME e na AAFEMED. Então menina se eu te falar que eu acho que uns
10 ou 12 mil por mês eu tiro. Aí não é tudo limpo, mas o que me mantém é
isso aí, porque a lavoura ela é um ganho extra para mim já né, mas o que me
mantém é a feira e fatura na média de 10 a 12 mil (LAURA, entrevista em 31
de novembro, 2020).
A B Número de Dependentes
15%
46%
24%
15%
1 Dependente 2 Dependentes
3 Dependentes Não Possui
Os dados acima mostram que 77% (27) das famílias pesquisadas tem entre um
e dois filhos. Em acordo com os estudos, considerados aqui, estes dados podem
expressar que as estruturas familiares estão mudando também na área rural, as
famílias estão menores com menos filhos e cada vez mais sem dependentes, o que
não parece uma falácia, se contorna desta forma quando a análise se prospecta para
as questões de sucessão na propriedade.
A redução do número de indivíduos nas famílias rurais já foi destacada por
Paulilo (2000, p.2), em uma perspectiva global, presente em escala gradual no Brasil
e de forma mais enfática na região Sul, segundo a autora, o Brasil estava “entre os
países que apresentaram uma queda de mais de 40% na taxa de fertilidade” entre as
mulheres de maneira geral “em um período de 20 anos”. Castiglioni (2020, p.12),
reforça a afirmativa, observando que “a taxa de fecundidade total, de 6,16 filhos por
mulher em 1940, começou a declinar no decorrer da década de 1960, baixando para
1,77 em 2018”, a autora pontua ainda, a quase equiparação desta taxa entre a área
rural e urbana.
A realidade é de um esvaziamento populacional do meio rural, que até meados
dos anos sessenta era caracterizado por famílias com um “elevado número de filhos”
o que obrigava estas famílias a muitas vezes “adotar procedimentos que reduzissem
o número de herdeiros potenciais, tais como o envio de filhos para a carreira militar
ou religiosa, assim como via financiamento de estudos” (SACO DOS ANJOS, et al.
2006, p.12). Na atualidade a situação é distinta, e apresenta às famílias rurais temas
como, as dificuldades de sucessão, o envelhecimento e a redução de potencial
produtivo de alimentos.
Os dados da Figura 13 complementam a discussão anterior, registrando 68%
(25) das agricultoras entrevistadas com mais de 46 anos de idade, enquanto somente
0,6% (2) das mesmas apresentam menos de 36 anos de idade. Soma-se a informação
que do público total pesquisado, 75% (28) declaram estado civil como casadas.
100
6%
36% 25%
33%
15 a 25 26 a 35 36 a 45 46 a 55 acima de 56
0 5 10 15 20 25 30 35
24% 19%
3%
3%
51%
Outra 8,11%
Alimentação 8,11%
Agroindústria 40,54%
19%
29%
Um pouco sim. Mas é igual eu te falei, por livre e espontânea vontade. Tudo
que eu aprendi... eu nunca quis sair dessa área. às vezes até eu penso...
nossa, eu poderia trabalhar numa empresa? Poderia. Mas seria o que eu
gostaria... eu estaria feliz? Porque eu acho que sobre tudo o que eu aprendi
com elas, eu tenho que trabalhar, eu tenho que estudar alguma coisa que eu
goste, que eu me sinto bem fazendo. Se eu ganhar pouco como a Rafa falou,
eu poderia trabalhar na cidade, viver melhor ganhar mais... poderia. Mas
estaria feliz? entendeu? eu acho que elas me ensinaram... que eu tenho que
trabalhar com que me faz bem, com o que me faz feliz, para mim poder deitar
na cama e dormir não estar cansada psicologicamente né. (GABRIELA,
entrevista em 31 de outubro, 2020).
6%
43%
35%
16%
Até R$ 1000,00
Entre R$1000,00 e R$2500,00
16%
38%
13%
3%
30%
47%
53%
8%
A 8% B 8%
50%
26%
42% 58%
Ensino Fundamental
Ensino fundamental Ensino Médio
Ensino médio Ensino Superior
A (Mulheres) Ensino superior
Figura 11 – Grau não seus
de escolaridade das mulheres (A) e de tem cônjuges (B).
Para o aprofundamento da análise dos dados expostos até este ponto, busca-
se o pensamento de Sen (2007, p.254-255), que refere o “efeito líquido” ao estado de
liberdade substantiva e aos direitos alcançados pela condição de agente das
mulheres, que se dissipa diante de uma sociedade em que o homem possui larga
resistência a auxiliar no trabalho doméstico e na criação dos filhos. O mesmo autor
afirma que este efeito líquido se ameniza quando estas mulheres passam pelo
processo de alfabetização:
Nesse caso, o impacto do ganho de poder e do papel da condição de agentes
das mulheres não perde eficácia em razão de problemas causados pela
inflexibilidade da participação masculina nos cuidados com os filhos e nas
tarefas domésticas (SEN, 2007, p.256).
