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Universidade Federal de Minas Gerais– UFMG

Fichamento do livro

“Reivindicação dos direitos da mulher”, Mary Wollstonecraft

Belo Horizonte

2017

Introdução/justificativa
Aminha escolha por fichar “A reinvindicaçãodos direitos da mulher” se fez em
razão de considerar a importância desse texto como uma introdução ao pensamento
feminista, respondendo aos teóricos da educação e da politica do século XVIII que não
acreditavam que as mulheres deveriam ter acesso ao sistema educacional.

Mary Wollstonecraft nasceu em Londres, em 1759, filósofa e defensora dos


direitos das mulheres, é considerada como fundadora do feminismo filosófico, tendo
suas obras e bibliografia usadas como referencia pelas feministas.

Em sua obra “A reinvindicação dos direitos da mulher” publicada em 1792, em


plena Revolução Francesa,dialoga diretamente com as demandas da luta que colocava à
frente as ideias iluministas. Mary argumenta que as mulheres devem ter acesso a um
modelo de educação igual que os homens, já que elas são fundamentais para o progresso
de seu país, pois cumprem o importante papel de criar seus filhos e poderiam ser
companheiras mais “racionais” para seus esposos, ao invés de servas. Para a autora, as
mulheres são mais do que adornos na sociedade ou propriedades que são negociadas
para o casamento, para Mary as mulheres merecem os mesmos direitos fundamentais
que os homens.

Em toda a sua obra podemos observar que Mary aponta como fundamental para
a melhora do ser humano, em especial as mulheres, se daria por meio de uma maior
racionalidade em seus atos e pensamentos. A autora defende que as mulheres que as
mulheres contribuíram de maneira muito melhor se educadas de maneira racional, pois
assim enxergariam que varias de suas preocupações são meras superficialidades e
paixões que não contribuem para o cumprimento preciso de suas funções como
companheira e mãe.

Capitulo 7: “A modéstia considerada em toda a sua amplitude, e não como virtude


sexual”
Podemos observar ao longo do capitulo que a autora define a modéstia como
filha da razão, um exercício do entendimento, algo que esta além das paixões, mas que
esta ligada de alguma forma a moral e os valores de determinada sociedade. Na
passagem abaixo podemos observar a autora expondo a relação entre modéstia e
castidade. Apesar das duas coisas estarem relacionadas, a modéstia vai além da
castidade.

“Para transformar a castidade na virtude da qual a modéstia fluirá naturalmente, sem


sofisticação, a atenção deve ser desviada das tarefas que exercitam apenas a
sensibilidade, e o coração tem de bater mais em compasso com humanidade, em vez de
pulsar por amor. A mulher que dedicou uma parte considerável de seu tempo a
atividades puramente intelectuais e cujos afetos foram exercitados por projetos
humanos de utilidade deve ter, como consequência natural, mais pureza da mente do
que os seres ignorantes, cujos tempo e pensamentos foram ocupados por prazeres
alegres ou estratégias para conquistar corações.”

A partir desse conceito diluído nos seus argumentos Mary dá dois exemplos
sobre as mulheres imodestas e modestas, as mulheres imodestas seriam as prostitutas
com seu comportamento desavergonhado que resulta da grande ignorância que
possuem. As mulheres modestas segundo a autora são as cristãs que tem motivos muito
nobres para preservar sua castidade e conquistar a modéstia, pois seus corpos são
considerados o Templo do Deus Vivo.

Capitulo 8: “A moralidade enfraquecida por noções sexuais referentes à importância de


uma boa reputação”

Nesse capitulo, Mary fala sobre que os conselhos a respeito do comportamento e


todos os outros vários métodos para preservar uma boa reputação, foram elementos
ardilosos que contribuíram na formação da moralidade, consumindo-a de maneira que a
razão ficasse escassa.

