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SEXO E TEMPERAMENTO

Margaret Mead

Introdução

No livro intitulado Sexo e Temperamento, de Margaret Mead é retratado como


três sociedades primitivas da Nova Guiné moldam o indivíduo de acordo com o
as implicações destas observações para as discussões sobre gênero e papéis
sociais.temperamento esperado para seu sexo e convívio dentro daquela
comunidade e quais

Sobre os objetos de estudo

Apesar de homens e mulheres realizarem funções diferentes, a pesquisa de


Margaret revelou entre os Arapesh a não existência de hierarquias e distinção
comportamental, resultado de uma criação cheia de afeto e voltada sempre ao
bem estar do outro, em especial das crianças, criando como padrão de
temperamento a pacificidade. Este aspecto “protetor” é visível tanto no convívio
familiar quanto no convívio matrimonial; quando uma menina, ainda criança vai
morar com a família de seu futuro marido, sendo este o responsável por
alimentá-la e cuidar de seu crescimento. Após atingirem amaturidade o cuidado
de ambos é dirigido à chegada dos filhos, um momento compartilhado entre pai
e mãe. Um fato curioso acerca da educação das crianças é que quando há o
mínimo sinal de conflito entre elas,a intervenção dos adultos é imediata, como
consequência, no futuro, o comportamento pacífico e até mesmo ingênuo aos
olhos ocidentais permanece, devido à forma de como foram tratadas desde o
nascimento.
Um comportamento contrastante aparece na tribo dos Mundugumor, na qual o
comportamento feminino e masculino é violento. Tal comportamento deriva de
uma disputa de poder entre familiares. Nesta tribo a hierarquização compete
àquele que possuir mais esposas será mais rico, pois cabe a elas a secagem
do fumo, o seu objeto de riqueza. Para conseguir mais riqueza filhas ou irmãs
são trocadas por esposas, logo o confronto e a disputa perpetuam o
temperamento violento para ambos os sexos nesta comunidade.

Os Tchambuli são os que apresentam maior distinção entre gênero e


temperamento. As mulheres, detentoras de um comportamento dominador e
determinado detêm a posição de poder na sociedade, controlam o lucros em
kinas e talibun, pescam e escolhem seus parceiros, enquanto os homens se
preocupam com as
atividades cerimoniais, cuidando dos ornamentos e das atividades artísticas.
Ocupam o papel “representativo” de chefes de família, porém é das esposas a
decisão final.
Os inadaptados
Dentro de cada comunidade estudada foram observados também os indivíduos
que fogem do padrão institucionalizado culturalmente.
Entre os Arapesh os que mais sofrem são aqueles “que consideram todo o
esquema social o menos conveniente e compreensível, são os homens e
mulheres violentos e agressivos” [pág.150].

Porém a repreensão de um comportamento inadequado é mais penosa para a


menina, que desde muito cedo passa a assumir algumas responsabilidades,
enquanto que ao menino é permitido até a sua iniciação acessos de raiva e/ou
birra.
Já o homem desajustado para os Mundugumor é aquele de temperamento
dócil, compreensivo e agregador ou aquele que rompe com as expectativas
externas, como o jovem Komeákua, que embora não tenha nascido com o
cordão umbilical em volta do pescoço, gostava de pintar. Dentre as mulheres o
desajustamento é percebido quando ela mostra-se “dócil, receptiva, cálida e
maternal” [pág. 224].

Embora haja uma certa censura acerca da violência entre os Mundugumor, o


julgo opressor recaí sobre os que se distanciam do comportamento violento.
Na comunidade Tchambuli “os homens desajustados têm o mesmo
temperamento que os desajustados dos Arapesh, os jovens mais virilóides,
violentos, dominadores e ativamente sexuados, intolerantes a qualquer controle
e a qualquer atividade que eles próprios não hajam encetado.” [pág. 260] Sobre
as mulheres Mead relata: “A mulher sossegada e não-dominadora segue seu
caminho, via de regra, dentro dos confortáveis limites do amplo grupo feminino,
eclipsada por uma esposa mais jovem, dirigida por uma sogra. Seu
desajustamento não é de modo algum evidente; se ela não desempenha um
papel tão relevante quando o seu sexo lhe autoriza, tampouco se rebela
grandemente contra sua posição.” [pág.263]
Reflexões finais
Diante de todo o aparato investigativo de Margaret Mead, podemos inferir que
o comportamento adotado pelos indivíduos é resultado da cultura em que estão
inseridos. Socialmente construído o modelo ideal de comportamento é passado
de pais para filhos, suprimindo toda e qualquer manifestação individual de suas
predisposições, o temperamento. Mead também aponta para o fato de que as
padronizações de comportamento seriam um desperdício dos dotes e talentos
de meninos e meninas a partir de dois pensamentos:
“Um sacrifício de distinções em personalidade de sexo pode significar um
sacrifício em complexidade.”[pág.296]
“Insistir em que não há diferenças de sexo numa sociedade que sempre
acreditou nelas e dependeu delas, talvez seja uma forma tão sutil de
padronização de personalidade como insistir em que existem muitas diferenças
de sexo.” [pág.297]

Decorrendo sucintamente, fica claro que o comportamento de um individuo é


moldado pelo meio em que está inserido. Sua cultura, determina sua educação,
que por sua vez determina seu papel em sociedade, consequentemente seu
comportamento tende a entrar em acordo com as expectativas sociais.
Por fim, Mead concluí com uma possível solução:
“Historicamente, nossa própria cultura apoiou-se, para a criação de valores
ricos e contrastantes, em muitas distinções artificiais das quais a mais
importante é o sexo. Não será pela mera abolição dessas distinções que a
sociedade desenvolverá padrões em que os dons individuais hão de receber o
seu lugar, em vez de serem forçados a um molde mal-ajustado. Se quisermos
alcançar uma cultura mais rica em valores contrastantes, cumpre reconhecer
toda a gama das potencialidades humanas e tecer assim uma estrutura social
menos arbitrária, na qual cada dote humano diferente encontrará um lugar
adequado.” [pág.303]

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