Nesta mesma linha, Santana e Oliveira (2015, sp.), afirmam que “a capacitação
da mulher independente do espaço ou formato, é um passo que “abre as portas do
lar, numa espécie de corredor entre a casa e a rua e à comunidade, perpassando
neste corredor afinidades, autonomia, autoestima e liberdade”.
Nesta concepção, o conhecimento construído junto a instituições de ensino
formal, expressa também a libertação da mulher agricultora, seu movimento na
construção de cenários mais dinâmicos que sugerem formas alternativas de
desenvolvimento, baseadas no associativismo, na venda direta, na diversificação e na
reconstrução das relações.
116
88%
Igreja
10%
Associação de moradores
12%
36%
Rotary, Lions ou Rotaract
8%
Clube de Mães
Apenas AAFEMED
A participação citada por 36% (18) das agricultoras junto às igrejas locais leva
a reflexão desta como uma histórica esfera de junção, organização e mobilização nos
espaços rurais, bem como, em outro ângulo, de formação e difusão de definições
sociais sexistas.
Além do MPMP, já mencionado anteriormente, um exemplo de movimento das
mulheres rurais que nasceu sob a igreja popular, representada pelas Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs) e pelos trabalhos das pastorais, foi o Movimento das
Mulheres Camponesas (MMC), nascido em Santa Catarina e hoje forte referencial
nacional de conquistas e espaço das mulheres rurais.
118
Segue o autor que, a mulher agricultora tem por história, cultura e reprodução
de definições sociais, uma proximidade com as Igrejas, que embora controverso, foi
onde encontrou e formou seu espaço de resistência, mobilização e formação. Com a
mudança e superação de algumas pautas iniciais estes vínculos foram enfraquecendo
e de certo ângulo se transformando em movimentos independentes e formalizados,
as comunidades se esvaziando e as igrejas, no caso de muitas comunidades rurais,
foram fechadas, abandonadas, em muitos casos passaram a serem somente urbanas.
Neste viés se fortalecem, alicerçadas em diversos casos por políticas públicas, as
associações rurais.
É interessante observar que 22% (11) das mulheres apontam a participação
em associações de moradores, que remete ao reforço do pertencimento local, da vida
em comunidade e da persistência na mobilização e organização. Neste sentido,
Rahmeier (2016, p.110), complementa que “do total de estabelecimentos familiares
no Oeste Paranaense, 17,94% são associados” em diferentes formas organizativas.
119
30%
42%
11%
17%
29%
34% Reuniões sobre como melhorar
o convívio entre os associados
Dona Teolide deixa claro em sua fala que as mulheres rurais discutem o tema
do empoderamento já há tempos em seus eventos e encontros, que não se trata de
pauta nova, e que uma parte significativa do caminho já foi feita. É preciso, segundo
a fala acima, avançar, com ajuda das associações, cooperativas e instituições afins.
Contudo, os espaços de capacitação ainda estão aquém do que poderiam
proporcionar às associadas em termos de construção e manutenção da consciência
de luta. Aliado ao fato de a AAFEMED não possuir nos seus objetivos essa formação
de base, torna-se importante ressaltar que a fala das mulheres associadas durante a
entrevista para o documentário e informações qualitativas, sugere que a Associação
passe a ter um olhar mais voltado também para as questões de gênero, com vistas a
fomentar desta forma também o crescimento da agricultura familiar, nos preceitos de
um desenvolvimento rural sustentável.
Status econômico.
100
Recompensas
Reputação.
financeiras.
80
60
Respeito pessoal. Participação cívica.
40
20
Cooperação
Pode-se inferir assim, que o capital social estabelece certa conexão entre
indivíduos e redes sociais, fazendo nascer regras de reciprocidade e
lealdade. Para tanto, é necessário que haja algum grau de solidariedade e
confiança mútua em uma comunidade, o que faz com que o capital social
esteja relacionado com o desenvolvimento de uma região e o seu progresso.
“Em regiões onde o a questão comunitária é presente, o capital social é maior,
conforme demonstram vários estudos” (KONRAD; SCHWINN, 2013, p. 221).
Mas eu acho que eles têm um foco comercial e não pessoal... Eles não
estavam precisando ajudar alguém... eles estavam precisando de um lugar
pra vender porque eles tinham a produção pra vender, e precisavam ter uma
renda. Mas hoje isso já está bem fixo, uma coisa que está bem tranquila. E
ali o ponto de venda, não interessa se eu saio ou se o fulano sai... ele vai
continuar. Né porque já é uma marca e ele vai continuar. Então já dá pra se
pensar em mudar agora o foco, né... Colocar algumas coisas mais novas. [...]
124
6
As mulheres foram historicamente responsáveis pelo cuidado e pela saúde da família, pela segurança alimentar, porém, estas
tarefas socialmente atribuídas a elas, também são invisibilizadas e precarizadas, por se tratar de tarefas reprodutivas (GRUPO
KRISIS, 1999).