“As mentes fracas sempre se sentem inclinadas a descansar nos cerimoniais do dever,
mas a moralidade oferece motivos muito mais simples; e seria de se desejar que os
moralistas superficiais tivessem falado menos a respeito do comportamento e de sua
prática exterior, pois, a não ser que a virtude de qualquer tipo seja construída sobre o
conhecimento, produzirá somente uma espécie de decência insípida.”
Mary acredita que os dois sexos se corrompem e aperfeiçoam mutuamente,
sendo essa uma verdade indiscutível que se estende a qualquer virtude. As virtudes
como castidade, modéstia e o espirito cívico, sobre os quais se fundamentam a virtude
social e a felicidade, devem ser entendidas e cultivadas por todos os indivíduos, senão
seu efeito será reduzido.

Capitulo 9: “Dos efeitos perniciosos que surgem das distinções inaturais estabelecidas
na sociedade”

A autora começa o capitulo apontando um grande fato que ocorre nas relações
humanas, a opressão de um grupo sobre o outro, pois segundo ela todos almejam
respeito. Situações essas de opressão fazem com que distinções inaturais se estabeleçam
na sociedade causando uma serie de efeitos negativos para si mesma. Na seguinte
passagem podemos ver os tais efeitos negativos sobre os homens e mulheres em uma
sociedade desigual:

“... o diabo se serve de quem está ocioso. E que outra coisa a riqueza e os títulos
hereditários podem produzir, senão hábitos indolentes? Pois o homem é constituído de
tal modo que só pode obter um uso apropriado de suas faculdades exercitando-as, e
não o fará, a não ser que uma necessidade qualquer coloque o mecanismo em
movimento. Da mesma maneira, a virtude só pode ser adquirida pelo cumprimento dos
deveres pertinentes, mas a importância desses deveres sagrados será pouco sentida
pelo ser que foi levado a desistir de sua humanidade pela adulação dos bajuladores.”

A autora se aprofunda ainda mais nisso quando fala sobre a mulher e o


comportamento delas que advém dessa desigualdade perpetuada. Quando uma mulher é
admirada apenas pela sua beleza, ela se deixa inebriar pela admiração que recebe,
negligenciando assim o cumprimento de do seu dever indispensável de ser uma boa
mãe, deixando de cultivar afetos que a fariam igualmente feliz e útil. Na citação abaixo
ela fala de maneira geral sobre o afeto e a virtude dos homens.

“Pretendo inferir, portanto, que não é bem organizada a sociedade que não compele
homens e mulheres a cumprir seus respectivos deveres, fazendo disso a única maneira
para conquistar a aprovação de seus semelhantes, que todo ser humano deseja obter de
alguma forma. Consequentemente, o respeito prestado à riqueza e aos meros encantos
pessoais é uma verdadeira rajada de vento nordeste que malogra as ternas flores do
afeto e da virtude. A natureza sabiamente uniu os afetos às obrigações para suavizar o
trabalho e dar aquele vigor aos exercícios da razão que apenas o coração pode
oferecer. Mas o afeto, que é assumido meramente porque é a insígnia apropriada de
certo caráter quando seus deveres não são cumpridos, é um os galanteios vazios que o
vicio e a insensatez são obrigados a prestar à virtude e à real natureza das coisas.”

Mary termina o capitulo dizendo que se os homens libertassem as mulheres das


correntes que as prendem, tratando-as mais como suas companheiras e menos como
suas servas, eles teriam filhas mais obsequiosas, irmãs mais afetuosas, esposas mais
fieis e mais mães melhores, em outras palavras, melhores cidadãs. Pois assim existiria
um amor verdadeiro de fato com o respeito por si próprias.

Capitulo 10: “Afeto parental”

Mary Wollstonecraft discorre nesse capitulo sobre o afeto entre pais e filhos.
Para ela, na maioria das vezes os pais amam os filhos da maneira mais primitiva,
sacrificando coisas importantes para promover o desenvolvimento deles no mundo. Por
conseguinte, para obter esse progresso os pais irão usar de todo e qualquer poder,
chegando a serem despóticos com o abuso do poder. Esse poder exercido geralmente
não possui base racional, sendo usado de maneira tirânica para se obter obediência.