7
Segundo Hirata (2010, p.43), “o termo care é dificilmente traduzível, porque é polissêmico. Cuidado, solicitude, preocupação
com o outro, estar atento a suas necessidades, todos esses diferentes significados estão presentes na definição do care”.
Segundo Boris (2014), “o trabalho de care envolve serviços pessoais para outrem: são atividades que se voltam para as
necessidades físicas, intelectuais e afetivas e para outras demandas emocionais de cônjuges, filhos e pessoas idosas, doentes
ou com deficiências”.
126
Para Popova (2012, p.6), o capital social possui diferentes níveis e uma
variedade de formas, desde o capital social “estrutural com base em papéis
estabelecidos, redes sociais e estruturas suplementadas por regras, procedimentos e
precedentes”, até o “cognitivo referindo-se a normas e valores compartilhados, por
cada indivíduo”. Para a autora:
Em analogia, pode-se entender que o poder pessoal e o respeito são parte dos
resultados possíveis no ambiente associativo e elementos constitutivos do capital
social. De maneira direta Sales (2007), afirma que:
Este processo, indicado por Salles, pode ser gradual e ao mesmo tempo
continuo. Neste sentido os dados mostram que a contribuição nula teve maior
expressão para a participação cívica com 30% das opções das entrevistadas.
A participação cívica é para Putnam (1993, p.177), “um círculo virtuoso” que
resulta, quando em comunidade, “em equilíbrio social, com elevados níveis de
cooperação, confiança, reciprocidade, envolvimento cívico e bem estar coletivo”. Ao
que, o autor acrescenta que estas são características da organização social, que
podem melhorar a eficiência da sociedade facilitando ações coordenadas (PUTNAM,
1993, p.167).
A reflexão de Putnam pode ser submetida à reflexão na fala da agricultora e
atual presidente da AAFEMED:
127
Mas eu acho que essa de participar é porque a pessoa que não entende, é
difícil de se botar, porque são todos agricultores. Os com estudo são poucos
os que estão envolvidos. Então os filhos dos agricultores envolvidos são os
que se envolvem na diretoria. E os agricultores que estão sozinhos não tem
entendimento, então é difícil tentar fazer uma coisa que você não tem nem
noção do que é. Até mesmo a gente não tem muita noção de como é que
funciona. A gente sabe porque a gente procura e porque a gente pergunta,
mas o resto não... (tenso) (RAFAELA, entrevista em 31 de outubro de 2020).
73%
67%
53%
35% 33%
30%
27%
22%
19%
14% 14%
5% 3% 5%
0% 0%
Sob outro ponto de vista, esta alternativa, quando direcionada para a mulher
rural, proporciona um foco sobre a liberdade e a construção de seu espaço como
indivíduo, considerando o que:
Olha, bem pouco. Tanto como eu falei para você... Eu tenho muitas que eu
não conheço. Tem muitas que eu não conheço das que são associadas lá.
Mesmo eu sendo Presidente, né. A gente conhece lá por nome... Conhece
assim... Quem vai mais lá na feirinha... Assim conheço porque no sábado eu
vou às vezes almoçar, levar... Mas assim de ter assim de se reunir ou de
participarem de reunião ou de alguma coisa, não. Bem pouco (LIDIANE,
2020, entrevista em 31 de outubro de 2020).
56%
53%
47%
43%
33% 36% 36%
31%
24%
17%
8%
3% 5% 3% 5%
0%
Talvez seja por um costume né. Que vinha de antigamente que os homens
tomavam conta de tudo e as mulheres trabalhavam e eles tomavam conta
das outras coisas. E talvez seja uma falha nossa, como sociedade e como
associação. Talvez a gente teria que hoje mudar o foco né. [...]... e talvez
fazer um trabalho que inteirasse mais elas, e que como elas entendessem
mais como as coisas funcionam, tivessem mais vontade de participar. Talvez
se a gente fizesse alguma coisa de um estudo, ou um programa que a gente
pudesse conversar e explicar as coisas, ou uma conversa simples de
comadre com um lanche ou alguma coisa. Talvez a gente se envolvesse
mais, talvez isso mudaria, talvez elas tivessem um novo sentido, porque
quando você vai fazer uma troca de ideias e experiências, a gente vai tendo
uma visão diferente de como as coisas funcionam. Talvez eles participariam
mais (RAFAELA, entrevista em 31 de outubro, 2020).
14%
11% 11%
3% 3% 3% 3% 5%
64%
55%
50%
36%
25%
17% 19%
14%
8%
6%
3% 3%
Status econômico
90
Recompensas
Reputação 80 financeiras
70
60
Respeito pessoal 50 Participação cívica
40
30
20
10
Poder pessoal 0 Investimento financeiro
Confiança Pertencimento
Cooperação
Sim.. sim. Porque, assim, eu não, mas que nem a mãe aqui é tudo de lá da
agroindústria que ela tira o dinheiro. Tudo sai dali... Ela não tem outra fonte
de renda. Tudo o que ela faz aqui, tudo o que a gente investe, é tudo em
cima da agroindústria. Se a gente não tivesse, por exemplo, na associação...
Tem coisas que a gente não poderia estar vendendo. Por exemplo, a
merenda escolar não poderia né. Então sim, melhorou. Não vou dizer 100%
mas 98% (LIDIANE, entrevista em 31 de outubro, 2020).
83% 86%
69% 70%
28% 27%
17% 14%
0% 0% 3% 3%
0% 0% 0% 0%
73%
54%
46% 48%49% 49%51%
27%
3%
0% 0% 0%
Só que eles nunca tiveram o objetivo de integração entre eles. Talvez seria
interessante fazer um programa para ajudar as mulheres, porque muitos
deles é aquelas mulheres que fazem em casa, os maridos põem no carro, vai
lá na feira, vende, o marido recebe e vai embora. Para instigar, impulsionar...
Por exemplo, aqui em casa uma ajuda a outra, então a coisa vai embora. Mas
as vezes a gente vê que as outras são sozinhas, então às vezes ajudaria, né,
dar esse empurrãozinho (RAFAELA, entrevista em 31 de outubro, 2020).
Por exemplo, não sei se alguma outra mulher iria pegar o meu lugar, por
exemplo da presidência, não sei. Porquê pode ser se der um incentivo, pode
ser. Mas senão, pode ser que volte só com homens mesmo. Assim no meu
ver. A mesma coisa que eu vejo que nem quando a gente tá falando lá da
cooperativa, que ninguém... Se não é os homens que vão, mulher nenhuma.
Só tem eu lá. Eu e a Cláudia. Eu acho que a gente... O que é o que os homens
fazem, nós fazemos também, e tranquilo. Pelo que eu estou ali agora esse
tempo eu vejo que... Quando eu entrei eu dizia: -eu Deus acho que não vou
conseguir. Agora não.. eu vejo que é tranquilo. Mas não sei se as mulheres
teriam coragem. ... não sei te dizer (LIDIANE, entrevista em 31 de outubro,
2020).
Eu acho que elas não... como que eu vou falar pra você. Não sei te dizer
também se os maridos não permitem, eu não acho que seja isso. Eu acho
que seja um pouco de falta de elas ter um pouco assim de interesse, sabe.
Porque como marido faz, ele que se vire né. Então talvez elas ...ou também
elas não tem informação de elas poder estar poder estar participando. Porque
às vezes ali o marido vai lá na feirinha, leva, recebe, entrega e pronto. Para
elas eééé... elas não se envolvem com a Associação talvez né... eu acho que
é isso. (LIDIANE, entrevista em 31 de outubro, 2020).
Então é isso que eu falo... tem muitas que às vezes elas não sabem dessas
coisas, que não participam também. É porque não conhecem.
É que nem a Ana. A Ana como ela cuida da agroindústria lá, ela participa
também. O marido dela tem outra atividade. E como ela participa da feira, ela
participa da diretoria, ela participa das reuniões... Eu acho que é isso. É como
falei antes... A falta de conhecimento faz você não se envolver na feira.
(RAFAELA, entrevista em 31 de outubro, 2020).
Mas eu acho que eles tem um foco comercial e não pessoal... Eles não
estavam precisando ajudar alguém... eles estavam precisando de um lugar
pra vender porque eles tinham a produção pra vender, e precisavam ter uma
renda. Mas hoje isso já está bem fixo, uma coisa que está bem tranquila. E
ali o ponto de venda, não interessa se eu saio ou se o fulano sai... ele vai
continuar. Né porque já é uma marca e ele vaí continuar. Então já dá pra se
pensar em mudar agora o foco, né... Colocar algumas coisas mais novas.
(RAFAELA, entrevista em 31 de outubro, 2020).
59% 57%
53%
47%
43% 41%
0% 0% 0%
Soma-se, a reflexão de Sen (2007, p.246), que afirma que as mulheres deixam
de ser receptoras passivas e “são vistas cada vez mais, tanto pelos homens como por
elas próprias, como agentes ativos de mudança: promotoras dinâmicas de
transformações sociais que podem alterar a vida das mulheres e dos homens”.
A gente tem toda a questão dos valores aqui que a gente adquiriu. Eu já
coloquei dinheiro na conta do meu filho, para ele ter uma reserva para ele. Eu
tenho o próprio dinheiro que a gente produz aqui para a gente saber o quanto
a gente tem e a gente pode se alimentar com isso. Porque no início era o
dinheiro do Ildo né, que era trabalho de professor. Mas daí como que eu ia
falar para os agricultores que a agricultura familiar dava certo né? Daí depois
do curso que eu fiz eu falei assim, nós temos que fazer uma conta separada
para a gente ver o quanto realmente a propriedade está dando sustento pra
gente. E isso daí eu conseguia passar para os outros agricultores que dá
certo (CLAUDIA, entrevista em 24 de outubro, 2020).