O papel da mulher na criação de seus filhos é de suma importância, por isso para
que haja uma criação pautada na afeição maternal e na razão. Para que isso aconteça, a
mulher deve deixar de ser escrava de preconceitos que a fazem ou negligenciar os filhos
ou mima-los em demasia.

A autora termina o capitulo com um paragrafo que fala sobre a importância do


exercício da maternidade, e a independência afetiva da mulher diante de seu marido.

“No exercício de seus sentimentos maternais, a Providencia proporcionou às mulheres


um substituto natural para o amor, quando o amante se torna apenas um amigo e a
confiança mútua toma o lugar da admiração excessiva – um filho, então docemente
torce o cordão frouxo, e uma preocupação mútua produz uma nova afinidade. Mas um
filho, embora seja uma promessa de afeto, não o fortalecerá se ambos, pai e mãe, se
contentarem em transferir sua incumbência para serviçais, pois aqueles que delegam
seu dever não devem se queixar se perderem a recompensa – o afeto parental produz o
dever filial.”
Capitulo 11: “O dever aos pais”

Esse capitulo começa com a discussão a cerca da propensão do homem em fazer


com que seus preceitos ocupem o lugar da razão para sustentar seus caprichos de
maneira arbitraria.

Na relação entre pai e filho, existe uma relação de poder subjetiva que legitima o
exercício da autoridade de maneira irracional dos pais para com os filhos. A autora
chama essa obediência de “santidade misteriosa”, tal qual uma devoção a santos e a
Deus. Para Mary, essa os deveres entre pai e filhos é algo que deve se dar de maneira
reciproca e natural, por exemplo, se um pai dá a devida atenção a seu filho na infância,
quando o pai chegar a sua idade desvalida ele tem o direito de reclamar a atenção do
filho.

“A sujeição servil aos pais atrofia toda a faculdade mental; e o Sr. [Jonh] Locke
observa com muito critério que, “se a mente for controlada ou humilhada em demasia
nas crianças, se seu entusiasmo for muito rebaixado ou enfraquecido por uma mão
severa demais, elas perdem todo o seu vigor e sua engenhosidade”.

No trecho acima a autora explana sobre a ideia das consequências de criar filhos
de maneira arbitraria. Os homens passarão a reproduzir esse comportamento com as
próximas gerações que virão, enquanto as mulheres se submeterão a qualquer ordem de
seus maridos e serão arbitrarias com seus filhos, por isso Mary propõe uma relação que
livre as crianças e mulheres dessa devoção cega.

Capitulo 12: “Sobre a educação nacional”

A autora discorre a cerca da educação privada e pública e aponta os prós e


contras das duas modalidades da educação. Para ela, é importante que as crianças
tenham contato com outras crianças para que assim cultivem sentimentos,
questionamentos e reflexões referentes à sua idade. No entanto, ela reconhece que
internatos são lugares em que os meninos endurecem seus corações e enfraquecem seu
entendimento, pois no internato o afeto domestico é escasso. A solução segundo Mary,
seria um equilíbrio entre as duas esferas como cita abaixo:

“O único caminho para evitar os dois extremos igualmente danosos à moralidade seria
criar algum modo de combinar a educação pública com a educação privada. Assim,
para fazer dos homens cidadãos, duas providencias naturais deveriam ser tomadas, as
quais parecem conduzir diretamente ao ponto desejado, pois as afeições domesticas,
que primeiro abrem o coração às varias modificações da humanidade, deveriam ser
cultivadas ao mesmo tempo que às crianças seria permitido passar grande parte de seu
tempo, em termo de igualdade, com outras crianças.”

A educação publica segundo a autora, deveria ser dirigido de maneira a formar


cidadãos, para isso, primeiro cultivar os afetos de um filho e de um irmão. Sendo assim
o único caminho para se obter maior sensibilidade emocional, pois afeições públicas,
assim como virtudes públicas, devem se desenvolver primeiro a partir de um caráter
privado, caso contrario serão sempre afetos passageiros.