Ai... São a minha influência. Quando eu crescer eu quero ser igual a todas.
Se eu pudesse tirar o que é de melhor de todas elas... Seria pra mim ser igual
a elas... Tirar um pouquinho de bom de cada uma... eu acho que já sou. Eu
acho que tudo que eu aprendi com elas, desde quando eu ia trabalhar com a
minha avó, tirar leite com ela quando eu era pequenininha com ela que a
minha mãe precisava trabalhar fora... Então se eu não aprendesse com isso
não ia ter outra coisa para mim aprender... Então são mulheres sensacionais.
Eu falei que eu não queria falar porque eu ia chorar... (GABRIELA, entrevista
em 31 de outubro, 2020).
15% 1%
4%
29% 47%
A B
52%
52%
Algumas formas podem contribuir para a coesão social, enquanto outras têm
maior probabilidade de estimular a fragmentação social; alguns podem ser
uma fonte de ajuda mútua e proteção, outros simplesmente permitem a
mobilização para a violência. Todas as abordagens, entretanto, compartilham
a ideia de que, ao criar pontes e mitigar relações exclusivas, o capital social
pode prevenir conflitos e facilitar a ação coletiva e a obtenção dos resultados
desejados. Tem a capacidade de motivar os indivíduos a trabalharem juntos,
pois o resultado final é visto não apenas como um 'bem comum', mas também
como um 'benefício pessoal'. Com potencial para permitir o desenvolvimento
e auxiliar na superação de problemas, o capital social é um mecanismo
gerador de mudanças e pode melhorar a qualidade de vida (Tradução nossa).
2003). Capital social é avaliado de forma subjetiva pelos envolvidos e o contexto social
afeta esta avaliação.
Como resultado, ser membro de associações tem se tornado o indicador mais
adequado para examinar a construção ou dissociação de capital social. Acredita-se
que, ao fazer parte de associações, as pessoas desenvolvem interações entre si,
aumentando a possibilidade do desenvolvimento de confiança recíproca entre elas.
Como resultado observa-se o aumento da capacidade da ação coletiva,
cooperação e confiança intragrupo, possibilitando que os objetivos coletivos sejam
alcançados mais facilmente, o que Baquero (2007) chama de pontes sociais.
O que se pretendeu foi compreender se o fato de os atores sociais
participarem de grupos e associações facilita o crescimento da cooperação e o
empoderamento. Se a resposta for positiva, as associações podem ser excelentes
formas de adquirir capital social, possibilitar o empoderamento dos envolvidos bem
como fortalecer a democracia.
No caso específico da AAFEMED - Associação dos Agricultores Familiares e
Ecológicos de Medianeira, o olhar se coloca sobre as mulheres rurais participantes
ativas ou não, deste processo de empoderamento coletivo e construção de capital
social por meio da participação na associação.
Portanto, em resposta a pergunta do estudo os resultados apontaram que a
participação na AAFEMED agregou maior empoderamento pessoal (57%) (21), o
empoderamento econômico continuou igual para 59% (22) das entrevistadas e no
empoderamento social houve uma agregação para 47% (17) e para 53% (19) das
entrevistadas permaneceu igual.
Não houve indício de piora em nenhum dos indicadores analisados em
nenhuma das dimensões de empoderamento.
Nos dados apresentados, os três indicadores que estão em maior desalinho à
satisfação, considerando como pouca parcela de contribuição da AAFEMED, são o
poder pessoal 46% (17), e o respeito pessoal 46% (17), em percentuais iguais,
seguidos da reputação 38% (14),
Os indicadores, pertencimento, confiança e investimento financeiro, foram
considerados, entre os conceitos de maior contribuição via participação na AAFEMED,
com 33% (12), 24% (9) e 27% (10), respectivamente das opiniões.
150
Figura 40 - Mapa conceitual das mulheres rurais da AAFEMED e sua correlação com
a aquisição de capital social, empoderamento e desenvolvimento
4.3.1 A mulher rural da AAFEMED, e um olhar para além de suas próprias falas
comunicação não verbal rica de significados mais genuínos que a própria fala,
podendo ser concordantes ou discordante das palavras proferidas pelo entrevistado.
Utilizando a ótica de Merleau-Ponty (2006), a linguagem corporal das mulheres
rurais entrevistadas, revela medos, alegrias, reservas, silêncios e até contradições
entre o escrito, o verbal e o não-verbal, que acabaram por ser fonte de informação
para este trabalho. Por isso, a importância também de trazer alguns elementos não-
verbais, juntando-os às falas das entrevistadas para tentar compreender a auto
avaliação que estas mulheres fazem do seu próprio empoderamento. "O que todos
esses aspectos têm em comum é a contribuição positiva para fortalecer a voz ativa e
a condição de agente das mulheres - por meio da independência e do ganho de poder"
(SEN, 2017, p.249).
O conceito proferido por Teolide Turcatel foi o norteador das falas que as
entrevistadas apresentaram, e define muito bem o entendimento que a maioria delas
tem do que é empoderar-se:
A forma como Teresa descreve a mãe, mostra como esta postura, diante do
enfrentamento da dura lida no campo, de ser esposa e mãe, empoderada, a
influenciou como filha e estendeu esta influência para sua educação, refletindo
também na construção da relação de Teresa, com suas filhas Lidiane, Rafaela e
Patrícia. Perguntada se se sentia independente e empoderada, Teresa, um pouco
encabulada, olha para o chão, esfrega as mãos como que buscando as palavras para
explicar como conseguiu ao longo de uma vida difícil com o companheiro, se colocar
em posição de liberdade para fazer seu caminho pelas suas próprias escolhas.
Olha agora sim... De uns anos para cá, porque muitos anos atrás antes não.
Acho que foi coragem de enfrentar as dificuldades que apareceram. Quando
a gente começou a colocar a mão na massa. Trabalhar a gentes sempre
trabalhou. [...] Não que a gente despreze o companheiro, mas eu acho que a
gente tem que se valorizar. Hoje se eu disser assim: - não quero mais, não
faço mais, não faço. Eu faço porque eu quero fazer. Depois de tanto
sofrimento a gente aprende... Muitas vezes a gente perdia o sono, chorava...
Isso não resolve nada. E com o passar do tempo a gente vê que, ou você
toma uma decisão né, ou você vai cada vez mais para baixo... (TERESA,
entrevista em 31 de outubro, 2020).
158
Tanto que, quando houve uns problemas aqui que nós estávamos
encaminhados... [...] Eu até saí de casa porque... Que a gente começa a fazer
um negócio assim e começa a se sair bem e a pessoa já não admite, né? Aí
nós demos uma parada, aí voltamos atrás e eu falei, não. Se for para tocar o
negócio eu vou tocar o negócio pra frente, mas vai ser do meu jeito, eu que
vou fazer tudo, não vai mais ter oportunidade de pôr... Não foi muito fácil, não.
Mas está indo né. Tá indo melhor que eu pensava. e hoje fala que... para mim
não fala, mas para os outros ele fala que o negócio está indo bem.[...] Homem
não admite que mulher faça um negócio que se saia bem, né (TERESA,
entrevista em 31 de outubro, 2020).
Então nós somos mulheres muitos poderosas dentro da nossa família. Isso
eu sei... eu acho que eu aprendi com elas isso, a não depender de nenhum
160
Gabriela, com uma tatuagem no braço em homenagem aos avós, outra para a
mãe e a última para a tia Rafaela, quando questionada se estas mulheres agricultoras
da família são empoderadas, responde segura e emocionada, confirmando
firmemente a percepção de um empoderamento adquirido e pactuado entre as
mulheres da família, em detrimento de todas as dificuldades passadas pelas gerações
anteriores.
Sim com certeza, sem dúvida alguma. São... como é que eu vou dizer... são
o orgulho né! Não é qualquer pessoa que pode dizer... que veio de uma
família de agricultoras e que não dependeu de ninguém além delas mesmas
para poder conseguir as coisas... (choro) (GABRIELA, entrevista em 31 de
outubro, 2020).
Esse afastamento das mulheres dos movimentos de luta por seus direitos e
contra o patriarcado, ao longo dos anos que se seguiram, apontada nos relatos de
Dona Teolide e confirmadas pela Janete e outras entrevistadas, sobretudo das
mulheres que participavam indiretamente dos encontros de formação e informação,
tem para Scott (2005) a explicação justamente na perda da identidade de grupo, na
falta de continuidade dos movimentos e na adequação das bandeiras de luta para as
novas realidades e necessidades das mulheres.
Eu respondi essa pergunta numa live. Que fazer¿ Eu disse: - gente, eu não
vejo outra saída senão voltar pra base, sabe. Voltar pra base e começar
tuuuuudo de novo. Porque o povo está acomodado, alienado, e esse
isolamento social é terrível e acabou matando o pouco que a gente tinha
ainda. As mulheres não se reúnem mais, não vai mais material pra elas...
cada uma pra sí, quem tem alguma coisa que faz. (Antes) se levava pras
feiras, se ia pra Francisco Beltrão, se levava os crochês, eu levava os nossos
produtos, a outra levava suas compotas, a outra levava suas orquídeas, a
162
outra levava seus guardanapos,... seu tapetes e mais outras coisas que ela
fazia, a outra levava seus chás também... Hoje não tem (TEOLIDE, entrevista
em 03 de outubro de 2020).
Naquela época eu não lembro assim de uma mulher assim que estava na
liderança. Hoje são várias mulheres que estão na liderança. Nossa, e quantas
que morreram em combate, dá para se dizer assim. As mulheres todas, é lei,
é ordem, tem que ter a mulher junto porque na bandeira mesmo, quando se
coloca a bandeira tem a mulher e o homem, já para caminhar junto (JANETE,
entrevista em 07 de outubro, 2020).