Se a aliança é a essência da sociedade, todos os indivíduos deveriam ser


educados segundo o mesmo modelo, caso contrário, a relação entre os sexos nunca
poderá ser chamada de companheirismo e nem as mulheres cumprirão seus papeis, até
que possam ser consideradas de fatos cidadãs, que é quando sejam livres, capazes de
ganhar sua própria subsistência, independentes dos homens.

Para Mary, a única maneira de fazer com que as mulheres cumpram seus deveres
é libertando-as de todas as suas restrições, permitindo com que elas participem de todos
os direitos inerentes à humanidade. Assim como podemos observar no trecho abaixo:

“Façam-nas livres, e elas rapidamente se tornarão sabias e virtuosas, como os homens


também se tornam, pois o aperfeiçoamento deve ser mutuo, caso contrario, existindo a
injustiça a que metade da raça humana é obrigada a submeter-se retorquindo a seus
opressores, a virtude do homem será devorada pelo inseto cuja larva ele carrega sob
seus pés.”

Capitulo 13: “Alguns exemplos de insensatez que a ignorância das mulheres gera e
reflexões conclusivas sobre o aperfeiçoamento moral que a revolução nas maneiras
femininas naturalmente produziria”

Nesse capitulo nos dá alguns exemplos sobre a insensatez que a ignorância das
mulheres gera. Os exemplos estão separados por seções comentadas, na seção I a autora
comenta sobre a evidente fraqueza das mulheres que procede de sua ignorância, as quais
creem em horóscopos, oráculos e meios que supostamente revelam algo a cerca do
futuro. Segundo Mary, se as mulheres tivessem acesso a conhecimentos como a
anatomia, ou se não acreditassem em coisas de maneira cega, provavelmente não seriam
enganadas tão facilmente devido a sua ignorância.

Na seção II, outro exemplo da fraqueza do caráter feminino, que muitas das
vezes é provocada pela educação confinada, é seu sentimentalismo, descrito por Mary
como um desvio romântico da mente.

“As mulheres sujeitas a suas sensações pela ignorância e ensinadas apenas a procurar
felicidade no amor refinam seus sentimentos sensuais e adotam noções metafisicas a
respeito da paixão, que as levam vergonhosamente a negligenciar os deveres da vida, e
com frequência, em meio a esses refinamentos sublimes, deixam-se cair no real vicio.”

Na seção III, a ignorância e a astucia equivocada, que funcionam na mente das


mulheres como um principio de autopreservação, fazem com que as mulheres atribuam
importância a coisas superficiais, como a vaidade.

“... as virtudes que são sustentadas pela ignorância serão sempre vacilantes – a casa
construída sobre a areia não resistiria a uma tempestade.”

Na seção IV a autora pontua que o afeto aderente da ignorância pode ser muito
perigoso, pois a mulher pode deixar de cumprir seus deveres enquanto mãe e esposa por
cultivar esses afetos como uma emoção passageira, já que ela não baseia seus afetos na
razão.

Na seção V a autora nos mostra um exemplo impressionante da insensatez das


mulheres: a maneira pela qual elas tratam os criados na presença das crianças,
permitindo com eles suponham que devem servi-las e suportar suas teimosias.

“Em resumo, falando da maioria das mães, elas deixam seus filhos inteiramente sob os
cuidados das criadas; ou; porque são seus filhos, tratam-nos como se fossem pequenos
semideuses, embora eu sempre observe que as mulheres que idolatram seus filhos dessa
forma raramente mostram humanidade comum aos criados ou sentem a menor ternura
por qualquer criança que não a sua.”

Na ultima seção, Mary Wollstonecraft faz suas considerações finais a cerca das
mulheres:
A virtude deve ser alimentada pela liberdade, pois se não for, nunca obterá força
para ser pautada na racionalidade. E que o afeto racional pelo país, seja baseado em
conhecimento, pois só assim existiria algum interesse em exercer seu papel como
cidadãs.

“Que a mulher compartilhe dos direitos, e ela irá emular as virtudes do homem, pois se
aperfeiçoará quando emancipada; caso contrario; que se justifique a autoridade que
escraviza um ser tão frágil a seu dever.”

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