Por exemplo não sei se alguma outra mulher iria pegar o meu lugar, por
exemplo da presidência, não sei. Porquê pode ser se der um incentivo, pode
ser. Mas senão, pode ser que volte só com homens mesmo. Assim no meu
ver. A mesma coisa que eu vejo que nem quando a gente tá falando lá da
cooperativa, que ninguém... Se não é os homens que vão, mulher nenhuma.
Só tem eu lá. Eu e a Cláudia. [...] O que é o que os homens fazem, nós
fazemos também, e tranquilo. Pelo que eu estou ali agora esse tempo eu vejo
que... Quando eu entrei eu dizia: - meu Deus acho que não vou conseguir.
Agora não.. eu vejo que é tranquilo. Mas não sei se as mulheres teriam
coragem... Não sei te dizer... (LIDIANE, entrevista em 31 de outubro, 2020).
que tem muitas lá que não querem nem que vem falar (LIDIANE, entrevista
em 31 de outubro, 2020).
É que nem a Ana Slongo. A Ana como ela cuida da agroindústria lá, ela
participa também. O marido dela tem outra atividade. E como ela participa da
feira, ela participa da diretoria, ela participa das reuniões. Eu acho que é isso.
É como falei antes... A falta de conhecimento faz você não se envolver na
feira (RAFAELA, entrevista em 31 de outubro, 2020).
Algumas né... Algumas pode ser. Mas poucas... Eu acho que poucas! Vou
ser bem sincera. É o que eu penso. Eu acho que poucas... Quando a gente
fez a assembleia da AAFEMED mulheres eram poucas que estavam
participando. Estava eu, estava a Cláudia, e eu acho que a Rafa . (LIDIANE
entrevista em 31 de outubro, 2020).
Eu acho que elas não... como que eu vou falar pra você. Não sei te dizer
também se os maridos não permitem, eu não acho que seja isso. Eu acho
que seja um pouco de falta de elas ter um pouco assim de interesse, sabe.
Porque como marido faz, ele que se vire né. Então talvez elas ...ou também
elas não tem informação de elas poder estar poder estar participando. Porque
às vezes ali o marido vai lá na feirinha, leva, recebe, entrega e pronto. Para
elas eééé... elas não se envolvem com a Associação talvez né... eu acho que
é isso. (LIDIANE entrevista em 31 de outubro, 2020).
O poder passa por nossas mãos, mas mãos que se abraçam. Mãos que
pegam nas mãos e que mostram que tem força, porque nós nunca estamos
sozinhas juntamos. [...] É uma caminhada, (ROSELI, entrevista em 24 de
outubro, 2020).
Essa nossa participação nos faz pensar... em tudo o que foi, do jeito que foi,
e uma necessidade muito grande de como é que nós lidamos com isso de
agora para frente. Como é que nós nos pegamos as mãos e nos fortalecemos
165
Nós temos no nosso município um berço de luta histórica pelo direito à terra
prometida (Movimento Sem Terra), e como é que nós, dentro de um novo
contexto, nos fortaleçamos para que as gerações que vem depois de nós
possam sentir essa força, né (ROSELI, entrevista em 24 de outubro, 2020).
áudio e vídeo, sintetizou em 60 minutos uma rápida visão histórica, alguns dados da
vida, do cotidiano e as impressões, opiniões e posicionamentos que deram subsídio
para uma análise qualitativa da pesquisa.
170
5 CONCLUSÕES
dentro deste viés, buscar o empoderamento das meninas frente ao direito de herança
da terra, e principalmente, frente ao direito de querer permanecer na terra.
Os estudos acerca do capital social precisam ser aprofundados, sobretudo
aquele referente à mulher rural, abordando de forma mais minuciosa as questões e
relações desta mulher como indivíduo, estabelecer pontos de relações entre os
diferentes atores e individualizar as dimensões destas construções. Noutro ângulo
considerar a família como um todo em futuras pesquisas, entender como o homem
deste processo está posicionado, suas percepções e possíveis contribuições ou
entraves ao processo.
Por fim, a pesquisa possibilitou a conclusão de que o capital social é gerado e
também gerador dos resultados da AAFEMED, em uma alusão a um caminho de
construção e troca, que por vezes impõem a necessidade de reduzir a marcha, desviar
as pedras, reclamar a outras instituições sua melhoria, sua conservação, ou parar,
conversar com o vizinho, pedir um equipamento, uma ajuda, compartilhar opiniões e
soluções. Ao final a certeza é de que este é o caminho, que fazê-lo lentamente, faz
parte da realidade construída e que individualizar cada metro percorrido é parte do
aprendizado e do fortalecimento. Saber que este caminho é comum às mulheres da
família e da comunidade como um todo, é saber que é possível compartilhar e dividir
a sua construção de forma a torná-lo cada vez mais definitivo e forte.
Se a sociedade continuar com sua postura patriarcal, há que se encontrar
pontos de inflexão para buscar novos caminhos, que podem inclusive significar voltar
às origens das discussões entre os diversos grupos de mulheres, ou pura e
simplesmente voltar às bases.
174
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APÊNDICE 1: QUESTIONÁRIO
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11. Você tem filhos? ( ) não tenho filhos ( ) 01 filho ( ) 02 filhos ( ) 03 filhos ( ) 04 filhos
( ) Mais de 04 filhos
15. Quais os produtos que a propriedade produz para vender pela AAFEMED? Marque todas as que
você produz na propriedade:
( ) Embutidos (salame, morcilha, torresmo)
( ) Laticínios (leite, queijo, nata, requeijão e outros derivados de leite)
( ) Frutas
( ) Verduras
( ) Legumes
( ) Tubérculos (mandioca, batata-doce, batatinha, cenoura, beterraba, rabanete, outros)
( ) Panificados (pães, bolos, cucas e bolachas)
( ) Mel, melado, açúcar mascavo, geleias, conservas, chás medicinais
( ) Outros
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16. Qual desses valores abaixo mais se aproxima da renda mensal resultante da parceria com a
AAFEMED?
( ) Até R$ 1.000,00 mensais
( ) De R$ 1.000,00 a R$ 2.500,00 mensais
( ) De R$ 2.500,00 a R$ 4.000,00 mensais
( ) De R$ 4.000,0 a R$ 5.500,00 mensais
( ) Acima de R$ 5.500,00 mensais
17. Existe alguma outra atividade extra que algum membro da família realiza além da produção
agrícola?
( ) Sim ( ) Não
20. Você assume alguma despesa da família e propriedade? Se sim, qual? Marque todas as que
você paga.
( ) supermercado, água, luz.
( ) educação dos filhos
( ) roupas da família
( ) insumos da propriedade
( ) parcela de algum equipamento comprado para os trabalhos da propriedade
( ) faço uma poupança ou investimentos para o futuro da família
( ) gasto com coisas para mim.
( ) Outros
( ) Não assumo nenhuma despesa da propriedade
22. A AAFEMED promove ou estimula cursos para você melhorar a sua produção ou aumentar seus
conhecimentos?
( ) sim
( ) Não
24. Você participa de outras Entidades ou Associações, além da AAFEMED? Assinale quais: (Pode
marcar várias escolhas)
( ) Igreja
( ) Associação de moradores
( ) Rotary, Lions ou Rotaract
( ) Associação de Damas
( ) Associações de pais da escola
( ) Outras associações
( ) Outra entidade não descrita
( ) Participo apenas da AAFEMED
190
28. E como que é na comunidade quando vocês precisam fazer um curso, ou quando muda a
lei, a contabilidade, ou se vocês querem melhorar os produtos... tem treinamento pela
Associação?
29. Você compra alguma coisa você mesma todo mês? Para a sua vida?
30. Você se dá um presente de vez em quando?
31. Você tira férias? Planeja uma viagem?
32. O que é a felicidade para você?
33. E você é feliz?
34. Tem algum sonho que você gostaria de realizar? Você acha que vai conseguir?
196
Eu_______________________________________________________, documento
de identificação número (RG, RNE ou passaporte)
_______________________________, depois de conhecer e entender os objetivos,
procedimentos metodológicos usados na pesquisa, bem como de estar ciente da
necessidade do uso de meu depoimento (escrito ou áudio) e ou imagem, autorizo,
através do presente termo, a pesquisadora Márcia Hanzen do projeto de pesquisa
intitulado “EMPODERAMENTO FEMININO E CAPITAL SOCIAL NA AGRICULTURA
FAMILIAR”, a colher meu depoimento e ou realizar as fotos/vídeos que se façam
necessárias sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes. Ainda declaro,
por meio deste termo, que concordei em ser entrevistada e/ou participar na pesquisa
de campo referente ao projeto/pesquisa ora descrito.
Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer
incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar
para o sucesso da pesquisa. Fui informada dos objetivos estritamente acadêmicos do
estudo.
Não obstante, libero a utilização dos dados coletados na forma de depoimento, áudio,
vídeo e fotos para fins científicos e de estudos (dissertações, teses, livros, artigos e
slides), bem como a utilizar minha imagem e voz coletados por entrevistas,
questionários, vídeo, e áudios, para utilização, para mídia eletrônica (TVS aberta e a
cabo, Circuito Fechado, Eventos, Internet, Mídias Sociais e Rádio) e mídia impressa
(Revistas, Jornais, Outdoor, Adesivo, Folder e outros), em favor do pesquisador,
acima especificado, obedecendo ao que está previsto na legislação vigente.
Toda a utilização prevista não tem limitação de número de vezes ou prazo podendo
ocorrer em todo o território brasileiro por tempo indeterminado.
__________________________________
Assinatura da Pesquisadora responsável pelo projeto
_______________________________
Assinatura do Sujeito da Pesquisa
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